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Da Análise de textos à Análise cognitiva: da Análise de conteúdo à Análise do discurso

José Luis Michinel


Universidad Central de Venezuela
Faculdade de Ciencias, Escola. de Física
jmichine@fisica.ciens.ucv.ve.

Num espaço discursivo considerado, o sentido não é algo


estável, que poderia estar relacionado a uma posição absoluta,
mas que se constrói entre posições enunciativas. A
“incompreensão”, resultante do mal-entendido e do malogro
ocasionais, transforma-se em “inter-incompreensão” porque
obedece as regras e estas regras são as mesmas que definem a
identidade das formações discursivas consideradas. Dito de
outra maneira, o sentido aqui é um mal-entendido sistemático e
constitutivo do espaço discursivo.

Dominique Maingueneau.

Resumo

A análise de texto tem sido usada amplamente nas pesquisas que têm lugar nas
ciências sociais, especificamente em educação em ciência. Esta veio adquirindo uma
importância relevante na medida em que os paradigmas positivistas na pesquisa cederam
espaço a outras perspectivas, deslocando-se seu interesse de simples técnica de análise,
onde só se dá importância ao produto que dele emerge, a um objeto de estudo onde se
valoriza também os processos e perspectivas epistemológicas implicados nas diferentes
análises que têm o texto como centro. Assim, o desenvolvimento da análise cognitiva
coloca a análise de texto como “prefácio” e base de sua atividade. Daí a importância que
significa identificar as características que assume a análise textual e suas possibilidades na
pesquisa. Considerando um modelo das três perspectivas mais importante do ponto de vista
do uso na pesquisa (Análise de conteúdo, Análise do discurso na perspectiva anglo-
saxônica e Análise do discurso na perspectiva francesa), este trabalho se aprofunda nas
diferenças e semelhanças, potencialidades e debilidades dos diferentes análises da
linguagem que têm sido assumidos na investigação nas ciências sociais, especificamente
em educação em ciência.
Palavras chave: Linguagem, Análise textuais, Análise Cognitiva, Epistemologia,
Educação em ciências.

Abstract

The textual analysis has been of wide use in social sciences research. Specifically in
investigation in science education, this has acquired relevance since the positivist
paradigms, in science, have given space to other perspectives of investigation. From a
simple technical of analysis, that gives importance only to the products, it’s interest has
moved toward a study object that evaluate the processes and epistemological perspectives
in different analyses. So, it is important to identify its characteristics and possibilities in the
investigation. In this paper, it is considered a model of three important representations
(Content Analysis, Discourse Analysis in the Anglo-Saxon perspective and Discourse
Analysis in the French perspective), to penetrate into the differences and similarities,
fortresses and weaknesses of the language analysis that have been assumed in the social
sciences research, specifically in investigation in science education.

Key words: Language, Textual Analyses, Cognitive Analyses, Epistemology,


Science Education.

Introdução

Da análise de textos1 à análise cognitiva

A linguagem na pesquisa é inexorável, daí sua importância, seja como meio de


comunicação ou como ferramenta para a produção de conhecimento científico, tanto na
geração de dados e na produção de resultados em relação a um determinado problema
quanto para a posterior análise dos mesmos. Nesta última perspectiva, isto é, na produção
de conhecimentos científicos, a linguagem tem sido considerada, também, sob diferentes

1
O compreendemos com uma significação mais ampla que a que estabelece Buarque de Holanda (2009)
como “Fragmento de língua escrita ou falada, de qualquer extensão, que constitui um todo unificado.”
implicando também como o assinala Lagazzi-Rodrigues (2010) “como delimitação em diferentes
formulações significantes, sempre sob a determinação da produção dos efeitos de desfecho, unidade, coesão,
coerência e responsabilidade. Não só o texto escrito, composto de palavras, mas também o texto que busca
especializar a autoria no desenho, nas imagens, na pintura, na música, na dança, na mímica, no grafite, na
tatuagem…”
representações. A análise textual tem sido assumida, na pesquisa da educação em ciência, a
partir de um ponto de vista mais quantitativo até perspectivas mais qualitativas
(MICHINEL, 2006), o que tem gerado diferentes “formatos” de análise de “textos”, isto é,
análise de conteúdos (KRIPPENDORFF, 1980; BERELSON, 1952; ANDER-EGG, 1980),
análise de discurso (AD) nas suas diferentes representações: versões francesa (PÊCHEUX,
1990, 1995; ORLANDI, 1996, 1999; MAINGUENEAU, 1997), anglo-saxônica – inglesa
(BOLIVAR, 2005; VAN DIJK, 2005) e americana (FITH, 1951; HALLIDAY, 1961). Em
cada uma destas perspectivas a linguagem, como objeto de estudo, é representada de
maneira diferenciada, isto é, sua materialidade e significado são diferentes, o que, a partir
de um ponto de vista pragmático, tem diferentes possibilidades como meio de análise.

O desenvolvimento, a partir do século XX, de uma ampla variedade de campos


disciplinares que implicam a lingüística (Etnolingüística, Sociolingüística, Psicolingüística,
Neurolingüística, Filosofia da linguagem, Lingüística pragmática, Psicanálises e linguagem,
Análise do discurso) revela o caráter transdisciplinar das ciências da linguagem (LÓPEZ,
2001).

Assim, a análise textual permite estudar as formas de uso da língua não só como
evento de comunicação, mas também como interação nos seus contextos cognitivos,
sociais, políticos, históricos e culturais. Concretamente no contexto cognitivo, na procura
de identificar e entender os processos implicados na cognição, isto é, na análise cognitiva, a
maioria das correntes teóricas ligadas às ciências cognitivas (a filosofia, a psicobiologia
cognitiva, a neurociência, a antropologia cognitiva, a inteligência artificial e a própria
lingüística cognitiva) outorga grande importância ao componente lingüístico na
compreensão de estruturas. Este reconhecimento provém, certamente, do caráter
transdisciplinar das ciências cognitivas em relação com pesquisas científicas e tecnológicas,
em torno dos fenômenos funcionais e emergentes, dados a partir das atividades
neurofisiológicas do encéfalo e do sistema nervoso, incorporados, e que tipicamente se lhes
denomina como: mente e comportamento (LUGER, 1994).

