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Quanto à nomenclatura, acho que foi a expressão ͞blogs verticais͟ aplicada a portais como
Weblogs, Inc., de Jason Calacanis, nos Estados Unidos, e Weblogs SL, de Julio Alonso, na Espanha, que me fez
pensar nos dois tipos de leitura que apresento aqui. Na realidade, não tem nada a ver em termos de
conceito. ͞Blogs verticais͟, se você quer saber, são blogs hiperespecializados, de nicho, que acabam se
tornando referência no assunto. Quanto às minhas ͞leituras͟, vamos começar pel o começo...
Desde que comecei a ler mais a internet ʹ algo que sempre recomendo ʹ, através dos feeds,
descobri que minha percepção, da própria leitura, começou a mudar. Antes do Digestivo, apenas para
exemplificar, eu, como leitor, ia onde meus interesses me levavam. Até sofria interferência da mídia, mas
acho que conseguia dividir 50% para cada lado. Quando você se torna um ͞profissional de mídia͟, porém, a
indústria cultural, e a indústria de releases (principalmente), acaba te afetando, não adianta.
Inconscientemente, você adota o ritmo deles e embarca nas novidades que el es te apontam...
Como jornalista, ao me desligar momentaneamente dos releases, para me concentrar nos feeds,
me dei conta de como nós, leitores, somos o que lemos. (Atenção, se você não está entendendo as
expressões, siga para os links: ͞blogs͟, ͞feeds͟, ͞releases͟ ʹ e depois volte.) Como naquele ditado, ͞somos o
que comemos͟, acredito que, mais do que nunca, nossa cabeça é também produto do que mentalmente
processamos. Por mais que sempre nos desculpemos ʹ acostumados que estamos a digerir informação trash
(música trash, televisão trash, internet trash) ʹ dizendo que todo mundo está sujeito à sua cota de fast-food,
temos de reconhecer que a sabedoria oriental ainda funciona: quanto mais bobagem você ouve, mais
bobagem você vai falar.
Quem me acompanha aqui, sabe que, por minha própria conta e risco, embarquei numa
pesquisa sobre Web 2.0 (pára-quedista, olhe o link) e descobri que existe um outro mundo na internet do
qual a mídia daqui nem desconfia. Me ͞ausentei͟, como leitor, dos releases-nossos-de-cada-dia, e, de
repente, comecei a reportar o que acontecia nessa nova Web, o q ue me indicavam os meus feeds: no Blog,
nos Digestivos e nas Colunas. Se vocês prestaram atenção, vocês viram...
O fato é que quando saí dos feeds e voltei para os releases (tradução: saí da pesquisa sobre Web
2.0 e regressei para a indústria cultural daqui), notei o quanto estava condicionado às informações que os
blogs me passavam. Eles eram as minhas novas ͞fontes͟! Eles sem querer, ou querendo, como um todo
orgânico, estavam orientando meus passos, minhas leituras, minha percepção do mundo. Foi um choque.
No fundo, eu sempre fui um leitor bastante exigente da mídia tupiniquim e sempre impliquei
com a informação que dela provinha. E sabia, obviamente, que esses mecanismos ʹ de informação e de
formação ʹ estavam em jogo o tempo todo. Mas, com a internet, eu nunca havia sentido isso: eu nunca
havia sentido que, mais do que a velha mídia, ela pode ser, sim, um instrumento poderoso para formar
nossa percepção das coisas, das pessoas, do mundo enfim.
Conclui, dessa viagem toda, que existem, basicamente, dois tipos de leitura. A horizontal que
você faz, dia a dia, caçando as mesmas notícias em diferentes veículos; e a vertical que você faz, mais
eventualmente, sobretudo na internet, quando mergulha num tópico e quer explorar ʹ ao longo do tempo ʹ
tudo o que puder sobre ele. Digamos: você faz uma leitura horizontal quando tenta acompanhar a semana
do ͞terror em São Paulo͟, por conta dos ataques do PCC; e você faz uma leitura vertical quando consulta a
internet para se aprofundar sobre determinado tema (p ode até ser o ͞PCC͟ de novo, mas, desta vez, você
entra em arquivos e não segue atrás da novidade mais fresquinha...).
É a mudança que Seth Godin, paralelamente, apontou do Yahoo para o Google. Pense nos
antigos portais de informação (quase todos os do Brasil): muita coisa na tela, algumas fotos, uma pancada de
links e quase sempre, em destaque, as últimas notícias. Agora pense no Google (outro portal, quer queira,
quer não): uma tela quase toda em branco, com meia dúzia (literalmente) de links e uma caixa onde você
deve indicar o assunto, o tema, da sua busca, ou poderíamos sugestivamente dizer, da sua pesquisa.
