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VULNERABILIDADE AMBIENTAL À EUTROFIZAÇÃO:

Reservatório Carangueja

Joceline Costa de Almeida1; Leonardo Lopes de Azeredo Vieira; Thaís Tonin de Barros; Valeska
Cavalcante da Costa & Valmir de Albuquerque Pedrosa2

RESUMO --- O reservatório Carangueja, localizada no município alagoano de Quebrangulo, é a


única fonte de água para cerca de 90 mil alagoanos que moram em outras três cidades próximas ao
mesmo. Recentemente a Prefeitura de Quebrangulo iniciou o cultivo de tilápia em tanque-rede
dentro do reservatório, numa ação para aumentar a renda de suas comunidades mais carentes. O
conflito pelo uso destas escassas águas entre o abastecimento humano e a aqüicultura é o tema deste
artigo. São apresentadas análises de água antes e depois da implantação do projeto. Ainda não há
efeito visível sobre a deteorização da qualidade da águas. Mas os autores acreditam que a
continuidade da criação, dissociada de uma adequada gestão dos recursos hídricos, agravará a
situação da qualidade das águas do Carangueja.

ABSTRACT --- The Carangueja reservoir, located in Alagoas, is the only water source to three
cities, who population is around 90 thousand people. In end of 2006, the Quebrangulo Agriculture
Department decided implement fish farm project to support poor community in its waters. Now is
necessary to define a integrated water management, to avoid eutrophication of lake. The article
presents water analyses before and after the Tilápia Project. Based in this two analyses, the water
quality is no getting worse than before. Nevertheless, the authors believe that water management is
very important to avoid the degradation of Carangueja´s water.

Palavras-chave: Reservatório, eutrofização, piscicultura.

1
Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento - UFAL. E-mail: jocelinecostaa@yahoo.com.br;
leolav@uol.com.br; thaistonin@ig.com.br, valeskacavalcante@hotmail.com.
2
Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Universidade Federal de Alagoas - UFAL. E-mail:
valmirpedrosa@yahoo.com.

IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 1


1 - INTRODUÇÃO

Desde a década de 1970 a aqüicultura mundial apresenta índices médios anuais de


crescimento de 9,2%, comparados com apenas 1,4% na pesca extrativa e 2,8% na criação de
animais terrestres. A aqüicultura brasileira apresenta taxas anuais médias de crescimento superiores
a 22%. O potencial do Brasil para o desenvolvimento da aqüicultura é imenso, constituído por
8.400km de costa marítima, 5.500.000ha de reservatórios de águas doces, aproximadamente 12% da
água doce disponível no planeta, clima extremamente favorável para o crescimento dos organismos
cultivados, terras disponíveis, relativo baixo custo na maior parte do país, mão-de-obra abundante e
crescente demanda por pescado no mercado interno (FAO, 2003).
No caso do Estado de Alagoas, destaca-se a aqüicultura no rio São Francisco com criação de
tilápias, e o uso de tanques-rede no reservatório da Usina Hidroelétrica de Xingó. No entanto, a
aqüicultura também tem crescido nos pequenos reservatórios do semi-árido alagoano.
Embora o cenário seja otimista, é imprescindível monitorar os efeitos do avanço desta
atividade sobre a qualidade dos corpos hídricos. O atual crescimento e a intensificação da
aqüicultura deram origem a uma série de preocupações e conflitos quanto a sua sustentabilidade,
visto que ela se desenvolve geralmente em ecossistemas com certa fragilidade. As principais
questões levantadas têm sido: alteração da biodiversidade local, aumento da carga orgânica e de
nutrientes no entorno das pisciculturas, poluição por produtos químicos, e comprometimento da
água potável nos povoados e cidades vizinhas.
Diante deste contexto, o trabalho objetiva discutir a situação do reservatório Carangueja,
localizado no município de Quebrangulo, no estado de Alagoas, onde ocorre o conflito do uso da
água para abastecimento humano, com a aqüicultura, através da criação de tilápias em tanque-rede.
Esta pode impactar negativamente a qualidade da água do reservatório, que já apresenta indícios de
excesso de matéria orgânica, favorecendo a eutrofização de suas águas.