São amplamente conhecidos os trabalhos de Vigostky e seus seguidores, da corrente


histórico-cultural da psicologia, em relação a cognição e linguagem (VIGOSTKY, 1995;
VIGOTSKII, LURIA E LEONTIEV, 1988; LURIA, 1982). A este respeito, Vygotsky
(1995) assinala que a inteligência se desenvolve graças a certos instrumentos ou
ferramentas psicológicas que a criança encontra no seu ambiente, entre os quais a
linguagem aparece como a ferramenta fundamental. Estas ferramentas ampliam as
habilidades mentais como atenção, memória, concentração, entre outras. Desta maneira, a
atividade prática, na qual se envolve a criança, seria interiorizada em atividades mentais
cada vez mais complexas graças às palavras, fonte da formação conceitual. De modo que, a
carência de ditas ferramentas influi diretamente no nível de pensamento abstrato que a
criança possa alcançar. Assim sendo, ele assinala que pensamento e palavra estão ligados, e
que não é correto tomá-los como dois elementos totalmente isolados, como o fazem
teóricos e lingüistas que só buscam equivalentes pontuais entre os dois elementos. Ainda
que pensamento e linguagem tenham raízes genéticas diferentes, em um determinado
momento do desenvolvimento, suas linhas de desenvolvimento se entrecruzam para
conformar uma nova forma de comportamento: o pensamento verbal e a linguagem
racional.

Neste sentido, Vygostki assinala que:


Filogeneticamente,
“1. Pensamento e linguagem têm diferentes raízes genéticas. 2. As duas
funções se desenvolvem ao longo de linhas diferentes, independentemente
uma de outra. 3. Não existe uma correlação definida e constante entre eles. 4.
Nos antropóides se evidencia uma inteligência semelhante à do homem em
certos aspectos (o uso embrionário de ferramentas) e uma linguagem em
parte parecida ao humano em aspectos totalmente diferentes (o aspecto
fonético de sua linguagem, sua função de descarga, os começos de uma
função social). 5. A estreita correspondência entre as características de
pensamento e linguagem do homem está ausente nos antropóides. 6. Na
filogenia do pensamento e a linguagem são claramente discerníveis uma fase
pré-intelectual no desenvolvimento da fala e uma fase pré-lingüística no
desenvolvimento do pensamento.” (Idem, 35-36)
E, ontogeneticamente,
“1. No seu desenvolvimento ontogênico, o pensamento e a linguagem
provêm de diferentes raízes genéticas. 2. No desenvolvimento da fala da
criança podemos estabelecer com certeza uma etapa pré-intelectual, e no seu
desenvolvimento intelectual uma etapa pré-lingüística. 3. Até certo ponto no
tempo, os dois seguem linhas separadas, independentemente uma de outra. 4.
Em um momento determinado estas linhas, se encontram, e então o
pensamento torna-se verbal e a linguagem racional.”(Idem, 38)
Além disso, ele assinala que, “[…] “o descobrimento mais importante da criança”
só se faz possível quando se alcançou um determinado nível, relativamente alto, no
desenvolvimento do pensamento e da linguagem. […] Em outras palavras, “a linguagem
não pode ser “descoberta” sem o pensamento.” (Idem, 37). E “o desenvolvimento do
pensamento está determinado pela linguagem, isto é, pelas ferramentas lingüísticas do
pensamento e a experiência sócio-cultural da criança.” (Idem, 43)

Por outro lado, as investigações de Maturana e Varela (1993), envolvendo o


conceito de enação (Enation), (ARENDT, 2000; FERREIRA, 2009) nos informam que
nossa compreensão do mundo externo não é devida só a percepções de estímulos e
respostas imediatas a esses estímulos, mas, existem entre essas percepções ações
instantâneas de inferência/interpretação dos estímulos. Esses estudos assinalam que, como
um tipo de explicação, essa inferência pode ser compreendida a partir da representação dos
estímulos do ambiente em uma determinada base corporal com características individuais
da qual emergirão esquemas sensório-motores, que influenciam outras percepções e seus
reflexos. Esse processo implica a influência do ambiente nas experiências do indivíduo, das
quais se formam esquemas de percepção e interpretação da realidade e na resposta do
indivíduo frente a essa realidade, que, por sua vez, se expressa na sua linguagem.
(FERREIRA, 2009).

Ferreira (2009) também informa que existe outro esquema de explicação no qual se
gera “a organização de uma subjetividade frente a esses esquemas, a qual está relacionada
com os aspectos da memória, consciência, atenção, inteligência, afetividade, volição, etc.”.
Este esquema de explicação é entendido como sensopercepção e provém de estudos em
Psicopatologia.

Deste modo, Ferreira (2009) assinala que


Essa implicação para com a Linguagem se deve ao fato dessa ser fruto de
uma construção mental a partir da forma como o mundo é percebido e
interpretado; não vindo pronta, dessa maneira, no nascimento do indivíduo,
mas sendo organizada por esse a partir das inferências de suas sensações
(MARCUSCHI, 2005). Bem, se, conforme neuro-cientistas (BEAR et. al.,
2008: 637), “a experiência sensorial pode afetar a organização cerebral e
levar ao aprendizado e à memória”, tanto mais haveria implicações das
sensações sobre a Linguagem. […]
Como já pôde ser observado por vários teóricos da Linguagem (cf.
KRISTEVA, op. cit.), o sujeito é constituído, ou melhor, construído a partir
de sua consciência como indivíduo num mundo externo a ele próprio, com o
qual o sujeito se relaciona por meio de sua percepção e ação sobre ele. Dessa
mesma forma, havendo intempéries na percepção do mundo pelo sujeito,
desenvolvem-se, de certo modo, marcações particulares em sua estrutura
lingüístico-cognitiva, sendo refletidas, por conseguinte, na fala do indivíduo.

