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São Cristóvão
Setembro-2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIENCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
Textos apresentados à
disciplina literatura brasileira
III, do curso de letras, da
UFS, ministrada pelo
professor Danilo Maciel,
como pré-requisito parcial de
avaliação.
São Cristóvão
Setembro-2009
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Murilo Mendes
Comentário
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Monstros complicados
não povoaram meus sonhos de criança
porque o saci-pererê não fazia mal a ninguém
limitando-se moleque a dançar maxixes desenfreados
no mundo das garotas madeiras
que meu tio habilidoso fazia para mim.
A mãe-d’água só se preocupava
em tomar banhos asseadíssima
na piscina do sítio que não tinha chuveiro.
Murilo Mendes
Comentário
O eu - lírico do texto expressa uma frustração com relação ao seu passado, mais
especificamente à sua infância, já que expõe três palavras que representam o imaginário
das crianças: monstros, saci-pererê e gigante e constrói todo seu poema com
enjambement, ou seja, versos que dependem dos anteriores (alusão ao passado do eu -
lírico).
Na primeira estrofe, percebemos o quão limitada foi a sua fase de criança. Ao
dizer “os monstros complicados não povoaram meus sonhos de criança” é evidente a
presença de uma nostalgia do que não foi vivido, de sonhos e histórias contadas a todas
as crianças, menos ao nosso eu – lírico.
Na segunda e terceira estrofes, ele começa a realizar uma efetiva descrição do
que, na verdade, ele viveu durante sua infância. O leitor percebe, então, que não foi
nada do esperado que uma criança viva.
Como o plano do poema ocorre num sítio, local onde as lendas folclóricas são
mais acentuadas, o autor, portanto, provavelmente escreveu objetivando fazer uma
crítica às cidades (zonas urbanas), já que as crianças desses locais não têm contato com
certo tipo de cultura que, supostamente, deveria fazer parte do imaginário delas.
A passagem “mas não acreditava em nada”, revela que ele foi desprovido de
qualquer fantasia que uma criança possa possuir, não houve uma figura adulta para
ensinar sobre os costumes e as lendas. E agora, a criança-adulta está tentando recordar
em que acreditava outrora, porém percebe um enorme vazio, uma enorme carência de
histórias, uma carência, sobretudo, de vida.
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A outra infância
Murilo Mendes
Comentário
O poeta reflete sobre uma “outra infância” que não teve. Ele apenas ouvia outras
crianças brincar ao lado de onde ele vivia e ficava imaginando: o que seriam as tais
brincadeiras e divertimentos? Como é viver uma infância diferente da minha?
“O menino que também brincou de roda seria mesmo eu? Creio que não.” reflete
a frustração do poeta no tocante à sua infância, de não tê-la aproveitado e vivido as
coisas mais simples que, nessa época, são essenciais para o desenvolvimento de uma
criança.
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Os Sinos
Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino do Bonfim!...
Sino do Bonfim!...
Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino da Paixão, pelo meu irmão...
Sino da Paixão,
Sino do Bonfim...
Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!
Manuel Bandeira
Comentário
Percebemos que a anáfora da palavra ‘sinos’, na poesia, faz com que o leitor
tenha a sensação de estar ouvindo o badalar dos mesmos. O poeta objetiva, em cada
repetição dessa palavra, desejar coisas boas, dar um ‘salve’ às almas de todos citados,
como à mãe, à irmã e à própria paixão, já que ele se sente perplexo diante do destino
tísico e das mortes em escala dos familiares. ‘Os sinos’ também pode refletir bem a
alma de um eu - lírico apaixonado que sente seu coração dar badaladas e aproveita para
repensar/valorizar as pessoas que ele ama nessa vida. Ao negar uma badalada de paixão
ao próprio pai, notamos, talvez, a falta da figura paterna na vida do eu - lírico, ou ainda
inseguranças e desentendimentos com o mesmo. Além disso, o poeta brinca muito com
a sonoridade, não apenas pela repetição da palavra que dá nome à poesia, mas também
pela presença de rimas internas evidenciadas pelas palavras ‘Belém’ com ‘bem-bem-
bem’ e ‘paixão’ com ‘bão-bão-bão’ e pelas assonâncias de vogais ‘e (en), i(in) e ão’
quem lembram as batidas do sino.
O último poema
Manuel Bandeira
Obra: Libertinagem/1930
Comentário