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RECIFE
2009
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.............................................................................................................04
I - UM POUCO DE CONTEXTO................................................................................05
CONCLUSÕES..............................................................................................................18
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................19
INTRODUÇÃO
O uso que o apóstolo Paulo faz da palavra “lei” (no,moj), em seus escritos,
tem sido alvo de algumas controvérsias. Para alguns, Paulo é adversário da lei, um
homem movido tão somente pela graça de Deus sem preocupações com o que já passou.
Para outros, o apóstolo jamais desprezou a lei, pelo contrário, chamou tal lei de “santa,
justa e boa”, por isso, os cristãos não estão desobrigados de cumprir “toda lei”. Será que
existe um ponto de equilíbrio?
Por Paulo, no,moj é personificada. A lei fala e diz (Rm 3.19; 7.7); ela
trabalha “suscita a ira” (Rm 4.15); ela exerce domínio (Rm 7.1).
Que sentido tem, pois, o termo lei no trecho de Gálatas 3.19-25? Qual é o
papel da lei já que com a vinda de Cristo ela parece tão inútil e inoperante? Vamos
discorrer um pouco sobre o assunto. Considerando o contexto e a harmonia do texto
escolhido com o todo das Escrituras.
Depois de explicar a razão de ser da lei o apóstolo fala sobre nossa liberdade em
Cristo, ensinando que os verdadeiros libertos não precisavam agir como escravos,
submetidos ao aio, mas como filhos e herdeiros de Deus (4.6-7). O versículo 1 do
capítulo 5 destaca isso muito bem “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.
Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”.
Tal promessa permeou todo Antigo Testamento. Abraão, por exemplo, recebeu a
promessa de um descendente e Deus disse a ele: “...em ti serão benditas todas as
famílias da Terra”. (Gn.12.3). Em Gl. 3.16 lemos que o descendente de Abraão é
Cristo, explicando como é que a promessa se cumpriu: “Ora, as promessas foram feitas
a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de
muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”.
Como é que todas as famílias da terra seriam benditas em Abraão? Por meio de
seu descendente que é, além de Isaque, Jesus, o “filho de Abraão”(Mt 1.1).
Descobrimos, no Novo Testamento, que todos os que passam a crer em Cristo,
tornam-se filhos de Abraão. Em Gálatas 3.7 nos é dito: “Sabei, pois, que os da fé é que
são filhos de Abraão”. Gerard Van Groningen explica que:
Todos os que acreditassem como Abraão, judeus ou gentios, seriam contados como
sementes de Abraão (Gl. 3.28-29). E a promessa da terra foi estendida à garantia de que
os filhos crentes de Yahweh seriam herdeiros do mundo (Rm. 4.13). Desse modo, em
Gênesis 12 e 15 as realidades básicas e os contornos amplos do pacto de Yahweh com
todos os crentes são apresentados.2
Portanto, a promessa feita a Abraão teve seu cumprimento cabal em Cristo, e por
meio de Cristo, cumprem-se as palavras “...serão benditas todas as famílias da terra”.
O povo de Israel era constantemente lembrado para confiar nas promessas feitas
por Deus, pois ele sempre as cumpriu, Js. 21.45, por exemplo, fala que até aquele
momento nenhuma promessa de Deus havia falhado.
O descendente de Davi é quem deveria construir a casa (cf. 1Sm 7.13) e o seu
trono seria estabelecido para sempre.
A casa, o reino de Davi, que duraria para sempre, chegou a condição de “choça”
conforme podemos observar em Isaías 1.8 – “ A filha de Sião é deixada como choça na
vinha, como palhoça no pepinal, como cidade sitiada”.
2
Gerard Van Groningen – Criação e Consumação vol. 1 – Ed. Cultura Cristã, São Paulo, 2002,
p. 251.
As palavras de Amós foram repetidas por Tiago, em Atos 15.16-18, para
explicar que o tabernáculo de Davi, reunindo homens de toda nação, é a igreja de
Cristo, que efetuou o levantamento do tabernáculo de Davi. A salvação poderosa da
casa de Davi foi reconhecida em Lucas 1.69, por Zacarias: “...e para nós fez surgir uma
salvação poderosa na casa de Davi, seu servo”.