Esta implicação da linguagem nos estudos da “Cognição” e particularmente na


análise cognitiva destaca a importância de ter apropriação clara das análises textuais,
particularmente nos seus aspectos teórico-epistemológicos. Daí a importância de identificar
as características que assume a análise textual nas suas diferentes perspectivas e suas
possibilidades na pesquisa em análise cognitiva.

É necessário esclarecer que, neste trabalho, não pretendemos fazer uma análise
cognitiva da análise de textos. O seu propósito é abordar as diferenças e semelhanças,
potencialidades e debilidades das diferentes análises da linguagem textual que têm sido
assumidas na pesquisa em ciências sociais, de modo que a apropriação dessas
características oriente a análise cognitiva.

Uma aproximação epistemológica das análises de texto

Que tipo de conhecimento se alcança quando procuramos uma “realidade” através


de uma determinada análise textual? Que coisas podem se evidenciar? Quais são os
supostos que se assumem em cada uma dessas análises? Até onde a ideologia mascara ou
revela evidências dessa realidade? Que visão da linguagem se maneja? Que questão procura
responder o analista? Estas são questões epistemológicas fundamentais nos processos de
estudo implicados nas diferentes análises de textos às quais vamos apresentar algumas
respostas, concluindo com um quadro comparativo das três análises de textos que
procuramos caracterizar.

Enfocamos nossa atenção em três tipos de análise: de conteúdo (KRIPPENDORFF


K., 1980;1990)2 , de discurso na versão anglo-saxônica (BOLÍVAR A.,2005)3 e de discurso

2
KRIPPENDORFF K. Metodología de análisis de contenido. Teoría y práctica. Barcelona, España: Paidós
Ibérica. pp. 7-44. 1980
_____.Content Analysys. An Introduction to its Methology. Sage Publications. 1990
na versão francesa (GADET, FL. e HAK, T., 1997)4 , os mais comumente desenvolvidos
nas investigações sociais ou culturais. Assim sendo, construímos um corpus discursivo,
com textos de cada um destes tipos de análise, que implique respostas às questões que
foram propostas no parágrafo anterior e que nos permitirá identificar posições teórico-
epistemológicas das três perspectivas de análise de textos que configuram o modelo que
nos temos proposto.

Inicialmente identificamos as características destes tipos de análise como são


assumidas por pesquisadores destacados em cada um deles e, depois, fazemos uma
discussão comparativa dos seus aspectos epistemológicos e metodológicos.

Em anexo se descreve o processo de construção do corpus discursivo que foi


submetido à análise, assim como apresentamos um exemplo para a análise de conteúdo. A
análise do corpus discursivo permitiu identificar as características epistemológicas e
teóricas das três perspectivas de análise textual problematizadas.

Na tabela 1 se apresenta um quadro-resumo que é uma síntese da análise feita aos


três textos, e que dão respostas às seis questões formuladas. Este quadro evidencia as
características de cada uma das análises de textos em estudo e permite comparar
semelhanças e diferenças, de tipos epistemológicos e metodológicos, entre elas.

Ao fazer análise de outros autores será possível encontrar deslocamentos nas suas posições
respeito à que analisamos nesta amostra com relação às questões formuladas, e também
identificaremos invariantes com relação a alguns aspectos, entre outras: 1) Naqueles que
implicam a análise de conteúdo se revela uma visão da língua, da história e o sujeito
caracterizados pela transparência. É uma visão que não problematiza a linguagem na qual
não se percebe sua materialidade e que não reconhece os efeitos da ideologia sobre ela. É
uma visão que não problematiza a história, na qual não se compreende a materialidade que
lhe é própria e que não leva em conta os efeitos da língua sobre a história. É uma

3
BOLÍVAR A Discurso e interacción en el texto escrito. Caracas, Venezuela: CDCH, UCV. pp. 13-25, 55-82.
2005.
4
GADET, FL.,HAK, T.Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux.
Campinas: UNICAMP. pp. 7-38. 1997.
perspectiva que não considera que o sujeito não é transparente nem para ele mesmo.
(ORLANDI, 2010); 2) Aqueles que implicam a perspectiva discursiva anglo-saxônica
percebem a história e o sujeito como transparente sem considerar os efeitos da língua e do
inconsciente sobre eles (história e sujeito). Igualmente se localiza, fundamentalmente, em
uma concepção estritamente lingüística do discurso.

A continuação destaco mais extensamente caracterizações das análises em estudo.

A análise de conteúdo

A análise de conteúdo como o assinala Krippendorff (1980) tem seu próprio método
para analisar os dados, que procede em grande medida da maneira como se considere o
conteúdo, que é seu objeto de análise, assim, “a análise de conteúdo compreende
procedimentos especiais para o processamento dos dados científicos. Da mesma forma que
em outras técnicas de pesquisa, sua finalidade consiste em proporcionar conhecimentos,
novas intelecções, uma representação dos ‘fatos' e uma guia prática para a ação.”
(KRIPPENDORFF, 1980), ou como o afirmam: Berelson (1952) “uma técnica de pesquisa
para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da
comunicação” ou Ander-Egg (1980) como uma técnica na qual se efetua uma recopilação
de dados que permite obter informação e/ou tendências contidas nas comunicações. Subjaz
ali uma visão da origem do conhecimento semelhante à que tem o Objetivismo. Parte-se da
idéia que a linguagem tem um conteúdo inteligível e o importante é ter o método adequado
para fazê-lo emergir.

Pode-se, não obstante, identificar diferenças entre Krippendorff e os outros autores.


