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DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NO NORDESTE

Liv Soares Severino

Texto baseado na palestra apresentada


no Programa Debate das Quintas no dia
14/12/2000, Banco do Nordeste, Passaré,
Fortaleza, CE.

INTRODUÇÃO

A agricultura orgânica, nos últimos anos, vem ganhando grande importância no


cenário agrícola nacional e internacional. Este texto aborda o assunto de forma
simplificada, com o objetivo de informar leitores interessados em conhecer o que
significa e de onde surgiu esta idéia.
Iremos recordar a evolução da agricultura para entender como se chegou ao
que temos hoje, e depois comentaremos sobre a Revolução Verde e suas implicações,
o crescimento da agricultura orgânica seus fundamentos, algumas modalidades de
agricultura orgânica praticadas no Brasil, a tecnologia disponível e por fim, a cadeia
produtiva e seus fatores limitantes.
São sugeridos vários links para instituições que trabalham com agricultura
orgânica no Brasil e no mundo para que você possa aprofundar o conhecimento em
algum tema específico ou como leitura complementar e fonte de pesquisas futuras.

EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA

Os primeiros passos para o desenvolvimento da agricultura começaram na pré-


história, com a domesticação de algumas plantas. Junto com a domesticação, os
antigos agricultores de forma rudimentar foram selecionando as plantas que
apresentavam características desejáveis. É importante salientar que esse processo de
domesticação e seleção eram realizados por longo período, pois não havia
conhecimento estruturado cientificamente e tecnologias apropriadas. Outra
característica da agricultura neste período, refere-se à s técnicas agrícolas que deviam
ser muito rudimentares, refletindo-se em baixa produtividade (certamente, não existia a
idéia de produtividade). Quanto à preocupação com meio ambiente, conservação do
solo e equilíbrio ecológico, esta praticamente não existia, pois como a população era
Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

relativamente pequena em relação à área ocupada, quando uma região não estivesse
oferecendo o suficiente, era possível migrar para outra.
Depois da pré-história, a agricultura apresentou muitas evoluções no campo
dos tratos culturais, desenvolvimento de linhagens adaptadas a diferentes regiões,
irrigação, surgimento de novos produtos alimentícios etc. Estes acontecimentos
permitiram mudanças substanciais no modo de vida do homem, que passou
paulatinamente da vida nômade para vida séssil. Contudo, foi no Século XX que
ocorreram os maiores avanços na indústria e na ciência, o que teve forte impacto na
agricultura. Entre os principais avanços realizados nesse século, estão a mecanização
agrícola pelo uso de tratores e máquinas de beneficiamento, a purificação de
elementos químicos que possibilitou o estudo de nutrientes essenciais para o
desenvolvimento das plantas e aprofundamento do conhecimento em nutrição vegetal
e o melhoramento genético que desenvolveu cultivares altamente produtivos e
adaptados a diferentes condições edafoclimáticas.
A Teoria de Malthus, idéia largamente difundida no começo do Século XX,
defendia que a população mundial crescia exponencialmente e a produção agrícola
linearmente, o que em pouco tempo ocasionaria grande crise mundial por falta de
alimento para a população. As previsões desta teoria não se concretizaram porque os
avanços tecnológicos possibilitaram o aumento da produção agrícola, embora com alto
custo ambiental. Esta fase de intensa tecnificação ficou conhecida como Revolução
Verde e será detalhada a seguir.

REVOLUÇÃO VERDE

Durante guerras, a evolução do conhecimento é mais rápida devido à


necessidade de sobrepor-se ao adversário. Desta forma, durante a II Guerra Mundial,
foram descobertas diversas substâncias químicas com fins bélicos, processos
industriais e técnicas de manipulação. Com o fim da guerra, viu-se que alguns
daqueles produtos e processos poderiam ser utilizados na agricultura para controle de
insetos e doenças e para fabricação de adubos concentrados. O aperfeiçoamento e
relativo barateamento de tratores e implementos agrícolas, junto com o baixo preço do
petróleo na época, deu grande impulso à mecanização agrícola para preparo do solo,
colheita e beneficiamento de muitas culturas. O melhoramento genético (não é
transgênico) desenvolveu linhagens altamente produtivas e com qualidades desejáveis

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como melhor conservação pós-colheita, aspecto visual e organoléptico e muitas outras


vantagens.
Dentro deste contexto, surgiu o movimento que ficou conhecido como
“Revolução Verde”, caracterizado como um conjunto de técnicas e insumos agrícolas
que a partir da década de 50 possibilitaram grandes aumentos na produtividade
agrícola mundial. Como a ameaça de fome era iminente, foi proposto um pacote de
tecnologias e produtos que possibilitariam o rápido aumento da produção agrícola,
principalmente dos países subdesenvolvidos. No Brasil, a Revolução Verde foi
implantada com amplo apoio das instituições governamentais, com formação de
políticas agrícolas favoráveis, subsídios e ampla aceitação das universidades e
entidades de pesquisa.
Cabe aqui a exposição de dois pontos de vista a respeito da Revolução Verde.
Alguns viram este pacote tecnológico como uma forma de resolver o problema da
fome, já que estava faltando alimento (principalmente nos países pobres) e havia
tecnologia suficiente para produzi-lo. Outras pessoas consideram que toda esta
tecnologia proposta foi uma forma de vender subprodutos da indústria bélica e
possibilitar o lucro das empresas multinacionais que dominavam sua produção.
Dois grandes erros da Revolução Verde foram não se preocupar com as
conseqüências ambientais da tecnologia empregada e não ser eficiente em distribuir
riquezas, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais. O aumento da
produtividade tem sido nas últimas décadas a grande meta agrícola e o referencial
adotado por todos.
Entre os impactos ambientais da Revolução Verde, o uso de agrotóxicos foi o
mais grave pela seguinte razão: um dos principais entraves para o cultivo de plantas é
o ataque por insetos que podem diminuir a produção de forma drástica e até inviabilizar
a produção. Para driblar este problema, produtos como o DDT foram liberados para
uso agrícola sem alertar aos usuários a respeito dos riscos para o ambiente e para os
consumidores do alimento. O produto foi utilizado em larga escala por muitos anos e só
depois de algum tempo a sociedade tomou conhecimento de que ele não se decompõe
com facilidade e tem a característica de acumular-se na gordura dos animais, inclusive
no ser humano. Assim como o DDT, existem vários exemplos ligados a produtos
agroquímicos, causando impactos ambientais negativos e morte de pessoas.
O uso intensivo de agrotóxicos gera um ciclo de dependência, pois os insetos
tornam-se resistentes ao produto aplicado e os agricultores precisam estar

