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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAMILA TRIBESS

“POLÍTICO É TUDO IGUAL?”


REGIME POLÍTICO E IDEOLOGIA COMO FATORES DE MUDANÇA NO PERFIL DA
ELITE POLÍTICA FEDERAL PARANAENSE ENTRE 1964 E 2006.

CURITIBA
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAMILA TRIBESS

“POLÍTICO É TUDO IGUAL?”


REGIME POLÍTICO E IDEOLOGIA COMO FATORES DE MUDANÇA NO PERFIL DA
ELITE POLÍTICA FEDERAL PARANAENSE ENTRE 1964 E 2006.

Monografia apresentada à disciplina Orientação


Monográfica I, como pré-requisito à conclusão do Curso
de Ciências Sociais do Departamento de Ciências
Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da
Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Renato Monseff Perissinotto.

CURITIBA
2009
3

“O pior analfabeto é o analfabeto político!


O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a
política. Não sabe que de sua ignorância política nasce a prostituta, o menor
abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político corrupto (...)”
Bertolt Brecht
4

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e à minha família, por todo apoio e incentivo.


Ao Alexandre, pelo amor e companheirismo.
À Flávia e Sabrina, pelas madrugadas de café, filosofia e amizade.
Ao Renato, pela confiança e por sempre me orientar de forma amistosa e
competente.
À CEUC (Casa da Estudante Universitária de Curitiba), por ser um lugar para
morar e aprender.
Ao NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira), pelo apoio
acadêmico, teórico, profissional e pelas amizades que possibilita.
Ao PET (Programa de Educação Tutorial), pelas experiências, amizades e pelo
apoio financeiro durante boa parte de minha graduação.
À militância e aos militantes do movimento estudantil, por alargar meus
horizontes e dar um sentido mais amplo à minha formação política e pessoal.
E a todos aqueles e aquelas que lutam diariamente para transformar o mundo
além de compreendê-lo!
5

RESUMO

A pergunta a ser respondida por essa monografia é: as mudanças de regime político (de
ditadura militar para democracia representativa) e do perfil ideológico dos poderes executivos
federal e estadual (de centro-direita - Fernando Henrique Cardoso e Jaime Lerner - para centro-
esquerda - Luiz Inácio Lula da Silva e Roberto Requião) influenciam o perfil dos deputados
federais paranaenses? Para responder a essa pergunta, mapeamos e comparamos o perfil dos
deputados federais paranaenses entre 1964 e 2006. Este perfil ao longo do período indicado foi
elaborado a partir de dados coletados nos Repertórios Biográficos, da Câmara dos Deputados,
no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, da Fundação Getúlio Vargas, e em páginas na
Internet de diversas instituições políticas (Tribunal Superior e Tribunal Regional Eleitoral e
Câmara dos Deputados, dentre outras). Chegamos, basicamente, a duas conclusões: a) a
mudança de regime político afeta substancialmente o perfil dos deputados; b) a mudança na
orientação ideológica dos poderes executivos pouco afeta esse perfil.

PALAVRAS-CHAVE: Deputados Federais Paranaenses. Regime Político. Ideologia. Elites.


Recrutamento.

ABSTRACT

The question of this paper is: the changes in the political regimen (from a military
dictatorship to a representative democratic government) and the ideological profile of executive
federal and estate (from a center-right government – Fernando Henrique Cardoso and Jaime
Lerner – to a center-left one - Luiz Inácio Lula da Silva and Roberto Requião) influence the
profile of the federal deputies of Paraná? To answer this question we maped and compared the
profile of the federal deputies of Paraná from 1964 to 2006. This profile is designed based on
data collected from sources such as Biographic Repertories, of the Parliament House, the
Brazilian Historical-Biographic Dictionary, of the Getúlio Vargas Foundation and web sites of
several political institutions (The Electoral High Court and Electoral Regional Court, The
Parliament House etc.). We found, basically, two conclusions: a) the change of political regimen
significantly affects the profile of deputies; b) the change in the ideological profile of the
executive powers affects low this profile.

KEYWORDS: Federal Deputies of Paraná. Political Government. Ideology. Elites. Recruitment.


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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – CURSO SUPERIOR POR PERÍODO POLÍTICO................................... 24


QUADRO 2 – 1º CARGO EM ENTIDADE CIVIL POR PERÍODO POLÍTICO.............. 27
QUADRO 3 – PRIMEIRO E ÚLTIMO CARGO POLÍTICO POR PERÍODO................... 29
QUADRO 4 – QUANTIDADE DE CARGOS POR PERÍODO POLÍTICO...................... 30
QUADRO 5 – Nº DE PARTIDOS POR PERÍODO POLÍTICO....................................... 32
QUADRO 6 – ORIGEM SOCIAL, FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA POLÍTICA POR
REGIME POLÍTICO.................................................................................. 35
QUADRO 7 – ESCOLARIDADE POR LEGISLATURA.................................................. 39
QUADRO 8 – PRIMEIRA PROFISSÃO POR LEGISLATURA....................................... 40
QUADRO 9 – 1º CARGO EM ENTIDADE CIVIL POR LEGISLATURA........................ 42
QUADRO 10 – QUANTIDADE DE CARGOS POR LEGISLATURA.............................. 43
QUADRO 11 – PRIMEIRO E ÚLTIMO CARGO POLÍTICO POR LEGISLATURA........ 44
QUADRO 12 – ORIGEM SOCIAL, FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA POLÍTICA POR
LEGISLATURA........................................................................................ 48
7

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 8
2 - REVISÃO TEÓRICA ............................................................................................................ 11
2.1 - ELITES .................................................................................................................... 11
2.2 - RECRUTAMENTO ................................................................................................ 12
2.3 - REGIMES POLÍTICOS E IDEOLOGIA .............................................................. 15
3 - CONTEXTO HISTÓRICO .................................................................................................... 18
3.1 – REGIME MILITAR ................................................................................................. 18
3.2 – REGIME DEMOCRÁTICO .................................................................................. 20
4 – REGIME POLÍTICO: PERFIL COMPARADO DO REGIME MILITAR E DO REGIME
DEMOCRÁTICO ......................................................................................................................... 22
4.1 - ORIGEM SOCIAL .................................................................................................. 22
4.2 - TRAJETÓRIA SOCIAL.......................................................................................... 23
4.3 - TRAJETÓRIA POLÍTICA ...................................................................................... 25
4.4 - REGIME POLÍTICO COMO FATOR DE MUDANÇA NO PERFIL DA ELITE
POLÍTICA ......................................................................................................................... 32
5 – IDEOLOGIA: PERFIL COMPARADO DAS LEGISLATURAS DE 1998 E DE 2002
....................................................................................................................................................... 36
5.1 - ORIGEM SOCIAL .................................................................................................. 37
5.2 - TRAJETÓRIA SOCIAL.......................................................................................... 38
5.3 - TRAJETÓRIA POLÍTICA ...................................................................................... 41
5.4 - IDEOLOGIA COMO FATOR DE MUDANÇA NO PERFIL DA ELITE
POLÍTICA ......................................................................................................................... 45
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 49
ANEXOS ...................................................................................................................................... 56
ANEXO 1: ITENS DO BANCO DE DADOS................................................................ 56
FONTES DE DADOS ................................................................................................................. 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 58
8

1 – INTRODUÇÃO

O objetivo inicial deste trabalho foi traçar um perfil dos deputados federais eleitos
pelo estado do Paraná, do ano de 1964 até 2006. A partir desse perfil geral, foram
feitas duas comparações, a primeira entre o perfil dos deputados eleitos no período de
1964 a 1987 (período da ditadura militar) com o perfil dos eleitos entre 1988 e 2006
(período de transição e estabilização democrática). A segunda comparação é entre o
perfil dos deputados eleitos para a legislatura de 1999 a 2002 com o perfil daqueles
eleitos para a legislatura de 2003 a 2006. Tais informações foram delineadas com base
em dados coletados em fontes, como os Repertórios Biográficos, da Câmara dos
Deputados, o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, da Fundação Getúlio Vargas,
bem como páginas na Internet de diversas instituições políticas (Tribunal Superior e
Tribunal Regional Eleitoral, Câmara dos Deputados, entre outras). Assim, a principal
questão nesta pesquisa é analisar de que forma as mudanças no regime político e no
espectro ideológico do poder executivo influenciam o perfil dos deputados federais
paranaenses.
Estas comparações se dão no seguinte sentido: existe alguma diferença no perfil
dos deputados federais eleitos pelo Paraná, dentro de um regime ditatorial de eleições
controladas, em comparação aos deputados eleitos no período democrático? Em
segundo lugar, existe uma sensível diferença entre o perfil dos deputados eleitos para
uma legislatura, em que o poder executivo – estadual e federal – se concentra nas
mãos de uma coalizão de centro-direita, em comparação a uma legislatura, em que o
poder executivo é governado por uma coalizão de centro-esquerda1? Se estas
diferenças no perfil legislativo existem, quais são elas?
A hipótese inicial é a de que a mudança de um regime ditatorial para um regime
democrático implicaria em sensíveis mudanças no perfil dos deputados eleitos, bem
como na democracia, ao serem eleitos presidentes e governadores de centro-esquerda,
o perfil dos deputados também seria diferente dos que foram eleitos durante os

1
Os conceitos de centro-direita e centro-esquerda serão explanados no decorrer do texto.
9

governos de centro-direita. Em ambos os casos, os perfis dos deputados apontariam


para uma tendência à popularização desta elite.
O perfil legislativo aqui traçado se baseia em dados coletados e organizados em
um banco de dados com 45 itens englobando origem familiar, origem social, carreira
política, dados sobre formação educacional e profissional, e atuação dentro da Câmara
dos Deputados (CD) dos eleitos entre 1964 e 2006. Para as análises feitas neste
trabalho, os dados são considerados sempre em três blocos principais: a origem social,
a trajetória social e a trajetória política. Esses três blocos tentam mapear as instituições
pelas quais os deputados passaram, buscando entender o padrão de socialização em
cada período.
Buscamos ter acesso aos dados sobre: a) origem social: nome e profissão dos
pais, cidade e estado de nascimento do político; b) trajetória social: profissão e
escolaridade dos deputados, participação em entidades civis; c) trajetória política:
participação em cargos de direção partidária, migração partidária, cargos públicos
ocupados, idade com que foram eleitos para a CD, número de mandatos exercidos na
CD e cargos ocupados dentro da Câmara (como participação em comissões e na mesa
diretora).
Alguns dados forneceram resultados interessantes para análise e comparação.
Outros, entretanto, deram pouco retorno pelas escassas informações disponíveis. Não
tivemos acesso a informações que acreditamos serem relevantes (a cor e a religião dos
deputados) e que para este estudo não foram analisadas por limitações das fontes
consultadas. Na maioria das biografias não encontramos estes dados o que nos
impossibilitou de analisar estes aspectos.
A pesquisa que deu origem a esse trabalho foi desenvolvida como parte de outra
mais ampla: “Quem governa? Mapeando as elites políticas e econômicas do Paraná
contemporâneo”, do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP), da
Universidade Federal do Paraná. Apesar de esta pesquisa abranger tanto os deputados
estaduais, como secretários de estado, presidentes de partidos e presidentes de
entidades empresariais, neste trabalho específico são enfocados apenas os deputados
federais paranaenses: banco de dados feito, em grande medida, separadamente dos
bancos relativos às outras elites.
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Este trabalho está divido da seguinte maneira: a discussão da teoria que deu
origem a esse estudo, enfocando as questões sobre elites, recrutamento, regime
político e ideologia. A seguir, uma breve contextualização histórica dos períodos aqui
analisados. Apresentam-se, então, os dados e a análise referentes ao período do
regime militar, em comparação ao regime democrático. Em seguida, apresentam-se os
dados e a análise relativos às legislaturas de 1999, em comparação à legislatura de
2003. Ambas as comparações estão divididas entre origem social, trajetória social e
trajetória política. Por fim, as últimas considerações deste trabalho.
11