Para o primeiro, a análise de conteúdo é um método de pesquisa do significado simbólico
das mensagens. Significado que não é único e, também, não é necessário que existam
coincidências nos significados, isto é, as mensagens podem provocar diferentes sentidos a
diferentes pessoas, dependendo do contexto dos dados (o meio empírico). Desta maneira,
sempre é possível contemplar os dados desde múltiplas perspectivas, especialmente se são
de natureza simbólica (KRIPPENDORFF, 1980, p. 31).
Quadro 1. Caracterização epistemológica das análises de texto
Tipo de Questões do Coisas que Pressupostos Ideologia Visão da
conhecimento analista evidencia mascara? linguagem
AC Exploratório. O que diz o Dados. A linguagem, a história e o sujeito Não mascara nem A linguagem não é
Descritivo. texto? Conteúdo. são transparentes. revela. problematizada,
Semântico. Qual é o Contexto dos Baseada no desenvolvimento da A AC é objetiva e questionada.
Vinculados a conteúdo dados. lingüística. neutra É objetiva.
fenômenos reais. (manifesto ou Ligada à transmissão de informação. É transparente
Ligados a fatos latente)? Multidimensional Unidirecional. O sentido é ou não é.
simbólicos. Qual é o Reproduzível e fiável. Universalizado.
Objetivo. contexto ou Aplicação não reduzida à lingüística. Lingüística
Finalidade de recorte unidirecional.
predizer. selecionado?

ADa Informações. O que os Informação. Não problematiza o meio. Não mascara nem É social.
Opiniões, valores. interlocutores Interações. Baseada na teoria da informação. revela. É interacional
Conhecimento dizem? Baseada no desenvolvimento da A ADa é objetiva e (Fundamenta-se na
semântico. Em que lingüística. neutra. Interação).
contexto? Localiza-se na concepção lingüística Os meios de Não é ideal já que
Qual do discurso. Descrever o texto no interação são não é abstrata,
informação é contexto social e não a linguagem em neutros. descreve o texto no
enviada? Qual abstrato, em situações ideais. contexto social.
informação é O texto surge da interação social e Lingüística
recebida? pelo tanto tem uma função social. bidimensional.
ADf Finalidade de Por que eles Contexto. A linguagem não é transparente, não Os meios de A linguagem não é
compreender. dizem o que Interações há sentido sem interpretação. A interação não são transparente.
Representações, dizem? entre locutores interpretação está presente em dois neutros. Mediação material
valores, visões, e seus níveis: quem fala e quem analisa. Condições entre pensamento e
sentidos. significados. Compreender como um texto históricas e mundo.
Significado como Gestos de funciona. ideológicas É social e
prática da linguagem. interpretação. Fundamentada no materialismo configuram o interacional,
Interpretação e histórico, na lingüística e na teoria contexto da Os sentidos não são
compreensão do discurso como teoria de interlocução. estáveis.
determinação histórica dos processos No há discurso sem
semânticos, atravessada com uma sujeito, nem sujeito
teoria psicanalítica do sujeito. sem ideologia
AC, ADa e ADf, referem as análise de Conteúdo, de Discurso anglo-saxônica e de Discurso francesa respectivamente.
Outra característica importante da análise de conteúdo está no propósito inferencial
que alguns autores (JANIS, 1965; STONE et al, 1966; KRIPPENDORFF, 1980) lhe
atribuem. Esta característica outorga uma natureza determinística ao processo de análise da
linguagem.

A Análise do discurso

A Análise do Discurso (AD) tem sua origem nos anos 1960 e 1970,
simultaneamente em várias disciplinas (a antropologia, a lingüística, a filosofia, a poética, a
sociologia, a psicologia cognitiva e social, a história e as ciências da comunicação) e em
vários países. O desenvolvimento da AD foi paralelo e relacionado com a emergência de
outras trans-disciplinas relacionadas com a linguagem, como a semiótica ou semiologia, a
pragmática, a sociolingüística, a psicolingüística, a sócio-epistemologia e a etnografia da
comunicação. Esta virada no estudo da linguagem, e suas implicações em outros campos de
conhecimento, tiveram suas bases na busca por compreendê-la nos seus contextos de uso e
não só nas suas estruturas de expressão.

Nos últimos anos a AD se fez muito importante como aproximação qualitativa nas
ciências humanas e sociais. Segundo o enfoque sobre o discurso (como texto, estrutura
verbal, processo mental, ação, interação ou conversação) se tem distintas linhas na AD,
como a gramática do texto, a análise da conversação, a psicologia do processamento do
texto, a psicologia discursiva, a estilística, a retórica, a ideologia, a análise da
argumentação, a análise da narração, a teoria de gêneros, e outras. E como já foi dito, há
diferentes perspectivas de análise (francesa, anglo-saxônica, americana, crítica do
discurso).

Os métodos da AD são, em geral, qualitativos: descrição detalhada das estruturas e


estratégias dos discursos escritos ou falados, em vários níveis: sons e estruturas visuais e
multimídia, a sintaxe (estruturas formais das orações), a semântica (as estruturas do sentido
e da referência), a pragmática (os atos de fala, a cortesia, etc.), a interação e a conversação,
os processos e representações mentais da produção e da compreensão do discurso, e as
relações de todas essas estruturas com os contextos sociais, políticas, históricas e culturais.
Nesse sentido a AD se distingue da análise de conteúdo, entre outras coisas, por ser
esta um método quantitativo das ciências sociais que se aplica a grandes quantidades de
textos, por exemplo, com uma codificação de propriedades observáveis dos textos.