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constantemente recorrendo a uma nova formulação. Os agrotóxicos também


contaminam cursos e reservatórios de água, influenciando os organismos vivos
presentes e, principalmente, têm efeitos extremamente danosos à saúde humana.
Outra importante tecnologia da Revolução Verde são os adubos químicos de
alta solubilidade que foram um dos pilares para a obtenção de alta produtividade
agrícola, que porém, causou significativa redução do teor e matéria orgânica do solo,
eutrofização de cursos de água, contaminação do lençol freático e degradação de
áreas cultivadas. O uso desequilibrado de adubos também gerou perda de fertilidade
de grandes áreas.
Como este pacote tecnológico necessita de capital para aquisição de máquinas
e implementos, sementes, adubos, agrotóxicos, infra-estrutura e conhecimento, os
agricultores pouco capitalizados ou que não tiveram acesso a crédito ficaram de fora
do processo de desenvolvimento e a agricultura familiar ou de pequenos produtores
esteve em grande desvantagem ao concorrer com a agricultura altamente tecnificada.
Deve ser ressaltado que este aumento na produção agrícola também trouxe
grandes benefícios para o Brasil, pois a receita proveniente do abastecimento interno e
exportações de soja, café, laranja, carne e outros produtos agropecuários, contribuiu
significativamente para o equilíbrio da economia e conseqüentemente com o
crescimento econômico nacional. Embora ainda haja fome no Brasil e no mundo, se a
produção agrícola fosse menor, certamente este problema seria ainda mais grave.
Sabe-se que o problema de fome está mais ligado à forma de distribuição e à
desigualdade social do que à produção de alimentos.

AGRICULTURA ORGÂNICA

Durante a fase de expansão e tecnificação agrícola, a preocupação ambiental


foi muito pequena, possibilitando que ocorressem grandes impactos ambientais e
trazendo graves implicações sociais. Este contexto impulsionou o crescimento da linha
de agricultura chamada “Agricultura Orgânica”.
“Agricultura Orgânica” não é uma idéia recente, pois se pode considerar como
orgânica praticamente toda a agricultura realizada com baixa tecnificação ou por quem
não tem acesso a insumos. Por muitos anos, a idéia de agricultura orgânica foi
associada ao movimento hippie, a sonhadores idealistas ou atitude de protesto e por
isso sofria restrições no meio acadêmico, científico e mesmo entre os agricultores.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Quando a sociedade passou a ter conhecimento do potencial malefício à saúde


causada pelos agrotóxicos, formou-se uma onda mundial de rejeição a alimentos
produzidos com estes insumos. Foi esta força de mercado que conseguiu erguer todo
o movimento que assistimos nos dias atuais. As pessoas querem consumir produtos
livres de agrotóxicos e estão dispostas a pagar um pouco mais caro para isso.
Interessados em atender este mercado, os produtores interessaram-se em converter
suas áreas de produção e buscar técnicas apropriadas.
Não existe definição exata sobre o que é Agricultura Orgânica, pois o nome
surgiu de um processo conduzido por várias pessoas e em diferentes locais do mundo,
o que faz com que surjam várias modalidades, objetivos e interpretações. Porém, a
idéia central desta atividade é ser “livre de agrotóxicos”. Este é o grande propulsor do
movimento.
Porém, muitas das pessoas que idealizam e lideram o movimento de
Agricultura Orgânica procuraram inserir ao lado da idéia de “evitar uso de venenos”,
outros valores como equilíbrio ambiental, respeito aos trabalhadores, evitar adubos de
alta solubilidade e aumento da qualidade. Estas características também são
importantes para a sustentação da atividade em médio e longo prazo.

Equilíbrio ambiental
A maioria dos consumidores brasileiros procura produtos orgânicos tendo
como principal preocupação a sua saúde. Por isso, o fato de produtos orgânicos serem
produzidos respeitando a biodiversidade, espécies nativas, fontes de água e o
equilíbrio ambiental ainda tem pouca influência sobre a decisão de compra. Já em
sociedades preocupadas com a causa ambiental, esta característica do produto
(ambientalmente correta) é muito importante. Para o produtor, esta característica tem
grande importância, pois além de significar qualidade ambiental para o local em que
ele próprio vive, esta é uma importante contribuição para a sustentabilidade da
atividade. No Brasil, a preocupação ambiental vem crescendo rapidamente, forçando
as empresas e agricultores a adotar práticas ambientalmente corretas.

Respeito aos trabalhadores


É muito comum se ouvir que o alimento além de ser produzido respeitando o
meio ambiente, precisa respeitar aqueles que trabalharam para produzi-lo, ou seja, não
adianta preservar os pássaros, os peixes, as plantinhas e os microorganismos se o

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alimento é produzido em condições de injustiça social (trabalho infantil, baixos salários,


trabalho escravo). Assim, o consumidor ao comprar um alimento orgânico, estaria
tendo a sensação de contribuir para a justiça social e distribuição de renda.
Ainda não se sabe ao certo o quanto o consumidor brasileiro reage a esta
causa. Em países desenvolvidos, há significativa parcela do mercado sensível a esses
aspectos.
Do ponto de vista social, é importante que além de contribuir para os aspectos
ambientais, a agricultura orgânica contribua para redução das desigualdades sociais
no campo e aumente o respeito ao ser humano.

