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INTRODUÇÃO

A consolidação do sistema oligárquico no Rio Grande do Norte, no


contexto a Primeira República brasileira, é o eixo central do presente trabalho.
O estudo abordou o período entre a década de 1860 e o governo de Ferreira
Chaves (1896 / 1900). A escolha desse recorte temporal justifica-se pelo fato
de ter sido no final da década de 1860 que as idéias republicanas tornaram-se
realmente uma força organizada e devido o governo de Ferreira Chaves ter
ajudado a completar o processo de oligarquização do Rio Grande do Norte,
contribuindo com a ascensão da família Albuquerque Maranhão ao poder no
Estado.
O período da consolidação da República no Brasil, o fortalecimento das
oligarquias estaduais e o coronelismo, já foram exaustivamente estudados pela
historiografia brasileira e potiguar, tanto por historiadores como por sociólogos1.
Porém, grande parte desses trabalhos analisaram o processo de consolidação
das oligarquias locais analisando os aspectos políticos ou econômicos
separadamente. Dessa forma, a compreensão do processo fica fragilizada,
tendo em vista a forte interação entre essas duas áreas. O presente trabalho
poderá contribuir para o estudo desse tema pois o analisará não apenas por
campos isolados, mas levando em consideração as relações entre as
estruturas partidário-ideológicas e econômicas existentes no Rio Grande do
Norte, relacionando-as com o contexto nacional e também analisando as
alianças e acordos políticos feitos por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão
que o levaram, junto com a sua família, ao controle da política potiguar durante
grande parte da Primeira República.
Utilizando a historiografia clássica norte-riograndense e brasileira,
pretendeu-se obter um panorama geral dos acontecimentos políticos e do
contexto econômico do Rio Grande do Norte e do Brasil, no período citado,
procurando identificar algumas relações entre esses dois segmentos que
pudessem contribuir com a compreensão do tema. No que se refere às fontes
Primárias utilizadas na pesquisa, foram analisadas algumas edições do jornal A
República, que trazia a visão política do grupo ligado à família Albuquerque
Maranhão, e alguns manifestos e discursos proferidos por políticos de oposição
a Pedro Velho, publicados em jornais oposicionistas como O Nortista, Rio
Grande do Norte e o Diário de Natal. Essas fontes primárias ajudaram a
compreender melhor as “armas” utilizadas pela família Albuquerque Maranhão
para se “encastelarem” no governo do Estado do Rio Grande do Norte.
Para uma melhor compreensão sobre como ocorreu a “oligarquização”
do Rio Grande do Norte durante os anos finais do século XIX e início do século
XX, bem como a sua relação como o mesmo processo político que corria no
cenário nacional, tornou-se necessária a análise de alguns conceitos teóricos,
como por exemplo o de coronelismo, que foi definido por Eul-Soo Pang como
sendo

Um exercício de poder monopolizante por um coronel cuja legitimidade e


aceitação se baseiam em seu status, de senhor absoluto, e nele se fortalecem,
como elementos nas instituições sociais, econômicas e políticas, tais como as
que prevaleceram durante o período de transição de uma nação rural e agrária
para uma nação industrial2.

Diretamente ligado ao conceito de coronelismo, durante a Primeira


República no Brasil, está o conceito de oligarquia que, segundo Edward Shils,
pode ser definida como sendo

Um grupo de poder restrito, homogêneo, estável, com uma boa organização


interna e fortes vínculos entre seus membros, pouco confiante na lealdade de
quem a ele pertence e cautelosos na admissão de novos membros; é um
grupo que governa de modo autoritário, robustecendo o Executivo, controlando
o Judiciário, marginalizando e excluindo o Parlamento, desencorajando e
eliminando a oposição3.

O último conceito utilizado neste trabalho foi o de parentela que,


segundo Maria Isaura de Queiroz, apresentava três aspectos interligados – o
político, o econômico e o de parestesco – que garantia o funcionamento da
sociedade a qual estava inserida4.
Esta monografia esta dividida em três capítulos. No primeiro capítulo
tratamos da conjuntura econômica, política e social do Brasil durante o final do
século XIX, que contribuiu para a decadência do regime monárquico e do
processo de organização do regime republicano, enfatizando os diversos
interesses ideológicos envolvidos e como esses interesses lutaram,
influenciaram e se estabeleceram no novo governo republicano brasileiro. No
segundo capítulo, procuramos traçar um contexto geral do Rio Grande do Norte
no final do século XIX e início do século XX, levando em consideração a
estrutura econômica do Estado, a organização político-partidária e próprio
processo de implantação do regime republicano em terras potiguares. No
terceiro e último capítulo, o tema central da monografia (a oligarquização do
Rio Grande do Norte) foi trabalhado diretamente, abordando todos os fatos,
alianças políticas, interesses pessoais e partidários que contribuíram para a
consolidação da família Albuquerque Maranhão ao poder no Rio Grande do
Norte durante quase toda a Primeira República.
CAPÍTULO 1

A QUEDA DO IMPÉRIO E OS TEMPOS REPUBLICANOS

1.1 – O panorama econômico brasileiro no final do século XIX e início do


século XX

A partir da segunda metade do século XIX, a Europa Ocidental e os


Estados Unidos viveram uma fase de forte avanço das forças capitalistas
modernizantes e do próprio capitalismo monopolista-financeiro, que
praticamente forçou uma busca por novas áreas de investimentos. A América
Latina como um todo, logo se mostrou aberta a receber tais investimentos, o
que muitas resultou na montagem de uma estrutura totalmente dependente
desse capitalismo estrangeiro.
No Brasil, o avanço do capitalismo inglês se tornou marcante desde a
abertura dos Portos, realizada por D. João VI em 1808 e só tendeu a aumentar
com o passar dos anos, principalmente pela incapacidade do governo brasileiro
de articular uma estrutura econômica auto-suficiente, capaz de livrá-lo dos
constantes empréstimos que tinha que fazer junto a bancos britânicos e das
constantes interferências inglesas nos assuntos internos brasileiros.
Na segunda metade do século XIX, o Brasil passou por profundas
mudanças estruturais. A decadência do trabalho escravo, iniciado efetivamente
a partir da publicação da Lei Eusébio de Queirós (1850), que determinava a
proibição do tráfico negreiro, levou os grandes fazendeiros do Sudeste a
incentivarem a vinda para o Brasil de imigrantes europeus, notadamente
italianos e alemães, que ajudaram a consolidar o trabalho assalariado no
Brasil, contribuindo para o surgimento de um mercado interno, principalmente
quando as fazendas de café do Oeste paulista diminuíram suas produções de
gêneros alimentícios para o consumo próprio, tendo assim que comprar tais
produtos, bem como os de características industriais.

“A proibição do tráfico negreiro permitiu que grandes somas de dinheiro, antes


investidas no comércio de negros (aproximadamente 16.000 contos de réis)
fossem direcionadas para outras atividades urbanas como a indústria”5.
Todas essas mudanças motivaram o desenvolvimento de grupos
econômicos dispostos a investirem em outras atividades econômicas,
principalmente no setor urbano, que vivia um período (1850-1880) de relativo
crescimento. Segundo Alencar, Carpi e Ribeiro

“Entre 1850 e 1860 foram inauguradas no Brasil 70 fábricas, que produziam


chapéus, sabão, tecidos de algodão e cerveja, artigos que até então vinham do
exterior. Essas primeiras fábricas já apresentavam um aspecto diferente das
antigas oficinas artesanais: utilizavam motor hidráulico ou a vapor, e o trabalho
era organizado por mestres e contramestres vindos da Europa. Além disso,
foram fundados 14 bancos, três caixas econômicas, 20 companhias de
navegação a vapor, 23 companhias de seguro, 8 estradas de ferro. Criaram-se
ainda empresas de mineração, transporte urbano, gás etc6.

Esse surto industrializante que vivia o Brasil teve como símbolo a figura
do empreendedor Irineu Evangelhista de Souza, o Barão de Mauá. Este se
tornou o maior investidor em atividades urbanas no Brasil da época, tendo
algumas de suas empresas se tornado até mesmo multinacionais. Segundo
Furtado,

Mauá fundou o Banco Comércio e Indústria do Brasil (1851) que, por sua
proposta, passou a se chamar Banco do Brasil, com capital de 10 mil contos de
réis. Era, então, a maior sociedade por ações da América do Sul. Dois anos
mais tarde, por imposição do governo, fundiu-se com o Banco Comercial do
Rio de Janeiro, dando origem ao novo Banco do Brasil. Em 1854, Mauá
organizou a Casa Bancária Mauá, Mc Gregor & Cia, mais conhecida como
Casa Mauá, com o objetivo de suprir capital às indústrias, a médio e a longo
prazo. Seus investimentos se estenderam por praticamente todo o Brasil e sua
organização possuía várias agências no exterior – Londres, Manchester, Nova
Iorque, Buenos Aires, Salto, Paissandu, Mercedes, Cerro Largo e Montevidéo.
A Casa Mauá operava associada aos irmãos Baring, na Inglaterra e, mais
tarde, fundiu-se ao London and Brazilian Bank. Além dessas atividades
bancárias, Mauá organizou várias sociedades por ações, com a participação
da
com a participação de capital inglês, as quais desenvolveram atividades
pioneiras nos mais diversos setores da economia, notadamente no setor de
transporte, comunicação e infra-estrutura urbana. No setor ferroviário, foi
pioneiro ao construir a primeira estrada de ferro do país (1854); iniciou a
ligação do cabo submarino entre Brasil e Portugal; antes porém, implantou na
cidade do Rio de Janeiro a iluminação às gás etc7.

A cidade que mais viveu esse processo de urbanização no final do


século XIX foi o Rio de Janeiro, se tornando o espelho de toda essa
modernização. Iluminação à gás, água encanada e, posteriormente, a
substituição das carruagens pelos bondes elétricos, foram alguns dos reflexos
desse florescimento urbano do Rio de Janeiro.
Além do fim da Lei Eusébio de Queirós, a Tarifa Alves Branco também
contribuiu, mesmo que indiretamente, para o processo de “nascimento” e dos
“primeiros passos” das acanhadas indústrias brasileiras. Essa nova tarifa
aumentou para 20% a 60% ad valorem as taxas alfandegárias cobradas sobres
os produtos importados que entravam no Brasil, que antes estava na casa de
15%. Mesmo não podendo ser considerada uma medida protecionista
propriamente dita, já que o governo brasileiro não tinha o que se pode chamar
de interesses industrializadores, a nova tarifa deu um considerável impulso aos
novos empreendimentos industriais brasileiros.
Apesar desse cenário favorável ao desenvolvimento da indústria no
Brasil, o que ocorreu não passou de um rápido surto industrial. A economia
brasileira continuava mesmo voltada para os interesses agro-exportadores, e
essa visão se fortaleceu ainda mais com o início da valorização do café no
mercado internacional, tendo o Brasil como carro chefe do comércio mundial
desse produto.
Nesse sentido, afirmam Alencar, Carpi e Ribeiro

O desenvolvimento da lavoura cafeeira funcionava como uma faca de dois


gumes: produzia capitais excedentes que eram aplicados em novas atividades,
mas impedia o desenvolvimento dessas atividades, na medida em que o
capital acumulado nos novos empreendimentos era em grande parte aplicado
na compra de terras e plantações de café. A atividade agrícola era vista como
um investimento garantido e a propriedade de terras um fator de riqueza e
status dentro dos moldes da sociedade tradicional8.

Ainda sobre esse tema, afirma COSTA

Assim como fazendeiros se convertem em empresários, empresários, cuja


fortuna originalmente se formou na indústria, reinvestiam parte de seus lucros
em terras ou se vinculariam por laços de família e amizade aos grupos ligados
à grande propriedade rural9.

Mesmo com todos esses avanços das forças urbano-industriais, o Brasil


continuava a ser um país essencialmente agrícola

“considerando as pessoas em atividades em 1872, 80% se dedicavam ao


setor agrícola, 13% ao de serviços e 7% à indústria. Observemos que na
categoria ‘serviços’ mais da metade se refere a empregados domésticos. Vê-se
como era ainda incipiente a indústria, tanto mais que neste item está incluída a
mineração”10.

A tendência econômica manifestada embrionariamente desde o ciclo do


ouro, na metade do século XVIII, consolidava-se no Brasil por volta de 1870,
que era a ascensão econômica do Sul-Sudeste em detrimento do Nordeste
decadente. Essa tendência se fortaleceu ainda mais quando ocorreu o grande
crescimento das exportações do café brasileiro, para os Estados Unidos e para
a Europa, o que gerou grandes rendas para os chamados “Barões do Café”.
A situação econômica do Nordeste, no final do século XIX, não era nada
boa. O açúcar, que ao longo da maior parte do século XIX, ainda se manteve
como o segundo produto mais importante nas pautas de exportações
brasileiras, enfrentou nesse período duras concorrências: o açúcar cubano, que
recebia o apoio espanhol e depois norte-americano, e o açúcar extraído da
beterraba, que tinha como principal produtor europeu a Alemanha. Segundo
Fausto,
No Nordeste brasileiro, os esforços de modernização, com auxílio
governamental, foram lentos e os resultados bem mais restritos. Não é assim
de surpreender que, por volta de 1875, a participação do Brasil no mercado
mundial de açúcar, que sempre fora de 10%, tenha caído para 5%11.

O algodão foi outro produto nordestino que se destacou ao longo do


século XIX. Sua produção se destacou nos sertões de Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte e Alagoas. O primeiro boom da cotonicultura nordestina
ocorreu no período da guerra entre a Inglaterra e as suas Treze colônias da
América do Norte (1776-1783). A guerra contra a Inglaterra tirou dos Estados
do Sul dos Estados Unidos, o posto de grandes fornecedores de algodão para
as fábricas inglesas, sendo estes substituídos pelos produtores do Nordeste
brasileiro. No início do século XIX, o algodão dos Estados Unidos desbancou a
produção brasileira, que só voltou a ter um novo ciclo de crescimento quando
eclodiu a Guerra Civil Americana (1861-1865). Entre os anos de 1861-1870 o
algodão superou o açúcar na pauta de exportações nordestinas. Esse novo
surto logo chegou ao fim e somente a partir de 1915 é que este produto voltou
a se destacar no contexto econômico do Brasil, agora voltado para o mercado
interno, mais precisamente para as fábricas de tecido paulistas que cresciam
cada vez mais.
A borracha foi outro importante produto que se destacou no contexto
econômico brasileiro no final do século XIX. De insignificante porcentagem nos
índices de exportações brasileiras em 1850, tornou o terceiro produtos mais
importante entre os anos de 1881 e 1890 (8%), se aproximando muito do
açúcar que representava 9,9% dessas exportações. Esse crescimento
possibilitou um grande crescimento e urbanização de cidades como Belém e
Manaus.
Analisando esse contexto econômico brasileiro, Furtado afirmou

As exportações continuavam concentradas em seis produtos – café, açúcar,


algodão, peles e couro, fumo e borracha. Em 1871-1873, o café representava
mais da metade do valor das exportações, seguido pelo algodão, com 16,6% e
do açúcar, com apenas 12,6%. A produção do café aumentou acentuadamente
no qüinqüênio 1875-1880, atingindo 8,5 milhões de sacas, o que correspondia
à metade da produção mundial12.

Mesmo com a existência de outras culturas agrícolas, o café seguiu


hegemônico nos índices das exportações brasileiras a partir da segunda
metade do século XIX e até a década de 1920. Vários fatores contribuíram para
esse grande desenvolvimento cafeeiro, notadamente em São Paulo. A
implantação da rede ferroviária apoiou a expansão do cultivo desse produto e,
com menor ênfase, ofereceu condições para um desenvolvimento industrial,
inclusive com certa oferta de tecnologia. Outro fator importante foi o aumento
da corrente migratória européia, que permitiu maior disponibilidade de mão-de-
obra qualificada. De acordo com Furtado

A partir de 1850, cerca de 130 mil imigrantes chegaram ao Brasil destinados à


lavoura cafeeira, dando início à uma corrente imigratória que se estendeu até o
início do século XX, ganhando maior densidade no período 1881-1890. A
imigração contribuiu muito para a elevação das rendas e expansão do mercado
interno. O crescimento da população, duas vezes e meia, entre 1850 e 1900,
deu maior dimensão à economia de subsistência, tendo o Estado de Minas
Gerais se tornado o maior celeiro do país13.