A análise de discurso (versão anglo-saxônica)

Como o assinala Bolívar (2005), a Análise do discurso atrai por igual a


pesquisadores de diferentes disciplinas interessados no estudo da comunicação humana, o
que conduz a uma proliferação de metodologias de análise, como já o assinalamos, as quais
são caracterizadas pelos objetivos de cada disciplina e de cada pesquisador. A versão
Anglo-saxônica da Análise do discurso se localiza dentro de uma concepção lingüística do
discurso. É uma perspectiva lingüística porque se suporta, teórica e metodologicamente,
nos desenvolvimentos dessa disciplina, considerando o discurso como um novo nível de
análise com suas próprias categorias. Esta análise de discurso concebe a linguagem em
interação, o que leva o lingüista a utilizar ou desenhar um modelo que o ajude a descrever o
texto no contexto social e não a linguagem abstrata em situações ideais.

Por outro lado, esta perspectiva assume que o texto (escrito ou falado) surge da
interação social e destarte tem uma função social (BOLIVAR, 2005; VAN DIJK, 2005), daí
que a análise de discurso estaria relacionada com a sócio–lingüística. Van Dijk assinala que
“os usuários da linguagem que empregam o discurso realizam atos sociais e participam da
interação social". Assim sendo, se concebe um modelo para descrever o texto escrito em
uma concepção interacional, que reconhece a necessidade de uma lingüística bidimensional
e que analisa a linguagem como produção dos interlocutores. Onde a interação se
fundamenta em compartilhar avaliações e valorações entre esses interlocutores. Emerge
esta visão em resposta à visão unidirecional da lingüística tradicional que se sustenta,
fundamentalmente, numa concepção psicologista da linguagem que parte da forma para
chegar ao significado.

Este tipo de análise se dirige fundamentalmente para o processo da compreensão,


mais que à estrutura do texto. Este processo se fundamenta em um modelo lingüístico que
procura descrever o texto em um contexto social e não a linguagem em abstrato. Tal como
propõe Halliday (1961) na sua “Teoria Relevante”: “consiste em uma rede de categorias
interrelacionadas que se estabelecem para explicar os dados, e em um conjunto de escalas
de abstração que relacionam as categorias aos dados e entre si. Os dados a explicar são
eventos lingüísticos observados, na fala ou na escrita, que constituem a mostra quando se
usam como material para a descrição lingüística e se denominam ‘textos' ”. Assim, esta
perspectiva tem como objetivo entender o que o texto diz, a partir das interações entre os
sujeitos interlocutores, considerando de forma determinante o contexto social e os
propósitos daqueles.

Fundamenta-se esta análise de discurso na visão da lingüística em Firth (1951):


“(...) a lingüística é um conjunto de técnicas relacionadas cujo objetivo é explicar os
eventos lingüísticos. Achamos que este conjunto de disciplinas da linguagem [fonética,
fonologia, semântica, sintaxes]5 estão desenhadas para a análise empírico sistemática e que
são autônomas no sentido que não necessariamente têm um ponto de partida em outra
ciência ou disciplina tal como a psicologia, a sociologia, ou em uma escola de metafísica.
Nos termos mais gerais, esta perspectiva estuda a linguagem como parte do processo social,
e o que podemos chamar a sistemática da fonética e a fonologia, das categorias gramaticais
ou da semântica são marcos referenciais de constructos esquemáticos ordenados, uma
espécie de andaime para abordar os eventos. Por meio da lingüística se espera expressar os
fatos sistematicamente, e especialmente fazer afirmações sobre o significado”.

Análise de discurso (versão francesa)

As aproximações a esta versão do discurso a realizamos fundamentados nos


trabalhos de Pêcheux (1990, 1995) e na acepção de Orlandi (1996, 1996a, 1996b, 1999).
Com a intenção de aproximar-nos à Análise de discurso (versão francesa) ADf
desenvolveremos algumas questões que a caracterizam, como por exemplo: qual é seu
domínio? o que estuda? qual é seu objeto?

Comecemos por reconhecer que não há uma relação “direta” entre o homem e o
mundo. Isto é, o mundo não é óbvio, não é transparente para o homem. Na busca de
conhecimento do mundo, da natureza e do próprio homem, é necessário dar significado, já

5
Nota nossa.
que o mundo não se nos apresenta com significação explícita. Igualmente sucede entre o
pensamento que o homem faz do mundo e a linguagem de que faz uso para a comunicação
desse pensamento. A partir daí emerge a necessidade da noção de discurso para mediar as
relações linguagem/pensamento/mundo (ORLANDI, 1996a). Esta mediação é a que
permite um melhor entendimento da relação entre essas três esferas, porque o discurso é
uma instância material (concreta) dessa relação (ibidem).

A AD pode ser entendida como uma expressão crítica da lingüística que produz um
deslocamento no seu espaço de conhecimento diferente do espaço da lingüística Formalista
(Generativista), Etnolingüística (Sociolingüística) e da fala (Teoria da Enunciação
coloquial). Vemos, também, que esta nova “expressão” da lingüística, desenvolvida pela
teoria crítica que orienta à AD, ocupa, segundo Orlandi (1996a), um espaço que vai além da
própria lingüística e, também, da sociologia. A AD se constitui, desta maneira, a partir dos
anos de 1960, em uma disciplina de intermédio (ibidem). Esta condição leva a considerá-la
como uma disciplina não “positiva” na qual não só se produz conhecimento, mas, que
também seus pressupostos estão continuamente em questão (ibidem).

Assim, Orlandi afirma que a AD, à diferença da lingüística tradicional, trata não só
dos produtos dos fenômenos lingüísticos, mas também, e fundamentalmente, dos processos
de constituição destes fenômenos (ORLANDI, 1996b). É a partir daí que a análise de
discurso estabelece como proposta básica considerar como primordial a relação da
linguagem com a exterioridade, isto é, com as condições de produção do discurso. Importa-
lhe dar resposta às seguintes perguntas: Qual é a relação entre o falante e o ouvinte? Qual é
o contexto no qual o falante fala e o ouvinte ouve? Como é atravessado o contexto pelo
histórico e o ideológico?