2 - REVISÃO TEÓRICA

2.1 - ELITES

Algumas das questões que guiam a maioria dos estudos sobre elites, decisões
políticas e grupos considerados importantes para tais são: quem exerce poder? Quem
decide? Quem governa? Estas questões são, em grande parte, condutoras de diversos
estudos clássicos e recentes. Existem, segundo Putnam (1976), três métodos que são
normalmente utilizados em estudos que buscam responder às perguntas acima: a) o
método de “reputação”, ou seja, quem exerce poder por sua reputação nos grupos
sociais politicamente importantes, não necessariamente por seu cargo formal e que, de
fato, alteram decisões políticas. Esse método normalmente é difícil de ser aplicado e,
em muitos casos, necessita antes de uma análise posicional; b) o método de “decisão”,
que traça estudos sobre quem propõe temas decisivos e quem os aprova ou os veta.
Este método pode restringir as pesquisas aos temas específicos da agenda política, ou
seja, aos temas que são mais claramente vistos nas análises do processo decisório; c)
o método da “posição”, que é o que reconhece aquele que está nas posições oficiais de
governo como sendo também quem exerce poder sobre as decisões políticas, em
grande parte dos casos. Consideramos que a maioria daqueles que ocupam os cargos
de deputados federais, se não todos, exercem, de fato, algum poder, quer seja pela
proposição de projetos, quer seja pelas votações e comissões em que participam.
Assim, não pretendemos esgotar a vastíssima discussão sobre o exercício do poder,
apenas optamos por um recorte, muito utilizado na literatura sobre o tema e,
metodologicamente, mais fácil de ser entendido e pesquisado.
O termo “elite” vem sendo utilizado de diversas formas e com diferentes fins e é
aqui utilizado para identificar aqueles que ocupam posições formais de mando nas
instituições políticas e que, por isso, têm a possibilidade de exercer poder e tomar
decisões-chave no que diz respeito aos temas discutidos nessas instituições. Estas
decisões são consideradas importantes porque afetam a vida de um grande número de
12

pessoas (em relação às decisões tomadas pela média da sociedade). Essa definição
geral provém do método posicional de Wright Mills (1981) e o termo será aplicado para
os deputados federais do Paraná. Acreditamos que, em relação à elite política deste
estado, estas pessoas ocupam cargos de grande importância política, justamente pela
importância e abrangência que têm as decisões que podem tomar nos cargos que
ocupam.
Para Giddens (1974) os estudos de recrutamento são especialmente importantes
porque podem analisar a ligação entre elites políticas e classes sociais. Giddens
distingue três dimensões essenciais envolvidas nos estudos de elites. A primeira delas
é a questão do recrutamento para as posições de elite, a segunda é a estrutura destes
grupos e a terceira é a distribuição do poder efetivo, ou seja, entender se ocupar
determinados cargos significa estar em posições de poder. Neste trabalho vamos nos
limitar a estudar alguns fatores da primeira dimensão apresentada por este autor,
relativos à questão do recrutamento. Nesse sentido, Giddens aponta para a
necessidade de averiguar quão “aberto” ou quão “fechado” é este recrutamento da elite
e, também, onde esse recrutamento ocorre, ou seja, quais são as “avenidas” de
mobilidade que levam aos postos de elite. Assim, nenhuma elite é totalmente aberta,
nem totalmente fechada. Todas são, de certa forma, abertas, já que precisam permitir
que pessoas destacadas na sociedade ascendam aos cargos de elite, mas também não
podem ser completamente abertas, já que necessitam manter o grau de coerência de
socialização e um alto grau de integração na elite.

2.2 - RECRUTAMENTO

Entendemos, para este estudo, recrutamento como o processo que permite que
determinadas pessoas ascendam aos cargos de maior importância na nossa
sociedade, no nosso caso, à CD. As eleições não são o único processo por que
passam aqueles que são eleitos e que determinam, de certa forma, o futuro do país.
Para Pipa Norris (1997) o recrutamento num sistema federalista (como o do Brasil)
13

permite uma carreira mais flexível e a elite nesse sistema é mais permeável, não
havendo um caminho fixo a seguir. Entretanto, inclusive nos casos de carreiras curtas e
de pessoas que se elegem sem experiência política prévia, também existe algum filtro
de recrutamento. Este processo é que define a composição do parlamento e, ao longo
prazo, podem ser uma espécie de termômetro das mudanças sociais. Assim, um perfil
comparado dos deputados federais do Paraná, em longo prazo, pode nos ilustrar as
mudanças políticas e sociais pelas quais este estado passou, dentro do contexto das
mudanças nacionais.
Os filtros de recrutamento que Norris (1997) destaca são praticamente os
mesmos que aparecem na maioria dos estudos sobre este tema e englobam desde as
qualificações formais, como escolaridade e profissão, até a experiência política dos
candidatos, a habilidade de oratória, os recursos financeiros disponíveis e as relações
políticas que cada candidato possui. Os estudos têm apontado, na maioria das vezes,
para a predominância dos “colarinhos-brancos” (profissionais liberais, empresários, etc.)
e para a pouca participação de trabalhadores e de mulheres nessas elites. Entre os
diversos candidatos que se apresentam ao cargo, quais e com qual perfil conseguem
passar pelos “filtros” impostos pelos partidos, pelas instituições e até mesmo pelo
eleitorado? Esse processo pode englobar desde a origem familiar, a carreira, a
escolaridade, o partido, enfim, todo o caminho percorrido pelo político até que ele vença
as eleições para o cargo de deputado federal. É importante lembrar que os deputados,
em nosso estudo, já foram eleitos, ou seja, já passaram por todos estes filtros de
recrutamento.
Putnam (1976) aponta que essa elite é homogênea, unida e consciente de si
mesma, buscando se perpetuar em apenas um exclusivo segmento social. Essas
pessoas que passam pelos filtros de recrutamento e chegam às posições de elite
política são pessoas, para Putnam, com abundância no acesso aos recursos políticos,
sociais e econômicos. Esse predomínio de certa parte da sociedade dentro da elite
política, segundo Norris (1997), pode causar não apenas uma baixa legitimidade desta
elite, como também alterar a agenda de decisões e o próprio estilo de se fazer política.
Neste sentido, o estudo de Putnam aponta para a importância de quem toma as
decisões políticas relevantes e em quais instituições elas são tomadas, além, é claro,
14

da importância de quais decisões são tomadas, ou seja, da agenda política. Assim,


coloca-se claramente a importância de estudar os agentes políticos, no nosso caso,
uma parte da elite política paranaense, que são os deputados federais.
Vários estudos sobre recrutamento de elites apontam serem necessários certos
“atributos naturais” e “atributos conquistados” (Keller, 1967) para se chegar às posições
de poder: a origem familiar, a classe social, a cor e a religião, a educação formal,
profissão, renda e passagem por instituições sociais ou políticas. Esses atributos são
essenciais para fazer parte da elite e podem ser vistos de forma mais ou menos
homogênea na grande maioria de seus membros. Outros autores apontam as
instituições em que a grande maioria dos membros da elite se socializa (escolas,
universidades, movimentos, clubes, partidos) como “avenidas” (Giddens, 1974) que
levam até as posições da elite – certos cursos de graduação, profissões, clubes sociais,
partidos e cargos públicos que são, se não suficientes, ao menos necessários para a
ascensão aos cargos mais altos da elite política (Keller, 1967). Baseados nestes
“atributos” e nestas “avenidas” que aparecem de forma recorrente em diversos
trabalhos sobre o tema, buscaremos perceber quais são estes “atributos” necessários
aos deputados federais do Paraná, bem como por quais “avenidas” eles passam antes
de chegarem à CD.
Nesse sentido, temos no Brasil duas obras clássicas sobre quais são essas
“avenidas” e quais “atributos” são necessários para a elite política no Brasil. A primeira
delas é de José Murilo de Carvalho (2003) que aponta o curso de direito, a profissão de
advogado e magistrado, além de alguns outros atributos específicos como essenciais
para aqueles que foram parte da elite política brasileira na época do Império. O
segundo trabalho é de Joseph Love (1982), que faz um estudo semelhante para a elite
política de São Paulo, desde 1889 até 1937, apontando as profissões de advogado e
médico como bases da socialização da elite paulista, com um alto grau de localismo.
Podemos refletir, com base nestes estudos, sobre o perfil da elite política
brasileira, se ainda é formado de advogados e médicos ou se houve alguma mudança
neste perfil. Temos alguns estudos recentes que tratam do perfil das elites políticas
paranaenses, de forma mais específica, principalmente em relação aos deputados
estaduais, secretários de estado e presidentes de partidos. Tais estudos se focam
15

principalmente nas elites políticas e econômicas da última década e buscam também


traçar perfis, de forma geral ou comparada, das elites do estado2.

2.3 - REGIMES POLÍTICOS E IDEOLOGIA

O regime militar no Brasil (1964 a 1987) passou por um processo de abertura


lenta para a democracia, levando quase 15 anos para se concretizar essa
democratização. Poderíamos pensar que a mudança no perfil daqueles que fizeram
parte do poder legislativo, no caso os deputados federais, também teria acompanhado
esse ritmo gradual de abertura e democratização, o que possibilitaria que as pesquisas
denotassem essa mudança a cada nova legislatura, desde 1979 (início da abertura
política) até 1988. Entretanto, estudos como o de Fabiano Santos (2000), que
buscaram analisar o perfil da elite política neste período, principalmente na Câmara dos
Deputados, perceberam que esta mudança se deu de forma mais rápida do que a
transição de regime, sendo possível perceber as diferenças de perfil de socialização
dos deputados federais de forma clara entre as legislaturas no período de transição
política de regime e em um período de tempo menor do que aquele do regime militar
para a democracia. Neste sentido, ao compararmos o perfil dos deputados eleitos pelo
Paraná entre 1964 e 1987, em relação aos eleitos entre 1988 e 2006, poderemos
analisar se estas mudanças são, de fato, nítidas entre um período e outro para a elite
política do Paraná.
Estudos recentes, que se baseiam especificamente no perfil dos deputados
federais, buscam também entender a diferença entre os perfis de socialização dos
deputados eleitos por partidos de direita em comparação com aqueles eleitos por
partidos de esquerda. Às vezes as diferenças ideológicas entre os partidos e os
políticos não são muito claras. As definições para partidos e políticos de direita e de

2
Cf. PERISSINOTTO, Renato M.; CODATO, Adriano Nervo; FUKS, Mário; BRAGA, Sérgio Soares (Org.),
2007. Cf. também monografias GOUVÊA, Julio. 2005, COSTA, Luiz Domingos, 2005, ENGLER, Ícaro
(2008).
16

esquerda variam conforme a época, o local, as forças políticas em evidência, entre


outros aspectos. Para este trabalho considera-se que existem diferenças entre os
partidos brasileiros de centro-direita – no caso, PFL (Partido da Frente Liberal) e PSDB
(Partido da Social Democracia Brasileira) – e de centro-esquerda, como o PT (Partido
dos Trabalhadores) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro).
Utilizamos estas divisões entre partidos de centro-esquerda e de centro-direita
em nossa pesquisa, já que estudos como os de Singer (2000), Sousa Braga (2006) e
Rodrigues (2002) utilizam esta divisão, colocando PMDB e PSDB como partidos de
centro, PFL como de direita e PT como de esquerda. Porém, como demonstra o estudo
de Sousa Braga para o PMDB, este partido, segundo a autora, se apresenta de formas
diversas conforme o estado que se analisa. Levamos em consideração, para pensar o
caso do PMDB no Paraná, um estudo de Perissinotto e Braunert (2006) que demonstra
que os valores políticos que os membros do PMDB professam no Paraná podem ser
considerados, conforme a literatura sobre o tema, como de centro-esquerda.
O conceito utilizado para diferenciar os partidos de direita e de esquerda é,
basicamente, aquele apontado por Bobbio (1995) e que normalmente é utilizado na
literatura, ou seja, as diferenças para os partidos em relação ao tema da igualdade. Os
partidos de esquerda seriam mais preocupados com as questões de igualdade social,
enquanto os partidos de direita considerariam as desigualdades como fatos
naturalizados. Singer (2000) argumenta que no Brasil, um país com desigualdades
muito gritantes, todos os partidos em seus discursos seriam favoráveis a uma maior
igualdade sendo, portanto, a maior diferença a questão de como a modificação social é
possível. Para os partidos de esquerda as mudanças devem ser feitas pela mobilização
social, enquanto os da direita acreditam numa mudança institucional, operada pelos
grupos que ocupam as posições principais nas instituições.
Nesse estudo utilizamos os termos "centro-direita" e "centro-esquerda" para
facilitar a inclusão do PSDB e do PMDB, que são vistos como partidos de "centro" pela
literatura nacional (Singer, 2000; Sousa Braga, 2006; Rodrigues, 2002 etc.), mas que,
entretanto, no contexto específico do Paraná, podem ser tomados como centro-direita e
centro-esquerda, respectivamente, principalmente ao levarmos em consideração as
coligações partidárias e eleitorais efetuadas por estes partidos no período analisado.
17

