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Dominique Maingueneau.
Resumo
A análise de texto tem sido usada amplamente nas pesquisas que têm lugar nas
ciências sociais, especificamente em educação em ciência. Esta veio adquirindo uma
importância relevante na medida em que os paradigmas positivistas na pesquisa cederam
espaço a outras perspectivas, deslocando-se seu interesse de simples técnica de análise,
onde só se dá importância ao produto que dele emerge, a um objeto de estudo onde se
valoriza também os processos e perspectivas epistemológicas implicados nas diferentes
análises que têm o texto como centro. Assim, o desenvolvimento da análise cognitiva
coloca a análise de texto como “prefácio” e base de sua atividade. Daí a importância que
significa identificar as características que assume a análise textual e suas possibilidades na
pesquisa. Considerando um modelo das três perspectivas mais importante do ponto de vista
do uso na pesquisa (Análise de conteúdo, Análise do discurso na perspectiva anglo-
saxônica e Análise do discurso na perspectiva francesa), este trabalho se aprofunda nas
diferenças e semelhanças, potencialidades e debilidades dos diferentes análises da
linguagem que têm sido assumidos na investigação nas ciências sociais, especificamente
em educação em ciência.
Palavras chave: Linguagem, Análise textuais, Análise Cognitiva, Epistemologia,
Educação em ciências.
Abstract
The textual analysis has been of wide use in social sciences research. Specifically in
investigation in science education, this has acquired relevance since the positivist
paradigms, in science, have given space to other perspectives of investigation. From a
simple technical of analysis, that gives importance only to the products, it’s interest has
moved toward a study object that evaluate the processes and epistemological perspectives
in different analyses. So, it is important to identify its characteristics and possibilities in the
investigation. In this paper, it is considered a model of three important representations
(Content Analysis, Discourse Analysis in the Anglo-Saxon perspective and Discourse
Analysis in the French perspective), to penetrate into the differences and similarities,
fortresses and weaknesses of the language analysis that have been assumed in the social
sciences research, specifically in investigation in science education.
Introdução
1
O compreendemos com uma significação mais ampla que a que estabelece Buarque de Holanda (2009)
como “Fragmento de língua escrita ou falada, de qualquer extensão, que constitui um todo unificado.”
implicando também como o assinala Lagazzi-Rodrigues (2010) “como delimitação em diferentes
formulações significantes, sempre sob a determinação da produção dos efeitos de desfecho, unidade, coesão,
coerência e responsabilidade. Não só o texto escrito, composto de palavras, mas também o texto que busca
especializar a autoria no desenho, nas imagens, na pintura, na música, na dança, na mímica, no grafite, na
tatuagem…”
representações. A análise textual tem sido assumida, na pesquisa da educação em ciência, a
partir de um ponto de vista mais quantitativo até perspectivas mais qualitativas
(MICHINEL, 2006), o que tem gerado diferentes “formatos” de análise de “textos”, isto é,
análise de conteúdos (KRIPPENDORFF, 1980; BERELSON, 1952; ANDER-EGG, 1980),
análise de discurso (AD) nas suas diferentes representações: versões francesa (PÊCHEUX,
1990, 1995; ORLANDI, 1996, 1999; MAINGUENEAU, 1997), anglo-saxônica – inglesa
(BOLIVAR, 2005; VAN DIJK, 2005) e americana (FITH, 1951; HALLIDAY, 1961). Em
cada uma destas perspectivas a linguagem, como objeto de estudo, é representada de
maneira diferenciada, isto é, sua materialidade e significado são diferentes, o que, a partir
de um ponto de vista pragmático, tem diferentes possibilidades como meio de análise.
Assim, a análise textual permite estudar as formas de uso da língua não só como
evento de comunicação, mas também como interação nos seus contextos cognitivos,
sociais, políticos, históricos e culturais. Concretamente no contexto cognitivo, na procura
de identificar e entender os processos implicados na cognição, isto é, na análise cognitiva, a
maioria das correntes teóricas ligadas às ciências cognitivas (a filosofia, a psicobiologia
cognitiva, a neurociência, a antropologia cognitiva, a inteligência artificial e a própria
lingüística cognitiva) outorga grande importância ao componente lingüístico na
compreensão de estruturas. Este reconhecimento provém, certamente, do caráter
transdisciplinar das ciências cognitivas em relação com pesquisas científicas e tecnológicas,
em torno dos fenômenos funcionais e emergentes, dados a partir das atividades
neurofisiológicas do encéfalo e do sistema nervoso, incorporados, e que tipicamente se lhes
denomina como: mente e comportamento (LUGER, 1994).
