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UNISINOS - CURSO DE REALIZAÇÃO AUDIOVISUAL

ROTEIRO - TRIMESTRE 2003/3


IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS NUM ROTEIRO

Uma vez que se tenha na mão o primeiro tratamento de um


roteiro, começa o trabalho de reescritura, considerado por
alguns roteiristas como o mais complicado de todos. Uma das
formas mais eficientes de se analisar um roteiro para
reescrevê-lo consiste em tentar identificar os seus problemas.

Mas, para evitar que o processo de identificação de problemas


se transforme num massacre que perca a perspectiva do próprio
roteiro, é preciso entender três coisas: (1) que não há
roteiro sem problemas, ou melhor, que todo roteiro sempre pode
ser melhorado; (2) que qualquer ANÁLISE deve partir do
reconhecimento dos fatores individuais do material (ao
contrário da CRÍTICA, que parte do geral para o particular); e
(3) que, uma vez identificados alguns problemas, não se deve
confundir sintoma e doença, como quem tenta curar o paciente
febril com doses maciças de antitérmico: muitas vezes não é
possível corrigir o roteiro simplesmente reescrevendo o ponto
onde o problema é mais evidente.

Pra começar, vamos dividir os problemas em 4 grandes


categorias, que chamaremos: problemas de escrita, problemas de
escritura, problemas de argumento e problemas de roteiro.
Nosso assunto principal, é claro, são os problemas de roteiro.

1. PROBLEMAS DE ESCRITA

Problemas de escrita dizem respeito ao ato de escrever, e


independem de se estar escrevendo um roteiro ou qualquer outro
tipo de texto. Evidentemente, não vamos nos aprofundar nesse
aspecto, que nós brasileiros normalmente chamamos "erros de
português". A única maneira de corrigi-los é lendo, escrevendo
e pensando sobre o que se lê e escreve - de preferência, com
um bom dicionário de um lado e uma boa gramática de outro.

1.1. ORTOGRAFIA - "Por incrívil que paressa, tem jente que nem
presta atensão ao comteúdo de um rotero se ele tem problemas
dece tipo. Puro preconseito!" É ruim, né?

1.2. ACENTUAÇÃO - Fora o inglês, todas as línguas do mundo


possuem acentos, e a informática não os aboliu.

1.3. SINTAXE - Segundo o Aurélio, "parte da gramática que


estuda a disposição das palavras na frase e das frases no
discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. Aí
entram milhares de regrinhas de concordância, adequação,
consecução, etc, cujo conhecimento pode ser trocado, com
vantagens, por um bom "ouvido". O problema é que só lendo se
adquire um bom ouvido pra essas coisas.

1.4. PONTUAÇÃO - É a maneira de usar sinais para encaixar as


frases umas nas outras, facilitando a leitura.

1.5. DIGITAÇÃO (ou DATILOGRAFIA) - Muitas vezes, o que parece


ser um grave problema dos tipos anteriores é apenas falta de
atenção. Nada que uma boa revisão não resolva. E confiar no
corretor ortográfico quase nunca dá certo.

2. PROBLEMAS DE ESCRITURA

Também não são o nosso objetivo principal, mas é muito mais


fácil analisar um roteiro quanto aos seus problemas "de fato"
quando se tem certeza de que não há nele o que estamos
chamando aqui "problemas de escritura". Uma vez eliminado esse
tipo de problema, temos certeza que o roteiro está DIZENDO
tudo o que o filme deve MOSTRAR.

2.1. FALTA DE ELEMENTOS DO ROTEIRO - Ou seja:

(a) falta de divisão de cenas, ou divisão incorreta ou


confusa, dificultando a visualização das mudanças de cenário.

(b) falta de narração, ou narração imprecisa, provocando furos


na visualização das ações, ou não entendimento da motivação
dos personagens;

(c) falta de descrição dos personagens e cenários que aparecem


pela primeira vez, dificultando a visualização;

(d) falta de falas ou falas em discurso indireto, ou apenas


referidas;

(e) falta de rubricas, quando for necessário indicar o tom da


fala ou a ação desenvolvida pelo personagem durante a fala.

2.2. EXCESSO DE ELEMENTOS DO ROTEIRO - Evitar divisões de cena


demais, narrações excessivas, descrições detalhadas demais ou
rubricas muito longas.

2.3. CONFUSÃO VISUAL ENTRE OS ELEMENTOS DO ROTEIRO - Ações


inteiras ou descrições colocadas como rubricas, falas
incluídas na ação, etc.