Leôncio Martins Rodrigues (2002) aponta em seus estudos que o perfil da


bancada legislativa se altera conforme o espectro ideológico dos partidos, ou seja, ele
divide os partidos em esquerda, centro e direita, e analisa que a trajetória política e a
socialização dos deputados de cada um dos espectros ideológicos possuem nítidas
diferenças e peculiaridades. Entre as diferenças mais marcantes estão, sem dúvida, a
escolaridade, a origem social e a profissão. Rodrigues aponta para um perfil mais
escolarizado, que vem dos cursos de direito, que atuam como advogados, empresários
e profissionais liberais nos partidos de direita. Já para os partidos de esquerda aparece
um perfil com menor escolaridade, diferentes cursos superiores, além de uma trajetória
política mais ligada não só ao partido, mas também aos movimentos sociais e sindicais,
além de trabalhadores manuais. Já em outro trabalho (Rodrigues, 2006), este autor faz
uma comparação do perfil sócio-profissional dos deputados federais do período de
1999 a 2002 (a segunda legislatura sob o governo Fernando Henrique) e entre 2003 e
2006 (a primeira legislatura sob o governo Lula da Silva). Neste estudo, Rodrigues
aponta para uma mudança significativa no perfil sócio-profissional ao serem
comparados os deputados federais nestas duas legislaturas. Assim, parte de nosso
trabalho tentará verificar esta hipótese de Rodrigues para o caso específico do Paraná,
tentando compreender se, no caso dos deputados eleitos pelo Paraná no ano de 20023,
é possível encontrar as mesmas diferenças que Rodrigues encontrou no perfil destes
deputados, considerando a CD como um todo, na comparação com os deputados
eleitos em 1998, levando em consideração a situação específica do estado do Paraná e
de sua elite política federal.

3
As eleições para a CD e para governo dos estados e presidência da república ocorrem juntas, a cada 4
anos em anos pares. Os eleitos assumem no ano seguinte, assim, quando falamos em eleições de 1998
e 2002, estamos nos referindo às eleições destes anos, lembrando que as respectivas legislaturas
iniciaram em 1 de janeiro dos anos seguintes.
18

3 - CONTEXTO HISTÓRICO

3.1 – REGIME MILITAR

O Brasil passou, entre os anos de 1964 e 1987, por um regime militar em que
vários generais se sucederam na presidência da república. O governo foi instaurado por
um ato institucional em 9 de abril de 1964, houve a cassação de vários mandatos nesse
período.
Em 1965 foi instaurado o bipartidarismo. As eleições nesse período foram
controladas pelo regime militar havendo um partido de oposição legal, o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro) e o partido de apoio ao regime, ARENA (Aliança
Renovadora Nacional).
Em 1966 foi promulgado o Ato Institucional nº 5, que limitava de forma intensa as
liberdades individuais de expressão e de imprensa. Vários cargos públicos, entre eles
professores universitários, prefeitos, governadores e deputados, foram destituídos ou
cassados, todo tipo de manifestação era duramente reprimida e com o passar do tempo
e os vários atos institucionais que foram executados, as prisões por motivos políticos se
multiplicaram.
Em 1967 foi promulgada a nova Constituição brasileira que oficializava alguns
artifícios de governo, tais como os senadores biônicos e as indicações do poder
executivo federal para governadores dos estados. As eleições diretas para a Câmara
dos Deputados foram mantidas, apesar de serem muito restritas, já que serviam para
manter sob controle as elites regionais, além de legitimar socialmente o regime.
Além da censura, o grande crescimento econômico alcançado pelo regime, a
abstenção de grande parte da oposição nas eleições e o apoio das elites regionais que
estavam inseridas nos postos de governo ou nas eleições legislativas, garantiram a
legitimação do regime nas urnas, até o ano de 1974, ano em que a oposição começou
a se fortalecer. Nas eleições de 1974, a oposição conseguiu uma relevante vitória nas
eleições legislativas e o general Geisel assumiu a presidência com um discurso de
19

liberalização. No entanto, essa liberalização foi contraditória. A cada avanço em


determinado aspecto, havia um retrocesso em outros, com formas alternativas de
manipulação pelo regime. Isso só foi possível pelo grande controle sobre o processo de
transição que o regime exerceu e foi também o que possibilitou a forma com que o
regime guiou as eleições seguintes. Com diversos artifícios, leis, decretos e ferramentas
de controle, sendo os mais conhecidos a Lei Falcão (1976) e o Pacote de Abril (1977),
que limitavam as possibilidades da oposição ter representantes eleitos e, inclusive, de
fazer campanha política. O regime garantiu assim sua legitimação através das urnas. A
Câmara dos Deputados foi inclusive fechada por alguns meses em 1977.
A partir de 1979 é que podemos considerar que há, de fato, um início de abertura
do regime, com a lei da anistia, a volta do pluripartidarismo, eleições diretas para
governadores dos estados e a extinção do senador biônico. Neste ano, assumiu a
presidência o general Figueiredo, com a promessa de democratização. Concedeu
anistia aos presos e exilados políticos e permitiu a criação de novos partidos buscando
fragmentar a oposição. Iniciou-se a formação de outros partidos. Surgiram então o PFL
(Partido da Frente Liberal), de um racha da base do regime, o PDT (Partido
Democrático Trabalhista), o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PT (Partido dos
Trabalhadores) e o MDB se tornou PMDB (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro), todos estes na oposição ao regime. O partido da base do regime tornou-se
PDS (Partido Democrático Social). Prorrogaram-se as eleições que aconteceriam em
1980 e houve repressão ao Congresso Nacional, que buscava recuperar certas
prerrogativas legislativas. Seguiu-se o processo de abertura controlada. O maior
objetivo do regime era uma transição “lenta, gradual e segura”.
Ao final de 1982, com uma séria crise econômica e denúncias de corrupção,
afloram as crises internas do regime. A ditadura havia sido até este ponto relativamente
estável, entretanto, as críticas crescem, inclusive dentro do próprio regime, acelerando
o processo de abertura.
Em 1985, o regime mudou as regras de composição do colégio eleitoral, para
sobrerepresentar os estados agrários nos quais havia uma forte dominação e para
garantir a sua maioria nas eleições presidenciais de 1985. Entretanto, com a grande
crise interna no regime e as dissidências fortemente organizadas na Frente Liberal, o
20

Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, o candidato do partido de oposição (PMDB),


tendo como vice José Sarney, dissidente do regime. Apesar de uma grande
mobilização pelas eleições diretas, o primeiro governo civil foi eleito de forma indireta,
via colégio eleitoral, na eleição de 1985. Além disso, por motivo de doença, o
presidente eleito, Tancredo Neves, morre antes de assumir, sendo, então, José Sarney,
que antes era apoio político do regime militar, o primeiro presidente civil a assumir. Em
1986 é convocada eleição direta para representantes na Assembléia Constituinte, que é
instaurada a partir de 1987 e promulga a nova constituição em 1988. Dessa forma o
Brasil só pôde ser considerado de fato uma democracia em 1989, com as primeiras
eleições democráticas e diretas para presidência4.

3.2 – REGIME DEMOCRÁTICO

A partir das eleições para a Assembléia Constituinte em 1987, segue-se no país


um contínuo de eleições diretas e democráticas para os poderes legislativos e
executivos. Depois de um período conturbado política e economicamente, com grave
crise econômica, o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo (1º presidente
eleito diretamente no período) em 1991, o vice de Collor, Itamar Franco, assume a
presidência, conquistando certa estabilidade política e, com um novo plano econômico,
alcança também estabilidade econômica até as próximas eleições.
No ano de 1994, é eleito para a Presidência, Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) e, no Paraná, é eleito Jaime Lerner (PFL) para governar o estado. Ambos se
reelegem em 1998. Esses 8 anos são de um governo de coalizão de partidos de centro-
direita (PFL, PSDB, entre outros), com a consolidação da estabilidade econômica e
política. No ano de 2002, o Brasil passou por um novo processo eleitoral que levou ao
governo federal, pela primeira vez no período pós-regime militar, um partido
ideologicamente de esquerda. No Paraná também houve uma mudança significativa, já
que foi eleito um governador que é reconhecido como parte da esquerda do estado,

4
Cf. CODATO, Adriano. 2005; KINZO, Maria D´Alva. 2001 e MARENCO DOS SANTOS, André. 1998.
21

após dois mandatos consecutivos da direita tradicional. Ocorre então uma mudança no
espectro ideológico nos poderes executivos, tanto em nível nacional, com a eleição de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência, quanto em nível estadual, com a
eleição de Roberto Requião (PMDB) para o governo do estado. Para Kinzo (2004), a
eleição de governantes ideologicamente de esquerda sem uma ruptura do sistema
democrático é a expressão de uma consolidação e fortalecimento das instituições
políticas democráticas.
É importante também lembrarmos o contexto das eleições de 1998 e 2002 no
qual, embora o plano nacional o PMDB tenha apoiado a candidatura de Fernando
Henrique (PSDB) para a presidência em 1998, no Paraná, o PMDB saiu com candidato
próprio, Roberto Requião, concorrendo com os candidatos ao governo do estado
apoiados pelo PSDB (Jaime Lerner, em 1998, e Carlos Alberto Richa, em 20025).
Assim, temos no Paraná uma mudança significativa na eleição de 2002. Não só
o panorama nacional se modificou da direita para a esquerda, com a eleição de Lula da
Silva (PT), mas também no Paraná essa mudança se deu, com a eleição de Roberto
Requião (PMDB). Dessa forma, a díade direita/esquerda não só ainda é útil
metodologicamente, como argumenta Bobbio (1995), mas também é claramente visível
em nossas eleições majoritárias.

5
Cf. Dados obtidos no Tribunal Regional Eleitoral através do site http://www.tre-pr.gov.br, acesso em
2/06/2009 às 15h55min.
22

4 – REGIME POLÍTICO: PERFIL COMPARADO DO REGIME MILITAR E DO REGIME


DEMOCRÁTICO

O golpe militar se deu em 1964, entretanto os deputados que haviam sido eleitos
em 1963 seguiram na CD até o fim de seus mandatos em 1967. Mas houve, aqui, uma
mudança significativa, já que muitos suplentes assumiram cadeiras daqueles que
tiveram os mandatos cassados. Além disso, em 1965, a estrutura do sistema partidário
foi drasticamente alterada. Entre os anos de 1964 e 1987 consideramos 103 deputados
paranaenses que entraram na CD nas eleições deste período. A partir das eleições
para a Assembléia Constituinte, em 1987, segue-se no país um contínuo de eleições
diretas e democráticas para os poderes legislativos e executivos. No Paraná, foram
eleitos 30 deputados federais para a Assembléia Constituinte de 1987 e, a partir dessa
eleição, o estado sempre esteve com 30 cadeiras na Câmara, totalizando assim 84
deputados no período democrático. Para o nosso universo de pesquisa, consideramos
os suplentes que assumiram cadeiras na Câmara por mais de 120 dias nestes dois
períodos e, assim, figuraram nas fontes de dados oficiais consultadas6. Vale lembrar
que as eleições para a Câmara dos deputados se mantiveram diretas mesmo no
período da ditadura, apesar do bipartidarismo, das cassações e das restrições aos
parlamentares.

