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O PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE INTERAÇÃO

ENFERMEIRA – FAMÍLIA

Sueli Ap. Frari Galera(1), Margarita Antonia Villar Luis(2)


Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP. Doutoranda em
(1)

enfermagem do Programa de Doutorado Interunidades das Escolas de Enfermagem da Universidade de São Paulo. sugalera@glete.eerp.
usp.br. (2)Titular do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP

Dada a ênfase atual na questão da família, surgiu o interesse de trazer para a discussão o principio da
neutralidade como estratégia de interação enfermeira – família. Este principio fundamenta a abordagem
sistêmica da família em cuidados de enfermagem, que tem como principal instrumento a entrevista familiar.
Procurou-se fornecer exemplos práticos que facilitassem a compreensão dos conceitos, bem como sua
aplicabilidade.
Palavras-chave: família, relacionamento enfermeira-família

THE NEUTRALITY PRINCIPLE AS NURSE - FAMILY INTERACTION STRATEGY


In view of the current emphasis on the family question, it became of interest to discuss the neutrality principle
as nurse-family interaction strategy. This principle underlies the systemic approach to family nursing care,
whose main instrument is the family interview . In this paper, we aimed to supply practical examples that
could facilitate the understanding of the concepts as well as their applicability.
Key words: family, nurse-family interaction