Apesar da grande importância reservada às produções para exportação,


algumas regiões do Brasil acabaram se especializando em cultivou dos
produtos voltados para o mercado interno, como gêneros alimentícios e a
pecuária, nesse aspecto podemos destacar Minas Gerais e a região sul do
Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul.
Analisando o cenário econômico brasileiro do final do século XIX, Fausto
conclui

A partir de 1861 até o fim do Império, a balança comercial brasileira apresentou


um saldo positivo, ou seja, o valor das exportações superou o das importações.
Entretanto, esses saldos tiveram de atender, em grande parte, ao serviço da
dívida externa, que consiste no pagamento de prestações, juros e comissões
de empréstimos contraídos no exterior. Esse serviço consumiu 50% a 99% dos
saldos até 1889, sem se incluir aí remessa de lucros e outros pagamentos14.

1.2 – A decadência do Regime Monárquico

Ao analisar as estruturas sócio-econômicas das últimas décadas do


século XIX no Brasil, percebemos que o governo de D. Pedro II não mais se
apresentava como um bom atrativo para as novas forças políticas que se
desenvolviam no Brasil. Comentando sobre a decadência do governo imperial
brasileiro, José Maria Bello afirmou:

“O Império esgotara a própria seiva. Não poderia interessar às gerações


novas, que se abriam ao mais vivo contato com as grandes correntes mundiais
de idéias e sentimentos, o seu ambiente patriarcal era uma espécie de banho
morno que entorpecia a nação. Até os velhos servidores desiludiam-se dele
havia muito tempo”. 15

Segundo Oliveira Viana, a transformação da Idéia republicana em uma


força organizada iniciou-se em 1868, com a reação liberal após a queda do
gabinete Zacarias16. Essa reação foi marcada inicialmente pela divisão do
Partido Liberal em dois grupos: os radicais e os moderados. Esses primeiros
acabaram aderindo à causa republicana17. Somente a partir daí é que o
republicanismo no Brasil passou a ter mais força e organização, impulsionado
pela formação do Partido Republicano em 1870, liderado por Saldanha
Marinho, egresso do Partido Liberal, Quintino Bocaiúva, recém-chegado dos
Estados Unidos e Salvador Mendonça. A formação desse partido foi coroada
com a publicação do Manifesto Republicano:

(...) “A centralização, tal qual existe, representa o despotismo, dá força


ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres,
perverte e anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o
cidadão, subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de
fato a soberania nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza
peculiar das províncias, constituindo-as satélites obrigadas da corte – centro
absorvente e compressor que tudo corrompe e tudo concentra em si – na
ordem moral e política como na ordem econômica e administrativa...
(...) Somos da América e queremos ser americanos.18

Porém, não podemos prender o processo de decomposição da


Monarquia brasileira a um acontecimento de natureza exclusivamente política.
É necessário também considerar alguns elementos sócio-econômicos e os
reflexos dos acontecimentos internacionais nos rumos da vida pública
nacional. A vitória da Terceira República francesa repercutiu naturalmente
entre as elites brasileiras, tão atentas sempre a tudo que vem da França; os
Estados Unidos, redimidos da escravidão pela guerra civil, readquirem o antigo
prestígio, e é, de novo, exemplo constante de extraordinária prosperidade, que
se julga conseqüência dos sistemas políticos; a própria República espanhola
de 1873, ainda que de vida efêmera, foi também outro possível fator de
influência indireta, como teria sido a revolta nacionalista do México contra o
Império de Maximiliano.19
A maior parte das transformações importantes, a nível mundial, que
ocorreram no final do século XIX, foram lideradas e ajudaram a consolidar a
classe burguesa. Porém no Brasil imperial, mesmo com todas as
transformações sócio-econômicas, não havia uma burguesia forte e decidida
em seus ideais. Os pequenos grupos burgueses que existiam dependiam
direta ou indiretamente das riquezas produzidas pelo café.20
Em geral, o Partido Republicano não apresentava uma supremacia dos
setores urbanos, nem tão pouco uma certa homogeneidade social em seu
quadro. Além de um grande número de profissionais liberais,
muitos
fazendeiros do Oeste paulista aderiram ao republicanismo pós-1870. Segundo
Emília Viotti da Costa, a participação desses fazendeiros no Partido
Republicano conferiu-lhe um caráter antiabsolutista21. Porém, enquanto em
São Paulo os cafeicultores do Oeste formavam a base do Partido Republicano,
em muitas outras províncias as camadas urbanas eram preponderantes.
Buscando uma unificação dos vários elementos republicanos nacionais,
em janeiro de 1875 foi fundado o Clube Republicano Federal, composto por
jornalistas, advogados, professores e um relativo número da aristocracia
paulista. Várias são as críticas a esse inicial republicanismo paulista, pois
alguns de seus líderes eram abertamente escravistas. “Não se tratava, todavia,
apenas de simpatia pela República, era simpatia pelo poder” 22. A República
era por toda a parte uma aspiração de uma minoria constituída de alguma
camadas da classe média, excetuando-se em São Paulo onde ela era
principalmente a aspiração da nova aristocracia do café, a qual via na
República não um objeto em si mesmo, mas um meio de conquistar o poder
político.
Durante os anos que se seguiram após o lançamento do Manifesto
Republicano, a chama republicana esfriou para somente por volta de 1886/87
se reerguer. Porém foi somente no ano seguinte, com a atuação de Silva
Jardim, que o movimento republicano realmente organizou uma propaganda
militante. Mesmo assim, as atividades do Partido Republicano ainda eram
muito fracas e desarticuladas, como atesta Aristides Lobo: “ É triste ver a
atitude indiferente, quase nula, em que se acha o Partido Republicano da
Corte, perante os fatos eloqüentíssimos que se desdobram aos olhos do
país”.23
A grande adesão ao Partido Republicano ocorreu após maio de 1888,
quando é assinada a Lei Áurea, fazendo com um grande número de
fazendeiros ex-donos de escravos aderissem à causa republicana. No Norte-
Nordeste, apesar da tradição republicana de Pernambuco, o movimento
Republicano pós-1870 não obteve muito eco. Essa fraqueza pode ser
relacionada ao fato de nessas duas regiões não haver uma classe média
significativa e também pela abolição da escravidão não ter trazido grandes
alterações econômicas e políticas, visto que essa mão-de-obra já era quase
insignificante.
Duas tendências delinearam-se no seio do Partido Republicano: a
revolucionária, liderada por Silva Jardim e que pregava a revolução popular e a
evolucionista, liderada por Quintino Bocaiúva, que defendia a proclamação da
República através da via eleitoral. Apesar de internamente o partido ter
assimilado a tese evolucionista, para surpresa de muitos a proclamação da
república se deu através de um golpe militar.
Nem o Imperador, nem a maior parte dos políticos que o cercavam
pareciam compreender a transformação que se operava na mentalidade das
novas gerações brasileiras e, sobretudo, da juventude militar. Faltou ao
Imperador e a seus assessores o necessário tato político para evitar o que
mais tarde se chamou de “Questão Militar”. “A inabilidade com que agiram no
grave incidente com os bispos de Pernambuco e do Pará os tinha viciado e
permitiu, talvez, demasiada confiança a força do governo civil”24.
A Questão Militar foi habilmente explorada pelos republicanos que não
se cansavam de acirrar o ânimo dos militares contra o governo. Os jovens
oficiais do Exército, influenciados pelas idéias positivistas e republicanas,
difundidas principalmente por Benjamin Constant na Escola Militar, sentiam-se
encarregados da função purificadora da sociedade brasileira. “ Generalizara-se
entre os militares a convicção de que só os homens de farda eram ‘puros’ e
‘patriotas’, ao passo que os civis, os ‘casacas’, como diziam, eram corruptos,
venais e sem nenhum sentimento patriótico”25.
Na tentativa de anular os republicanos e suas idéias, o Ministro Ouro
Preto apresentou, em 11 de junho de 1889, um pacote de reformas políticas de
caráter liberal, tentando mostrar o quanto a Monarquia possuía uma
elasticidade política. Porém, logo após a sua apresentação, um grande número
de deputados se manifestaram contra, mostrando o quanto os grupos
dominantes tradicionais não possuíam a flexibilidade necessária para manter
a Monarquia26.
Durante todo o ano de 1889 esperava-se que o governo tomasse sérias
medidas contra o Exército. Esse ambiente tenso foi aproveitado por alguns
elementos dos Partidos Republicanos paulista e carioca, como Rui Barbosa,
Benjamin Constant, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva e Glicério, que se
reuniram com o Marechal Deodoro da Fonseca, em 11 de novembro de 1889,
tentando incentivá-lo a derrubar o governo de D. Pedro II.
O mês de novembro de 1889 correu marcado por uma forte tensão e
expectativa em relação aos rumos da política nacional. De nada adiantou a
indecisão de Deodoro que, da mesma forma que Floriano, desejava apenas a
deposição do Ministério Ouro Preto. Após a ação ativa de civis e militares
como Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio, Capitão Mena
Barreto e Lopes Trovão a queda ministerial se transformou em golpe militar no
dia 15 que pôs fim a 49 anos de reinado de D. Pedro II e proclamou
oficialmente a república no Brasil27.
Segundo Emília Viotti da Costa a proclamação da República

“não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro. As condições de


vida dos trabalhadores rurais continuaram as mesmas; permaneceram o
sistema de produção e o caráter colonial da economia, a dependência em
relação aos mercados e capitais estrangeiros. A fraqueza política das classes
médias e do proletariado urbano propiciou a hegemonia das oligarquias rurais
até 1930” 28.

Analisando então as origens imediatas da República, podemos afirmar


que duas forças agiram paralelamente: a direta dos republicanos e a indireta
dos próprios monarquistas. Entre estes monarquistas que trabalharam
conscientes ou inconscientemente pela República podemos destacar os
liberais, os reformadores, os abolicionistas, os federalistas da espécie de
Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e da linhagem de Tavares de Bastos, e os
desgostosos e displicentes, como os conservadores feridos pela abolição.
Entre os republicanos, é possível também distinguir quatro correntes diversas:
a dos históricos de 1870, sob a chefia de Quintino Bocaiúva, pertinazes e
sinceros, embora moderados, doutrinários políticos; a da ardente juventude de
Silva Jardim, adepta da ação revolucionária na imprensa e na rua; a dos
moços militares, imbuídos das doutrinas de Comte, liderados por Benjamin
Constant e, finalmente, a dos militares mais idosos – Deodoro é o seu símbolo
– que foram até a República sem definidas inclinações doutrinárias.29
1.3 – A organização do Regime Republicano

Como já foi comentado neste trabalho, o golpe que proclamou a


República no Brasil teve a participação de diversos setores da sociedade
brasileira e que representavam ideologias políticas conflitantes. Porém, a
organização do Governo Provisório republicano coube ao Marechal Deodoro
da Fonseca, ficando o poder político, nesses momentos iniciais, nas mãos dos
militares.
O grupo dos militares, ao menos uma grande parte destes, tinham
consciência do papel que desempenharam na proclamação da República e do
poder que possuíam naquele momento. Dessa forma, relutavam em entregar o
governo aos civis, sempre encarados com suspeitas e acusados de serem os
responsáveis pela corrupção que imperava na política brasileira. O alto
comando militar passou então a afirmar que, para consolidar as novas
instituições republicanas era necessário que o poder permanecesse nas mãos
dos militares.
O Marechal Floriano Peixoto foi quem melhor esclareceu o espírito
anticivilista que existia entre os militares:

“Fato único, que prova exuberantemente a podridão que vai por este pobre
país e que muito necessita a ditadura militar para expurgá-la. Como liberal,
que sou, não posso querer para o meu país o governo da espada; mas não
há quem desconheça, e aí estão os exemplos, que é ele que sabe purificar
o sangue do corpo social, que, como o nosso, está corrompido"30.

Os civis, por sua vez, não permaneceram inertes nesse período de


formação do governo republicano. Logo após o 15 de novembro manifestou-se
em vários membros do governo uma preocupação em relação a quando se
daria o retorno à normalidade política. Como afirmou Carone, “o governo não
pode fugir a essas pressões, sobretudo porque grande parte do Ministério era
favorável à volta da legalidade”.31
De acordo com Cardoso,

“especialmente no governo do generalíssimo proclamador da República, foi


patente o desencontro entre o espírito representativo e a prática burocrática-
política, imbricada diretamente no Exército e no zelo purgatório de que se
imbuíram importantes setores seus. Assim, no plano efetivo da Constituição
não escrita, desde o governo provisório, a questão fundamental era a de saber
quem substituiria, de fato, como força organizada, o Poder Moderador, ou seja,
como se definiriam as regras do novo establishment”.32

Enquanto as disputas políticas a nível federal se desenrolavam, os


grupos estaduais provisoriamente estabelecidos passaram a pressionar no
sentido de uma legalização do regime. Assim, em 15 de setembro de 1890
realizaram-se eleições em todos os estados para a escolha dos constituintes
federais e, em 15 de novembro do mesmo ano Deodoro, através de eleições
indiretas, foi eleito Presidente do Brasil. Segundo Carone,

“os choques violentos de facção conduzem, aparentemente, à vitória dos


grupos militares representados pela figura de Deodoro. Mas, as vitórias do
momento não representam a consolidação do grupo no poder; a crise via
continuar aprofundado-se ainda mais”.33

A história do Governo Provisório e do governo de Deodoro foi marcada


por um desgaste sucessivo da figura do proclamador da República e pela
continuidade do jogo de interesses que predominava no regime imperial.
Mesmo atuando, por várias vezes como oposição, os grupos ligados a agro-
exportação conseguiram vários lugares de destaques na política federal
durante a chamada República da Espada e muitos de seus membros cravaram
suas garras nas estruturas políticas estaduais, iniciando a partir de então a
oligarquização da República.
A consolidação do regime republicano nos Estados se deu de forma
relativamente pacífica porém, pouco tempo depois, iniciou-se um grande
conflito pela hegemonia do poder político. A luta por essa hegemonia foi
complexa porque “as lideranças – ex-monarquistas, republicanos, militares –
agiam em geral, desordenadamente prendendo-se a interesses locais e
Coronelísticos, e não a fórmulas ideológicas ou partidárias”.34
Ao mesmo tempo em que sofria oposição do Congresso, Deodoro
acabou perdendo também o apoio de importantes líderes militares como
Wandenkolk, Custódio de Melo e Floriano Peixoto. Essas oposições
mergulharam o governo em crises praticamente impossíveis de serem
superados. Diante desse quadro desesperador, Deodoro mandou fechar o
Congresso no dia 3 de novembro de 1891. Importantes elementos da Marinha
e do Exército no Rio de Janeiro não concordaram com o golpe e prepararam-
se para derrubar a nascente ditadura deodorista. O contra-golpe da oposição
iniciou-se na madrugada dos dias 22 e 23 de novembro, quando alguns navios
se rebelaram na baía de Guanabara35. Assim, para evitar o início de uma
guerra civil, Deodoro renunciou e passou o poder para o seu vice que era
Floriano Peixoto.
Floriano assumiu a presidência articulado com o Partido Republicano
Paulista, tendo figuras de destaque em seu governo, membros desse partido
como Bernadino de Campos (Presidente da Câmara), Prudente de Morais
(Presidente do Senado) e Rodrigues Alves (Ministro da Finanças).36
O momento inicial do governo de Floriano foi marcado por uma política
ambígua: ao passo que ele normalizou o funcionamento do Congresso, ele
também apoiou direta ou indiretamente as intervenções antilegalistas nos
estados. Logo no início do seu governo, a maioria dos governos estaduais que
tinham sido nomeados por Deodoro, foram destituídos pelas novas oligarquias,
apoiadas por Floriano. Este, dirigindo-se ao Congresso, tenta justificar a
conivência do governo federal diante das derrubadas nos estados afirmando
que uma reintegração dos governos depostos através da força do governo
federal, poderia levar o país a uma conflagração geral.37
O quadro geral da política brasileira não se tranqüilizou com a ascensão
de Floriano. Alguns grupos passaram a defender o impeachment do
presidente, com o argumento de que a sucessão se deu antes de dois anos de
mandato do presidente titular.
Após a intensificação da campanha antiflorianista, o governo decretou o
estado de sítio para o Distrito Federal e prendeu vários líderes da oposição. A
prisão do almirante Wandenkolk levou grande parte da oficialidade a um
estado de revolta, que se traduziu na organização de uma segunda revolta da
armada, novamente liderada pelo contra-almirante Custódio de Melo38 e que
causou o bombardeamento da capital brasileira entre setembro de 1893 e
março de 1894. Floriano, apoiado pelos republicanos paulistas e pelos
jacobinos39, conseguiu derrotar os rebeldes e passou a executar uma grande
perseguição política e ordenar freqüentemente fuzilamentos arbitrários.
O ano de 1894 – ano das novas eleições presidenciais – correu sob um
clima de grande expectativa, pois não se sabia ao certo se o presidente
realmente entregaria o cargo ou se continuaria como um ditador. Segundo
Queiroz,