4.1 - ORIGEM SOCIAL

No período de regime militar, todos os deputados eleitos pelo Paraná foram


homens. No período democrático apenas uma mulher foi eleita diretamente em 2002 e
outra assumiu como suplente na mesma legislatura. Os políticos eleitos no período
democrático nasceram, em sua grande maioria, na cidade de Curitiba, porém, a
porcentagem dos políticos nascidos na capital no período democrático é de 10,7%,

6
Esse critério é utilizado pela própria CD para inclusão ou não dos suplentes em seus perfis biográficos.
23

menor do que no período da ditadura militar, que era de 14,6%, ou seja, os políticos de
cidades do interior, ou que nasceram em outros estados, vêm conquistando,
lentamente, mais espaço na política paranaense no nível federal. Além disso, levando
em consideração a concentração populacional na capital Curitiba7, podemos considerar
a porcentagem dos deputados nascidos na capital paranaense, inclusive, baixa.
Entretanto, veremos adiante, a capital paranaense ainda é o lugar de passagem quase
obrigatório em cargos públicos para aqueles que se elegem deputados no Paraná.
Em um dos itens de nosso banco coletamos dados sobre uma possível tradição
na política das famílias dos eleitos. Consideramos a declaração nos perfis biográficos
da CD se o deputado faz parte ou não de uma família com tradição política prévia, ou
se algum membro de sua família já exerceu algum cargo político. Essa declaração é, a
nosso ver, suficiente, já que o fato de pertencer a uma família com tradição na política é
visto como positivo pelos próprios políticos que, inclusive, se utilizam dos nomes de
seus familiares conhecidos em suas campanhas eleitorais. O percentual de casos em
que encontramos tradição familiar na política entre os deputados do período
democrático é baixo (8,3%), tanto em relação ao padrão nacional (25,8%)8, quanto em
relação aos políticos paranaenses do período da ditadura, onde encontramos o índice
de 13,6% de deputados com alguma tradição política na família.

4.2 - TRAJETÓRIA SOCIAL

Tradicionalmente, aqueles que possuem maiores níveis de escolaridade são os


que predominam na cena política, principalmente se tratando de cargos na esfera
nacional. No Paraná, esta realidade não é diferente e percebemos que mais de 65%
dos deputados federais do período democrático possuem curso superior (incluindo
aqueles com especialização, mestrado e doutorado), apesar desta porcentagem ser

7
Curitiba tem quase 2 milhões de habitantes dos pouco mais de 10 milhões de habitantes do Paraná,
pelos dados do IBGE em 2007. Disponível em http://www.ibge.org.br/populacao.php, acesso em
02/06/2009 às 15h30min.
8
MARENCO DOS SANTOS, André. 1997.
24

alta, ela já é muito menor do que se compararmos com a porcentagem de políticos com
curso superior que encontramos no período anterior (1964/1987), que ultrapassava os
82%.
Além da diminuição no nível de escolaridade, podemos também perceber que a
hegemonia do curso de direito diminuiu significativamente de 46,6% no período da
ditadura, para 22,6% no período democrático. Apesar de os deputados federais do
Paraná do período democrático ainda serem, em sua maioria, formados em direito,
percebe-se claramente o crescimento de formados em outros cursos, e em outras áreas
do conhecimento, ingressando na Câmara dos Deputados. Além disso, o número de
deputados eleitos que não possuíam curso superior praticamente duplicou, indo de
17,5%, no período da ditadura, para 34,5% no pós 1988.

QUADRO 1 - CURSO SUPERIOR POR PERÍODO POLÍTICO


Curso Superior Periodização Política
1963 até 1987 1987 até 2006
Agronomia 3 2
2,9% 2,4%
Contabilidade 1 4
1,0% 4,8%
Direito 48 19
46,6% 22,6%
Economia 6 2
5,8% 2,4%
Engenharia civil 8 7
7,8% 8,3%
Medicina 11 5
10,7% 6,0%
Odontologia 2 1
1,9% 1,2%
Outros 6 15
5,9% 18,0%
Não possui curso 18 29
superior
17,5% 34,5%
Total 103 84
100,0% 100,0%
Fonte: Deputados Federais Paranaenses 1946/2006 - Banco de Dados (TRIBESS, C. 2007 - inédito)
25

Apesar da mudança nos cursos em que os políticos se formam, a instituição que


prevalece nessa formação ainda é a Universidade Federal do Paraná - UFPR. No
período do regime militar, 43,7% dos deputados com curso superior se formaram na
UFPR, para o período da redemocratização este número é de 31%, essa queda se
deve, provavelmente, ao grande aumento na oferta de vagas no ensino superior em
instituições privadas e estaduais no Paraná. Assim, podemos notar que, apesar de
existir uma maior heterogeneidade de cursos e uma significativa queda no número de
formados pela UFPR, esta instituição ainda é essencial na formação da elite política do
Paraná.
Como os cursos superiores se tornaram mais heterogêneos, as profissões
exercidas também foram modificadas. No período do regime militar, mais de 41,7% dos
deputados federais eram advogados, porcentagem esta que cai para apenas 13,1% na
redemocratização. Em compensação, a porcentagem de empresários aumenta de
forma significativa. No período da ditadura, nenhum deputado havia se declarado como
empresário, mas na redemocratização encontramos 13,1% de empresários entre os
deputados federais. A maioria (66,6%) desses empresários não possui formação
superior. A porcentagem de médicos entre os deputados vai de 7,8% para 6%, e a de
militares, que já era baixa no período militar, cai pela metade, indo de 2,9% no período
militar (ou seja, 2 casos) para 1,2% na redemocratização (apenas 1 caso). É
interessante que o número de militares eleitos no período do regime militar seja tão
baixo em relação aos outros grupos profissionais.

4.3 - TRAJETÓRIA POLÍTICA

Um aspecto interessante a ser abordado é a trajetória que um político


desenvolve. Por quais instituições ele passa, quais movimentos e partidos está
vinculado, além de quais cargos políticos ele ocupou. Nesse sentido, buscamos
diversas informações sobre as carreiras dos deputados federais do Paraná. O primeiro
26

item nos apresenta por quais entidades os deputados passaram antes de serem eleitos
para a Câmara.
Por entidades civis entendemos sindicatos, organizações de categorias,
movimentos sociais, associações beneficentes, entre outros. É interessante notar que,
no período da ditadura, apenas 27,2% dos deputados havia participado de alguma
dessas instituições. Na redemocratização este número sobe para 53,6%. A explicação
para este aumento nos parece clara uma vez que, no período militar, a maioria das
organizações sociais foi fechada ou funcionava na ilegalidade.
Comparando as participações dos deputados nos dois períodos, é surpreendente
o aumento da participação dos deputados em sindicatos trabalhistas, provavelmente,
fruto da democratização, pois estes sindicatos foram proibidos de funcionarem na maior
parte do tempo do regime militar. Entre aqueles que se envolveram de alguma forma
com entidades e organizações civis, permaneceram em cargos de direção dessas
entidades, na maioria dos casos, de 1 a 3 anos em ambos os períodos. É importante
observar que não há incidência de participação em movimentos sociais populares e há
uma alta incidência de participação em sindicatos patronais e em entidades ruralistas
no período do regime militar. Além disso, há uma alta incidência de participação em
sindicatos patronais, em associações comerciais, um grande aumento de participação
em sindicatos de trabalhadores e uma queda significativa da participação nas
associações ruralistas durante o regime democrático.
27

QUADRO 2 - 1º CARGO EM ENTIDADE CIVIL POR PERÍODO POLÍTICO


1º cargo em entidades civis Periodização Política
1963 até 1987 1987 até 2006
Associações comerciais 1 8
1,0% 9,5%
Associações de 3 3
caridade
2,9% 3,6%
Associações políticas 4 4
3,9% 4,8%
Entidades religiosas 0 2
,0% 2,4%
Movimentos sociais 0 2
populares
,0% 2,4%
Sindicatos de 1 13
trabalhadores
1,0% 15,5%
Sindicatos patronais 10 10
9,7% 11,9%
Sociedades 1 0
educacionais
1,0% ,0%
Sociedades ruralistas 8 3
7,8% 3,6%
Não participou deste 75 39
tipo de entidade
72,8% 46,4%
Total 103 84
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Com a reestruturação do pluripartidarismo no país, o número de deputados que


ocuparam algum cargo de direção partidária no período da redemocratização também é
muito maior do que no período da ditadura. Para o período pós 1987 a média é de 38%,
já no período militar a faixa era de 15,5% apenas.
Quanto aos cargos efetivamente políticos que os deputados exerceram antes de
serem eleitos para a Câmara, é interessante o fato de que, percentualmente, o número
de políticos com experiência política prévia diminuiu, de 82,5% na ditadura para 77,4%
na redemocratização. Isto indica um recrutamento maior de outsiders, ou seja, de
políticos que não estão ainda familiarizados com a vida política e com o funcionamento
da Câmara. É importante designar quais cargos consideramos como parte do
28

legislativo, do executivo, da administração e do poder judiciário. Para o primeiro grupo,


a divisão é simples, abrangendo vereadores, deputados e senadores. Para o grupo de
cargos do executivo, selecionamos prefeitos, secretários municipais, governadores,
secretários estaduais e ministros. Os cargos administrativos são aqueles de segundo
escalão das prefeituras, governos estaduais e governo federal, diretores, presidentes
ou coordenadores de autarquias e órgãos públicos, assessores de gabinete,
assessores de secretarias e funcionários da burocracia em geral. Os cargos do poder
judiciário incluem juízes, promotores, procuradores e desembargadores.
Os primeiros cargos públicos ocupados pelos deputados eleitos no período do
regime militar são, principalmente, aqueles do legislativo municipal (21,4%), do
administrativo estadual (19,4%) e do executivo municipal (16,7%). Ao compararmos
com o período democrático, o legislativo municipal também prevalece com 31%, em
segundo lugar se destaca o executivo municipal (16,7%) e em terceiro, o legislativo
estadual (10,7%). Ao analisarmos os primeiros cargos políticos ocupados na carreira, é
interessante analisar também os últimos cargos ocupados pelos deputados
imediatamente antes de serem eleitos deputados federais pela primeira vez. Essa
comparação nos permite ver a trajetória política desses deputados. Para aqueles
deputados que ocuparam apenas um cargo político antes de entrarem na CD,
consideramos este único cargo como primeiro e último. Assim, no período do regime
militar, os últimos cargos ocupados pelos deputados antes de serem eleitos para a CD
foram, majoritariamente, no legislativo estadual (23,3%), seguidos dos cargos no
executivo estadual (14,6%) e no administrativo estadual (12,6%). No período
democrático há uma mudança desse perfil, sendo o executivo municipal o lugar em que
os deputados mais exerceram cargos (28,6%), seguido do legislativo estadual (20,2%).
Em terceiro lugar, o executivo federal e o legislativo municipal (10,7%).
Notamos aqui certa mudança nas esferas em que os deputados ocuparam seus
cargos antes de serem eleitos deputados federais. No regime militar, o padrão era
ocupar o primeiro cargo na esfera municipal e o último cargo na esfera estadual, já no
período democrático esse padrão se altera, havendo mais deputados eleitos que
tiveram seu último cargo antes da CD nas esferas municipais. Entretanto, os primeiros
cargos continuam sendo ocupados, em sua maioria, na esfera municipal em ambos os
29

períodos. Este fato pode ser pensado em relação aos deputados do período
democrático, uma vez que estes, de certa forma, tinham mais espaço para galgarem
posições, sem passar antes, necessariamente, por todas as esferas (municipais e
estaduais) até chegarem aos cargos federais. Além disso, é importante ressaltar uma
peculiaridade do regime militar brasileiro, em que o acesso aos cargos do poder
executivo nos governos de estado ou em prefeituras de cidades estratégicas (capitais,
fronteiras, etc.) era mais restrito, já que dependiam de indicação do executivo federal.
Entretanto, as eleições legislativas em todas as esferas, bem como as eleições para os
executivos municipais (salvo as exceções já apontadas) continuaram sendo abertas e
regulares, apesar de certas restrições.

QUADRO 3 - PRIMEIRO E ÚLTIMO CARGO POLÍTICO POR PERÍODO


1963 até 1987 1987 até 2006
Primeiro Cargo Legislativo municipal Legislativo municipal
(21,4%) (31%)
Administrativo estadual Executivo municipal
(19,4%) (16,7%)
Executivo municipal Legislativo estadual
(16,7%) (10,7%)

Último Cargo Legislativo estadual Executivo municipal


(23,3%) (28,6%)
Executivo estadual Legislativo estadual
(14,6%) (20,2%)
Administrativo estadual Executivo federal e legislativo
(12,6%) municipal
(10,7%)
Fonte: Idem

Curitiba, a capital do estado, se mostra como a cidade de maior concentração


dos cargos ocupados pelos deputados, tendo visibilidade também algumas outras
principais cidades do estado, tais como Londrina, Maringá e Ponta Grossa. No período
da redemocratização, além dessas cidades, vemos também uma maior incidência de
cargos ocupados em Cascavel e Francisco Beltrão, possivelmente pelo crescimento,
tanto populacional quanto de importância econômica destas cidades para o panorama
do estado.
A maioria dos deputados eleitos pelo Paraná, em ambos os períodos, ocuparam
2 cargos públicos em média antes de serem eleitos para a CD. No entanto, o número
30

de eleitos sem ter ocupado nenhum cargo, ou que ocupou apenas um cargo público
antes de se eleger deputado federal, cresceu significativamente no período
democrático. Este dado nos aponta para um padrão menor de experiência prévia dos
deputados eleitos na redemocratização, ou seja, o espaço para a eleição de outsiders
da política tende a aumentar no período democrático.