A lei deveria ser lida e amada pelo povo de Deus, Dt. 17.19 diz “E o terá
consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR,
seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os
cumprir”. O Salmista reconhece que é bem aventurado o homem que anda no caminho
do Senhor e medita dia e noite na sua lei (Salmo 1), e no livro dos Salmos temos ainda a
declaração de que a “lei do Senhor é perfeita” (19.7).
Sendo assim entendemos que a lei corrigiu e conduziu o povo para que fixasse
os olhos na promessa de um Redentor.
Jesus, o Mediador na nova aliança (Hb. 12.24), diz, em Mateus 5.17-18 “Não
penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.
Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais
passará da Lei, até que tudo se cumpra.” De fato Paulo destaca em Romanos 10.4 que
“o fim da lei é Cristo”, ou seja, Cristo verdadeiramente cumpriu corretamente as
exigências da Lei, podendo salvar da maldição da lei aqueles que nele creem. Isto quer
dizer que Cristo não exterminou a lei, invalidando-a, mas que ele era aquele alvo para o
qual a lei conduzia. Em Efésios 2.13-16 o apóstolo explica: “Mas, agora, em Cristo
Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque
ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação
que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma
de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a
paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade.”
Portanto, as promessas com relação a salvação foram anteriores a lei dada por
Moisés e elas se cumpriram. A lei conduziu o povo até o cumprimento das promessas e
por isso ela foi também considerada como “sombra das coisas que haviam de vir” (Cl
2.17). Não queremos dizer com isso que não há nenhum aspecto da lei que deva ser
seguido até os dias de hoje, mas sim que os rituais, as cerimônias e os holocaustos,
tiveram seu lugar e sua simbologia, porém com a vinda de Cristo, isso tudo deixou de
ser necessário, todavia o caráter moral da lei perdura por todos os tempos.
Em Gálatas, Paulo mostra que os filhos de Abraão são aqueles que depositaram
fé em Cristo e por isso são também herdeiros da promessa (3.28-29).
II – O TEXTO PROPRIAMENTE DITO
Com o contexto em mente, fica mais fácil entender o que Paulo está explicando
no trecho que escolhemos. Vamos olhar para as expressões que constituem a chave do
entendimento
Ti, ou=n o` no,moj - “Qual, pois a razão de ser da lei?” - Neste ponto o
apóstolo está respondendo uma possível pergunta dos judaizantes. Era como se eles
dissessem “se, ao que tudo indica, a lei não tem mais valor, por que, pois a lei?” “Já que
ela não afetava absolutamente a promessa feita a Abrão, qual era sua utilidade?”. Na
resposta elaborada Paulo explica o objetivo da lei.
Por lei, aqui, devemos entender que o apóstolo está falando da lei mosaica. A
significação desse termo é definida de modo bem claro em 3.17, onde a lei é
identificada com o código mosaico de princípios espirituais, morais e cerimoniais,
dados quatrocentos e trinta anos depois do tempo de Abraão. Em 3.10 é feita uma
alusão ao “livro da lei”, que claramente se refere ao Pentateuco (Torá).
O problema dos judaizantes era que eles exigiam dos crentes gentios um
cumprimento exagerado e desnecessário da lei no que diz respeito ao seu caráter
cerimonial, principalmente no tocante a circuncisão. Paulo combateu o equivocado
ensino dos judaizantes, explicando com exatidão o propósito da lei; seu ensino sobre o
referido propósito é encontrado nos versículos seguintes.
Em nenhum momento Paulo subestimou a lei ou reduziu seu valor. Ele sempre
aplicou corretamente os propósitos da lei para a vida do crente, deixando claro que a
“lei” e a “graça” ou “lei” e “evangelho” não se excluem, porque Deus é o autor de
ambos, mas cada um cumpre o seu papel. Os judaizantes queriam dar a lei uma função
que ela nunca teve que, de acordo com a Bíblia, Deus nunca pretendeu dar, a saber, a
função de redimir, salvar o homem do pecado. Ainda que os crentes se esforçassem por
serem salvos mediante “obras da lei”, isso seria impossível.