“o plano geral do grande golpe de estado foi seriamente estudado e suas


medidas preliminares, contidas na prorrogação do estado de sítio e no
adiamento do Congresso, chegaram ser publicamente apresentadas e
defendidas. Argumentava-se que o marechal, pela necessidade de combater o
espírito de revolta e sufocar a guerra civil, não pudera dar à organização geral
do Brasil em moldes desejáveis aos verdadeiros patriotas todo o seu
providencial devotamento. Era indispensável conservá-lo no poder por mais
dez anos”.40

Após a conclusão do seu mandato Floriano, contrariando todas as


previsões, não tentou nenhum golpe e passou pacificamente o governo para o
paulista Prudente de Morais em 2 de novembro de 1894.
Prudente de Morais inicia o seu governo de forma cautelosa, apesar de
saber que contava com o importante apoio do poderoso Partido Republicano
Paulista e de vários grupos partidários estaduais. Na verdade, “Prudente
orienta-se determinantemente para o encerramento da fase revolucionária e a
consolidação do domínio civil. O presidente procede a uma lenta mas
Inexorável desarticulação dessa estrutura de poder florianista existente nos
estados”.41
A partir de 1896 a luta jacobinista contra o governo civil de Prudente
ganhou força e passou a se organizar na tentativa de articular um novo golpe.
O presidente enviou uma solicitação ao Congresso para decretação de estado
de sítio, pois afirmava que existia uma conspiração contra o governo
republicano. “O estado de sítio e as medidas enérgicas contra os jacobinos e a
oposição como um todo, fizeram com que estes recuassem e se dividissem”42.
Daí por diante, até o fim do seu mandato (15 de novembro de 1898), o
Presidente da República “passa a ser, automaticamente, o chefe do partido.
Este partido seria como uma organização que outra coisa não é senão o
Grande Clube Oligárquico”43. A tarefa de operacionalização desse sistema
coube a Campos Sales (sucessor de Prudente de Morais e que governou de
1898 a 1902) e por ele foi executada com perfeição. Segundo Cardoso,

“Durante o governo de Campos Sales desenvolveu-se a teoria de que a


orientação de um processo político é uma função que pertence a poucos e não
à coletividade. Ele propôs um ‘Pacto Oligárquico’, para mover um sistema
baseado numa liderança que mais do que pessoal, seja institucional. Esse
sistema foi a base do fenômeno coronelístico e da cristalização de várias
oligarquias estaduais”44.

Durante toda a República Velha as oposições ainda existiram, porém


sempre às margens dos grupos dominantes, dos coronéis e, mais do que
esse, dos oligarcas que controlavam, além das fazendas, a máquina estatal.
CAPÍTULO 2

OS MOMENTOS INICIAIS DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE

2.1 – A estrutura econômica do Rio Grande do Norte no final do século


XIX e início do século XX

Não podemos falara da economia do Rio Grande do Norte no final do


século XIX sem abordarmos a temática da seca. Apesar de desde os tempos
remotos do início de nossa colonização já existirem notícias desse problema,
foi somente a partir do século XVIII, com a consolidação da presença branca
no Sertão, que os dados sobre as secas se tornaram mais precisos.
Existem consistentes dados sobre grandes secas que ocorreram entre
os anos de 1816-1817 e a de 1824-1825, mas provavelmente a estiagem que
ocorreu entre os anos de 1844-1846 foi a que mais deixou marcas econômicas
e sociais para a província do Rio Grande do Norte. Em termos sociais, essa
seca, ao que tudo indica, deu início efetivo a o processo de êxodo rural, com
uma massa de sertanejos miseráveis migrando desesperadamente em busca
dos centros urbanos, principalmente para Natal. Esse problema ficou evidente,
num discurso proferido pelo Presidente da Província perante a Assembléia
Provincial, em 7 de setembro de 1845:

A mortandade do gado de todas as espécies e o aniquilamento as lavouras,


tem obrigado grande parte da povoação do centro a abandonar as suas
habitações e avir homisiar-se no litoral, onde a carestia e a escassez [de
alimentos], que já se sentia, aumentou-se, como era natural, com o acréscimo
de novos consumidores que sobrevieram, tornando-se por conseqüência geral
a miséria e a indigência, cujas calamitosas conseqüências sofrem em maior
escalas os retirados ou emigrados, os quais, além da necessidade de
alimentos, carecem de casas em que se abrigarem e de roupa que com se
tirem da desnudez em que se acham. De tão desgraçada situação tem
resultado morrerem não poucos indivíduos, principalmente crianças e velhos,
não só de fome, mas de enfermidades [...]45

Além dos problemas sociais citados acima, a seca de 1844-1846


também causou grandes mudanças no cenário econômico potiguar. Como
grande parte de nossos rebanhos bovinos foram aniquilados pela seca, ficou
evidente a fragilidade dessa atividade, devidos as inconstâncias do clima
sertanejo. Essa crise na pecuária motivou uma revalorização da agricultura
litorânea, principalmente as lavouras de cana-de-açúcar que se concentraram
mais em uma nova área açucareira, o Vale do Ceará-Mirim. Segundo Rocha
Pombo, entre os anos de 1845 e 1861, o número de engenhos no Rio Grande
do Norte praticamente quadriplicou, passando de 43 para 173 unidades
produtivas46.
O algodão foi outro produto que teve um grande impulso na segunda
metade do século XIX. Após a eclosão da Guerra de Secessão (1861-1865),
as exportações norte-americanas entraram em declínio, o que possibilitou a
entrada do algodão no mercado inglês principalmente. Essa mudança no
cenário internacional possibilitou a existência de um segundo ciclo do algodão
no Nordeste e no Rio Grande do Norte.
Mesmo com os efeitos danosos das grandes secas, o período entre os
anos de 1850 e 1860, foi de intenso crescimento das atividades comerciais no
Rio Grande do Norte. O Estado passou a também fazer parte do amplo
movimento de expansão mundial do capitalismo, ligando as áreas mais
remotas do planeta ao eixo de influência comercial e industrial das grandes
potências. A integração norte-riograndense nesse processo se deu através da
exportação de produto como o açúcar, o algodão e o couro e da importação de
produtos industriais, notadamente os ingleses
No período pós proclamação da República, bem como durante toda a
sua história, o Rio Grande do Norte teve uma economia baseada em produtos
agrícolas. No final do século XIX e início do século XX a cana-de-açúcar,
apesar de se encontrar em decadência nesse período, e o algodão foram os
produtos mais cultivados no estado. O primeiro, era cultivado principalmente
no litoral sul do estado e na região de Ceará-Mirim, posteriormente; o segundo,
por sua vez, tinha como principal região produtora o Seridó.
No que se refere às exportações norte-riograndenses no período
estudado, além das tradicionais lavouras de açúcar e algodão, tinham
destaque também o sal de cozinha e a carnaúba, sendo o Rio Grande do
Norte o maior exportador de sal do Brasil. Esse crescimento comercial
verificado desde o final do século XIX gerou um aumento nas arrecadações de
impostos, por parte do Governo Estadual. Segundo Monteiro

Com esses recursos, foram feitas ou iniciadas obras na capital, como o


Hospital Público (1856), o Cemitério Público no bairro do Alecrim (1865), a
iluminação pública com lampiões (1859), o Mercado Público (1860), a primeira
Escola de Ofícios (1858), o prédio para abrigar a Assembléia Provincial, a
Câmara Municipal de Natal, a Tesouraria Provincial e o Tribunal de júri (1865),
a Biblioteca Pública Municipal (1868), o prédio próprio do Atheneu Norte-Rio-
Grandense (1859), o calçamento da “Ladeira da Cruz” que ligava a Cidade
Alta à Ribeira – atual Av. Junqueira Aires – onde se localizavam as Casas de
Comércio e a Alfândega – (1870), e ainda a construção da “Ladeira do Baldo”,
entre a Cidade Alta e a fonte pública de abastecimento de água da cidade,
existente no rio do Baldo (1866).47

Sobre a produção do sal no Rio Grande do Norte podemos afirmar que


este merece um destaque especial na economia do estado durante a
República Velha. Foi tão grande a importância desse produto que, juntamente
com a cana-de-açúcar, formou a base do poderio econômico dos Albuquerque
Maranhão, oligarquia que dominou a vida política potiguar durante a maior
parte da República Velha, sendo substituída no controle da máquina estatal
durante a década de vinte quando a oligarquia Bezerra de Medeiros, oriunda
da região do Seridó assumiu o poder, favorecida pela ascensão do algodão no
mercado nacional.
Por se tratar de um importante produto para a nossa economia, logo os
grupos que ocupavam o poder no estado trataram de adquirir o monopólio do
sal, tentando impedir que os pequenos e médios salineiros pudessem realizar
um comércio de forma direta desse produto. Apesar das tentativas de
monopolizar a comercialização do sal terem antecedido a proclamação da
República, foi somente no governo de Ferreira Chaves (1897 – 1900), político
ligado aos Albuquerque Maranhão, que esse monopólio se concretizou,
através do contrato de monopolização, assinado em 13 de agosto de 1897.
Através desse contrato, a empresa Sal e Navegação obteve o monopólio da
comercialização do sal no estado. O caráter monopolista fica explícito quando
o contrato determina que:

“os contratantes poderão entrar em acordo com os demais exportadores e


produtores para o fim de auferirem as vantagens e sujeitarem-se aos ônus do
contrato, ficando os que se recusarem ao acordo obrigados a pagar pelo sal
que exportarem um imposto equivalente à metade da taxa no orçamento da
União para a entrada do sal estrangeiro.48

Quanto à cana-de-açúcar, ela foi um dos principais produtos da


economia brasileira até o período da República Velha e, no Rio Grande do
Norte, foi produzido inicialmente no litoral sul e, posteriormente, após o ano de
184549, teve uma grande expansão voltada para uma nova área canavieira – o
vale do rio Ceará-Mirim50.
No ano da proclamação da República o estado conseguiu exportar uma
expressiva quantidade de açúcar, chegando a 13.760.534 quilos, porém esse
número nos anos seguinte enfrentou uma drástica queda chegando à marca
de 1.244.525 quilos em 1905.
Pressionado pelos grandes senhores de engenho, que não queriam
perder o poder econômico com a crise que afetava o setor, o governador
Alberto Maranhão tomou várias medidas para conceder vantagens para esses
produtores51.
No que se refere à indústria, o Rio Grande do Norte não alcançou
destaque no cenário nacional. A nível de Nordeste a indústria potiguar
superava apenas o Maranhão e o Piauí. Essa fraca industrialização contribuiu
para que a população norte-rio-grandense, na época da Primeira República, se
localizasse principalmente no interior do estado onde fica mais diretamente
sob o controle dos grandes coronéis, facilitando a consolidação do fenômeno
coronelístico.
Paralelamente às grandes lavouras para a exportação, a economia
potiguar também possuía uma pecuária relativamente destacada e também se
praticava a agricultura de subsistência, como atesta Paulo Pereira dos Santos:

“As culturas de algodão e de cana-de-açúcar preenchiam grande parte do


nosso território, secundados pelo plantio de feijão, milho, mandioca e outros
produtos alimentícios. Além dessas atividades agrícolas de subsistência e de
exportação, não podemos olvidar a contribuição da pecuária...” 52
2.2 – A organização político-partidária do Rio Grande do Norte no final do
século XIX e início do século XX

A estrutura político-partidária do Brasil durante o Segundo Reinado


(1840-1889), resumia-se à disputas entre os partidos Liberal e Conservador.
Na verdade, existiam poucas diferenças, em termos ideológicos, entre esses
dois partidos. As disputas se resumiam à lutas por mais poder, cargos no
governo e influência junto ao imperador.
No Rio Grande do Norte, a organização político-partidária refletia a
mesma existente a nível federal, com as disputas entre os partidos Liberal e
Conservador. Porém, os partidos potiguares não apresentavam uma boa
definição ideológica, como bem elucida Bueno:

“Uma economia frágil e dependente, uma sociedade agrária e patriarcal,


forneciam o pano de fundo para a política potiguar no final dos anos 80 do
século passado. Os partidos eram mais um ajuntamento de parentes,
compadres e agregados e clientes do que instituições representativas de
setores sociais determinados, com programas definidos e soluções para os
problemas da província. Essa carência de partidos políticos propriamente ditos
foi a tônica desse final de Monarquia no Rio Grande do Norte e no Brasil e
assim continuará sendo por quase toda a República Velha”.53

Mesmo internamente, os partidos Liberal e Conservador do Rio Grande


do Norte não apresentavam uma unidade e encontravam-se profundamente
divididos. O Partido Liberal dividia-se entre a ala majoritária que seguia o ex-
deputado-geral Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti e a ala minoritária dos
chamados “puros”, que seguiam o advogado Dr. José Moreira Brandão
Castelo Branco. O Partido Conservador, por sua vez, também se encontrava
fracionado em dois grupos: o da “Gameleira”, liderado pelo padre João Manoel
de Carvalho e o da “Botica”, que seguiam as orientações do professor da
Faculdade de Direito de Recife, Dr. Tarquínio Bráulio de Souza Amaranto.54
Após o 15 de novembro, os partidos monarquistas praticamente se
dissolveram e seus membros ingressaram uns no partido republicano de
tendências pedrovelhistas e outros passaram a fazer oposição ao novo líder
político potiguar, o Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
Dentre os partidos republicanos potiguares, merece destaque o Partido
Republicano Federal do Rio Grande do Norte, fundado por Pedro Velho no dia
27 de janeiro de 1889. Inicialmente o partido não empolgou as massas. Porém,
mesmo com uma indiferença inicial, o partido foi crescendo à medida que os
liberais e conservadores se desentendiam com a desagregação do regime
monárquico55. No período de sua fundação, o Partido Republicano não se
constituía como uma ameaça. O próprio Pedro Velho, influenciado pela
propaganda de Silva Jardim, pregava uma revolução no âmbito eleitoral, sem
derramamento de sangue56.
Antes mesmo da proclamação da República, o Partido Republicano fez
o seu ”batismo” nas urnas, na eleição de 31 de agosto de 1889. Realizado o
pleito, o resultado foi o seguinte: o candidato Pedro Velho obteve apenas 56
votos. Pelo primeiro distrito, saiu vitorioso Amaro Bezerra (liberal); e pelo
segundo, Miguel Castro (conservador).57
Com o advento da República, esse partido passou a dominar
completamente a política norte-riograndense durante toda a República Velha.
Porém, seus métodos para se consolidar o poder seguiam as mesmas práticas
violentas e corruptas que marcaram as disputas políticas brasileiras nas
primeiras décadas do século XX, como explica Itamar de Souza:

“Realizando eleições a ‘bico de pena’, eliminando eleitores na hora do


alistamento nos municípios onde a oposição poderia vencer e praticando toda
sorte de arbitrariedade em favor dos seus candidatos, os integrantes do
Partido Republicanos construíram para si um pedestal de ‘glória’ pouco
condizente com os ideais republicanos. Agindo sem ética política, esse partido
impediu que se praticasse o princípio mais elementar do regime democrático:
a rotatividade dos partidos no poder. Sem isso, não há democracia”.58
Os vários políticos descontentes com as diretrizes dadas por Pedro
Velho acabaram se unindo e fundaram no dia 27 de agosto de 1897, o Partido
Republicano Constitucional, que acabou se tornando o ponto de oposição
a oligarquia Albuquerque Maranhão que dominava o Partido Republicano
Federal.
O Partido Republicano Constitucional já nasceu com uma relativa força,
disposto a travar qualquer luta pelo poder, aglutinando em suas fileiras todos
os descontentes com as diretrizes políticas tomadas por Pedro Velho. Esse
partido foi fundado aos 27 de agosto de 1897 e sua reunião de fundação foi
presidida pelo Dr. José Paulo Antunes que, ao explicar as razões daquele
evento, afirmou que “o partido oposicionista ao governo estadual devia
empenhar-se em aparar e prestigiar o princípio da autoridade sem o qual não
evoluem os princípios de liberdade que estão consagrados na Carta
Constitucional de 24 de fevereiro”59.
Apesar do partido ter nascido forte, contando com uma empolgante
esperança dos oposicionistas de Pedro Velho de conseguirem abalar a
oligarquia Albuquerque Maranhão, que já se estruturava na política do Rio
Grande do Norte, segundo Souza

Não demorou muito para esses políticos entenderem que era quase
impossível se combater o Governo na República Velha. Não se reconhecia à
oposição o direito de existir. O oposicionista não era considerado como um
adversário político, mas, ao contrário, como um terrível inimigo a quem o
governo devia combater por todos s meios lícitos e ilícitos. Por isso, não é
exagero afirmar que, na República Velha, todos os governantes estaduais
seguiam esta diretriz política: aos amigos, todas as benesses do poder; para
os adversários, os rigores da lei e a violência do arbítrio60.