Introdução
A família guarda uma relação de proximidade com a enfermagem, pois ambas são ligadas ao cuidado
à saúde. Desde Florence Nigthingale a enfermagem reconhece a família como objeto de sua intervenção, no
entanto, na maioria das vezes o foco da atenção da enfermagem tem sido o indivíduo. A inclusão da família no
cuidado de enfermagem vem ocorrendo em diversas especialidades, com maior ou menor ênfase dependendo
da época.
O contexto atual de assistência caracteriza-se por mudanças profundas em nossa maneira de pensar e
praticar o cuidado à saúde, colocando a comunidade e a família no centro do nosso enfoque. A criação do
Programa de Saúde da Família, a redução do tempo de internação, o incentivo para tratamentos ambulatoriais
e para uma rede de suporte mais ampla e flexível na assistência a portadores de doenças crônicas, são
exemplos de mudanças que tem exigido a inclusão da família no plano de cuidados.
A família, enquanto célula vital para a saúde humana, é o contexto dentro do qual evolui a saúde do
indivíduo. Ela influencia de maneira significativa as crenças de seus membros, suas atitudes e seus
comportamentos relativos à saúde e à doença. Hábitos como alimentação, uso de álcool e tabaco, a prática de
exercícios físicos e a maneira de lidar com situações de estresse se desenvolvem dentro do contexto familiar
(DUHAMEL, 1995).
Portanto, incluir a família como objeto da intervenção de enfermagem é atualmente uma exigência e
um desafio. Diversos autores questionam se a enfermagem está preparada para enfrentar este desafio, porém,
preparadas ou não, os profissionais da atualidade são colocados cada vez mais em situações de interação com
a famílias (HARTRICK et al., 1993).
O objetivo deste trabalho é discutir um dos princípios básicos na interação enfermeira - família: o
princípio da neutralidade; e oferecer exemplos práticos de sua utilização.
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Definição do princípio
O princípio da neutralidade é adotado na abordagem do sistema famíiliar em enfermagem,
desenvolvida por Lorraine M. Wrigth e Maureen Leahey na Unidade de Enfermagem Familiar da
Universidade de Calgary (WRIGTH; LEAHEY, 2000).
Esta abordagem adota a família como unidade do cuidado e se inspira na Teoria Geral de Sistemas,
na Teoria da Cibernética, na Teoria do Conhecimento elaborada pelo biólogo Humberto Maturana e seus
colaboradores, em Conceitos de Enfermagem e da Terapia Familiar, principalmente nos trabalhos da "equipe
de Milão".
A abordagem sistêmica da família em enfermagem reconhece que a relação entre a dinâmica familiar
e uma problemática de saúde é complexa, sendo impossível distinguir claramente os efeitos diretos de uma
sobre a outra. Pode-se porém, observar uma co- evolução, onde a dinâmica familiar influencia a evolução da
problemática de saúde e esta, por sua vez, influencia a dinâmica da família que, sendo outra, irá interferir na
evolução da problemática, num processo contínuo ao longo do tempo.
O princípio da neutralidade refere-se à necessidade da enfermeira ser imparcial frente ao sistema familiar
Segundo Tomm (1987) a neutralidade como um princípio da entrevista familiar é uma noção pouco
compreendida, pois estritamente falando, é impossível permanecer absolutamente neutro. Apesar desta
dificuldade, a neutralidade é importante na abordagem sistêmica, vejamos porque.
Na abordagem sistêmica a família é definida como um grupo de indivíduos vinculados por uma
ligação emotiva profunda e por um sentimento de pertença ao grupo, isto é, que se identificam como parte
daquele grupo. (WRIGHT et al., 1990).
Segundo Maturana e Varela (1995) toda entidade viva somente pode perceber, responder, pensar,
acreditar e agir de acordo com os limites de sua estrutura única como um ser. A realidade descrita por uma
pessoa não existe independente dela, pois é uma reformulação de sua experiência. Consequentemente, a
realidade que cada membro da família descreve não é uma "realidade objetiva", mas sim uma realidade entre
parênteses, pois é uma reformulação de sua experiência vivida.
Nesta perspectiva a neutralidade diz respeito ao interesse da enfermeira pela realidade de cada
membro da família, pois ela entende que cada ser humano é único, sendo única também suas experiências em
relação aos fenômenos saúde e doença.
Segundo Duhamel (1995) a enfermeira que acredita que a objetividade não existe além dos
parênteses terá mais facilidade para manifestar sua neutralidade, pois ela não considera que existe uma
"verdade", ou uma visão que seria a mais correta que a outra. Por isso, ela não julga que uma pessoa em
particular seja responsável por um problema, ao contrário ela considera que é todo o sistema que mantém o
problema.
Assim, ao interagir com a família a enfermeira deve ter uma atitude que reflita respeito e interesse
pela "realidade" de todos os membros do grupo, de modo que cada um possa afirmar que a enfermeira não
defende um membro em detrimento de outro.
Cechin (1987) defende que uma atitude de neutralidade é mantida pela curiosidade. A curiosidade
convida a uma busca contínua de informações, que impedem a enfermeira de adotar uma descrição única do
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sistema analisado. A curiosidade permite também explicitar diferentes posições ou percepções dentro da
família, as quais, muitas vezes, são desconhecidas do próprio grupo.
Exemplos práticos
A seguir apresentamos algumas situações vividas por nós em interações com famílias no Programa de
Atendimento de Famílias que tem entre seus Membros um Portador de Esquizofrenia (GALERA; LUIS,
2001), nas quais o princípio da neutralidade pode ser observado.
Uma família composta pela paciente, sua mãe, o irmão da mãe e sua filha foi convidada a participar
do Programa citado acima. Apesar do convite ter sido estendido para todo o grupo, compareceram aos
encontros somente a paciente e sua mãe.
Com o objetivo de manter nossa curiosidade frente a todos os membros do grupo elaboramos as
seguintes questões:
Para a paciente: Se o seu tio estivesse presente e eu perguntasse qual a preocupação dele em relação
ao seu problema de saúde. Qual seria a resposta dele?
Para a mãe da paciente: Nas conversas da senhora e seu irmão, quais as dúvidas que ele expressa em
relação ao problema de saúde de sua filha?
Estas perguntas, embora tratem da percepção da paciente e de sua mãe, permitiram colocar as pessoas
ausentes (tio e prima da paciente) no contexto das entrevistas, indicando que as enfermeiras valorizam as
opiniões de todos os membros da família.
Em outra família composta pela paciente, sua mãe, sua irmã e seu padrasto, atendidas no mesmo
programa, a mãe da paciente nos colocou, desde o início das interações, que seu marido (padrasto da paciente)
tinha uma opinião diferente sobre a doença da paciente. Por isso ela achava melhor que ele não participasse.
Porém, em todos os encontros, o padrasto estava presente, permanecendo quieto.
Nossa estratégia nesta situação foi de solicitar a opinião do padrasto, procurando criar um espaço
para que ele se expressasse. Tão logo sua esposa parava de falar sobre um determinado assunto, solicitávamos
a opinião do marido sobre o assunto. No início, quando o marido começava falar, a mãe e as filhas riam ou
iniciavam uma conversa paralela. Ao longo do tempo, estas reações foram diminuindo. Pode-se então
trabalhar com duas opiniões diferentes sobre o problema de saúde da paciente, a opinião da mãe (o problema é
uma doença difícil de controlar) e a do padrasto (o problema é rebeldia e a mãe deveria ser mais enérgica).
Duhamel (1995) sugere que as enfermeiras que se propõem a ajudar famílias com alguma
problemática de saúde, devem convidar e estimular a participação do maior número possível de pessoas da
família. É importante recolher a percepção de cada membro quanto ao funcionamento da família, pois são elas
que influenciarão os comportamentos de cada um, assim como o funcionamento de todo o sistema familiar. A
saúde familiar depende dessas percepções e deste funcionamento.
Considerações finais
As enfermeiras estão habituadas a coletar dados, identificar problemas e propor intervenções para
seus pacientes e familiares. Estas tarefas geralmente estão centradas nas concepções que a enfermeira tem
sobre necessidade e sobre o quê é melhor para o paciente. Assim, freqüentemente, as enfermeiras visam
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convencer os pacientes a adotarem certos comportamentos, acreditando que existe uma visão correta da
situação.
Duhamel (1995) salienta que nessa concepção poderá ser difícil dar provas de neutralidade e de
flexibilidade no início da relação com a família. É impossível ser curioso se existe a crença em uma única
verdade.
Referências bibliográficas
CECHIN, G. Hypothesizing, circularity and neutrality revisited: an invitation to curiosity. Family Process,
v.26, n. 4, p. 405-413, 1987.

DUHAMEL, F. La santé et la famille: une approche systémique en soins infirmiers. Montréal, Gaëtan Morin
Editeur, 1995.

GALERA, S. A. F.; LUIS, M. A. V. Programa de atendimento na comunidade ao portador de


esquizofrenia e sua família. Projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de Enfermagem
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2001

HARTRICK, G. ; LINDSEY, A. E. ; HILLS, M. Family nursing assessment: meeting the challenge of health
promotion. J. Adv. Nurs., v. 20, p. 85-91, 1993.

MATURANA R.. H; VARELA G, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento


humano. Campinas. Editorial Psy II,1995.

TOMM, K. Interventive interviewing: Part 1 strategizing as a fourth guideline for the therapist. Family
Process, v. 26, n. 3, p. 3-13, 1987.

WRIGHT, L. M. ; LEAHEY, M. Nurses and families: a guide to family assessment and intervention.
Philadelphia, F. A. Davis Company, Third edition, 2000.

WRIGHT, L. M., WATSON, W. L. & BELL, J. M.. The familiy nursing unit: a unique integration of research,
education and clinical practice. In: J. M. Bell; W. L. Watson & L. M. Wright (dir). The cutting edge of
family nursing, Calgary' Family Nursing Unit Publications, 1990.

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