Adubos de alta solubilidade


Aparentemente, utilizar adubos de alta solubilidade (simplificadamente, adubos
químicos) como uréia (nitrogênio), sulfato de amônio (nitrogênio e enxofre),
superfosfato simples e triplo (fósforo), cloreto de potássio e outros macro e
micronutrientes constitui-se uma grande ferramenta para o desenvolvimento da
agricultura ajuda a produzir maior quantidade de alimentos.
É verdade que os adubos são muito importantes, porém eles estão sendo
utilizados de forma excessiva e trazendo malefícios ao sistema agrícola. A primeira
implicação está no processo industrial de obtenção que consomem elevada quantidade
de energia e utilizam alguns recursos naturais “não-renováveis”. Como energia está se
tornando uma das limitações do mundo atual, utilizar estes produtos estaria indo contra
a tendência geral. O uso de recursos “não-renováveis” também é preocupante, pois
nenhuma atividade tem sustentabilidade se for intimamente dependente destes
recursos.
Do ponto de vista ambiental, o uso excessivo de adubos ocorreu devido à idéia
de obter produtividade máxima em qualquer atividade agrícola, o que é obtido, entre
outras coisas, com adubações pesadas. Como conseqüência, houve redução
significativa do teor de matéria orgânica dos solos (com inúmeras outras implicações),
contaminação do lençol freático e diminuição da fertilidade dos solos devido ao
desequilíbrio das adubações.
Freqüentemente, as entidades certificadoras exigem a suspensão total do uso
de adubos químicos de alta solubilidade (os mais tradicionais) para que a atividade
seja reconhecida como agricultura orgânica. Eventualmente, permite-se o seu uso
dentro de limites e com controle.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Qualidade
O uso dos insumos da “Revolução Verde” permitiu que fossem oferecidos aos
consumidores, produtos com aparência impecável: tamanho, cor, ausência de marcas,
picadas de insetos etc, levando o consumidor a acostumar-se com produtos neste
padrão de qualidade. Com a agricultura orgânica, também é possível obterem-se
produtos com o mesmo padrão de qualidade e até mesmo superior em aparência,
porém, isto exige mais trabalho do produtor, pois ele não utilizará inseticidas,
fungicidas ou conservantes. Quanto ao sabor, existem freqüentes relatos de que os
produtos orgânicos estão em vantagem em relação aos tradicionais o que acontece
devido à produção mais natural e menor indução para altas produtividades.
Dentro da agricultura orgânica, os produtores precisam ter bem claro que os
consumidores (a maioria) não estão dispostos a adquirir produtos de aparência inferior,
mesmo sabendo que eles não possuem agrotóxicos, principalmente se eles estiverem
pagando preço superior ao produto similar proveniente do sistema de produção
tradicional. Além da aparência, a conservação do produto é importante, sendo que
muitos produtores orgânicos garantem que o tempo de prateleira de seus produtos é
maior que os convencionais devido ao equilíbrio nutricional da planta e do solo onde
foram cultivados.

MODALIDADES E CONCEITOS

Como comentado anteriormente, não existe um conceito definido sobre o que é


agricultura orgânica. Isto acontece por que ela não foi inventada por alguém em certo
momento, mas foi uma idéia que evoluiu ao longo do tempo ou podemos até dizer que
ela existia antes mesmo de se desenvolver a agricultura tecnificada.
Atualmente, o conceito de agricultura orgânica inclui uma série de práticas
ligadas à conservação ambiental, proibição ao uso de produtos tóxicos, justiça social
etc. Dentro deste universo, diversas correntes de pensamento se desenvolveram com
suas particularidades e diferentes interpretações sobre a natureza, agricultura,
economia, política e religião. Como resultado desta diversidade de pensamentos,
surgiram e continuam surgindo muitos nomes que basicamente significam agricultura
orgânica, porém incluem outros valores e implicações. De forma resumida, vamos
apresentar algumas das modalidades de agricultura orgânica importantes no Brasil e

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

no Nordeste. Muitas outras informações podem ser obtidas em sites sobre o assunto
como o Planeta Orgânico (www.planetaorganico.com.br) , www.megagro.com.br ou
www.unitednaturex.com.br/.

Agricultura orgânica (específica)


Inicialmente, o termo “agricultura orgânica” foi usado para designar uma forma
alternativa de agricultura que objetivava contrapor-se à agricultura tradicional. Esta
modalidade específica foi criada por “Howard, A”, um microbiologista e botânico inglês.
Em 1905, ele foi trabalhar na Índia e lá observou que os camponeses hindus não
usavam pesticidas nem fertilizantes químicos, mas devolviam à terra todos os resíduos
vegetais e animais cuidadosamente acumulados. Em contrapartida, na estação
experimental de Pusa, onde ele trabalhava, apesar dos diferentes métodos de combate
utilizados, plantas e animais sofriam das mais diferentes anomalias.
Deste modo, Howard utilizou uma área de 30 hectares para iniciar sua
metodologia, tendo como mestres, os nativos da região ao invés dos fitopatologistas e
diplomados. Em 1919, depois de anos de estudo, Howard declarou que já sabia como
cultivar lavouras praticamente livres de pragas e doenças sem recorrer a insumos
químicos.1
Atualmente, o nome “agricultura orgânica” deixou de ser específico para a
corrente criada por Howard e passou a abranger todas as correntes de agricultura
alternativa que se enquadram nas características abordadas neste texto.

