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Disciplina de Perícia Ambiental Legal

Profa. Maria Joana Darque de Barros.

Rio de Janeiro/2002
Índice

1. Perito.....................................................................................................................................................................1
1.1 Falso testemunho e falsa perícia......................................................................................................................1
2. PROVA PERICIAL..............................................................................................................................................2
2.1 Conceito..........................................................................................................................................................2
3. CATEGORIAS DE INTERESSE.........................................................................................................................3
3.1 Interesse Público.............................................................................................................................................3
3.2 Interesse Público Primário..............................................................................................................................3
3.3 Interesse Público Secundário..........................................................................................................................3
3.4 Interesses Transindividuais.............................................................................................................................3
3.5 Característica Processual dos Interesses Transindividuais, Coletivos ou de Grupos......................................3
4. Conceito de dano...................................................................................................................................................4
4.1 Dano ambiental...............................................................................................................................................4
5. apuração do Dano Ambiental................................................................................................................................5
6. Reparação do Dano Ambiental.............................................................................................................................6
7. Responsabilidade ambiental..................................................................................................................................7
8. Fundamentos da Responsabilidade.......................................................................................................................8
9. tarifação da responsabilidade ambiental...............................................................................................................8
10. Responsabilidade penal ambiental......................................................................................................................9
10.1 Sujeito ativo.................................................................................................................................................10
10.2 Sujeito passivo.............................................................................................................................................11
10.3 Causas excludentes de ilicitude:..................................................................................................................13
11. Competência em matéria ambiental..................................................................................................................13
12. Mandado de segurança......................................................................................................................................14
12.1 Conceito......................................................................................................................................................14
12.2 Pressupostos................................................................................................................................................14
12.3 Legitimação ativa e passiva.........................................................................................................................15
12.4 Considerações quanto ao processo..............................................................................................................16
13. AÇÃO POPULAR............................................................................................................................................16
13.1 Conceito......................................................................................................................................................16
13.2 Pressupostos................................................................................................................................................17
13.3 Posição do Ministério Público.....................................................................................................................18
13.4 Anotações quanto ao processo....................................................................................................................19
13.5 Observações................................................................................................................................................19
14. AÇÃO CIVIL PÚBLICA..................................................................................................................................20
14.1 Comparações com Ação Popular e Mandado de Segurança.......................................................................20
14.2 Pressupostos e conceito...............................................................................................................................21
14.3 Sujeito ativo e passivo.................................................................................................................................21
14.4 Funções do Ministério Público....................................................................................................................22
14.5 Considerações quanto ao processo..............................................................................................................22
15. Lincenciamento ambiental................................................................................................................................23
15.2 Competência para o licenciamento ambiental.............................................................................................24
16. Referências Bibliográficas................................................................................................................................26
PERÍCIA AMBIENTAL LEGAL

1. PERITO
O perito é um auxiliar eventual do juízo, que assiste o juiz quando a prova
do fato litigioso depender de conhecimento técnico ou científico. Trata-se, portanto,
de um auxiliar ocasional por necessidade técnica.
É, geralmente pessoa estranha aos quadros de funcionários permanentes
da Justiça. Sua escolha é feita pelo juiz, para funcionar apenas num determinado
processo, tendo em vista o fato a provar e os conhecimentos técnicos do perito.
Uma vez nomeado pelo juiz, o perito, aceitando o encargo, investe-se,
independentemente de compromisso, em função pública e assume “o dever de
cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda sua diligência” (art.
146, CPC). Permite o Código, todavia, que o perito se escuse do encargo, desde
que alegue “motivo legítimo” (art. 146, caput, in fine).
A escusa deve ser apresentada dentro de 5 dias contados da intimação, ou
do impedimento superveniente ao compromisso, sob pena de se reputar renunciado
o direito de alegá-la (art. 146, parágrafo único, e art. 423), in verbis:
art. 146 do CPC - “O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que
lhe assinala a lei, empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do
encargo alegando motivo legítimo”.
art.423 do CPC - “O perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por
impedimento ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou ao julgar
procedente a impugnação, o juiz nomeará novo perito”.
Nos termos do art. 147, “o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações
inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado por
dois anos a funcionar em outras perícias, e incorrerá na sanção que a lei penal
estabelecer (art. 342 do Código Penal de 1940), in verbis:

1.1 Falso testemunho e falsa perícia


“Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha,
perito, tradutor ou intérprete em processo judicial, policial ou administrativo, ou em
juízo arbitral;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
§ 1º Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2º As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante
suborno.
§ 3º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata
ou declara a verdade”.
A função do perito é remunerada, sendo o ônus das despesas atribuído às
partes, segundo a regra do art. 33 do CPC.
“Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo
autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz”.

-1-
Quanto à forma de efetuar o pagamento da remuneração do perito, o
parágrafo único do art. 33, criado pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994, in verbis:
“Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo
pagamento dos honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente a
essa remuneração. O numerário, recolhido em depósito bancário à ordem do juízo
e com correção monetária, será entregue ao perito após a apresentação do laudo
facultada a sua liberação parcial, quando necessária”.
Em outras palavras a lei, acima mencionada, prevê que se exigirá da parte
responsável pelos honorários o depósito prévio em juízo, que ficará sujeito a
correção monetária será entregue ao técnico somente após a apresentação do
laudo. O juiz, porém, nos casos de trabalhos que exigem gastos de monta, poderá
autorizar liberações parciais da verba depositada, na proporção das necessidades.

2. PROVA PERICIAL
2.1 Conceito
Os fatos litigiosos nem sempre são simples de forma a permitir sua integral
revelação ao juiz, ou sua inteira compreensão por ele, através apenas dos meios
usuais de prova que são as testemunhas e documentos.
Nem é admissível exigir que o juiz disponha de conhecimentos universais a
ponto de examinar cientificamente tudo sobre a veracidade e as conseqüências de
todos os fenômenos possíveis de figurar nos pleitos judicias.
Não raras vezes, portanto, terá o juiz de se socorrer de auxílio de pessoas
especializadas, como engenheiros, agrimensores, médicos, contadores, químicos,
biólogos etc., para examinar as pessoas, as coisas ou documentos envolvidos no
litígio e formar sua convicção para julgar a causa, com a indispensável segurança.
Aparece, então, a prova pericial como meio de suprir a carência de
conhecimento técnicos de que se ressente o juiz para a apuração dos fatos
litigiosos.
Como ensina Amaral Santos, a perícia pode consistir “numa declaração de
ciência ou na afirmação de um juízo, ou, mais comente, naquilo e nisto.
É declaração de ciências, “quando relata as percepções colhidas, quando
se apresenta como prova representativa de fatos verificados ou constatados”,
como, v.g., no caso em que são descritos os danos sofridos pelo veículo
acidentado, bem como os sinais materiais encontrados na via pública onde se deu
a colisão”.
É afirmação de um juízo “quando constitui parecer que auxilie o juiz na
interpretação ou apreciação dos fatos da causa”, como, v.g., ao dar sua explicação
de como ocorreu o choque dos veículos e qual foi a causa dele.
É a perícia, destarte, meio probatório que, de certa forma, se aproxima da
prova testemunhal e no direito antigo os peritos foram, mesmo, considerados como
testemunhas. Mas, na verdade, há uma profunda diferença entre esses
instrumentos de convencimento judicial. O fim da prova testemunhal é apenas
reconstituir o fato tal qual existiu no passado; a perícia, ao contrário, descreve o
estado atual dos fatos; das testemunhas, no dizer de Lessona, invoca-se a
memória, dos peritos, a ciência.
Segundo o art.420 do atual Código de Processo Civil, “a prova pericial
consiste em exame, vistoria ou avaliação”.
Consiste o exame na inspeção sobre coisas, pessoas ou documentos, de
qualquer fato ou circunstância que tenha para a solução do litígio; a vistoria é a

-2-
mesma inspeção, quando realizada sobre bens imóveis; a avaliação ou
arbitramento é a apuração de valor, em dinheiro, de coisas, direitos ou obrigações
em litígio.

3. CATEGORIAS DE INTERESSE
3.1 Interesse Público
O Estado é o titular. Consiste na contraposição do Estado ao interesse do
indivíduo (como ocorre no Direito Penal, que contrapõe o ius puniend do Estado, ao
interesse de liberdade do indivíduo).
3.2 Interesse Público Primário
É o bem geral, o interesse social; o interesse da sociedade ou da
coletividade como um todo (Renato Alessi).
3.3 Interesse Público Secundário
É o modo pelo qual os órgãos da administração vêem o interesse público
(Renato Alessi); com efeito, em suas decisões, nem sempre o governante atende
ao real interesse da comunidade.
3.4 Interesses Transindividuais
Constituem uma categoria intermediária de interesses, que embora não
sejam interesses estatais, são mais que meramente individuais, porque são
compartilhadas por grupos, classes ou categorias de pessoas ou indivíduos. São
interesses coletivos.
Ex.: * Os moradores de uma região no que diz respeito a questões ambientais
comuns;
* Os consumidores de um produto no que diz respeito à qualidade ou ao
preço da mercadoria;
* Os condôminos de um edifício;
* Os sócios de uma empresa;
* Os membros de uma equipe esportiva;
* Os empregados do mesmo patrão.

