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Avaliação de política nacional

OPINIÃO OPINION
de promoção da saúde

Evaluation of national policy


of health promotion

Gastão Wagner Campos 1


Regina Benevides de Barros 1
Adriana Miranda de Castro 1

Abstract The article discuss health promotion Resumo O artigo discute a promoção da saúde
as an important strategy to encounter health como uma estratégia importante para o enfrenta-
problems in contemporary and to improve the life mento dos problemas sanitários no contemporâ-
quality of population in its indisputable relation neo e a melhoria da qualidade de vida da popu-
with the ethical commitment of Brazilian health lação em sua relação indiscutível com os compro-
policy and system. It also presents the bases of Na- missos éticos da política e do sistema de saúde
tional Policy of Health Promotion which Ministry brasileiros. Nele também são apresentadas as ba-
of Health is building. ses da Política Nacional de Promoção da Saúde
Key words Health promotion, Public policies, que o Ministério da Saúde vem construindo.
Management, Health system Palavras-clave Promoção da saúde, Políticas
públicas, Gestão, Sistema de saúde

1 Ministério da Saúde.
Esplanada dos Ministérios,
Bl. G, Secretaria Executiva.
Edifício Sede, 3o andar.
Brasília DF
gastao.wagner@saude.gov.br
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Campos, G. W. et al.