QUADRO 4 - QUANTIDADE DE CARGOS POR PERÍODO POLÍTICO


Quantidade de cargos Periodização Política
1963 até 1987 1987 até 2006
Nenhum 18 19
17,5% 22,6%
Um 16 18
15,5% 21,4%
Dois 32 22
31,1% 26,2%
Três 18 14
17,5% 16,7%
Quatro 12 5
11,7% 6,0%
Cinco 7 6
6,8% 7,1%
Total 103 84
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Quando os deputados exercem mais de um mandato, ou seja, quando eles se


reapresentam ao cargo, pode significar que existe uma profissionalização destes
políticos. No caso dos deputados federais do Paraná no período pós 1987, a média
desta taxa de reapresentação é baixa, mas ao analisarmos este dado para o período
militar, as taxas de reapresentação dos políticos foram altas, ou seja, os mesmos
políticos exerceram mandatos por várias vezes – a maioria ocupou dois mandatos
seguidos. No início da redemocratização, houve uma grande renovação dos deputados,
96,7% dos deputados eleitos em 1991 eram novos na Câmara. Após essa grande
mudança, a taxa de reapresentação volta a crescer e, nas últimas duas legislaturas
(1998 e 2002), apenas 10% dos deputados que entraram na Câmara eram novatos,
31

indicando um período de estabilização do regime democrático e da elite política


predominante neste período.
Quanto aos partidos, é interessante notar que, mesmo com a reestruturação do
pluripartidarismo no período da redemocratização, a maioria dos deputados do período
democrático esteve em apenas 1 partido. Se somarmos os deputados do período
democrático que trocaram de partido até 3 vezes, teremos mais de 73% do nosso
universo em uma distribuição mais ou menos homogênea entre aqueles que trocaram
de partido 1 (29,8%), 2 (21,4%) ou 3 (22,6%) vezes. Levando em consideração todas
as mudanças causadas pelo fim do MDB e da ARENA, que eram os partidos permitidos
no regime militar até 1979, e a implementação de diversos outros partidos a partir da
abertura do regime, este número pode ser considerado baixo, principalmente pensando
que as mudanças afetaram todo o sistema partidário, ou seja, passamos de um sistema
bipartidário para um sistema multipartidário, inclusive com a extinção dos antigos
partidos. Dessa forma, percebemos que, estando a maioria dos deputados do período
em apenas um partido, isto pode significar também, que iniciaram suas carreiras
políticas depois de 1979.
No período da ditadura militar, 89,3% dos deputados haviam sido membros de
até 3 partidos diferentes, antes de serem eleitos deputados. Esse número se dá,
principalmente, por causa daqueles que começaram suas carreiras políticas antes da
instauração do bipartidarismo no Brasil, em 1965. É importante notar a grande
concentração de políticos que mudaram de partido apenas 2 vezes neste período, ou
seja, eram de algum outro partido em 1965 e migraram pro MDB ou pra ARENA se
elegendo por um desses 2 partidos e, evidentemente, não mudaram mais de partido
durante o regime militar.
32

QUADRO 5 – Nº DE PARTIDOS POR PERÍODO POLÍTICO


Número de partidos no Periodização Política
período
1963 até 1987 1987 até 2006
1 19 25
18,4% 29,8%
2 49 18
47,6% 21,4%
3 24 19
23,3% 22,6%
4 7 14
6,8% 16,7%
5 2 4
1,9% 4,8%
6 1 2
1,0% 2,4%
7 1 1
1,0% 1,2%
8 0 1
,0% 1,2%
Total 103 84
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

A atuação destes deputados dentro da Câmara pode ser considerada como


prioritariamente em comissões. Poucos deputados ocuparam cargos na mesa diretora,
tanto no período militar (8,7%) quanto na redemocratização (1,2%), sendo que, neste
segundo período, a incidência desse tipo de atuação é muito menor que no período
anterior. Além disso, cerca de 20% dos deputados foi líder de bancada, isto ocorreu de
forma semelhante nos dois períodos.

4.4 - REGIME POLÍTICO COMO FATOR DE MUDANÇA NO PERFIL DA ELITE


POLÍTICA

Ao analisarmos os dados obtidos sobre os deputados federais do Paraná,


podemos dizer, de forma resumida, que o período de redemocratização trouxe
mudanças significativas para o perfil político desta elite. Neste sentido, é importante
33

pensarmos sobre a importância das regras do regime político na influencia do perfil


legislativo. Este perfil está intimamente ligado à representatividade das elites políticas e
também à agenda política em questão em cada período. Assim, ao mudarem as regras
do regime político, muda também quem tem acesso aos cargos da elite política federal
paranaense.
As diferenças são várias. Em primeiro lugar, tivemos mulheres fazendo parte da
bancada paranaense na Câmara. Há menos incidência de deputados com alguma
tradição política na família, o que nos aponta uma maior abertura desta elite no período
democrático. Além disso, percebemos que políticos de cidades do interior do estado
também ganharam mais espaço. O perfil de socialização se modificou, já que outros
tipos de formação escolar e outras profissões ascenderam como atributos desta elite,
apesar de ainda termos a UFPR como uma das grandes formadoras de nossos
deputados federais. As novas profissões estão relacionadas com os diferentes cursos
de graduação que se colocam em nossa sociedade, além de percebermos também,
que existe uma parcela significativa de deputados que não possui ensino superior, fato
que era antes quase impensável para este grupo da elite política. O fato dos formados
no curso de direito terem praticamente se reduzido a metade é um dado de grande
importância, pois deixa clara a mudança no perfil de nossos deputados, apontando para
uma mudança do padrão encontrado por Carvalho (2003) desde a época do Brasil
imperial.
Houve um grande aumento quanto à participação destes políticos em cargos de
entidades civis e de direção partidária no último período, o que se deve às restrições
que o regime militar impunha a este tipo de organização. Os membros desta elite, na
redemocratização, exerceram menos cargos políticos antes de serem eleitos
deputados, abrindo espaço para aqueles políticos com menos experiência política
prévia. Este fato nos aponta para políticos menos profissionalizados no período
democrático. Apesar de Curitiba ainda ser a principal cidade em que os cargos são
oferecidos e ocupados, as cidades do interior do estado também desempenham papel
importante na formação desses políticos.
Durante o período militar, a maioria dos deputados exercia 2 ou mais mandatos,
porém, em 1991 quase a totalidade dos políticos eleitos era novato na Câmara,
34

entretanto, nas duas últimas legislaturas, a tendência foi a de um novo equilíbrio, já que
apenas 10% dos eleitos podiam ser considerados novatos. Este fato nos revela uma
maior taxa de reapresentação dos deputados ao cargo.
O senso comum, muitas vezes, diz que os políticos mudam muito de partido. No
entanto, verificamos que a maioria dos deputados esteve em apenas 1 partido no
período da redemocratização, mesmo com as mudanças no sistema partidário brasileiro
e, quase todos, estiveram na faixa de 1 a 3 partidos diferentes neste mesmo período.
Se levarmos em consideração as diversas mudanças no próprio sistema partidário
pelas quais o Brasil passou desde 1964 até 2006, essa taxa de troca de partidos não
pode ser considerada alta. Além disso, no período militar a maioria dos deputados havia
passado por 2 partidos antes de entrarem na CD, já no período democrático a maioria
havia passado apenas por 1 partido, apesar das mudanças no sistema eleitoral e
partidário que ocorreram a partir de 1979. Esse fato pode ser conseqüência tanto de
uma maior fidelidade partidária quanto de uma maior incidência de políticos menos
experientes e, portanto, com uma trajetória política mais breve.
Concluímos então, neste capítulo, a imensa importância da mudança de regime
político para a popularização da elite política paranaense, com as diversas mudanças
no sentido de uma elite mais representativa que encontramos nas comparações feitas
entre a elite política federal paranaense do período militar e do período democrático.
35

Quadro 6: Origem social, formação e trajetória política por Regime Político


Item no banco Regime Regime
Militar Democrático
Origem Quantidade de mulheres Nenhuma 2 mulheres
Social Nascidos em Curitiba 14,6% 10,7%
Família Política 13,6% 8,3%
Formação Curso Superior 82% 65%
Curso de Direito 46,6% 22,6%
Sem curso superior 17,5% 34,5%
Formados pela UFPR 43,7% 31%
Advogados 41,7% 13,1%
Médicos 7,8% 6%
Empresários 0% 13,1%
Militares 2,9% 1,2%
Trajetória Cargos em entidades civis 27,2% 53,6%
Política Sindicatos de trabalhadores 1% 15%
Associações ruralistas 7,8% 3,6%
Direção partidária 15,5% 38%
Experiência política prévia 82,5% 77,4%
Número de partidos Maioria 2 Maioria 1
Fonte: idem
36

5 – IDEOLOGIA: PERFIL COMPARADO DAS LEGISLATURAS DE 1998 E DE 2002

Buscamos, nesta parte do trabalho, compreender se a mudança no cenário


político, nacional e estadual, quanto ao espectro ideológico do poder executivo, foi
acompanhada por mudanças no perfil social e político dos deputados federais eleitos
pelo Paraná nestas duas legislaturas. Comparamos aqui os dados de 32 deputados
federais paranaenses da última legislatura sob um poder executivo de centro-direita em
1998, com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na presidência da República e Jaime
Lerner (PFL) como governador e, de 33 deputados da primeira legislatura sob um
governo de centro-esquerda em 2002, com Luís Inácio Lula da Silva (PT) presidente e
Roberto Requião (PMDB) governador9.
Essa questão se dá ao refletirmos sobre o debate acerca da validade ou não dos
conceitos de direita e de esquerda para a compreensão de nossa realidade política. No
pleito de 2002 o espectro ideológico no poder executivo federal e estadual (no Paraná)
foi modificado e fazemos esta reflexão em referência às pesquisas que avaliam, para a
CD como um todo, uma nítida diferenciação entre os parlamentares da direita em
relação aos da esquerda.
Traçamos comparações entre as duas legislaturas e buscamos perceber as
diferenças na origem social, na trajetória social e política dos deputados eleitos nesses
dois períodos. Consideramos aqui também, bem como na parte anterior, os suplentes
que figuraram em nossas fontes de dados por terem assumido um mandato por mais de
120 dias10.
Iniciando nossa comparação pelo tamanho das bancadas, percebemos que a
bancada de centro-direita foi reduzida a metade em 2002, passando de 10 para 5
deputados de uma legislatura para outra. No sentido inverso, a bancada de centro-
esquerda aumentou de tamanho, indo de 10 para 16 deputados, ou seja, em 2002 a
bancada de centro-esquerda (PT e PMDB) era o triplo da bancada de centro-direita
(PSDB e PFL). É importante salientar que dos 32 deputados eleitos em 1998, 9
9
Para as análises feitas no banco de dados em SPSS usamos os 21 deputados que se reelegeram de
uma legislatura para outra de forma duplicada, contando cada um deles como se fosse um deputado
diferente na segunda legislatura, nosso banco tem, portanto, 65 entradas nessa etapa da comparação.
10
Critério dos Perfis Biográficos da CD.
37

estavam em sua primeira legislatura, já dos 33 deputados eleitos em 2002, 10 eram


novatos.