Você percebe que são duas propostas completamente distintas? Uma é o ͞hoje͟, com suas
urgências, seus erros e seus atropelos (leitura horizontal). E outra é atemporal, com erros também, claro,
mas com uma dose talvez maior de acertos (leitura vertical). Num caso, você está à mercê do bombardeio da
mídia e vai absorver, dizer e sentir o que a imprensa te indicar (vide o clima da semana passada nesta nossa
capital...). No outro caso, você vai possivelmente se descolar da realidade, vivendo, quem sabe, um outro
tempo que não, historicamente, o seu.
Até aí, você pode dizer ʹ velho profissional de mídia ʹ que essa dualidade sempre existiu. As
bibliotecas sempre conviveram com o jornal diário, por exemplo. Quem queria ir para a pesquisa, dirigia -se
às primeiras; quem preferia o dia-a-dia, atinha-se ao embrulha-peixe e às bancas de revista. Acontece,
porém, que na internet uma coisa está ao lado da outra: você pula do livro (em PDF) para a notícia (em
HTML); do blog para a Wikipédia; do podcast para o acervo da Amazon. E isso ʹ esse salto tão perto assim ʹ
antes não existia.
A novidade também está, creio, no fato de a internet caminhar cada vez mais para a sua vocação
de biblioteca. Nos exemplos que eu citei, das empresas mais bem-sucedidas na WWW, isso é nítido: o
Google, embora se diga, não é tradicionalmente uma ͞empresa de mídia͟; a Wikipédia sofre mais
atualizações do que qualquer outra enciclopédia, mas vive, evidentemente, da acumulação de
conhecimento; e a Amazon, por mais que tenha diversificado seu portfolio, é a biblioteca de Alexandria do
presente, nem aí para as notícias...
O que eu acho, também, ʹe esse é o aspecto mais radical do meu textoʹ é que a mídia ʹapesar
de, a princípio, não ser ͞biblioteca͟ ou não ter essa vocaçãoʹ caminha igualmente para isso. Eu vejo no
Digestivo. Os colaboradores notam as milhares de visitas por dia e me perguntam para onde vão essas
pessoas: pois sabem que elas não vão necessariamente para as primeiras páginas do site, para a homepage;
elas vão, majoritariamente, para o nosso arquivo. O que pode ser esquisito para uma revista eletrônica, mas
é o que tem acontecido.
Não sei se por influência do Google, mas nós, profissionais de mídia, temos de abrir os olhos para
isso: o leitor está fazendo muito mais ͞leituras verticais͟ do que ͞horizontais͟, ho je em dia. Por que o Google
é o Google? Porque, em tese, ele possui o arquivo de toda a internet. Você já pensou nisso? O Google
replica, em seus servidores, a internet inteira ʹ e foi a empresa (ou iniciativa) mais eficiente, até agora, no
sentido de colocar ordem no caos. (E não é uma empresa de mídia!)
Aqui no Digestivo, desde o nosso segundo layout, em 2002, eu passei a orientar a estrutura do
site para o aspecto ͞biblioteca͟ da internet, de modo que o leitor pára-quedista se sentisse também
confortável, e ͞se encontrasse͟, em qualquer página do Digestivo Cultural. O leitor novo, raramente, vai
começar pela homepage. Ele vem quase que direto do Google, de acordo com a palavra-chave que digitou, e
que o Google associou a alguma página interna do Digestivo. Então, ele precisa encontrar um ͞logo͟, um
título, um ͞autor͟, uma forma de contato, um ͞menu͟ e o caminho de volta. E ele precisa encontrar,
fundamentalmente, mais subsídio (͞arquivo͟), se precisar de mais informação ʹ se aquela da página não for
suficiente.
Isso ʹ se a minha viagem aqui ainda comporta ʹ vai induzir os produtores de conteúdo a
trabalhar uma ͞forma͟ mais perene. Justamente ao contrário da mídia hoje estabelecida: apoiada em
releases descartáveis, em informações que estão velhas já no outro dia, em nada que prenda a atenção por
mais de... 24 horas. E vai obrigar todo mundo a organizar melhor o conteúdo que disponibiliza ʹ para que ele
sempre seja ͞encontrável͟ por quem realmente interessa. Caso contrário, terá sido inútil ʹ e nem merecerá
registro.
Eu, como convivi muito com ficção científica, gosto bastante da metáfora do ͞fim do mundo͟,
depois de uma guerra nuclear. Aquele monte de escombros da civilização, e os sobreviventes caminhando,
pisando, tropeçando... à procura de vestígios que expliquem o que houve antes da hecatombe, quem eram
aquelas pessoas, como elas viviam? Às vezes penso que podemos estar produzindo informação para esse
leitor completamente perdido lá no infinito... Informação que vai ter de parar em pé sozinha; informaçã o
que vai ter de se encadear não só numa seqüência de ͞leituras horizontais͟, mas numa série de ͞leituras
verticais͟ também!
Alô, leitor do futuro: ͞Você consegue me ouvir?͟.

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