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Introdução
O gás natural, nos últimos 20 anos, tornou-se uma matriz energética no país
principalmente após a crise de energia ocorrida durante o governo do Presidente Fernando
Henrique Cardoso. Então, gradativamente a cada ano, o mercado de gás natural no Brasil tem
crescido e novas jazidas têm sido descobertas. Com isso aumentaram as responsabilidades das
distribuidoras de gás em levar esse combustível para o grande mercado reprimido brasileiro.
Com todo esse crescimento projetado, faz-se necessário um eficiente acompanhamento das
atividades operacionais dessas empresas, aliado com um eficaz planejamento financeiro para
a aplicação da enorme soma de recursos que irão adentrar neste emergente e imenso mercado
que é o de gás natural.
Com uma análise financeira adequada, a empresa poderá planejar com mais eficiência
sua gestão financeira, aproveitando o máximo o retorno sobre os investimentos, maximizando
os lucros e minimizando os riscos. Ademais, a utilização de indicadores econômico-
financeiros poderá determinar a adequada estrutura de capital para o desenvolvimento das
atividades de uma distribuidora de gás natural. Como o mercado de distribuição de gás natural
é um mercado complexo e a avaliação de projetos de investimentos depende de uma correta e
eficiente gestão financeira e operacional, o objetivo primordial deste trabalho é avaliar
empiricamente, através da estimação de índices econômico-financeiros e da Teoria de
Modigliani – Miller (MM), as empresas CEG com capital aberto e a BAHIAGÀS com capital
fechado, evidenciando suas diferenças de estrutura de capital.
Cabe salientar que o presente trabalho trata-se de uma compilação de um trabalho final
do curso de pós-graduação em Gestão de Petróleo e Gás, apresentado no ano de 2010, e que
os dados patrimoniais mais recentes das empresas pesquisadas disponíveis para consulta são
do ano de 2008.
Além desta introdução, este trabalho possui os seguintes tópicos a serem
apresentados:
No capítulo 2, apresentar-se-ão os aspectos regulatórios do mercado de distribuição de
gás natural no Brasil, os principais indicadores utilizados na análise econômico-financeira e
da estrutura de capital das distribuidoras de gás natural, e uma abordagem das principais
teorias de modelagem de estrutura de capital, com suas respectivas metodologias de
aplicação.
No capítulo 3, serão apresentados os índices financeiros e econômicos utilizados nesse
trabalho bem como uma síntese da teoria de estrutura de capital de Modigliani e Miller. No
quinto capítulo será feita a discussão dos resultados dos índices, assim como as estruturas de
capital das empresas do segmento de distribuição de gás natural.
Por fim, deseja-se que este trabalho possa contribuir para dar um melhor entendimento
dessa emergente fonte energética, o gás natural, que a cada dia ocupa um importante papel na
matriz energética brasileira.
1
empresas privadas e, por outro lado, a necessidade de uma conjuntura voltada à reflexão
acerca de instrumentos que assegurem um ambiente livre de abusos de poder econômico por
parte dos agentes integrantes (COSTA, 2005).
Os fundamentos jurídicos da regulação do gás natural no Brasil segundo Loss (2007)
remontam marcos históricos anteriores ao ano de 1950. Contudo, a constitucionalização
expressa de atividades ligadas à cadeia do gás natural ocorreu apenas na Constituição de
1988. Ainda, essa nova orientação político-econômica, entre 1995 e 1998, quatro importantes
medidas do governo sinalizaram uma nova etapa para a indústria do gás natural: a emenda
constitucional nº 5, possibilitando aos Estados conceder a terceiros a exploração dos serviços
locais de gás canalizado; a emenda constitucional nº 9, relativa à participação de terceiros em
exploração de jazidas de petróleo e que autoriza a união a contratar com empresas estatais ou
privadas na realização de atividades de petróleo; a lei do petróleo, base da regulação da
indústria do petróleo atualmente em vigor; e o decreto de estruturação da ANP (nº 2.455).
Como fruto do desenvolvimento do mercado de gás natural em março de 2009 foi
aprovada a nova lei do gás (lei 11.909) que, todavia, carece de regulamentação específica
(figura 1).
2
fevereiro de 1991, cujo objeto social é a produção, comercialização, armazenamento e
distribuição de gás e a prestação de serviços correlatos, observada a legislação federal
pertinente, os critérios econômicos de viabilização dos investimentos, o desenvolvimento
econômico e social, os avanços técnicos e a integração do gás na matriz energética no estado
da Bahia. Tem como acionistas o Estado da Bahia, a Gaspetro, subsidiária da Petrobras, e a
Bahiapart, empresa do grupo Mitsui Gás e Energia do Brasil.
3. Referencial teórico
3.1 Avaliação econômica financeira
Para a empresa ser bem gerida financeiramente, há a necessidade de informações para
dar suporte às tomadas de decisões do administrador da companhia, e muitas delas podem ser
subsidiadas através da análise das demonstrações financeiras, do desempenho operacional e
da alavancagem financeira, bem colocada por Assaf (2005), que afirma que a análise das
demonstrações contábeis constitui-se um dos estudos mais importantes da administração
financeira e desperta enorme interesse tanto para os administradores internos da empresa,
como para os diversos segmentos de analistas externos. Não obstante, a avaliação das
demonstrações contábeis proporciona a transformação de dados em informações relevantes de
fundo econômico e financeiro a cerca de uma entidade. As informações financeiras, em
síntese, comunicam aos satkeholders a capacidade de cumprimento das obrigações de curto e
longo prazo, ou seja, a solvência da organização junto ao mercado, e as informações
econômicas retratam a lucratividade e geração de riqueza na sua atividade fim. Essas
informações são expressas por índices financeiros, que de acordo com o trabalho empírico de
Silva et al (2008) influenciam diretamente na criação ou destruição de valor para as
organizações.
Assaf (2005) refere-se a este índice como a relação existente entre ativo circulante e o
passivo circulante, ou seja, o quanto a organização possui de direitos de curto prazo para cada
unidade de obrigações de curto prazo. Para Gitman (2004), um índice de liquidez corrente de
2 é considerado aceitável, mas a aceitabilidade do valor irá depender do tipo de mercado que a
empresa opera.
• Índice de liquidez imediata (caixa) é dado por:
Disponível
Índice de liquidez
=
imediata
Passivo circulante
Este índice reflete a porcentagem das dívidas de curto prazo (passivo circulante) que
pode ser liquidada imediatamente pela empresa, por suas disponibilidades de caixa e
aplicações financeiras. Evidentemente, quanto maior se apresentar esse índice, maiores serão
os recursos mantidos pela empresa.
3
• O índice liquidez geral é definido por:
Ativo circulante +
Realizável a longo prazo
Índice de liquidez
=
geral
Passivo circulante +
Exigível a longo prazo
Segundo Assaf (2005), esse indicador financeiro retrata a saúde financeira a longo
prazo da empresa. Da mesma forma que o observado nos demais indicadores de liquidez, a
importância desse índice para a análise da folga financeira pode ser prejudicada se os prazos
dos ativos e passivos, considerados em seu cálculo, forem muito diferentes.
Matarazzo (1998) afirma que este índice é estritamente financeiro, e quanto maior a
relação Exigível Total/Patrimônio Líquido menor a liberdade de decisões financeiras da
empresa ou maior dependência a esses Terceiros.
• Relação capital de terceiros/passivo total (endividamento geral)
Relação capital de Exigível total
terceiros =
/ passivo total Passivo total
Este índice mede a porcentagem dos recursos totais da empresa que se encontra
financiada por capital de terceiros.
• Índice de endividamento geral
Índice de Exigível total
endividamento =
geral Ativo total
4
• Índice exigível em longo prazo - patrimônio líquido
Segundo Gitman (2004) esse índice representa a relação entre os recursos de longo
prazo fornecidos por credores e os recursos fornecidos pelos proprietários da empresa, sendo
comumente usado para medir o grau de alavancagem financeira da empresa. Este índice é
representado da seguinte forma.
Índice exigível a Exigível a longo prazo
longo prazo- =
patrimônio líquido Patrimônio líquido
• Margem operacional
O índice mede o que se denomina: lucros puro, obtidos em cada unidade monetária de
venda. O lucro operacional é calculado com base nas operações da empresa, ou seja, os lucros
auferidos pela empresa em suas operações.
Lucro operacional
Margem
=
operacional
vendas
• Margem líquida
A margem líquida representa o percentual das vendas após a dedução de todas as
despesas, inclusive os impostos.
Lucro líquido
Margem líquida =
vendas
5
• Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE)
Este índice representa o retorno obtido pelos recursos aplicados por seus proprietários
(recursos próprios), ou seja, mede o retorno em relação ao patrimônio líquido da empresa.
Taxa de retorno Lucro líquido
sobre patrimônio =
líquido (ROE) Patrimônio líquido
6
juros na apuração do imposto de renda a pagar favorece a dívida em relação ao capital
próprio. Desta forma, mediante o uso da alavancagem financeira favorável, ou benéfico fiscal
oriundo das deduções das despesas com juros e encargos financeiros é possível elevar-se o
valor da empresa. (ASSAF, 2005).
4. Metodologia
Para a avaliação dos índices econômicos e financeiros, assim como estrutura de capital
das empresas, foi realizada uma análise dos dados patrimoniais da CEG e BAHIAGÁS, sendo
os mesmos extraídos da página das empresas na internet, compreendendo os exercícios findos
de 2006, 2007 e 2008. Utilizou-se também a teorias de Modigliani e Miller para análise da
estrutura de capital das empresas. Cabe ressaltar que no período da pesquisa ainda não havia
sido disponibilizada as informações referentes ao exercício de 2009 da CEG.
150.000
100.000
mil R$
50.000
-
2006 2007 2008
7
Em contrapartida, na figura 3 verifica-se que a empresa não consegue gerar caixa suficiente
para realizar todos os seus investimentos.
250.000
200.000
150.000
mil R$
100.000
50.000
-
2006 2007 2008
0,39 0,28
0,99
0,50 2,59 0,72
3,10
D ividas Capit ais Endiv idamento geral C o bertura de juro s Dividas Capitais Endividamento geral
C.P razo / Endivid.T o tal T erc ./C ap.P ró prio
C.Prazo/Endivid.Total Terc./Cap.Próprio
8
Quociente de Rentabilidade BAHIAGÁS (% ) 2006 2007 2008
M a rg e m M a rge m Lí q. ROI R OA R OE G ra u Im o b. A la v a n c a ge m
O p e r. Lí q . P L f ina nc e ira
13,59
6,49 25,61 260,46 66
6,88 24,69
20,15
282,24 61
9,19 27,27
7,42 26,62
22,02 311,37 59
6,46 26,28
4,73 18,46
M a r ge m M a r ge m Lí q . R OI R OA R OE G ra u Im o b. A la v a nc a ge m
O p e r . Lí q . P L f ina nc e ira
Quociente de Retorno BAHIAGÁS (% ) 2006 2007 2008 Quociente de Retorno CEG (% ) 2006 2007 2008
9
Na figura 7, destaca-se a política de dividendos da BAHIAGÁS, que distribuiu 100%
do lucro líquido ajustado nos três anos de análise. Cabe ressaltar que pela nova lei das S/A,
todo lucro deve ser destinado, e por conseguinte a empresa possui uma geração de caixa
acima da sua política de dividendos e investimentos, não justificando reter parte do lucro. A
CEG por encontrar-se com um considerável grau de endividamento mescla seus investimentos
com uma política de retenção de investimentos. Entretando a mesma investiu nos três anos
mais de R$ 500 milhões de reais em expansão de suas atividades.
Através da análise das informações econômicas e financeiras apresentadas
concomitamente com as projeções que se encontram abaixo, dado o custo de capital de cada
empresa, verifica-se se as empresas estão maximizando a riqueza de seus acionistas. Para
tanto as seguintes premissas foram adotadas:
Premissas CEG.
• Custo médio de financiamento de 2007 e 2008 baseado nas notas explicativas: 104,7%
do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), equivalente a uma taxa anual de 12%.
• Custo do capital próprio de 12% a.a., fixado até o resultado da revisão tarifária
iniciada em fev/08, de acordo com contrato de concessão.
Premissas BAHIAGÁS.
• Custo médio de captação de 12% a.a, junto ao BNDES, para empréstimos no setor de
Transporte e distribuição de petróleo, gás natural e biocombustíveis de até 70%.
• Custo do capital próprio de 20% a.a., fixado em contrato de concessão.
Abaixo seguem as projeções dos custos ponderados de capital da BAHIAGÁS e CEG:
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6. Conclusões
Os resultados empíricos desse trabalho permitiram inferir que uma estrutura de capital
eficiente pode maximizar a riqueza de uma companhia, e que especificamente uma
distribuidora de gás natural, que possui característica típica de um mercado monopolista,
apresenta excelentes taxas de retorno, devendo por isso ser regulada por agências estatais.
A avaliação dos resultados econômicos financeiros, demonstrou que as companhias
estudadas apresentaram um bom desempenho operacional dentro da proposta de estrutura de
capital estabelecida.
E por último, ressalta-se que a política de capital utilizada por cada companhia
depende de sua administração e que a utilização de recursos próprios e de teceiros para
investismentos deve ser adequado à estratégia e finalidade de cada tipo de organização, seja
de capital aberto ou fechado.
Estudos e planejamento mais detalhado por parte das empresas de distribuição de gás
poderão fazer com que seus investimentos sejam melhores empregados, garantindo maiores
retornos e qualidade dos seus serviços prestados.
Sugere-se para trabalhos futuros o estudo dos demonstrativos financeiros sob impacto
da Crise Financeira Internacional, a qual se acentuou no Brasil no final de 2008 tendo baixo
reflexo nos demonstrativos utlizados nesse trabalho.
Referências
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Valor. In: ANAIS DO XV SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. São Paulo: SIMPEP, 2008. CD-
ROM.
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