Enfraquecido por sucessivas derrotas e pelo falecimento de alguns de


seus líderes, o Partido Republicano Constitucional entrou num rápido processo
de decadência.
Os republicanos “históricos”, excluídos por Pedro Velho, uniram-se aos
liberais amaristas e aos conservadores da Gameleira para formar o chamado
“Centro Republicano 15 de novembro”, presidido por Hermógenes Tinoco61.
Essa agremiação política passou a fazer forte oposição a Pedro Velho e seus
aliados, procurando denunciar todas as irregularidades e crimes cometidos
pela oligarquia dominante do estado.
Desde o final da década de 1860 que se tem notícias de um partido
católico no Brasil, porém foi após a chamada “Questão Religiosa” (1872) que
as forças católicas se agitaram em todo o Brasil. Segundo Itamar de Souza,
“após a proclamação da República em 1889, o Partido Católico articulou-se
para combater o positivismo, que era a ideologia dominante entre os líderes do
movimento republicano”62.
Apesar de ter obtido uma boa votação nas eleições para deputados e
senadores no Rio Grande do Norte, em 1890, os candidatos do Partido
Católico foram derrotados, pois não conseguiam concorrer com os candidatos
apoiados por Pedro Velho.
No Rio Grande do Norte, como nos demais estados brasileiros, o
Partido Católico foi paulatinamente absorvido pelas oligarquias dominantes.
Seguindo uma tendência da época, tendência esta que se apresenta até
os dias atuais, os grupos políticos do estado procuravam montar algum jornal
que pudesse servir de porta-voz dos interesses e ideologias de cada uma
dessas facções políticas. Os liberais editaram em Natal o jornal A Liberdade,
que circulou entre 1885 e 1889 e era dirigido pelas duas facções dos liberais,
mas cada vez mais dominado pelos amaristas. A partir de março de 1889 até
1892, foi publicado em Caicó (na época chamada de Vila do Príncipe) o jornal
O Povo, que era o porta-voz da dissidência seridoense que, rompendo com
Amaro Bezerra, passou a sofrer uma maior influência dos coronéis sertanejos
liderados pelo “tenente-coronel” José Bernardo de Medeiros63.
No final da Monarquia, o jornal dominado pelos conservadores (tanto os
da Botica quanto os da Gameleira) era a Gazeta do Natal. Após a proclamação
da República, parte dos conservadores, que não se alinharam com a política
de Pedro Velho, passou a editar o jornal Rio Grande do Norte, que circulou
entre os anos de 1890 e 1896. Esse jornal era de tendência deodorista, anti-
florianista e anti-pedrovelhista, publicando duras críticas à oligarquia Maranhão
e, principalmente, a seu grande líder, Pedro Velho64.
Após a fundação do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, em
janeiro de 1889, Pedro Velho tratou de também de organizar um jornal que
ajudasse na divulgação das idéias republicanas. Assim, foi criado o jornal A
República, cujo primeiro número circulou no dia 1º de julho de 1889. No
Seridó, os republicanos liderados pelo jovem Janúncio da Nóbrega Filho
utilizavam os espaços do jornal O Povo (de orientação liberal) para divulgar as
idéias republicanas pelo Sertão65.
2.3 – O advento da República no Rio Grande do Norte

O movimento republicano no Brasil, como já se estudou no primeiro


capítulo deste trabalho, se intensificou a partir da década de 1870, quando as
idéias republicanas passaram a circular através de jornais, manifestos e
fundação de clubes republicanos, principalmente na região Sudeste, onde a
nascente elite cafeeira se sentia prejudicada com a forte centralização
monárquica. No Nordeste também existia um descontentamento da elite
agrária em relação ao governo imperial. Este era acusado de “virar as costas”
para os graves problemas que se abatiam sobre a sociedade e sobre a
economia nordestina, marcada pela decadência das tradicionais lavouras
canavieiras e algodoeiras.
Segundo Denise Monteiro, os divulgadores do republicanismo no
Nordeste foram

“essencialmente, os filhos da elite agrária local que passaram pelas escolas


superiores de Medicina e Direito, de Pernambuco e Rio de Janeiro, centros de
circulação e debates de idéias, e que ocupavam os cargos públicos da
província”66.

No Rio Grande do Norte, o movimento republicano tinha inicialmente


como principais líderes Janúncio da Nóbrega Filho, João Avelino e Almino
Afonso. Em 1888, João Avelino já possuía uma extensa lista de nomes de
republicanos norte-rio-grandenses. Faltava, no entanto, alguém que levasse
adiante o processo de organização de um partido republicano no estado. Após
muitas consultas, o nome escolhido foi o de Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão (primo de João Avelino)67.
Escolhido o líder do partido, segundo Tavares de Lyra

“às 12 horas do dia 27 de janeiro de 1889, teve lugar nesta capital na


residência do cidadão João Avelino, a primeira reunião do partido republicano
nesta província, após os movimentos revolucionários tragicamente afogados
no sangue dos patriotas de 1817 e 1824”68.

A Comissão Executiva Provisória do Partido Republicano escolheu para


presidente do partido Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, para vice-
presidente Hermógenes Tinoco, para 1º Secretário João Avelino Pereira de
Vasconcelos, para 2º Secretário João Ferreira Nobre e, para Tesoureiro
Manoel Onofre Pinheiro69.
Para Lindoso, o movimento republicano no Rio Grande do Norte, no
momento da fundação do partido, “traduzia um comprometimento cada vez
mais íntimo com os interesses e a perspectiva da classe dos grandes
proprietários rurais e da burguesia comercial”70. Essa visão elitista e
conservadora dos líderes do partido republicano do Rio Grande do Norte, que
não desejavam em hipótese alguma perder seus privilégios, fica evidenciada
nas palavras de Pedro Velho, contidas no manifesto escrito pelo mesmo após
a fundação do partido:

(...) “No terreno das idéias, com a mais perfeita independência de pensar, com
as nossas convicções solidamente firmadas, sem violências nem excessos
(grifo nosso), mas com perseverança e constância, sempre na linha reta da
propaganda doutrinária” (...)
(...) “Se trabalharmos em a esperança de gozar pessoalmente os frutos da
grande reforma ao menos estamos preparando um futuro melhor para os
nossos filhos. Cremos entretanto que a liberdade triunfará em curto prazo e
sem abalos nem convulsões. Contamos com a vitória pacífica da opinião
que progride e cada dia mais e mais se fortalece” (grifo nosso) (...)71

Também no Sertão norte-rio-grandense, no ano de 1889, a chama do


republicanismo se espalhava e contagiava cada vez mais adeptos, motivados
pela crescente propaganda em torno da idéia republicana, realizada por jovens
como Janúncio da Nóbrega Filho, cujo pai era proprietário de terras e capitão
da Guarda Nacional. Nóbrega era estudante de Direito em Recife quando
redigiu o inflamado e empolgante “Manifesto Republicano”, publicado no jornal
O Povo, de Caicó, em 1889:
(...) “A monarquia não pode mais existir no solo americano pelo
sacrifício da dignidade de um povo, pelo aniquilamento das suas liberdades,
pelo seu retardamento na escala ascendente do progresso, contra a índole de
seu caráter, que é essencialmente livre, porque é americano. É preciso que o
Brasil se ‘americanize’, adaptando-se ao meio continental em que vive. A
monarquia entre nós foi instituída por um modo indigno e infante, vivemos no
mais puro absolutismo disfarçado”(...)
(...) “Povo seridoense, nós os rio-grandenses, mais do que ninguém, temos
necessidade de sermos republicanos; quem de nós tiver o poder mágico de
sentir as eletrizações sublimes do patriotismo não pode deixar de protestar
contra a daninha existência deste império bragantino, que tem 67 anos de vida
tem votado ao mais criminoso abandono e ao mais revoltante esquecimento
esta nossa heróica província, merecedora de um futuro melhor”72 (...)

As notícias do ocorrido no Rio de Janeiro em 15 de novembro pegaram


os norte-riograndenses desprovidos de qualquer informação, e sem nenhuma
decisão de como seria também feita a proclamação no estado. De posse do
telegrama enviado por Aristides Lobo, convocando-o para assumir o governo
do Rio Grande do Norte, Pedro Velho hesitou pois, segundo Itamar de Souza,
apesar do entusiasmo contido no manifesto, ainda existia, entre os
republicanos, um clima de expectativa, fruto do medo de um retrocesso
monarquista73.
Para surpresa dos chamados republicanos “históricos” Pedro Velho,
antes de assumir o governo, e como medo de ser considerado um usurpador
do poder, procurou aconselhar-se primeiro com os conservadores do grupo da
Botica, adversários naturais dos liberais depostos, esquecendo as tendências
anti-republicanas de vários deles. Segundo Itamar de Souza, após essa
hesitação inicial,

“As 15 horas do dia 17 de novembro, Pedro Velho foi ao Palácio do Governo,


que, naquela época, funcionava na rua Tarquínio de Souza, hoje Rua Chile.
Lá, perante uma multidão de cerca de trezentas pessoas e das autoridades
militares aqui sediadas, Pedro Velho foi aclamado Presidente do estado”74
Assim, segundo Bueno,

“A República na província potiguar nascia tranqüilamente, como se fosse a


transmissão formal de cargo de um partido a outro, de acordo com a praxe
imperial e não uma mudança radical de um regime político por outro”75

Com o fim da Monarquia, a grande questão que surgiu para as elites


estaduais resolverem foi, como manter o monopólio do poder com o fim do
voto censitário. A solução encontrada foi justamente a utilização do voto
aberto, que passou a ser chamado de “voto de cabresto”. Dessa forma,
segundo Denise Monteiro, “as estruturas de poder não só foram mantidas,
como ganharam ainda uma aparência de legitimidade”76.
CAPÍTULO 3

A OLIGARQUIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE

3.1 – Das indefinições iniciais a oligarquização plena

No dia dezessete de novembro de 1889, Pedro Velho dirigiu-se ao


Palácio do Governo, que, na época localizava-se na Rua Tarquínio de Souza,
atual Rua Chile, e na presença de aproximadamente trezentas pessoas, foi
aclamado Presidente.
Assim que foi aclamado Presidente do Rio Grande do Norte, Pedro
Velho de Albuquerque Maranhão tratou logo de compor a estrutura do novo
governo republicano.
As nomeações feitas por Pedro Velho surpreenderam e desagradaram
profundamente os chamados republicanos “históricos”, como Hermógenes
Tinoco, o padre José Paulino, Janúncio da Nóbrega e Braz Melo, que não
foram lembrados para nenhum cargo junto ao governo. O Governo Provisório
norte-rio-grandense foi composto praticamente por ex-monarquistas
(conservadores da Gameleira e da Botica e liberais não-amaristas e
dissidentes do Seridó), tendo como principais líderes o liberal José Bernardo, o
conservador Amintas Barros e o republicano Pedro Velho. Este governo
recebeu o apelido de “Tríplice Aliança”77.
Quatro dias após assumir o governo do Rio Grande do Norte, Pedro
Velho lançou um “Manifesto ao Povo”, conclamando a população do Estado à
aderir com fervor os ideais e práticas republicanas. Esse manifesto porém,
continha uma forte e contundente ameaça aos seus oposicionistas, deixando
claro como seria a sua prática política a partir de então:

O governo deste Estado, legítimo e imediato representante do Povo, cujos


direitos saberá respeitar e fazer respeitar em sua plenitude, tendo por
norma e guia de seus passos- manter a ordem e assegurar a felicidade
de seus concidadãos, certo de que a moralidade, justiça e energia de
seu procedimento administrativo constituem a garantia mais perfeita do
respeito à lei e à autoridade extraordinária de que se acha investido por
aclamação do Povo e das classes militares, faz saber: - Que conspirar,
sem patriotismo e abnegação, quem pretende insinuar no ânimo
generoso deste bom Povo Rio-Grandense que o Governo não seja
encarnação firme e honrada do amor à causa pública e decidido
mantenedor da tranqüilidade pátria; - Que será crime de lesa-
patriotismo tentar perturbar o estabelecimento do governo republicano
deste Estado, pacífica e entusiasticamente organizado, fato grandioso e
sublime, que encheu de júbilo santo o grande coração dos filhos desta terra,
cujas tradições de heroísmo já a história tem registrado em mais de um
período solene e difícil de nossa existência política; Que o advento da
República dos Estados Unidos do Brasil é hoje um fato brilhantemente
consumado e irrevogável78. (grifo nosso)