5.1 - ORIGEM SOCIAL

Uma modificação clara no perfil geral das legislaturas analisadas é o fato de que
na eleição de 2002 foram eleitas 2 deputadas mulheres, uma como titular e outra que
assumiu como suplente, ambas pelo PT, fato inédito até então para o estado do
Paraná, que nunca havia eleito uma mulher para a CD antes. Isto demonstra não só
uma linha política conservadora no recrutamento da elite política paranaense, mas
também a grande disparidade entre o perfil da elite política e da população em geral,
uma vez que em janeiro de 2008, segundo o Tribunal Superior Eleitoral11, 51,27% dos
eleitores paranaenses eram do sexo feminino. Esta disparidade na participação política
feminina nas instâncias de decisão e em cargos eletivos é fato recorrente não só no
Paraná, mas no Brasil como um todo12. É importante frisar que ambas as deputadas
eleitas eram do PT e possuíam experiência política adquirida em militância desde a
fundação do partido, uma delas em movimento estudantil e de saúde, a outra em
movimentos de trabalhadores rurais.
Quanto aos que se elegem já com tradição política na família, percebemos uma
queda, de 12,5% em 1998 para 9,1% em 2002, o que, em números totais, significa que
eram 4 deputados com família política em 1998 e 3 em 2002. Da mesma forma, o grau
de localismo dos políticos eleitos, ou seja, a eleição de políticos que nasceram no
próprio Paraná, se manteve praticamente estável, de 19 casos (59,4%) em 1998 foi
para 21 casos (63,6%) em 2002. Aqueles que nasceram em Curitiba representaram
18,8% em 1998 e 12,1% em 2002, o que demonstra uma tendência à interiorização dos
candidatos eleitos, ou seja, apesar de o Paraná continuar elegendo políticos que
nasceram no próprio estado, em 2002 foram eleitos mais deputados nascidos no

11
Dados obtidos no Tribunal Superior Eleitoral através do site http://www.tse.gov.br, acesso em
2/06/2009 às 15h50min
12
Cf. TABAK, Fanny. 2002.
38

interior do estado e não na capital, apesar de esta ainda eleger uma grande parte dos
deputados, pelo próprio fato de sua concentração populacional.

5.2 - TRAJETÓRIA SOCIAL

Um aspecto muito importante para analisarmos a popularização da classe


política está no nível de escolaridade dos políticos, principalmente no Brasil, país em
que apenas uma parcela restrita da população tem acesso ao ensino superior (em
2001, apenas 8% da população adulta possuía algum curso de graduação)13. Nesse
sentido, o fato de, em ambas as legislaturas, cerca de 60% dos deputados possuírem
nível superior de escolaridade é significativo da disparidade existente entre o perfil
social da população brasileira e o perfil social dos representantes políticos dessa
população. Notamos uma diferença entre as duas legislaturas em questão, entretanto, a
diferença se mostra oposta ao esperado, já que na legislatura eleita em 1998 tínhamos
59,4% dos deputados com nível superior de escolaridade, incluindo especialistas,
mestres e doutores. Já na legislatura eleita em 2002, essa porcentagem sobe
levemente para 63,7%. Ao mesmo tempo, o número de deputados com ensino médio
(incluindo técnico e profissionalizante) decai de 31,3% em 1998 para 24,2% em 2002. A
quantidade de deputados com ensino fundamental se mantém a mesma nos dois
períodos, sendo 2 deputados em cada legislatura. Assim, percebemos que ao invés de
uma diminuição no nível de escolaridade dos deputados eleitos, temos praticamente a
mesma porcentagem de deputados com curso superior nas duas legislaturas. Além
disso, é notório o fato de que é uma exceção que um deputado se eleja tendo cursado
apenas o ensino fundamental, ao menos para estas duas legislaturas analisadas.

13
Dados da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2001). Disponível
em http://www.oecd.org/statisticsdata.htm, acesso em 2/06/2009 às 15h58min.
39

QUADRO 7 - ESCOLARIDADE POR LEGISLATURA


Escolaridade Legislatura
1998 2002
Sem informação 1 2
3,1% 6,1%
Doutorado 3 2
9,4% 6,1%
Mestrado 1 2
3,1% 6,1%
Especialista 2 3
6,3% 9,1%
Superior 13 14
40,6% 42,4%
Médio 5 4
15,6% 12,1%
Profissionalizante 2 1
6,3% 3,0%
Técnico 3 3
9,4% 9,1%
Fundamental 2 2
6,3% 6,1%
Total 32 33
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Ao contrário da tendência encontrada na CD, na eleição de 2002 no Paraná, o


número de deputados eleitos que se formaram em direito permaneceu o mesmo, ou
seja, 7 casos em cada legislatura, isto é, cerca de 20%. Outro curso muito comum entre
os deputados é o curso de medicina, entretanto, em nosso universo a presença de
médicos é baixa e diminuiu pela metade sendo 6,3% em 1998 (2 casos) e passando
para 3% em 2002 (apenas 1 caso). É importante lembrar que, historicamente, os cursos
de direito e medicina são os cursos tradicionais daqueles que fazem parte da elite
política no Brasil.
Ainda no que diz respeito aos cursos superiores, aumentou a porcentagem
daqueles formados em economia de 3,1% para 6,1% e, em engenharia civil, de 6,3%
para 12,1%. Essa diferenciação dos cursos superiores cursados pelos deputados é
muito significativa, já que mostra claramente a importância das novas áreas de
conhecimento na sociedade. Além disso, há certa estagnação das áreas clássicas,
40

como direito e medicina, o que demonstra que a elite política paranaense vem se
tornando mais representativa da complexidade social.
Na legislatura de 1998 as profissões predominantes no perfil da elite foram as de
advogados e empresários, seguidas das de professor, agropecuaristas, contadores e
médicos. Já na legislatura eleita em 2002, sobe o número de advogados, mantêm-se a
predominância de empresários, seguidos dos agropecuaristas, comerciantes,
agricultores, contadores e engenheiros agrônomos. Da mesma forma, não há nenhuma
queda significativa na quantidade de empresários ou agropecuaristas eleitos em 2002
em relação a 1998, bem como a quantidade de professores, agricultores e profissionais
assalariados se mantém estável nos 2 períodos.

QUADRO 8 - PRIMEIRA PROFISSÃO POR LEGISLATURA


Primeira profissão Legislatura
1998 2002
Advogado 5 6
15,6% 18,2%
Agricultor 1 2
3,1% 6,1%
Agropecuarista 2 3
6,3% 9,1%
Economista 0 1
,0% 3,0%
Empresário 5 5
15,6% 15,2%
Engenheiro civil 1 1
3,1% 3,0%
Fazendeiro 1 0
3,1% ,0%
Médico 2 1
6,3% 3,0%
Professor 3 1
9,4% 3,0%
Outros 12 13
37,5% 39,4%
Total 32 33
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Ao analisarmos as profissões predominantes em cada espectro ideológico em


ambas as legislaturas, obtemos a seguinte divisão:
41

PT e PMDB (centro-esquerda): Apresentam advogados, agricultores,


profissionais liberais, empresários, médicos, professores e religiosos. É importante
salientar que os empresários e profissionais liberais em questão eram do PMDB. Não
há agropecuaristas ou fazendeiros, nem engenheiros civis.
PFL e PSDB (centro-direita): Apresentam advogados, agropecuaristas,
fazendeiros, empresários, engenheiros civis, médicos, professores e religiosos, além de
um agricultor. É importante frisar que o agricultor em questão foi eleito pelo PFL, partido
mais a direita entre os analisados.
A literatura sobre o tema aponta para uma predominância de professores em
partidos de centro-esquerda, fato que não é recorrente para este grupo da elite
paranaense, inclusive, aparecendo professores também nos partidos de centro-direita.
Entretanto, é importante ressaltar que nos partidos de centro-esquerda não aparecem
agropecuaristas ou fazendeiros e os empresários pertencem ao PMDB, partido mais ao
centro do que o PT.

5.3 - TRAJETÓRIA POLÍTICA

Quanto aos cargos em entidades civis, tanto na legislatura eleita em 1998,


quanto na eleita em 2002, prevalecem aqueles que ocuparam cargos em sindicatos de
trabalhadores, com um significante aumento desse grupo. Entretanto, na legislatura de
2002, há também um aumento na quantidade de deputados que passaram por cargos
em sindicatos patronais, de 12,5% para 15,2%. Além disso, na segunda legislatura não
há nenhum caso de deputado que tenha ocupado cargo em movimentos sociais
populares. Em ambas as legislaturas, a média de tempo nos cargos dessas instituições
é de 1 a 5 anos.
42

QUADRO 9 - 1º CARGO EM ENTIDADE CIVIL POR LEGISLATURA


1º cargo em entidades civis Legislatura
1998 2002
Associações comerciais 3 3
9,4% 9,1%
Associações de 1 0
caridade
3,1% ,0%
Associações políticas 3 3
9,4% 9,1%
Entidades religiosas 1 1
3,1% 3,0%
Movimentos sociais 1 0
populares
3,1% ,0%
Sindicatos de 6 8
trabalhadores
18,8% 24,2%
Sindicatos patronais 4 5
12,5% 15,2%
Sociedades ruralistas 3 3
9,4% 9,1%
Não exerceu cargos em 10 10
entidades civis
31,3% 30,3%
Total 32 33
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Ao analisarmos os cargos ocupados em direção partidária, percebemos que não


houve diferença entre a primeira e a segunda legislaturas analisadas. Em ambas, 12
deputados foram parte das direções partidárias, cerca de 37% em cada legislatura.
Entre os deputados eleitos em ambas as legislaturas, a maioria ocupou seus primeiros
cargos de direção partidária em esferas municipal e estadual, permanecendo nestes
cargos, em média, de 1 a 4 anos.
Nas duas legislaturas aqui analisadas, é possível perceber que os deputados
possuem, em sua grande maioria, experiência política prévia, sendo que os deputados
eleitos para a legislatura de 2002 apresentam uma porcentagem ainda maior de
experiência prévia (81,8%), em relação aos eleitos em 1998 (71,9%), o que demonstra
uma maior profissionalização desta elite política. Também é importante salientar que
dos 32 deputados de 1998, 21 se reelegeram em 2002, ou seja, 63,6% dos deputados
43

da legislatura de 2002 estavam na CD já desde, pelo menos, a legislatura anterior.


Esse fato pode ser explicativo do aumento relativo na experiência política dos
deputados da legislatura de 2002.
A porcentagem de eleitos pela primeira vez aumentou levemente em 2002,
passando de 9 (28,1%) para 10 casos (30,3%), ou seja, mantêm-se a proporção de
quase 1/3 dos deputados eleitos sendo novatos na CD. Em 1998, a maioria dos
deputados havia exercido 1 cargo antes de ser eleito deputado federal. Em 2002, a
maioria exerceu 2 cargos, o que confirma a maior experiência prévia deste grupo em
relação à legislatura de 1998.

QUADRO 10 – QUANTIDADE DE CARGOS POR LEGISLATURA


Quantidade de cargos Legislatura
1998 2002
Nenhum 9 6
28,1% 18,2%
Um 7 9
21,9% 27,3%
Dois 7 6
21,9% 18,2%
Três 3 6
9,4% 18,2%
Quatro 3 3
9,4% 9,1%
Cinco 3 3
9,4% 9,1%
Total 32 33
100,0% 100,0%
Fonte: Idem

Os cargos ocupados pelos deputados antes de entrarem na CD variam entre o


administrativo, legislativo, executivo e judiciário em níveis municipal, estadual e federal.
Os primeiros cargos ocupados na carreira política da grande maioria dos deputados
eleitos em ambas as legislaturas foram no legislativo municipal (34,4% em 1998 e
42,4% em 2002), sendo que a maioria dos cargos ocupados foi exercida na própria
capital do estado. A porcentagem daqueles que ocuparam mais de um cargo político
antes de ser eleito deputado federal é de 50%, na legislatura eleita em 1998, e de
54,5%, na eleita em 2002.
44

Ao compararmos o último cargo ocupado antes da eleição para a CD, levamos


em conta, inclusive, aqueles que exerceram apenas um cargo antes de terem se
tornado deputados federais. Para isso, utilizamos o primeiro cargo também para análise
de último cargo nos casos em que o político exerceu apenas um cargo antes de ser
eleito para a CD. Este padrão possibilita analisar quais cargos são mais importantes na
socialização política dos deputados federais do Paraná. Nesse sentido, percebemos
que os cargos do poder executivo municipal foram predominantes, seguidos do
legislativo municipal e do legislativo estadual em ambas as legislaturas analisadas. Nos
dois casos, os cargos são predominantemente exercidos na capital, Curitiba.