Sabemos que a lei tem muitas utilidades, mas Paulo destaca aqui as utilidades
que serviram para o seu presente propósito.
É interessante notar que, depois de expor o correto uso da lei, com argumentos
esmagadores, o apóstolo faz a declaração final em 6.13 que se caracteriza como um
golpe de misericórdia nos seus adversários; ele diz: “Pois nem mesmo aqueles que se
deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se
gloriarem na vossa carne”. Portanto os cristãos deveriam tomar cuidado com todo falso
ensino sobre a lei, entendendo a proeminência da obra de Cristo.
Como resposta para a pergunta: “por que a lei?” três afirmações são feitas, que
passaremos a considerar.
Mas, diz Paulo que a lei foi acrescentada “tw/n paraba,sewn ca,rin” - por
causa das transgressões - Paulo cita “paraba,sewn” (transgressão) e não “pecados”.
Por “transgressões” ele está enfatizando faltas intencionais, um desvio do padrão pré-
estabelecido, do caminho certo. Via de regra a expressão “por causa das transgressões”
tem sido entendida de duas maneiras. O problema é gramatical e envolve “ca,rin” que
pode ser entendido de duas maneiras aqui : 1) em um sentido cognitivo (trazer
sobre...um conhecimento de) ou 2) em um sentido causativo (causar, aumentar,
numericamente falando, a transgressão).
É razoável entender, à luz do contexto, que a lei, aqui citada, tem um sentido
cognitivo, ou seja, foi dada para que o homem pudesse ter um conhecimento adequado
do seu estado pecaminoso. A lei definiu um caminho certo e tornou o homem
consciente dele. Isto está de acordo com o que Paulo destaca em Romanos 7.7 quando
diz: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria
conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça,
se a lei não dissera: Não cobiçarás”.
É o conhecimento do pecado que nos vem por intermédio da lei (Rm 3.20; 7.7,13). A
3
R. Longenecker – Word Biblical Commentary, vol. 41, Galatians – Word Books Publisher,
Dallas, Texas, 1999, p. 138.
lei funciona como uma lente de aumento. Esta, na realidade, não aumenta a quantidade
de manchas que sujam um vestido, mas faz com que elas apareçam com mais clareza e
revelem muito mais do que uma pessoa é capaz de ver a olho nu.4
É impossível definir exatamente o que Paulo quis dizer com “ca,rin”, contudo
o contexto apresentado nos ajudou a optar pela alternativa mais provável.
a;crij ou- e;lqh| to. spe,rma w-| evph,ggeltai - “Até que viesse
o descendente a quem se fez a promessa” – Esta é a segunda afirmação sobre o
propósito da lei. O tempo perfeito de “evpagge,llomai” expressa uma ação passada
com resultados para o presente, sugerindo que a promessa tem e ainda terá efeito.
Na frase em destaque, Paulo fala que a lei serviu até a vinda do descendente a
quem se fez a promessa, mas quem é o descendente? O versículo 16 do capítulo 3 é bem
claro neste particular; ele explica, com exatidão, quem é o descendente de Abraão, por
meio do qual a promessa pode fazer efeito “a todas as famílias da terra”. O apóstolo
escreve: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E
aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo”.
O mediador aqui é destacado como “não sendo de um”, isso quer dizer que ele
4
William Hendriksen – Comentário do Novo Testamento – Gálatas, Ed. Cultura Cristã, São
Paulo, 1999, p. 205.
estava entre as partes, no caso da lei, entre Deus, o autor supremo da lei, e os homens
que receberam a lei para praticá-la e dirigirem-se por ela até a vinda de Cristo. Neste
caso, particularmente, quem cumpriu o papel de mediador foi Moisés, conforme
podemos deduzir das palavras escritas em Dt. 5.4 e 5 – “Face a face falou o SENHOR
conosco, no monte, do meio do fogo. Nesse tempo, eu estava em pé entre o SENHOR e
vós, para vos notificar a palavra do SENHOR, porque temestes o fogo e não subistes ao
monte”. Moisés foi o instrumento, colocado pelo próprio Deus, entre o povo e o Senhor
para entregar as ordenanças do alto.