Ferreira (2009) também informa que existe outro esquema de explicação no qual se
gera “a organização de uma subjetividade frente a esses esquemas, a qual está relacionada
com os aspectos da memória, consciência, atenção, inteligência, afetividade, volição, etc.”.
Este esquema de explicação é entendido como sensopercepção e provém de estudos em
Psicopatologia.
É necessário esclarecer que, neste trabalho, não pretendemos fazer uma análise
cognitiva da análise de textos. O seu propósito é abordar as diferenças e semelhanças,
potencialidades e debilidades das diferentes análises da linguagem textual que têm sido
assumidas na pesquisa em ciências sociais, de modo que a apropriação dessas
características oriente a análise cognitiva.
2
KRIPPENDORFF K. Metodología de análisis de contenido. Teoría y práctica. Barcelona, España: Paidós
Ibérica. pp. 7-44. 1980
_____.Content Analysys. An Introduction to its Methology. Sage Publications. 1990
na versão francesa (GADET, FL. e HAK, T., 1997)4 , os mais comumente desenvolvidos
nas investigações sociais ou culturais. Assim sendo, construímos um corpus discursivo,
com textos de cada um destes tipos de análise, que implique respostas às questões que
foram propostas no parágrafo anterior e que nos permitirá identificar posições teórico-
epistemológicas das três perspectivas de análise de textos que configuram o modelo que
nos temos proposto.
Ao fazer análise de outros autores será possível encontrar deslocamentos nas suas posições
respeito à que analisamos nesta amostra com relação às questões formuladas, e também
identificaremos invariantes com relação a alguns aspectos, entre outras: 1) Naqueles que
implicam a análise de conteúdo se revela uma visão da língua, da história e o sujeito
caracterizados pela transparência. É uma visão que não problematiza a linguagem na qual
não se percebe sua materialidade e que não reconhece os efeitos da ideologia sobre ela. É
uma visão que não problematiza a história, na qual não se compreende a materialidade que
lhe é própria e que não leva em conta os efeitos da língua sobre a história. É uma
3
BOLÍVAR A Discurso e interacción en el texto escrito. Caracas, Venezuela: CDCH, UCV. pp. 13-25, 55-82.
2005.
4
GADET, FL.,HAK, T.Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux.
Campinas: UNICAMP. pp. 7-38. 1997.
perspectiva que não considera que o sujeito não é transparente nem para ele mesmo.
(ORLANDI, 2010); 2) Aqueles que implicam a perspectiva discursiva anglo-saxônica
percebem a história e o sujeito como transparente sem considerar os efeitos da língua e do
inconsciente sobre eles (história e sujeito). Igualmente se localiza, fundamentalmente, em
uma concepção estritamente lingüística do discurso.
A análise de conteúdo
A análise de conteúdo como o assinala Krippendorff (1980) tem seu próprio método
para analisar os dados, que procede em grande medida da maneira como se considere o
conteúdo, que é seu objeto de análise, assim, “a análise de conteúdo compreende
procedimentos especiais para o processamento dos dados científicos. Da mesma forma que
em outras técnicas de pesquisa, sua finalidade consiste em proporcionar conhecimentos,
novas intelecções, uma representação dos ‘fatos' e uma guia prática para a ação.”
(KRIPPENDORFF, 1980), ou como o afirmam: Berelson (1952) “uma técnica de pesquisa
para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da
comunicação” ou Ander-Egg (1980) como uma técnica na qual se efetua uma recopilação
de dados que permite obter informação e/ou tendências contidas nas comunicações. Subjaz
ali uma visão da origem do conhecimento semelhante à que tem o Objetivismo. Parte-se da
idéia que a linguagem tem um conteúdo inteligível e o importante é ter o método adequado
para fazê-lo emergir.
ADa Informações. O que os Informação. Não problematiza o meio. Não mascara nem É social.