3.5 Característica Processual dos Interesses Transindividuais,


Coletivos ou de Grupos.
Não é apenas o fato de serem compartilhados por diversos titulares,
reunidos pela mesma relação jurídica ou fática, que os caracteriza sob o aspecto
processual, porém, mas do que isso, é a circunstância de que a ordem jurídica
reconheça a necessidade de que sua defesa individual seja substituída pela defesa
coletiva, em proveito de todo o grupo. (Massimo Villone)
OBS.: No Brasil, a defesa dos interesses de grupos começou a ser
sistematizada com o advento da Lei nº 7347/85 - Lei da Ação Civil Pública, e, em
seguida com a Lei 8078/90 - Código de Defesa do Consumidor.

-3-
4. CONCEITO DE DANO
É pressuposto indispensável para a construção de uma teoria jurídica da
responsabilidade civil. Há toda evidência que não se pode definir qual o
ressarcimento devido, se o dano a ser reparado não estiver suficientemente a ser
classificado, especificado e quantificado. Com efeito, sem a existência do dano,
inexiste responsabilidade.
O dano é prejuízo causado a alguém por um terceiro que se vê obrigado ao
ressarcimento. O dano implica em alteração negativa de uma situação jurídica,
material ou moral, que deverá ser, na medida do possível, mensurada de forma que
se possa efetivar o ressarcimento.
Importante esclarecer que, este conceito não é suficiente para a apuração e
qualificação do dano ambiental, pois as características deste não são apropriáveis
pelo Direito comum, em especial, Direito Privado.

4.1 Dano ambiental


Como já dito anteriormente, o termo dano constitui um pressuposto
essencial da responsabilidade civil.
Segundo os ensinamentos de Celso Antonio P. Fiorillo, na sua obra Curso
de Direito Ambiental Brasileiro: “Primeiramente, é importante ressaltar que inexiste,
a nosso ver, relação indissociável entre responsabilidade civil e o ato ilícito, de
forma que haverá dano mesmo que este não derive de um ato ilícito. Observemos a
seguinte situação: supunhamos que um determinada empresa X emita efluentes
dentro do padrão ambiental estabelecido pelo órgão competente. Admitindo que a
fauna ictiológica seja contaminada pela referida descarga de dejetos, há,
indiscutivelmente, apesar de a empresa ter agido licitamente, o dever de
indenizar, pois, em face da responsabilidade objetiva, verifica-se apenas o dano
(contaminação da biota) com o nexo de causalidade (oriundo da atividade da
empresa), para que daí decorra o dever de indenizar”. (grifo nosso)
Apesar do legislador brasileiro não ter conceituado, às expressas, o dano
ambiental, nada obstante, delimitou-se as noções de degradação da qualidade
ambiental - “alteração adversa das características do meio ambiente”- e poluição -
“a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: 1) prejudiquem a saúde, a segurança, e o bem estar da população;
2) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 3) afetem
desfavoravelmente a biota, 4) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente; 5) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos”.
Logo, o legislador vincula, de modo indissociável, poluição e degradação
ambiental, ao salientar expressamente que poluição resulta da degradação, que
tipifica pelo resultado danoso.
Nas palavras de Édis Milaré: “dano ambiental é lesão aos recursos
ambientais, com conseqüente degradação - alteração adversa ou in pejus - do
equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”.
O conceito de meio ambiente é cultural. É ação criativa do ser humano que
vai determinar aquilo que deve e não deve ser entendido com meio ambiente. A
grande dificuldade do temos está em que a ideologia liberal sempre buscou
acentuar a dicotomia entre o ser humano e natureza, dicotomia esta necessária
para que o modo de produção capitalista pudesse justificar a apropriação de
matéria-prima, a transformação das realidades naturais em proveito da indústria e
da acumulação de capitais, François Ewald, com felicidade, afirma que:

-4-
“A filosofia liberal não pensa a relação do homem com a natureza como uma
relação de adequação. Ao contrário, nela o homem e a natureza são radicalmente
separados. O homem como um tipo soberano dele mesmo, causa última que não
pode confessar-se ela mesma causada”.
O meio ambiente é um bem jurídico tutelado autônomo e unitário, que não
se confunde com os diversos bens jurídicos que o integram. O bem jurídico meio
ambiente não é simples somatório de flora e fauna, de recursos hídricos e recursos
minerais. O bem jurídico meio ambiente resulta da supressão de todos os
componentes que, isolamento, podem ser identificados, tais com florestas, animais,
ar etc. Este conjunto de bens adquire uma particularidade jurídica que é derivada
da própria integração ecológica de seus componentes. Tal qual ocorre com o
conceito de ecossistema, que não pode ser compreendido como se fosse um
simples aglomerado de seus componentes, o bem jurídico não pode ser
decomposto, sob pena de desaparecer do mundo jurídico.
Meio ambiente é, portanto, uma res communes omnium. Uma coisa comum
a todos - bem de uso comum do povo, podendo ser desfrutada por toda e
qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais e, ainda, um bem essencial à
qualidade de vida - que pode ser composta por bens pertencentes ao domínio
público ou ao domínio privado. A propriedade do bem jurídico meio ambiente é
sempre de todos da sociedade. Por outro lado, o dever jurídico de proteger o meio
ambiente é toda coletividade e pode ser exercida por um cidadão, pelas
associações, pelo Ministério Público, ou pelo próprio Estado contra o patrimônio
dos bens ambientais que sejam propriedade de alguém.
Acrescente-se ainda que, da somatória dos dois aspectos -bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida - que se estrutura
constitucionalmente o bem ambiental.

5. APURAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


Até hoje, não existe um critério para a fixação do que efetivamente constitui
o dano ambiental e como este deve ser reparado. a primeira hipótese a ser
considerada é a de repristinação do ambiente agredido em seu “status quo ante”.
Todos nós sabemos que não é simples a reconstrução de um local degradado.
Como proceder? a extinção ou morte de um animal ou de uma planta pode
ser recompensada?
Estas questões estão longe de obter uma resposta consensual ou simples.
A adoção de valor arbitrado para significar a espécie destruída tem a desvantagem
de estabelecer um macabro sistema pelo qual aqueles que possuem recursos
financeiros poderão pagar uma soma para recompensar a área ou espécie
prejudicada. Por outro lado, este mecanismo tem com lado positivo a fixação de
critério objetivo a ser imposto ao poluidor.
O critério da compensação vem sendo adotado como forma de
recuperação de uma área degradada que deve corresponder a recuperação de
outra.
Outros critérios devem reger a atividade ambiental, sobretudo, os
preventivos. A prevenção, contudo implica no ataque a diversos interesses
econômicos bastante fortes, sejam daqueles que pretendam promover a
degradação ambiental, ou daqueles que atuam na própria indústria da
“recuperação” do meio ambiente (venda de equipamentos antipoluição etc).
Porém, observe-se que, grande parte dos instrumentos administrativos e
gerenciais da política, do planejamento e da gestão ambiental possui caráter
preventivo e são importantes mecanismos para o desenvolvimento sustentável,

-5-
estando em consonância com o Princípio da Abordagem Preventiva/Princípio de
Prevenção e da Precaução.
O Poder Público e a sociedade podem administrar os recursos ambientais
através da adoção de instrumentos que propiciem: a preservação, a proteção, a
conservação, o controle, a melhoria, e a recuperação da qualidade ambiental, e
assegurar as condições propícias para a transição na direção do desenvolvimento
sustentável.
Nota: Da responsabilidade jurídica de prevenir decorrem obrigações de fazer
ou não fazer.

6. REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


O artigo 225, § 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil
determina que: as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano.
O dispositivo constitucional aponta a existência de duas modalidades de
imposições:
a) sanções penais administrativas e
b) obrigações de reparar o dano.
As sanções penais e administrativas parecem ter a características de um
castigo que é imposto ao poluidor. Já a reparação do dano reveste-se de um
caráter diverso, pois, através dela busca-se uma recomposição daquilo que foi
destruído, quando possível.
A grande dificuldade, evidentemente, não está nas sanções penais e
administrativas, mas na obrigação de reparar o dano. Em que consiste tal
obrigação? A prática judicial brasileira ainda não nos oferece uma resposta segura.
Tem havido uma certa divergência entre as diversas Cortes da Justiça existente no
país. A decisão que parece a mais importante, pois emanada do Superior Tribunal
de Justiça, é aquela que consagra a autonomia do bem jurídico meio ambiente.
Vejamos a ementa do STJ:
Ecologia. Trânsito. emissão abusiva de fumaça, por veículo automotor. O
fato como acontecimento da experiência jurídica, enseja, eventualmente,
repercussão plural no Direito Transitar, com veículos, produzindo fumaça em níveis
proibidos, interessa tanto ao Direito Ecológico como ao Direito de Circulação Os
respectivos objetos são diferentes. O primeiro busca conservar as condições
razoáveis mínimas do ambiente. O segundo policia as condições de uso e
condicionamento de veículos, dessa forma, ainda que, fisicamente, uno o fato,
juridicamente há pluralidade de ilícitos, daí a legitimidade de o Departamento de
Águas e Energia Elétrica, com o Detran para aplicar sanções.
O Tribunal acertadamente decidiu baseado em uma concepção aberta:
condições razoáveis mínimas do ambiente, cujos contornos irão sendo
desenvolvido na razão direta das necessidades concretamente levadas à
apreciação das diversas Cortes de Justiça. A decisão do STJ reveste-se de uma
importância transcendental, pois se coloca em oposição a uma tendência que se
verifica nas Cortes inferiores de privilegiar aspectos econômicos em detrimento dos
aspectos ambientais, como se pode servir de exemplo a seguinte passagem:
“Tem-se de admitir a subsistência de um resíduo, inalienável, não só na
indústria, mas, afinal de contas, num sem número de atividades que o homem, no
atual estágio de evolução técnica, não parece disposto a prescindir: vejamos o