Deus é destacado como “sendo um”. O mesmo Deus que falou a Abrão e a
Moisés, cumpriu toda promessa em Cristo. Deus é um, seu propósito para a humanidade
é um e ele executa com todo cuidado e coerência.
Paulo admite que poderia existir um conflito se a lei tivesse o propósito de dar
vida, contudo, não é esse o caso. No que diz respeito a salvação “lei e graça” se
excluem. Com isso queremos dizer que salvação não se pode adquirir com meras
práticas daquilo que a lei exige. Isto está de acordo com o ensino de Paulo em Rm 4.14
“...pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa...” e
Rm 11.6 – “...e, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é
graça...”.
Sobre o fato de que a lei não pode dar vida Donald Guthrie expressou-se da
seguinte maneira:
Para transmitir vida, a lei teria de perdoar o condenado, isto é, justificá-lo ou dar-lhe
uma condição de justo. Mas isto está além do alcance da lei. Tanto a lei quanto a
promessa, portanto, tinham suas respectivas esferas, que não se sobrepunham, nem
entravam em choque entre si. Deus podia perdoar aqueles que sua própria lei
condenava, mas este era um ato de graça, assim como a promessa também constituía um
ato de graça.5
Ainda que façamos uma distinção, totalmente possível, dos tipos de lei que
existem no Antigo Testamento, entre lei civil, moral e cerimonial 6, descobriremos, que a
lei não pode dar vida, pois como diz Tiago: quem erra em um ponto da lei se torna
culpado de todos. (Tg.2:10).
Longenecker assevera que: “o artigo [h`] junto a palavra Escritura sugere que
Paulo estava com uma passagem particular em mente, provavelmente o antecedente
mais imediato de 3.10, isto é, Deuteronômio 27.26”.7
Essa situação agonizante poderia ser desfeita “mediante a fé”, expressão que
agora vamos estudar.
O propósito da lei foi manifesto. Ela foi a medida temporária que visava levar os
homens a buscar outro caminho de vida, através da promessa, por meio de fé. Romanos
11.32 expressa a mesma idéia: “porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim
de usar de misericórdia para com todos”.
Nota-se, portanto, que a lei não era de todo hostil, ela também pretendia vigiar e
guardar os homens de praticar aquilo que Deus desaprovava, nesse sentido a lei nos
serviu de proteção.
A tutela da lei durou até a vinda da fé. Mas, será que não existia fé no Antigo
Testamento? Não é isso que o apóstolo quer dizer. Fé, aqui é a fé no Cristo encarnado.
O objeto da fé é o mesmo tanto no Antigo como no Novo Testamento, a diferença
reside no fato de que os do passado olhavam para frente e depositavam fé no Cristo que
haveria de vir, todavia, desde que Cristo veio, desde a época de Paulo e até o presente
momento, nós contemplamos e depositamos nossa fé no Cristo que já veio. Sem
condições de cumprir a lei que lhes era imposta, os judeus do A.T. deveriam confiar na
promessa da “salvação sem dinheiro e sem preço” (Is.55.1). Enquanto o Cristo
“histórico” não aparecesse todos estavam tutelados pela lei.
A explicação sobre como a lei exercia essa tutela está mais claramente
evidenciada no versículo seguinte e é expressa da seguinte forma:
w[ste o` no,moj paidagwgo.j h`mw/n ge,gonen eivj
Cristo,n - “a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo” – A palavra traduzida
como aio é “paidagwgo.j” e pode ser mais propriamente traduzida como “guia
disciplinador”. Ao contrário do que alguns chegam a pensar, o pedadogo, destacado por
Paulo não exercia função de ensino, mas necessariamente de disciplina.