Biodinâmica
A agricultura biodinâmica surgiu de um ciclo de oito palestras feitas em 1924
pelo filósofo Rudolf Steiner (1861-1925) em uma fazenda de Koberwitz, na Silésia, hoje
Polônia2. Surgiu como corrente alternativa, porém com uma visão bastante diferente,
especialmente pelo fato de seu inspirador ser um filósofo e não um especialista em
agronomia. Steiner foi o criador do movimento denominado Antroposofia, ou “ciência
espiritual”. Caracteriza-se por dois elementos que lhe emprestam características
diferentes das outras correntes:

1
Extraído do texto Fundamentos Essenciais da Ecologia e da Agricultura Ecológica, escrita pelo
Engenheiro Agrônomo José Arimatéia Campos.
2
Extraído do texto Fundamentos Essenciais da Ecologia e da Agricultura Ecológica, escrita pelo
Engenheiro Agrônomo José Arimatéia Campos.
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a) uma visão espiritual da agricultura, assim como uma atenção muito grande à
influência dos astros sobre as plantas e animais. Segundo Steiner, as forças dos
corpos celestes próximos (Lua, Vênus, Mercúrio) agem no calendário da Terra e
dirigem a reprodução. Entretanto, os outros planetas (Marte, Júpiter, Saturno)
transmitem suas forças por intermédio da sílica e agem sobre o crescimento e nutrição.
b) Steiner propôs o que ele chamou de “preparados biodinâmicos” num total de
nove, com objetivo de vitalizar as plantas e estimular seu crescimento. Estes
preparados são conhecidos por números variando de 500 a 508. O preparado 500 é
feito a partir de esterco, o 501 da sílica e os outros sete a partir de espécies vegetais
determinadas (miofolio, camomila, urtiga, carvalho, dente-de-leão etc).
Em seus fundamentos, a atenção deve ser dada ao solo ao invés da planta,
pois se o solo for sadio, a planta nele cultivada será sadia. Considera -se indispensável
a participação animal no ciclo de vida da propriedade agrícola para realizar a ciclagem
de nutrientes e produção de matéria orgânica. A propriedade agrícola deve ser vista
como um organismo onde cada elemento tem sua importância. Aceita-se a utilização
de alguns adubos químicos desde que associados a outras técnicas como
compostagem ou coquetel verde. Deve ser evitado o plantio contínuo de grandes áreas
com uma única espécie vegetal (monocultura). Embora concebido na Europa, a
“agricultura biodinâmica” foi adaptada a condições tropicais para que fosse utilizada em
países como o Brasil.
A certificadora e entidade difusora do método no Brasil é o IBD - Instituto
Biodinâmico (www.abd.com.br) que tem sede na cidade de Botucatu, SP. A entidade
fornece os selos “Biodinâmico” e “Demeter” e é uma das poucas alternativas de
certificação disponíveis no Brasil e aceitas no mercado externo (Europa, Estados
Unidos e Japão). Cerca de 230 projetos abrangendo aproximadamente 60 mil hectares
estão certificados por este instituto no Brasil.

Sem agrotóxico (SAT)


Basicamente, é uma forma de agricultura que não utiliza agrotóxicos, porém
não tem grandes preocupações com os outros fatores como biodiversidade ou situação
social dos produtores. É uma forma de agricultura pouco normatizada, por isso
relativamente mais simples. Os produtores ficam mais à vontade para escolher seus
métodos de combate à s pragas e doenças.

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Ao adotar esta modalidade de agricultura, é possível que ocorram problemas


quanto à certificação ou desconhecimento do significado da sigla por parte dos
consumidores.

Natural
A Agricultura Natural é um método de agricultura desenvolvida pelo filósofo
teísta japonês Mokiti Okada e tem íntima ligação com a Igreja Messiânica. Ela vem
sendo experimentada desde 1935 e foi lançada em 1950, chegando ao Brasil em 1979.
Baseia-se na idéia de que a natureza, no seu estado natural, é a verdade e, portanto,
deve ser respeitada. A filosofia okadiana defende a tese de que o espírito é inerente
não somente aos seres humanos, mas aos animais, aos vegetais, enfim, a todos os
organismos vivos.
“O princípio básico da Agricultura Natural é fazer o solo, organismo
vivo, emanar toda sua força vital, toda sua capacidade produtiva. Assim, ela
é fundamental para a melhoria do nível espiritual do ser humano, o que
resulta na melhoria do seu nível material. O homem somente será
verdadeiramente sadio se sua alimentação for constituída de produtos
provenientes de um solo sadio. (Manual de Certificação da Agricultura
Natural – Fundação Mokiti Okada)”
Dentro deste modelo foram desenvolvidos produtos específicos como o bokashi
e o EM. O bokashi é preparado a partir de palhas, farelos vegetais, algas, cinzas e
outros produtos fermentados por microorganismos. O EM (efficient microrganisms) são
microorganismos selecionados que possuem qualidade regenerativas para o solo e
para as plantas. Auxiliam na decomposição da matéria orgânica, combate a pragas,
crescimento vegetal etc.
A Fundação Mokiti Okada (www.mokitiokada.org.br) foi a fundadora do
movimento de Agricultura Natural no Brasil, sendo a principal difusora do método, além
de prestar o serviço de certificação para comercialização do produto.

Agroflorestal / Florestal
Baseia-se no princípio de que o ecossistema natural das plantas é a floresta,
procurando conduzir a atividade produtiva em ambientes similares a florestas, pois a
biodiversidade, ciclagem de nutrientes e equilíbrio ambiental são facilitados pela
cobertura florestal. Os sistemas agroflorestais que unem o componente agrícola ao

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

componente florestal já são um pouco estudados e reconhecidos no mundo todo,


principalmente África, Ásia e América Central. Dois grandes centros de pesquisa sobre
Agroflorestas estão situados na cidade de Turrialba na Costa Rica (América Central) e
em Nairóbi, no Quênia (África), respectivamente CATIE – Centro Agronômico Tropical
de Investigación y Enseñaza (www.catie.ac.cr) e ICRAF - International Centre for
Research in Agroforestry (www.icraf.cgiar.org).
Vários produtos podem ser facilmente produzidos em ecossistemas florestais
como madeiras, produtos extrativistas, várias frutas, palmito, pimenta-do-reino, cacau e
outros. Entretanto, a maioria das plantas cultivadas tem desempenho reduzido se
colocadas em tais ambientes o que, do ponto de vista econômico, lhes deixaria em
desvantagens competitivas frente aos similares cultivados convencionalmente. Do
ponto de vista ambiental e ecológico, a sustentabilidade destes sistemas é máxima.
No Brasil, a IMAFLORA - Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
– IMAFLORA (www.imaflora.org), certifica produtos florestais dentro de uma visão que
também engloba o tópico sócio-ambiental que será visto a seguir. Existem várias
experiências de agricultura florestal e agroflorestal no Brasil que podem ser
consultadas através do link acima.