A opção política tomada por Pedro Velho, durante a montagem do seu


secretariado, levou os “históricos” a se aliarem com os seus tradicionais
adversários, os liberais amaristas e parte dos conservadores da Gameleira,
para formar, em 22 de março de 1890, o primeiro grupo que se levantou contra
a nascente oligarquia Albuquerque Maranhão e pelo “pedrovelhismo” que
marcou os primeiros anos da República no estado, o Centro Republicano 15 de
Novembro79.
As primeiras medidas tomadas por Pedro Velho, como uma série de
nomeações e exonerações, num total de 32 mudanças de cargos entre os dias
18 e 22 de novembro de 188980, bem como as suas nomeações para o
Governo Provisório, evidenciam que o líder do governo potiguar, acima das
convicções ideológicas, procurava manter ao seu redor políticos que pudessem
fortalecer ainda mais o seu partido e ajudá-lo a consolidar-se e a sua família no
poder. Ao excluir os “históricos” e nomear líderes seridoenses, Pedro Velho
procurava expandir a oligarquia Maranhão também ao interior do Estado, pois
tradicionalmente a área de influência dessa família limitava-se ao litoral.
Após apenas dezenove dias no poder, Pedro Velho e seus
correligionários foram surpreendidos com a notícia da nomeação do Dr. Adolfo
Afonso da Silva Gordo para assumir o governo do Rio Grande do Norte. Após a
saída de Pedro Velho, o governo do Estado foi seguidas vezes ocupado por
políticos nomeados pelo Governo Federal (7 governadores e uma Junta
Governativa em apenas 2 anos e 2 meses). Essa instabilidade do Governo
Estadual era reflexo das acirradas disputas que estavam ocorrendo a nível
federal.
Apesar de excluído do Governo Estadual, Pedro Velho procurou ao
máximo se unir aos vários governadores que estavam sendo indicados para o
Rio Grande do Norte, afim de gradativamente ir montando as bases de sua
oligarquia que se estruturava no estado, procurando sempre que possível
indicar algum parente para cargos públicos ou favorecer os negócios industriais
e agro-comerciais de seus familiares.
Em seu curto governo (07/12/1889 – 08/02/1890) Adolfo Gordo não
tomou nenhuma medida de impacto político. A maior parte das medidas
tomadas por ele evidenciava o quanto Pedro Velho já tinha conseguido
influência nas decisões do governo. Adolfo Gordo contratou, sem concorrência
e sem fiscalização, a abertura da estrada Natal-Macaíba com o Sr. Amaro
Barreto de Albuquerque Maranhão, pai de Pedro Velho81. Para governar Natal
foi criado o Conselho de Intendentes, cujos membros eram escolhidos pelo
governador do Estado. Os primeiros presidentes da Intendência de Natal foram
Fabrício Gomes Pedroza, João Avelino e Jovino Barreto, avô, primo e cunhado
de Pedro Velho, respectivamente. A importância para a oligarquia Maranhão de
dominar este cargo devia-se ao fato de que o Presidente da Intendência de
Natal era também presidente da junta apuradora de todas as eleições. Pedro
Velho conseguiu ainda que o governo contratasse o jornal A República para
publicar todos os atos oficiais82. Essa medida favorecia seus interesses pois o
jornal porta-voz de seu grupo se tornava agora quase um órgão oficial do
governo.
Adolfo Gordo deixou o governo em fevereiro de 1890 sem apresentar
nenhuma justificativa. Agindo rapidamente junto ao governo provisório no Rio
de Janeiro, Pedro Velho conseguiu a nomeação para a administração estadual
do Dr. Joaquim Xavier da Silveira Júnior (governou de 10/03/1890 a
19/08/1890) e a sua para vice. Da mesma forma que ocorreu no governo de
Adolfo Gordo, o novo governador atendia totalmente aos desejos de Pedro
Velho. Como afirma Itamar de Souza, “na prática, era o vice que governava”83.
O líder dos Albuquerque Maranhão conseguiu que fosse aprovado: a isenção
do pagamento de direitos de exportação dos produtos da Fábrica de Fiação e
Tecidos de Natal, pertencente a Jovino Barreto, seu cunhado; concedeu ao
seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão o privilégio, por 50 anos,
para construir uma estrada de ferro de Areia Branca à Luís Gomes; elevou a
10% o imposto pago pelo açúcar refinado de outros estados, afim de proteger
a produção açucareira de sua família, que se concentrava em Canguaretama84.
Durante o governo de Xavier da Silveira realizaram-se eleições para a
Constituinte federal, que entrou para a História do Brasil como “uma das mais
fraudulentas”85. Para concorrer a essa eleição, Pedro Velho procurou unir em
um só grupo vários núcleos republicanos potiguares e, após ter garantido o
apoio em todas as regiões, sua chapa saiu esmagadoramente vitoriosa, sendo
eleitos: o líder seridoense José Bernardo de Medeiros, José Pedro de Oliveira
Galvão (parente de Pedro Velho) e o erudito Dr. Amaro Cavalcanti para o
Senado e, para a Câmara dos Deputados, foram eleitos os representantes dos
antigos grupos monarquistas que haviam aderido praticamente desde a
primeira hora, eram eles: Almino Afonso, Miguel Castro, Amorim Garcia e o
próprio Pedro Velho86. Segundo Itamar de Souza, “ formou-se naquela ocasião
a estrutura política para ele impor ao Rio Grande do Norte a sua oligarquia”87.
Segundo Bueno:

“O resultado da eleição de 15 de setembro foi o esperado, ela apenas


confirmou uma tendência muito clara na política do Rio Grande do Norte: a
centralização do PRRN e de toda a política nas mãos de Pedro Velho e de sua
família, dando início ao chamado ‘pedrovelhismo”88

Alegando problemas de saúde, Xavier da Silveira retornou ao Sul,


deixando Pedro Velho como governador provisório. Imediatamente foi
nomeado um novo governador, o Dr. João Gomes Ribeiro que tomou posse em
8 de novembro de 1890 e passou apenas 28 dias no cargo.
Como um exemplo de prestígio junto ao Governo Federal, Pedro Velho
conseguiu a nomeação de Manoel do Nascimento Castro e Silva que tomou
posse em 7 de dezembro de 1890. Seu governo porém, durou apenas dois
meses e vinte e seis dias e não teve nenhuma medida de peso para a política
potiguar.
Se o ano de 1890 marcou uma grande ofensiva de Pedro Velho e de sua
família, apontando para uma real oligarquização do Rio Grande do Norte, o ano
de 1891 trouxe grandes alterações nos rumos da política nacional e estadual.
No início deste ano, ocorreram eleições indiretas para se escolher o Presidente
da República, tendo como concorrentes o Marechal Deodoro da Fonseca,
candidato natural ao cargo, e o paulista Prudente de Morais, representante das
oligarquias cafeeiras. Contrariando toda a bancada potiguar, Pedro Velho
(Deputado Federal) e José Bernardo (Senador) votaram em Prudente de
Morais.
Após a vitória de Deodoro da Fonseca, iniciou-se uma grande ofensiva
contra as oposições. No Rio Grande do Norte, os quadros pedrovelhistas
começaram a ser derrubados, principalmente após a nomeação, para o
governo do Estado, de Francisco Amintas da Costa Barros que assumiu no dia
três de março e governou até 13 de junho de 189189.
Em junho de 1891, Joaquim de Almeida Castro foi eleito para o governo
estadual e nem chegou a assumir, sendo o cargo entregue a José Inácio
Fernandes Barros, eleito para vice-governador e que renunciou com menos de
um mês no cargo. Em seu lugar assumiu o Cel. Francisco Gurgel de Oliveira
que também passou pouco tempo no cargo (seis de agosto a nove de
setembro de 1890).
Sucedendo Francisco Gurgel, Miguel Joaquim de Almeida Castro, que
governou de nove de setembro a 28 de novembro de 1891. “Seu governo
decorreu num clima de acirrados debates a nível local e muito prejudicado pela
crise política nacional. A cada dia, o governo de Deodoro mergulhava mais
fundo na crise política”90. Após a eclosão da chamada Primeira Revolta da
Armada, em novembro de 1891, Deodoro da Fonseca acabou renunciando à
presidência da República.
Apenas três dias após a renúncia de Deodoro da Fonseca, o governador
deodorista Miguel Castro foi derrubado por um movimento liderado por Pedro
Velho e José Bernardo. A versão oficial, lida por Pedro Velho na Câmara dos
Deputados, procurava mostrar que ele e José Bernardo “foram apenas
instrumentos da vontade popular”91
Após a queda de Castro, foi formada uma Junta Governativa, formada
predominantemente por elementos pedrovelhistas. Essa junta dissolveu o
Congresso Legislativo estadual, realizando uma nova eleição vencida pela
chapa de Pedro Velho, que ocupou praticamente todos os lugares do novo
Congresso, também apelidado de “Congresso de Pedro Velho”92.
Para Bueno, a junta Governativa realizou “a transição que levou
definitivamente Pedro Velho ao poder estadual”93. O líder da oligarquia
Maranhão foi eleito indiretamente para Governador no dia 22 de fevereiro de
1892. Para Itamar de Souza, “a eleição de Pedro Velho representou o fim da
instabilidade política no Estado e a consolidação do regime republicano no
território norte-rio-grandense”94.
Ao assumir o governo no dia 28 de fevereiro de 1892, Pedro Velho
deixou a sua vaga na Câmara Federal aberta. Essa vaga foi preterida por
Nascimento de Castro, Janúncio da Nóbrega, republicano “histórico”, e José
Bernardo, antigo aliado de Pedro Velho. Este, porém, contrariando todas as
expectativas e elevando ao máximo os seus sonhos oligárquicos, apoiou a
candidatura de seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Para enfrentar a crescente oposição que cada vez mais se fortalecia,
Procurava sempre cercar-se de seus familiares. Em junho de 1893 ele nomeou
o seu irmão Alberto de Albuquerque Maranhão para o cargo de Secretário de
Governo. Essa nomeação iniciou a consolidação definitiva da oligarquia
Albuquerque Maranhão no Estado.
O governo de Pedro Velho (28/02/1892 a 31/10/895) se destacou mais
no setor político do que na realização de obras materiais. Sua maior
preocupação não era a construção de estradas nem escolas e sim a
consolidação de sua família e correligionários no poder do Rio Grande do
Norte95.
Apesar da cordialidade e cumplicidade iniciais (no caso das derrubadas
estaduais dos elementos deodoristas), as relações entre Pedro Velho e o
Presidente da República Floriano Peixoto não continuaram eternamente
pacíficas. Após desentendimentos durante a campanha presidencial, Floriano
Peixoto passou a fazer uma forte oposição a Pedro Velho, chegando a
designar o comandante do 34º Batalhão, o Coronel Virgínio Napoleão Ramos,
para depor o líder norte-rio-grandense. Para manter o seu governo, Pedro
Velho precisou mobilizar todo o poder econômico de sua família, o apoio dos
aliados do Seridó e sensibilizar a opinião pública96. Após esse incidente,
mesmo num clima de constante hostilidades com Floriano Peixoto, Pedro Velho
conseguiu se manter no poder.
O ano de 1894 foi marcado pela consolidação definitiva da oligarquia
Albuquerque Maranhão no poder norte-rio-grandense. Nas eleições diretas
para Presidente, que ocorreu neste ano, Pedro Velho conseguiu uma grande
quantidade de votos para Prudente de Morais, que acabou sendo eleito. Esse
apoio ao presidente rendeu ao líder potiguar um grande prestígio junto ao
Governo Federal. Pedro Velho conseguiu aprovar várias medidas que
fortaleceram ainda mais a sua já consolidada oligarquia, tais como: a
nomeação do seu primo, o Sr. João Lira Tavares, para o estratégico cargo de
administrador dos Correios do Rio Grande do Norte; em 1895, nomeou Affonso
de Albuquerque Maranhão para o cargo de Promotor Público da Comarca de
São José de Mipibú; Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão foi Presidente
da Intendência de Canguaretama de 1893 a 1913; Affonso Maranhão Filho,
sem ser engenheiro, foi nomeado pelo Governo Federal para o cargo de
Engenheiro da Comissão de Melhoramentos do Porto. Essa comissão
funcionou durante muito tempo como um cabide de emprego. “Ali, dizia a
oposição, havia mais protegidos da oligarquia Albuquerque Maranhão do que
grãos de areia nas dunas da Redinha”97.
Quando completou o seu mandato em outubro de 1895, Pedro Velho
conseguiu eleger, pelo voto popular, o seu sucessor, o Desembargador
pernambucano Joaquim Ferreira Chaves, que governou o Rio Grande do Norte
de 25 de março de 1896 a 25 de março de 1900. “A partir daí o domínio de
Pedro Velho tornou-se absoluto. Em 1897 o Cel. José Bernardo reaproximou-
se, garantindo o apoio do Seridó. Pedro velho impôs a sua vontade à política
estadual, eliminando qualquer veleidade mais significativa de oposição”98.
Após a morte do Deputado Federal Junqueiras Aires em 1896, Pedro
velho candidatou-se e conseguiu se eleger para preencher a vaga. Com essa
eleição, dos quatro representantes do Rio Grande do Norte na Câmara federal,
três era da família Albuquerque Maranhão: Augusto Severo, Tavares de Lira e
Pedro Velho.
Durante o seu governo, Ferreira Chaves fez todos os arranjos políticos
que interessavam a Pedro velho, como por exemplo: nomeou o Dr. Alberto
Maranhão para o cargo de Secretário do Governo; Fabrício Maranhão assumiu
a presidência do Congresso Legislativo em 1897; Joaquim Scipião, seu irmão,
foi nomeado para a Promotoria Pública de Canguaretama; com o Sr. Adelino
Maranhão, outro irmão de Pedro Velho, Ferreira Chaves contratou a cobrança
do imposto sobre o sal, atividade altamente lucrativa; Joaquim Felismino de
Albuquerque Maranhão, que era Juiz Distrital em Nísia Floresta, foi transferido
para Arêz a fim de controlar melhor a política daquele município; para fiscalizar
a estrada de ferro Great Western, no trecho entre Natal e Nova Cruz, foi
nomeado outro parente de Pedro Velho, o Dr. Affonso d’Oliveira Maranhão99.
Apesar de todo o favoritismo e nepotismo já citados, o exemplo maior
do processo de oligarquização do Rio Grande do Norte ocorreu quando o
Governador Ferreira Chaves, a pedido de Pedro Velho, convocou o Congresso
Legislativo Estadual para reformar a Constituição do Estado. O principal ponto
desta reforma foi a redução da idade mínima exigida para Governador de 35
para 25 anos. “Dessa forma, estava removido o único empecilho à candidatura
de Alberto Maranhão, que tinha apenas 26 anos de idade100.
Após a conclusão do mandato de Ferreira Chaves, foram feitas
realizadas eleições, vencidas, como se previa, por Alberto Maranhão em junho
1899. O governo de Alberto Maranhão (de 25/03/1900 e 25/03/1904) serviu
apenas para fortalecer ainda mais a já consolidada e estruturada oligarquia
Albuquerque Maranhão.
3.2 – O pedrovelhismo e a oposição

Os dez primeiros anos da República no Rio Grande do Norte foram


marcados pelo processo de montagem da Oligarquia Albuquerque Maranhão,
arquitetada pelo Dr. Pedro Velho. Este, apesar de contar com o apoio da
maioria dos líderes estaduais teve de enfrentar duras contestações de grupos
de oposição, como os ex-monarquistas que não se enquadraram na política
pedrovelhista e os republicanos “históricos”, excluídos do poder. Essa
oposição teve como principais veículos de divulgação de suas idéias os jornais
Rio Grande do Norte e O Nortista. Este último, de propriedade de um líder da
oposição a Pedro velho, Elias Souto, circulou com esse nome até o dia sete de
setembro de 1895, quando passou a ser editado com o nome de Diário do
Natal.
Durante o governo de Pedro Velho a liberdade de fazer oposição era
algo pouco aceito pelos membros do governo. Como exemplo da violência
cometida contra as oposições, podemos citar o fato que ocorreu com o quarto
governador do Rio Grade do Norte, o Dr. Manoel Nascimento Castro e Silva,
que após deixar o governo passou a escrever duras críticas contra Pedro
Velho. No dia primeiro de janeiro de 1893, Nascimento Castro foi vítima de
uma forte agressão física por um membro do Corpo de Segurança e Ajudante
de Obras do Governador Pedro Velho.
Revoltado com tamanha violência, o ex-governador publicou no jornal
Rio Grande do Norte um manifesto endereçado aos seus agressores:

“Aos meus Concidadãos

Fui ontem..., vítima de uma agressão brutal infamíssima, no momento em que


desapercebido, sem suspeitar que estava apontado à senha espoletagem do
Sr. Pedro Velho...
Era para desacatar a imprensa violentando os seus representantes, era para
ferir a pessoa dos jornalistas da oposição, era para amordaçar a opinião e
coarctar a liberdade do pensamento, que o odiento verdugo do povo, o
covarde charlatão do governo, rodeava-se de soldados..., para intimidar a
opinião, para abafar a imprensa, que o Sr. Pedro Velho mandou desacatar-me
na rua pelo ajudante de ordens.
Mas fique sabendo: o desacato de ontem, nem intimida a imprensa, nem
intimida a mim...101

Analisando este fato pode-se concluir que, do ponto de vista político,


Pedro Velho exercia um governo autoritário e intolerante que, para calar as
oposições, seria capaz dos mais variados artifícios, como utilizar a polícia para
ameaçar, surrar, prender, destruir sedes de jornais de oposição, processar
jornalistas, transferir ou exonerar funcionários públicos que não estivessem de
acordo com as arbitrariedades do governo.
Outra prática comum da política de Pedro velho para desarticular as
oposições era tentar desmoralizá-la e descredibilizá-la com argumentos de que
quem fazia oposição ao governo republicano era monarquista. Por várias
vezes, grupos oposicionistas precisavam recorrer a jornais para se
defenderem de tais acusações, como por exemplo o artigo publicado no jornal
Rio Grande do Norte, em março de 1893:

“Monarquistas, nós?