Essas condições de produção, quanto à relação falante–texto, estão representadas


por formações imaginárias (PÊCHEUX, 1990), isto é, pela imagem que o falante tem de se
mesmo e de seu ouvinte – a qual constitui o sujeito virtual do falante – (ORLANDI, 1996).
Assim, na AD se consideram as condições nas quais se estabelece a relação ouvinte–texto,
o que desenvolve o discurso nessas particulares condições de produção.

As formações discursivas – FDas – constituem o objeto de estudo da AD


(MAINGUENEAU, 1997). Uma FD é aquilo que em uma formação ideológica dada – isto
é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica específica – determina o
que pode e deve ser dito (ORLANDI, 1999)

Deste modo, se identificam duas teorias sobre a Análise de Discurso. Uma,


relacionada com a AD–anglo-saxônica, confinada na interioridade da língua, só que
prolongando a análise das unidades – a frase – para a análise dos enunciados, e outra,
relacionada com a AD–francesa, onde o falante se apropria do aparelho formal da língua e
vai em busca dos significados e do papel da exterioridade nesta significação. A primeira
está incorporada no campo da lingüística sem separar-se desta; e a outra, irrompe e foge
para a fala e os sentidos que nele se revelam sem deixar a língua. Para a Análise de
Discurso anglo-saxônica, o texto é uma frase grande; para a Análise de Discurso francesa
seu domínio é o discurso com suas significações que são mediadas pelas suas condições de
produção.

Na versão européia – francesa – da AD, a mudança no espaço – ou unidade – de


análise vem acompanhada por uma mudança do objeto, da teoria e do método. Na AD
francesa, o objeto já não é simplesmente o texto isolado, mas a relação deste com a
exterioridade. Esta relação permite ou promove a interpretação do texto com a finalidade de
encontrar significado. Significado e interpretação que estão ideológica e historicamente
determinados.

A necessidade de significação – e de interpretação – é conseqüência de não-


coincidências: inter-locutiva entre sujeitos não-simetrizáveis; do discurso consigo mesmo,
por efeito da inter-discursividade; das palavras consigo mesmas, pelos efeitos de sentidos,
pela polissemia, pela homonímia etc.; e entre as palavras e as coisas (AUTHIER-REVUZ,
1997). Afirmamos, também, que isto comporta uma heterogeneidade do discurso durante
seu funcionamento, gerando uma espessura na atribuição de sentido na/da enunciação. Esta
heterogeneidade faz possível que um determinado locutor, durante um processo discursivo,
seja qual seja, se desdobre e expresse diferentes FDas e diferentes formas de ver o mundo,
como é expressado por Mortimer (1994) em relação à postura epistemológica de Bachelard.

Esta heterogeneidade, que é de fato constitutiva do discurso, é apresentada por


Maingueneau (1997) como se fazendo efetiva em dois planos diversos, uma
heterogeneidade que incide sobre manifestações explícitas – polifonia, pressuposições,
negação, parafrasagem6, discursos relatados, operação meta-discursiva, ironia etc. –
recuperáveis por meio de fontes de enunciação, e outra que, diferentemente da primeira,
não está marcada na superfície da enunciação, mas é definível pelo AD mediante um
trabalho de formulação de hipóteses, no inter-discurso, a propósito da constituição de FDas.

Pêcheux (1990), deslocando-se do tradicional e já conhecido esquema


“informacional” – derivado de teorias sociológicas e psicológicas da comunicação ou da
teoria da informação7, a qual considera que os meios são neutros – para uma perspectiva
materialista do discurso, afirma que o que se transmite entre os sujeitos interlocutores não é
necessariamente informação (op. cit.), mas efeitos de sentidos. Esses efeitos estão
relacionados com as posições ocupadas pelos sujeitos no processo discursivo. Essas
posições estão representadas pelos sujeitos, por isso estão transformadas mesmo que
presentes, daí que não são traços objetivos, mas, formações imaginárias desses lugares
atribuídas por eles mesmos e por os outros. Assim também, existem regras de projeção,
objetivamente definíveis, que relacionam as situações e as posições que são representações
dessas situações. Estas formações imaginárias e regras de projeção, que não representam
necessariamente visões de mundo, se projetam para dentro do discurso, configurando as
FDas que, como é afirmado por Maingueneau (1997), não devem ser entendidas como
blocos compactos que se oporiam a outros, mas como uma realidade “heterogênea por se
mesma”. Sob este ponto de vista se constituem as condições de produção como um vetor
configurado com as representações ou formações, isto é, com as formações que cada um
dos sujeitos do discurso tem da posição ocupada pelo outro, e do contexto. Assim também,
as condições de produção são resultado de processos discursivos anteriores, devido a outras
condições de produção que já “não funcionam”, são os efeitos de memória, o inter-discurso.

6
Palavra tomada de Maingueneau (1997). Em francês paraphrasage, consiste na forma nominal que indica o
ato, o processo envolvido na paráfrases, no entanto que esta última remete ao produto acabado.

7  A D, → B  como uma relação entre emissor/receptor


L, R
Nas quais a comunicação é representada  
 
(A/B), que se gera por meio de uma seqüência verbal (D) emitida do emissor ao receptor, através de um
Quer dizer, o já dito e ouvido funciona como outro discurso no processo discursivo.
Portanto, como estas formações imaginárias são atravessadas pela ideologia, as condições
de produção e, também, o próprio processo discursivo são ideológicos e históricos.

Função e funcionamento da linguagem nas análises de textos

Na análise de conteúdo se reconhece de antemão uma função comunicacional do


texto e parte-se da idéia que o que se escreve e se diz é transparente. Quando se opera com
o conjunto de unidades e categorias próprias deste tipo de análise, se va em busca de um
conteúdo que está no texto, independentemente do analista e dos meios para a análise. Por
isso é que se propõe como uma técnica objetiva, na qual se podem reproduzir os
significados de maneira sistemática e quantitativa. Daí que o propósito é identificar: “Que é
o que o texto diz?”