Sócio-ambiental
O viés sócio-ambiental une as preocupações de conservação do ambiente com
respeito à s condições de vida dos produtores e da humanidade como um todo,
evitando o uso de produtos tóxicos e respeitando a saúde do trabalhador que iria
aplicar o produto na lavoura, assim como a saúde do cidadão e sua família que
consumirá aquele produto.
A atividade agrícola tornou-se um empreendimento onde custos, risco e
investimentos assemelham-se a qualquer outra atividade industrial ou comercial. Esta
visão empresarial trouxe impactos negativos à atividade, em outras palavras, tornou o
trabalhador rural mais pressionado quanto a remuneração e esforço exigido. A
agricultura sócio-ambiental preocupa-se que os direitos dos trabalhadores estejam
sendo respeitados, como ausência de trabalho infantil, trabalho escravo, respeito ao
descanso, lazer e educação etc.
Na verdade, esta não é uma certificação estritamente agrícola, mas uma
certificação sócio-ambiental para que o consumidor tenha conhecimento do processo

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

de produção do produto que está consumindo. O Instituto IMAFLORA citado no item


anterior (agricultura florestal) também realiza esta certificação.

Comércio Justo (Fair Trade)


Na nossa economia guiada pelo mercado, os preços são comandados pela Lei
da Oferta e da Procura. Os efeitos desta economia, em função da globalização e da
facilidade de comunicação, caíram com maior rigor sobre os pequenos produtores que
geralmente não têm acesso à informação com tempestividade e até mesmo não
conseguem entender como pode alguém do outro lado do mundo influenciar o seu
pequeno negócio. Esses pequenos produtores também são freqüentemente
explorados pelos comerciantes, conhecidos como “atravessadores”, que compram a
sua produção por preços mínimos e os revendem junto aos centros consumidores,
realizando o menor trabalho e percebendo a maior parcela do rendimento.
Como forma de amparar estes pequenos agentes produtivos expostos aos
“atravessadores” e à Lei da Oferta e da Procura, desenvolveu-se o conceito de
Comércio Justo que também é muito conhecido pelo nome em Inglês, “Fair Trade”.
Neste tipo de comércio, o consumidor se dispõe a pagar não o preço estipulado pela
concorrência de mercado, mas um preço justo que remunere satisfatoriamente a
pessoa que produziu aquele produto. Desta forma, o pequeno produtor estaria em
condição de manter seus filhos estudando, alimentar-se dignamente, descansar o
necessário etc. O consumidor tem também a garantia de que o valor pago está sendo
distribuído de forma justa dentro da cadeia produtiva, ou em outras palavras, o dinheiro
está chegando à s mãos do produtor e não ficando retido na mão do “atravessador”.
Junto ao ideal de justiça social, aliou-se a idéia de conservação do meio-
ambiente e daí vem a sua ligação com agricultura orgânica. O pano de fundo desta
idéia é a comercialização, mas o aspecto ambiental tem grande importância para sua
sustentabilidade e principalmente para a sensibilização dos consumidores.
Esta modalidade de comércio é restrita a nichos de mercado, pois o
consumidor precisa pagar um valor acima do preço de mercado, o que só funciona
com pessoas dispostas a dar, através do consumo, sua contribuição para redução das
desigualdades sociais no mundo.
Alguns exemplos de comércio justo no Brasil podem ser encontrados no site
Viva Rio (www.vivario.org.br/frame1/PROJETOS.htm) que está facilitando o comércio
entre pequenos produtores e uma grande cadeia de lojas no Rio de Janeiro. Outras

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

experiências (relatadas em inglês) podem ser acessadas para obtenção de maiores


informações através do endereço www.dutcham.com.br/trade_f.htm#br.

Ecológica / Biológica
A agricultura ecológica e biológica, são praticamente, nomes que tornaram-se
conhecidos, mas tem as mesmas bases das outras modalidades já apresentadas. No
site IFOAM, o termo inglês “organic agriculture” é traduzido para português como
“agricultura biológica”.
Entretanto, sem perda de generalidades, podemos considerá-las similares à
agricultura orgânica tradicional, pois não há como diferenciar este modo de cultivo de
outras modalidades. Adota os mesmos ideais: respeito ao meio ambiente e ao homem,
diversidade biológica, sustentabilidade etc.

Permacultura
A Permacultura é uma modalidade de agricultura orgânica idealizada há cerca
de 20 anos (década de 70) por Bill Millison, um ex-professor universitário australiano. A
palavra deriva do Inglês de “Permanent Agriculture” e baseia-se em criar sistemas
agrícolas permanentes em oposição aos sistemas agrícolas tradicionais em que as
culturas são conduzidas em curtas temporadas, à s vezes de poucos meses e com alta
dependência de insumos.
A Permacultura aproxima-se dos conceitos de agricultura florestal e
agroflorestal, pois preconiza o desenvolvimento de florestas produtivas, utilizando os
recursos florestais como força motriz para o equilíbrio ecológico e para o vigor das
plantas. Assim como as demais modalidades de agricultura orgânica, ela defende a
suspensão total do uso de agrotóxicos e produtos químicos modernos, preocupa-se
com o bem-estar do ser humano, da preservação dos recursos naturais e da
sobrevivência do planeta.
A experiência mais conhecida de permacultura no Brasil é o Instituto de
Permacultura da Bahia (www.geocities.com/ipbbr/) que desenvolve a técnica desde
1992, quando houve o lançamento do movimento no Brasil, através de um curso
realizado em Porto Alegre/RS. Também podem ser obtidas informações no Instituto de
Permacultura Austro-brasileira (www.agrorede.ufsc.br/biblioteca/permacultura-jorge/).