Opinião. É interessante que nossas reflexões so- A definição da saúde como resultado dos
bre a promoção da saúde encontrem-se aqui, modos de organização social da produção, co-
neste espaço da Revista Ciência & Saúde Coleti- mo efeito da composição de múltiplos fatores,
va. Isto nos permite liberdade de expressão e, exige que o Estado assuma a responsabilidade
ao mesmo tempo, precisão no uso das palavras por uma política de saúde integrada às demais
e conceitos. políticas sociais e econômicas e garanta a sua
Começamos, então, desviando-nos da pala- efetivação. Ratifica, também, o engajamento do
vra avaliação, presente no título do texto que setor saúde por condições de vida mais dignas
nos foi pedido e destacamos a palavra opinião e pelo exercício pleno da cidadania.
para transformar avaliação em provocação. O setor sanitário diante do problema – ne-
Queremos, portanto, provocar o debate no cessidades de saúde da população/insuficiência
campo da promoção da saúde. do conceito sob o marco biomédico – amplia seu
Diferente daquilo que poderia nos remeter olhar e seu espectro de ações. Esse processo de
a noções já bastante conhecidas e estabilizadas ampliação nos força à construção de outras pos-
quando falamos de promoção da saúde, quere- turas, diretrizes e propostas que se integrem des-
mos nos remeter a entendimentos, definições, de a formação dos profissionais de saúde até a
posições teórico-políticas múltiplas, que impli- efetivação das práticas de cuidado à população,
cam a construção de práticas, de ações em saú- passando pelo comprometimento dos gestores.
de distintas e com maior amplitude. A promoção da saúde é um campo teórico-
Não vamos, entretanto, explorar as diversas prático-político que em sua composição com
linhas ou eixos de promoção da saúde. Quere- os conceitos e as posições do Movimento da
mos é destacar a mobilidade dos conceitos, Reforma Sanitária delineia-se como uma polí-
seus sucessivos deslocamentos na possibilidade tica que deve percorrer o conjunto das ações e
sempre presente de se atualizarem nas práticas projetos em saúde, apresentando-se em todos
concretas de saúde. Mas, para que o fazemos? os níveis de complexidade da gestão e da aten-
Para fugir do perigo de circularmos indefi- ção do sistema de saúde. Tal política deve des-
nidamente na busca pela pureza dos conceitos locar o olhar e a escuta dos profissionais de sa-
e pensarmos numa Política Nacional de Pro- úde da doença para os sujeitos em sua potência
moção da Saúde que possa recolocar a questão de criação da própria vida, objetivando à pro-
da promoção da saúde, construindo outras fer- dução de coeficientes crescentes de autonomia
ramentas de produção da saúde. durante o processo do cuidado à saúde. Uma
Para falar da promoção da saúde no Brasil política, portanto, comprometida com serviços
que é indissociável da reflexão sobre a criação e ações de saúde que coloquem os sujeitos –
e a luta contínua que travamos pela melhoria usuários e profissionais de saúde –, como pro-
do Sistema Único de Saúde. Falar da promo- tagonistas na organização do processo produti-
ção da saúde no Brasil é também indissociável vo em saúde, entendendo que aí se produz saú-
do enfretamento de uma realidade de iniqüi- de, sujeitos, mundo.
dades históricas de grandes proporções, que Nesse sentido, só podemos propor uma Po-
colocam desafios cotidianos não só ao setor sa- lítica Nacional de Promoção da Saúde que seja
úde, mas a todos aqueles que constroem políti- transversal, que opere articulando e integrando
cas públicas. as várias áreas técnicas especializadas, os vários
Falar de promoção da saúde no Brasil é níveis de complexidade e as várias políticas es-
lembrarmos e exercitarmos nossa postura an- pecíficas de saúde.
tropofágica. É perguntar, tendo em vista nosso Contudo, os desafios colocados para a saú-
compromisso ético com o cuidar da saúde de de pública no contemporâneo e, em especial,
sujeitos e coletividades, como pensamos pro- no Brasil, como por exemplo a violência, as do-
moção da saúde aqui e no que ela pode nos au- enças crônicas não transmissíveis, as doenças
xiliar na geração de outros modos de atenção e infectocontagiosas e o envelhecimento da po-
de gestão da saúde, de criação do viver e de ou- pulação, enfatizam a necessidade de pensarmos
tras realidades. modos de gestão e de construção das políticas
Nessa direção, começamos marcando o públicas, que envolvam outros atores.
ponto de comunicação mais óbvio entre a pro- A promoção da saúde é uma importante
moção da saúde e o Sistema Único de Saúde – resposta à medida que destaca ações interseto-
o conceito ampliado de saúde e aquilo que ele riais como estratégia de enfrentamento dos
implica. problemas quanto ao meio ambiente, à urbani-
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zação, à segurança alimentar e nutricional, ao tural e econômica de necessidades, hábitos e
desemprego, à moradia, ao uso de drogas líci- desejos e fragiliza os processos mais coletivos e
tas e ilícitas, etc. públicos de gestar a vida.
Entretanto, lembramos do cuidado que Dessa forma, trabalhamos pela autonomia
precisamos ter quando construímos caminhos dos sujeitos e coletividades e para estabelecer
para não os considerar soluções acabadas e de- possibilidades crescentes de que eles (e nós!)
finitivas. Assim, é importante que nos pergun- criem normas para suas vidas, formas de lidar
temos: de que se trata quando falamos de ações com as dificuldades, limites e sofrimentos, que
intersetoriais? Como podemos construí-las de sejam mais criativas, solidárias e produtoras de
maneira que signifiquem algo diferente que a movimento. Ao mesmo tempo, trabalhamos
soma de olhares sobre um objeto? para a criação de possibilidades de satisfação
Intersetorialidade é processo de construção de suas necessidades e desejos, possibilidades
compartilhada, em que os diversos setores en- de prazer. Porém, sabemos que tanto os proble-
volvidos são tocados por saberes, linguagens e mas quanto as respostas que provocam, tanto
modos de fazer que não lhes são usuais, pois os desejos quanto os modos de satisfazê-los,
pertencem ou se localizam no núcleo da ativida- expressam e se constituem em produções só-
de de seus parceiros. A intersetorialidade impli- cio-históricas.
ca a existência de algum grau de abertura em ca- Portanto, quando falamos de autonomia
da setor envolvido para dialogar, estabelecendo não estamos nos referindo a um processo de
vínculos de co-responsabilidade e co-gestão pe- escolhas unicamente individuais, a um exercí-
la melhoria da qualidade de vida da população. cio de vontade puro e simples, posto que todo
Porém, a intersetorialidade não deve ser o tempo estamos imersos numa rede de sabe-
pensada como uma estratégia única e/ou defi- res e poderes que constroem e destroem op-
nitiva a ser aplicada sobre os diferentes territó- ções, que abrem e fecham caminhos, que liber-
rios e populações. Ao contrário, ela deve res- tam e constrangem escolhas.
ponder às necessidades de saúde de uma coleti- No contemporâneo, a rede de saberes e po-
vidade, mobilizando os setores necessários pa- deres que construímos e na qual nos construí-
ra isso e, principalmente, envolvendo a popula- mos quando colocada à serviço do capital cons-
ção no percurso do diagnóstico da situação à titui desejos que nunca podem ser satisfeitos
avaliação das ações implantadas. num fluxo de consumo contínuo, gerando um
Aliás, entendemos que é na mobilização so- modo compulsivo de se relacionar com a vida.
cial, no estímulo e fortalecimento dos movi- Tal modo produz graves riscos à saúde indivi-
mentos sociais; na elaboração, na implantação dual e coletiva, exacerbando um processo em
e na avaliação das políticas públicas que pode- que as escolhas são marcadas pelo individualis-
mos trabalhar pela melhoria da qualidade de mo, competitividade e fissura ininterrupta.
vida, uma vez que estaremos ampliando a dis- Nesse quadro, a autonomia implica neces-
cussão sobre a cidadania e o respeito aos direi- sariamente a construção de maiores capacida-
tos constitucionais, trabalhando com o reco- des de análise e de co-responsabilização pelo
nhecimento e o respeito à diversidade existente cuidado consigo, com os outros, com o ambi-
em nosso país. ente; enfim, com a vida. Para tanto, uma Políti-
O fortalecimento dos movimentos sociais ca Nacional de Promoção da Saúde terá maior
nos leva a retomar a questão da autonomia e eficácia à medida que construa ações quanto
nela analisarmos um outro eixo da promoção aos modos de vida que apostem na capacidade
da saúde: os modos de viver. de auto-regulação dos sujeitos sem que isso
A questão dos modos de viver nos coloca signifique a retirada das responsabilidades do
num dilema que é próprio à vida: como nos Estado quanto às condições de vida e, ao mes-
conduzirmos no limite sobreviver/arriscar-se, mo tempo, opere na formulação de legislações
que escolhas realizarmos no limite precau- que dificultem a exposição às situações de ris-
ção/excitação. Como dilema não tem solução co, reduzindo a vulnerabilidade da população.
única. Existem várias e sempre parciais possi- Apostamos, pois, na articulação dos concei-
bilidades de respondê-lo. Contudo, para en- tos de promoção da saúde e de redução de da-
contrar saídas devemos nos afastar de um certo nos para criarmos outras maneiras de traba-
modo de pensar que centrado na exacerbação lhar entre o respeito às opções individuais e o
da competitividade e na produção de culpas compromisso com a saúde coletiva. Pensar em
desconsidera a produção social, histórica, cul- redução de danos é pensar num modo de lidar
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Campos, G. W. et al.

