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Revolução passiva e americanismo em Gramsci (III)

Luiz Werneck Vianna


Gramsci e o Brasil / La Insignia, fevereiro de 2007.

A revolução passiva no eixo Risorgimento-americanismo

Até os Quaderni, o tema da revolução em Gramsci enveredava preferencialmente pela contra-mão do Prefácio
- a indagação do autor mais referida a processos de capitalismo "inconcluso" ou "incompleto" do que a de
capitalismo avançado. A partir da elaboração deles, porém, desenvolvendo a análise seminal sobre o
Mezzogiorno, é que inicia a sua demonstração sistemática de que uma estrutura fraca pode se achar revestida
por uma complexa armação supra-estrutural. E, na medida em que segue aprofundando a sua reflexão sobre
formas "não-exemplares" da revolução burguesa - o Risorgimento, a Europa sob a Restauração -, Gramsci, em
movimento de larga respiração teórica, acaba por erigir a sua descoberta, feita no campo das situações
retardatárias do capitalismo, no fundamento do enunciado geral da sua teoria sobre o Estado.

Provavelmente Gramsci poderia compartilhar com Tocqueville o diagnóstico que associava a emergência da
sociedade mercantil-burguesa a uma dura contraposição entre as esferas do público e do privado, onde uma
sociedade atomizada e fragmentária em seus interesses capitulava da liberdade, cedendo ao despotismo,
como indicaria a solução bonapartista da crise da II República francesa. Tocqueville procurava instalar a virtude
no mundo burguês, elevando um "interesse equivocamente compreendido", individualístico e egoísta, ao plano
do "interesse corretamente compreendido", por meio de uma intervenção da "ciência política" que instituísse
grupos intermediários - de acordo com as "lições" americanas com quem a Europa devia aprender - entre as
esferas do público e do privado, associando assim o útil e o interesse ao cívico (Werneck Vianna, 1993).

Gramsci, cuja ciência política estava animada por intenções diferentes, vai perceber, por uma outra
perspectiva, a disjuntiva público-privado - a da sociologia política. Evidente que, para ele, o grande número
está excluído do cenário da cidadania; o seu problema é como o Estado atinge capilarmente a vida social - isto
é, como "publiciza" o privado. A preocupação empírica de Gramsci o aproxima de Hegel e não de Tocqueville,
embora não se possa dizer o mesmo da sua filosofia política, que o avizinha deste último pelo papel que
ambos conferem ao consenso, como básico à construção de uma "vida estatal" que emerja do próprio tecido
da sociabilidade [29].

Em Gramsci, os "grupos intermediários", em sua expressão empírica mais visível, aparecem como constituídos
de cima para baixo e são identificados como agência de reprodução do mundo burguês. Tais grupos
intermediários consistiriam em instâncias de mediação entre o público e o privado apropriadas pelos
intelectuais - esses funcionários das supra-estruturas, e que são, também, o estrato parasitário delas: "no
mundo moderno a categoria dos intelectuais [...] ampliou-se enormemente. Foram elaboradas, pelo sistema
social democrático-burocrático massas significativas [deles], nem todas justificadas pelas necessidades sociais
da produção, ainda que justificadas pelas necessidades políticas do grupo dominante fundamental" (Q, 1520,
ênfases minhas).

No Estado moderno, a relação dos intelectuais com o mundo da produção não seria imediata, mas mediatizada
"pelo complexo das supra-estruturas", do qual eles seriam os funcionários (Q, 1518). Notar que, nesse
momento de conceituação do Estado moderno, tanto a Inglaterra quanto a América parecem estar fora do
referencial empírico de Gramsci, países onde, segundo ele, seria "muito ampla a categoria dos intelectuais

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