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Autoconsumo
Grande parte dos pequenos agricultores nordestinos realiza uma agricultura
livre de agrotóxicos e adubos químicos, mas caracteristicamente de subsistência.
Certamente, esta agricultura classifica-se como orgânica, porém não é voltada para o
mercado. O pequeno excedente de produção geralmente é comercializado de forma
fragmentada em mercado local.
Veremos logo a seguir no tópico Cadeia Produtiva, que dois grandes entraves
ao desenvolvimento da agricultura orgânica são a certificação e distribuição. Embora
genuinamente orgânica, fazer com que essa produção seja certificada e distribuída
para os grandes centros consumidores é possível, porém constitui-se um grande
desafio.
Há quem defenda energicamente que a agricultura orgânica não deveria ser
entregue à s forças de mercado, mas uma modalidade de agricultura voltada para o
produtor rural produzir seu próprio alimento de forma sadia e a baixo custo. Esta visão
tem muito sentido, mas não tem atração econômica para que se difunda e atinja
significativa parcela dos agricultores.
Para agricultores de subsistência, a agricultura orgânica é uma forma de
garantir sua saúde e evitar despesas desnecessária com produtos fitossanitários e
adubos químicos, desejando que esta característica possa se tornar uma oportunidade
de aumentar sua receita através do mercado de produtos orgânicos. Para agricultores
empresariais, é preciso que a agricultura orgânica seja abordada com visão de
mercado, contabilizando custos e receitas e planejando corretamente seu negócio
rural.

Resumo das modalidades de Agricultura Orgânica


Como se pode notar, existem diferentes correntes que são generalizadamente
conhecidas por “agricultura orgânica”. Embora haja diversidade de idéias, alguns
pontos são comuns a todas: o respeito ao ambiente através de técnicas
conservacionistas e suspensão de uso de produtos danosos, respeito ao homem tanto
à sua saúde à sua condição social e cultural como a visão econômica que é necessária
para conquistar a sustentabilidade. Fala-se ainda em “agricultura alternativa” que não
se constitui uma linha de pensamento, mas idéias alternativas ao modelo geral de
agricultura, onde se inclui a agricultura orgânica.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

TECNOLOGIAS PARA AGRICULTURA ORGÂNICA

Grande parte da pesquisa científica agrícola mundial dos últimos anos voltou-
se prioritariamente para técnicas ligadas à Revolução Verde como ensaios de
adubação e calagem, desenvolvimento de cultivares altamente produtivas,
desenvolvimento e teste de herbicidas, fungicidas e inseticidas, técnicas de manejo e
mecanização agrícola.
Por esta razão, há uma grande carência de técnicas alternativas aplicáveis à
agricultura orgânica, pois grande parte do conhecimento foi direcionada para
agricultura tradicional. Embora, cada modalidade de agricultura orgânica apresentada
acima (biodinâmica, natural etc) tenha um conjunto de técnicas desenvolvidas, a
tecnologia ainda é considerada insuficiente para desenvolver a agricultura orgânica de
forma segura. Por outro lado, significativa parcela do que se produziu de conhecimento
dentro da agronomia é aplicável também à agricultura orgânica, como fisiologia
vegetal, nutrição de plantas, conservação de solos, fertilidade, matéria orgânica etc.
Contudo, não podemos nos prender firmemente à exigência de que qualquer
nova técnica tenha que passar por rígidos padrões de avaliação científica, mas ao
menos precisamos avaliar as técnicas disponíveis. As falhas mais comuns encontradas
nas técnicas orgânicas são inviabilidade econômica (não traz retorno satisfatório),
dificuldade de obtenção os produtos necessários e baixa eficiência.
A maior carência de técnicas está no controle de pragas e doenças. Existem
inúmeros produtos naturais indicados para este fim como fumo, sabão, óleo mineral,
extrato de nim, urtiga, ácido pirolenhoso, ácido húmico, manipueira, caldas com sais
minerais e muitos outros. Porém, a eficácia destes produtos é questionável e sua
obtenção nem sempre é possível. Uma alternativa para as pragas é o controle
biológico onde os insetos indesejados são predados por outros insetos, aranhas ou
eliminados pela ação de microorganismos patogênicos. O controle biológico depende
de pesquisa científica para ser desenvolvido e sua utilização em campo, à s vezes é
complicada. Outra alternativa para pragas e doenças é o melhoramento genético (não
tem relação com organismos transgênicos) que pode desenvolver cultivares resistentes
a várias doenças e pragas. O melhoramento genético necessita de apoio científico
para realização e pode levar muitos anos para se chegar a um resultado, porém,
depois de concluído é de aplicação muito simples e acessível a qualquer produtor rural.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Outro campo onde há muitas controvérsias é quanto a alternativas de


adubação. Algumas correntes de pensamento aceitam o uso de adubos industriais de
forma racional, outros proíbem, alegando que a propriedade tem que ser
autosuficiente, produzindo todo o adubo necessário para sua manutenção, havendo
ainda os que acabam criando dependência excessiva de insumos orgânicos
provenientes de fora da propriedade. A adubação verde tem ganhado grande
importância como alternativa para adubação. Outras fontes precisam ser mais bem
estudadas como: resíduos industriais, lodo de esgoto, composto de lixo etc. Estas
alternativas eventualmente apresentam alto teor de metais pesados. O ponto de
convergência de todos é que a matéria orgânica no solo é indispensável para a
sustentação do sistema e para a fertilidade.

CADEIA PRODUTIVA DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Insumos orgânicos
Quando a agricultura orgânica começou seu ciclo de rápida expansão no
Brasil, um dos seus fundamentos era libertar os produtores da dependência dos
vendedores de insumos industrializados: sementes geneticamente melhoradas,
herbicidas, adubos, fungicidas, inseticidas e implementos agrícolas. Porém, o que se
tem observado é que grande parte dos produtores orgânicos estão deixando de
comprar tais insumos e passando a comprar insumos orgânicos: esterco, composto,
vermicomposto, extratos de plantas medicinais, soluções nutritivas, substratos e até
produtos altamente industrializados com máscara de orgânicos.
Acreditamos que não é correto defender a idéia de que os produtores precisam
se fechar em suas propriedades sem comprar qualquer insumos externo, porque isso
tolheria grandes oportunidades de negócios no campo e também não contribuiria para
a eficiência das empresas rurais. Contudo, é importante saber que a compra desses
insumos contribui para o aumento dos custos da produção orgânica.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Figura 1 – Principais elos da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica.