2.4. TEXTO EM 1a PESSOA

2.5. VERBOS NO PASSADO


2.6. TEXTO FORA DA ORDEM FÍLMICA - Ou falta de clareza na
seqüência das ações: "Paulo senta e liga o computador após ter
entrado na sala."

2.7. EXCESSO DE TERMOS TÉCNICOS - Utilização de elementos de


decupagem: tipos de plano, movimentos de câmara, etc; ou
referência explícita à forma de filmar, e não ao que deve ser
visualizado: uso excessivo de palavras como "câmara", "corte",
"vemos", etc.

2.8. AÇÕES, RELAÇÕES OU SENTIMENTOS NÃO FILMÁVEIS - Exemplo de


sentimento: "Joaquim olha em direção ao cemitério e lembra de
sua mãe que morreu há 14 anos." Exemplo de relação: "Paulo,
irmão de Laura..." Na verdade, principalmente em relação às
ações, tudo pode ser considerado filmável, e muitas vezes o
erro se reduz a não explicar corretamente como é que uma
determinada ação vai ser filmada. "Rodrigo percebe que foi
enganado": como ficamos sabendo disso? Pela expressão do seu
rosto? Por alguma interjeição? Ou por uma série de planos que,
em conjunto, nos dêem essa idéia? O roteiro deve indicar COMO
o público vai perceber isso.

2.9. TEMPO DE LEITURA MUITO DIFERENTE DO TEMPO FÍLMICO - Ações


pouco importantes narradas com excesso de detalhes, ou então
ações essenciais narradas de forma superficial. Esse tipo de
erro dá uma sensação de desequilíbrio no roteiro.

2.10. NÃO UTILIZAÇÃO DA DECUPAGEM IMPLÍCITA - Ao deixar de


usar essa poderosa arma do roteirista, o roteiro simplesmente
se torna menos visual.

3. PROBLEMAS DE ARGUMENTO

Ao contrário dos problemas de roteiro, os de argumento


raramente podem ser corrigidos em uma reescritura, por dizerem
respeito mais à fábula que à narrativa.

Eugene Vale cita uma série de "erros" que ele considera


"quanto ao conteúdo do relato": falta de um conteúdo
reconhecível; uso de fórmulas esgotadas; falta de relação com
os interesses do público num determinado momento (ou seja,
projeto não comercial); desproporção entre custo e atração (ou
seja, projeto inviável).

Eu diria que todos os problemas de argumento podem ser


resumidos em dois: (1) assunto, tema ou estrutura muito
parecidos com o que já vimos; (2) assunto, tema ou estrutura
diferentes demais de tudo o que já vimos.

Uma boa maneira de se evitar problemas de argumento é


perguntando a si próprio: pra quê contar essa história? A
dificuldade é que essa motivação nem sempre é clara mesmo para
veteranos contadores de histórias, e além disso corre-se o
risco de cair num "mensageirismo" ou num "utilitarismo" que
não têm a ver com o objetivo da arte narrativa.

4. PROBLEMAS DE ROTEIRO

A lista aqui apresentada não pretende ser exaustiva, e está


dividida por aspectos conforme uma combinação das metodologias
de Eugene Vale e Michel Chion. É importante salientar que Vale
inicia sua lista advertindo: quem estiver livre de pecado (o
que ele chama de "erros de roteiro") que atire a primeira
pedra. O capítulo de Chion dedicado ao assunto chama-se "erros
de roteiro (para melhor cometê-los)". E vale ainda o velho
lema do Pasquim: "Se você não está em dúvida é porque foi mal-
informado."

4.1. PROBLEMAS QUANTO À VEROSSIMILHANÇA:


- premissas falsas;
- excesso de coincidências ou coincidências muito favoráveis
aos personagens;
- furos ou quebras na lógica interna da história;
- deus ex-machina (resolução da trama amparada em um elemento
que até então não fazia parte do universo da história).

4.2. QUANTO À COMPREENSÃO:


- informação insuficiente;
- excesso de informação;
- emprego de símbolos incompreensíveis;
- falta de emoções universais.

4.3. QUANTO AO INTERESSE:


- informação repetida (não é o mesmo que informação
reiterada);
- emprego de símbolos óbvios;
- emprego de emoções banais.

4.4. QUANTO À IDENTIFICAÇÃO:


- falta de relação entre os fatos do filme e a vida do
espectador;
- falta de personagens simpáticos ou inconsistências na
simpatia dos personagens.