QUADRO 11 - PRIMEIRO E ÚLTIMO CARGO POLÍTICO POR LEGISLATURA


1998 2002
Primeiro Cargo Legislativo municipal Legislativo municipal
(34,4%) (42,4%)
Executivo municipal Executivo municipal e
(15,6%) administrativo estadual
(12,1%)
Administrativo estadual Executivo estadual
(9,4%) (9,1%)

Último Cargo Executivo municipal Legislativo e executivo


(28,1%) municipal
(24,2%)
Legislativo municipal Legislativo estadual
(15,6%) (12,1%)
Legislativo estadual Administrativo e executivo
(12,5%) estadual
(6,1%)
Fonte: Idem

Quanto ao tempo de carreira prévia, também em ambas as legislaturas


percebemos certa regularidade. A maioria esteve de 2 a 6 anos em cargos políticos
antes de entrar na CD e em uma média geral, a grande maioria exerceu cargos políticos
por até 10 anos antes de ser eleito deputado federal.
Quanto à mudança de partido, percebemos que os deputados eleitos em 2002
mudaram menos de partido antes de entrarem na CD do que os eleitos em 1998. Nesta
primeira legislatura, 15,6% dos deputados nunca havia mudado de partido, enquanto na
legislatura eleita em 2002 esse número sobe para 24,2%. Esse fato pode estar
relacionado com o aumento significativo da bancada do PT, partido que, historicamente,
45

apresenta grande fidelidade partidária. É importante frisar que aqueles que declararam
seu primeiro partido na trajetória política como sendo o PT sobe de apenas 6,3%, em
1998, para 18,2%, em 2002. Mas também, ao compararmos aqueles que mudaram de
partido mais de 4 vezes antes de entrarem na CD, percebemos que, entre os
deputados eleitos em 1998, 18,8% havia mudado de partido mais do que 4 vezes,
enquanto para os eleitos em 2002 esse número cai para 12,1%. Assim, vemos que os
deputados da legislatura de 1998 mudaram mais vezes de partido do que os eleitos em
2002.

5.4 - IDEOLOGIA COMO FATOR DE MUDANÇA NO PERFIL DA ELITE POLÍTICA

Ao analisarmos os perfis das legislaturas de 1998 e 2002 e, ao fazermos o


exercício de comparação entre os deputados federais do Paraná eleitos nesses
períodos, nos colocamos a questão de se houve ou não uma popularização da elite
política na eleição de 2002.
Com a eleição majoritária sendo vencida pelos partidos de centro-esquerda, a
bancada de centro-esquerda na CD aumentou significativamente, sendo que a bancada
de centro-direita foi reduzida pela metade em relação à legislatura de 1998 e a bancada
de centro-esquerda cresceu cerca de 60%. Neste sentido, podemos ver claramente que
a mudança no poder executivo alterou a composição da bancada paranaense, ou seja,
há uma tendência a que os votos dados ao executivo se reflitam no poder legislativo,
em nosso caso específico, nos votos aos deputados federais, já que a mudança na
bancada paranaense na CD acompanha a mudança ideológica vista no poder
executivo, com a eleição de Lula da Silva e Roberto Requião.
Vemos ainda que a legislatura de 2002 se diferenciou da legislatura de 1998, no
que diz respeito ao perfil de seus membros, em alguns aspectos muitos importantes.
Em primeiro lugar, a questão de gênero se faz essencial, ao pensarmos que, pela
primeira vez na história do Paraná, foram eleitas mulheres para o cargo de deputadas
federais. Mesmo que a inserção destas ainda seja ínfima em relação ao percentual de
46

mulheres na sociedade paranaense e brasileira, houve uma ruptura importante no pleito


de 2002 em relação à participação da mulher nas instâncias de decisão. Ruptura essa
que não obteve seguimento nas eleições de 2006, em que novamente não foram eleitas
mulheres para a CD pelo Paraná.
Outra alteração interessante no pleito de 2002 em relação a 1998 diz respeito à
cidade em que os deputados eleitos nasceram. Apesar de Curitiba ainda ser a principal
cidade da qual os membros dessa elite provêm, houve uma queda no percentual de
deputados nascidos na capital e um aumento no número de deputados provenientes de
outras cidades do estado. Entretanto, o grau de localismo dos deputados eleitos ainda é
muito alto no que diz respeito ao estado de nascimento, visto que a grande maioria dos
eleitos é nascida no próprio Paraná.
O índice de deputados eleitos que já possuíam tradição política na família é
abaixo da média encontrada para a CD como um todo. No pleito de 2002, essa
porcentagem caiu em relação ao pleito de 1998, não chegando nem a 10% dos
deputados eleitos para a legislatura de 2002, sendo um indicativo de abertura desta
elite.
Quanto à escolaridade, é notório que os deputados federais do Paraná, assim
como é recorrente para diversos outros grupos de elites políticas, possuem um nível
muito alto de escolaridade. Nesse aspecto temos uma constatação oposta a nossa
hipótese, pois a legislatura de 2002 se mostrou, inclusive, com maior porcentagem de
deputados eleitos com ensino superior do que a legislatura de 1998. Podemos dizer
que, neste grupo da elite política paranaense, o alto grau de escolaridade é
predominante em ambas as legislaturas e não há, aparentemente, uma tendência de
abertura. Os bacharéis em direito também continuam sendo a maioria em ambas as
legislaturas, entretanto, os formados em medicina diminuíram à metade em 2002,
aumentando a ocorrência de engenheiros civis e economistas.
No que diz respeito às profissões, os empresários e advogados continuam sendo
maioria, inclusive com um aumento na ocorrência de advogados. Em 1998, depois dos
advogados e empresários, encontramos professores como terceira profissão mais
exercida. Em 2002, a profissão mais encontrada, depois de advogados e empresários,
é a de agropecuarista. Os professores são, portanto, substituídos pelos agropecuaristas
47

como terceira profissão mais recorrente, fato que também não confirma a hipótese de
uma popularização desta elite em 2002. Ou seja, a inferência de Rodrigues (2006) para
a CD apontando para uma maior incidência de professores e menos advogados na
legislatura de 2002 novamente demonstra a elite paranaense como exceção.
Apesar de ser recorrente o fato de que os políticos eleitos por partidos de centro-
esquerda possuem uma base política adquirida em movimentos sociais populares, não
existe essa incidência no grupo paranaense eleito para a CD em 2002, apesar do
aumento da bancada de centro-esquerda nesse período. Entretanto, a porcentagem
daqueles que exerceram cargos em sindicatos de trabalhadores aumenta, porém, no
mesmo sentido, a porcentagem daqueles que estiveram em cargos nos sindicatos
patronais também aumenta em 2002. Esse fato demonstra que, mesmo com o aumento
significativo da bancada de centro-esquerda, o perfil de carreira em entidades civis não
se popularizou tanto quanto o esperado e como apontado por Rodrigues para a CD
como um todo.
Quanto à experiência política antes de serem eleitos deputados, o pleito de 2002
elegeu mais deputados experientes, a maioria deles exerceu dois cargos políticos antes
de entrar na CD, enquanto que, em 1998, a maioria havia exercido um cargo político.
Quanto à mudança de partido, percebemos que os deputados eleitos em 2002
mudaram menos de partido antes de entrarem na CD do que os eleitos em 1998. Esse
fato também é característico de partidos de centro-esquerda, em especial do PT,
partido que, historicamente, apresenta grande fidelidade partidária e pode ser visto
como uma conseqüência do aumento da bancada de centro-esquerda em 2002.
Assim, concluímos com as comparações destas duas legislaturas, que houveram
sim diversas mudanças significativas no perfil dos deputados federais, entretanto, essas
mudanças não foram tão amplas no sentido de uma popularização desta elite, como era
o esperado ao compararmos com outros estudos feitos no mesmo sentido para a CD
como um todo.
48

Quadro 12: Origem social, formação e trajetória política por Legislatura


Item no banco 1998 2002
Origem Quantidade de mulheres nenhuma 2 mulheres
Social Nascidos em Curitiba 18,8% 12,1%
Família Política 12,5% 9,1%
Formação Curso Superior 59,4% 63,7%
Curso de Direito 20% 20%
Curso de medicina 6,3% 3,0%
Curso de economia 3,1% 6,1%
Curso de engenharia civil 6,3% 12,1%
Professores 9,4% 3,0%
Advogados 15,6% 18,2%
Agricultor 3,1% 6,1%
Fazendeiros 3,1% 0%
Empresários 15,6% 15,2%
Trajetória Cargos ent. Civis 40% 40%
Política Sindicato trabalhadores 18,8% 24,2%
Associações ruralistas 9,4% 9,1%
Sindicatos patronais 12,5% 15,2%
Direção partidária 37% 37%
Experiência política prévia 71,9% 81,8%
Quantidade de cargos 1 cargo 2 cargos
Novatos na CD 28,1% 30,3%
1 partido no período 15,6% 24,2%
4 partidos no período 18,8% 12,1%
Fonte: idem
49

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Político é tudo igual?”

Após estas comparações, voltamos à nossa hipótese inicial e nos perguntamos


novamente se, a mudança de um regime militar para um regime democrático, implica
em mudanças no perfil dos deputados eleitos. Questiona-se, ainda, se na democracia,
o perfil dos deputados federais do Paraná, eleitos durante os governos de centro-
direita, como em 1998, é diferente do perfil daqueles que foram eleitos junto com o
poder executivo de centro-esquerda, como em 2002.
Percebemos, pelas comparações feitas neste trabalho, que existem diferenças
muito importantes e que algumas diferenças são mais significativas do que outras.
Poderíamos dizer, ao tentar responder a questão do título deste trabalho que, a
princípio, os políticos analisados desta elite não são todos iguais. Nesse sentido,
apontamos para o fato de que as diferenças encontradas nos perfis dos deputados
federais do Paraná são mais significativas quando consideramos a mudança no regime
político do que quando comparamos as mudanças em relação às eleições de 1998 com
as de 2002. Visto que, as mudanças institucionais, neste caso, são também mais
significativas, já que houve uma mudança completa de regime, enquanto que, no
segundo caso comparado, a mudança se dá dentro das mesmas regras institucionais e
dentro do regime democrático.
Na democracia percebemos que há uma abertura significativa em vários
aspectos. São eleitas mulheres para o cargo de deputadas federais, o que demonstra
um tímido início de abertura desta elite para as chamadas “minorias” sociais, que são
normalmente excluídas das instituições políticas formais, apesar de representarem já
uma maioria de eleitores. Temos menos deputados com tradição política na família, ou
seja, os políticos eleitos para esta elite estão tendo acesso aos cargos sem a
necessidade de uma inserção prévia através de famílias tradicionais na esfera política
do estado. Os políticos do interior do estado passam a ter mais espaço nesta elite, o
50

que retira o eixo das decisões políticas de Curitiba e permite que as outras cidades
principais do estado sejam representadas na elite política federal e se coloquem
também como foco das decisões tomadas por esta elite.
O padrão de socialização foi modificado de forma a tornar esta elite mais aberta,
com uma porcentagem menor de deputados com curso superior, ou seja, ainda é difícil
que um deputado federal se eleja sem ter cursado uma faculdade, entretanto esta
possibilidade se tornou maior no período democrático. A questão aqui não é que ter um
curso superior seja um aspecto negativo para um deputado, mas sim, que a
discrepância entre a elite e a sociedade tem diminuído, haja vista que os índices de
graduados vêm aumentando na sociedade e diminuindo na elite, o que aponta para
uma tendência de diminuição da lacuna entre elite e sociedade, ao menos para o nosso
caso específico. Essa reflexão também é válida ao pensarmos sobre os formados em
direito e na UFPR. Novos cursos superiores ganham espaço e o “domínio dos
magistrados” (Carvalho, 2003) vem diminuindo com a democratização. Esse fato é,
provavelmente, conseqüência da maior oferta de diferentes cursos superiores e em
diversas instituições no estado (privadas e estaduais), o que demonstra uma maior
heterogeneidade de nossa elite no período democrático, além de podermos refletir que
o perfil geral desta elite está acompanhando a dinâmica das mudanças sociais. No
mesmo sentido, novas profissões aparecem em nossa elite, principalmente
empresários, economistas e engenheiros. Isto, unido à grande diminuição no número
de advogados, possibilita ver a maior diversificação no padrão profissional desta elite.
Muitos dos que declaram terem cursado direito como curso superior, não declararam a
profissão de advogado, fato que pode apontar para a opção dos agentes de cursarem
direito já com vistas a uma carreira política ou, já estando na política, cursarem direito
para agregar esta socialização às suas trajetórias.
Como era esperado, já de antemão, pela lógica dos regimes políticos aqui
estudados, o aumento da participação dos deputados em associações e sindicatos de
diversos tipos, bem como em direções partidárias, se mostra evidente, já que no
período do regime militar estas organizações políticas e sociais eram duramente
reprimidas. No período democrático, elas surgiram novamente, se tornaram conhecidas
e se expandiram. Assim, no período democrático é regra, e não exceção, que um
51