Vive todos os dias o órgão do governo a tirar-nos umas alusões, que já não
fazem efeito por gastas, dizendo que somos monarquistas, tem intuitos
restauradores todo o trabalho da oposição contra os desmandos do atual
governo. (...)
Dil-o-hiamos francamente, se o fossemos, porque não há governo, não há
força que nos prive de pensar como entendemos... O que não somos é
republicanos da rabadilha dos governos, o que não podemos é bater palmas
ao governo desonrado e corrupto do Sr. Pedro velho, porque não podemos
pactuar com o banditismo político-governamental que assola o estado(...)
Assim não somos republicanos nem queremos sê-lo.
Enquanto os tartufos se banqueteiam a custa do suor do povo, prostituindo a
República, nós iremos continuando em nossa faina de doutrinar o povo até
que este se convença de que não deve mais tolerar os verdugos que embalam
com meigas cantinelas para melhor o explorarem”102.
Também no jornal O Nortista, grupos de oposição precisaram se
defender das violentas acusações de Pedro Velho e seus correligionários:

“Conversemos

(...) tivemos necessidade de fazer a comparação do sistema que caía, com o


que inaugurava, e manifestávamos a superioridade daquele sobre este, em
face do descalabro, do tresloucamento, que observávamos na direção da
República no Brasil... Por estas manifestações fomos algumas vezes taxados
de visionários e monarquistas, - até mesmo por amigos nossos em cartas a
nós dirigidas.
No regime do governo monárquico, nunca o Brasil viu de rojo, calcadas a pés
de tiranos reguletes, as suas instituições fundamentais, porque, apesar do
anacronismo do sistema, havia mais respeito e obediência à lei, mais
escrúpulos e mais critérios nas coisas públicas... as eleições não eram a
expressão do canalhismo como hoje.
Não é por amor, ou saudades, do velho sistema que temos malsinado esta
República, que achamos pior que a Monarquia, tão somente pelo modo porque
tem sido levada e pela orientação que lhe tem sido dada”103.

Se os artigos de jornais eram campos férteis para as batalhas entre os


pedrovelhistas e seus opositores, muito mais evidentes e cruentos eram essas
disputas nos períodos de eleição.
“O mínimo que se pode dizer sobre as eleições da Primeira República é
que constituíam verdadeiras farsas”104. No Rio Grande do Norte, o processo
eleitoral não foi muito diferente do restante do país, como mostra um artigo
publicado no jornal Diário do Natal:

“Tal é a corrupção dos costumes dos próceres da República, que já deu em


resultado o afrouxamento das instituições. As eleições são mentirosas, a
magistratura se vende, o funcionalismo desfalca, o povo abdica os direitos
mais importantes, tudo relaxa entre nós.
A República não pertence ao povo; é uma presa dos oligarcas, não há partidos
políticos; há corrilhos que, para enriquecerem, se assenhoraram do mando
supremo”105.

Nesse contexto, a figura de Pedro Velho pode ser apresentada como o


reflexo perfeito da política nacional da época: centralizador, ditatorial, voltado
para os interesses de uma minoria da sociedade, mantida pela fraude,
corrupção e ostentação criminosa. Essa postura foi duramente criticada por
Elias Souto, num artigo publicado no jornal O Nortista, de junho de 1893:

“Governo de Mentira

O Exm. Dr. Pedro Velho tem se mantido até hoje no governo somente pela
mentira, isto é facto sabido.
Todos tem visto o desfaçamento com que a imprensa do governo assoalha
boletins, arvorando em princípio de verdade a mais requintada mentira de que
fazem propaganda para manter o espírito à esta situação que ameaça cair de
podre.
E o governo entre nós mentindo para iludir o povo, e assim ganhar terreno
para viver mais tempo ainda que ingloriamente como tem vivido até hoje!
O Dr. Pedro Velho jurou aos seus deuses não escrever a verdade uma só vez
na sua imprensa mercenária.
Ele pensa que pelo ciganismo, pela falta de sinceridade é que há de
consolidar a República”106.

Esses textos-denúncias publicados pelos jornais da época, nos


demonstram claramente a grande indignação da oposição frente ao sistema
político oligarquizante lançado por Pedro Velho para o Rio Grande do Norte e
pela sua forma de lidar com as diferentes visões de como se poderia montar
um regime republicano, mostrando que mesmo com a máquina estatal nas
mãos a elite predrovelhista não conseguia a tão sonhada hegemonia política, e
que muitos lutaram, mesmo com as mais variadas ideologias, para derrubar,
se não o regime oligárquico como um todo, mas pelo menos os Albuquerque
Maranhão e seus aliados.
CONCLUSÃO

O chamado sistema oligárquico, caracterizado pelo mandonismo, pelo


poder pessoal, pela política de parentela e pela simbiose entre os interesses
individuais e os do Estado, consolidou-se no Brasil durante os primeiros anos
da República quando, em cada Estado, uma ou mais famílias se encastelaram
no poder e passaram a utilizar a máquina administrativa apenas para
consolidar-se ainda mais nos governos.
No Rio Grande do Norte, a consolidação do regime oligárquico, seguindo
a tendência nacional, ocorreu na primeira década do regime republicano,
quando Pedro Velho, líder político da família Albuquerque Maranhão conseguiu
estender a sua influência e a da sua família por todo o Estado, do litoral até as
áreas mais distantes do Sertão.
O processo que levou a oligarquia Albuquerque Maranhão e seus
aliados ao poder no Rio Grande do Norte dos momentos iniciais da República
até início da década de 1920 foi marcado por práticas como conchavos
políticos, farsa eleitoral, nepotismo, desmandos administrativos e violência
física e moral contra os seus opositores. Os ideais da democracia republicana
caíram no esquecimento para os líderes norte-riograndeses que passaram a
governar o Estado como sendo quase uma propriedade privada e oposição,
vista como inimigos pessoais que não mereciam respeito nem piedade.
Os líderes republicanos, aliados aos Albuquerque Maranhão, letrados,
ligados em sua maioria à agro-exportação, ignoravam completamente a miséria
de grande parte da população e transformaram o Rio Grande do Norte em uma
espécie de feudo do século XX. Todas essas práticas políticas já aqui citadas,
não fugiam às regras nacionais. Em todo o Brasil, famílias e/ou grupos políticos
procuravam se encastelar no poder, negando qualquer tipo de jogo político-
eleitoral justo e honesto e lançando mão de práticas extremamente anti-
democráticas, para conseguirem seus objetivos.
Apesar de procurar seguir o mesmo modelo político nacional, o Rio
Grande do Norte, em termos econômicos, não vivenciou o surto modernizante
ligado à indústria e apoiado no braço imigrante como mão-de-obra. A economia
potiguar manteve-se fiel ás tradições agro-exportadoras. Essa tendência
econômica potiguar dificultou o surgimento de uma classe burguesa mais
dinâmica e liberal em seu cenário político, facilitando a permanência do poder
nas mãos da tradicional aristocracia rural, tanto as do litoral, como as do
Seridó, apoiados na cotonicultura.
Os momentos iniciais da República no Rio Grande do Norte foram
marcados pela mesma indefinição política e fraqueza ideológica, que
caracterizou o cenário nacional. Em alguns momentos a elite potiguar estava
ao lado do Governo Federal, ora fazia oposição.
Mesmo tendo que enfrentar por várias vezes a oposição do Governo
Federal (durante o curto governo do Marechal Deodoro da Fonseca e grande
parte do governo do também Marechal Floriano Peixoto), Pedro Velho soube
se articular com outros líderes estaduais, principalmente com os Coronéis do
Sertão, para se manter no poder. Esses acordos quase sempre implicavam em
nomeações, distribuições de cargos públicos, contratações de empresas para
obras públicas sem licitações, concessão de isenção de impostos e várias
outras práticas que serviam apenas para fortalecer ainda mais os governantes
potiguares e para sangrar o já minguado e drenado cofre público.
Porém, não só foram as práticas corruptas que auxiliara Pedro Velho e
seus correligionários em seus objetivos e sonhos oligarquizantes, a violência
contra os opositores do governo era constante, e podiam variar desde
transferências e exonerações de funcionários públicos oposicionistas até as
vias de fato, como espancamentos. Os jornais que faziam oposição aos
Albuquerque Maranhão viviam sob constante ameaça ou da intervenção do
governo ou da depredação e destruição da estrutura física executada por
grupos a mando dos líderes do governo. Até mesmo os jornalistas não eram
respeitados, muitos eram vítimas de espancamentos ou ameaça de toda a
natureza e, muitas vezes, com a conivência da polícia.
O nepotismo também foi muito usado para consolidar a oligarquia
Maranhão no Estado. Durante os vários governos que se sucederam nos
primeiros anos da República no Brasil e o governo do próprio Pedro Velho,
vários membros da família Albuquerque Maranhão foram nomeados para
cargos importantes do governo e estratégios para o processo de oligarquização
do Rio Grande do Norte. Os membros dessa família estavam presentes nas
mais diversas instituições públicas e sempre trabalhando para defenderem os
seus interesses e os da família.
Podemos concluir, dentre outras coisas, então, que o processo de
oligarquização do Rio Grande do Norte seguiu em grande parte, o modelo
estabelecido no circuito político nacional, notadamente em São Paulo, marcado
pelo clientelismo, mandonismo, voto de cabresto e política de alianças. Essa
oligarquização do Estado iniciou já no momento de fundação do Partido
Republicano, quando Pedro Velho passou a traçar todas ações e regras do
republicanismo potiguar e se consolidou totalmente após o seu governo (1892-
1895), quando foi eleito o pernambucano Ferreira Chaves, que apesar de não
ser da família Albuquerque Maranhão, atendia totalmente aos pedido dos
líderes dessa oligarquia, como por exemplo, a redução da idade mínima
exigida para ser Governador permitindo que Alberto Albuquerque Maranhão
concorresse e fosse eleito Governador do estado.

REFERÊNCIAS
1
Podemos citar alguns trabalhos considerados clássicos sobre o assunto,
como COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos
decisivos. São Paulo: Livraria Ciências Humanas, 1979.; CARDOSO, Fernando
Henrique. Dos governos militares à Prudente – Campos Sales. In: FAUSTO,
Boris (Org.). História Geral da civilização brasileira. 5.ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1989. t. 3, v. 1, cap. 3.
2
PANG, Eul-Soo. Coronelismo e oligarquias (1889 – 1943): a Bahia na
Primeira República brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
3
SHILS, Edward apud LINDOSO, José Spinelli. Da oligarquia Maranhão à
política do Seridó. p. 20.
4
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação
sociológica. In: FAUSTO, Bóris (Org.) História da civilização brasileira. 5. Ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. t. 3, v. 1, cap. 3.
5
FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora AS, 1984. p. 102.
6
ALENCAR, Francisco, CARPI, Lúcia, RIBEIRO, Marcus Venício. História da
Sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985. p. 148.
7
FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora AS, 1984. p. 103.
8
ALENCAR, Francisco, CARPI, Lúcia, RIBEIRO, Marcus Venício. História da
Sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985. p. 149.
9
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São
Paulo: Livraria Ciência Humanas, 1979. p. 201.
10
FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: EDUSP, 2007. p. 237.
11
FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: EDUSP, 2007. p. 238.
12
FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora AS, 1984. p. 108.
13
FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora AS, 1984. p. 107.
14
FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: EDUSP, 2007. p. 240.
15
BELLO, José Maria. História da República. p. 2.
16
BELLO, José Maria. História da República. p. 5.
17
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos
decisivos. p. 317.
18
CASTRO, Therezinha de. História Documental do Brasil. p. 229-237.
19
BELLO, José Maria. História da República. p. 19.
20
BASBAUM, Leôncio. História sincera da República. p. 207.
21
COSTA, Emília Viotti da . Da Monarquia à República: momentos decisivos.
p. 318.
22
BASBAUM, Leôncio. História sincera da República. p. 210.
23
BASBAUM, Leôncio. História sincera da República. p. 209.
24
BELLO, José Maria. História da República. p. 26.
25
COSTA, Emília Viotti da . Da Monarquia à República: momentos decisivos.
p. 322.
26
COSTA, Emília Viotti da . Da Monarquia à República: momentos decisivos.
p. 325.
27
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 26.
28
COSTA, Emília Viotti da . Da Monarquia à República: momentos decisivos. p.
326.
29
BELLO, José Maria. História da República. p. 29.
30
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
29.
31
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 31.
32
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
38.
33
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 52.
34
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 36.
35
Este episódio ficou conhecido como a Primeira Revolta da Armada, liderada
pelo Contra-Almirante Custódio de Melo e que exigia a renúncia do presidente
Deodoro da Fonseca.
36
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
42.
37
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
42.
38
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 118.
39
Para saber mais sobre o movimento jacobino e suas teorias no início da
República brasileira, consultar QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Os radicais
da República.
40
QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Os radicais da República. p. 29.
41
QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Os radicais da República. p. 31.
42
CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. p. 183.
43
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
47.
44
CARDOSO, Fernando Henrique. História geral da civilização brasileira. p.
49.
45
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.
Natal: EDUFRN, 2000. p.128.
46
POMBO, Rocha. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Annuario
do Brasil, 1922. p. 361.
47
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.
Natal: EDUFRN, 2000. p.138.
48
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte
(do século XVI ao século XX). p. 25.
49
Nesse ano ocorreu uma grande seca que impulsionou a agricultura na faixa
litorânea da província, uma vez que esta era menos sujeita aos efeitos da
falta ou da irregularidade das chuvas. – MONTEIRO, Denise Mattos.
Introdução à história do Rio Grande do Norte. p.129.
50
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.
p.129.
51
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte
(do século XVI ao século XX). p. 41.
52
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte
(do século XVI ao século XX). p. 22.
53
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 49.
54
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 50.
55
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 133.
56
CASCUDO, Câmara. História da República no Rio Grande do Norte. p. 49.
57
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 133.
58
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 134.
59
Diário de Natal, 5-9-1897.
60
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 135.
61
LINDOSO, José Antônio Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do
Seridó. p. 21.
62
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 140.
63
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 52
64
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 51
65
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 133.
66
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.
p.161.
67
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 118.
68
LYRA, Tavares de. História da República no Rio Grande do Norte. p. 315.
69
LYRA, Tavares de. História da República no Rio Grande do Norte. p. 320.
70
LINDOSO, José Antônio Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do
Seridó. p. 17.
71
Manifesto escrito por Pedro Velho após a reunião de fundação do Partido
Republicano em 27 de janeiro de 1889. Ver anexo 1.
72
Este documento, intitulado “Manifesto Republicano ao Povo Seridoense”, foi
escrito em abril de 1889, pelos republicanos de Caicó (então Vila do Príncipe).
Ver anexo 2.
73
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 112.
74
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 112.
75
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 111.
76
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.
p.162.
77
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 112.
78
CASCUDO, Luís da Câmara. História da República no Rio Grande do Norte.
Rio de Janeiro: Edições do Vel. LTDA, 1965. p. 278-279.
79
LINDOSO, José Antônio Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do
Seridó. p. 21.
80
A República. 30 nov. 1889.
81
“Na execução dessa estrada foram gastos cerca de oitenta contos de réis e o
trabalho ficou mal feito e incompleto. A referida estrada não passava de uma
vereda que, partindo de Natal, terminava em guarapes, onde Fabrício Gomes
Pedroza, avô de Pedro Velho, erguera o seu empório comercial”. SOUZA,
Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930. p. 220.
82
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 120.
83
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 120.
84
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 120.
85
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 117.
86
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 119.
87
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 121.
88
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 124.
89
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 222.
90
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 224.
91
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 140.
92
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 225.
93
BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República. p. 142.
94
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 226.
95
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 226.
96
LINDOSO, José Antônio Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do
Seridó. p. 25.
97
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 123.
98
LINDOSO, José Antônio Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do
Seridó. p. 26.
99
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-1930.
p. 124.
100
SOUZA, Itamar de. A Republica Velha no Rio Grande do Norte – 1889-
1930. p. 229.
101
Rio Grande do Norte. dois jan. 1893.
102
Rio Grande do Norte. 16 mar. 1893. Ver Anexo 3.
103
O Nortista. 29 set. 1893. Ver Anexo 4.
104
PANG, Eul-Soo. Coronelismo e oligarquias. p. 34.
105
Diário do Natal. 25 dez. 1895.
106
O Nortista. 23 jun. 1893.