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exemplo óbvio do tráfego de veículos automotores (Tribunal de Justiça do RJ,
Apelação Cível 1171/89, 5º Câmara Cível)”.
Vale observar que foi exatamente no exemplo óbvio do tráfego de veículos
automotores que o STJ consolidou a autonomia do ilícito ambiental em relação ao
ilícito administrativo.
A grande dificuldade para tipificar o ilícito ambiental é que seus fundamentos
estão, também, em uma esfera nova e que atormenta a mentalidade conservadora.
Existe uma grande dificuldade para que se defina o agente poluidor e degradador,
ainda que os termos da lei brasileira, sejam extremamente claros. Esta grave
questão mereceu apreciação do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo na
qual a corte, com acerto decidiu (5ª C. Cível , ap. 96536-1) que aquele que
proporciona, mesmo que indiretamente, degradação ambiental é poluidor.
Ademais nunca é ocioso repensar que a lei e a própria Constituição
estabelecem que a obrigação de repor os danos independe das sanções
administrativas e penais.
Em outras palavras, aquele que tenha sido condenado por crime contra o
meio ambiente não está isento da obrigação de reparar o dano causado como,
também, não estará isento de pena se , após ter causado o dano ambiental,
resolver repara-lo. A sanção administrativa tem uma função eminentemente
repressiva e pedagógica. É exercida para que o poluidor e a sociedade saibam que
não é admissível a prática de ilícitos ambientais.

7. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
A responsabilidade de causadores de danos ambientais é prevista na
própria lei ambiental brasileira. O artigo 225, em seu § 3º, determina que :
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos”.
A responsabilidade por danos e lesões ao meio ambiente é bastante ampla.
E os responsáveis podem ser: pessoas físicas ou jurídicas.
No caso brasileiro, a responsabilidade é objetiva e cronologicamente,
antecede à própria Constituição de 1988. O sistema vigente no Brasil foi introduzido
no nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 6.938 de 31.08.81, a Política Nacional
do Meio Ambiente, que em seu artigo 14, § 1º determina:
“Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo é o poluidor
obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
ministério Público da União e dos Estados têm legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.”.
No âmbito internacional, a Declaração do Rio, em seu princípio 13,
estabelece que:
“Cada Estado deverá estabelecer sua legislação nacional no tocante a
responsabilidades e indenizações de vítimas da poluição e de outras formas de
agressão ao meio ambiente. Além disso, os Estados deverão cooperar na busca de
uma forma expedita e mais determinada de desenvolver a legislação internacional
adicional referente a responsabilidades e indenizações por efeitos adversos de
dano ambiental causado por atividades dentro de sua jurisdição ou controle a áreas
fora de sua jurisdição.”.

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OBS.: A Declaração do Rio - resultou da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92.Vários documentos foram
assinados com abrangência internacional, durante o referido evento, e
posteriormente ratificados, entre eles: a convenção de Mundanças Climáticas e a
Convenção de Biodiversidade. Existe um compromisso quanto aos ditames
recomendados na Delcaração do Rio, nos Princípios das Florestas e na Agenda 21.

8. FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE
A primeira idéia que deve ser associada à responsabilidade é a da
compensação pelo dano sofrido.
José Cretella Jr. aponta que a responsabilidade indica a cognata resposta,
ambos alicerçados na raiz “spond” do verbo latino “respondere” que significa
responder.
O responsável pelo dano tem o dever de repará-lo o mais amplamente
possível. Reparar o dano significa a busca de um determinado valor que se passa
ter como “equivalente” ao dano causado por aquele que praticou o ato ilícito. A
doutrina jurídica tem reconhecido que: ... Mesmo uma pequena inadvertência ou
distração obriga o agente a reparar o dano sofrido pela vítima.
A reparação visa a fazer com que o lesado, através do recebimento de uma
indenização, seja recolocado no “status qua anti” como se a lesão não houvesse
ocorrido. Esta é uma concepção teórica, pois, na maior parte das vezes, é
impossível a reconstrução da realidade anterior: e.g., morte de uma pessoa,
destruição de uma obra de valor histórico, artístico ou paisagístico, extinção de uma
espécie animal etc. existem bens que são únicos e nessa qualidade são
insubstituíveis. Um pai é único para seu filho, assim como um filho é único para seu
pai. Não há indenização capaz de substituí-los. Em termos de reparação de
danos ambientais, não raras as vezes, questões similares colocam-se com
extrema dramaticidade.
O princípio da troca equivalente é o princípio fundamental das relações
jurídicas que se dão entre os diversos sujeitos de Direito. No próprio direito penal, o
princípio de que falamos é essencial. A fixação de penas predeterminadas para os
crimes implica no reconhecimento de uma determinada equivalência entre um ato
nocivo praticado pelo criminoso e o castigo que lhe é imposto pela sociedade: a
pena. A responsabilidade civil fundada na culpa e, igualmente, um instrumento de
equivalências.
A culpa é uma violação de um dever jurídico. Tradicionalmente, pode ser
dividido em contratual e extracontratual. A culpa contratual surge da violação de um
dever estabelecido em um contrato. A sua origem, portanto, é a inobservância de
uma regra estabelecida pela própria vontade das partes. A culpa extracontratual ou
aquiliana funda-se na inobservância de um dever legal preexistente a qualquer ato
privado, manifestação de vontade das partes diretamente envolvida.
Para que a culpa possa ser imputada a alguém, é necessário que o seu ato,
o ato danoso a outrem, o ato lesivo, tenha sido praticado sem que tenham sido
tomados os necessários cuidados para evitá-los, ou seja, os cuidados
razoavelmente exigíveis de uma pessoa.

9. TARIFAÇÃO DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL


O reconhecimento do risco como fundamento da culpa é a negação da
teoria do acidente, do acaso do álea tão falada pelos especialistas. A partir desse

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momento em que a legislação reconhece o risco como fundamento da indenização
está, concomitantemente reconhecendo a existência de um previsibilidade na
ocorrência de sinistros, uma inevitabilidade dos mesmos, de uma limitação nos
valores indenizatórios. Uma responsabilidade dita tarifada. Carlos Alberto Bittar
aponta, com prioridade, o fato de tais limitações destinam-se a conciliar a
necessidade de indenização com a viabilização econômica das atividades
empresarias (...). A conciliação da qual fala o ilustre professo é sempre feita em
favor das atividades empresarias e contra interesses dos cidadãos.
No direito brasileiro, existem diversas leis que adotaram critérios para o
estabelecimento de mecanismos de tarifação da responsabilidade. A motivação é
evidentemente, a mesma que se fez presente em outros setores do Direito positivo:
o elevado investimento, o elevado nível de risco da atividade, e igualmente, a
necessidade de que o empreendedor tem de prever o montante aproximado de seu
risco. Dentro as leis que prevêem a tarifação, dos valores indenizatórios, as
principais são:
a) Lei nº 6367, de 19 de dezembro de 1976, e a Lei 6915, de 19 de
dezembro de 1974, que tratam de acidentes de trabalho urbano e
rural.
b) Lei nº 2681/12 sobre acidentes acidentes ferroviários; Decreto-lei
nº 32, de 18 de novembro de 1966 (Código Brasileiro do ar), Decreto-
lei nº 277, de 28 de feveriero de 1966.

10. RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL


Nos crimes ambientais o bem jurídico precipuamente protegido é o meio
ambiental em sua dimensão global. Sim, porque o meio ambiente elevado à
categoria de bem jurídico essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem.
O meio ambiente é um conjunto de elementos naturais, culturais e artificiais,
com o seguinte detalhamento: meio ambiente natural é constituído pelo solo, a
água, o ar atmosférico, a flora, a fauna, enfim, a biosfera; meio ambiente cultural é
integrado pelo patrimônio artístico, histórico, turístico, paisagístico, arqueológico
etc; e o meio ambiente artificial é formado pelo espaço urbano construído: ruas,
praças, áreas verdes, enfim, todos os logradouros, assentamentos e reflexos
urbanísticos, caracterizados como tal.
Todos esses elementos estão protegidos pela Lei nº 9.605/98 que dispõe
sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas
ao meio ambiente.
A tipicidade na maioria das infrações penais ambientais se dá porque o
agente atuou sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as
determinações legais. Importante ressaltar que aquele é punido não por ter
praticado o fato ou exercido tal ou qual atividade considerada danosa ao meio
ambiente; mas sim por não ter obtido a autorização ou licença para tal ou, ainda,
mesmo quando devidamente habilitado, com a autorização ou licença, por não ter
observado suas condicionantes e/ou determinações legais ou regulamentares.
Na formulação dos tipos penais não pode o legislador perder a perspectiva
eminentemente preventiva que alicerça o Direito Ambiental. As disciplinas jurídicas
que cuidam da gestão ambiental apresentam em comum um desafio: abranger
também os riscos e não somente os danos, pois o prejuízo ambiental é,
comumente, de difícil identificação.
O que se verifica que a tendência da moderna ciência penal em conceber o
crime ecológico, cada vez mais, como crime de perigo e este aperfeiçoa-se no

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instante que o bem tutelado estiver numa condição objetiva de possível ou provável
lesão.
Até a edição da Lei 9.605/98, basicamente puniam-se só os crimes
ambientais dolosos, exceto , ao que se sabe, apenas nas Leis 7.082/89
(Agrotóxicos), e 8.974/95 (Biossegurança) foram previstas algumas modalidades
culposas. Assim, fatos gravíssimos, como, v.g., os constantes derramamentos de
óleo no mar, provocados por embarcações mal-conservadas, permanecessem
incólumes, visto que não se conseguia provar a intenção do armador
Visto isso, o legislador ao formular os tipos penais passíveis de consumação
também sob a modalidade culposa, avançou muito, cassando, em boa medida, a
impunidade que até então era a regra.