O elo “insumos” da cadeia produtiva inclui a assistência técnica. Como estas


técnicas alternativas de agricultura são relativamente recentes, os profissionais de
assistência técnica e extensão rural estão tendo certa dificuldade em absorver a idéia.
Isto gera uma carência de profissionais para conceber e conduzir projetos de
agricultura orgânica e dificulta o desenvolvimento da atividade. O choque de idéias
entre profissionais defensores da agricultura convencional e da forma alternativa é
muito freqüente, o que é natural quando se realiza qualquer tipo de mudança. Mesmo
assim, muitos técnicos estão se dispondo a estudar e aprofundar-se em agricultura
orgânica. Isto dá uma grande ajuda, pois neste momento se une a experiência dos
profissionais mais antigos com a teoria em desenvolvimento.
A pesquisa para geração de conhecimento e tecnologia específica para
agricultura orgânica está dia-a-dia ganhando importância e há muito espaço para
novas descobertas e aperfeiçoamento das técnicas já existentes.
O principal argumento utilizado contra a agricultura orgânica é que se toda a
área agrícola fosse convertida a este método, não seria possível produzir alimento
suficiente para a população mundial. Esta afirmação tem fundamentos, mas deve ser
entendida como necessidade de aperfeiçoamento de técnicas que permitam a
produção agrícola aliada à preservação ambiental e não como definitiva inviabilidade
da produção orgânica.

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

Produção
A produção de alimentos orgânicos está crescendo em ritmo inferior ao
desejável, embora o preço seja relativamente atraente. Os principais entraves para o
crescimento da atividade não estão ligados diretamente à produção, mas a outros elos
da cadeia produtiva, ou seja, apesar das limitações quanto a assistência técnica,
tecnologia apropriada e mesmo adequação de custos, não é a dificuldade de produzir
quem está limitando o crescimento da atividade, mas sim dificuldades de distribuição,
comercialização e, por vezes, a certificação.
Uma das exigências dos responsáveis pela comercialização e pelo
consumidor, principalmente para produtos perecíveis, é a regularidade de oferta. Por
exemplo, uma rede de supermercados que vende repolho orgânico exige que toda
semana seja fornecida certa quantidade do produto, independente da época do ano,
condições climáticas ou ocorrência de pragas e doenças. Entretanto, é freqüente não
haver essa regularidade, atribuindo-se a causa a planejamento inadequado, produção
atomizada (dispersa) e pequena quantidade de produtores, pois quando há muitos
produtores, a falta de um pode ser coberta por outro.
Os custos de produção devem ser bem gerenciados. Pode se achar que a
suspensão do uso de insumos industrializados representa uma grande economia,
porém isto implica na utilização de insumos alternativos ou no uso mais intensivo de
mão-de-obra o que torna a aumentar o custo de produção. Em certos casos, é possível
que o prêmio extra pago pelo consumidor seja suficiente apenas para cobrir os gastos
excedentes da atividade.
Outro grande entrave para o crescimento da atividade é o processo de
conversão de agricultura tradicional para orgânica porque os agrotóxicos que haviam
sido utilizados na propriedade permanecem como resíduos no solo e nas plantas. Por
isso, para que haja produção orgânica, exige-se um programa de conversão que pode
durar até dois anos. Durante este período, a produção ainda não pode ser vendida
como orgânica, mas tem custo de produção superior à agricultura tradicional, o que
desestimula muitos produtores que não estão capitalizados o suficiente para atravessar
esta fase.
A imprensa está tendo importante papel na divulgação do movimento de
agricultura orgânica. Porém, ocorre excessiva exposição onde apenas se enfatizam
tópicos sensacionalistas como “preço do tomate orgânico é 100% maior”, “soja
orgânica garante lucro”, “mercado de orgânicos movimenta R$ 300 milhões e cresce

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

40% ao ano” etc. Estas manchetes criam uma imagem de que agricultura orgânica é
uma mina de ouro, atraindo muitos aventureiros que não têm experiência em
agricultura e atrapalham o bom desenvolvimento da atividade.

Certificação
A certificação é uma forma de assegurar ao consumidor que o produto que ele
está comprando foi produzido dentro de um processo orgânico onde não se utilizaram
agrotóxicos, respeitando o ambiente e o homem, etc. Caso os consumidores
confiassem totalmente nas informações escritas no rótulo dos produtos, a certificação
seria dispensável, porém, isso não ocorre. O mercado brasileiro ainda não está muito
exigente quanto a certificação, principalmente para produtos locais ou onde o próprio
produtor pode acompanhar e realizar diretamente a venda. Etretanto, a certificação é
indispensável quando se deseja vender para o mercado externo.
O custo de certificação é muito alto e tem significativa participação no preço do
produto. Isto acontece porque é necessário que a instituição certificadora não tenha
envolvimento com a empresa, seja idônea e tecnicamente capacitada para realização
da atividade de inspeção.
Resumidamente, o processo de certificação é o seguinte: celebra-se um
contrato entre as partes, a entidade realiza tanto inspeções programadas como
eventuais, se necessário realizam-se testes laboratoriais e, se a propriedade atender
aos padrões, emite-se um certificado e autoriza-se que o rótulo do produto exiba um
selo da entidade, que garantirá ao consumidor que o processo de produção obedeceu
determinados padrões. Contudo, para que este selo seja aceito nos mercados externos
(Europa, Estados Unidos e Japão) é preciso que a entidade certificadora esteja
devidamente registrada junto à Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura
Orgânica - IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Moviments –
www.ifoam.org). O preço para registrar-se junto à IFOAM é muito alto, o que limita a
abertura de certificadoras nacionais. Para o mercado nacional, existem algumas
poucas entidades certificadoras que podem oferecer o serviço por preço bem mais
acessível que as certificadoras internacionais. Atualmente, o Ministério da Agricultura e
do Abastecimento (www.agricultura.org.br) está regulamentando a formação e
obrigações das entidades certificadoras, bem como sua fiscalização.
A agroindústria de produtos orgânicos precisa adquirir produtos orgânicos
certificados e passar por um programa de certificação próprio, onde serão avaliados os

