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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS

Considerações sobre os textos:

‘Canção do exílio’, ‘O menino sem passado’ e


‘A outra infância’ (Murilo Mendes)

‘Os sinos’ e ‘O último poema’


(Manuel Bandeira)

São Cristóvão
Setembro-2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIENCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS

WAGNER DÓRIA MELRO FONTES

Textos apresentados à
disciplina literatura brasileira
III, do curso de letras, da
UFS, ministrada pelo
professor Danilo Maciel,
como pré-requisito parcial de
avaliação.

São Cristóvão
Setembro-2009
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade


e ouvir um sabiá con certidão de idade!

Murilo Mendes

Obra: ‘Poesias’/ (1925-1955)

Comentário

O eu - lírico do texto de Murilo Mendes vive em terras brasileiras, porém se


sente sofrendo um “exílio interno”. Ele faz uma crítica à sociedade brasileira da época
que tanto dá valor e exalta a cultura estrangeira, e não se importa com a beleza e as
virtudes da nossa terra. Já nos primeiros versos pode-se confirmar essa idéia através da
passagem: “minha terra tem macieiras...”, onde a palavra ‘palmeiras’ da poesia ufanista
de Gonçalves Dias é substituída por outra que designa uma árvore não típica do nosso
país.
“Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista” critica os
poetas que são negros, mas que não correspondem às suas origens, distanciando-se da
realidade nacional.
O texto consegue expor, de maneira fantástica, o processo de perda da
identidade brasileira: “Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda”. O
sururu, molusco popularmente conhecido no nordeste do país, representa, então, o
Brasil, já a Gioconda, metonímia relacionada à obra de Leonardo da Vinci, faz alusão à
cultura estrangeira que se incorpora a nossa.
Ao citar: “Nossas flores são mais bonitas, nossas frutas mais gostosas, mas
custam cem mil-réis a dúzia”, percebe-se a exaltação da natureza do nosso país, porém
uma crítica ao preço das mercadorias, principalmente as frutas, já que as de melhor
qualidade são direcionadas para a exportação e as piores são para o consumo interno,
ainda com preços altíssimos.
Por fim, encerra-se o poema com o desejo de que o Brasil consiga recuperar sua
identidade, seus valores, para que então se possa “chupar uma carambola de verdade”.

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O menino sem Passado

Monstros complicados
não povoaram meus sonhos de criança
porque o saci-pererê não fazia mal a ninguém
limitando-se moleque a dançar maxixes desenfreados
no mundo das garotas madeiras
que meu tio habilidoso fazia para mim.

A mãe-d’água só se preocupava
em tomar banhos asseadíssima
na piscina do sítio que não tinha chuveiro.

De noite eu ia no fundo do quintal


pra ver se aparecia um gigante com trezentos anos
que ia me levar dentro dum surrão,
mas não acreditava em nada.

Fiquei sem tradição sem costumes nem lendas


estou diante do mundo
deitado na rede mole
que todos os países embalançam.

Murilo Mendes

Comentário
O eu - lírico do texto expressa uma frustração com relação ao seu passado, mais
especificamente à sua infância, já que expõe três palavras que representam o imaginário
das crianças: monstros, saci-pererê e gigante e constrói todo seu poema com
enjambement, ou seja, versos que dependem dos anteriores (alusão ao passado do eu -
lírico).
Na primeira estrofe, percebemos o quão limitada foi a sua fase de criança. Ao
dizer “os monstros complicados não povoaram meus sonhos de criança” é evidente a
presença de uma nostalgia do que não foi vivido, de sonhos e histórias contadas a todas
as crianças, menos ao nosso eu – lírico.
Na segunda e terceira estrofes, ele começa a realizar uma efetiva descrição do
que, na verdade, ele viveu durante sua infância. O leitor percebe, então, que não foi
nada do esperado que uma criança viva.
Como o plano do poema ocorre num sítio, local onde as lendas folclóricas são
mais acentuadas, o autor, portanto, provavelmente escreveu objetivando fazer uma
crítica às cidades (zonas urbanas), já que as crianças desses locais não têm contato com
certo tipo de cultura que, supostamente, deveria fazer parte do imaginário delas.
A passagem “mas não acreditava em nada”, revela que ele foi desprovido de
qualquer fantasia que uma criança possa possuir, não houve uma figura adulta para
ensinar sobre os costumes e as lendas. E agora, a criança-adulta está tentando recordar
em que acreditava outrora, porém percebe um enorme vazio, uma enorme carência de
histórias, uma carência, sobretudo, de vida.
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A outra infância

Meninos que daqui não vejo

Dançam e cantam de roda no terreiro ao lado.