10.1 Sujeito ativo


O sujeito ativo, nos crimes ambientais, pode ser qualquer pessoa, física ou
jurídica, de acordo com art. 3º, parágrafo único, da Lei 9.605/98. A sua
culpabilidade será aferida na medida de sua responsabilidade, ou seja, através de
conduta dolosa ou culposa.
Da responsabilidade penal da pessoa jurídica.
O legislador erigiu a pessoa jurídica à condição de sujeito ativo da relação
processual penal, superando o caráter meramente individual da responsabilidade
penal até então vigente, e cumprindo promessa do artigo 225, § 3º., da Constituição
Federal, que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente.
Nos casos em que a infração seja cometida por decisão do seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício de sua entidade, aqui o legislador visa punir o criminoso certo, a pessoa
jurídica que, quase sempre, busca o lucro como finalidade prepícua, e para a qual
pouco interessam os prejuízo a curto e longo prazo causados à coletividade, bem
como importa que a saúde da população venha a sofrer com a poluição, e não
apenas o mais humilde, como, por exemplo, o quitandeiro da esquina . Geralmente
são os grandes grupos econômicos, os imponentes conglomerados industriais e por
vezes - por que não dizer - o próprio Estado, tido este como dos maiores poluidores
por decorrência de serviços e obras públicas sem controle.
A empresa em si não comete crime, mas conforme o citado art 3º, da Lei
9.605/98, não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou
partícipes do mesmo fato.
Vale ressaltar a relevância da omissão, quando no art. 2º da referida Lei
estabelece a responsabilidade do diretor, administrador, membro de conselho, e de
órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica que,
sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando
podia agir para evitá-la. Assim, tendo referidas pessoas o dever jurídico de agir
para evitar danos ao meio ambiente, tornam-se, pela omissão, partícipes do fato
criminoso.
Da desconsideração da pessoa jurídica
Esta possibilidade de desconsiderar a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente.
A Lei 9.605/98, em seu art. 4º possibilita, uma vez, diante do abuso de
direito e da fraude no uso da personalidade jurídica, a desconsideração das
entidades jurídicas para alcançar as pessoas e bens que dentro dela se escondem
para fins ilícitos ou abusivos (disregard doctrine)

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Desta forma, desfaz-se o mito da intangibilidade dessa ficção conhecida
como pessoa jurídica sempre que for usada para acobertar a fraude à lei ou o
abuso das formas jurídicas.

10.2 Sujeito passivo


O sujeito passivo do crime é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado
pela conduta delituosa. Nada impede que, em um crime, dois ou mais sujeitos
passivos existam: desde que tenham sido lesados ou ameaçados em seus bens
jurídicos - são vítimas do crime.
Nos crimes ambientais o sujeito passivo direto será sempre a coletividade,
por ser bem um jurídico tutelado considerado de uso comum do povo, na forma do
artigo 225 da Constituição Federal.
Sanções penais
As sanções penais aplicadas aos ilícitos ambientais acompanham a moldura
do Direito Penal: penas privativas de liberdade, restritivas de direito e multa.
Porém, a Lei tem dado preferência, em face dos crimes ambientais, pelas penas
restritivas de direitos e pecuniárias, não só apropriadas tanto às pessoas físicas
como às pessoas jurídicas, mas porque a pena de prisão, em razão do perfil
diferenciado do delinqüente ambiental, tem-se mostrado inadequado, por impor à
sociedade um duplo castigo: suportar o dano e pagar a conta do presídio.
As penas aplicáveis às pessoas físicas compreendem: pena privativa de
liberdade, pena restritiva de direitos e multa
a) As penas privativas de liberdade são as tradicionais reclusão e
detenção, para crimes, e prisão simples, para as contravenções;
b) As penas restritivas de direitos substituem as privativas de liberdade
não inferior (até) 4 anos (art. 7º, I, Lei 9.605/98). As penas privativas de
direitos, que terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída, compreendem:
b.1) prestação de serviços à comunidade, que “consiste na
atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins
públicos e unidades de conservação, e , no caso de dano da coisa
particular, pública ou tombada, na restauração desta se possível” (arts.
8º, I e 9º);
b.2) interdição temporária de direitos, que importa na “proibição de
o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos
fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de
licitações, pelo prazo de 5 anos, no caso de crimes dolosos, e de três
anos, nos crimes culposos” (arts. 8º, III, e 10);
b.3) suspensão parcial ou total de atividades, aplicável “quando
estas não estiveram obedecendo às prescrições legais” (arts. 8º, II e
11);
b.4) prestação pecuniária, consiste “ no pagamento em dinheiro
Pa vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de
importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem
superior a trezentos e sessenta salários mínimos” (arts. 8º, IV, e 12);
b.5) recolhimento domiciliar, que se baseia “na autodisciplina e
senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância,
trabalhar, freqüentar curso ou exercer atividade autorizada,
permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou

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em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme
estabelecido na sentença condenatória” (arts. 8º, V, e 13).
Obs.: Anote-se, por relevante, a possível conversão de pena restritiva de
direitos em privativa de liberdade, em caso de descumprimento injustificado da
restrinção imposta ou de superveniente condenação à pena privativa de liberdade,
por outro crime.
c) A pena de multa significa aplicar sanção pecuniária a quem comete
crime e será calculada, segundo os critérios do Código Penal; “Na fixação da
pena de multa o juiz deve atender, principalmente, a situação econômica do
réu” (art. 60, caput). Porém, se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no
valor máximo, poderá ser aumentada de até três vezes, tendo em vista o
valor da vantagem econômica auferida.
Obs.: Feitos os cálculos, verifica-se que o valor máximo da sanção prevista
na lei penal ambiental não ultrapassa, hoje, R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ao
passo que se comparada com a congênere administrativa, que pode ultrapassar à
impressionante cifra de R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais).
Quanto à aplicação de penas às pessoas jurídica são: multa, restritivas de
direitos e prestação de serviços à comunidade.
a) Penas restritivas de direitos da pessoa jurídicas:
a.1) suspensão parcial ou total de atividades, quando estas não
estiveram obedecendo às disposições legais ou regulamentares,
relativas ao meio ambiente (art.22, I e § 1º);
a.2) interdição temporária de estabelecimento, obra ou
atividade, aplicável quando estes estiverem funcionando sem a devida
autorização, o em desacordo com a concedida, ou com violação de
disposição legal ou regulamentar (22, I, § 3º);
a.3) proibição de contratar com o Poder Público, bem como
dele obter subsídios, subvenções ou doações, pelo prazo de até 10
anos, em caso de descumprimento de normas, critérios e padrões
ambientais (art. 22, III e §3º);
a.4) prestação de serviços à comunidade, consistente em:
custeio de programas de projetos ambientais; execução de obras de
recuperação de áreas degradadas; manutenção de espaços públicos;
contribuições e entidades ambientais ou culturais públicas (art.23).
Obs.: O legislador , como forma de punir determinada pessoa (seja ela física
ou jurídica) em face de um crime ambiental cometido, priva os destinatários do
comando legal de forma integral ou parcial do controle de um bem através da
decretação da liquidação forçada, verdadeira pena de morte, aplicação da restrição-
perda do bem.
Note-se, também, que o legislador, além de estabelecer as penas restritivas
de direitos e pecuniárias, estabeleceu circunstâncias atenuantes (art. 14) e
agravantes da pena (art.15), levou em conta as características do direito ambiental
em vigor, deu enfoque especial para a fixação de critérios adaptados à realidade
brasileira, (art.14, I, e II) no que se refere às circunstâncias que atenuam a pena
bem como à clara opção antropocêntrica no que diz respeito às circunstâncias que
agravam a pena (art. 15,II,c,f,j etc).

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10.3 Causas excludentes de ilicitude:
Prevê o art. 37 da Lei 9.605/98 hipóteses de excludentes de ilicitude, ou
seja, descriminaliza o abate de animal para saciar a fome do agente ou de sua
família; para proteger lavouras ou rebanhos ou quando for aquele “nocivo”.
No que diz respeito a “caça famélica”, evidencia-se genericamente no art.
23, I, do Código Penal como espécie de estado de necessidade, já as duas outras
hipóteses estão contempladas no art. 3º, § 2º, da Lei 5.197/67, que dispõe sobre a
proteção à fauna.

11. COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL


No Brasil, grande parte dos instrumentos da política, do planejamento e da
gestão ambiental encontram-se regulamentados pela legislação ambiental, além de
regulamentos, leis, decretos, e legislações esparsas, encontram-se também Na
Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas e Planos
Diretores dos Municípios.
Como averba Celso Antonio P. Fiorello, “Na repartição de competências
legislativas aplica-se o princípio da predominância dos interesses, de modo que à
União caberão as matérias de interesse nacional, ao Estados, as de interesse
regional, enquanto aos Municípios tocarão as competências legislativas de
interesse local”.
Porém, acrescenta ainda, “(...) em especial no direito ambiental, questões
poderão existir não só de interesse local, mas também regional, ou até mesmo,
nacional. Fácil visualizarmos essa situação, ao mencionarmos problemas como os
da Amazônia, o polígono das secas, entre alguns outros”.
A Constituição Federal estabeleceu a competência de todos os entes
federativos - União, Estados, Distrito Federal e Municípios - para legislar sobre a
matéria ambiental e atuar na proteção e defesa do meio ambiente, vide os arts. 23,
24 e 30 da Const. Federal.
As competências podem ser divididas em material e legislativa, sendo que
esta subdivide-se em: a) exclusiva é a atribuída a um ente com exclusão dos
demais de forma indelegável, vide art. 25, §§ 1º e 2º da CF; b) privativa é a
enumerada como própria de uma entidade, contudo passível de delegaçao e
suplementação da competência., vide art. 22, parágrafo único, CF; c) concorrente
se caracteriza pela possibilidade de União, Estados e Distrito Federal disporem
sobre o mesmo assunto ou matéria, porém à União caberá legislar sobre normas
gerais, vide art. 24, CF; d) suplementar é semelhante a concorrente, que atribui
competência a Estados, Distrito Federal e Municípios para legislarem sobre normas
que suplementem o conteúdo de princípios e normas gerais ou que supram a
ausência ou omissão destas, vide art. 24, § 2º, CF e aquela, por sua vez, subdivide-
se em: a) exclusiva é reservada com exclusividade a uma entidade excluindo as
demais, vide art. 21 da CF; b) comum esta é atribuída a todos os entes da
Federação, que de modo equânime, exercem, sem excluir a do outro, a
competência que, logo, é cumulativa, vide art. 23 da CF.

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12. MANDADO DE SEGURANÇA
Art. 5º, inc. LXX - Lei nº 1533/51 - Lei nº 4.348/64

12.1 Conceito
O mandado de segurança foi previsto, pela primeira vez, na Constituição de
1934, desapareceu na Constituição de 1937 e voltou na Constituição de 1946.
O art. 5, inciso LXX, da Constituição Federal de 1988 criou o mandado de
segurança coletivo, tratando-se de grande novidade no âmbito de proteção aos
direitos e garantias fundamentais e que poderá ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional e organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos
um ano, em defesa dos interesses de seus membros e associados.

12.2 Pressupostos
Mandado de segurança coletivo terá por objeto a defesa dos mesmos
direitos que podem ser objeto do mandado de segurança individual; porém
direcionado à defesa dos interesses coletivos em sentido amplo, englobando os
direitos coletivos em sentido estrito, os interesses individuais homogêneos, que são
espécie dos interesses coletivos, eis que os titulares são plenamente determináveis
e os interesses difusos.
É ação civil de rito sumaríssimo pela qual qualquer pessoa (mandado de
segurança individual) ou partido político e organização sindical, entidade de classe
ou associação (mandado de segurança coletivo) pode provocar o controle
jurisdicional quando sofrer lesão a direito líquido e certo; não amparado por habeas
corpus nem habeas data, em decorrência de ato de autoridade, praticado com
ilegalidade ou abuso de poder.
Além dos pressupostos processuais e das condições da ação em qualquer
procedimento, são pressupostos específicos do mandado de segurança:
1 - ato de autoridade;
2 - ilegalidade ou abuso de poder;
3 - lesão ou ameaça de lesão;
4 - direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data.
Quanto ao primeiro requisito, considera-se ato de autoridade todo aquele
que for praticado por pessoa investida de uma parcela de poder público. Esse ato
pode emanar do Estado, por meio de seus agentes e órgãos ou de pessoas
jurídicas que exerçam funções delegadas. Abrange também atos emanados de
particulares que ajam por delegação do poder público.
Com relação às entidades particulares, cabe mandado de segurança
quando atuarem por delegação e nos limites da delegação; quando exerçam
atividades que nada têm a ver com essa delegação, não cabe o mandado de
segurança
Em caso de omissão do poder público, autoridade coatora é aquela que a
lei indica como competente para praticar o ato.
Embora a regra seja a de que a autoridade coatora, mesmo no caso de ato
comissivo, é a que dispõe de competência para corrigir o ato ilegal, na realidade
nem sempre isso ocorre, pois, no mandado de segurança, o legitimado passivo é o
“responsável pela ilegalidade ou abuso de poder” Se o ato foi praticado por

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determinada autoridade, ainda que incompetente, contra ela cabe a impetração, já
que é a responsável pela ilegalidade, cabendo-lhe a obrigação do desfazimento do
ato se o mandado for concedido.
Outro pressuposto do mandado de segurança é a ilegalidade ou abuso de
poder. Bastaria a menção à ilegalidade, que o abuso de poder já estaria
compreendido no vocábulo.
O terceiro pressuposto é a lesão ou ameaça de lesão, o que permite inferir
que o mandado de segurança pode ser repressivo, quando a lesão já se
concretizou, ou preventivo quando haja apenas ameaça de lesão.
Importante ressaltar que, o direito, além de líquido e certo, deve estar sendo
lesado ou ameaçado de lesão por atos executórios e aptos a produzir efeitos, sem
que se configure o interesse de agir.
Finalmente, o último requisito é o que concerne ao direito líquido e certo.
Originariamente, falava-se em direito certo e incontestável, o que levou ao
entendimento de que a medida só era cabível quando a norma legal tivesse clareza
suficiente que dispensasse maior trabalho de interpretação.
Nos moldes estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei
6.938/81, constatamos que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um
direito líquido e certo. Todavia, ao exercemos o direito de ação de mandado de
segurança ambiental, a realização desses dois requisitos - liquidez e certeza -
estará adstrita à demonstração de que a violação do direito impede o desfrute de
um meio ambiente sadio e equilibrado.
Hoje está pacífico o entendimento de que a certeza referem-se aos fatos.
Daí o conceito de direito líquido e certo com o direito comprovado de plano, ou
seja, o direito comprovado por documentação inequívoca juntamente com a petição
inicial.

12.3 Legitimação ativa e passiva


Consoante artigo 2º da Lei nº 5.682, de 21-7-71, modificada pela Lei nº
6.767, de 20-12-79, “os partidos políticos, pessoas jurídicas de direito público
interno, destinam-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a
autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos humanos
fundamentais, definidos na Constituição”.
Já com relação ao sindicato, entidade de classe ou associação, referidas
na alínea “b” do inciso LXX, do art. 5º, da CF/88, o interesse que eles podem
defender é mais restrito, porque há de se referir à classe ou categoria de pessoas
que congregam, conforme decorre da redação do texto constitucional.
O sindicato só pode agir no interesse da categoria profissional que o
compõe; a entidade de classe só pode defender interesses de seus associados ,
relacionados com os objetivos sociais. Com relação à associação há a exigência de
que esteja constituída legalmente há pelo menos um ano; o objetivo é claro: quer-
se evitar a impetração de mandados de segurança coletivos por entidades
constituídas aleatória e transitoriamente apenas com esse objetivo.
Em relação à legitimidade passiva -impetrado- é a pessoa jurídica de direito
público ou de direito privado que esteja no exercício de atribuições do poder
público. É a autoridade coatora que pratica ou ordena concreta e especificamente a
execução ou inexecução do ato impugnado, respondendo pelas conseqüências
administrativas e detenha competência para corrigir a ilegalidade.
Disso surge uma acentuada restrição à utilização do mandado de segurança
na tutela do meio ambiente, porque o conceito de poluidor, que é trazido pela Lei
6.938/81, é muito amplo do que aquele que pode ser encontrado na norma

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constitucional, de modo que essa dissonância acaba por torná-lo um instrumento de
diminuta operatividade quanto à defesa do meio ambiente. Além disso, a exigência
de prova pré-constituída da liquidez e certeza do fato que se afirma pode inviabilizar
a utilização do mandamus, na medida em que, não poucas vezes, exigir-se-á
realização de prova pericial para a efetiva demonstração do dano ambiental.