Opiniões, valores. interlocutores Interações. Baseada na teoria da informação. revela. É interacional
Conhecimento dizem? Baseada no desenvolvimento da A ADa é objetiva e (Fundamenta-se na
semântico. Em que lingüística. neutra. Interação).
contexto? Localiza-se na concepção lingüística Os meios de Não é ideal já que
Qual do discurso. Descrever o texto no interação são não é abstrata,
informação é contexto social e não a linguagem em neutros. descreve o texto no
enviada? Qual abstrato, em situações ideais. contexto social.
informação é O texto surge da interação social e Lingüística
recebida? pelo tanto tem uma função social. bidimensional.
ADf Finalidade de Por que eles Contexto. A linguagem não é transparente, não Os meios de A linguagem não é
compreender. dizem o que Interações há sentido sem interpretação. A interação não são transparente.
Representações, dizem? entre locutores interpretação está presente em dois neutros. Mediação material
valores, visões, e seus níveis: quem fala e quem analisa. Condições entre pensamento e
sentidos. significados. Compreender como um texto históricas e mundo.
Significado como Gestos de funciona. ideológicas É social e
prática da linguagem. interpretação. Fundamentada no materialismo configuram o interacional,
Interpretação e histórico, na lingüística e na teoria contexto da Os sentidos não são
compreensão do discurso como teoria de interlocução. estáveis.
determinação histórica dos processos No há discurso sem
semânticos, atravessada com uma sujeito, nem sujeito
teoria psicanalítica do sujeito. sem ideologia
AC, ADa e ADf, referem as análise de Conteúdo, de Discurso anglo-saxônica e de Discurso francesa respectivamente.
Outra característica importante da análise de conteúdo está no propósito inferencial
que alguns autores (JANIS, 1965; STONE et al, 1966; KRIPPENDORFF, 1980) lhe
atribuem. Esta característica outorga uma natureza determinística ao processo de análise da
linguagem.
A Análise do discurso
A Análise do Discurso (AD) tem sua origem nos anos 1960 e 1970,
simultaneamente em várias disciplinas (a antropologia, a lingüística, a filosofia, a poética, a
sociologia, a psicologia cognitiva e social, a história e as ciências da comunicação) e em
vários países. O desenvolvimento da AD foi paralelo e relacionado com a emergência de
outras trans-disciplinas relacionadas com a linguagem, como a semiótica ou semiologia, a
pragmática, a sociolingüística, a psicolingüística, a sócio-epistemologia e a etnografia da
comunicação. Esta virada no estudo da linguagem, e suas implicações em outros campos de
conhecimento, tiveram suas bases na busca por compreendê-la nos seus contextos de uso e
não só nas suas estruturas de expressão.
Nos últimos anos a AD se fez muito importante como aproximação qualitativa nas
ciências humanas e sociais. Segundo o enfoque sobre o discurso (como texto, estrutura
verbal, processo mental, ação, interação ou conversação) se tem distintas linhas na AD,
como a gramática do texto, a análise da conversação, a psicologia do processamento do
texto, a psicologia discursiva, a estilística, a retórica, a ideologia, a análise da
argumentação, a análise da narração, a teoria de gêneros, e outras. E como já foi dito, há
diferentes perspectivas de análise (francesa, anglo-saxônica, americana, crítica do
discurso).
Por outro lado, esta perspectiva assume que o texto (escrito ou falado) surge da
interação social e destarte tem uma função social (BOLIVAR, 2005; VAN DIJK, 2005), daí
que a análise de discurso estaria relacionada com a sócio–lingüística. Van Dijk assinala que
“os usuários da linguagem que empregam o discurso realizam atos sociais e participam da
interação social". Assim sendo, se concebe um modelo para descrever o texto escrito em
uma concepção interacional, que reconhece a necessidade de uma lingüística bidimensional
e que analisa a linguagem como produção dos interlocutores. Onde a interação se
fundamenta em compartilhar avaliações e valorações entre esses interlocutores. Emerge
esta visão em resposta à visão unidirecional da lingüística tradicional que se sustenta,
fundamentalmente, numa concepção psicologista da linguagem que parte da forma para
chegar ao significado.