FONTES E BIBLIOGRAFIA
Fontes

A REPÚBLICA, Natal, 1889.

RIO GRANDE DO NORTE, Natal, 1893

NORTISTA, Natal, 1893.

DIÁRIO DO NATAL, Natal, 1895.

Bibliografia

ALENCAR, Francisco, CARPI, Lúcia, RIBEIRO, Marcus Venício. História da


Sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

BELLO, José Maria. História da República. 5.ed. São Paulo: Companhia


Editorial Nacional, 1964.

BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República:práticas e idéias políticas no


Rio Grande do Norte (1880-1895). 1999. Tese (Doutorado) – UFPE, Natal,
1999.

CASTRO, Therezinha. História documental do Brasil. Rio de Janeiro: Record,


1968.

CARDOSO, Fernando Henrique. Dos governos militares a Prudente-Campos


Sales. In: FAUSTO, Boris (Org.) História geral da civilização brasileira. 5. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. t.3, v. 1, cap. 3.

CASCUDO, Luis da Câmara. História da república no Rio Grande do Norte. Rio


de Janeiro: Edições do Val, 1965.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São
Paulo: Livraria Ciência Humanas, 1979.
FAORO, Raimundo. Os donos do poder: a formação do patronato político
brasileiro. 2. ed. Porto Alegre: São Paulo: Globo : EDUSP, 1975. v. 2.

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro:


Livros Técnicos e Científicos Editora AS, 1984.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 5. ed. São Paulo: Alfa-Omega,
1986.

LINDOSO, José Spinelli. Da oligarquia Maranhão à política do Seridó: o Rio


Grande do Norte na República Velha. Natal: CCHLA, 1992.

LYRA, A. Tavares de. História do Rio Grande do Norte. 3. ed. Natal: IHGRGN,
1998.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte.


Natal: EDUFRN, 2000.

PANG, Eul-Soo. Coronelismo e oligarquias (1889-1943: a Bahia na Primeira


República brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

POMBO, Rocha. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Annuario do


Brasil, 1922.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. O coronelismo numa interpretação


sociológica. In: FAUSTO, Bória (Org.) História geral da civilização brasileira. 5.
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. t. 3, v. 1, cap. 3.

QUEIROZ, Suelly Robles Reis de. Os radicais da república. São Paulo:


Brasiliense, 1986.
SANTOS, Paulo Pereira dos. Evolução econômica do Rio Grande do Norte:
século XVI ao XX. Natal: Clímax, 1994.

SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte (1889 – 1930).
Natal: [s.n.], 1989.
ANEXOS

ANEXO 1: Partido Republicano do Rio Grande do Norte


Manifesto escrito por Pedro Velho após a reunião de fundação do Partido
Republicano em 27 de janeiro de 1889...

Está sobejamente provado e é incontestável que a simples mudança


de pessoal do governo é ineficaz e insuficiente para melhorar e moralizar
a vida pública no Brasil.
Convencidos de que uma reforma radical, dando à política uma
orientação mais séria e democrática, nos pode tirar do abatimento e
desânimo em que vemos arrastar-se o país; pedimos aos nossos
comprovincianos que, por se e desapaixonadamente, observem o muito
que nos falta para a nossa felicidade e procurem conhecer as causas do
mal.
Feita com sinceridade a crítica dos acontecimentos presentes,
relembradas com mágoa as desgraças do passado, e antevistos com
sobressaltos os desastres futuros, cremos que no espírito de cada cidadão
se firmará inabalável a certeza de que o que existe é péssimo e
irremediável, sem uma completa e definitiva transformação da nossa
forma de governo.
A missão que nos impomos é derramar pelo povo a propaganda
democrática, procurando conquistar adeptos convictos e leais.
No terreno das idéias, com a mais perfeita independência de
pensar, com as nossas convicções solidamente firmadas, sem violências
nem excessos, mas com perseverança e constância, sempre na linha reta
da propaganda doutrinária, sem prestar ouvidos a intrigas nem calúnias,
nos esforçaremos por convencer o eleitorado da incapacidade do atual
governo para levar-nos com segurança e bom rumo, ao porto da felicidade
e do progresso que aspiramos.
Sabemos que muita gente é republicana no Rio Grande do Norte e
que só considerações de natureza transitória demoram o aparecimento
de numerosas adesões à causa da república; mas os políticos sinceros
hão de afinal reconhecer que na república está o remédio único aos
males que afligem a nação, retardando-lhes as forças progressivas e
arrendando-a da comunhão dos interesses sociais, que tendem a unificar
sob a bandeira branca da democracia todos os povos americanos.
Quando o Brasil, que já sacudiu o jugo do cativeiro, se tiver
igualmente libertado do monárquico, encontrará em si todas as forças
necessárias para a grande romaria do progresso.

Quase todos os brasileiros são republicanos, confessando que o


advento da república será o desfecho fatal e necessário da marcha da
nossa civilização. Concordam que a lição do abolicionismo fez nascer no
espírito nacional uma certa confiança em si, animando-a a novas
conquistas. Mas... Aqui as objeções não são todas afinadas pelo mesmo
diapasão.
Os pretensos monarquistas podem ser classificados em 7 categorias:-
indiferentes, tímidos, oportunistas, iludidos, dependentes, especuladores e
amigos pessoais do rei. Mas o povo, o verdadeiro povo brasileiro, não pode
estar em nenhuma destas condições, todas incompatíveis com a
consciência cívica e a soberania nacional.
Quando a democracia brasileira abrir os olhos e compreender a lepra
que tem derramado sobre o corpo da pátria o vírus monárquico, há de
procurar um bálsamo que lhe cure as chagas, e este achal-o-á seguro e
pronto na proclamação da república.
A república há de vir certa e infalivelmente. Como e quando eis o
problema. Pouco importa. Se trabalharmos em a esperança de gozar
pessoalmente os frutos da grande reforma ao menos estamos preparando um
futuro melhor para os nossos filhos. Cremos entretanto que a liberdade
triunfará em curto prazo e sem abalos nem convulsões. Contamos com a vitória
pacífica da opinião que progride e cada dia mais e mais se fortalece.
A coroa terá de capitular. Se assim não for, mais uma vez ficará evidente
o antagonismo entre a nação e o trono e provada a grande superioridade moral
do homem do povo sobre a dinastia privilegiada. Aquele generosa e
espontaneamente abriu mão da propriedade escrava, que as leis do Império
garantiam; esta não quer deixar-nos livres a nós, a nós que não quisemos a
escravidão dos pretos.
E se estes mesmos libertos, que nós arrancamos do azorrague e do
tronco, que se pretende sublevar contra o generoso povo que lhe deu a
liberdade, à custa de heróicas dedicações e sublimes sacrifícios.
Quando a nação viu que o governo não fazia a abolição, começou a
faze-la por se, e a marcha triunfante que levara a idéia não deixava dúvidas
sobre o resultado; mais tarde os próprios escravos começaram a abandonar o
eito. Verdade é que o faziam pacificamente e sem desordens, dizendo que não
fugiam ao trabalho e sim da escravidão.
Foi então que o trono resolveu não resistir mais; e fez bem, porque
seria, além de odiosa, impossível a resistência.
Felizmente a nefanda especulação que pretende reescravizar os libertos
de ontem, explorando-lhes uma pretendida gratidão, além de revoltante para
todos os espíritos elevados e dignos, tem levantado enérgicos protestos entre
os próprios libertos, que vão compreendendo a pérfida manobra.
Querem transformar os trabalhadores rurais, apenas livres de algemas
do cativeiro, em janízaros não menos escravizados. Para isto vão iludindo
alguns e recrutando os outros.
A idéia republicana sempre existiu em gérmen na alma deste povo. A
compressão do despotismo abafou-lhe longos anos a força e a vitalidade,
porém ela nunca se extinguiu. Presentemente ei-la cheia de um novo e potente
vigor que surge em todos os pontos do nosso vasto território, fazendo
proselitismo ainda mais rápido e entusiasta do o pensamento abolicionista há
pouco triunfante.
Os dois recursos de que até hoje têm lançado não a monarquia para
fazer face ao movimento republicano são duas indignidades de quem os
inventou. Os defensores do trono por um lado caluniam a república, dizendo-a
despeitada e indenizista, por outro iludem e exploram os pobres libertos,
instituindo a vergonha guarda-negra, onde a inconsciência de uns é vítima da
insensatez de outros. Convém, entretanto, notar que a glória de tal criação
pertence exclusivamente aos homens do poder; o partido constitucional hoje
em oposição não a quer perfilhar e a tem repelido como coisa indigna da
política de um povo civilizado.
Esta província nada deve à monarquia. O desmoralizado governo que
hoje administra o país tem por chefe, ao menos em nome, um estadista do
norte1 e que portanto deveria conhecer as necessidades desta zona, para
procurar saná-las ou atenuá-las; mas ou não quer ou não pode, ou não sabe
faze-lo. A agricultura está farta de discursos, e exausta de meios. Aqui ela se
estorce numa miséria vizinha da agonia. Os decantados auxílios se não foram
uma inépcia foram uma burla. O orçamento da agricultura abriu a válvula das
obras públicas, úteis umas, outras duvidosas; a imigração no sul custa rios de
ouro; fazem-se estradas e portos; há um verdadeiro delírio de concessões e
contratos, não se regateiam despesas quiçá infrutiferamente.
Rio Grande do Norte não foi contemplado com a mínima parcela nesta
chuva de favores. Também que cuidado pode dar aos poderes públicos este
desprezível canto do vasto Império? Acresce que a indiferença e dobrez de
seus representantes não procuram tornar conhecidas as suas mais urgentes e
palpitantes necessidades. A infeliz província abisma-se desamparadamente;
todos vêm com tristeza a ruína dos recursos naturais: a indústria pastoril
atravessa uma crise permanente, a lavoura vegeta desprotegida noutra
crise igual. Mas lá fora ninguém sabe disto; nem há de o governo
incomodar-se por uma gente pobre e decaída de suas energias, que nem ao
menos sabe pedir e reclamar.
O patriotismo dos cearenses, incansável em exigir que lhes dêm para
lutar contra as hostilidades o clima, vai obtendo o fruto de seus esforços; aqui
morremos de fome resignadamente, sem um protesto, sem um reclamo.
Uma política de aldeia, cheia de perfídias e de intrigas, antepõe
pequenos interesses individuais ao bem público. Os espíritos cegam-se e
desvairam-se num partidarismo sem orientação e sem princípios; rebaixa-se o
nível da moralidade; fazem-se e dizem-se desassombradamente (sem medo da
consciência, sem medo da opinião), coisas vergonhosas; injuriar, caluniar os
adversários que pugnam com sinceridade pelas suas idéias, é permitido, é
meritório. Agora os mais desbragados nessa escura vereda da difamação
chamam aos republicanos especuladores. Há indivíduos tão corrompidos e tão
perversos que, quando pelejam cometer alguma indignidade, começam a
atribuí-la ardilosa e antecipadamente a outra para desviar de se as atenções.
Às vezes são hábeis para iludir incautos, outras vezes são bastante conhecidos
os seus manejos e o efeito falha.
Especuladores os republicanos ! quando são eles justamente aqueles
que mais desinteressadamente militam na política, porque tem contra se o
ódio da monarquia, da qual ainda infelizmente depende toda a vida social
deste povo, que só agora vai reconhecendo o servilismo em que jazia e afinal
emancipar-se.
Terminada a campanha, a justiça da história, na sua sentença
soberana e irrevogável, dirá quais foram os especuladores, quais foram os
patriotas leais e desinteressados

ANEXO 2: “Manifesto Republicano ao Povo Seridoense”

1
O “estadista do norte” era o conselheiro Jòão Alfredo Correa de Oliveira, presidente do então gabinete
ministerial. Nascera em Pernambuco. (nota de Câmara Cascudo)
Este manifesto foi escrito em 1889 pelos republicanos de Caicó
(então Vila do Príncipe), na região sertaneja do Seridó, no Rio Grande do
Norte, que reorganizaram o Centro Republicano Seridoense, que fora
fundado em 1886 pelo estudante de Direito Janúncio da Nóbrega Filho, que
se tornará um dos principais líderes do republicanismo potiguar na fase da
propaganda.

Regeneremos a Pátria!

No período de decomposição espontânea que atravessa a Pátria


Brasileira, no estado anômalo de anarquia governamental em que vivemos, é
indispensável o esforço comum de todos, para a salvação pública. Pela marcha
evolutiva das idéias, pela força fatal dos acontecimentos, a grande aspiração
nacional duas vezes secular, da implantação do regime democrático americano
na Pátria Brasileira está prestes a converter-se em uma realidade.
É preciso que no mais obscuro ponto do Brasil, em que existir um grupo
de patriotas que sonhem com a regeneração moral e política de nossa pátria,
que se levante bem alto em nome do direito, em nome da humanidade, em
nome especialmente da América, o estandarte glorioso da república!
Sim: a monarquia é um corpo estranho ao nosso organismo social; a fé
monárquica está completamente extinta na consciência nacional. Quem com
imparcialidade e isenção de espírito examinar os fatos escandalosos que de
dia a dia se dão na alta governação do Estado, verá que todos eles são
unânimes na comprovação definitiva de uma só verdade: a imprestabilidade do
regime monárquico.
É tempo de consubstanciarmos em um fato o ideal dos nossos
antepassados, que não regatearam o seu generoso sangue para a constituição
de uma pátria digna de seus filhos.
A monarquia não pode mais existir no solo americano pelo sacrifício da
dignidade de um povo, pelo aniquilamento das suas liberdades, pelo seu
retardamento na escala ascendente do progresso, contra a índole de seu
caráter, que é essencialmente livre, porque é americano. É preciso que o
Brasil se americanize, adaptando-se ao meio continental em que vive. A
monarquia entre nós foi instituída por um modo indigno e infamante; vivemos
no mais puro absolutismo disfarçado.
O célebre grito do Ipiranga dado por um príncipe aventureiro, que não
era brasileiro, que não tinha nenhum título para amar esta pátria , foi uma
verdadeira farsa, em que seu infame protagonista, proclamando a nossa falsa
independência, não visava outra cousa senão o seu interesse pessoal, e pois
a exploração de uma nação por família privilegiada.
E o povo brasileiro na sua inexperiência e ingenuidade de povo jovem,
foi vítima de uma traição, às suas liberdades e de uma afronta à sua dignidade.
E não se diga que as lutas posteriores entre as tropas brasileiras e as
portuguesas tinham alguma significação; as suas únicas causas eram os ódios
e as rivalidades tradicionais naquele tempo entre portugueses e brasileiros.
A emancipação política do Brasil naqueles tempos, fundida no regime
republicano, como era em geral prevista, era um fato fatal e inevitável.
Foi por isso que o aventureiro e grande traidor Pedro I, de acordo com
seu pai, o covarde D. João VI, se apressou em representar aquela farsa, que
teve logo depois de atingir o cúmulo da ignomínia: sim, porque a nossa
liberdade não fora somente traída, fora também comprada, como se não
tivéssemos o direito de ser livres. O astucioso farsista inconstitucionalmente
obrigou o governo do Brasil a pagar ao governo português, em virtude de uma
cláusula secreta do tratado de 29 de agosto de 1825, a enorme soma de
2:000.000 de libras.
Daí data a nossa dívida nacional que hoje já se eleva à assustadora
soma de 1: 011:166:377$676.
Nós, os brasileiros, precisamos lavar-nos desta desonra, instituindo o
governo que se firme na soberania nacional, cuja expressão mais completa é a
República. A velha e desprotegida Carta Constitucional, que nos rege, outorga
de um príncipe, não satisfaz às aspirações legítimas de um povo americano.
Povo seridoense, nós os rio-grandenses, mais do que ninguém, temos
necessidade de ser republicanos; quem de nós tiver o poder mágico de
sentir as eletrizações sublimes do patriotismo não pode deixar de protestar
contra a daninha existência deste império bragantino, que em 67 anos de
vida tem votado ao mais criminoso abandono e ao mais revoltante
esquecimento esta nossa heróica província, merecedora de um futuro melhor.
Cooperando valiosamente pela concretização da aspiração republicana
no Brasil, nós trabalhamos diretamente pela organização da futura
Potiguarânia, nome que, na Federação Brasileira caberá à futura república
norte-rio-grandense.
Povo seridoense, a nobreza dos vossos sentimentos, o vosso
devotamento pela sublime causa da liberdade já ficaram definitivamente
provados na homérica cruzada abolicionista; é lógico pois, crer que o vosso
concurso pela causa da república não se fará esperar.
Aos 26 de julho de 1888 um punhado de moços, nesta cidade,
fundou pública e solenemente um núcleo republicano, entre as mais
entusiásticas e ruidosas ovações do povo.1
Mas, como já observou alguém, a República deixou de ser o ideal
fantasioso da mocidade, para se tornar o problema do dia, a palpitante
questão da atualidade, de cuja solução depende o futuro da Pátria.
É por isso, concidadãos que nós os signatários deste manifesto,
apelamos para o vosso patriotismo, para a vossa dignidade, para a vossa
rebeldia de caráter, convidando-vos para a organização definitiva do Centro
Republicano Seridoense, que se deverá realizar nesta cidade, no dia 7 de
abril, esta data imorredoura da nossa história, que assinala o triunfo da
soberania do povo sobre a dinastia.
O partido republicano brasileiro, depois do memorável dia 30 de
dezembro de 1888, em que o governo, impotente para resistir à
propaganda republicana, que avassala o espírito nacional, armava o braço
do capoeira e do vagabundo na Corte, para assassinar impunemente os
republicanos, o partido republicano, repito, entrou em um período de ação,
em que não é dado recuar a nós, que não estremecemos diante do
fantasma negro do despotismo, a nós que não nos deixamos levar pela
onda deletéria da corrupção, a nós, que temos a intuição moderna do
que o direito é a luta, tendo por fim a paz, da mesma forma que a
propriedade é o trabalho, tendo por fim o gozo.