deputado tenha passado por, ao menos, uma dessas organizações antes de ser eleito
deputado federal. No período do regime militar, quase ¾ dos deputados não havia
atuado em organizações sociais, enquanto que, no período democrático, menos da
metade não teve este tipo de participação.
Outro fator que aponta para um perfil mais aberto desta elite política é que mais
deputados se elegeram sem nenhuma experiência política antes de ingressarem na
CD, ou seja, não passaram por outros cargos políticos, ascendendo diretamente à
Câmara, o que, no período militar, era muito mais difícil de ocorrer. Da mesma forma,
mesmo aqueles que exerceram cargos políticos antes de chegarem à CD tiveram uma
carreira política mais curta, ou seja, esta elite é menos profissionalizada no período
democrático. Isto não é, a priori, nem positivo nem negativo. No entanto, aponta para
deputados com carreiras mais curtas, ou mesmo sem carreira política prévia (outsiders),
o que sugere uma elite política mais aberta em seu recrutamento. Neste sentido, o que
pode ser considerado conseqüência da maior abertura aos outsiders, é que, apesar das
diversas mudanças no sistema eleitoral brasileiro neste período, há uma baixa
incidência de troca de partidos. É importante salientar que a grande maioria dos
deputados deste período mudou de partido até 3 vezes antes de ser eleito para a CD.
Considerando a relativa instabilidade do sistema partidário brasileiro, principalmente
nos primeiros anos do regime democrático, isto não pode ser considerado um alto
índice de troca partidária.
Há modificações no perfil político dos deputados eleitos no regime democrático
que apontam para um sistema mais aberto de recrutamento, além de outros atributos
serem mais valorizados em relação ao período militar. Persiste a necessidade de
comparações com estudos de outras elites regionais, além de uma continuidade no
levantamento de dados sobre esta elite específica. Mas torna-se evidente que a
abertura do regime militar e a consolidação do regime democrático são de extrema
importância para uma elite política mais aberta, representativa e menos elitizada.
Assim, estar em um regime democrático torna a elite política, ao menos a analisada
neste trabalho, mais popularizada, ou seja, um pouco mais representativa da sociedade
que a elege. Apesar de ainda possuir atributos que, claramente, a maioria da população
não possui, ou seja, têm acesso privilegiado aos recursos sociais, econômicos e
52

políticos, como nos aponta Putnam (1976), entretanto, o perfil geral dos deputados
federais do Paraná tende a ser menos elitizado no período democrático.

Quando analisamos o impacto da mudança do espectro ideológico no perfil desta


elite, percebemos que as alterações são menores. Além disso, algumas das alterações
percebidas são no sentido inverso ao esperado, ou seja, em alguns aspectos a elite
política, ao invés de se popularizar em 2002, se tornou ainda mais elitizada. Alguns
aspectos são importantes para pensarmos a influência da mudança no espectro
ideológico no poder executivo sobre o perfil legislativo. O mais importante deles é, sem
dúvida, o grande aumento da bancada dos partidos de centro-esquerda, que demonstra
que as mudanças no poder executivo alteram também o recrutamento para o poder
legislativo.
É significativo o fato de as duas mulheres eleitas em todo o período democrático
entraram justamente na legislatura de 2002 e ambas pelo PT. Predomina ainda, no
perfil dos deputados eleitos pelo Paraná em 2002, a cidade de Curitiba como local de
nascimento destes deputados. No entanto, esta incidência é menor do que a
encontrada na legislatura de 1998. Também aumenta o número de deputados nascidos
no interior do estado. O percentual de deputados eleitos com tradição política na família
também diminuiu em 2002 em relação à legislatura de 1998, apontando para o fato de
que os deputados eleitos têm, cada vez menos, a necessidade de inserção através de
vínculos familiares para se elegerem deputados federais pelo Paraná. Os deputados
eleitos em 2002 trocaram menos de partido do que os eleitos em 1998, o que,
provavelmente, decorre do aumento da bancada de centro-esquerda, principalmente do
PT, que, historicamente, apresenta uma taxa de fidelidade partidária muito alta.
O resultado de tais comparações aponta para uma mudança interessante no
perfil da elite política, com uma abertura significativa em alguns aspectos, como gênero,
ideologia, local de nascimento, tradição política na família e fidelidade partidária.
Provavelmente, essas mudanças se dão em decorrência do panorama peculiar das
eleições de 2002, com a mudança ideológica tanto no poder executivo federal quanto
no estadual.
53

Entretanto, em pontos que são apontados como principais na divisão dos perfis
de políticos de esquerda e de direita, tais como: nível de escolaridade, profissão,
incidência de advogados e de formados em direito, experiência política e atuação em
organizações sociais - as mudanças no sentido de uma popularização desta elite não
ocorrem. O caso dos deputados federais eleitos pelo Paraná em 2002 parece ser um
caso excepcional neste sentido. O perfil geral desta elite em 2002 apresenta um nível
mais alto de escolaridade, ou seja, mais deputados desse período possuíam curso
superior em comparação com a legislatura de 1998, o que demonstra que essa elite
política ainda é muito pouco representativa da população como um todo. É uma
exceção que um político sem curso superior se eleja como deputado federal pelo
Paraná.
No mesmo sentido, ao contrário do que o esperado anteriormente, não houve, na
legislatura de 2002, uma diminuição dos deputados formados em direito, mas sim uma
estabilização dessa porcentagem. Houve, no entanto, um aumento de outros cursos
superiores, como economia e engenharia civil, bem como a diminuição dos formados
em medicina, o que sugere a ascensão de outras áreas de conhecimento que não as
tradicionais áreas do direito e da medicina e a conseqüente representatividade maior
das diversas profissões emergentes hoje em nossa sociedade.
O perfil das profissões não se altera muito de uma legislatura para outra. Na
legislatura de 1998 as profissões de advogados e empresários seguem sendo as mais
importantes na legislatura de 2002, aumentando inclusive a porcentagem de advogados
(direito como profissão de fato, não apenas como curso de formação). Em 2002
percebemos uma leve mudança nas outras profissões mais importantes. Em 1998 eram
as de professor, agropecuaristas, contadores e médicos. Na legislatura eleita em 2002
aparecem os agropecuaristas, comerciantes, agricultores, contadores e engenheiros
agrônomos. É muito importante notar que, apesar da profissão de professor ser
considerada predominante em partidos de centro-esquerda, a porcentagem dos que
declaram esta profissão se mantém estável em ambos os períodos.
A trajetória em movimentos sociais dos deputados de centro-esquerda, que se
espera que seja significativo na legislatura de 2002 pelo predomínio desta bancada,
também não se verifica. Em 2002, nenhum dos deputados havia ocupado algum cargo
54

neste tipo de organização. No entanto, houve um aumento significativo de deputados


que têm trajetória em sindicatos de trabalhadores, bem como um certo aumento de
deputados que ocuparam cargos em sindicatos patronais.
Os deputados eleitos em 2002 também são mais experientes do que os eleitos
em 1998, ou seja, ocuparam mais cargos políticos antes de se elegerem para a CD. Isto
pode ser decorrência do número de deputados reeleitos no período. Em 2002, a maioria
dos deputados exerceu 2 cargos políticos antes de ingressar na CD, enquanto os
eleitos em 1998 exerceram, em sua maioria, apenas 1 cargo.
Temos, assim, um panorama que aponta algumas mudanças importantes no
perfil deste grupo da elite política paranaense. Mas também temos dados que
demonstram que, em certos aspectos, não houve a popularização esperada para o
grupo em questão, principalmente em pontos fundamentais para este tipo de análise,
como nas questões de escolaridade e profissão, dificultando a possibilidade de
conclusões no sentido de uma popularização desta elite política em 2002. Assim, para o
caso dos deputados federais paranaenses eleitos em 1998 e 2002, algumas das
constatações de popularização dos deputados federais desta segunda legislatura na
CD (Rodrigues, 2006) não se verificam, tornando o Paraná uma exceção conservadora
no perfil de sua elite, apesar do grande aumento dos deputados de centro-esquerda
eleitos nesse período. Talvez, essa dificuldade se dê também pelo reduzido espaço de
tempo analisado, já que uma análise, considerando as duas legislaturas sob o governo
de centro-direita (1995 a 2002) e as duas sob o governo de centro-esquerda (2003 a
2010), pudesse apontar maiores diferenças entre estes perfis. Entretanto, procurou-se
ser coerente com o objeto proposto para esta pesquisa, principalmente em comparação
com o trabalho realizado para a CD como um todo.
Dizer que o perfil dos deputados de centro-esquerda não difere de forma radical
do perfil de centro-direita, e que o perfil geral da legislatura sofreu poucas alterações
com as mudanças de espectro ideológico do poder executivo e das próprias bancadas
do legislativo, não significa, necessariamente, dizer que a atuação política é a mesma,
nem que é equivalente eleger partidos de centro-esquerda ou de centro-direita.
Buscamos entender apenas quais são os filtros de recrutamento para os grupos da elite
política do Paraná, em especial para a eleição à CD. Nessas duas legislaturas em
55

questão, a partir da análise de nossos dados, percebemos que não é possível falar de
uma popularização da elite política.

É importante frisar que buscamos ver o perfil geral da elite em questão.


Admitamos que existam diversos casos que se configuram como exceções a este
padrão. No entanto, tomamos o cuidado de não tentar explicar os casos específicos
pelo padrão geral, ou vice versa. Assim, nos atemos às comparações de perfis gerais,
divididas pelos períodos históricos selecionados. A hipótese inicial que colocamos se
confirma em parte, pois percebemos que as modificações no perfil da elite política
federal do estado do Paraná são muito significativas ao analisarmos as diferenças de
regimes políticos, mas que, ao contrário de nossa hipótese, a mudança no espectro
ideológico dos poderes executivos federais e estaduais não altera de forma incisiva o
perfil dos deputados federais paranaenses. Há diferenças em aspectos fundamentais,
entretanto, os principais aspectos que normalmente diferenciam os perfis de centro-
direita dos perfis de centro-esquerda não apresentaram grandes modificações entre as
legislaturas de 2002, em relação à de 1998.
Desta forma, conclui-se que, para a elite política federal do Paraná, a mudança
de regime político foi fundamental para a abertura e para a popularização desse grupo,
mas que, no entanto, apesar das eleições de 2002 terem modificado a composição da
bancada paranaense na CD, essa modificação não apontou para mudanças no sentido
de uma popularização desta elite em 2002.
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ANEXOS

ANEXO 1: ITENS DO BANCO DE DADOS

Bloco de No. Do Itens do banco de dados


questões item
Origem 1 Deputado
Social 2 Gênero
3 Ano de nascimento
4 Cidade nascimento
5 Estado nascimento
6 Nome do pai
7 Profissão do pai
8 Nome da mãe
9 Família política
Trajetória 10 Escolaridade
Social 11 Curso Superior
12 Instituição em que se formou
13 Ano em que se formou
14 Foi do Centro/Diretório Acadêmico
15 Profissão (até 5)
16 Carreira em entidades civis antes da primeira entrada na CD
17 Cargos em entidades civis (até 3)
18 Tempo de atividade em entidades civis (antes da CD)
Trajetória 19 Direção partidária antes da primeira entrada na CD
Política 20 Cargos de direção partidária (até 3)
21 Tempo de carreira em direção partidária
22 Carreira pública/política prévia
23 Primeiro Cargo
24 Cidade do primeiro cargo
25 Idade no primeiro cargo
26 Segundo Cargo
27 Cidade do segundo cargo
28 Terceiro Cargo
29 Cidade do terceiro cargo
30 Quarto Cargo
31 Cidade do quarto cargo
32 Último cargo antes da primeira entrada na CD
33 Cidade do último cargo
34 Idade no último cargo ocupado antes de entrar na CD
35 Quantidade de cargos ocupados
36 Tempo de carreira prévia
37 Idade no momento da primeira entrada na CD
38 Número de legislaturas no período
39 Ano da primeira legislatura
40 Dinâmica das legislaturas
41 Número de partidos no período
42 Partidos (até 8)
43 Ocupante da mesa
44 Membro de comissões
45 Líder de bancada
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58

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