12.4 Considerações quanto ao processo


O rito é sumaríssimo, compreendendo, basicamente: despacho da inicial,
com ou sem concessão de liminar e notificação à autoridade coatora para prestar
informações no prazo de 10 dias; prestadas ou não as informações, será ouvido o
Ministério Público no prazo de 5 dias e, após, o juiz ou Tribunal proferirá a decisão,
no prazo de 5 dias.
O objeto do mandado de segurança é anulação de ato ilegal ofensivo de
direito líquido e certo ou a prática de ato omitido pela autoridade competente.
O prazo para a impetração do mandado de segurança é de 120 (cento e
vinte) dias, a contar da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato
a ser impugnado. Este prazo é decadencial do direito à impetração, e, como tal, não
se suspende nem se interrompe desde que iniciado.
Quanto à concessão da liminar em mandado de segurança encontra
assento no próprio texto constitucional. Assim, presentes os requisitos necessários
à liminar, os seus efeitos imediatos e imperativos não podem ser obstados.
A Lei nº 1.533/51 prevê a concessão de liminar no mandado de segurança,
o que deverá ser feito pelo juiz ao despachar a inicial (art.7º, II); são requisitos para
sua concessão: que seja relevante o fundamento e do ato impugnado possa
resultar a ineficácia da medida caso seja deferida.
De acordo com o artigo 1º. “b”, da Lei nº 4.348/64 que, dispõe sobre normas
processuais relativas a mandado de segurança, a medida liminar tem eficácia pelo
prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da respectiva concessão, prorrogável
por 30 (trinta) dias, quando provadamente o acúmulo de processos pendentes de
julgamento justificar a prorrogação. Se o julgamento ocorrer antes de findo o prazo,
extingue-se a liminar.
A competência para julgar os mandados de segurança é definida, em razão
da autoridade que praticou o ato e da sede funcional, pela Constituição Federal

13. AÇÃO POPULAR


Lei nº 4.717/65

13.1 Conceito
A ação popular já existia no direito romano, com características muito
semelhantes com ao instituto previsto no direito positivo brasileiro, pois, por meio da
actio popularis, qualquer pessoa do povo (populus) podia dela fazer uso para a
defesa de interesses da coletividade.
No direito brasileiro ela foi prevista, pela primeira vez, na Constituição de
1934, abolida na de 1937 e instituída novamente na de 1946, embora em nenhuma
delas aparecesse a expressão ação popular. Apenas com a Lei nº 4.717/65, ainda
em vigor, utilizou-se a expressão no direito positivo O art. 5º , LXXIII,
da Constituição Federal proclama que qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade

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de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural.
“ é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter
a invalidação de atos ou contratos administrativos - ou a estes equiparados - ilegais
e lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas autarquias,
entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiros
públicos”. No conceito de Hely L Meirelles, Mandado de segurança, Op. cit. p. 87.

13.2 Pressupostos
Além das condições da ação em geral - o interesse de agir, possibilidade
jurídica e legitimação para agir - são pressupostos da ação popular:
1 - qualidade de cidadão no sujeito ativo;
2 - ilegalidade ou imoralidade praticada pelo poder público ou entidade de
que ele participe;
3 - lesão ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
CIDADÃO > é o brasileiro nato ou naturalizado, que está no gozo dos
direitos políticos, ou seja, dos direitos de votar e ser votado. A rigor, basta a
qualidade de eleitor, uma vez que o artigo 1º, § 3º, da Lei nº 4.717/65 exige que a
prova da cidadania, para ingresso em juízo, seja feita com o título eleitoral, ou com
o documento que a ele corresponde.
Inclusive aquele entre 16 e 21 anos, e ainda, o português equiparado, no
gozo de seus direitos políticos, possuem legitimação constitucional para propositura
da ação popular. A comprovação, quanto ao português equiparado, da cidadania se
dará através do certificado de equiparação e gozo dos direitos civis e políticos e
título de eleitor.
Ressalte-se que, no caso do cidadão menor de 21 anos, por tratar-se de um
direito político, tal qual o direito de voto, não há necessidade de assistência.
A legitimação do cidadão é ampla, tendo o direito de ajuizar a ação popular
mesmo que o litígio se verifique em comarca onde ele não possua domicílio
eleitoral, sendo irrelevante que o cidadão pertença, ou não, à comunidade a que
diga respeito o litígio, pois esse pressuposto não está na lei e nem se assenta em
razoáveis fundamentos.
Quanto ao segundo pressuposto da ação, ilegalidade ou imoralidade,
muito se tem discutido, quer quanto à exigência de legalidade como causa de pedir,
ao lado da lesividade, quer quanto à possibilidade da simples imoralidade constituir-
se em fundamento da ação.
A norma do art. 37, caput, da Constituição Federal, inclui a moralidade como
um dos princípios a que a Administração Pública está sujeita. Torna-se-ia letra
morta o dispositivo se a prática de ato imoral não gerasse a nulidade do ato
administrativo. Além disso, o próprio dispositivo concernente à ação popular permite
concluir que a imoralidade se constitui em fundamento autônomo para a propositura
da ação popular, independentemente de demonstração de ilegalidade, ao permitir
que ela tenha por objeto anular ato lesivo à moralidade administrativa.
O terceiro pressuposto é a lesão ao patrimônio público, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Abrange, os termos do artigo 1º da Lei 4.717/65, o patrimônio da União,
Distrito Federal, Estados, Municípios, entidades autárquicas, sociedades de
economia mista, sociedades mútuas de seguro nas quais o Estado participe
majoritária ou minoritariamente .

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Além disso, o artigo 1º,§ 1º, da Lei nº 4.717/65, a redação dada pela Lei nº
6.513/77, considera patrimônio público “os bens e direitos de valor econômico,
artístico, estético, histórico ou turístico”.
Com relação ao uso da ação popular para a proteção do patrimônio público
e para defesa do meio ambiente, há uma superposição de medidas, já que a ação
civil pública serve à mesma finalidade, consoante decorre do artigo 129, II, da
Constituição Federal, e da Lei nº 7.347/85. A diferença básica está na legitimidade
ativa e passiva: na ação popular, o sujeito ativo é o cidadão e passivo a entidade
pública ou privada detentora do patrimônio público tal como definido no artigo da
Lei nº 4.717/65; na ação civil pública, o sujeito ativo é o poder público
(eventualmente associação particular) e, passivo, qualquer pessoa, física ou
jurídica, pública ou privada, que cause lesão ao interesse difuso protegido. Poderá
até ocorrer a hipótese de cabimento das duas ações, quanto ao ato lesivo ao meio
ambiente, de acordo com o conceito de poluidor estabelecido pela Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) for praticado por uma das pessoas definidas no
artigo 1º da Lei nº 4.717/65.

13.3 Posição do Ministério Público


A Lei nº 4.717 atribui várias funções ao Ministério Público na ação popular,
algumas delas obrigatórias e, outras facultativas.
São funções obrigatórias:
1 - acompanhar a ação e apressar a produção da prova (art. 6º, § 4º);
2 - promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem
(art. 6º, § 4º), hipótese em que atuará como autor;
3 - providenciar para que as requisições de documentos e informações
previstas no art. 7º, I, “b”, sejam atendidas dentro dos prazos fixados pelo juiz (art.
7º, § 1º);
4 - promover a execução da sentença condenatória quando o autor não o
fizer; nos termos do art. 6º, “caso decorridos 60 dias de publicação da sentença
condenatória de segunda instância, sem que o autor promova a respectiva
execução, o representante do Ministério Público a promoverá nos 30 dias
seguintes, sob pena de falta grave.

São funções facultativas:


1 - dar continuidade ao processo em caso de desistência ou de absolvição
de instância (extinção do processo, sem julgamento do mérito, por falta de
providências a cargo do autor); é o que decorre do artigo 9º , que dá essa
possibilidade a qualquer cidadão ou ao representante Ministério Público;
2 -recorrer de decisões contrárias ao autor (art. 19º, § 2º), o que também
pode ser feito por qualquer cidadão.
OBS.: O que não pode o Ministério Público, porque está vedado pelo artigo
6º, § 4º, é “assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores”.
Apesar dessa restrição e ressalvadas as hipóteses em que o Ministério
Público atua como autor ou como sucessor (em caso de desistência e absolvição
da instância), pode-se dizer que sua função, na ação popular, é de fiscal da lei,
podendo opinar pela procedência ou improcedência da ação.

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13.4 Anotações quanto ao processo
A ação popular obedecerá ao procedimento ordinário, de acordo com o art.
7º da Lei nº 4.717.
1 - O juiz ao despachar a inicial, determinará a citação de todos os réus, a
qual será feita pessoalmente, ressalvada a possibilidade de citação, por edital, dos
beneficiários, a pedido do autor (art.7º), determinará ainda a intimação do Ministério
Público; decidirá sobre a suspensão liminar, se solicitada; e requisitará os
documentos indicados pelo autor , na inicial, e outros que lhe pareçam necessários,
fixando um prazo de 15 a 30 dias para o atendimento.
A rigor, o documentos devem ser juntados na inicial, pelo autor, que pode
solicitar informações e certidões às entidades públicas , as quais têm o prazo de 15
dias para atender (art. 1º, § 5º), ressalvada a hipótese de sigilo, quando, então, o
juiz requisitará os documentos e o processo correrá em segredo de justiça, que
cessará com o trânsito em julgado da sentença condenatória, apenas em razão de
segurança nacional;
2 - A defesa será feita no prazo de 20 dias, igual para todos os réus,
podendo, ser prorrogado por mais 20 dias a requerimento do interessado, se for
particularmente difícil a produção de prova documental;
3 - Para a instrução do processo são admissíveis todos os tipos de provas;
provas testemunhais e periciais devem ser solicitadas antes do saneamento do
processo, para definir o rito a ser seguido (art. 7º, V); se não requeridas, o juiz dará
vista às partes, por 10 dias, para alegações, sendo-lhe os autos conclusos, para
sentença, 48 horas após a expiração desse prazo; se requeridas, o processo
seguirá o rito ordinário;
4 - A sentença deve ser prolatada na audiência ou no prazo de 15 dias do
recebimento dos autos. A sentença, na ação popular, produz efeitos erga omnes
(contra todos), exceto se tiver sido a ação julgada improcedente por deficiência de
prova, hipótese em que outra ação poderá ser intentada por qualquer cidadão, com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 18);
5 - Com relação aos recursos, cabe apelação, quanto às decisões de
mérito; a decisão denegatória fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, o que
significa que o juiz deverá recorrer de ofício; além disso, dessa decisão podem
recorrer qualquer cidadão e também o Ministério Público, conforme artigo 19 da Lei
4.717/65.