1
No seu “manifesto político” de maio de 1892, Janúncio da Nóbrega alude a um núcleo fundado a
25 de julho de 1886. Seria o mesmo? ( nota de Câmara Cascudo)
A hipótese de um terceiro reinado é de tremendas conseqüências; é por
isso que nós, os regeneradores da pátria vamos trabalhando pela
democratização do espírito do povo para uma resistência, que se deverá
fazer efetiva no momento oportuno.
As tradições históricas da nossa província sancionam o nosso
pronunciamento republicano.
O nosso passado, o sangue dos mártires rio-grandenses das
adesões de 1817 e 1824 constituem um apelo eterno à geração atual
para um futuro melhor.
Nós queremos a República, não fazendo questão de meios para a
consecução do nosso desideratum: ou pela evolução da idéia ou pela
revolução!
A História nos ensina, que todo direito foi adquirido pela luta. E, nós não
a evitaremos, onde quer que a coloque a fatalidade de um gôverno imoral
e despótico: porque, cônscios da grandeza da causa, que defendemos,
havemos de realizar, frase de grande propagandista da República, a
divisa dos lutadores: Vencer ou Morrer!...
Cidade do Caicó (ou Príncipe), 4 de abril de 1889.

Janúncio da Nóbrega Filho, Manuel Severiano da Nóbrega, Misael Leão


de Barros, Gorgônio Ambrósio da Nóbrega, Felipe Ferreira Dutra, Basílio
Gomes de M. Dantas, Germano Pereira de Brito, Manuel C. de Lucena,
Francisco H. da Nóbrega.

(Publicado n’ O Povo, nº 5, de 6 abril de 1889)


ANEXO 3: Rio Grande do Norte, 16/3/1893, 173, p3.

Monarquistas, nós?

Vive todos os dias o órgão do governo a atirar-nos umas alusões, que


já não fazem efeito por gastas, dizendo que somos monarquistas, tem
intuitos restauradores todo o trabalho da oposição contra os desmandos do
atual governo.
Monarquistas, nós?
Dil-o-hiamos francamente, se o fossemos, porque não há governo, não
há força que nos prive de pensar como entendermos, mas nós temos por
demais afirmado, no posto de sacrifícios que tomámos, as crenças
republicanas.
Pela república combatemos porque, se é angustioso para a pátria o
momento atual, pior ainda seria voltar atrás.
O que não somos é republicanos da rabadilha dos governos, o que não
podemos é bater palmas ao governo desonrado e corrupto do sr. Pedro
Velho, porque não podemos pactuar com o banditismo político-
governamental que assola o estado.
Não nos quadra, nem queremos o papel de abutres das instituições
republicanas.
Não podemos nos ombrear com os especuladores e aventureiros que
curvam o joelho diante do poder com tanto que este lhes escancare as
portas do tesouro; não podemos fazer côro com os truões da praça pública
que, braço dado com a garotagem das ruas, arrastam as funções públicas, a
eles confiadas, pelos balcões das tabernas; não toleramos o tripudio
insolente da mentira e da calúnia como armas de governo.
Assim não somos republicanos nem queremos sê-l o.
Em quanto os tartufos se banqueteiam a custa do suor do povo,
prostituindo a República, nós iremos continuando em nossa faina de
doutrinar o povo até que este se convença de que não deve mais tolerar os
verdugos que embalam com meigas cantinelas para melhor o explorarem.
ANEXO 4: O Nortista, 29/09/1893, 84, p.1-2.

Conversemos

Quando muitas vezes combatimos destas colunas, - e no começo da


existência do “Nortista”, - a fatal política que se levantou a 23 de Novembro,
destruindo o princípio da autonomia dos Estados que estava em formação,
pela República nascente, - tivemos necessidade de fazer a comparação do
sistema que caía, com o que se inaugurava, e manifestávamos a
superioridade daquele sobre este, em face do descalabro, do
tresloucamento, que observávamos na direção da República no Brasil.
Então dizíamos que a guerra civil alastraria todo País, e o precioso
sangue brasileiro havia de correr a jorros, e impossível seria prever as
desgraças que em breve futuro nos aguardariam.
Por estas manifestações fomos algumas vezes taxados de visionários
e monarquistas, - até mesmo por amigos nossos em cartas a nós dirigidas.
O que de então para hoje se tem passado, - o que estamos vendo em
todo o País, especialmente no Rio Grande do Sul e na capital federal, diante
da nova e pujante revolução da armada, - mostra que não éramos
visionários, e tínhamos razões de sobra em nossas sérias apreensões.
No regime do governo monárquico, nunca o Brasil viu de rojo, calcadas
a pés de tiranos reguletes, as suas instituições fundamentais, porque,
apesar do anacronismo do sistema, havia mais respeito e obediência à lei,
mais escrúpulo e mais critério nas coisas públicas, - todos acatavam a
pessoa do imperador que, por sua vez, era um estorvo aos excessos da
política, tendo tido sempre a vantagem de fazer conter a anarquia que nunca
desenvolveu-se no reinado deposto.
Tínhamos então mais garantidas as liberdades públicas; - o voto nas
urnas mais de uma vez derrotou ministros de Estado; - as eleições não eram
a expressão do canalhismo como hoje.
Não somos monarquistas porque o redator-chefe deste jornal teve
sempre intuitos republicanos desde que entrou na vida pública; e, como
vemos abaixo, - manifestou-os pela imprensa - no primeiro escrito que
publicou em sua vida - em o ano de 1872, quando seu irmão José Leão no
Rio de Janeiro manifestava-se ao lado de Bocaiúva e de outros na grande
propaganda daquele tempo.
Não é por amor, ou saudades, do velho sistema que temos malsinado
esta República, que achamos pior que a monarquia, tão somente pelo modo
porque tem sido levada e pela orientação que lhe tem sido dada.
É certo que arrefecemos há longo tempo na propaganda republicana
que tínhamos iniciado, isto porque fomos desde então observando que a
idéia retrogradava, e o número ia engrossando pelos despeitados que
vinham de todos os partidos.
Tanto é essa a verdade, que a República veio pelas armas a 15 de
Novembro e não pela vontade do povo.
E assim como veio a República militar pela força suprema da espada, -
tem se mantido pelo canhão, pela guerra civil, pela anarquia que reina em
toda a parte, - e há de dissolver-se ainda pelo arrasamento entre si das
classes prepotentes.
Pode ser então que das ruínas surja uma República em moldes viáveis
e que assente na força da soberania popular.
Nunca fomos, nem seremos, suspeitos à causa da República. No
verdor de nossa vida e quando éramos Professor no Martins, então cidade
da Imperatriz, publicámos no ASSUENSE de 16 de Julho de 1872 o seguinte
artigo:

“CIDADE DA IMPERATRIZ, 27 de Junho de 1872

Já ninguém ignora a confusão e desordem que reina no seio do partido


conservador que só por um escárneo à liberdade e ao bom senso do povo
brasileiro, governa nesse desafortunado país.
Todos igualmente sabem – que o partido liberal tem se mostrado
impotente, quando no poder, para realizar as importantes reformas de que
se ressente o império do Cruzeiro.
O que porém muitos não querem ainda crer- e que é uma verdade
irrefragável, é no movimento crescente do partido republicano, que dia a dia
vai conquistando milhares de prosélitos!
O grito revolucionário que se levantou na corte do império, e que fez
estremecer o déspota sanhudo, ecoou por todas as províncias do sul e do
norte do Brasil.
Não há cidade, vila, ou aldeia, que não tenha organizado o liberal
partido que brevemente nos há de quebrar as peias que nos oprimem desde
os tempos coloniais.
A cidade da Imperatriz desta província não dormiu demasiado o sono
da indiferença. Ergue hoje bem alto a sua voz, e declara em seu seio um
partido republicano, imenso, que deverá tomar parte na cruzada que se
levanta e que há de extirpar a tirania do solo brasileiro.
A iniciativa da idéia salvadora, nesta cidade, é de alguns moços
inteligentes e prestigiosos daqui, que se têm mostrado incansáveis na
propagação de tão aceitável idéia, em que têm feito uma conquista
admirável.
No dia 30 do corrente haverá uma reunião, na qual se constituirá
regularmente o diretório do partido republicano nesta comarca.
Esta cidade como que tem passado nestes últimos dias por uma
transformação espantosa! É que o povo já vai conhecendo o jugo que o
trucida e a necessidade que tem de ser livre.
Dar-lhe-ei conta do resultado da reunião.
E. A.”
(A coleção do ASSUENSE existe encadernada em poder do cidadão
João Carlos Wanderley).

Eram essas as nossas crenças -talvez excessivas – de moço; mas a


desilusão foi-se fazendo pouco a pouco, porque depois desse tempo rara
era a manifestação que não vinha pelo despeito, como já dissemos, dos
políticos partidários malogrados....
Revela consignar que não se realizou a reunião para formar então o
diretório republicano do Martins, porque o Promotor Público da comarca, dr.
Ulysses de Barros Mendonça, quis processar -nos como cabeça da
propaganda e conspirador contra as instituições Reais – ao que se opôs o
íntegro juiz de direito dr. Jesuino de Souza Martins, nosso amigo, de
saudosa memória.
Resolvemos isso, apenas para comprovar que a nossa fé
republicana vem de longe, e que a nossa desilusão também não é nova, - e
que não podemos ter plena confiança, nem esperanças lisongeiras, nessa
República que somente pode triumfar no Brasil pela força armada e que tem
servido apenas de exploração para cevar a ganância dos aventureiros
especuladores que nunca foram coisa alguma no tempo do império, pela
pulhice e pela incapacidade que os caracterizavam, e hoje, por desgraça
estão investidos do supremo mando dos Estados: exemplo frisante, e a
nossos olhos, o dr. Pedro Velho.
Isso não é República.
Deus queira que desse horrendo caos que enegrece o sol da pátria
brasileira, venham dias melhores, em que o povo possa livremente
manifestar a sua soberania e fazer a verdadeira República.
ANEXO 5: Ao Povo

Liberdade, Igualdade, Fraternidade

Manifesto divulgado a 21 de novembro de 1889. Escrito por Pedro Velho, era


o primeiro documento destinado ao público, expondo o programa
republicano recém-instalado.

O governo deste Estado, legítimo e imediato representante do Povo,


cujos direitos saberá respeitar e fazer respeitar em sua plenitude, tendo
por norma e guia de seus passos- manter a ordem e assegurar a
felicidade de seus concidadãos, certo de que a moralidade, justiça e
energia de seu procedimento administrativo constituem a garantia mais
perfeita do respeito à lei e à autoridade extraordinária de que se acha
investido por aclamação do Povo e das classes militares, faz saber: - Que
conspira, sem patriotismo e abnegação, quem pretende insinuar no ânimo
generoso deste bom Povo Rio-Grandense que o Governo não seja
encarnação firme e honrada do amor à causa pública e decidido
mantenedor da tranqüilidade pátria; - Que será crime de lesa-patriotismo
tentar perturbar o estabelecimento do governo republicano deste Estado,
pacífica e entusiasticamente organizado, fato grandioso e sublime, que encheu
de júbilo santo o grande coração dos filhos desta terra, cujas tradições de
heroísmo já a história tem registrado em mais de um período solene e difícil de
nossa existência política; Que o advento da República dos Estados Unidos do
Brasil é hoje um fato brilhantemente consumado e irrevogável; - Que a
generosidade e o patriotismo dos beneméritos filhos da heróica revolução de
15 de Novembro, assombro das nações cultas da velha Europa, e de nossas
irmãs das duas Américas, estabelecendo por toda parte a confiança nas
relações econômicas, patrióticas e sociais, internas e externas, é ainda a
prova mais segura de que a harmonia se estabelece, não só nos Estados
confederados da grande união brasileira, como também entre os briosos,
leais, altivos abnegados habitantes deste Estado, que afinal conquista a
sua autonomia, afirmando-se como um povo digno dos melhores destinos,
no seio da pátria; - Que os erros e desmandos do passado, a
desigualdade e os privilégios, que traziam a vergonha pública e o
rebaixamento da dignidade cívica, cedeu o passo a uma vida nova, de
horizontes largos, de abundâncias e glórias, livres todos e todos iguais.
Assim, garantidos por um sagrado compromisso, contraído perante a imagem
sagrada da Pátria, asselado pela manifestação mais solene da soberania
popular, cuja expressão é o atual Governo Provisório, sem cabida no ânimo
sincero do governo o pensamento estreito e detestável de represálias e ódios,
sem constituir a nova situação um assalto interesseiro às posições, mas um
desejo ardente de consolidar, sob a bandeira da paz e da concórdia, o
congraçamento augusto de todos aqueles que neste mesmo torrão tiveram o
seu berço, o de seus pais e de seus filhos, o governo promete sob sua honra o
cumprimento de seus deveres, a energia que a situação reclama, a
generosidade que impõe o patriotismo, em uma palavra, que, em todo o
momento, será – forte e justo, divisa do Governo no momento supremo em que
nos achamos. Cidadãos: o Governo atual é do Povo e pelo Povo! A aurora da
Liberdade não pode ser toldada pela nuvem parda da discórdia e da
desconfiança. Paz e prosperidade! Viva a República! Viva o Chefe do Estado,
Exmº Marechal Deodoro da Fonseca! Viva o Ministério Republicano de 15 de
Novembro! Viva a Pátria Brasileira! Viva o Povo Rio-Grandense do Norte! Viva
a Armada Nacional! Viva o Exército Brasileiro!

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