O menino que também brincou de roda


Seria mesmo eu? Creio que não.
(Viramos crianças
Ao imaginar a criança que não fomos.)
Já era outro menino, já pensava,
Iluminando-me com duas luas
- Uma na cabeça.

Murilo Mendes
Comentário

O poeta reflete sobre uma “outra infância” que não teve. Ele apenas ouvia outras
crianças brincar ao lado de onde ele vivia e ficava imaginando: o que seriam as tais
brincadeiras e divertimentos? Como é viver uma infância diferente da minha?

“O menino que também brincou de roda seria mesmo eu? Creio que não.” reflete
a frustração do poeta no tocante à sua infância, de não tê-la aproveitado e vivido as
coisas mais simples que, nessa época, são essenciais para o desenvolvimento de uma
criança.

Hoje, ele se encontra nostálgico ao pensar numa época não vivida/aproveitada,


apenas imaginando e se indagando: ‘como seria??....”.

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Os Sinos

Sino de Belém,
Sino da Paixão...

Sino de Belém,
Sino da Paixão...

Sino do Bonfim!...
Sino do Bonfim!...

Sino de Belém, pelos que inda vêm!


Sino de Belém bate bem-bem-bem.

Sino da Paixão, pelos que lá vão!


Sino da Paixão, bate bão-bão-bão.
Sino do Bonfim, por quem chora assim?...

Sino de Belém, que graça ele tem!


Sino de Belém bate bem-bem-bem-bem.

Sino da Paixão - pela minha mãe!


Sino da Paixão - pela minha irmã!

Sino do Bonfim, que vai ser de mim?...

Sino de Belém, como soa bem!


Sino de Belém, bate bem-bem-bem.

Sino da Paixão... Por meu pai?... - Não! Não!...


Sino da Paixão bate bão-bão-bão.

Sino do Bonfim, baterás por mim?

Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino da Paixão, pelo meu irmão...

Sino da Paixão,
Sino do Bonfim...
Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!

Sino de Belém, que graça ele tem!

Manuel Bandeira

Comentário

Percebemos que a anáfora da palavra ‘sinos’, na poesia, faz com que o leitor
tenha a sensação de estar ouvindo o badalar dos mesmos. O poeta objetiva, em cada
repetição dessa palavra, desejar coisas boas, dar um ‘salve’ às almas de todos citados,
como à mãe, à irmã e à própria paixão, já que ele se sente perplexo diante do destino
tísico e das mortes em escala dos familiares. ‘Os sinos’ também pode refletir bem a
alma de um eu - lírico apaixonado que sente seu coração dar badaladas e aproveita para
repensar/valorizar as pessoas que ele ama nessa vida. Ao negar uma badalada de paixão
ao próprio pai, notamos, talvez, a falta da figura paterna na vida do eu - lírico, ou ainda
inseguranças e desentendimentos com o mesmo. Além disso, o poeta brinca muito com
a sonoridade, não apenas pela repetição da palavra que dá nome à poesia, mas também
pela presença de rimas internas evidenciadas pelas palavras ‘Belém’ com ‘bem-bem-
bem’ e ‘paixão’ com ‘bão-bão-bão’ e pelas assonâncias de vogais ‘e (en), i(in) e ão’
quem lembram as batidas do sino.
O último poema

Assim eu quereria meu último poema


Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Bandeira

Obra: Libertinagem/1930

Comentário

Percebe-se que o eu – lírico está se sentindo triste, um tanto quanto pessimista


em relação ao futuro. Provavelmente era espera a morte e desabafa nesse texto como ele
irá querer que seja o seu último poema. É a partir da observação de coisas simples da
vida e natureza que o autor pretende provocar a reflexão em seu leitor como, por
exemplo, no verso: “A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.” Que
paradoxo! Que paixão é essa? Será que realmente os que se suicidam, o fazem sem
motivos? Manuel Bandeira realmente consegue tocar a sensibilidade do leitor com a
simplicidade da poesia

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