13.5 Observações
A liminar está prevista no art. 5º, § 4º, tendo sido introduzida nesse
dispositivo pela Lei nº 6.513, de 20/12/77. Não há qualquer norma relativa a prazo
ou a recursos cabíveis em caso de concessão ou indeferimento, o que não impede
o agravo de instrumento; como este não tem efeito suspensivo, poderá ser
impetrado mandado de segurança para assegurar esse efeito, desde que se trate
de decisão da qual possa resultar dano irreparável.
A competência define-se em razão da pessoa, conforme o art. 5º da lei; para
esse fim equiparam-se aos da União, Estados, Municípios e Distrito Federal os atos
das pessoas criadas ou mantidas por essas entidades, bem como os atos das
sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por elas
subvencionadas ou em relação às quais tenham interesse patrimonial.
Se houver várias pessoas jurídicas interessadas, prevalece o juízo da
entidade maior.

- 19 -
Com relação as custas judicias, ficou revogado o artigo 10 da Lei nº
4.717/65, que previa o pagamento a final, pois o artigo 5º, LXXIII, da Constituição
Federal isenta o autor de custas e, salvo comprovada má-fé, do ônus da
sucumbência
A prescrição ocorre no prazo de 5 anos, nos termos do artigo 21 da Lei nº
4.717/65.

14. AÇÃO CIVIL PÚBLICA


LEI Nº 7.347/85

A ação civil pública não constitui, a rigor, meio específico de controle da


Administração Pública. Contudo, como ela tem como legitimado passivo todo
aquele que causar dano a algum interesse difuso, poderá eventualmente ser
proposta contra o próprio poder público quando ele for o responsável pelo dano.
Ela foi referida, a nível legislativo, pela primeira vez, na Lei Complementar
Federal nº 40 de 14/12/81 (Lei Orgânica do Ministério Público), que incluiu entre as
funções institucionais do Ministério Público a promoção da ação civil pública.
Encontra-se no artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938, de 31/08/81, que definiu a
política nacional do meio ambiente e concedeu ligitimação ao Ministério Público
para a ação de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente.
Sua disciplina legal só foi feita pela Lei nº 7.347, de 24/07/85, para designar
a ação de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Essa
lei teve alguns dispositivos alterados pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº
8.078. de 11/09/90).
O artigo 129, III, da Constituição de 1988 conclui entre as funções
institucionais do Ministério Público a de “promover o inquérito civil e a ação civil
pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos”. Pelo § 1º do mesmo dispositivo, “legitimação
do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de
terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o dispositivo nesta Constituição e na
lei.
Isto quer dizer que foi ampliado o âmbito dos interesses protegidos por meio
dessa ação, com o emprego da expressão “e de outros interesses difusos e
coletivos”. A enumeração deixou de ser taxativa, como era na Lei nº 7.347, e
passou a ser apenas exemplificativa. O Código de Defesa do Consumidor, no art.
111, introduziu alterações na Lei nº 7.347, para adaptá-la ao art. 129, III, da
Constituição Federal.

14.1 Comparações com Ação Popular e Mandado de


Segurança
Da mesma forma que ação popular e o mandado de segurança coletivo,
ação civil pública foge aos esquemas tradicionais do direito de ação, estruturado
para proteger o direito subjetivo, o direito individual. Nas três hipóteses, o que se
protege são os interesses metaindividuais, os chamados interesses públicos, que
abrangem várias modalidades: o interesse geral, afeto a toda sociedade; o
interesse difuso, pertinente a um grupo de pessoas caracterizadas pela
indeterminação e indivisibilidade; e os interesses coletivos, que dizem respeito a
um grupo de pessoas determinadas ou determináveis.

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14.2 Pressupostos e conceito
Constitui pressuposto da ação civil pública o dano ou ameaça de dano a
interesse difuso ou coletivo.
Com a expressão “interesse difuso ou coletivo”, constante do artigo 129, III,
da Constituição, foram abrangidos os interesses públicos concernentes a grupos
indeterminados de pessoas (interesse difuso) ou a toda a sociedade (interesse
geral): a expressão “interesse coletivo” não está empregada aí, em sentido restrito,
para designar o interesse de uma coletividade de pessoas determinadas, como
ocorre com o mandado de segurança coletivo, mas em sentido amplo como
sinônimo de interesse público ou geral.
Abrange, especialmente, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao
patrimônio histórico ou cultural. O meio ambiente está hoje definido pelo artigo 225
da Constituição com um “bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações”.
A responsabilidade, nesse caso, é objetiva, ou seja, independe da
demonstração de culpa, conforme decorre do artigo 14, § 1º da Lei nº 6.938/81.
Basta demonstrar o nexo da causa e efeito entre a ação ou omissão danosa e a
lesão ao meio ambiente.
A defesa do consumidor é inserida entre os princípios da ordem
econômica e financeira, voltada para o atendimento da justiça social, consoante
artigo 170, V, da Constituição Federal. Sempre que a atividade econômica for
exercida com prejuízo injustificável ao consumidor, enseja ação civil pública.
O patrimônio histórico e artístico nacional está definido no artigo 1º do
Decreto-lei nº 25, de 30/11/37, como “o conjunto dos bens móveis e imóveis
existentes no país e cuja conservação seja do interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoriais da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
Além da proteção administrativa, por meio do tombamento, disciplinado por
esse Decreto-lei, o patrimônio histórico ou artístico pode ser defendido por meio da
ação popular ou ação civil pública. Não é exigível o prévio tombamento como
condição da ação; aliás, são precisamente os bens ainda não tombados os que
mais necessitam de proteção. É curioso que, se em juízo ficar reconhecido o valor
patrimonial do bem, para fins de proteção, ter-se-á um caso típico de tombamento
resultante de decisão judicial.
Pelo exposto, pode-se definir a ação civil pública como meio processual de
que se podem valer o Ministério Público e as pessoas jurídicas indicadas em lei
para proteção de interesses difusos e gerais.

14.3 Sujeito ativo e passivo


Pela interpretação conjunta do artigo 129, § 1º, da Constituição, e artigo 5º
da Lei nº 7.347, conclui que o sujeito ativo pode ser o Ministério Público, a União,
os Estados, os Municípios, as autarquias, empresas públicas, fundações,
sociedades de economia mista, bem como associações que estejam constituídas
há pelo menos um ano, nos termos da lei civil, e incluam, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico,
estético, histórico, paisagístico ou outros interesses difusos ou gerais.
Sujeito passivo é qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada,
responsável por dano ou ameaça de dano a interesse difuso ou geral.

- 21 -
14.4 Funções do Ministério Público
O Ministério Público desempenha importantes funções na ação civil pública:
1 - pode atuar como autor;
2 - se não tiver essa posição, atuará obrigatoriamente com fiscal da lei (art.
5º, § 1º, da Lei nº 7.347/85);
3 - deve promover a execução se o autor não o fizer no prazo de 60 dias do
trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 15);
4 - em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada,
o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa (art. 112 do
Código de Defesa do Consumidor);
5 - deve realizar o inquérito civil previsto no artigo 18, § 1º, Lei nº7.347/85, e
no artigo 129, III, da Constituição Federal. Esse procedimento constitui a única
modalidade de inquérito civil prevista no direito positivo brasileiro e é
competência exclusiva do Ministério Público.
OBS.: Seu objetivo é o de buscar elementos que permitam a instauração de
ação civil pública; ele não é obrigatório, uma vez que, se os elementos forem
suficientes, torna-se desnecessário. O inquérito pode ser arquivado, mas o ato de
arquivamento deve ser homologado pelo Conselho Superior do Ministério
Público. Enquanto não ocorrer essa homologação, as associações legitimadas
poderão apresentar razões escritas ou documentos (art. 8º, § 2º).
Para instrução da ação, o Ministério Público pode requisitar de qualquer
organismo, público ou privado, certidões, informações, exames ou perícias, no
prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 dias úteis (art. 8º, § 1º); a
recusa só é possível em caso de sigilo, hipótese em que cabe ao juiz requisitá-los.
Fora dessa hipótese, o desatendimento constitui crime punido com pena de
reclusão de um a três anos e multa (art.10).
O Ministério Público pode agir de ofício ou mediante provocação feita por
qualquer pessoa ou por servidor público, nos termos do artigo 6º.

14.5 Considerações quanto ao processo


A ação civil pública pode ser proposta em caso de lesão ou ameaça de
lesão. Daí a lei falar em ação principal e cautelar (arts. 4º e 5º).
a) a condenação do réu em perdas e danos, hipótese em que o valor da
indenização será destinado ao Fundo para Reconstituição de Bens Lesados,
criado pelo Decreto Federal nº 92.302, de 16/01/86; a receita assim será obtida
será gerida por um Conselho do qual participarão membros do Ministério Público e
representantes da comunidade, e será destinada à restauração dos bens lesados;
b) cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3º), hipótese em
que o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a
cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação
de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independetemente de
requerimento do autor (art. 11). Essa multa diária só será exigível do réu após o
trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento (art. 12,§ 2º).
O processo é, em regra, o ordinário, podendo ser sumário na hipótese do
artigo 275, I, CPC.