E é com esse profissional que Paulo compara a lei, para dizer que a lei cumpriu
todo o seu propósito conduzindo-nos a Cristo. A lei pode ser comparada com o
pedagogo no sentido de que ela cobre um período da vida e não a vida toda e,
conduzindo a Cristo, torna o indivíduo apto para desenvolver-se espiritualmente, para
uma obediência a Deus mais completa e verdadeira. É essa a idéia ensinada por Van
Groningen, quando fala a respeito do papel da lei entregue no Sinai:
A lei como dada no Sinai aos descendentes de Jacó, revela que eles eram crianças e não
adultos maduros. Como sempre existe o potencial em uma criança de se tornar um
adulto responsável, se for sob instrução, direção e cuidado amoroso, assim os
descendentes de Jacó foram assegurados no Monte Sinai, pela verbalização de Yahweh
da sua lei, de que no caminho da obediência, submissão e devoção amorosa, eles
poderiam se desenvolver em adultos maduros. O apóstolo Paulo informou aos gálatas
cristãos que a lei, como dada no Sinai, foi para crianças que tinham que crescer para
liberdade do modo de vida pactual de Yaweh (Gl 4.1-7). A lei de Deus revelou o caráter
de Yaweh e o caráter dos filhos de Jacó. No entanto, a lei, como dada, não assegurou
9
William Barclay – Palavras Chaves do Novo Testamento – Ed. Vida Nova, São Paulo, 1985, p.
147.
que a cegueira, corrupção e rebelião fossem removidas. A lei não foi dada com essa
intenção e nem poderia fazer isso.10
Considerando que a disciplina exercida pelo pedagogo era severa, os que eram
tutelados por eles suspiravam pelo dia da emancipação. Cumprindo esse papel a lei
preparou o coração dos crentes do passado para a fé em Cristo, para a justificação pela
fé, pela qual suspiramos quando ouvimos e atendemos a chamado do evangelho. Para a
salvação a lei era inadequada e insatisfatória e, portanto, destinada a ter um fim. E neste
sentido podemos afirmar com toda segurança, junto com o apóstolo: “Porque o fim da
lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”.
É necessário deixar bem claro aqui que Cristo aboliu a lei, e dela nos libertou,
nos seus aspectos civis e cerimoniais, mas não do caráter moral. Nenhum rito religioso
ou lei regulamentadora das atividades no estado teocrático de Israel, podem ser
10
Gerard Van Groningen – Op. Cit., p. 375.
aplicados ao povo de Deus nos nossos dias, mas as exigências morais perduram, pois
representam a vontade de Deus para o homem em todos os tempos, além do que, no
Novo Testamento, em nenhum momento se fala de abolição para esse caráter da lei,
pelo contrário, o próprio Senhor Jesus enfatizou a importância dos Dez Mandamentos ,
resumindo-os em dois que destacam o compromisso que os homens devem ter com
Deus e o compromisso que eles devem ter com o próximo. Ele o fez nas seguintes
palavras: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento.
O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus
22:37-39). Depois de pronunciar estas palavras o Mestre declarou que destes
mandamentos dependem “toda Lei e os Profetas”.
A epístola de Paulo aos Gálatas é considerada, com razão, como sendo a carta
magna da liberdade cristã. Isto porque o apóstolo dá uma dimensão precisa sobre o
relacionamento do crente em Cristo com a lei.
Ao mesmo tempo que nos ajuda a combater o legalismo, a carta aos gálatas
adverte a igreja também contra a libertinagem.
O fato de os crentes serem libertos por Cristo, não significa que eles podem
viver libertinamente, cometendo pecados mil, baseados na obra de redenção de Cristo.
Os crentes devem saber que aqueles que morreram para o pecado de modo nenhum
podem viver pecando. Na mesma carta o apóstolo escreveu: “...porque vós, irmãos,
fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne;
sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor”(5.13). O que Paulo esperava dos crentes
de seu tempo, era o que se deve esperar dos crentes do nosso tempo que estudam com
honestidade as Escrituras, uma vida cristã equilibrada, sem extremos, sabendo
exatamente como obedecer a lei moral de Deus registrada na Bíblia toda.
Regozijamo-nos no Senhor, porque, sendo o seu povo não vivemos sem lei.
Porque em Cristo, podemos cumprir os mandamentos de Deus e agradá-lo, porque nele
fomos feitos justiça de Deus, e porque, na eternidade, vamos aprender cada vez mais da
lei de Deus, mais pura que o ouro e mais doce que o mel, louvando-o sempre por tudo o
que ele fez por nós e, por fim, por que estamos sob a “lei perfeita, lei da liberdade”
(Tiago 1.25). Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia! (Sl119.97).
BIBLIOGRAFIA