2 - DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O reservatório Carangueja, inaugurado em 1977, é a única fonte de água para a cidade de


Palmeira dos Índios. O sistema também atende 80% da demanda hídrica das cidades de Minador do
Negrão e Estrela de Alagoas, estas abastecidas pela Barragem da Limeira durante o inverno.
Segundo dados populacionais do IBGE, em 2007, havia aproximadamente 90 mil habitantes nestas
três cidades.
A precipitação média anual do município de Quebrangulo, onde se situa a barragem
Carangueja, é de 550mm, apresentando concentração de chuvas nos meses de maio até agosto, onde

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chove cerca de 70% do total precipitado no ano. A figura 1 ilustra a precipitação anual entre os anos
de 1979 a 2005.

Figura 1. Precipitação média anual em Quebrangulo.

O reservatório é formado pelo represamento das águas de pequenas nascentes que correm para
o rio Paraíba do Meio. De fato, a barragem fica a 200 metros do leito deste. De acordo com o
“Levantamento Exploratório – Reconhecimento de Solos do Estado de Alagoas” – SUDENE
(1975), os solos são do tipo podzólicos vermelho amarelo, latosol vermelho amarelo, hidromórficos
e halomórficos. A vegetação é basicamente composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de
Floresta Caducifólia. A figura 2 apresenta uma visão geral do reservatório.

Figura 2. Vista Geral da Barragem Carangueja


Fonte: Autores, jan. 2008
O sistema coletivo Carangueja possui cerca de 105km de adutoras com diâmetros variando de
400mm a 50mm, duas estações elevatórias com potência total instalada de 475CV e capacidade
nominal de 113,00L/s, em condições de atender a uma população de 54.240 habitantes, esta inferior
a população atual das localidades atendidas. O sistema é operado pela Companhia de Saneamento
de Alagoas (CASAL). Na tabela 1, são apresentadas informações pertinentes ao sistema coletivo
carangueja.

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Tabela 1. Sistemas integrados de oferta de água
Disp. Demanda - 2025
Sistema Capacidade
Município Hídrica (l/s)
Adutor
(l/s) Captação Adução Tratamento Município Total
Palmeira dos
159,1
Índios
Carangueja Estrela de 222,0 251,3
116,0 116,4 26,6 195
Alagoas (1) (2)
Minador do
9,2
Negrão
(1) PDRH das Bacias do Rio Paraíba, Sumaúma e Remédios (2001)
(2) Capacidade Estimada com base no diâmetro, considerando v=2m/s (Tab. Hazen Willians)
Fonte: ANA - Agência nacional das Águas (2005)

O relatório Atlas de Obras Prioritárias para a região Semi-Árida, desenvolvido pela ANA em
2005, classifica o sistema Carangueja como numa situação crítica, tanto no quesito disponibilidade
do manancial, como no quesito capacidade do sistema (adutoras e ETA). A figura 3 apresenta a
esquematização do Sistema Coletivo Carangueja, com suas adutoras, ETA e estações elevatórias.

Figura 3. Ilustração do Sistema Coletivo Carangueja


Fonte: www.casal.al.gov.br/abastecimento-interior-sistema_carangueja.php

3 - RESERVATÓRIOS NO SEMI-ÁRIDO

Técnicas para reter e acumular as águas superficiais nas regiões áridas do mundo sempre foi a
grande luta do homem para suprir as suas necessidades hídricas. O semi-árido brasileiro possui
cerca de 70.000 reservatórios superficiais, que acumulam grandes volumes de água, sendo
reservatórios plurianuais ou interanuais.
A construção de reservatórios, entretanto, provoca a modificação dos ecossistemas naturais.
Devido a grande dimensão dessas obras e à mudança do uso do solo em seu entorno, ocorrem
impactos ambientais durante a construção e após o início da operação, produzindo alterações
hidrológicas, atmosféricas, biológicas e sociais, na região de construção e na área atingida pelo lago
artificial (Tundisi, 1987).
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Dentro deste contexto, pode ocorrer em alguns reservatórios o processo de eutrofização. A
vulnerabilidade ou fragilidade ambiental está relacionada com a susceptibilidade de uma área em
sofrer danos quando submetida a uma determinada ação, como a ação do aporte de nutrientes num
corpo d’água. Quanto maior a vulnerabilidade da bacia, menor a chance de recuperação do
ambiente.
Marca a hidrologia do semi-árido a alta evaporação e o sistema fluvial intermitente. Estes
fatos dificultam o manejo adequado dos reservatórios, pois durante o período de diminuição dos
volumes de água nos reservatórios, ocorre o aumento da demanda pelo excessivo calor e ausência
de chuvas. Com os volumes reduzidos, as concentrações de carga poluidora sofrem destacado
crescimento.

