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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

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295 S|IS-SSffi A °
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Apelaçãojn° 994.08.056548-0, da Comarca de São Paulo,
em que é apelante ENEUZA DE OLIVEIRA BASTOS sendo
apelado COOPERATIVA HABITACIONAL INTERSUL.

ACORDAM, em 6a Câmara de Direito Privado do


Tribunal Ide Justiça de São Paulo,; proferir a seguinte
decisão: ; "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS QUE
CONSTARÃO DO ACÓRDÃO. V. U.", de conformidade com o
i
voto do Relator, que integra este acórdão.

0 julgamento teve a participação dos


Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente
sem voto)!, VITO GUGLIELMI E PERCIVAL NOGUEIRA.

São Paulo, 21 de outubro de 2010

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SEBASTIÃO CARLOS GARCIA


RELATOR
PODER JUDICIÁRIO
Tribunal de Justiça de São Paulo

Voto n° 13920
Apelação n° 994.08.056548-0
Apte.: Eneuza de Oliveira Bastos
Apdo.: Cooperativa Habitacional Intersul
São Paulo

COOPERATIVA HABITACIONAL - Equiparação,


no caso, a uma relação de consumo - Comprovação
de descumprimento contratual por parte da
Cooperativa - Atraso das obras verificado, não só
pela ausência de impugnação específica da ré, como
também pela demonstração da autora de inúmeras
ações promovidas em face da ré por outros
cooperados - Inaplicabilidade do dispositivo
contratual que vinculou a devolução das prestações
após a dissolução e liquidação da sociedade, além de
prever descontos - Determinada a restituição
integral dos valores pagos, além da rescisão já
decretada pela sentença monocrática - Apelo
provido.

Eneuza de Oliveira Bastos ingressou com ação de


rescisão contratual cumulada com devolução de valores pagos
contra Cooperativa Habitacional Intersul, havendo sido julgada
parcialmente procedente, para declarar rescindido o contrato, e
determinar a devolução dos valores pagos pela autora, nos termos
do estatuto social (fls. 194/198).
2

Irresignada, porém, apelou a autora, sustentando que a


relação jurídica é de consumo; certo que está caracterizado o
inadimplemento pela ré, em razão do atraso no andamento das
obras, motivo pelo qual a culpa pela rescisão contratual deve ser
atribuída à cooperativa. Requer, ainda, seja declarada nula a
cláusula de retenção das parcelas pagas, que devem ser
restituídas imediatamente mediante parcela única
Isento de preparo, o recurso foi processado e
contrariado.

E o relatório.

O apelo está em caso de ser provido, na conformidade


dos fundamentos a seguir expostos.
Nesse sentido, primeiramente, cumpre afirmar que, em
princípio, é juridicamente sustentável que as relações entre
cooperativa e cooperados não configuram relação de consumo
propriamente. Tal entendimento, porém, não se aplica ao caso
sub judice, porquanto o que se verifica, na verdade, é "um tipo de
associação que muito mais se aproxima dos consórcios do que
propriamente de cooperativa, até porque, via de regra, nem
sempre é o efetivo espírito cooperativo que predomina nessas
entidades (...) o associado que a ela adere apenas para o efeito
de conseguir a aquisição de casa própria, dela se desliga e se
desvincula uma vez consumada a construção" (TJ-SP - Apelação
n° 166.154, Rei.: Des. Olavo Silveira, in JTJ 236/60).
Com efeito, tem-se por evidenciado, presentemente, que
a "adesão à cooperativa é um disfarce de contrato de
compromisso de compra e venda que melhor define a relação

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entre as partes". A autora-apelante "não queria participar de


cooperativa nenhuma, mas sim adquirir a casa própria. Pagou as
prestações, mas, vendo que a obra não era entregue, pediram a
rescisão do compromisso" (TJ-SP, Apelação n° 106.944-4, Rei.:
Des. Narciso Orlandi, in JTJ 236/60).
Daí por que, para hipóteses como a dos autos, com a
mais acatada vênia da orientação da digna Magistrada
sentenciante, a melhor orientação é aquela que a admite como
relação de consumo, entendendo aplicáveis, ao menos
analogicamente, as disposições do Código do Consumidor.
Ressalte-se, a propósito, que a admissibilidade da
aplicação do Código do Consumidor à hipótese em análise
decorre da inegável existência, de um lado, de um fornecedor que
desenvolve atividade de construção e prestação de serviços
(C.D.C., art. 3 o ); e, de outro, de um consumidor (C.D.C., art. 2 o ).
Bem por isso, a situação fático-jurídica posta em Juízo se
assemelha, em tudo e por tudo, a uma típica relação de consumo.
É oportuno mencionar, em adminículo, aresto do
Colendo STJ que, ao afirmar a legitimidade ativa ad causam do
Ministério Público para propositura de ação civil pública
relacionada à atuação de cooperativa habitacional em face de
seus associados, reconheceu a incidência das disposições do
Código de Defesa do Consumidor, verbis:

"CONSUMIDOR - Ministério Público - Ação civil


pública - Legitimidade ativa reconhecida - Cooperativa
habitacional - Administração em detrimento dos cooperados
apurada em inquérito civil - Precedentes do STJ - CDC,
artigos 81, parágrafo único, II e III, 82, I e 110 - CPC,
artigo 81 - Lei 7.347/85, artigo 5o." (STJ - REsp. n° 255.947

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- SP - Rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito - J.


08.10.2001 - DJ 08.04.2002).

Consigne-se que, embora a autora-apelante tenha


motivado a rescisão contratual na cobrança indevida e na
desproporcionalidade dos reajustes, tais aspectos não possui a
relevância pretendida, diante de um fato maior, consistente no
atraso das obras relativas ao empreendimento.
Efetivamente, a alegação da autora-apelante
relativamente ao atraso das obras respectivas não foi negada pela
ré-apelada, o que eqüivale à admissão de tal circunstância; certo
que há, no mínimo, indícios de que as obras relativas ao
empreendimento estão atrasadas. Basta considerar os documentos
de fls. 66/73.
De todo modo, as disposições contratuais e estatutárias
acerca da realização das obras, sem contar com um cronograma
específico, não poderia mesmo prevalecer.
Com efeito, no estatuto consta que o andamento da fase
de implantação dependerá não só da parte técnica e legal, como
também da disponibilidade de fluxo de caixa desta Cooperativa
(fls. 04 do estatuto).
Tal dispositivo, sobre ser genérico e por demais
abrangente, não pode ter sua validade chancelada, especialmente
porque revela-se manifestamente prejudicial ao cooperado-
consumidor. Aliás, a condição constante desta cláusula pode ser
equiparada como potestativa, porquanto o início das obras e o
respectivo cronograma ficam ao exclusivo arbítrio e alvedno da
cooperativa-apelada.
Por conseguinte, diante do atraso das obras atribuído à
apelada, era mesmo de rigor a rescisão contrato e conseqüente

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determinação de restituição integral dos valores pagos pela


autora-apelante.
Nesse diapasão, importa considerar que, nos termos do
disposto no artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do
Consumidor, é irretorquível a iniqüidade e a abusividade da
cláusula 25 a do Estatuto (pág. 04 do Estatuto - fls. 26 dos autos),
que prevê:
O demissionário, excluído ou eliminado, receberá de
volta as quantias pagas, após deduzidas as despesas
administrativas, bem como proporcionalmente, eventuais perdas
resultantes das operações imobiliárias compromissadas pela
cooperativa. A restituição de que trata este Artigo, somente
poderá ser exigida ao final, quando houver a dissolução e
liquidação da Sociedade.
Tal dispositivo estatutário é nulo de pleno direito. Eis
que, a despeito de a rescisão se dar por culpa da ré-apelada, a
referida cláusula prevê que a apelante aguarde a liquidação da
Sociedade e estabelece que seja obrigada a receber o que pagou
ao final e com descontos.
Ressalte-se, que a pretendida vinculação da desistência
da apelante à liquidação da cooperativa, não pode prevalecer,
porque a rescisão foi motivada pelo descumprimento contratual
por parte da ré-apelada, não sendo juridicamente admissível
impor tal restrição à autora para desvencilhar-se do contrato não
cumprido.
Consigne-se, ainda, que a restituição integral dos valores
pagos pela autora, vale dizer, sem qualquer desconto, também é
mesmo de rigor, pois, no caso sub judice, foi demonstrado, e de
resto, não negado pela ré-apelada, o atraso na entrega da obra por-

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sua exclusiva culpa, não havendo previsão de conclusão das


obras.
Destarte, em obediência ao princípio do equilíbrio
contratual, no que se refere à forma de pagamento dessa
restituição, deverá ser imediata e integral, com a atualização pela
Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e
juros de 1% ao mês, a partir da citação.
Ao fim e ao cabo, em razão do provimento do apelo, com
a procedência da ação da autora, as verbas sucumbenciais devem
ser arcadas integralmente pela ré-apelada, com fixação dos
honorários advocatícios em 15% do valor da condenação.
Isto posto, dá-se provimento ao apelo, nos termos e
pelos fundamentos constantes do presente voto condutor do
acórdão.

Sebas^í
Relator

Voto n° 13920 - Apelação n° 994.08.056548-0 - São Paulo

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