- 22 -
Em qualquer caso, seja na cautelar, o juiz pode conceder mandado de
liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
Embora os agravos tenham efeito apenas devolutivo, o artigo 14 da Lei nº
7.347/85 permite que o juiz confira efeito suspensivo para evitar dano irreparável à
parte.
A sentença produz efeitos erga omnes, exceto se ação for julgada
improcedente por deficiência de prova, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art.16).
Com relação às custas e honorários, a lei procura estimular o exercício da
ação, liberando os autores do pagamento prévio das custas e quaisquer despesas
processuais (art. 18), as quais são pagas só a final, pelo vencido.
Também não há condenação em honorários advocatícios, salvo se o
vencido for associação que tenha deduzido pretensão manifestamente infundada
(art. 17).
Além disso, em caso de litigância de má-fé, a associação e os diretores
responsáveis pela propositura da ação solidariamente condenados ao décuplo das
custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos (art. 17, parágrafo
único).

15. LINCENCIAMENTO AMBIENTAL


O meio ambiente é qualificado como patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido para uso da coletividade. O legislador
constituinte o qualificou ainda, como bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida.
Logo, inexiste qualquer direito subjetivo à sua utilização, só pode legitimar-
se mediante ato próprio do Poder Público que, para tanto, a lei arma-o de uma série
de instrumentos de controle para que possa ser verificada a possibilidade e
regularidade de toda e qualquer intervenção projetada sobre ele
Assim, através do licenciamento ambiental, constitui-se importante
instrumento de gestão do ambiente, na medida em que por meio dele busca a
Administração Publica exercer o necessário controle sobre as atividades humanas
que interferem nas condições ambientais, de forma a compatibilizar o
desenvolvimento econômico com a preservação do equilíbrio ecológico.
Ademais, como determina o art. 9º, IV, da Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei 6.938/81), o licenciamento ambiental é um instrumento de caráter
preventivo de tutela do meio ambiente.
O licenciamento ambiental, segundo a Resolução Conama 237/97, art.1º, I,
tratou de definir, como o “procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental
competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas
efetivas ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação ambiental considerando as disposições legais e
regulamentos e as normas aplicáveis ao caso”.
A Resolução Conama 237/97 também definiu licença ambiental (art.1º, II),
ao preceituar que é o “ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão
ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,
instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos
ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental”.

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O licenciamento ambiental é um ato uno, de caráter complexo pelo qual a
Administração faculta àquele que preencha o requisitos legais o exercício de ma
atividade, e que deverá ser precedido pelo EIA/RIMA - Estudo Prévio de Impacto
Ambiental -sempre que constatada a significância do impacto ambiental.
Cumpre esclarecer que, o EIA/RIMA permite em seu itinerário, pelo menos,
cinco fases: a primeira corresponde ao requerimento da licença e seu anúncio; a
segunda é a oportunidade do anúncio público do recebimento do EIA/RIMA e a
convocação pública para solicitação de audiência; a terceira é a realização ou
dispensa da audiência pública, na qual permite ao órgão ambiental, numa quarta
fase, elaborar parecer conclusivo sobre o estudo que lhe foi submetido à
deliberação que, sendo aprovado, ocorrerá o licenciamento ambiental, como quinta
fase. Esta, contudo, desdobra-se em:
a) licença prévia (LP): ato pelo qual o administrador atesta a
viabilidade ambiental do empreendimento ou atividade e estabelece requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nos próximos passos de sua
implementação.
Importante verificar que a licença prévia tem prazo de validade de até cinco
anos, conforme dispõe o art.18, I, da mesma resolução,
b) licença de instalação (LI) : consentimento para o início da
implementação do empreendimento ou atividade, de acordo com as
especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados.
Esta licença, também possui prazo de validade, que não poderá superar
seis anos, de acordo com o art. 18, II, da Resolução;
c) licença de operação (LO): possibilita a operação da atividade ou
empreendimento após a verificação do efetivo cumprimento do que consta
das licenças anteriores (Resolução Conama 237/97, art. 8º, III).

15.2 Competência para o licenciamento ambiental


A partir da Conferência de Estocolmo de 1972, ressalte-se, por oportuno,
fomos despertados para a consciência ecológica, e o licenciamento ambiental,
principalmente, ganha roupagem definitiva com a Lei 6.938/81, que lhe conferiu o
status de “instrumento da Política Nacional do Meio ambiente”.
O art. 10 dessa Lei, com a redação determinada pela Lei 7.804/89,
prescreve:
“art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de
estabelecimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados
efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de
causar degradação ambiental, de penderão de prévio licenciamento de órgão
estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama
e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - Ibama,
em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (grifo nosso)
(...) omissis
§ 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio ambiente e Recursos Naturais
Renováveis - Ibama, o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de
atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou
regional”.
O Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990, substituindo e repetindo
algumas disposições do antigo Regulamento da Lei 6.938/81 - o Decreto 88.351, de
1º de junho de 1983 - disciplinou o licenciamento ambiental com relativa minúcia,

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orientado por um procedimento de três fases, caracterizadas pela licença prévia
(LP), licença de instalação (LI) e licença de operação (LO).
Constata-se que diversos diplomas sobre as normas federais básicas para a
uniformização do licenciamento ambiental em todo o território nacional,
referendando a descentralização de sua outorga, que ficou entregue
fundamentalmente aos órgãos estaduais competentes. .
Logo a seguir, a Constituição Federal de 1988, recepcionou a Lei 6.939/81,
deixando claro que os diversos entes de Federação devem partilhar
responsabilidades sobre a condução das questões ambientais, tanto no que tange
à competência legislativa, quanto no que diz respeito à competência dita
implementadora ou de execução.
Assim, pela Resolução Conama nº 237/97, as licenças ambientais deverão
ser expedidas pelo Ibama para os empreendimentos e atividades com significativo
impacto ambiental no âmbito nacional ou regional, de acordo com art. 4º. O Ibama,
por sua vez, deverá considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais
dos Estados e Municípios que abrigarão a atividade ou empreendimento. Além
disso, constatado que a atividade potencialmente causadora de significativo
impacto ambiental em âmbito regional, será possível o Ibama delegar aos Estados
a competência para o licenciamento.
O art. 19 da Resolução Conama n º 237/97 prevê hipóteses de modificação,
suspensão e cancelamento das licenças, porque estas asseguram ao seu titular
uma estabilidade meramente temporal, não um direito adquirido. A bem da verdade,
o licenciamento ambiental deve ser entendido como se fosse um compromisso
estabelecido entre o empreendedor e o Poder Público, a saber:
“Art. 19 - O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada,
poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação,
suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:
I - violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais;
II - omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a
expedição da licença;
II - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.
Na realidade, nada impede possa a Administração Pública, mediante
decisão motivada, fazer cessar obras ou atividades consideradas ilegais ou
contrárias ao interesse público, já que não pode haver direito à ilegalidade.
Do outro lado, omitindo-se a Administração desse dever-poder que lhe
conferiu o legislador, abre-se ensejo para que o Poder Judiciário, a pedido de um
dos co-legitimados para a ação civil pública ou de qualquer cidadão, em ação
popular, determine a revisão ou invalidação da licença. E por se cuidar, in casu, de
patente vulneração de princípios cogentes do Direito ambiental - precaução e
revisibilidade das licenças - não há falar-se em correspondente indenização, até
porque, caso não revisto ou invalidado o ato de outorga, sempre responderá o
degradador, independentemente de existência de culpa, pelos prejuízos que causar
ao meio ambiente.

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16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, J. R.; Panno, M. & Oliveira, S.G. 2000. Perícia Ambiental, Ed Thex.
Brasil, C. 2002. Dicionário Jurídico, Ed Servanda.
Cavalieri Filho, S. 1996. Programa de Responsabilidade Civil, Ed. Malheiros.
Fiorillo, C. A. P. 2001. Curso de Direito Ambiental Barsileiro, Ed. Saraiva.
Gomes, L. F. 1999. Código Penal, Código de Processo Penal, Constituição Federal,
Ed. Revistas do Tribunais.
Grinover, A. P. e outros. 1999. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos
autores do Projeto, Ed. Forense Universitária.
Machado, P. L. 2001. Direito Ambiental, Ed. Forense.
Milaré, E. 2001. Direito do Ambiente, Ed. Revista do Tribunais.
Moraes, A. 1999. Direito Constitucional, Ed. Atlas.
Mukai, T. 1994. Direito Ambiental Sistematizado, Ed Forense Universitária.
Theodoro Júnior, H. 2001. Curso de Processo Civil, Ed. Forense.
Wainer, A. H. 1999. Legislação Ambiental Brasileira, Ed. Revista Forense.
Zanella Di Pietro, Maria Silvia, Direito administrativo, Ed. Atlas, 1996

* Peças Processuais de caso concretos do Miinstério Público do Estado do


Rio de Janeiro, gentilmente fornecidas pelo Promotor Dr. Mendelssohn Kieling
e-mail: mp.gov.rj.br
* Reportagens sobre o Meio Ambiente (assuntos variados), Jornal Essência
Vital - e-mail: essenciavital@hotmail.com

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ANEXO:

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