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

processos e produtos adotados. Como exemplo simplificado, uma fábrica de doces


orgânicos precisa adquirir açúcar e frutas certificados e ter seu processo industrial
certificado para que possa exibir o selo em sua embalagem.
Existe liberdade para que cada certificadora desenvolva suas próprias regras
de certificação de forma a atender a seus objetivos específicos. O produtor que deseje
receber a certificação, precisa adequar-se a estas regras. No ano seguinte, se o
produtor desejar obter a certificação de uma entidade diferente, precisará adequar-se
à s exigências da nova certificadora. Conclui-se assim, que dependendo da entidade
certificadora, a certificação significa mais do que produção sem agrotóxicos.
Informações adicionais sobre entidades certificadoras e regras de certificação
podem ser encontradas no site da IFOAM (www.ifoam.org) e United Nature
(www.unitednaturex.com). Ou diretamente com outras entidades como KRAV
(www.krav.se/kravkontroll/english.htm) ou Organic Farm Verified (www.ics-intl.com/). A
maioria dos sites só estão disponíveis em inglês.

Distribuição / comercialização
Esta etapa da cadeia produtiva pode parecer simples, mas tem sido o maior
entrave em várias experiências de produção orgânica. O produto precisa estar
disponível na hora em que o consumidor tem tempo de ir comprá-lo e que o ponto de
distribuição seja facilmente acessível.
Neste tópico, as associações de produtores e cooperativas podem ser de
fundamental importância. Pequenos produtores isolados podem até conseguir produzir
satisfatoriamente, mas comercializar é bem mais difícil. Existem várias experiências de
associações de produtores no Brasil que criaram uma feira própria e conseguiram
conquistar sua freguesia e viabilizar a comercialização. Este modelo pode ser copiado
para muitas localidades, mas não seria solução para todos os casos, pois depende de
alto nível de organização. Em casos pontuais, pode haver a venda direta para o
consumidor, o que também resolve apenas casos pontuais, pois nem todo produtor
rural tem habilidade para comercializar ou tempo disponível para isso.
Grandes produtores também já estão despertando interesse em produção
orgânica. Já existem grandes áreas contínuas conduzidas dentro dos princípios da
agricultura orgânica. Para grandes produtores, os maiores desafios podem ser
facilmente superados: custos de certificação são diluídos, a comercialização independe
de cooperativas e a assistência técnica pode ser viabilizada pela contratação de um

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

técnico. Neste caso, a limitação pode passar a ser falta de técnicas apropriadas,
dificuldade no monitoramento de grandes áreas ou disponibilidade e gerenciamento da
mão-de-obra.
Em projetos de produção orgânica, antes de planejar a produção, é preciso
verificar os canais de comercialização, traçar planos, entrar em acordo com feirantes,
supermercados etc. Novamente, pode entrar em vigor a figura do “atravessador” que
se dispõe a recolher a produção, transportá-la e realizar a distribuição e
comercialização junto aos centros consumidores.

Mercado
Como se pode notar através dos meios de comunicação, o mercado para
produtos orgânicos tem potencial enorme de crescimento tanto no Brasil como em
outros países. Isto acontece porque as pessoas estão tomando conhecimento que os
alimentos estão contaminados com resíduos de agrotóxicos e outros produtos danosos
à saúde e conseqüentemente estão desejando consumir alimentos livres deste perigo.
Para isso, os consumidores se dispõe a pagar mais caro por este diferencial de
qualidade. Porém, o quanto cada um está disposto a pagar a mais é variável. Algumas
pessoas podem pagar até o dobro do preço do produto normal, enquanto outras
aceitam o limite máximo de 10%. Se for obedecida a Lei da Oferta e da Procura, dentro
do enfoque estritamente econômico, o diferencial de preço dos produtos orgânicos
tenderá a zero quando a oferta aproximar-se da demanda.
Dentro da cadeia produtiva, são os consumidores que estão pressionando o
desenvolvimento da atividade, pois a demanda insatisfeita ainda é muito grande.
A imprensa enfatiza o mercado consumidor europeu, americano e japonês que
já está mais avançado e com maior demanda. Porém, o mercado brasileiro não deve
ser subestimado pois mesmo este ainda não está sendo explorado. Atender o mercado
externo é bem mais complicado que aproveitar o mercado interno, devido à maior
exigência de certificação e a experiência com negócios entre países, câmbios, taxas,
documentação e logística.

CONCLUSÕES

A Agricultura Orgânica abriga uma excelente oportunidade de negócio para a


Região Nordeste. Ela reúne, por excelência, o benefício social, o respeito ao meio

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Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Nordeste

ambiente e a viabilidade econômica – os três pilares para o desenvolvimento


sustentável. O benefício social é obtido pela possibilidade de pequenos produtores,
associações e cooperativas produzirem competitivamente e terem acesso ao mercado.
O benefício ambiental é inerente aos fundamentos da Agricultura Orgânica. A
viabilidade econômica é a resposta da sociedade que tem procurado incentivar o
desenvolvimento de atividades ambientalmente corretas e que reduzam as
desigualdades sociais.
Para que este negócio potencial se transforme em benefício real para a região,
é preciso empenho de todos os setores da sociedade. Os consumidores já estão
manifestando o desejo de contribuir, as instituições de pesquisa estão se propondo a
dar apoio tecnológico à atividade e os agricultores já estão captando a mensagem.
O Banco do Nordeste, como agente de desenvolvimento da Região Nordeste,
deve estar em fina sintonia com o crescimento deste grande negócio. E mais que isso,
precisa participar ativamente, contribuindo para a organização da cadeia produtiva,
levando o conhecimento e capacitação, apresentando casos de sucesso, apoiando
através do crédito e orientando os empreendedores que se dispõem a estruturar este
mercado.
Focado no objetivo de levar o desenvolvimento para todo o Nordeste, está em
nossas mãos mais uma oportunidade de gerar negócios, emprego e renda, mobilizar
agentes produtivos e contribuir para a conservação do ambiente em que vivemos.

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