A análise de discurso anglo-saxônica assume que não há uma relação direta entre
pensamento e palavra, que se possa reconhecer ou identificar no discurso. Destarte, não se
pode identificar o que o texto diz. Da mesma forma que a análise de conteúdo, reconhece
de antemão uma função comunicacional no texto, o que permite buscar “o que o texto diz”,
identificando os significados explícitos nele.

A análise de discurso francesa experimenta um movimento da função predita do


texto ao seu funcionamento. Nesta análise, o texto opera, funciona, e isto não pode ser
predito. Portanto se reformula o propósito no sentido de identificar por que um texto diz o
que diz? Por que o falante diz o que diz?

Assim, o discurso se assume como: a) um acontecimento, e como tal é único, não se


repete, nem em si, nem nos sujeitos do discurso; b) produzido, dessa maneira “as condições
de produção” são relevantes para sua constituição e análise; c) um lugar material de
encontro de formações discursivas que podem desenvolver processos de paráfrases/
polissemia entre os sujeitos.

canal físico (), mediante um código lingüístico (L) comum, em um contexto de comunicação (R) que é
suscetível de ser [decodificado] pelo receptor.
Isso explica que possamos afirmar que a ação educativa na classe é produzida em
uma dialética de permanente unidade/dispersão de formações discursivas entre os
estudantes, professores, cientistas-autores e pesquisadores que possam participar do
processo da aula. A análise de discurso, lugar material dessas interações, permite fazer
emergir interpretações que se gerem nesse processo, à semelhança das maneiras como se
produzem os diálogos e as possíveis influências, do discurso e dos fatores exteriores, na
promoção de mudanças nos sujeitos que interagem.

Desde o início, na análise dos textos se instaura uma relação com um tipo de
discurso que pode ser hipotético. Depois, se trabalha com as marcas e propriedades do
texto, segundo esse discurso suposto, buscando-se as pistas de produção do discurso e daí
se procura apreender seu funcionamento através da análise das relações entre interlocutores
e objeto.

Na aplicação concreta, baixo condições de produção específicas, a análise de


discurso se sustenta, também, em outras teorias específicas do campo disciplinar próprio do
analista. Isto é, a Análise do discurso não é uma aproximação à realidade apenas desde uma
perspectiva na confluência da Lingüística, da Sociologia e da Psicanálise mas, também, por
meio de perspectivas que permitem a “localização” ideológica do discurso. Desta maneira,
não há uma AD “pura”, “des-ideologizada”, “objetiva”. Portanto, a análise é
interdiscursiva. Em um estudo que realizamos acerca do funcionamento de textos
divergentes sobre Energia, com alunos de Física, (MICHINEL, 2001), as teorias de
mediação de Vygotski, e de perfil epistemológico, de Bachelard, cumpriram esta função.

A linguagem na apropriação e produção do conhecimento científico

Normalmente, seja na pesquisa seja na educação científica, não se problematiza a


linguagem e ela é considerada como neutra, evidente e capaz de revelar, de maneira direta,
o mundo que buscamos entender. Assim, ela é adotada de maneira pragmática para que
nos forneça resultados em ambos os campo de atividade (pesquisa e educação). Muitas
vezes, quando se reconhecem problemas com a linguagem estes se restringem a seu mal
uso. Então, se demanda, na escola, dos especialistas, professores de linguagem,
responsabilidade e uma ação na qual nós, os “outros”, não nos sentimos envolvidos. Ou
ainda como o assinala Mortimer (1998):

A linguagem talvez seja o mais importante instrumento de trabalho que nós,


professoras e professores, utilizamos na prática cotidiana da sala de aula.
Lidamos com a interação entre a linguagem científica escolar e a linguagem
cotidiana do aluno de forma tão automática e irrefletida que, às vezes,
esquecemo-nos de que qualquer fato científico, por mais objetivo que seja, só
adquire significado quando reconstruído no discurso científico escolar. (p. 99)

No entanto, também essa limitação, na maneira como se apropria a linguagem, afeta


suas possibilidades na produção de conhecimento científico. Como o assinala Almeida
(1987), a linguagem é considerada por muitos pesquisadores como “Um instrumento sobre
cujo funcionamento se fazem simplesmente suposições” (p. 17). Mas que, como assinala
ainda a autora, sob uma perspectiva discursiva, libertados de seu papel de instrumento,
tanto a linguagem matemática como a linguagem cotidiana, em funcionamento no ensino
de física, seriam mediação no sentido atribuído pela Análise do discurso, gerando-se entre
elas uma relação constitutiva, ação que modifica, que transforma (p. 115).

É nesta última perspectiva, a que se procura compreender a linguagem em relação


com os processos de ensino das ciências em geral de maneira não instrumentalista e
finalista, mas no seu funcionamento, que localizamos nossa pesquisa. Isto porque é dali que
podem ser vislumbrados aspectos que têm relação com a atribuição de significados diversos
a um mesmo texto e a um mesmo fenômeno, compreendendo fatores que vão além do
próprio texto e das primeiras experiências com um determinado fenômeno. Esta postura nos
permite, também, compreender o processo educativo na ciência, e neste, a atividade de
leitura e escrita em uma perspectiva cultural mais ampla.
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ANEXO
Processo de construção de corpo discursivo

1) Pergunto-me como analista: quais sentidos relacionados com a análise podem se indiciar
no texto?, isto é, enunciados referidos às seis questões reconhecidas no texto?
2) O objetivo é identificar concepções (epistemológicas) nesta perspectiva de Análise
Textual que me permitam uma comparação com os outros dois tipos de análise.
3) O contexto da análise:
Textos escritos dos livros referidos às analises indicado(a)s:

Tabela 1. Textos a serem analisados


Texto Páginas Tipo de Análise
Krippendorff Klaus. (1990). Metodologia de 7-8, De conteúdo
Análisis de Contenido. Teoria y práctica. 9-14
Barcelona: Paidós Ibérica. 28-44
Bolívar Adriana. Discurso e interacción en el texto 13-25, De discurso
escrito. Caracas, Venezuela: CDCH, UCV. 2005. 55-82 perspectiva anglo-
saxônica
Gadet Francoise & Hak Tony. (orgs.). Por uma 7-38. De discurso
análise automática do discurso. Uma introdução à perspectiva francesa
obra de Michel Pêcheux. Campinas: UNICAMP.
1997.