4. GESTÃO DO USO COMPARTILHADO

4.1. Eutrofização de Lagoas e Reservatórios

O processo de eutrofização é um problema mundial que atinge lagos, represas, rios e águas
costeiras de todo o planeta. A eutrofização das águas significa seu enriquecimento por nutrientes,
principalmente nitrogênio e fósforo, levando ao crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto
planctônicas quanto aderidas, com conseqüente desequilíbrio do ecossistema aquático e progressiva
degeneração da qualidade da água dos corpos lênticos. Em razão da eutrofização, muitos
reservatórios e lagos no mundo já perderam sua capacidade de abastecimento, de manutenção da
vida aquática e de recreação. Vários trabalhos apontam para a gravidade do problema.
(VOLLENWEIDER, 1976).
A eutrofização pode ou não ser benéfica, aumentando a produtividade primária, tornando o
sistema ideal para a presença dos consumidores (zooplâncton, moluscos, crustáceos e peixes), ou
causando sérios desequilíbrios com o superpovoamento de algas microscópicas. (PADUA, 2000).
Quanto ao grau de trofia dos reservatórios, estes podem ser classificados como:
• Oligotrófico: sucessão de sedimentos predominantemente inorgânico, com fósseis
indicadores de oligotrofia;
• Mesotrófico: moderado enriquecimento com nutrientes; moderado crescimento planctônico;
alguma acumulação de sedimentos na maior parte do fundo; e, em geral, suporta espécies de
peixes de águas mais quentes;
• Eutrófico: sucessão de sedimentos mais orgânicos, com fósseis indicadores de oligotrofia;
• Hipereutrófico – Algumas características: enriquecimento máximo de nutrientes; número
excessivo de algas e plantas aquáticas (ao ponto de impedir ou dificultar a navegação).

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Nestes casos a intervenção humana para contribuir para o retorno a taxas menos tróficas.
(ESTEVES, 1998). A tabela 2 sumariza as características tróficas de lagoas e reservatórios.

Tabela 2. Caracterização trófica de lagos e reservatórios.


Classe de Trofia
Item
Oligotrófico Mesotrófico Eutrófico Hipereutrófico
Biomassa Reduzida Média Alta Bastante alta
Fração de algas verdes
Baixa Variável Alta Bastante alta
e/ou cianofíceas
Macrófitas Baixa Variável Alta ou baixa Baixa
Dinâmica de produção Baixa Média Alta Alta, instável
Variável em Bastante instável,
Dinâmica de oxigênio Normalmente Frequentemente
torno da de supersaturação
na camada superior saturado supersaturado
supersaturação à ausência
Abaixo da Bastante instável,
Dinâmica de oxigênio Normalmente Variável abaixo
saturação à de supersaturação
na camada inferior saturado da saturação
completa ausência à ausência.
Prejuízo aos usos
Baixo Variável Alto Bastante alto
múltiplos
Fonte: Adaptado de VOLLENWEIDER (apud SALAS E MARTINO, 1991).

Os danos à saúde humana e o aumento exagerado dos custos do tratamento da água são
algumas das conseqüências econômicas mais severas e problemáticas da eutrofização, como mostra
a tabela 3.
Tabela 3. Efeitos da eutrofização em reservatórios
Efeitos da eutrofização
Anoxia (ausência de oxigênio dissolvido), que causa a morte de peixes e de invertebrados e também
resulta na liberação de gases tóxicos com odores desagradáveis.
Florescimento de algas e crescimento incontrolável de outras plantas aquáticas.
Produção de substancias tóxicas por algumas espécies de cianofíceas.
Altas concentrações de matéria orgânica, as quais, se tratadas com cloro, podem criar compostos
carcinogênicos.
Deterioração do valor recreativo de um lago ou de um reservatório devido à diminuição da
transparência da água.
Acesso restrito à pesca e a atividades recreativas devido ao acúmulo de plantas aquáticas.
Menor número de espécies e diversidade de plantas e animais (biodiversidade).
Alterações na composição de espécies daquelas mais importantes para as menos importantes
(em termos econômicos e valor protéico).
Depleção de oxigênio, particularmente nas camadas mais profundas, durante o outono em lagos e
reservatórios de regiões temperadas.
Diminuição da produção de peixes causada por depleção significativa de oxigênio na coluna de água
e nas camadas mais profundas de lagos e reservatórios.
Fonte: UNEP-ILEC, 2001.