com os riscos que não signifique abrir mão de preparar os profissionais de saúde que ali atu-
nossos conhecimentos técnico, clínico e epide- am para incluírem a população na construção
miológico e, concomitantemente, não signifi- e na gestão de seus projetos de saúde e proces-
que o aprisionamento da vida em mecanismos sos de trabalho, montando colegiados gestores
disciplinares e higienistas. que não se deixem burocratizar.
Então, retornamos ao compromisso da pro- No percurso que temos traçado para cons-
moção da saúde, que é o compromisso ético do truir uma Política Nacional de Promoção da
próprio Sistema Único de Saúde, com a integra- Saúde que seja efetiva e eficaz para a melhoria
lidade e a gestão participativa, uma vez que se da qualidade de vida da população avaliamos-
trata de estabelecer modos de atenção e gestão opinamos-provocamos o conceito de saúde
das políticas públicas em saúde que operem na que vem sendo formulado de tal modo a inten-
indissociabilidade entre a clínica e a promoção e sificar um modo mais proativo de operar a
entre necessidades sociais e ações do Estado. promoção da saúde. Assim, além da construção
Compreendemos que é fundamental na re- das reflexões e posturas temos buscado cons-
dução da vulnerabilidade e na melhoria da sua truir eixos temáticos e de atuação que, para
qualidade de vida da população estarmos em concluir nosso texto, desejamos mencionar
diálogo constante com os movimentos sociais, (Quadros 1 e 2).
conseguindo estabelecer formas de articulação
mais permanentes e sustentáveis na medida em Colaboradores
que nessa relação podemos multiplicar possi- GW Campos, RB Barros e AM Castro AM trabalharam
bilidades de enfrentamento dos problemas de na discussão teórica e na elaboração do artigo.
saúde pública e qualificar cada vez mais as
ações no Sistema Único de Saúde. Essa postura Artigo apresentado em 16/8/2004
ético-teórico-política se expressa no compro- Aprovado em 18/8/2004
misso em reorganizar os serviços de saúde e Versão final apresentada em 23/8/2004