Uma perspectiva epistemológica da análise: Análise qualitativa.


4) Unidades de análise:
Enunciado do texto
5) Categorias de análise:
Aspectos epistemológicos e teóricos derivados de respostas às questões seguintes:
a) Que tipo de conhecimento se alcança quando procuramos uma “realidade” através da
dessa analise?
b) Quais as questões que o analista se propõe?
c) Que coisas podem se evidenciar?
d) Quais são os pressupostos que se assumem em cada análise?
e) Até onde a ideologia mascara ou mostra evidencias dessa realidade?
f) Que visão da linguagem ela carrega?
6) Corpus textual para a análise
Conjunto de enunciações tomadas dos textos da tabela 1 que falam em relação a aspectos
epistemológicos da análise. Este corpus é expresso como uma tabela de duas colunas, na
que se indicam as enunciações e páginas onde estas são referidas no texto. Com a analise
desse corpus se respondem as perguntas e se construiu a tabela final, na que se expressam
as características epistemológicas da AC (segundo Krippendorff).

Ejemplo: A Análise de conteúdo

Pág. Enunciados do livro em relação com a epistemologia/teoria da análise


(ej.:Krippendorff)
7 Procura compreender os dados, não como um conjunto de acontecimentos físicos,
mas como fenômenos simbólicos [daí a necessidade de significar].
10 Orientação fundamentalmente empírica, exploratória, vinculada a fenômenos
reais, e finalidade de predizer.
Aplicável a dados reais, ainda que precisem de especulações, generalizações e
construções teóricas.
Contribui com o conhecimento a partir de fatos simbólicos.
Vai além de das noções convencionais do conteúdo como objeto de estudo e ligado a
concepções atuais de fenômenos simbólicos.
Ligado à transmissão de informação.
11 Suporta-se na idéia de: mensagem, de canal, de comunicação e de sistema.
Suporta-se numa definição estrutural do conteúdo. Que considere: os canais, os
fluxos de informação, processos de comunicação, suas funções, seus efeitos na
sociedade, os sistemas tecnológicos, as instituições sociais.
Não se aplica ao estudo isolado das mensagens, nem reduz a comunicação a
processos psicológicos, nem com base de aplicação reduzida à lingüística.
Definição: já não a partir de seu âmbito de aplicação (o significado das
mensagens), mas a partir do processo implicado na Análise dos dados como
entidades simbólicas (não na análise destas entidades isoladas).
Tão vez a expressão “AC” já NÃO resulte apropriada para este contexto mais amplo
12 Tem uma metodologia própria que permite programar, comunicar e avaliar
criticamente um plano de pesquisa independentemente de seus resultados.
Toda AC comparte uma lógica de composição, uma forma de raciocinar e certos
critérios de validade.
AC não é o que todo mundo faz ao ler um jornal. Tal vez iniciou-se assim e sua
metodologia NÃO impeça que seja assim.
13 Como pesquisadores o melhor é evitar toda tendenciosidade e interpretação de um
único individuo.
Explicar e comunicar os achados para que outros possam examiná-los e reproduzi-
los.
28 Seu objeto de análise: o conteúdo.
Oferece um marco de referencia cujos fins são: prescritivos, analíticos e
metodológicos.
AC é uma técnica de pesquisa destinada a formular, a partir de certos dados,
inferências reproduzíveis e válidas que possam aplicar-se a seu contexto.
Igual que outras técnicas de pesquisa, sua finalidade é proporcionar
conhecimentos, novas intelecções, uma representação dos ‘fatos’ e uma guia
prática para a ação.
29 É fiável, é dizer, outros pesquisadores aplicando as mesmas técnicas aos mesmos
dados optem os mesmos resultados. Fiável= Reproduzível.
Berelson: “uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e
quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”.
Manifesto para assegurar que a codificação dos dados sejam intersujeitivamente
verificáveis e fiáveis.
Para alguns pesquisadores, a AC NÃO parece designar outra coisa que o computo da
qualidade (palavras, atributos, cores), para outros essa expressão sugere a existência
de um método para “extrair” conteúdos dos dados, como si tivessem objetivamente
“contidos” em estes.
30 Método de pesquisa de significados simbólicos das mensagens. A maioria dos
pesquisadores provavelmente tenha esta idéia. Mas a mensagem NÃO tem um único
significado que precise “desvendar-se” ele tem a capacidade de transmitir uma
multiplicidade de conteúdos.
Também, NÃO se tem necessidade dessa coincidência dos significados.
31 A mensagem informa de maneira vicária. Isto obriga a inferência específica, em
contexto (contexto dos dados).
32 Contexto= médio social, médio material empírico, histórico, intenções do emissor
etc.
Preditivo de algo em principio observável.
35 Inferencial, implica correlação com outros fenômenos
Finalidade descriptiva.
Marco referencial:
- Os dados (se descrevem em unidades, categorias e variáveis). Multidimensional,
Unidirecional.
- O contexto. Arbitrário. Sujeitivo
- A forma de dividir a realidade (As categorias)
- O objetivo
- A inferência
- A validade

Outras coisas faladas no texto:

Estruturas que a suportam:


A idéia de mensagem (nos intercâmbios humanos)
A idéia de canal (limitação pelo meio)
A idéia de comunicação (intercambio de informação)
A idéia de sistema (interdependências globais e dinâmicas)

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