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4.2 - Aqüicultura

O cultivo de peixes vem assumindo importância cada vez maior no panorama do


abastecimento alimentar, uma vez que a alta taxa de crescimento demográfico condiciona um
aumento populacional que poderá colocar em risco a oferta de alimentos. A produção aqüícola
mundial teve um crescimento de 187,6%, entre os anos de 1990 e 2001, passando de 16,8 milhões a
48,4 milhões de toneladas. (BORGHETTI et al., 2003).
Alguns reservatórios de água, inicialmente destinados para o abastecimento humano, geração
de energia elétrica e irrigação, dentre outras finalidades, vêm sendo progressivamente utilizados
para instalação de projetos de piscicultura em tanques-rede. Estes constam de uma estrutura
flutuante, onde são fixadas as gaiolas, construídas em telas de polietileno e tubos de PVC, que lhe
dão a forma e tamanho desejados, assim permite confinar os peixes, na quantidade adequada, onde
serão alimentados até atingirem o peso ideal para a comercialização. A fixação deste conjunto é
feita por meio de pontas de concreto ou ferro, presas ao tanque por cordas de nylon ou cabos de aço.
Entretanto, a aqüicultura pode acarretar uma série de impactos negativos:
a) a ocorrência de eutrofização dos corpos d’água, a qual está diretamente relacionada à
densidade de estocagem e ao consumo de ração;
b) o aumento do uso de produtos químicos para o tratamento da qualidade de água, ou para
controlar a produção excessiva de fitoplâncton com sulfato de cobre ou outras substâncias;
c) a introdução e dispersão de animais alóctones, principalmente de espécies de peixes
originários de outras bacias hidrográficas;
d) a introdução de organismos patogênicos e doenças;
e) a alteração da biodiversidade local;
f) impacto sócio-econômico;
g) a alteração da paisagem em geral.
Portanto, deve-se levar em consideração que a qualidade da água para a aqüicultura em
reservatórios é influenciada por um conjunto de variáveis que não se relacionam diretamente ao
próprio sistema de cultivo. Na maioria dos casos, as alterações dos parâmetros físicos e químicos de
qualidade de água são decorrentes das atividades desenvolvidas nas áreas adjacentes aos
reservatórios, como por exemplo, a existência de resíduos de agroquímicos provenientes das
atividades agropecuárias e do aporte de matéria orgânica e resíduos urbanos das cidades localizadas
na região.

4.2.1 - Piscicultura na Barragem Carangueja

A Prefeitura Municipal de Quebrangulo, através de sua Secretaria Municipal de Agricultura


implantou o Projeto Experimental Criação de Tilápias em Tanques-Rede nas águas do reservatório

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Carangueja. Neste, quarenta famílias de baixa renda (renda inferior a um salário mínimo) foram
selecionadas para serem beneficiárias da criação de tilápias, iniciando com a participação efetiva de
nove famílias, com previsão de expansão de mais 20 famílias já capacitadas que aguardavam
ampliação com a aquisição de mais tanques-rede. Hoje, o número de famílias que seguem inseridas
no projeto foi reduzido a oito.
O Projeto foi financiado com recursos do Fundo de Microcrédito do Governo do Estado
(FUNCRED), em parceria com o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento dos Municípios do
Nordeste (IPDN) e a Secretaria de Agricultura do município. Com os recursos repassados, foram
adquiridos 20 tanques-redes (figura 4), e garantida a capacitação dos beneficiados.

Figura 4. Tanques de piscicultura


Fonte: Autores, out. 2007
Em agosto de 2006, foi realizado o primeiro povoamento, com cinco mil alevinos. No fim de
dezembro, quando completou o primeiro ciclo, período de 120 dias para o crescimento dos peixes,
iniciou-se o primeiro despesque (retirada das tilápias adultas para a comercialização). A estimativa
é que nos meses de despesque são retirados 2.500kg de peixes, que são vendidos nos mercados e
feiras-livres existentes em Quebrangulo e municípios vizinhos. Da soma arrecadada uma parte é
usada para aquisição de novos alevinos e ração, o restante é dividido entre as famílias integrantes do
grupo.
A atividade de piscicultura no reservatório em seus 20 tanques-rede de 1,20m x 1,20m x
1,20m, que se encontram na cota de 12m de lamina d’água, distribui cerca de 5000 mil peixes.
Alimenta-os com 1,8kg de ração por quilo de peixe. O povoamento de alevinos na barragem
acontece de forma escalonada, cada ciclo povoa 5 tanques rede, desde o primeiro ciclo do primeiro
povoamento completo, com isso a cada mês do ciclo (4 meses), e mensalmente em cinco tanques
rede é feito o despesque (figura 5) e o repovoamento com alevinos. Durante o cativeiro o alevino
passa de 1g a cerca de 500g.

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Figura 5. Tanques de piscicultura
Fonte: Autores, out. 2008
Os tanques-rede têm como impacto o depósito de matéria orgânica no ambiente, através do
metabolismo dos peixes e da ração não ingerida, os quais produzem mudanças físicas, químicas e
biológicas. Cerca de 20% do alimento é perdido sem ingestão pelos peixes (Pearson& Gowen,
1990). A produção de 1 tonelada de peixe libera ao ambiente aproximadamente 15kg de fósforo
(Haakanson et al., 1988) e 75kg de nitrogênio.

4.3 - Qualidade da Água em Reservatórios

Os impactos do manejo da aqüicultura podem ser sentidos principalmente nos seguintes


parâmetros de qualidade de água (SCHMITTOU, 1997):

a) temperatura;
b) oxigênio dissolvido;
c) gás carbônico;
d) pH;
e) alcalinidade e dureza total;
f) amônia;
g) nitrito;
h) gás sulfídrico.
Em grandes reservatórios onde são realizados cultivos de peixes em tanques-redes, a
qualidade de água está diretamente relacionada ao consumo de ração pelos peixes cultivados, à taxa
de conversão alimentar e ao tempo de retenção da água nesses ambientes.
Nesse contexto, é necessário observar princípios básicos referentes à qualidade de água, à
manutenção e ao monitoramento dos sistemas de produção com relação aos seguintes fatores:
manejo alimentar, temperatura da água e estratificação, oxigênio dissolvido e produtividade

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primária, e qualidade da água. BOYD &TUCKER (1998) apresentam na tabela 4 freqüência e
limite dos parâmetros a serem analisados.

Tabela 4. Parâmetros físico-químicos de qualidade de água, freqüências de análise e limites


mínimos adequados para aqüicultura em tanque rede.

Parâmetro Freqüência Limite


Temperatura Diária 26-28oC
OD Diária 5-6mg/L
DBO Semanal < 30mg/L
pH Diária 6-9
Alcalinidade Total Semanal > 20mg (CaCO3)
Dureza Total Semanal > 10mg (CaCO3)
Transparência Diária 30-50cm
Sólidos Totais Suspensos Semanal < 30mg/L
Turbidez Semanal 25-30UNT
Condutividade Mensal < 1.000mmol/cm²
Fósforo Total Mensal < 0,5mg/L
Fósforo Solúvel Mensal < 0,05mg/L
Nitrogênio Total Semanal 5-6mg/L
Nitrogênio Amoniacal Total Semanal 2-3mg/L
Amônia Semanal < 0,5mg/L
Nitrito Semanal < 0,5mg/L
Fonte: BOYD &TUCKER, 1998.

5 - LEGALIZAÇÃO AMBIENTAL DO PROJETO

O processo de licenciamento ambiental faz-se necessário nas etapas de instalação, construção,


ampliação, modificação e operação de empreendimentos utilizadores de recursos naturais, quando
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras.
Licença ambiental é o ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece
as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, para instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades consideradas
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental.
O licenciamento ambiental para Aqüicultura, em nível Federal, é realizado através da SEAP -
Secretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca já em nível estadual, torna-se responsabilidade dos
órgãos Estaduais de Meio Ambiente, os quais obedecem à legislação estadual vigente.
Existem três tipos de licenças necessárias para o funcionamento do empreendimento:
Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou
atividade, aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação;
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Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo
com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas
de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade, após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e
condicionantes determinados para a operação.
Com o incentivo que a piscicultura em tanques-redes vem recebendo dos setores públicos e
privados, em especial pelo Decreto Nº 4.895, sancionado pelo Presidente da República, juntamente
a Instrução Normativa Interministerial Nº8, entre o Ministério da Aqüicultura e Pesca e o do Meio
Ambiente, que dispõe sobre a autorização do uso de água pública para a aqüicultura e estabelece
diretrizes para a implantação de parques aqüícolas, respectivamente, pode-se vislumbrar um
progressivo crescimento da atividade da aqüicultura no País.

6 - RESULTADOS

Alguns parâmetros da qualidade da água foram realizados anteriormente a implantação do


projeto de criação de tilápias no reservatório Carangueja. A tabela 5 abaixo indica valores de
parâmetros físico-químicos e biológicos observados.

Tabela 5. Parâmetros físico-químicos e biológicos de água na Barragem da Carangueja em 2005.


Limites Ponto de Amostragem
Parâmetros Unidades CONAMA
Nº 357/05 Superfície Fundo
Data da coleta --- --- 09/04 10/04 09/04 10/04
Hora da coleta --- --- 15h 21h 05h30 15h 21h 05h30
Potencial hidrogeniônico íons.g/L 6,0 a 9,0 6,62 6,85 6,51 6,39 6,65 6,42
Alcalinidade total mg/L CaCO3 --- 0,63 0,65 0,65 0,64 0,65 0,63
Clorofila a μg/L até 30,0 12,92 23,12 12,58 9,63 22,79 17,1
Condutividade elétrica μS/cm --- 150,4 149,3 150,2 150,9 150,4 150,9
Dureza total mg/L CaCO3 --- 6,00 6,00 6,00 8,00 8,00 8,00
até 0,030 *
Fósforo total mg/L P 0,033 0,072 0,036 0,069 0,120 0,087
até 0,050 **
Nitrato mg/L N até 10,0 0,005 0,006 0,002 0,007 0,003 0,006
Nitrito mg/L N até 1,0 0,004 0,004 0,004 0,006 0,004 0,005
Nitrogênio amônia mg/L N --- 0,014 0,022 0,013 0,008 0,015 0,022
Oxigênio dissolvido mg/L O2 > 5,0 6,3 4,7 3,8 1,9 1,9 1,1
o
Salinidade /oo = ou < 0,5 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1
Temperatura da água ºC --- 28,9 28,4 28,2 27,8 27,6 27,3
Turbidez UNT até 100 4,16 2,47 4,14 8,6 17,15 9,56
Transparência m --- 1,3 -
Profundidade m --- 0,2 5,0
Latitude - S 09º 17' 48,9''
Coordenadas - GPS
Longitude - W 36º 28' 06,3''
* em ambientes lênticos.
** em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2 e 40 dias, e tributários diretos de ambiente lêntico.
Fonte: Prefeitura Municipal de Quebrangulo (Análise de viabilidade do Projeto de Piscicultura)

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O oxigênio dissolvido apresentou valores baixos, principalmente nos pontos de amostragens
de fundo, representados por atividade microbiana (decomposição da matéria orgânica) e, ficando
tão somente o ponto de superfície às 15h em conformidade com a Resolução CONAMA N° 357, de
18/03/2005. Constata-se que anteriormente a implantação dos tanques-rede à dificuldade de
reaeração natural, conseqüentemente uma péssima condição de oxigênio dissolvido, explicitando o
principal foco deste trabalho a eutrofização do manancial nitidamente é percebida, que se agravará
cada vez e a reversão do processo distancia-se visto não ter contenção dos fatores de agravamento
da situação. Os demais parâmetros encontram-se razoavelmente dentro do estabelecido pela
resolução em tela.
O Programa de Mestrado de Recursos Hídricos e Saneamento da Universidade Federal de
Alagoas coletou amostras de água e analisou algumas variáveis em janeiro de 2008. Observou-se
que os valores de OD apresentaram-se inferiores aos constatados na análise anterior a implantação
da piscicultura, fora dos padrões adotados pela resolução 357/2005 do CONAMA. Os valores mais
críticos foram encontrados nas proximidades do ponto de captação de água para adutora.

Tabela 6. Parâmetros analíticos físicos nas amostras de água na Barragem da Carangueja em 2008.
Parâmetros
Coleta Horário Ponto
Data
Mensal Manhã Superfície Temperatura OD Turbidez Cor
Tanques-rede 27,7 4,8 4,0 23,0
Margem Esquerda (*) 27,6 4,8 3,8 22,0
1 17.01.2008 10h15 - 11h15 Margem Direita (**) 28 4,2 9,3 29,0
Captação
28,8 2,9 2,0 30,0
ETA/CASAL
(*) Sem influência direta humana (**) Com influência direta humana
Fonte: PPGRHS, 2008.
O reservatório Carangueja tem enfrentado problemas de proliferação de algas aquáticas,
conforme pode ser visto nas figuras 6 e 7. Historicamente, a CASAL tem diminuido este presença
por meio de limpeza mecânica do reservatório. Por meio de correntes e redes as algas são puxadas
em direção ao vertedor nos momentos de vertimento do reservatório, conforme figura 8.

Figura 6. Macrófitas no barramento do reservatório


Fonte: Autores, jan. 2008.
IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 12
Figura 7. Macrófitas na tomada de água para captação
Fonte: Autores, jan. 2008.

Figura 8. Vertedouro do reservatório Carangueja eliminado as macrófitas.


Fonte: Autores, jan. 2008.

7 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O cultivo intensivo de tilápias em tanques-rede tem sido proposto como uma alternativa para
aumentar a produção pesqueira, a geração de renda e a oferta de proteína animal em diversos países
tropicais e subtropicais. No entanto, esse sistema de produção enriquece o ambiente aquático com
nutrientes, principalmente o nitrogênio e o fósforo, oriundos dos dejetos do metabolismo do
alimento e com eventuais sobras de alimentos não consumidos pelos peixes; uma vez que a
alimentação dos peixes nessa modalidade de cultivo é extremamente dependente do aporte de ração.
A emissão desses nutrientes em níveis acima do limite que o sistema é capaz de provocar o

IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 13


fenômeno da eutrofização, comprometendo a qualidade da água do manancial para o abastecimento
público e para a própria atividade de piscicultura.
Sistemas de produção agropecuária intensivos exigem a aplicação freqüente de altas doses de
fertilizantes e agrotóxicos, além do uso de rações comerciais com altas concentrações de proteína e
estimuladores de crescimento. Portanto, áreas onde o relevo é acidentado e onde não existe
preocupação com a preservação do solo, sérios problemas podem ocorrer durante períodos de
chuvas muito intensas. Essas chuvas podem transportar uma grande quantidade de matéria orgânica,
agrotóxicos, sólidos em suspensão e também cobre e zinco para os lagos e reservatórios localizados
nas adjacências dessas áreas. Este fenômeno ocorre no reservatório Carangueja, e um plano de uso e
ocupação do solo precisa ser desenvolvido para a preservação do mesmo.
A CASAL há anos luta contra o crescimento de macrófitas e contra a deterioração destas
águas. A eutrofização do lago já preocupa seus técnicos há pelo menos 12 anos. A causa passada foi
o crescimento da pecuária extensiva. No presente, a preocupação maior é a criação de tilápias.
A análise do pedido de outorga do uso da água, bem como o licenciamento ambiental da
criação encontra-se em análise. Não obstante, a atividade está em pleno funcionamento com vinte
tanques-rede e planos para outros vinte.
É fortemente recomendado o monitoramento da qualidade da água, para mensuração do
impacto provocado pelos tanques-rede no ambiente, e para balizar os prováveis ajustes necessários
à manutenção da boa qualidade do ambiente: fator primordial à viabilidade técnica do
empreendimento, sem acarretar danos irreversíveis ao reservatório de uso prioritário de
abastecimento humano.
O uso compartilhado das águas do reservatório Carangueja deve observar algumas restrições
para não comprometer o uso prioritário que é o abastecimento humano:
1. Adequado manejo de rações com teores de fósforo elevados;
2. Os tanques-rede deverão ser instalados de modo a levar em conta as flutuações de
nível do Reservatório, considerando a operação dentro do volume útil do reservatório;
3. A produção de peixes deverá ser suspensa ou minimizada nos anos em que, no início
da estação seca o nível de água do reservatório esteja inferior a uma cota mínima a ser
definida.
Nos últimos anos, o Programa de Mestrado de Recursos Hídricos e Saneamento (PPGRHS)
da UFAL vem sistematicamente submetendo proposta de projeto de pesquisa para os organismos de
fomento (CNPQ, CAPES, FAPEAL, FINEP) para ampliar o conhecimento sobre a dinâmica da
qualidade da água da Carangueja. O êxito nestas submissões não tem sido freqüente, mas o
PPGRHS insistirá com o tema, pois, aproximadamente 100 mil alagoanos dependem destas águas.

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