Quadro 1
Promoção da saúde.
Eixos Temáticos Áreas de Trabalho Prioritárias Eixos de Atuação
Modos de viver √ Alimentação e nutrição √ Intersetorialidade
√ Atividade física e lazer √ Educação/Formação
√ Redução de danos decorrentes do consumo √ Comunicação
de álcool, tabaco e outras drogas √ Integralidade
√ Direito ao exercício autônomo da sexualidade
√ Respeito à diversidade sexual
√ Eqüidade de gênero, raça/etnia e cor
√ Envelhecimento

Condições e relações √ Melhoria dos ambientes de trabalho √ Intersetorialidade


de trabalho √ Redução da prevalência das doenças √ Educação/Formação
ocupacionais e dos acidentes de trabalho √ Comunicação
√ Serviços de saúde humanizados com ênfase √ Integralidade
na co-gestão dos processos de trabalho

Ambientes √ Violência √ Intersetorialidade


√ Redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito √ Educação/Formação
√ Convergência de agendas intersetoriais (Agenda 21, √ Comunicação
Desenvolvimento Territorial Sustentável, Planos √ Integralidade
Diretores das Cidades)
√ Saneamento e qualidade das águas
√ Saúde nas escolas (formação dos professores, sexualidade,
alimentação e nutrição)
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Quadro 2
Eixos de atuação.
Intersetorialidade • Estabelecer parcerias intersetoriais, inter-institucionais e com entidades
não-governamentais e da sociedade civil, visando:
• fomentar o estabelecimento de políticas públicas integradas em favor
da qualidade de vida;
• incentivar a participação social no processo de decisão e gestão das
políticas públicas em saúde;
• reforçar o papel e a importância do controle social;
• fortalecer processos de co-responsabilização na produção da saúde.
• Monitorar políticas públicas ligadas aos diversos setores que causem impacto
na saúde dos sujeitos e coletivos
• Subsidiar a construção e elaborar regulações e normas que visem à produção
e melhoria da qualidade de vida
• Estimular, fortalecer e subsidiar a criação de redes de apoio social
que trabalhem pela autonomia de sujeitos e coletivos

Educação/ Formação/ Comunicação • Estabelecer parceria com os meios de comunicação de modo a veicular
conteúdos informativos e educativos em saúde
• Investir em redes de educação popular, visando:
• divulgar conteúdos informativos e educativos em saúde;
• fortalecer os saberes e as práticas desenvolvidos pelas comunidades
para melhoria da qualidade de vida;
• estimular a construção compartilhada de estratégias de promoção
da saúde.
• Investir em metodologias de educação à distância voltadas para a formação
dos profissionais de saúde dentro da perspectiva promocional de modo a
facilitar o processo de reorganização da atenção e da gestão dos serviços de
saúde no sentido da autonomia, integralidade, intersetorialidade e
participação social.
• Pesquisar as ações da promoção da saúde de modo a construir estratégias
com crescente efetividade e eficácia
• Sistematizar, consolidar e divulgar informações e evidências no campo
da promoção da saúde

Integralidade • Estimular e fortalecer o desenvolvimento de práticas no campo da atenção


à saúde que favoreçam ao uso adequado de medicamentos e à
desmedicalização sempre que possível
• Estimular e fortalecer a organização do trabalho em equipes
multiprofissionais
• Estimular e fortalecer a relação dos serviços de saúde com os territórios em
que se localizam.
• Fortalecer e consolidar práticas de co-gestão dos processos de trabalho em
saúde
• Investir na construção de colegiados gestores nos serviços de saúde que
incluam a participação da população.
• Investir na inclusão dos usuários na elaboração de seus projetos de saúde
(individuais e coletivos)
• Investir em modos de organização dos serviços de saúde que reduzam as filas
e o tempo de espera baseados na adoção de critérios de risco e no
acolhimento.
• Desenvolver estratégias de suporte ao trabalho das equipes de saúde da
família que articulem/integrem diferentes áreas do saber conforme as
necessidades de saúde loco-regionais

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