4.5. QUANTO AOS PERSONAGENS:


- excesso de personagens ou personagens sem função clara;
- indefinição do protagonista;
- personagens mal caracterizados;
- personagens marionetes ou porta-vozes do roteirista;
- idiotice ou onisciência dos personagens;
- personagens incoerentes (não é o mesmo que personagens
contraditórios);
- atraso ou falta de clareza na denominação do personagem;
- falta de transformação nos personagens;
- transformação súbita ou inaceitável.

4.6. QUANTO AOS DIÁLOGOS:


- excesso de diálogos;
- falsa seqüência de cinema mudo (falta de diálogos em
momentos em que os personagens deveriam falar);
- diálogos explicativos ou forçados;
- diálogos irrelevantes;
- ação anterior recapitulada (e não induzida ou sugerida) nos
diálogos;
- inadequação entre personagem e fala;
- narrativa de Terâmenes (ações completas reduzidas a diálogo
sem motivo para isso);
- uso apenas funcional do OFF;
- referências a fatos que o público desconhece (antecipação)
sem posterior desenlace;
- referências a personagens ainda não denominados.

4.7. QUANTO À DRAMATIZAÇÃO DAS CENAS:


- cenas evidentemente explicativas, por falta de conflito ou
falta de identificação;
- cenas arrastadas ou cenas sem função (furos dramáticos);
- cenas curtas demais;
- cena mentirosa (que não seja claramente narrada ou imaginada
por um personagem);
- excesso de cenas com início, meio e fim;
- excesso de cenas terminando em fermata;
- excesso de cenas sem ligação entre si;
- ligação entre as cenas muito evidente;
- repetição de recursos de ligação.

4.8. QUANTO AO CONFLITO:


- indefinição quanto ao tipo de conflito: interno, relacional,
grupal ou cósmico;
- objetivo principal inexistente ou fraco;
- dificuldade principal fraca ou obstáculo facilmente
contornável;
- sub-objetivo (ou MacGuffin) mal-entendido como objetivo
principal;
- possibilidade desigual de sucesso;

4.9. QUANTO AO MOVIMENTO DA TRAMA:


- início impressionante demais (prejudicando a gradação);
- objetivo principal ou dificuldade principal expostos muito
tarde;
- pontos lentos por falta de sub-objetivos;
- paradas porque os sub-objetivos não se sobrepõem;
- falta de gradação ou gradação irregular;
- descontinuidade de intenções;
- excesso de truques de narrativa (para contar uma história
pouco consistente);
- falta de variação ou contraste entre as cenas;
- implante falso (não é o mesmo que pista falsa);
- flash-back apenas explicativo;
- antecipação sem desenlace;
- perda de oportunidade de suspense;
- clímax muito cedo;
- trama tão complicada que exige um desfecho imenso ou muito
explicativo;
- objetivo principal obtido antes do fim;
- final súbito que não leva suas premissas às últimas
conseqüências (final abortado);

ETC, ETC, ETC.

Termino com uma longa citação de Michel Chion:

"O problema com os erros do roteiro é que isso acontece como


num jogo de empurra. Quando se conserta um erro descoberto num
determinado lugar, muitas vezes se produzem outros erros em
outro lugar, de outra natureza. Quando se corrige, por
exemplo, um erro de dramatização (cena arrastada) acentuando a
reação de um dos personagens, muitas vezes há uma mudança na
definição desse personagem, criando-se uma incoerência. Ou
então, para estabelecer uma ligação verossímil entre certos
fatos, criam-se extensões no desenrolar da história, isto é,
para tapar furos lógicos criam-se furos dramáticos, e assim
por diante.

"Em outra palavras, num roteiro tudo está relacionado, não no


sentido de uma solidariedade entre seus diferentes
componentes, mas antes no sentido de um 'tirar de Pedro para
dar a Paulo'. No entanto, inúmeros roteiros conseguem combinar
maravilhosamente bem as exigências, às vezes até
contraditórias, a que uma boa história deve satisfazer,

"Para melhor cometê-los, diz o subtítulo provocador desse


capítulo. Também não é fácil, todavia, cometer bem os erros,
de uma maneira que tenha sentido e força, e isso muitas vezes
requer tanta habilidade quanto não cometer erro nenhum."

(Michel Chion, O ROTEIRO DE CINEMA, página 239)

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