Comecemos por reconhecer que não há uma relação “direta” entre o homem e o
mundo. Isto é, o mundo não é óbvio, não é transparente para o homem. Na busca de
conhecimento do mundo, da natureza e do próprio homem, é necessário dar significado, já
5
Nota nossa.
que o mundo não se nos apresenta com significação explícita. Igualmente sucede entre o
pensamento que o homem faz do mundo e a linguagem de que faz uso para a comunicação
desse pensamento. A partir daí emerge a necessidade da noção de discurso para mediar as
relações linguagem/pensamento/mundo (ORLANDI, 1996a). Esta mediação é a que
permite um melhor entendimento da relação entre essas três esferas, porque o discurso é
uma instância material (concreta) dessa relação (ibidem).
A AD pode ser entendida como uma expressão crítica da lingüística que produz um
deslocamento no seu espaço de conhecimento diferente do espaço da lingüística Formalista
(Generativista), Etnolingüística (Sociolingüística) e da fala (Teoria da Enunciação
coloquial). Vemos, também, que esta nova “expressão” da lingüística, desenvolvida pela
teoria crítica que orienta à AD, ocupa, segundo Orlandi (1996a), um espaço que vai além da
própria lingüística e, também, da sociologia. A AD se constitui, desta maneira, a partir dos
anos de 1960, em uma disciplina de intermédio (ibidem). Esta condição leva a considerá-la
como uma disciplina não “positiva” na qual não só se produz conhecimento, mas, que
também seus pressupostos estão continuamente em questão (ibidem).
Assim, Orlandi afirma que a AD, à diferença da lingüística tradicional, trata não só
dos produtos dos fenômenos lingüísticos, mas também, e fundamentalmente, dos processos
de constituição destes fenômenos (ORLANDI, 1996b). É a partir daí que a análise de
discurso estabelece como proposta básica considerar como primordial a relação da
linguagem com a exterioridade, isto é, com as condições de produção do discurso. Importa-
lhe dar resposta às seguintes perguntas: Qual é a relação entre o falante e o ouvinte? Qual é
o contexto no qual o falante fala e o ouvinte ouve? Como é atravessado o contexto pelo
histórico e o ideológico?
6
Palavra tomada de Maingueneau (1997). Em francês paraphrasage, consiste na forma nominal que indica o
ato, o processo envolvido na paráfrases, no entanto que esta última remete ao produto acabado.
A análise de discurso anglo-saxônica assume que não há uma relação direta entre
pensamento e palavra, que se possa reconhecer ou identificar no discurso. Destarte, não se
pode identificar o que o texto diz. Da mesma forma que a análise de conteúdo, reconhece
de antemão uma função comunicacional no texto, o que permite buscar “o que o texto diz”,
identificando os significados explícitos nele.
canal físico (), mediante um código lingüístico (L) comum, em um contexto de comunicação (R) que é
suscetível de ser [decodificado] pelo receptor.
Isso explica que possamos afirmar que a ação educativa na classe é produzida em
uma dialética de permanente unidade/dispersão de formações discursivas entre os
estudantes, professores, cientistas-autores e pesquisadores que possam participar do
processo da aula. A análise de discurso, lugar material dessas interações, permite fazer
emergir interpretações que se gerem nesse processo, à semelhança das maneiras como se
produzem os diálogos e as possíveis influências, do discurso e dos fatores exteriores, na
promoção de mudanças nos sujeitos que interagem.
Desde o início, na análise dos textos se instaura uma relação com um tipo de
discurso que pode ser hipotético. Depois, se trabalha com as marcas e propriedades do
texto, segundo esse discurso suposto, buscando-se as pistas de produção do discurso e daí
se procura apreender seu funcionamento através da análise das relações entre interlocutores
e objeto.
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19- 66.
VYGOTSKY, L.S. (2005). Pensamiento y lenguaje. Teoría del desarrollo cultural de las
funciones psíquicas. Ediciones Fausto.
1) Pergunto-me como analista: quais sentidos relacionados com a análise podem se indiciar
no texto?, isto é, enunciados referidos às seis questões reconhecidas no texto?
2) O objetivo é identificar concepções (epistemológicas) nesta perspectiva de Análise
Textual que me permitam uma comparação com os outros dois tipos de análise.
3) O contexto da análise:
Textos escritos dos livros referidos às analises indicado(a)s: