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 No século XVIII surge o Estado Liberal, em contraposição ao Estado Absolutista.


Tratava-se da tomada do poder pela emergente classe dos burgueses, comerciantes e
livres empreendedores que, para que pudessem livremente exercer suas atividades e
enriquecer, precisavam de um Estado que pouco interviesse em suas atividades. Daí os
corolários lógicos da liberdade do indivíduo e do direito de propriedade, tidos como
fundamentais para as finalidades almejadas pela sociedade que ascendia ao poder.
Para o modelo liberal, a ordem econômica é produto das leis naturais, cabendo ao
homem tão-somente contribuir com sua racionalidade, interesse e motivação no
mercado de trocas de bens e serviços, para obter o máximo de benef ício.

Surgem, então, a Constituição Francesa e a Constituição Norte -Americana,


preocupadas com os direitos fundamentais do indivíduo e com a organização política
do Estado. As liberdades fundamentais têm sua importância no obstáculo que impõem
à ingerência do Estado na esfera dos indivíduos. Consequência disso é o postulado da
livre iniciativa. Dessa forma, os direitos individuais previstos nas constituições liberais
não eram apenas instrumentos de defesa do indivíduo, mas também expressão da
ordem econômica social liberal, uma garantia constitucional da nascente economia
capitalista.

Nada obstante, os direitos fundamentais de primeira geração, assim chamados,


mostraram-se insuficientes para inserir todos os membros da sociedade no sistema
capitalista, que depende, basicamente, do escoamento de seus produtos e serviços.
Isso porque, em última análise, os direitos fundamentais não davam às pessoas senão
uma igualdade meramente formal, persistindo, ainda, as desigualdades materiais,
consubstanciadas nas grandes distâncias que separavam os indivíduos, quanto às
posses materiais, educação, acesso aos serviços públicos e privados, etc.

Surge, então, no século XIX, um movimento buscando maior intervenção do


Estado na economia, como forma de reduzir as desigualdades materiais e, assim,
possibilitar a inserção de um número maior de pessoas, até então excluídas, no
sistema capitalista. Esse movimento foi de capital importância para a expansão e o
crescimento do sistema burguês-capitalista e teve lugar, sobretudo, por mais
paradoxal que pareça, nos países-berço do sistema econômico que se tornava
dominante no mundo ocidental, e que mais encareciam a liberdade individual.
Contudo, a lógica de seu aparecimento é simples: o liberalismo exacerbado não
permitia que o indivíduo pudesse ir e vir, livremente, de forma permanente, caso
estivesse à margem da sociedade. Passou a se adotar, então, o que se chama de
DIREITO DO CONSUMIDOR

modelo social-democrata, caracterizado pelos direitos fundamentais de segunda


geração.

De se notar que os direitos fundamentais de primeira geração, os direitos de


liberdade, não foram em momento algum contestados. Apenas ficou patente a
necessidade de complementá-los com direitos de natureza diversa, que, para serem
efetivados, imprescindiam de atividade do Estado, ao contrário daqueles, que
pressupunham sua abstenção. Criticava-se o individualismo político e reclamava-se a
complementação daqueles direitos, ͞para que, atualizados em função de novas
realidades, pudessem eles oferecer ao homem a proteção concreta que a norma
abstrata e semântica da Constituição nem sempre proporcionava͟ [HORTA, 2002, 217 Y
YDENSA, 2009, 2].

Passa, então, o Estado a assumir caráter assistencial, eis que os respectivos


direitos assegurados têm por objetivo eliminar as barreiras sociais, protegendo o mais
fraco, o que não poderia ser feito sem a presença dinâmica do Estado, a fim de
garantir os direitos de primeira geração.

Na esteira do movimento mundial, a Constituição Brasileira de 1934 tratou de


contemplar a ordem econômica e social com um de seus capítulos, garantindo os
princípios da justiça e da existência digna. Previa -se, também, a intervenção do Estado
na economia, a liberdade sindical e os fundamentais princípios do direito do trabalho.

A Constituição de 1937 aprofundou o tratame nto, dispondo que a economia


seria organizada em corporações, determinando que todos os ramos de produção
deveriam ser organizados em sindicatos verticais.

A Constituição atual, de 1988, de cunho eminentemente programático, inseriu


um conteúdo de diretrizes, programas e fins a serem perseguidos pelo Estado e pela
sociedade. Reservou um capítulo para a ordem econômica e financeira, no qual incluiu
vários preceitos de caráter econômico. Assim é que o art. 170 dispõe que ͞a ordem
econômica, fundada na ï       e na ï  ï , tem por
fim assegurar a todos      , conforme os ditames da     ,
observados͟ os princípios da:

I ʹ soberania nacional

II ʹ propriedade privada

III ʹ função social da propriedade

IV ʹ livre concorrência

V ʹ defesa do consumidor

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DIREITO DO CONSUMIDOR

VI ʹ defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado


conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação

VII ʹ redução das desigualdades regionais e sociais

VIII ʹ busca do pleno emprego

IX ʹ tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas


sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.

Conclui-se, pois, que a defesa do consumidor foi tornada princí pio que deve ser
seguido pelo Estado e pela sociedade, com vistas a se atingir uma existência digna e a
justiça social. Com o princípio da livre concorrência, sobressai que o Brasil adotou o
modelo de economia capitalista de produção. O primeiro funciona c omo limite e freio
aos abusos eventualmente cometidos em nome do segundo.

Corrobora o entendimento a determinação, no art. 5º, LXXIII, de o Estado


promover a defesa do consumidor, por meio da adoção de um modelo jurídico e de
uma política de consumo que p rotejam de forma eficaz o consumidor. O mandamento
constitucional se concretizou com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor,
em 11 de setembro de 1990.

Daí a inarredável conclusão de que os dispositivos citados, aliados ao princípio


da dignidade da pessoa humana, tem por finalidade última a proteção da pessoa
humana, que se sobrepõe aos interesses produtivos e patrimoniais.

No que tange à competência para legislar sobre o direito do consumidor, a


Constituição, a exemplo do que fez com os demais direitos de titularidade difusa,
determinou a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal
para legislar sobre produção e consumo (art. 24, V), e sobre a responsabilidade civil
por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico (art. 24, VIII).

À União cabe estabelecer as normas gerais sobre tais matérias, podendo o


Estado legislar sobre assuntos específicos, de maneira complementar à generalidade
das normas nacionais editadas por aquele ente federado. Na falta da legislação da
União, pode o Estado legislar de forma plena sobre o assunto.

O Poder Executivo pode, também, nos termos do art. 84, da CF, expedir
decretos e regulamentos para o fiel cumprimento do CDC. Exemplo disso é o Decreto
2.181/97, que criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor ; bem como as
portarias do Ministério da Justiça que complementam o rol de cláusulas abusivas do
art. 51, do CDC (Port. 3/01; 5/02; 24/04). Também produto do poder normativo do
Poder Executivo é o Decreto 6.523/2008, que regulamentou o p Yp  °

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DIREITO DO CONSUMIDOR

 As normas do CDC são de ordem pública e de interesse social. Tratam-se, à


evidência, de normas de direito privado, uma vez que regulam as relações entre
particulares. Revestem-se, porém, de forte interesse público, daí exsurgindo seu
caráter cogente, o que impossibilita seu afastamento pela autonomia privada.

Tratando-se de relações consumeristas, a autonomia privada é mitigada, pois as


partes devem obedecer aos princípios e regras estabelecidos pela respectiva lei.
Ademais, essas regras, de índole cogente, podem ʹ e devem ʹ ser aplicadas de ofício
pelo magistrado e legitimam o Ministério Público e as Associações de Defesa do
Consumidor a requerer em juízo o fiel cumprime nto dos direitos dos consumidores. O
Juiz, portanto, tem o dever de reconhecer, independentemente de qualquer alegação
da parte, a abusividade de cláusulas inseridas em um contrato de consumo. Nada
obstante, contrariando a lógica do direito consumerista, o STJ decidiu, em outubro de
2008, no julgamento do REsp 1061530, que em ações envolvendo contratos bancários
não podem os juízes e tribunais conhecer a abusividade sem que haja pedido expresso
do consumidor. Mostra-se, assim, o Tribunal Superior sensível às fortes pressões dos
detentores de poder econômico, que ocupam um dos pólos da relação de consumo.

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As normas do CDC somente incidem sobre as relações de consumo, sem excluir


a aplicação das demais leis especiais no mesmo caso concreto.

Três elementos se apresentam na relação de consumo: o subjetivo, o objetivo e


o finalístico. O primeiro se reporta às partes envolvidas na relação jurídica (consumidor
e fornecedor); o segundo é entendido como o objeto da relação jurídica (produto ou
serviço); e o terceiro embute a idéia de que o consumidor adquire o produto ou
serviço do fornecedor como destinatário final.

É pressuposto da aplicação do CDC a presença desses três elementos. Ausente


um deles, não se caracteriza a relação de consumo e não se aplicam as regras do CDC.

Esclareça-se que a relação de consumo pode ser efetiva (transação entre


consumidor e fornecedor) ou presumida (oferta de produto, publicidade, etc).

Presentes no CDC regras de direito material, de cunho civil, penal,


administrativo, e também de direito processual, é considerado ele um microssistema
jurídico. Apresenta, ainda, todas as definições e conceituações necessárias para sua
perfeita interpretação e aplicação. Isso não quer dizer que o C DC esgote a matéria e
dispense a incidência de normas oriundas de outros diplomas, já que o socorrem as
normas do Código Civil, desde que consentâneas com as regras consumeristas.

Nos termos do CDC (art. 2º), consumidor é ͞toda pessoa física ou jurídica q ue
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final͟, a par da figura do

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DIREITO DO CONSUMIDOR

consumidor por equiparação, isto é, ͞a coletividade de pessoas, ainda que


indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo͟.

A dificuldade surge ao se interpretar a expressão ͞destinatário final͟,


componente finalístico da relação de consumo. Para identificar quem é o destinatário
final de um produto ou serviço, surgiram três teorias:

c  Y   ʹ para essa corrente, consumidor é aquele que retira
definitivamente de circulação o produto ou serviço do mercado. Aquele que adquire o
objeto da relação de consumo para suprir uma necessidade ou satisfação pessoal ou
privada, e não para o desenvolvimento de outra atividade empresarial ou profissional.
Entendem os adeptos dessa doutrina que a intenção do legislador, na outorga do CDC,
era tutelar de forma especial um determinado grupo de pessoas da sociedade mais
vulnerável. Descaracterizada estaria a relação de consumo caso o adquirente dirigisse
o produto ou serviço ao exercício de atividade econômica, civil ou empresária. Não se
diferencia a aquisição do produto ou serviço para revenda ao consumidor diretamente
da transformação ou agregação ao estabelecimento empresarial. Daí não se considerar
consumidor, para essa corrente, a pessoa que compra móveis e utensílios que
compõem o estabelecimento ou os programas de computador utilizados em um
escritório, pois tais bens ingressam na atividade econômica do adquirente, integrando
o ciclo produtivo de outros bens ou serviços. É o chamado    Y   Y  Y
  , o qual desconsidera a vulnerabilidade eventualmente presente no caso
concreto. A pessoa jurídica será tratada como consumidora se o produto ou serviço
adquirido não tiver conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por ela
desenvolvida, devendo, ainda, demonstrar -se a vulnerabilidade perante o fornecedor.

c  Y   ʹ Consumidor é aquele que utiliza ou adquire produto ou


serviço na condição de destinatário final, pouco importando o uso particular ou
profissional do bem. Não é consumidor apenas aquele que adquire o bem que
participe diretamente do processo de produção, transformação, montagem,
beneficiamento ou revenda. Interpreta-se, assim, o art. 2º, de forma bastante ampla,
de forma puramente objetiva. Destinatário final é o destinatário fático do produto,
aquele que o retira do mercado e o utiliza (fábrica de celulose que adquire automóveis
para o transporte de clientes, o advogado que compra um computador, o Estado que
adquire canetas para uso nas repartições, etc). Para essa teoria, a pessoa jurídica que
exerce atividade econômica será consumidora sempre que o bem ou serviço tiver sido
adquirido ou utilizado para destinação final, somente não o sendo quando da
aquisição de matéria-prima necessária ao desenvolvimento de sua atividade.

c  Y  Y    ʹ Desdobramento da corrente finalista. Considera


consumidor aquele que adquire o produto/serviço para uso próprio. Contudo, mesmo
que o produto tenha destinação econômic a, o adquirente, dependendo do caso, será
tido como consumidor, desde que esteja presente sua vulnerabilidade na relação. É

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DIREITO DO CONSUMIDOR

destinatário final, segundo a doutrina finalista aprofundada, o taxista que adquire um


veículo para exercer sua atividade de transporte de passageiros. Há, é verdade, a
utilização econômica do bem em questão, mas o taxista é tão vulnerável quanto
qualquer outra pessoa que adquire um veículo e, dessa forma, deve ser considerado
consumidor.

A jurisprudência, por sua vez, apresenta soluções que ora estão em sintonia
com a teoria maximalista, ora com a finalista. O STJ tende a acolher a teoria finalista
temperada (aprofundada), analisando a vulnerabilidade do consumidor:

Competência ʹ Relação de consumo ʹ utilização de


equipamento e serviços de crédito prestado por empresa
administradora de cartão de crédito ʹ destinação final inexistente.
A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural
ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua
atividade negocial, não se reputa como relação de consumo e,
sim, como uma atividade de consumo intermediária. Recurso
especial conhecido e provido para reconhecer a incompetência
absoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para
decretar a nulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para
determinar a remessa do feito para uma das Varas Cíveis da
Comarca (STJ ʹ 2ª Seção ʹ Resp 54.1867/BA)

A relação jurídica qualificada por ser de ͚consumo͛ não se


caracteriza pela presença de uma pessoa física ou jurídica em seus
pólos, mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado
(consumidor) e de um fornecedor, de outro. Mesmo nas relações
entre pessoas jurídicas, se da análise da hipótese concreta
decorrer inegável vulnerabilidade entre pessoa-jurídica
consumidora e a fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca do
equilíbrio entre as partes. Ao consagrar o critério finalista para
interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência do STJ
também reconhece a necessidade de, em situações específicas,
abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de consumidor,
para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre
fornecedores e consumidores-empresários em que fique
evidenciada a relação de consumo. Recurso Especial não
conhecido. (STJ ʹ 3ª Turma ʹ Resp 476428/SC)

Direito do consumidor. Recurso Especial. Conceito de


consumidor. Pessoa jurídica. Excepcionalidade. Não constatação
na hipótese dos autos. Foro de eleição. Exceção de

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DIREITO DO CONSUMIDOR

incompetência. Rejeição. A jurisprudência do STJ tem evoluído no


sentido de somente admitir a aplicação do CDC à pessoa jurídica
empresária excepcionalmente, quando evidenciada a sua
vulnerabilidade no caso concreto; ou por equiparação, nas
situações previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC. Mesmo nas
hipóteses de aplicação imediata do CDC, a jurisprudência do STJ
entende que deve prevalecer o foro de eleição quando verificado
o expressivo porte financeiro ou econômico da pessoa tida por
consumidora ou do contrato celebrado entre as partes. É lícita a
cláusula de eleição do foro, seja pela ausência de vulnerabilidade,
seja porque o contrato cumpre a sua função social e não ofende à
boa-fé objetiva das partes, nem tampouco dele resulte
inviabilidade ou especial dificuldade de acesso à Justiça. Recurso
especial não conhecido. (STJ, REsp 684613/SP, 3ª Turma)

Verifica-se, da leitura dos arestos colacionados, que, no primeiro, o STJ adota a


doutrina finalista, ao passo que, nos demais, acolhe a doutrina finalista temperada ou
aprofundada.

O Novo Código Civil, publicado em 2001, traz regras e princ ípios que se
aproximam daqueles estabelecidos na legislação consumerista. Há, na verdade, certa
convergência entre os diplomas, sendo que o Código Civil tratou de mitigar o princípio,
antes quase que absoluto, da autonomia privada. A outra conclusão não se chega a
partir dos novos paradigmas adotados, como a eticidade, a socialidade e a
operabilidade, em perfeita consonância com a boa-fé e o interesse social do Código de
Defesa do Consumidor.

Correto, portanto, que a legislação consumerista se aplique àque les que, numa
relação jurídica dada, se mostrem mais vulneráveis, necessitados de proteção especial
do Estado justamente por se encontrarem em posição de desigualdade perante o
fornecedor.

Outrossim, consumidor não é apenas aquele que participa de forma direta da


relação de consumo. Existem as pessoas equiparadas a consumidor pela própria Lei:

- p    Y  Y    ʹ Art. 2º, parágrafo único, e art. 29, ambos do CDC.


Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas que haja intervindo nas relações
de consumo, como por exemplo todas as pessoas que ficaram expostas à publicidade
enganosa ou abusiva veiculada por um fornecedor. Não é necessário que essas
pessoas tenham adquirido o produto ou o serviço fornecido ou que sofra danos
efetivos para que se aplique, ao caso, o CDC.

-
 Y  Y   Y  Y   ʹ Equiparam-se ao consumidor todas as
vítimas de um evento que dê ensejo à responsabilidade civil pelo fato do produto ou
do serviço (art. 17). O sujeito que não fez parte do negócio jurídico entre c onsumidor e

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DIREITO DO CONSUMIDOR

fornecedor, mas que foi vitimado por um acidente de consumo, oriundo desse negócio
jurídico, é equiparado a consumidor e dispõe de todas as prerrogativas concedidas
pelo CDC.

O segundo elemento subjetivo da relação de consumo é o fornecedor,


conceituado no art. 3º, do CDC: toda pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira,
de direito público ou privado, que atua na cadeia produtiva, exercendo atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Fornecedor é aquele que desenvolve atividade tipicamente profissional,


mediante remuneração, excluídos da relação de consumo os que tenham colocado o
produto ou serviço no mercado de consumo sem o caráter profissional.

Requisito fundamental do conceito é a habitualidade, o exercício contínuo de


determinado serviço ou fornecimento de produto.

Desta feita, a empresa que tem por objeto social a prestação de serviços de
corretoria, por exemplo, se vender um de seus automóveis, não será considerada
fornecedor, nessa transação, por lhe faltar o requisito da habitualidade na venda de
automóveis.

As sociedades civis sem fins lucrativos, de caráter beneficente ou filantrópico,


podem ser consideradas fornecedoras quando, por exemplo, prestam serviços
médicos, hospitalares, odontológicos e jurídicos a seus associados. Para tal, basta que
desempenhe certa atividade no mercado de consumo mediante remuneração.

Por outro lado, as sociedades cooperativas caracterizam-se, principalmente,


pela mutualidade e presença do próprio cooperado nas decisões cooperativas. Não
são, portanto, fornecedoras. Desde, é claro, que o cooperado participe efetivamente
da cooperativa e que todos os requisitos necessários para a configuração desse tipo de
sociedade estejam presentes. Casos há de cooperativas de fachada, que assumem esse
formato para se furtarem das obrigações estabelecidas no CDC.

O Poder Público também pode ser fornecedor de serviço quando, por si ou por
seus concessionários, atua no mercado de consumo, prestando serviço mediante a
cobrança de preço. Como, por exemplo, no fornecimento de água e esgoto,
eletricidade, etc. Os concessionários de serviços públicos, vinculados ao Estado por
meio de contratos administrativos, também são fornecedores perante os usuários
desses serviços, sujeitando-se às normas do CDC.

Entretanto, não há relação de consumo nas relações tributárias. O tributo


implica uma prestação pecuniária compulsória, podendo ser ou não vinculada. Ao
revés, a relação de consumo, para se aperfeiçoar, depende de manifestação de

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DIREITO DO CONSUMIDOR

vontade do consumidor em adquirir o serviço prestado pelo Estado ou seus


concessionários. Assim, não se aplicam as normas do CDC aos impostos, taxas,
contribuições de melhoria, etc. Já as tarifas, devidas pela prestação de serviços
públicos, ou os preços públicos, não são tributos.

Os impostos escapam da incidência do CDC, pois têm como nota característica


a desvinculação a qualquer atividade estatal específica em benefício do contribuinte.
Ao embolsar o imposto, não se obriga o Estado a uma contraprestação, pelo que não
se vincula, nesse caso, a qualquer relação de consumo com o contribuinte.

As contribuições de melhoria são devidas ao Estado quando este realiza obra ʹ


fundamentada no interesse público ʹ que termina por valorizar o imóvel do
contribuinte.

As taxas constituem obrigação Y , e só podem ser exigidas dos particulares


mediante o exercício do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de
serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou colocados a sua
disposição. Ambas ʹ taxa de polícia e taxa de serviços ʹ pressupõem uma atuação
concreta do Estado.

Por derradeiro, os preços públicos ou tarifas são contraprestação devida pe los


administrados ao Estado, em razão de serviços por este prestados. Dependem de um
contrato, em que há a manifestação da vontade.

Entes despersonalizados, igualmente, podem ser fornecedores de produtos ou


serviços. A massa falida, o espólio de comerciante individual e as pessoas jurídicas de
fato podem realizar negócios jurídicos que se enquadram no conceito de relação de
consumo.

O elemento objetivo da relação de consumo é o produto ou o serviço.

Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, materia l ou imaterial, suscetível de


apropriação e que tenha valor econômico, destinado a satisfazer uma necessidade do
consumidor.

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
exceto as decorrentes de caráter trabalhista.

Muito se discutiu a submissão dos contratos bancários à disciplina do CDC, até


que o STJ emitiu o enunciado 297, de sua súmula: o CDC é aplicável às instituições
financeiras. É bem verdade que a Lei 4.595/64 (que regulamenta as instituições
financeiras) não foi revogada pelo CDC, mas este último prevalece quanto às relações
com os consumidores.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

No que se refere às entidades de previdência privada, o STJ editou o enunciado


321: o CDC é aplicável à relação jurídica entre entidade de previdência privada e seus
participantes.

Todavia, relativamente aos contratos de locação de imóveis, não se aplicam as


regras do CDC, pois há norma específica que regulamenta a relação locatícia (Lei
8.425/91), a par de não se caracterizarem o consumidor e o fornecedor.

Por último, o termo remuneração deve ser entendido de forma ampla,


podendo se dar de maneira direta ou indireta pelo consumidor. Pode acontecer de o
produto ser fornecido gratuitamente ao consum idor, com o respectivo custo embutido
em outros pagamentos por este efetuados. É o que ocorre com os estacionamentos de
supermercados, aquisição de rádio para o automóvel com instalação gratuita, etc.

 "!     #  

Os objetivos da Política Nacional de Relações de Consumo se encontram no art.


4º, do CDC:

- atendimento das necessidades dos consumidores;

- respeito à dignidade, saúde e segurança dos consumidores;

- proteção dos interesses econômicos dos consumidores;

- melhoria da qualidade de vida dos consumidores; e

- transparência e harmonia das relações de consumo.

Para atingir esses objetivos, foram estabelecidos os seguintes princípios:

- reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor;

- ação governamental para proteção do consumidor;

- harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo;

- educação e informação dos consumidores;

- controle de qualidade e segurança dos produtos e serviços;

- coibição e repressão das práticas abusivas;

- racionalização e melhoria dos serviços públicos;

- estudo das constantes modificações do mercado de consumo.

     Y Y    Y Y   ʹ aí reside a razão de ser do


CDC. Tende a existir, nas relações de consumo, desequilíbrio entre seus participantes,

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DIREITO DO CONSUMIDOR

em desfavor, como sói acontecer, do consumidor. Este é a parte mais fraca da relação
e deve ser protegido. Sua vulnerabilidade é presumida de forma absoluta pela lei, não
podendo essa presunção ser elidida por prova em contrário.

A doutrina aponta três es pécies de vulnerabilidade:

1 ʹ Técnica: o consumidor não dispõe de conhecimentos específicos sobre o


objeto que adquire, seja no que se refere às características do produto ou no que
tange a sua utilidade;

2 ʹ Jurídica: o consumidor não tem conhecimentos j urídicos, de contabilidade


ou de economia para esclarecimento do contrato que assina, ou se os juros estão em
consonância com o combinado;

3 ʹ Fática (ou socioeconômica): baseia-se no reconhecimento de que o


consumidor é o elo fraco da corrente, encontrando-se o fornecedor em posição de
supremacia, sendo o detentor do poder econômico.

Note-se que a qualificação técnica ou jurídica do consumidor não lhe retira a


vulnerabilidade, que se mantém, pelo menos, em seu aspecto fático. Isto é, os
consumidores com conhecimento técnico acerca do produto, ou com conhecimento
jurídico sobre o contrato que assinam continuam vulneráveis aos apelos do mercado
de consumo.

Outra característica do consumidor é sua hipossuficiência, que não se confunde


com a vulnerabilidade. A hipossuficiência pode ser econômica (o consumidor
apresenta dificuldades financeiras das quais pode se aproveitar o fornecedor) ou
processual (o consumidor tem dificuldade em produzir prova em juízo). A
hipossuficiência é constatada no caso concreto. Não é , pois, presumida pelo CDC.

=  Y     Y  Y   Y Y   ʹ esta pode se dar por três


maneiras: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de
associações representativas; e c) pela garantia dos produtos e serviços com padrões
adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho (art. 4º, II, CDC).

A atuação estatal obedece aos ditames do art. 170, da Constituição Federal


(respeito à livre iniciativa e à garantia de existência digna).

Na prática, atua o Estado por meio da Secretaria de Direito Econômico (SDE),


dos PROCONs, do Ministério Público, além da concessão de incentivos para a criação
de entidades civis de defesa do consumidor, como o IDEC e a ADECON. Mencione -se,
também, o SINMETRO (Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial), composto pelo INMETRO e pelo Conselho Nacional de Metrologia
(CONMETRO).

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Ë    Y  Y    Y  Y    Y  Y    Y  Y   ʹ a


proteção do consumidor deve ser compatibilizada com a ne cessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, para que se viabilizem os princípios
norteadores da ordem econômica (art. 170, CF). Assim, não pode a proteção ao
consumidor funcionar como obstáculo ao desenvolvimento econômico e tecnológico,
da mesma forma que este não pode servir de pretexto para deixar aquele
desamparado nas relações de consumo.

O princípio da boa-fé impõe às partes o dever de manter o mínimo de


confiança e lealdade antes, durante e após o cumprimento da obrigação. Devem elas
se comportar de forma coerente com a vontade manifestada, evitando-se o elemento
surpresa.

Na concretização desse princípio, José Geraldo Brito Filomeno aponta três


instrumentos que devem ser utilizados: o    de defesa do consumidor
(serviços de atendimento ao consumidor), a convenção coletiva de consumo (pactos
entre entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores) e as práticas
de    (convocação dos consumidores para o reparo de algum vício ou defeito
apresentado pelo produto ou ser viço adquirido) [FILOMENO  DENSA, 2008, 27].

  Y Y
   Y  Y p   Y Y Fundamentais para que o
consumidor possa formar a vontade a ser manifestada, por ocasião da aquisição de
produtos ou serviços. Incumbe o dever de informar e educar ao Estado, aos
fornecedores de produtos e serviços e às entidades privadas de defesa e proteção do
consumidor.

p   Y Y    Y Y   Y Y  Y Y   ʹ O fornecedor deve


disponibilizar meios eficientes de controle de qualidade e segurança dos produtos
fornecidos, bem como mecanismos alternativos de solução dos conflitos de consumo.

p   Y Y   Y Y Y   ʹ Vedada a concorrência desleal e a


utilização indevida de inventos e criações industriais, que possam causar prejuízo s aos
consumidores.

     Y Y   Y Y  Y   ʹ os serviços públicos essenciais


(água, luz elétrica, telefonia, gás, etc) devem ser disponibilizados a todos.

 Y  Y    Y    Y  Y    Y  Y   ʹ o mercado


apresenta oscilações e pode ser impactado pela introdução de novos produtos e
serviços, sobre os quais ainda não haja regulamentação. Exemplo: venda de produtos e
serviços por meio da   .

Deve ter o consumidor acesso à orientação jurídica, que pode ser gratuita (Lei
1.060/50).

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Outro instrumento da Política Nacional de Relações de Consumo são as


promotorias especializadas na defesa do consumidor. A atuação do Ministério Público
é essencial para o efetivo cumprimento dos direitos estampados no CDC. Cabe-lhe,
entre outras tarefas, a de promover a defesa do consumidor em juízo, quando se tratar
de direitos difusos e coletivos, bem como dos individuais homogêneos.

Ademais, devem ser criadas delegacias de polícia especializadas nos


atendimentos dos consumidores vítimas de infrações penais de consumo.

Por fim, a criação de Juizados Especiais e Varas Especializadas no julgamento de


causas relativas às relações de consumo é também valioso instrumento de efetivação
da proteção ao consumidor. Ademais, a especialização de órgãos do Judiciário nesse
sentido se coaduna com o microssistema jurídico que é o CDC.

$ c %&  

Art. 6º, do CDC:

_   Y Y Y  Y Y   ʹ direito indisponível já assegurado no art.


5º, da CF. Dele decorre que os produtos e serviços colocados à disposição do
consumidor não podem colocar em risco sua vida, saúde e segurança.

  Y Y
   ʹ Reconhecido princípio norteador da Política Nacional
de Relações de Consumo, sem o qual não pode o consumidor exercer de forma plena
seu direito de escolha. Imprescindível para que se harmonizem as relações de
consumo.

_   Y   Y   Y    Y Y  Y Y  Y    Y


    ʹ As práticas comerciais são tratadas no Capítulo V, do CDC. Publicidade é
qualquer meio de difusão e informação. Enganosa é a publicidade que induz o
consumidor em erro, enquanto que abusiva é aquela que explora o preconceito, a
discriminação e a superstição. As cláusulas abusivas são uma externalidade da
massificação dos contratos, presentes sobretudo nos de adesão.

   Y Y   Y  Y p Y p    ʹ é direito do consumidor


obter a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas. Relativização do princípio do   Y Y    ,
permitindo a alteração do contrato caso a cláusula em questão se mostre injusta. Esta
é aquela que faz desaparecer o sinalagma (proporcionalidade de prestações). A
anulação da cláusula injusta não implica a anulação do contrato. Foi introduzida, no
CDC, a teoria da imprevisão, pela qual o consumidor tem direito de requerer a revisão
contratual em razão da superveniência de fato novo, a fim de adequar o contrato à
nova realidade. Na realidade, para obter a revisão contratual, o consumidor sequer

13
DIREITO DO CONSUMIDOR

precisa provar que o fato novo não ingressou em sua esfera de previsibilidade,
bastando demonstrar de forma objetiva a excessiva onerosidade para si. Tampouco se
faz necessária a prova de enriquecimento ilícito do fornecedor. Contudo, nos termos
do Código Civil, a revisão contratual exige a ocorrência de eventos extraordinários e
imprevisíveis, os quais devem ser demonstrados.

_    Y Y     Y  Y   Y  Y Y    Y Y o fornecedor deve


cuidar para que seus produtos ou serviços não coloquem em risco a vida, a saúde e a
segurança dos consumidores, para que se previnam danos a estes últimos. Caso
ocorram os danos, entretanto, é dever do fornecedor providenciar sua reparação
integral, não havendo que se falar em indenização tarifada. São consideradas nulas,
portanto, as cláusulas contratuais que limitam o valor da indenização por dano sofrido
pelo consumidor. Quanto à natureza, o dano pode ser ma terial e/ou moral, sendo eles
acumuláveis (STJ, 37). Os danos aos direitos coletivos e difusos podem ser reparados e
prevenidos por atuação do Ministério Público, das Associações de Defesa do
Consumidor, das entidades e órgãos da Administração Pública da União, dos Estados,
do DF e Municípios.

   Y  Y    Y  Y  Y    ʹ Dada a vulnerabilidade presumida do


consumidor, o juiz tem o poder de decretar, a seu critério, a inversão do ônus da
prova, se presente a verossimilhança das alegações do consumidor ou se atestada a
hipossuficiência. Isso porque, em muitos casos, o consumidor teria grande dificuldade
em fazer prova de seu direito, pois não dispõe de controle sobre os meios de
produção. Entretanto, a inversão do ônus da prova não é automática, devendo ser
examinada caso a caso. Verossimilhança das alegações é a plausibilidade das
alegações, que aparentam ser a expressão real da verdade. Ademais, a prova cujo ônus
se transfere ao consumidor deve ser passível de ser produzida. Não se inverte o ônus
de prova impossível de ser produzida. Quanto ao momento da inversão, alguns
doutrinadores sustentam que deve ocorrer no momento do julgamento, enquanto que
outros defendem sua decretação até a fase saneadora do processo.

=   Y Y  Y   Y Y  Y  Y YO serviço público, prestado


diretamente pelo Poder Público ou por seu permissionário ou concessionário, deve
satisfazer às condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança e
modicidade das tarifas (Lei 8.987/95, que regula o regime de concessão e permissão da
prestação de serviços públicos). São direitos dos usuários dos serviços públicos:

- receber serviço adequado

- receber do poder concedente e da concessionária informações para a defesa


de interesses individuais ou coletiv os

- obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha, observadas as normas do


poder concedente

14
DIREITO DO CONSUMIDOR

- levar ao conhecimento do Poder Público e da concessionária as


irregularidades que tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado

- comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela


concessionária na prestação de serviços

- contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através
dos quais lhes são prestados os serviços.

No que pertine à interrupção do fornecimento do serviço público por


inadimplemento do consumidor, a jurisprudência majoritária entende que, caso o
consumidor deixe de efetuar o pagamento das faturas mensais pelo fornecimento, o
Poder Público ou as empresas que prestam o serviço público podem efetuar o corte do
fornecimento, sem que isso acarrete direito de indenização para o consumidor. Nada
obstante, o consumidor deve ser informado sobre o inadimplemento, bem como sobre
a interrupção dos serviços, sob pena de se configurar a responsabilidade do
fornecedor.

De se mencionar, ainda, o Decreto 6.523/2008, que estabelece regras para o


Serviço de Atendimento aos Consumidores (SAC). Seus destinatários são os
fornecedores de serviços regulados pelo Poder Público Federal, por meio das agências
(Anatel, Aneel, Ancine, ANS) ou autarquias (Susep, Banco Central, CVM). Incluem -se,
portanto, os serviços de telefonia e os serviços bancários.

As principais regras do Decreto são:

- as ligações para os SACs devem ser gratuitas e o atendimento das solicitações


e demandas não pode resultar em qualquer ônus para o consumidor;

- o serviço deve garantir ao consumidor, logo no primeiro   eletrônico, as


opções de contato com o atendente, de reclamação e de cancelamento de contratos e
serviços;

- a opção de contatar o atendimento pessoal constará de todas as subdivisões


do   eletrônico;

- o fornecedor não pode finalizar a chamada realizada pelo consumidor, antes


da conclusão do atendimento;

- o acesso inicial ao atendente não será condicionado ao prévio fornecimento


de dados pelo consumidor;

- o serviço deve ficar disponível, de forma ininterrupta, durante vinte e quatro


horas por dia e sete dias por semana;

15
DIREITO DO CONSUMIDOR

- o acesso das pessoas com deficiência auditiva ou de fala será garantido pelo
SAC, em caráter preferencial, facultado à empresa atribuir número telefônico
específico para esse fim;

- o número de telefone do serviço de atendimento deve constar de forma clara


e objetiva em todos os documentos e materiais impressos entregues ao consumidor
no momento da contratação do serviço e durante o seu fornecimento, bem como na
página eletrônica da empresa na   .

Ademais, as chamadas recebidas devem ser guardadas e armazenadas pelo


fornecedor, por, no mínimo, noventa dias, facultando -se ao consumidor o acesso a
elas. O registro eletrônico do atendimento deve ser mantido á disposição do
consumidor e do órgão ou entidade fiscalizadora por, pelo menos, dois anos após a
solução da demanda.

O consumidor pode solicitar acesso ao conteúdo do histórico de suas


demandas, no que deve ser atendido em até setenta e duas horas, por
correspondência ou por meio eletrônico, a sua escolha.

O pedido de cancelamento do serviço deve ser processado imediatamente pelo


atendente. Além disso, pode o consumidor cancelar o serviço por todos os meios
disponíveis para a contratação do serviço. O cancelamento produzirá efeitos imediatos
após o seu pedido.

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Os produtos e serviços colocados no mercado não podem acarretar riscos à


saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis
em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer
hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º, CDC).

Como se vê, a lei não exige que o produto seja absolutamente seguro, mas, sim,
que seja minimamente seguro. Os produtos que trazem um risco intrínseco não são
considerados defeituosos, mas sua periculosidade deve ser previsível ao consumidor.

Produtos naturalmente perigosos, como os inseticidas, agrotóxicos, remédios,


fogos de artifício, etc, podem ser comercializados desde que o fornecedor informe o
consumidor dos riscos ou perigos a ele inerentes, além de cumprir as normas técnicas
de segurança e de armazenagem.

O produto deve, ainda, vir acompanhado ou ter estampado, em si, informações


sobre sua correta utilização.

Há, é verdade, produtos cujos riscos só vêm a ser conhecidos posteriormente a


sua colocação no mercado de consumo. Nesse caso, o fornecedor é obrigado a

16
DIREITO DO CONSUMIDOR

comunicar pela imprensa aos consumidores e ao Poder Público sobre o ocorrido. Se for
o caso, o fornecedor deve providenciar a retirada do produto do mercado, para que
maiores prejuízos não ocorram, além de ressarcir as perdas e danos pelos prejuízos já
causados. Aliás, o próprio Poder Público exerce fiscalização e tem o poder de retirar do
mercado o produto que se tornar ou revelar nocivo ou perigoso.

Produtos ou serviços que apresentem alto grau de periculosidade não podem


ser colocados no mercado. Esses conceitos são bastante abertos, possibilitando o
exame pelo juiz, no caso concreto.

A periculosidade pode ser:

- latente ou inerente: o produto já traz consigo uma periculosidade que lhe é


própria, a qual deve ser informada e prevista pelo consumidor;

- adquirida: quando o produto apresenta um defeito de fabricação que põe em


risco a incolumidade física do consumidor. É periculosidade sempre imprevista por
este;

- exagerada: produto que, mesmo tomando o fornecedor todos os cuidados e


precauções no que se refere ao dever de informar os consumidores, os riscos
apresentados não são diminuídos. Tais produtos não podem ser inseridos no mercado
de consumo.

O fornecedor tem o dever de indenizar o consumidor pelos danos por este


sofridos quando ocasionados por produto ou serviço que apresente periculosidade
exagerada, pois não poderia tê-lo colocado no mercado. O dever de indenizar também
decorre do dano advindo de periculosidade adquirida, uma vez que ao consumidor não
era previsível o risco consubstanciado em dano. Adota-se, aqui, a teoria do risco do
negócio.

Por fim, caso o dano decorre da utilização indevida do produto ou serviço, a


despeito de o fornecedor ter corretamente informado o consumidor, aquele não será
responsabilizado.

$     ï

 È a obrigação que uma pessoa tem de reparar o prejuízo causado a outra, por
fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam. É uma espécie de
obrigação. Obrigação é um dever jurídico originário, enquanto que a responsabilidade
é dever jurídico sucessivo, conseqüente violação do primeiro. Com a violação de um
dever jurídico originário nasce o dever jurídico sucessivo de indenizar o prejuízo.

Dispõe o Código Civil, no art. 927, que ͞aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo͟. Ato ilícito é o praticado por

17
DIREITO DO CONSUMIDOR

pessoa que, ͞por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direito
e causa dano a outrem͟ (art. 186).

Portanto, para que surja o dever de reparar, é necessário o concurso de três


elementos: a) a ação ou omissão voluntária, b) o dano, e c) o nexo causal entre o
primeiro e o segundo. Essa a regra geral insculpida no Código Civil.

Há, entretanto, casos em que o dever de reparar se aperfeiçoa


independentemente da culpa (em sentido lato, isto é, dolo ou culpa) do agente.
Segundo o parágrafo único do art. 927 , ͞haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem͟.

Fala-se, assim, em responsabilidade civil subjetiva (que depende da culpa) e


responsabilidade civil objetiva (sem culpa). Esta última emerge com apenas o nexo
causal entre a ação/omissão e o resultado.

Nas relações de consumo, podem surgir grandes dificuldades em se provar a


culpa do fornecedor, por um acidente de consumo. Daí o legislador ter adotado, nessa
seara, a regra da responsabilidade civil objetiva para a reparação dos danos
provocados aos consumidores. Esta é tratada nos arts. 12 a 25, do CDC, e se subdivide
em responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (art. 12 a 17) e responsabilidade
por vício do produto ou serviço (art. 18 a 21).

Embora parte da doutrina negue a existência de diferença entre 


 e    ,
é possível distingui-los, sendo 
 o conjunto de características de qualidade ou
quantidade que tornem os serviços ou produtos impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam e também que lhes diminuam o valor. Também
constituem vício os decorrentes da disparidade havida em relação às indicações
constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem publicitária.
Perceba-se que o vício não atinge a incolumidade física do consumidor, ficando
adstrito ao produto ou serviço.

Por outro lado, o defeito do produto pode, sim, causar dano à saúde do
consumidor. O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa
extrínseca ao produto, que causa um dano maior que simplesmente o mau
funcionamento, o não-funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor pago. O
defeito vai além do produto ou do serviço para atingir o consumidor em seu
patrimônio jurídico, seja moral e/ou material. Daí se falar em acidente de consumo
somente quando o produto ou serviço apresentar um defeito. O defeito pressupõe um
vício, mas um vício não redunda, necess ariamente, em um defeito.

18
DIREITO DO CONSUMIDOR

O CDC garante a efetiva reparação dos danos sofridos pelo consumidor em um


acidente de consumo. Os danos podem ser patrimoniais e morais, individuais, coletivos
ou difusos. A reparação deve ser, como já foi dito, efetiva, proibid a a indenização com
valor preestabelecido. O art. 25 proíbe a inserção de cláusulas contratuais que
impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de indenizar. O dano moral se
aperfeiçoa com o abalo da honra, a dor íntima, o sofrimento, a humilhação. Tên ue a
linha que separa as hipóteses configuradoras do dano moral do mero dissabor que faz
parte da vida, o qual não dá direito a indenização.

O art. 25, §1º, do CDC, arrola uma hipótese de solidariedade entre os


fornecedores: ͞havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação͟. Trata-se de hipótese de solidariedade
legal. O §2º complementa que ͞sendo o dano causado por componente ou peça
incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fa bricante,
construtor ou importador e o que realizou a incorporação͟. Note -se que o comerciante
não se encontra entre os responsáveis solidários, nesse caso. Nada mais lógico do que
a lei estabelecer a solidariedade entre os diversos fornecedores, no caso de acidente
de consumo, uma vez que o que se pretende é indenizar o consumidor de forma
efetiva e integral, o que poderia não ocorrer caso a responsabilidade de indenizar
ficasse adstrita a um dos integrantes da cadeia de fornecedores.

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     Y  Y  Y Y 

Encontra-se disciplinada no art. 12, do CDC:

Art. 12. o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentem ente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento
de seus produtos, bem como por informações insufi cientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.

§1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele


legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:

I ʹ sua apresentação;

II ʹ o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III ʹ a época em que foi colocado em circulação.

19
DIREITO DO CONSUMIDOR

§2º. O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor


qualidade ter sido colocado no mercado.

§3º. O fabricante, o construtor, o produtor ou imp ortador só não será


responsabilizado quando provar:

I ʹ que não colocou o produto no mercado;

II ʹ que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III ʹ a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Os responsáveis pela indenização são elencados de forma taxativa no   do


artigo transcrito. Optou por não se valer do vocábulo     . A doutrina, aliás,
aponta três espécies de fornecedores:

- fornecedor real: o fabricante, o produtor e o construtor;

- fornecedor presumido: o impor tador de produto industrializado ou Y  ;

- fornecedor aparente: aquele que apõe sua marca ou nome no produto final.

Chama a atenção a não inclusão, entre os responsáveis solidários, do


comerciante. Este será responsabilizado nos termos do art. 13, do CDC, isto é, quando
não puder ser identificado ou não houver identificação do fornecedor (fabricante,
construtor, produtor ou importador), ou, ainda, quando não conservar o produto de
forma adequada. Ainda que se trate de responsabilidade subsidiária, no primeiro caso,
e subjetiva, no segundo, caber -lhe-á o direito de agir regressivamente contra o
fornecedor. Entretanto, na ação regressiva, terá de demonstrar a culpa do fornecedor,
uma vez que o caso não se enquadra na legislação consumerista, mas nos casos do
Código Civil.

Também responde o comerciante em razão da medição, da pesagem, ou se a


balança não estiver aferida oficialmente pelo órgão responsável.

As hipóteses de dano previstas no art. 12 permitem classificá -lo em três


diferentes tipos:

- defeito de criação ou concepção ʹ o defeito se encontra na fórmula, na


origem do produto, sendo resultado da escolha inadequada do material utilizado pelo
fornecedor ou do projeto tecnológico;

- defeito de produção ʹ decorre de falha instalada no processo produtiv o e está


presente na fabricação, montagem, construção ou acondicionamento do produto;

- defeito de informação ou comercialização ʹ decorre da maneira com que o


produto é apresentado ao consumidor, da forma que é rotulado ou anunciado. A

20
DIREITO DO CONSUMIDOR

apresentação do produto inclui todo o processo de informação ao consumidor,


incluindo instruções constantes de manuais de instrução para utilização, rótulos e
embalagem.

De se lembrar que produto defeituoso é aquele que não oferece a segurança


que dele legitimamente se espera, levando-se em conta sua apresentação, uso e riscos
que normalmente se associam ao tipo de produto e a época em que ele foi colocado
em circulação (art. 12, §1º).

Qualquer produto, por menor que seja o risco intrínseco a ele, deve vir
acompanhado de informações ao consumidor, alertando-o sobre os cuidados que se
deve tomar ao lidar com o produto. Não se proíbe a comercialização de produto cuja
utilização imponha riscos ao consumidor. Exige-se, tão somente, que este seja
advertido sobre os perigos a que se sujeita com o uso do produto. Nada obstante,
ocorrido um acidente de consumo, o fornecedor responde pelos danos causados ao
consumidor, salvo nas hipóteses de exclusão de responsabilidade.

Entre outros fatores, leva-se em conta a época em que o produto foi colocado
em circulação, para saber se ele é ou não perigoso. Isso porque, conforme a data em
que o mesmo foi disponibilizado para comercialização, há maior ou menor expectativa
relativa à segurança por ele oferecida. Não se cogita de produto de melhor qu alidade
(aludido no §2º), se o produto, ao ser colocado em circulação, apresentava defeito que
foi posteriormente corrigido. O §2º se refere ao produto que, incorporando avanços
tecnológicos, tem sua qualidade melhorada, embora não pudesse ser considerado
defeituoso à época em que foi disponibilizado para consumo.

Por outro lado, quando da colocação de um produto no mercado, pode ser que
não sejam conhecidos, ainda, todos os riscos envolvidos em sua utilização, em virtude
de impossibilidades técnicas e cien tíficas. Estes somente se tornam evidentes e
conhecidos após o emprego do produto por algum tempo. Nesse caso, fala -se em risco
de desenvolvimento, ligado a um defeito de criação ou concepção do produto.

Este se caracteriza por não ser perceptível na época em que o produto foi
lançado e somente se configura diante da impossibilidade absoluta da ciência em
perceber o defeito. Não se aperfeiçoa em razão da impossibilidade subjetiva de o
fornecedor notar o defeito.

O risco de desenvolvimento não é listado como causa excludente da


responsabilidade do fornecedor, o que abre espaço para a discussão doutrinária acerca
de sua existência. Alguns estudiosos defendem que o risco de desenvolvimento exclui
a responsabilidade, com fundamento no inciso III, do §1º, do art. 12 (época em que o
produto foi posto em circulação). Para a doutrina majoritária, os danos decorrentes do
risco de desenvolvimento são passíveis de ser indenizados pelo fornecedor, em face de
não terem sido expressamente previstos no §3º, do mesmo artigo. Cavalieri trata o

21
DIREITO DO CONSUMIDOR

risco de desenvolvimento como ͞fortuito interno͟ ʹ risco integrante da atividade do


fornecedor ʹ que não exonera sua responsabilidade. Ademais, fazer o consumidor
arcar com os riscos de desenvolvimento implicaria mitigar a proteção ͞integral͟ que o
CDC consagra ao consumidor, que tem assegurada a proteção da vida, saúde e
segurança contra os riscos trazidos pelos produtos consumidos.

A despeito de a responsabilidade do fornecedor pelos danos causados ao


consumidor ser objetiva, hipóteses há em que sua responsabilidade será excluída,
tenha ele culpa ou não na ocorrência do evento. Isso ocorre quando ficar provado que
entre o dano e a colocação do produto em circulação não existe nexo, ou quando os
danos decorrerem de exclusiva culpa do forn ecedor.

Cabe ao fornecedor demonstrar a presença de excludente de responsabilidade


civil.

A primeira hipótese consiste na prova de que o fornecedor não colocou o


produto no mercado. Aqui, é manifesta a ausência de nexo de causalidade. Não tendo
posto o produto à disposição dos consumidores, eventual dano não pode,
logicamente, ter decorrido de sua conduta. É por isso que os fornecedores que têm
suas marcas ilegalmente copiadas e inseridas em produtos falsificados não respondem
pelos prejuízos eventualmente sofridos pelos consumidores, em virtude da péssima
qualidade dos produtos adquiridos.

A segunda hipótese é a ausência de defeito no produto. Nesse ponto,


desaparece o nexo de causalidade, posto que, se o produto não tem defeito, o dano
eventualmente sofrido por um consumidor dele não adveio. O defeito é pressuposto
da responsabilidade por danos.

Por último, exclui-se a responsabilidade do fornecedor se este provar que os


prejuízos suportados pelo consumidor decorreram de sua própria e exclusiva culpa ou
de terceiro (qualquer pessoa estranha à relação de consumo). Trata-se de um
desdobramento da hipótese anterior, também eliminadora do nexo causal, pois, nesse
caso, não é possível apontar qualquer defeito no produto ou no serviço.

Há dissenso na doutrina a respeito da concorrência de culpas do fornecedor e


do consumidor como fator excludente da responsabilidade daquele. Alguns entendem
que a concorrência de culpas implica, no mínimo, redução da responsabilidade do
fornecedor, sustentando que ͞a responsabilidad e se atenua em razão da concorrência
de culpa, e os aplicadores da norma costumam condenar o agente causador do dano a
reparar pela metade do prejuízo, cabendo à vítima arcar com a outra metade͟. Esse
entendimento já foi endossado pelo STJ, no REsp 287.849 -SP. Outros defendem que a
solução mais adequada depende da análise da causa do dano e do defeito do produto
no caso concreto, devendo se verificar a causa preponderante do acidente: se esta se
imputa ao fornecedor, não há que se falar em relevância da cul pa do consumidor.

22
DIREITO DO CONSUMIDOR

Responde solidariamente ao fornecedor seu preposto e representante, pelos


danos provocados pelo defeito do produto ao consumidor, conforme o art. 34.

O Código Civil prevê, ainda, como exclusão da responsabilidade civil, o caso


fortuito e a força maior (art. 393: o devedor não responde pelos prejuízos resultantes
de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado. Par. único: o caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir). Da leitura do dispositivo,
emergem os seguintes requisitos:

- fato inevitável e superveniente;

- ausência de culpa de qualquer das partes;

- fato irresistível, alheio ao controle humano.

O caso fortuito, escreve a doutrina clássica, decorre de fato ou ato inevitável


que independe da vontade das partes; a força maior, também inevitável, decorre de
forças físicas da natureza. Não tendo elencado o caso fortuito e a força maior como
causas que exoneram a responsabilidade do fornecedor, o legislador abriu espaço para
a dúvida a esse respeito. Parcela minoritária da doutrina sustenta que não há exclusão
de responsabilidade. A maioria, entretanto, entende que ocorre a exclusão quando se
tratar de fortuito externo (sem qualque r relação com a atividade exercida pelo
fornecedor). É bem verdade que a não exclusão da responsabilidade em razão de caso
fortuito ou força maior implica a adoção da teoria do risco integral, não acolhida por
nossa legislação.

     Y  Y  Y Y 

Esta vem disciplinada no art. 14, do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação de serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

§1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor


dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:

I ʹ o modo de seu fornecimento;

II ʹ o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III ʹ a época em que foi fornecido.

23
DIREITO DO CONSUMIDOR

§2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I ʹ que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II ʹ a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de culpa.

Muito semelhante à disciplina adotada quant o aos danos provocados por


defeito do produto (fato do produto).

Note-se que a cabeça do art. 14 somente se refere ao fornecedor de serviços,


para indicar o responsável pela indenização, reportando-se, implicitamente, ao art. 3º,
do CDC, que define o     .

O fornecedor de serviços também tem o dever de oferecer segurança aos


consumidores. Os defeitos apresentados pelo serviço podem ser de concepção, de
prestação ou de comercialização. No que toca às excludentes de responsabilidade,
aquelas aplicáveis ao fato do produto também se aplicam ao fato do serviço.

Há responsabilidade civil diferenciada quanto ao profissional liberal, a teor do


§4º, do art. 14, que é subjetiva. Dessa forma, quando se tratar de dano decorrente de
fato de serviço prestado por advogados, médicos, dentistas, engenheiros, arquitetos,
etc, o consumidor deve provar, além do nexo causal e da extensão dos danos, a culpa
do profissional liberal. Isso porque esses profissionais, ao serem contratados, assumem
mera obrigação de meio, e não de resultado. Ou seja, o prestador de serviços se obriga
a envidar os meios necessários à produção de um resultado, mas não se obriga por ele.
Seu dever é o de empregar os esforços e os cuidados necessários, mas não responde
caso o resultado desejado não seja obtido. Diferentemente do que ocorre na
obrigação de resultado, que não se cumpre enquanto este não for atingido. Em
conclusão, o profissional liberal somente responde no caso de ter agido
negligentemente, ou imprudentemente ou com imperícia (ou, natura lmente, se tiver
agido com dolo), o que deve ser demonstrado pelo consumidor. Nada obstante o ônus
da prova da culpa do profissional liberal recair sobre o consumidor, aplicam-se os
demais institutos previstos no CDC, como a proibição de cláusulas abusivas ou
excessivamente onerosas, a inversão do ônus da prova, e os direitos básicos do
consumidor.

No caso do médico, profissional liberal que é, uma ressalva deve ser feita: o
profissional que realiza cirurgia plástica estética se compromete a produzir o resultado
desejado pelo paciente. O que interessa é o resultado de sua atividade.

24
DIREITO DO CONSUMIDOR

Outro ponto relativo aos médicos diz respeito à prova de sua culpa, nos casos
de responsabilidade subjetiva, as quais dependem de laudos periciais nem sempre
conclusivos. Costuma-se, em casos tais, comparar-se uma situação fática a uma
cirurgia e a situação que lhe é posterior.

Por último, assinala-se que a responsabilidade do hospital ou da clínica médica


se apura na forma do art. 14,  . Indenização por danos em razão de infecção
hospitalar, por exemplo, independe de prova de culpa, uma vez que não se trata de
responsabilidade do profissional liberal, mas do prestador de serviços hospitalares,
que é objetiva.

No art. 17, há a figura do consumidor por equiparação. A proteção do CDC


alcança qualquer pessoa atingida por acidente de consumo. É o chamado   ,
pessoa natural ou jurídica que, sem ter participado da relação de consumo, tem sua
saúde ou segurança atingida em razão de fato do produto ou do serviço.

$     ï$!" ï

Há vícios de produto por qualidade (art. 18) ou por quantidade (art. 19), e vício
do serviço (arts. 20 e 21).

O vício do produto pode:

- torná-lo impróprio ao consumlo;

- torná-lo sem valor;

- diminuir seu valor

Qualquer das situações frustra as expectativas do consumidor. Contudo, não o


colocam em risco.

O fornecedor que coloque produtos com vício no mercado deve ressarcir o


consumidor pelos prejuízos causados. O que independe de demonstração de culpa d o
fornecedor, já que a responsabilidade é objetiva.

O vício em questão pode ser oculto ou aparente, o que lhe dá natureza diversa
do vício redibitório tratado no Código Civil (arts. 441 a 446), que diz respeito a defeito
oculto da coisa.

A responsabilidade do fornecedor pelo vício do produto independe de garantia


expressa, já que o CDC lhe empresta garantia legal. Nula é a cláusula que exonera o
fornecedor dessa responsabilidade.

O art. 18 define o vício de qualidade do produto:

25
DIREITO DO CONSUMIDOR

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis


respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição
das partes viciadas.

§1º. Não sendo o vício sanado no prazo máxi mo de trinta dias, pode o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I ʹ a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas


condições de uso;

II ʹ a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos;

III ʹ o abatimento proporcional do preço.

§2º. Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto


no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

§3º. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do §1º deste
artigo, sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas
puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir -lhe o valor ou
se tratar de produto essencial.

§4º. Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do §1º deste


artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por
outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III
do §1º deste artigo.

§5º. No caso de fornecimento de produtos Y  , será responsável perante


o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu
produtor.

§6º. São impróprios ao uso e consumo:

I ʹ os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II ʹ os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados,


corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em

26
DIREITO DO CONSUMIDOR

desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou


apresentação;

III ʹ os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim a


que se destinam.

Primeiramente, o vício de qualidade pode ser aparente ou oculto. O primeiro é


o de fácil constatação; o segundo, somente ingressa na esfera de conhecimento do
consumidor quando este passar a efetivamente utilizar o produto. Frise-se que a
simples existência de vício no produto não impede sua comercialização. Contudo, o
consumidor deve ser adequadamente informado a seu respeito e o preço deve ser
proporcionalmente abatido. Os produtos impróprios (em desacordo com as normas
técnicas), a par de apresentarem vício, podem ser considerados defeituosos, na
hipótese de poder causar dano à incolumidade física do consumidor, disciplina regrada
pelo art. 12, do CDC.

São responsáveis todos os fornecedores coobrigados. Trata-se de


responsabilidade solidária, por força da lei. Todos os partícipes da cadeia produtiva são
responsáveis pelo vício do produto. O consumidor pode escolher qualquer um deles
para figurar como réu na ação de indenização, ou ajuizá-la contra todos eles.

No que se refere ao comerciante, parte da doutrina e da jurisprudência


sustenta a existência de sua responsabilidade pelos vícios do produto, em face da
solidariedade legal estampada no art. 18. Além disso, se condenado, resta-lhe agir
regressivamente contra o fabricante, que, em última análise, é o verdadeiro
responsável pela indenização.

Constatando o vício do produto, o consumidor tem o direito a vê -lo reparado


em trinta dias. Do contrário, pode optar por uma das três alternativas: substituição do
total ou parte do produto, restituição da quantia paga ou abatimento proporcional do
preço. Note-se que uma dessas três alternativas somente poderá ser exigida
transcorridos os trinta dias após de que dispõe o fornecedor para reparar o vício, após
sua comunicação pelo consumidor. Cabe ao consumidor escolher a alternativa que
melhor lhe aprouver, sem dar qualquer satisfação ao fornecedor. Na impossibilidade
de se substituir o bem viciado (primeira alternativa), pode ser avençad a a substituição
por outro de espécie, marca ou modelo diferentes, mediante a complementação ou
restituição de eventuais diferenças de preço (§4º).

Esse prazo de trinta dias independe de previsão contratual. Entretanto, podem


as partes convencionar prazo diverso, diante da dificuldade de o fornecedor obter, no
prazo estipulado pela lei, igual produto que substitua o produto imperfeito. Esse prazo
diferenciado tem de resultar de acordo entre as partes, não podendo ser imposto pelo
fornecedor.

27
DIREITO DO CONSUMIDOR

Há casos, ainda, em que, dada a gravidade e extensão do vício, a mera


substituição das partes problemáticas por outras, em boas condições, pode
comprometer a qualidade ou as características do produto, diminuir -lhe o valor ou se
se tratar de produto essencial. Nesse caso, o consumidor pode exigir a substituição
imediata do produto, ou a imediata devolução da quantia paga ou diferença de preço.
Não se faz necessário, portanto, aguardar o transcurso dos trinta dias deferidos ao
fornecedor. São vícios essenciais ͞aqueles insuscetíveis de dissociação, formados pela
mistura e confusão dos respectivos componentes͟, como, por exemplo, nos produtos
alimentícios, medicamentos, peças de vestuário, etc. Permite-se que o consumidor
exija a imediata substituição do produto por outro, u ma vez que a mera substituição
dos respectivos componentes não tem o condão de conferir ao produto igual
qualidade à que teria um em perfeitas condições.

Produtos Y   são aqueles que não se submetem a processo de


industrialização (legumes, verdura, frutas), por eles respondendo o fornecedor
imediato (ex.: o merceeiro). Sendo possível identificar o produtor, este responde pelo
dano.

Por outro lado, o vício de quantidade do produto é o assunto do art. 19:

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariament e pelos vícios de quantidade


do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu
conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor ex igir,
alternativamente e à sua escolha:

I ʹ o abatimento proporcional do preço;

II ʹ complementação do peso ou medida;

III ʹ a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo,


sem os aludidos vícios;

IV ʹ a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos.

§1º. Aplica-se a este artigo o disposto no §4º do artigo anterior.

§2º. O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a


medição e o instrumento utilizado não e stiver aferido segundo os padrões oficiais.

O vício de quantidade, depreende -se, ocorre por divergência de peso, tamanho


ou volume do produto em relação às indicações da embalagem, recipiente, rótulo ou
mensagem publicitária. O consumidor crê estar adquirindo, por exemplo, 1 kg do

28
DIREITO DO CONSUMIDOR

produto, quando, na realidade, adquire apenas 900 g. Naturalmente, deve ser


ressarcido pelo prejuízo, o que incumbe ao fornecedor.

Todavia, dependendo do produto, é natural que pequenas oscilações e


variações de tamanho, peso e volume ocorram, sem que isso importe em vício do
produto.

O comerciante, fornecedor imediato, responde na hipótese de sua balança ou


fita métrica, por exemplo, não ter sido aferida oficialmente.

Ao consumidor que adquirir produto com vício de quantidade abre m-se as


possibilidades de a) exigir o abatimento proporcional do preço; b) exigir a
complementação do peso ou medida; c) exigir a substituição do produto por outro da
mesma espécie; d) exigir seja-lhe restituída a quantia paga (acrescida de perdas e
danos); e e) exigir a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou
modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço.

Não tendo sido assinalado qualquer prazo para que o fornecedor sane os vícios
apresentados, deve fazê-lo imediatamente, cabendo ao consumidor a opção por uma
das cinco alternativas anteriores.

Dos vícios do serviço trata o art. 20, do CDC:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os


tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I ʹ a reexecução dos serviços, sem custo adicional e q uando cabível;

II ʹ a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos;

III ʹ o abatimento proporcional do preço.

§1º. A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente


capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§2º. São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que
razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas
regulamentares de prestabilidade.

Nos serviços de reparo, revisão ou manutenção, o fornecedor é obrigado a


empregar peças novas ou originais, salvo se o consumidor autorizá-lo a proceder
diferentemente (art. 21) . Aliás, a utilização, nesses serviços, de peças usadas ou não

29
DIREITO DO CONSUMIDOR

originais, sem autorização do consumidor, constitui o crime descrito no art. 70, do


CDC.

Sabendo-se que a pessoa jurídica de direito público pode integrar a relação de


consumo como fornecedora, o Estado, da mesma forma que o particular, responde
pelos serviços que presta ao consumidor, sujeitando -se a todas as determinações do
CDC. Considera-se prestado o serviço pelo Estado quando prestado por órgãos
públicos, empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público, entidades
da administração indireta, etc.

Dessa forma, ͞os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a
fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos͟
(art. 22).

Em face da obrigação de prestar de forma contínua os serviços tidos por


essenciais, estes somente poderão ser interrompidos na forma do §1º, do art. 22, do
CDC, isto é na hipótese de inadimplência das faturas mensais pelo consumidor. A
inadimplência configura motivo justo para o corte do serviço (que pode se dar,
também, por caso fortuito ou de força maior). Reforça o entendimento o disposto na
Lei 8.987/95, no art. 6º, §3º, inciso II: ͞não se caracteriza descontinuidade do serviço a
sua interrupção, em situação de emergência ou após prévio aviso, quando motivada
por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, ou, ainda, por
inadimplemento do usuário, considerado o interesse público͟. Além disso,
anteriormente ao corte por inadimplência, deve se notificar o usuário, para que este
não se surpreenda com a interrupção do serviço, sob pena de o poder público ou o
concessionário responder por perdas e danos.

Não exime o fornecedor da responsabilidade pelos vícios de qualidade ou


inadequação dos produtos ou serviços sua ignorância acerca destes ( art. 23, do CDC).

Vige, aqui, o princípio da boa-fé objetiva, que impõe às partes o dever de


manter o mínimo de confiança e de lealdade, antes, durante e após o cumprimento da
obrigação. Assim, os fornecedores devem ser atentos e cuidadosos com os produtos
que colocam no mercado de consumo, para que possam cumprir com o seu dever de
informar o consumidor, e para que possam executar a obrigação a contento.

( c   "

Fundamentadas na segurança jurídica e na necessidade de promover a


pacificação social, pela resolução dos conflitos surgidos na sociedade, por meio da
prestação jurisdicional, a decadência e a prescrição impõe o exercício de um certo
direito dentro de um determinado prazo, sob pena de seu titular não mais poder
exercê-lo.

30
DIREITO DO CONSUMIDOR

A prescrição é definida como a perda da ação atribuída a um direito, e de toda


a sua capacidade defensiva, em conseqüência do não-uso delas, durante um
determinado espaço de tempo, segundo Clóvis Bevilácqua. A prescrição não atinge o
direito em si, mas a respectiva pretensão à reparação. Para que incida a prescrição
devem concorrer: a) a existência de um direito de ação; b) o não-exercício do direito
de ação pelo titular do direito; c) ausência de fato impeditivo, suspensivo ou
interruptivo do curso prescricional . O Código Civil trata da matéria nos arts. 197 a 204.

Por outro norte, a decadência é a extinção do direito pela inércia do titular,


quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro
de determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício, segundo Venosa.
Ao contrário do que ocorre na prescrição, que fulmina o direito de ação, na decadência
perece o próprio direito , antes de se tornar efetivo, pelo não-exercício. Diversamente
do que ocorre com a prescrição, o prazo decadencial não se interrompe, nem se
suspende. Entretanto o CDC, contrariando a lógica e a disciplina civilista, elencou duas
hipóteses de suspensão do prazo decadencial.

O CDC trata dos institutos nos arts. 26 e 27.

É decadencial o prazo para reclamar por vício do serviço ou do produto. É


prescricional o prazo para reclamar pelo fato de produto ou do serviço.

São prazos de ordem pública, o que implica seu reconhecimento Y  pelo
julgador e a impossibilidade de serem alterados por vontade das par tes.

_ Y    Y Y
 Y Y  Y Y 

O consumidor decai do direito de reclamar dos vícios aparentes e de fácil


constatação em 30 dias, tratando-se do fornecimento de produtos e serviços não
duráveis; e em 90 dias, no caso de fornecimento de serviço e produtos duráveis.

A durabilidade se reporta ao tempo de consumo, que pode ser maior ou


menor. Produtos alimentares, de vestuário, serviços de dedetização, por exemplo, são
não duráveis. Eletrodomésticos, veículos, serviços de construção civil, por exemplo,
são duráveis.

Cumpre assinalar que o direito de reclamar por vícios ocultos caduca no mesmo
período. A diferença é o termo inicial para contagem: no caso de vício aparente, o
prazo decadencial é contado da data de recebimento do produto ou do término do
serviço; na hipótese de vício oculto, da data em que dele toma ciência o consumidor.

No art. 26, há duas hipóteses de suspensão do prazo decadencial:

31
DIREITO DO CONSUMIDOR

- a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o


fornecedor, contando a suspensão do prazo da data da reclamação ao fornecedor até
a resposta negativa respectiva, que deve ser transmitida de forma inequívoca;

- a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

Discute-se se a reclamação endereçada ao PROCON suspende o prazo


decadencial. Para a doutrina majoritária, sim. Tal não ocorre, entretanto, se o órgão,
de ofício, der encaminhamento à questão.

No caso do inquérito civil, trata-se de procedimento administrativo tendente a


coletar dados para o esclarecimento de fatos relacionados à possível infração contra os
direitos do consumidor. O encerramento do inquérito civil depende do ajuizamento da
ação civil pública ou da homologação do Conselho Superior do Ministério Público
sobre o arquivamento.

_ Y   Y Y  Y Y  Y Y Y 

É de cinco anos, conforme o art. 27, do CDC. Não se prevê nenhuma hipótese
de suspensão ou interrupção do referido prazo, aplicando -se as regras dos arts. 197 a
204, do CC.

Conta-se o prazo a partir do conhecimento do dano pelo consumid or, e de sua


autoria. Assim, não começa a correr o prazo se o consumidor tem ciência do dano, mas
desconhece sua autoria.

Os prazos do CC, diferenciados, somente se aplicam às relações de consumo


quando se tratar de regra específica. Por exemplo, num contrato de seguro, de apenas
um ano para que o segurado mova ação de indenização advinda de sinistro, contra a
seguradora.

Uma corrente doutrinária defende que os prazos do CDC, art. 27, somente têm
validade para as pretensões de natureza individual. Nas ações coletivas ou de natureza
difusa, não se fala em prescrição, dado o interesse social (Mancuso).

( c   "   !

A personalidade jurídica tem existência própria e distinta das pessoas naturais


que são seus membros. É capaz de assumir direitos e obrigações próprios, sem atingir
diretamente as pessoas que a formam. Em razão dessa autonomia, muitas são as
possibilidades de abusos e fraudes, já que o ente fictício, muitas vezes, tem capacidade
financeira limitada para assumir obrigações perante terceiros.

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica ( Y Y  Y  Y


   ) foi criada no   Y  e possibilita o afastamento momentâneo da
autonomia da sociedade, para que se atinja o patrimônio de seus sócios e

32
DIREITO DO CONSUMIDOR

administradores, com vistas ao cumprimento de obrigações assumidas por aquela em


face de terceiros. Não extingue a pessoa jurídica, mas apenas afasta sua autonomia, de
forma momentânea, para que o patrimônio pessoal de seus sócios responda pela
obrigação de que terceiro é credor, se houver desvio de finalidade ou confusão
patrimonial.

Rolf Serick criou a teoria subjetiva (teoria maior) da desconsideração da


personalidade jurídica, que foi trazida ao Brasil por Rubens Requião. Para ela, o critério
que se emprega para desconsiderar a personalidade jurídica é o desvio de finalidade
por meio do abuso de direito ou fraude à lei.

Para a teoria menor, ou teoria objetiva, trazida ao Brasil por Fábio Konder
Comparato, desconsidera-se a personalidade jurídica quando houver prova de sua
insolvência, independentemente de qualquer elemento subjetivo.

É ato excepcional que somente pode ser decretado pelo juiz nos casos previstos
em lei. Tampouco é necessário que os sócios da pessoa jurídica figurem no pólo
passivo da ação, bastando requerimento na petição inicial ao durante o processo, para
que à desconsideração se proceda.

O CDC, em seu art. 28, dispõe que ͞o juiz poderá desconsiderar a personalidade
jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houve r abuso de direito,
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica p rovocados por
má administração. O §2º (o primeiro foi vetado) estende a responsabilidade, de forma
subsidiária, às sociedades integrantes dos grupos societários e às sociedades
controladas. As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes do CDC (§3º). Já as sociedades coligadas somente respondem
de forma subjetiva, devendo ser demonstrada sua culpa (§ 4º). Desconsiderar-se-á,
também, a personalidade jurídica sempre que esta constituir, de alguma forma,
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (§ 5º).

Na verdade, apenas o   e o § 5º tratam da desconsideração da


personalidade jurídica, tratando os demais de hipóteses de responsabilidade solidária
e subsidiária.

Desconsiderada a personalidad e jurídica, ingressa-se no patrimônio de seu


proprietário, de seu acionista controlador e do sócio majoritário.

Os requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica (que é uma


faculdade do juiz), são:

33
DIREITO DO CONSUMIDOR

- lesão ao patrimônio do consumidor ʹ inexistindo lesão ao consumidor, não há


o que ser reparado, desaparecendo qualquer razão para que se desconsidere a
personalidade jurídica.

- patrimônio da pessoa jurídica insuficiente para indenizar ʹ ora, se a empresa


possui capacidade financeira para arcar com a devida indenização, tampouco se
justifica amealhar bens integrantes do patrimônio das pessoas naturais que compõem
a pessoa jurídica.

- prática de atos fraudulentos ou encerramento das atividades da empresa ʹ


compreendem o excesso de poder, abuso de direito, infração à lei, infração ao
contrato social, falência em razão de má gestão.

O § 5º, do art. 28 amplia as possibilidades de desconsideração da personalidade


jurídica para todos os casos em que a personalidade jurídica constituir obstáculo ao
ressarcimento dos prejuízos causados ao consumidor. Para muitos doutrinadores
(Fábio Ulhoa Coelho, por exemplo), o dispositivo contraria os fundamentos teóricos da
desconsideração, banalizando a medida que, por sua natureza, é excepcional. Com
efeito, esse dispositivo, se aplicado indiscriminadamente, em qualquer caso, tornaria
letra morta o que preceitua o  , que circunscreve a desconsideração da
personalidade jurídica a específicas hipóteses. Entende essa corrente que o juiz
decidirá pela desconsideração da personalidade jurídica, quando houver obstáculo ao
ressarcimento do consumidor, quando concorrerem, também os requisitos anteriores
(lesão ao consumidor, insuficiência do patrimônio, prática de atos fraudulentos ou
encerramento das atividades da empresa).

O § 2º, do art. 28, não trata propriamente de desconsideração da


personalidade jurídica, mas de hipótese de responsabilidade subsidiária das
sociedades integrantes de grupos societários e sociedades controladas. Ou seja, ainda
que o contrato com o consumidor tenha sido celebrado pela sociedade de menor
respaldo financeiro, se esta tiver ligação societária com outra, quiçá de maior
envergadura financeira, esta última poderá responder pela indenização ao
consumidor. Não é necessário que o autor ajuíze ação contra a sociedade integrante
do grupo ou controlada, mesmo porque não é ela que figura no contrato de consumo.
Basta provar a impossibilidade de ressarcimento pela empresa contratante para se
demandar a sociedade com responsabilidade subsidiária.

Embora não o faça a Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), há


solidariedade legal, por força do CDC, entre as empresas consorciadas, no tocante às
relações consumeristas.

Por fim, também há solidariedade entre as empresas coligadas (art. 243, § 1º,
da Lei das S.A͛s). Estas conservam sua autonomia, somente respondendo pelos
prejuízos causados pelo consumidor (estes causados por outra coligada), mediante a

34
DIREITO DO CONSUMIDOR

comprovação de culpa no evento danoso. São coligadas as sociedades quando uma


delas participa do capital da outra, com 10% ou mais, sem assumir o controle. Dessa
ausência de controle por parte da coligada é que decorre a impossibilidade de se a
responsabilizar por atos da outra sociedade, a não ser que tenha participado do ato
(responsabilidade subjetiva).

(  "&   

São as técnicas e os métodos empregados pelos fornecedores para fomentar a


comercialização dos produtos e serviços destinados ao consumidor. Bem como os
mecanismos de cobrança e serviço de proteção do crédito.

São imprescindíveis ao desenvolvimento e à manutenção do modelo


econômico adotado pelo Estado, numa sociedade capitalista como a brasileira.

A intervenção do Estado nessa seara se justifica diante da necessidade de se


compatibilizar o direito à utilização do    pelo fornecedor com a defesa do
consumidor.

São disciplinadas no Capítulo V, do CDC, que se subdivide em seis Seções:


Disposições Gerais, Oferta, Publicidade, Práticas Abusivas, Cobrança de Dívidas e
Bancos de Dados e Cadastro de Consumidores.

De se notar que o art. 29 espicha o conceito de consumidor, equiparando a este


qualquer pessoa que se exponha às práticas comerciais a seguir descritas (consumidor
por equiparação).

(  )

A vinculação da oferta é tratada no art. 30: ͞toda informação ou publici dade,


suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com
relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado͟.

Assim, oferta é declaração unilateral de vontade e caracteriza obrigação pré-


contratual, gerando vínculo com o fornecedor e automaticamente proporcionando ao
consumidor a possibilidade de exigência daquilo que foi ofertado.

A vinculação da oferta ao fornecedor depende, portanto, de dois requisitos:

- a veiculação e

- a precisão da informação.

Uma proposta que não chega ao conhecimento do consumidor não vincula o


fornecedor, por óbvio. Demais disso, a informação ou publicidade deve ser precisa,

35
DIREITO DO CONSUMIDOR

não obrigando o fornecedor o emprego de expressões exageradas, como ͞o melhor


sabor͟, ͞o mais bonito͟, etc.

Contudo, a informação ou publicidade que veicular de forma precisa o objeto


da compra e venda e seu preço será tida por oferta vinculante, faltando apenas a
aceitação do consumidor.

A Lei 10.962/04 complementa o CDC, no tocante à oferta e às formas de


afixação de preços de produtos e serviços ao consumidor. No art. 2º, são definidas as
formas de afixação de preços admitidas em vendas a varejo:

- por meio de etiquetas ou similares afixados diretamente nos bens expostos à


venda, e, em vitrinas, mediante a divulgação do preço à vista em caracteres legítimos;

- em auto-serviços, supermercados, hipermercados, mercearias ou


estabelecimentos comerciais onde o consumidor tenha acesso direto ao produto, sem
intervenção do comerciante, mediante a impressão ou afixação do preço do produto
na embalagem, ou a afixação de código referencial, ou, ainda, com a afixação do
código de barras.

O que se busca é evitar a confusão de preços que possa fazer com que o
consumidor incorra em erro e conseqüente prejuízo.

No caso de o estabelecimento se valer de código de barras, é certo que deve


disponibilizar equipamentos de leitura ótica para a consulta do valor da mercadoria.

Também se permite a utilização de relações de preços dos produtos expostos,


ou dos serviços oferecidos. Havendo divergência de preços para o mesmo produto, o
consumidor pagará o menor deles.

Já o art. 31, do CDC, determina que a oferta contenha informações co rretas,


claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre as características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, assim como os
riscos que os produtos e serviços apresentam à saúde e segurança dos consumidores
(princípio da veracidade da oferta).

As informações prestadas, portanto, devem ser verdadeiras, corretas e claras.


Não é lícito, dessa maneira, ao fornecedor, fazer propaganda sobre um produto ou
serviço por ele prestado, em que determinada vantag em anunciada se sujeita a
restrições contratuais. Por exemplo, na APC 236717 -7, do TJPR, decidiu -se que ͞se o
fornecedor de serviços lança mão de propaganda abrangente e irrestrita, deixando
para delimitar sua responsabilidade em posterior contrato de ades ão, cujo inteiro teor
somente é levado ao conhecimento do consumidor depois que ele já adquiriu o
serviço, responde pelo que ofertou, ou seja, por não prestar ao segurado ͚atendimento
domiciliar͛ e ͚remoção em ambulância͛. Escorreita a decisão singular quando concluiu

36
DIREITO DO CONSUMIDOR

que a cláusula contratual que dispõe acerca da ͚remoção inter-hospitalar͛ deve ser
compreendida como ͚remoção em ambulância͛ genericamente ofertada na
publicidade, desconsiderando -se as limitações previstas no regulamento do plano de
saúde. O arbitramento da indenização por danos morais deve ser feito com
moderação, proporcionalmente ao grau da culpa, ao nível sócio -econômico do autor e,
ainda, ao porte econômico do réu, orientando-se o juiz pelos critérios da
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e
às peculiaridades de cada caso͟.

Recusando-se o fornecedor a cumprir sua oferta, o consumidor pode escolher


uma das seguintes opções:

- reivindicar o cumprimento forçado da obrigação;

- optar pela substituição por outro produto ou pela prestação de serviço


equivalente;

- rescindir o contrato com a restituição de quantia eventualmente antecipada,


monetariamente atualizada, além de perdas e danos.

O art. 32 determina que os fabricantes e os importadores devem assegurar a


oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou
importação do produto.

Assim, o fornecedor continua responsável pelo produto ou serviço ofertado


mesmo no período pós-contratual. E, mesmo que o produto ten ha cessada sua
fabricação ou importação, o fornecedor deve manter por período de tempo razoável a
reposição dos componentes. Regra com particular incidência no reparo de veículos,
que, a despeito da durabilidade dos automóveis, é relativamente curto o ͞tempo de
vida͟ de um determinado modelo de um fabricante, que pode deixar de fabricá-lo
(tirar de linha), mas não pode deixar à mercê os adquirentes do veículo
͞ultrapassado͟.

O fornecedor é solidariamente responsável pelos atos praticados por seus


prepostos ou representantes autônomos na hipótese em que comercializa seus
produtos por intermédio de serviços prestados por terceiros (art. 34).

(  " 

 É o principal meio pelo qual os fornecedores seduzem os consumidores e


alavancam o número de vendas esperado com a venda de produtos e serviços
disponibilizados no mercado de consumo. A preocupação do legislador é com a
regulamentação da publicidade, a fim de se evitar e reprimir abusos frequentemente
ocorridos nesse tipo de atividade.

37
DIREITO DO CONSUMIDOR

Publicidade é termo que se refere à vulgarização, ao ato de tornar público um


fato, uma idéia, sempre com intuito comercial. Propaganda é, por outro lado, a
propagação de princípios e teorias, com fins ideológicos.

Então, publicidade seria o conjunto de técnicas de ação coletiva utilizadas no


sentido de promover o lucro de uma atividade comercial, conquistando, aumentando
ou mantendo cliente. Já, propaganda, seria o conjunto de técnicas, só que de ação
individual, utilizadas no sentido de promover a adesão a um dado sist ema ideológico,
segundo Herman Benjamin.

A publicidade deve observar os princípios da vinculação e da veracidade


norteadores da oferta, e também os princípios da identificação da publicidade e o
princípio da inversão do ônus da prova.

O princípio da identificação da publicidade se estampa no art. 36, do CDC: ͞a


publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente,
a identifique como tal͟. Isto é, o consumidor deve ter ciência imediata de que aquilo
que vê ou que ouve se trata de mensagem com o objetivo de persuadi-lo a adquirir
produto ou serviço fornecido. Assim, não pode o fornecedor, como lamentavelmente
sói acontecer, escamotear anúncios publicitários sob a roupagem de reportagem
(publicidade simulada).

O parágrafo único do art. 36 prescreve que o fornecedor tem o dever de


manter em seu poder dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à
mensagem publicitária, a fim de esclarecer qualquer interessado sobre a veracidade e
transparência da publicidade. Sua falta enseja indenização ao consumidor.

A responsabilidade do anunciante é sempre objetiva, ainda que ele alegue não


ter desejado enganar. Ademais, o caráter enganoso da publicidade compreende a
potencialidade lesiva e a capacidade de induzir em erro em razão do poder de
sugestão publicitária.

O ônus de provar a veracidade da informação veiculada cabe sempre a quem a


patrocina (art. 38, do CDC). O CDC consagra, como direito básico do consumidor, a
inversão do ônus da prova, sempre que se verificar a verossimilhança de suas
alegações e sua hipossuficiência.

Quanto à publicidade, o ônus da prova sempre é do patrocinador, sendo


despicienda a declaração de sua inversão pelo julgador. Ao consumidor cabe apenas
provar o conteúdo da publicidade, por meio da colação aos autos da publicidade
realizada.

38
DIREITO DO CONSUMIDOR

O art. 37 proíbe qualquer tipo de publicidade enganosa ou abusiva, em


consonância com o princípio da veracidade (art. 31). As informações veiculadas pelo
fornecedor devem ser claras, precisas, corretas e ostensivas.

Publicidade enganosa é ͞qualquer modalidade de informação ou comunicação


de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros
dados sobre produtos e serviços͟ (§ 1º, do art. 37).

Abusiva é a publicidade ͞discriminatória de qualquer natureza, a que incite à


violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento
e experiência da criança, desrespeita os valores ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança͟ (§ 2º, do art. 37).

Ocorre publicidade enganosa por comissão quando o anunciante faz afirmação


inteira ou parcialmente falsa sobre o produto ou serviço. Tais informações induzem o
consumidor em erro, fazendo-o adquirir produtos e serviços fundamentado em
informação equivocada sobre características, preço, quantidade, qualidade, etc.

Criam-se expectativas inverídicas no consumidor. Caso ele soubesse das reais


características do produto ou serviço, não o teria adquirido. Trata -se de negócio
jurídico em que a manifestação da vontade se encontra viciada.

A publicidade pode também ser enganosa por omissão (§ 3º, do art. 37),
quando o fornecedor deixa de informar dado essencial do produto ou serviço. A
omissão relevante é aquela que, se não tivesse ocorrido ʹ ou seja, se o consumidor
tivesse ciência do dado omitido -, levaria o consumidor a não celebrar o contrato. Já
decidiu o 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo que constitui publicidade enganosa
por omissão a hipótese em que o consumidor contratou prestação de serviço de
ensino para curso de especialização, que havia sido registrado no Ministério da
Educação e Cultura, mas não tinha o necessário registro no órgão de classe, o que
impediria o consumidor de ostentar a condição de especialista (1053574 -3).

A preocupação do legislador com a publici dade dita abusiva decorre do poder


que a publicidade tem de influenciar pensamentos, valores, comportamentos, e de
modificar condutas na sociedade de consumo. Ora, mal empregada, a publicidade
pode se erigir como ameaça à sociedade e a seus valores, daí a obrigação de os
anunciantes veicularem publicidade que esteja de acordo com os valores sociais
vigentes, em nome da própria estabilidade jurídico-social. Não é por outra razão que
se proíbe publicidade que ofenda os valores éticos e sociais da pessoa e da família,
sustentáculos da sociedade brasileira. Publicidade que incite à violência, explore o
preconceito, a discriminação, o medo, que corrompa a integridade infantil ou os

39
DIREITO DO CONSUMIDOR

valores ambientais atentam, em última análise, à própria dignidade humana. As


cláusulas abusivas estão listadas apenas exemplificativamente no art. 37.

Contrapropaganda é uma penalidade administrativa imposta ao anunciante que


infringe os preceitos dos arts. 36 e 37 (art. 56, XII). Pode ser aplicada por autoridade
competente da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, após
processo administrativo em que se assegura o contraditório e a ampla defesa. Tem
como objetivo desfazer os efeitos daninhos provocados pela publicidade abusiva ou
enganosa veiculada pelo anunciante. Seus custos são de responsabilidade do infrator e
pode ser veiculada (a contrapropaganda) em revistas, televisão, mídia eletrônica, etc.

A publicidade se encontra regulamentada pelo CONAR (Conselho Nacional de


Auto-Regulamentação Publicitária), órgão de iniciativa privada, integrado por
empresas publicitárias. Em 1978, elaborou o Código Brasileiro de Auto -
Regulamentação Publicitária. Dessarte, todo consumidor que se sinta lesado por
publicidade enganosa ou abusiva poderá apresentar reclamação perante o Cons elho,
sujeitando-se o infrator às penalidades administrativas de advertência, recomendação
de alteração ou correção do anúncio ou recomendação de sustação da veiculação.
Naturalmente que o cumprimento de suas resoluções é de caráter espontâneo, pelos
anunciantes, eis que o CONAR não dispõe de coercibilidade sobre eles.

Por fim, de se mencionar a Lei 11.800/2008, que alterou o art. 33, do CDC,
incluindo o parágrafo único, que proíbe, de forma expressa, a publicidade de bens e
serviços quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina. Isso posto, os
fornecedores somente poderão anunciar seus produtos e serviços ao consumidor que
lhes telefona quando a ligação for gratuita. A razão é óbvia: o consumidor não pode
ser obrigado a pagar para ouvir publicidade. Outrossim, o Decreto 6.523/08 (referido
anteriormente) proíbe veiculação de mensagem publicitária durante o tempo de
espera para o atendimento, salvo se houver prévio e expresso consentimento do
consumidor.

( $ "&  ï 

 Prática abusiva é a desconformidade com os padrões mercadológicos de boa


conduta em relação ao consumidor. Estão previstas no art. 39, do CDC, em lista
meramente exemplificativa.

 Y   ʹ é o fornecimento de produto ou serviço condicionado à venda


de outro produto ou serviço. Art. 39, I, do CDC. Infelizmente, trata -se de prática ainda
muito comum no mercado de consumo. Ocorre, por exemplo, quando um banco, para
conceder cheque especial ao correntista, condiciona sua concessão à aquisição de um
seguro de vida ou plano de previdência privada, que não era de seu interesse.

40
DIREITO DO CONSUMIDOR

 Y    ʹ consiste em exigir do consumidor que adquira produto ou


serviço em quantidade maior ou menor do que aquela que necessita. Admite-se,
contudo, a limitação de produto à quantidade inferior à desejada, para que haja
manutenção do estoque e se garanta o atendimento aos demais consumidores.

  Y Y   Y Y    ʹ o fornecedor, dispondo do produto em


estoque, não pode recusar a demanda dos consumidores. Caso do taxista que recusa
uma corrida, ou do cliente que quer pagar o produto a vista e recebe a recusa do
fornecedor. Ademais, o fornecedor não pode selecionar seus clientes, nem proibir o
acesso de quem procura os serviços que oferece, exceto por motivo excepcional
devidamente comprovado. É por isso que determinadas lojas, ao promoverem certos
produtos, mediante preços baixos, anunciam o número de peças a que se aplica o
preço anunciado. A Lei 8.884/94 descreve como infração à ordem econômica ͞recusar
a venda de bens ou prestação de serviços dentro das condições de pagamento normais
aos usos e costumes comerciais͟ (art. 21, XIII).

    Y Y   ʹ o consumidor tem o direito de receber somente


os produtos ou serviços que tenha expressamente solicitado. Dessa forma, a r emessa
espontânea de produto não solicitado não obriga o consumidor, que pode recusar o
produto ou recebê -lo como amostra grátis.

=     Y  Y   Y Y     Y  Y    ʹ ocorre


quando o fornecedor se aproveita da fraqueza ou i gnorância do consumidor, tendo em
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir -lhe seus
produtos ou serviços. Daí não poderem os hospitais exigir cheque -caução para uma
internação até que a empresa responsável pelo plano de saúde faça liberação de
senha, o que configura o chamado estado de perigo, previsto no CC, como vício do
negócio jurídico.

 Y Y  Y  Y   ʹ basta que a exigência seja feita, não
sendo necessário, para a configuração da prática abusiva, que ela seja concretizada.
Vantagem excessiva é aquela que ofende os princípios fundamentais do sistema
jurídico a que pertence; restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato, de modo a ameaçar o equilíbrio contratual.

  Y  Y    ʹ a realização de serviço pelo fornecedor está


condicionada à prévia autorização do consumidor, que deverá ser informado de seu
orçamento. Caso o fornecedor execute o serviço sem informar, antes, o respectivo
valor ao consumidor, este poderá recusar o pagamento. O orçamento vale, em regra,
por dez dias, salvo convenção em contrário. Dele devem constar, além do preço, a
discriminação dos componentes, equipamentos e materiais empregados, e a mão-de-
obra, a data do início e do término da ex ecução do serviço (art. 40).

41
DIREITO DO CONSUMIDOR

Igualmente, não se obriga o consumidor por acréscimos posteriores à


concordância com o orçamento.


  Y Y  Y Y   Y     ʹ nenhum fornecedor pode
divulgar informações depreciativas sobre o consumidor quando tal se referir ao
exercício de direito seu. Por exemplo, não pode o fornecedor informar a outros
fornecedores que determinado cliente sustou o protesto de um título, ou que já
representou ao Ministério Público ou propôs ação, etc.


   Y Y  Y  ʹ Os produtos colocados no mercado devem
respeitar as normas expedidas pelos órgãos oficiais (ABNT, ou outras entidades
credenciadas pelo CONMETRO) que estabelecem os padrões técnicos a eles aplicáveis.

  Y Y  Y Y Y Y   Y Y ʹ dispositivo que se relaciona


à proibição de recusa no atendimento a demandas. Protege -se o direito de o
consumidor adquirir diretamente o produto de quem o coloca no mercado, sem
intermediários, mediante pronto pagamento.

   Y Y Y Y  Y Y   ʹ À falta de justa causa, os produtos e


serviços não podem ter seus preços elevados. O que não configura qualquer ofensa à
liberdade de se estabelecer preços, ensejando a possibilidade de o Estado intervir, com
o objetivo de manter o Estado Social e a democracia. O que se busca não é o
tabelamento de preços. Pelo contrário, almeja-se impedir o aumento arbitrário e
abusivo de preços, além do real valor do produto, preservando-se razoável e usual
margem de lucro ao fornecedor.


  Y Y Y  Y  Y Y   ʹ O fornecedor não pode
deixar de estipular prazo para cumprir sua obrigação, ou fixar o termo inicial a seu
exclusivo critério. Descumprida a regra, incide a regra do art. 331, do CC, que permite
ao consumidor exigir o imediato cumprimento da obrigação.

 Y  Y   ʹ A lei obriga o fornecedor a aplicar fórmula ou índice de


reajuste nela previsto, sob pena de se entregar a prática abusiva. Fica vedada a
modificação unilateral de índice de reajuste, atendendo apenas à ganância e à vontade
de aumentar o lucro obtido, pelo fornecedor.

($   c!ï 

O CDC estabelece algumas restrições às práticas comerciais tendentes a cobrar


as dívidas contraídas pelos consumidores. O devedor inadimplente não pode, sob
hipótese alguma, ser submetido a vexame ou ao ridículo, mediante qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça (art. 42). Levada a cabo a conduta proibida, surge o dever
de indenizar por danos morais.

42
DIREITO DO CONSUMIDOR

Contudo, algumas práticas são permitidas. O fornecedor pode enviar


correspondência ao consumidor, informando -o da possível inscrição de seu nome nos
cadastros de inadimplentes, desde que sem dizeres ofensivos, mesmo que esteja a
cobrar dívida já paga ou prescrita. Tal não enseja indenização por danos morais, eis
que se cuida apenas de um aviso. Tampouco se expõe o consumidor ao ridículo o
ajuizamento de ação cobrando dívida, ainda que ela seja julgada improcedente, uma
vez que a propositura de ação é mero exercício regular de direito.

Por outro lado, o consumidor cobrado por quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por igual valor ao dobro do que pagou em excesso, mais juros
legais e correção monetária, a não ser que o engano do fornecedor seja justificável
(art. 42, parágrafo único). Note-se que a repetição do indébito se condiciona ao efetivo
pagamento do valor já pago. A mera carta de cobrança não faz nascer esse direito.

No art. 43, disciplina -se o direito que o consumidor tem de acessar as


informações existentes a seu respeito em cadastro, fichas, registros e dados pessoais e
de consumo, assim como as respectivas fontes.

Ademais, os cadastros de consumidores devem ser objetivos, verdadeiros e


facilmente compreensíveis, não podendo apresentar informações negativas referentes
a período superior a cinco anos.

Como o banco de dados de consumidores tem caráter público, o direito de


obter as informações ali constantes pode ser exercido por meio de  Y   (Lei
9.507/97). Não cabe a ação constitucional quando a autoridade administrativa não
tiver recusado o pedido de informações.

Assim, não se veda a inscrição do nome do consumidor nos órgãos de proteção


do crédito; busca-se, sim, amparar o vulnerável e hipossuficiente, pois o banco de
dados não pode servir de escudo para a perpetuação da dívida.

Assegura-se ao consumidor o direito de acesso e de correção das informações a


seu respeito constantes do banco de dados. Aquele que o impede pratica crime (arts.
72 e 73). Pode, ainda, qualquer interessado providenciar anotação nos registros,
indicando que o débito inscrito se encontra Y  , contanto que se faça
acompanhar de documentos probatórios (art. 4º, da Lei 9.507/97).

O consumidor deve ser previamente avisado de que seu nome será inscrito na
entidade que mantém o banco de dados, pela mesma e pelo fornecedor que a esta
envia seu nome. O STJ, no enunciado 358, de sua súmula, determina que ͞cabe ao
órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor antes
de proceder à inscrição͟.

43
DIREITO DO CONSUMIDOR

Aliás, esse direito ao prévio aviso assiste ao devedor, avalista, fiador, mesmo
que seu nome já esteja inscrito no cadastro de inadimplentes. O aviso deverá ser
efetivado dias antes do registro do débito em atraso. Na prática, o consumidor é
avisado dez dias antes, em média, da referida inscrição, para, se quiser, tomar as
providências cabíveis. Objetiva o mandamento resguardar o consumidor de futuros
danos, bem como obstar-lhe o constrangimento de ser surpreendido pela negativa de
crédito em decorrência da inscrição. O descumprimento do dever de avisar
previamente o consumidor acerca da inscrição sujeita o fornecedor à responsabilidade
por danos morais, conforme já decidido pelo STJ.

Com mais razão, cabe indenização por danos morais em decorrência de


indevida inscrição no cadastro de inadimplentes . Aqui, o dano moral é presumido, não
sendo necessário produzir prova do prejuízo sofrido pelo consumidor, desde que
comprovado o evento dano (a inscrição), uma vez que tal situação atinge sua honra,
sua credibilidade, seu bom nome, sua reputação, sem falar na restrição de crédito. Não
afasta o dever de indenizar o fato de o consumidor já se encontrar registrado nos
serviços de proteção ao crédito. Gera também o dever de indenizar a manutenção dos
dados do consumidor nos registros, mesmo tendo ele quitado a dívida perante o
fornecedor.

No caso de a dívida a ser inscrita se encontrar, total ou parcialmente, em


discussão judicial, o consumidor pode requerer a ret irada de seu nome. Basta
comprovar a propositura da ação respectiva, assim como o Y  Y . Sendo a
contestação relativa a apenas uma parte do débito, ele deve depositar o valor
referente à parte incontroversa, ou prestar caução idônea.

No que tange aos contratos bancários, o STJ já decidiu que a manutenção ou


inscrição do consumidor em cadastros de inadimplentes somente poderá ser deferida
em antecipação de tutela ou em ação se

- a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do débito;

- houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do


bom direito e em jurisprudência consolidada do STJ ou STF;

- se houver depósito do valor incontroverso ou se prestada caução arbitrada


pelo juiz.

As informações negativas podem ser mantidas por até cinco anos (art. 43, § 1º),
contados da data do fato ou da relação de consumo, ou do inadimplemento, e não da
data do cadastro ou registro. Os serviços de proteção ao crédito não podem manter
registros relacionados a débitos já prescritos. Confira-se o enunciado 323, do STJ: ͞a
inscrição de inadimplente pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito por,
no máximo, cinco anos͟. O prazo de prescrição referido é o da ação de cobrança, e não

44
DIREITO DO CONSUMIDOR

o do título executivo. Assim, é possível pr omover a retirada do nome do consumidor


do cadastro de inadimplentes antes de decorridos cinco anos, tão logo se verifique a
prescrição do direito de propor a ação de conhecimento para a cobrança da dívida , e
não do direito de ação para execução do título que ensejou a negativação.

($  "     

 Desde o surgimento do Estado Liberal, os direitos individuais promovidos eram,


talvez até mais do que instrumentos de defesa do indivíduo, expressão da ordem
econômica e social liberal, necessários para o desenvolvimento da economia
capitalista. Daí a regra geral dominante nos contratos do     .

A partir do Século XIX, os contratos sofreram grande transformação: a excessiva


rigidez então orientadora dos contratos vem sendo substituída por novo s paradigmas,
que buscam a construção de relação contratual mais justa, mesmo que isso implique
flexibilização dos parâmetros contratuais até então adotados.

O liberalismo contratual dá espaço para a intervenção estatal. O CDC é um


marco importante, que alterou paradigmas contratuais liberais, introduzindo normas
de ordem pública que mitigaram o princípio da autonomia privada e do   Y Y
   .

Na mesma esteira, o Código Civil de 2002 adotou os parâmetros sociais do


estado social democrata, introduzindo inovações na teoria geral dos contratos, como o
princípio da boa -fé objetiva e o princípio da função social dos contratos, como regras a
serem observadas em todos os contratos.

Os contratos de consumo são tratados no CDC, em seu Capítulo VI. São aqu eles
em que figuram como partes, de um lado, o fornecedor, e do outro, o consumidor. O
contrato de consumo que não atende às disposições do CDC é nulo. Aplicam -se,
também, as normas do CC aos contratos de consumo, contanto que não contrariem o
que dispõe a lei especial. Assim, fala-se em diálogo das fontes.

_
 Y   

Já não se fala mais em princípio da autonomia da vontade, e sim em autonomia


privada, que é da pessoa. Os contratantes têm a possibilidade de criar, modificar e
extinguir direitos pela manifestação da vontade. Entretanto, essa autonomia pode
sofrer limitações impostas pelo Estado Social. A autonomia privada deve respeitar as
normas de ordem pública, sob pena de nulidade do negócio jurídico ou da cláusula
contratual.

A força obrigatória dos contratos faz com que estes sejam a lei entre as partes.
Daí vem a intangibilidade dos contratos, pelo que se veda a alteração unilateral de
suas cláusulas.

45
DIREITO DO CONSUMIDOR

O princípio da supremacia da ordem pública reflete o dever das partes em


respeitar as limitações da autonomia privada impostas pela lei. Essas limitações são
ainda mais patentes do direito do consumidor, eis que se visa resguardar a parte mais
fraca da relação jurídica.

O contrato produz efeitos entre as partes e também em relação a terceiros, daí


a relatividade dos efeitos do contrato.

Princípio relativamente novo é o da função social dos contratos. O contrato é


instrumento mediante o qual as riquezas circulam dentro da sociedade, o que
impulsiona o desenvolvimento econômico e social. Sua função social é exatamente
essa: ao mesmo tempo que vincula as partes contratantes, a sociedade, como um
todo, acaba auferindo, mediatamente, benefícios traduzidos no incremento das
transações econômicas. Daí a justificativa para que o Estado intervenha nos contratos,
tendo como foco a proteção social e a manutenção da justiça contratual, devendo suas
cláusulas ser interpretadas à luz de sua função social.

A boa-fé objetiva prende-se ao valor da ética, da lealdade, correção e


veracidade. É princípio geral de direito civil que norteia as relações entre os
particulares na sociedade. Traduz-se no dever que as partes têm de agir com lealdade
umas com as outras, sem surpresas ou finalidades escusas, posto que os contratos têm
a função de incrementar as transações entre as pessoas e, assim, elevar o nível de
desenvolvimento da sociedade. Decorre da tutela da pessoa humana, finalidade última
do próprio direito. Daí as limitações que incidem sobre a autonomia privada. Desse
princípio é que surgem deverem anexos ao contrato que devem ser observados até
mesmo depois de seu cumprimento. Em atenção a esse princípio, as partes devem se
ajudar mutuamente nos respectivos cumprimentos de suas obrigações (dever de
cooperação). A violação dos deveres anexos constitui forma de inadimplemento.

Há três outros princípios que se aplicam especificamente aos contratos de


consumo: o da transparência, o da interpretação mais favorável ao consumidor e o da
vinculação à oferta.

O art. 46 trata do princípio da transparência: ͞os contratos que regulam as


relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e
alcance͟. É fácil perceber que a ignorância do consumidor, no tocante a aspectos
relativos ao cumprimento do contrato, pode se erigir como vício de vontade, tornando
o negócio jurídico anulável. Daí ser nula a cláusula sobre a qual o consumidor não
tenha sido informado ou tido plena compreensão. Prende -se, ainda, ao dever de
informar o consumidor, para que este tenha liberdade de escolha na contratação de

46
DIREITO DO CONSUMIDOR

produtos e serviços. Daí a potencial nulidade de cláusulas obscuras, ou redigidas em


letras miúdas

O princípio da interpretação mais favorável ao consumidor é expresso no art.


47. O operador do direito deve interpretar a cláusula contratual da forma mais
favorável ao consumidor, quando o contrato apresentar cláusulas incompatíveis entre
si, ou que despertem dúvida quanto ao seu conteúdo. O CC, no art. 423, prescreve
também que ͞quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente͟. Isso não
quer dizer que o fornecedor não possa incluir cláusulas limitativas dos direitos dos
consumidores. Pode, sim, desde que o faça de forma ostensiva e clara, destacando -as.

O princípio da vinculação à oferta (art. 48) determina que ͞as declarações de


vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às
relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica,
nos termos do art. 84 e parágrafos͟. A oferta, pois, obriga o fornecedor, sendo nula
qualquer cláusula contratual que retire esse direit o do consumidor.

No tocante à venda feita por meio de catálogos, revistas, correio, telefone e


televisão, representa ela, cada vez mais, importante fatia do comércio varejista.
Também se torna muito comum a venda de produtos e serviços pela   .
Entretanto, nesses casos, o consumidor não tem contato direto com o produto antes
de recebê-lo, ficando impossibilitado de realmente saber se o que está adquirindo é o
que deseja ou necessita. Ademais, em muitos casos, o consumidor é seduzido a
distância pelo fornecedor para adquirir algo que, em princípio, não desejava. Isso
posto, para proteger o consumidor nessas condições, em que ele não desfruta das
melhores condições para decidir sobre a conveniência do negócio, o art. 49, do CDC,
prevê a hipótese de arrependimento do consumidor toda vez que a contratação se der
fora do estabelecimento comercial. O prazo de reflexão é de sete dias a partir da
assinatura do contrato ou da data do recebimento do produto ou serviço. Podem as
partes convencionar prazo superior a esse, mas nunca inferior. É norma de ordem
pública, não podendo ser afastada pela vontade das partes. Arrependido o
consumidor, deve comunicá-lo de forma inequívoca ao fornecedor, por meio de carta
com AR ou de manifestação oral diante de testemunhas. Terá direito à quantia integral
que desembolsou, não podendo o fornecedor efetuar qualquer desconto. É direito
potestativo do consumidor, podendo ser exercido independentemente de qualquer
justificativa a ser dada ao fornecedor.

($  &    ï 

As cláusulas que contrariem as normas de ordem pública que regem o direito


consumerista são nulas de pleno direito. O rol do CDC de cláusulas nulas é meramente
exemplificativo: o que enseja a nulidade é o desrespeito das normas de ordem pública

47
DIREITO DO CONSUMIDOR

e interesse social estabelecidas em favor do consumidor. A nulidade pode, então, ser


argüida em qualquer fase processual, não se sujeitando à preclusão. Deve, ainda,
constatada a nulidade, o juiz decretá -la de ofício, e em qualquer grau jurisdicional.

Nada obstante, já decidiu o STJ que, nos contratos bancários, ͞é vedado aos
juízes de primeiro e segundo graus de jurisdição julgar, com fundamento no art. 51 do
CDC, sem pedido expresso, a abusividade de cláusulas nos contratos bancários͟.
Entendeu a Corte Superior que a instituição financeira tem seu direito cerceado na
hipótese de a nulidade ser declarada Y  (!).

Eis o rol do art. 51:

p Y  Y  Y    ʹ nenhuma cláusula contratual pode exonerar a


responsabilidade do fornecedor, por vício ou defeito do produto ou serviço. Nada
valem, por exemplo, as placas nos estacionamentos de estabelecimentos informando
que o fornecedor não se responsabiliza por furto, roubo ou danos causados nos
veículos dos consumidores.

   Y Y   Y Y  Y Y     ʹ Nula a cláusula contratual


que, por exemplo, impeça o consumidor de pedir a rescisão do contrato, por
inadimplemento do fornecedor, ou indenização por benfeitorias úteis e necessárias.

  Y  Y    Y   Y      ʹ a indenização deve ser integral,


abarcando todos os danos sofridos pelo consumidor, materiais e morais, direito que
seria retirado do consumidor caso fosse admitida cláusula que estipulasse um teto
indenizatório. A única exceção permitida é na relação de consumo em que o
consumidor é pessoa jurídica. Daí a revogação tácita do art. 1º, do Código Brasileiro de
Aeronáutica, que tarifa a indenização a ser paga pelas empresas aéreas, relativas aos
atrasos de vôo e extravio de bagagem ou de carga. Assim decidiu o STJ, pois a referida
relação jurídica se rege pelo CDC.

   Y Y   Y Y não se pode subtrair do consumidor o direito de


ser reembolsado por quantia paga, caso a rescisão ou resilição do contrato se de por
inadimplemento ou a requerimento do consumidor. Em qua lquer caso, faz ele jus à
devolução da quantia paga. Cláusula nesse sentido implicaria a negativa do reembolso
previsto nos arts. 18 a 20 (vício do produto).

   Y  Y      Y Y     ʹ Mais uma cláusula cuja


finalidade é a exoneração da responsabilidade do fornecedor, sendo, evidentemente,
nula. É o caso, por exemplo, de cláusulas ͞que propiciam às agências de turismo,
fornecedores direitos de pacotes turísticos, transferirem responsabilidade às
operadoras, às transportadoras e aos hotéis͟.

48
DIREITO DO CONSUMIDOR

c   Y    Y  Y Y  Y Y Y  


 Y Y Y 
Y Y Y   ʹ Obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé e a equidade (art. 51,
IV). Ao juiz cabe verificar, no caso concreto, a iniquidade, a abusividade e a
desvantagem exagerada, que são conceitos indeterminados. Conforme o art. 51, §1º,
do CDC, vantagem exagerada é a que

- ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

- restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do


contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;

- se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a


natureza e conteúdo do contrato, o intere sse das partes e outras circunstâncias
peculiares ao caso.

A onerosidade excessiva pode surgir após a assinatura do contrato e também


no momento de sua celebração. Sua ocorrência pode ensejar:

- o direito do consumidor à modificação da cláusula contratual, para que se


restabeleça o equilíbrio contratual;

- a revisão do contrato em virtude de fatos supervenientes não previstos pelas


partes quando da conclusão do negócio;

- a nulidade da cláusula por trazer desvantagem exagerada ao consumidor.

Por sua vez, cláusulas incompatíveis com a boa-fé ou equidade impõem que o
julgador perquira sobre a intenção das partes ao firmarem o acordo. Tem sido esse o
fundamento da nulidade de cláusulas inseridas nos contratos de seguro-saúde que
limitam o tempo de internação do segurado em UTI. STF, 302: ͞é abusiva a cláusula
contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do
segurado͟. Igualmente, a cláusula de eleição do foro inserida em contratos de adesão
tem sido considerada abusiva, por dificu ltar ao consumidor o acesso à justiça,
colocando-o em posição exageradamente desvantajosa. No que atina aos contratos de
  de automóveis, cujo atrelamento à variação cambial do dólar é permitida, a
recente jurisprudência do STJ entende que ͞os encarg os decorrentes da abrupta
mudança ocorrida na cotação do dólar americano dividem-se entre arrendante e
arrendatário, metade para cada um, a partir de janeiro de 1999͟.

p Y  Y    Y Y  Y YY Y  ʹ Cláusula que retira a


vantagem deferida ao consumidor em razão de sua presumida hipossuficiência. São
dessa espécie as cláusulas, por exemplo, referentes à declaração contida em contrato
de adesão de que o consumidor recebeu produto enviado, sem oferecer reclamação;
declaração do consumidor que afirme estar correto o projeto e os valores da escala de

49
DIREITO DO CONSUMIDOR

  de móveis encomendados à fábrica; declaração do vendedor de imóveis ou


construtor de que é conhecido nas relações negociais locais, etc.

= Y   ʹ Patente a nulidade de cláusula que vise excluir da


apreciação do Judiciário o contrato firmado entre fornecedor e consumidor. É bem
verdade que o compromisso arbitral (Lei 9.307/96) pode ser aplicado nas relações de
consumo, mas seu emprego não pode se dar de forma compulsória ao consumidor.


   Y  Y      ʹ Vedada a chamada ͞cláusula mandato͟, que
impõe representante para concluir ou realizar outro negócio pelo consumidor. É
comum nos contratos bancários, em que o consumidor nomeia seu procurador o
próprio banco, que, em nome do devedor, emita, por exemplo , letra de câmbio e
assinatura de nota promissória. Comuns, também, os casos em que as empresas de
cartão de crédito, diante da inadiimplência do devedor, e munidas de ͞cláusula
mandato͟, contraem empréstimos perante terceiros para quitar o valor da fatura
devida. Tal contrato é realizado em nome do devedor, mas a sua revelia, podendo
comprometê-lo ao pagamento de juros mais altos e outros encargos, daí a justificativa
de sua proibição. A despeito dessa lógica irretorquível, o STJ reconheceu a legalidade
de cláusula mandato, que permite à administradora buscar recursos no mercado para
financiar o usuário inadimplente das empresas administradoras de cartão de crédito.
Para essa Corte, ainda, as administradoras de cartão de crédito são instituições
financeiras, às quais não se aplica a limitação dos juros prevista no Decreto 22.626/33.
STJ, 283: ͞as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições
financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as
limitações da Lei de Usura͟.

p Y   Y Y  Y   Y  Y Y     ʹ estão expostas


no art. 51, incisos IX, X, XI, XII e XIII:

- Cláusulas que deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,


embora obrigando o consumidor, e cláusulas que autorizem o fornecedor a cancelar o
contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor.

- Cláusulas que permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do


preço de maneira unilateral.

- Cláusulas que obriguem o consumidor ao ressarcimento dos custos de


cobrança de obrigação do fornecedor.

- Cláusulas que autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o contrato.

p Y  Y   Y Y    Y  Y   Y    ʹ Tome-se como


exemplo o contrato de construção de uma casa em local de preservação ambiental,

50
DIREITO DO CONSUMIDOR

sem a devida autorização. Fica comprometido o próprio objeto do contrato, que é nulo
de pleno direito.

A nulidade de cláusula abusiva não compromete o contrato, salvo se a cláusula


for essencial. Ocorre apenas, de regra, a alteração contratual.

O controle das cláusulas abusivas se faz pelo Poder Judiciário, por intermédio
de sua interpretação e conformação às hipóteses do art. 51. O legitimado a provocar a
manifestação jurisdicional é do próprio consumidor, de entidade que o represente ou
do Ministério Público, uma vez que ͞é facultado ao consumidor ou qualquer entidade
que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para
ser declarada a nulidade da cláusula contratual que contrar ie o disposto neste Código
ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direito e obrigações das
partes (art. 51, § 4º). De se notar, por fim, que o controle das cláusulas abusivas
independe de relação de consumo efetiva, bastando que o fornecedor ofereça o
produto ou serviço mediante contratos ou condições gerais potencialmente lesivas aos
consumidores.

($  '   % 

Da concessão de crédito ao consumidor tratam os arts. 52 e 53, do CDC.

O fornecedor tem de informar ao consu midor, prévia e adequadamente sobre


o preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; o montante de juros de
mora e da taxa efetiva anual de juros; os acréscimos legalmente previstos; o número e
a periodicidade das prestações; e a soma total a pagar com e sem financiamento.

  Y    Y     ʹ A Lei 8.880/94 proíbe a contratação em moeda


estrangeira, bem como o reajuste de prestações em função da variação de moeda
estrangeira. Utilizam-se, obrigatoriamente, os índices oficiais para a correção
monetária. Exceção feita aos contratos de   , uma vez que a instituição
arrendante capta recursos fora do país para a concessão do crédito.

 Y Y  ʹ a informação visa dar ao consumidor subsídios para que possa
decidir pela contratação ou não.

= Y   Y   ʹ tais acréscimos dizem respeito, por exemplo,
ao IOF, o índice de correção monetária aplicado, taxas bancárias, etc.

   Y Y    Y Y    ʹ para que o consumidor possa planejar


o pagamento de suas dívidas e tenha conhecimento expresso do prazo para sua
quitação.

  Y   Y Y  Y  Y Y  Y     ʹ para que possa estudar a


conveniência ou não do financiamento.

51
DIREITO DO CONSUMIDOR

O inadimplemento de obrigações pelo consumidor sujeita -o a uma multa


moratória, por atraso, que não poderá ser superior a 2% do valor da prestação,
consoante o art. 52, § 1º. A violação a esse dispositivo constitui infração administrativa
(art. 22, do Decreto 2.181/97).

A doutrina e a jurisprudência dominantes entendem que esse limite não se


aplica para os condomínios e contratos de locação de imóvel, uma vez que não há,
nesses casos, relação de consumo.

O consumidor tem o direito de quitar antecipadamente seu débito, total ou


parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. É nula
qualquer cláusula que lhe retire esse direito. Se o fornecedor não cumprir o disposto
no art. 52, §2º, o consumidor poderá requerer a repetição do indébito, naquilo que
pagou e que não era devido (art. 42, parágrafo único).

Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento


em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas
de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda das prestações pagas em
benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do
contrato e a retomada do produto alienado (art. 53). Isso porque a resolução do
negócio jurídico deve conduzir as partes ao  Y  Y  , vedando-se, contudo, o
enriquecimento ilícito de qualquer uma das partes. Difícil é a questão relativa ao
percentual que, nesses casos, deve ser restituído ao consumidor, uma vez que não há
qualquer estipulação de teto máximo para a cláusula penal. Nos contratos de
compromisso de compra e venda de imóvel à prestação, o STJ entende razoável o
ressarcimento das despesas administrativas usuais, tais como propaganda,
corretagem, depreciação imobiliária, desgaste pelo uso, impostos, recolocação no
mercado, etc, perfazendo, aproximadamente, de 20 a 25% das parcelas pagas pelo
comprador.

Proíbe-se também a cláusula que faculte ao fornecedor ficar com o bem objeto
de alienação fiduciária em caso de resolução contratual. Este deve ser vendido em
leilão fidedigno e o valor pago pelo consumidor que requereu a rescisão deve ser
devolvido, com as devidas retenções pelo fornecedor.

Retenção de valores de parcelas quitadas pelo consumidor, em favor do


fornecedor, ocorre também nos contratos de sistema de consórcio de produtos
duráveis, referentes à vantagem econômica auferida com a fruição e os prejuízos que
o desistente ou inadimplente causar ao grupo (art. 53, § 2º). É que o consórcio, além
de pressupor solidariedade e cooperação entre os consorciados, se apresenta como
relação de consumo entre o consorciado e a administradora do consórcio . Desistindo o
consorciado do consórcio, a administradora deve, naturalmente, devolver -lhe as
parcelas pagas, podendo descontar valor equivalente à vantagem econômica por

52
DIREITO DO CONSUMIDOR

aquele percebida (evitando-se o enriquecimento ilícito), caso ele tenha sido sorteado e
utilizado o bem objeto do contrato. Desconta -se também o valor atinente ao prejuízo
que o inadimplente causou ao grupo, o qual deve ser devidamente demonstrado, bem
como as despesas relativas à administração do consórcio, eis que a administradora
prestou o serviço de administração durante o período em que o consumidor esteve
atado ao contrato. Novas regras para o funcionamento dos consórcios foram
estabelecidas pela Lei 11.795/2008: o art. 30, por exemplo, permite ao consorciado
excluído e não contemplado o direito à restituição da importância paga ao fundo
comum do grupo. O valor a ser devolvido calcula -se com base no percentual
amortizado do valor do bem ou serviço vigente na data da assembléia de
contemplação, mais os rendimentos da aplicação financeira a que estão sujeitos os
recursos dos consorciados enquanto não utilizado pelo participante. A devolução se
dá, também, nos moldes do sorteio mensal, devendo o desistente participar do grupo
até que ocorra o sorteio mensal para devolução dos valores (art. 24).

Emblemática a decisão do STJ no Resp 1.061.530/RS, segundo a regra do art.


543-C (multiplicidade de recursos), em que se discutiu alguns temas relacionados aos
contratos bancários de financiamento de bens. A orientação do STJ é de se aplicar aos
contratos bancários subordinados ao CDC, com exceção dos de cédula de crédito rural,
industrial, bancária e comercial; contratos celebrados por cooperativas de crédito;
contratos regidos pelo Sistema Financeiro de Habitação e os de crédito consignado. Eis
os principais temas tratados:

- juros remuneratórios ʹ não se sujeitam as instituições financeiras às


limitações impostas pela Lei de Usura (Decreto 22.626/33) e pelo enunciado 596, da
súmula do STF (͞As disposições do Dec. 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e
aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou
privadas que integram o sistema financeiro nacional͟). Assim, a estipulação de juros
remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade. Ta mpouco
são aplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as
disposições dos arts. 591 e 406, do CC (limitação de taxas de juros remuneratórios).
Admite-se a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais,
desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o
consumidor em desvantagem exagerada) fique cabalmente demonstrada, diante da
análise do caso concreto.

- juros moratórios ʹ nos contratos não regidos por legislação específica, estes
poderão ser convencionados até 1% ao mês.

- mora ʹ fica descaracterizada quando reconhecida a abusividade nos encargos


exigidos no período de normalidade contratual. Contudo, ela não se descaracteriza se
ação revisional for ajuizada, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade
incidir sobre os encargos inerentes ao período de inadimplência contratual.

53
DIREITO DO CONSUMIDOR

- Inscrição e manutenção em cadastro de inadimplentes ʹ requerida a


abstenção de inscrição ou manutenção em cadastro de inadimplentes, esta somente
será deferida se, cumulativamente, 1) a ação for fundada em questionamento integral
ou parcial do débito; 2) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda no
Y Y  e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; 3) houver depósito da
parcela incontroversa ou for prestada caução fixada pelo juiz. O acórdão ou sentença
decidirá sobre a inscrição ou manutenção do nome do devedor em cadastro de
inadimplentes, de acordo com o que se decidir sobre o mérito do processo. Mora
caracterizada, correta a inscrição ou manutenção.

- Aplicação das cláusulas abusivas de ofício ʹ aos juízes de primeiro e segundo


graus de jurisdição, é vedado julgar, sem pedido expresso, a abusividade de cláusulas
nos contratos bancários, com fundamento no art. 51, do CDC.

( (   

Adaptação dos contratos à economia em larga escala, às relações de consumo


massificado. Objetivo de agilizar a contratação e atender à demanda da economia. Em
virtude da economia de massa, os fornecedores passaram a adotar os contratos de
adesão. Estes se caracterizam pela estipulação, unilateral, das cláusulas constantes do
contrato, pelo fornecedor, restando ao consumidor a liberdade de decidir se as aceita
ou não. O consumidor não participa da formação e inclusão das cláusulas no contrato.

Desses contratos, o CDC trata nos arts. 423 e 424.

O CDC define o contrato de adesão como aquele cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo
fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

Longe de proibir os contratos de adesão, o CDC objetiva dirigi -los de forma a


reduzir a desigualdade entre os contratantes.

Portanto, em consonância com os direitos básicos do consumidor, o contrato


de adesão deve ter seu conteúdo conhecido prévia e expressamente informado ao
consumidor, sob pena de nulidade.

Alguns contratos de adesão são fiscalizados por meio de autarquias ou agências


reguladoras (seguros ʹ SUSEP). Mesmo aprovados previamente pelo órgão regulador,
tais contratos são de adesão e podem ser discutidos judicialmente, caso divirjam das
determinações do CDC.

Caso seja inserida no contrato de adesão cláusula contratual exigida pelo


consumidor, não fica descaracterizada a natureza de adesão do contrato.

54
DIREITO DO CONSUMIDOR

Da resolução desse tipo de contrato trata-se nos arts. 474 e 475, do CC. A
cláusula resolutória se reserva para as hipóteses de inexecução contratual por uma das
partes, com ou sem culpa. De acordo com o CC, todos os contratos têm, ainda que
tacitamente, uma cláusula resolutória, uma vez que, havendo inadimplemento de uma
das partes, a outra pode requerer a rescisão contratual.

Especificamente quanto aos contratos de adesão, o CDC permite a inserção de


cláusula resolutória, desde que esta seja alternativa e que caiba ao consumidor a
escolha de manter ou não o contrato, mesmo estando inadimplente o fornecedor. Isso
posto, mesmo havendo cláusula resolutória expressa no contrato de adesão, cabe ao
consumidor decidir pela resolução do contrato.

Lesado o consumidor, ele poderá optar pelo cumprimento forçado da


obrigação por parte do fornecedor, ou pela resolução do contrato, requerendo a
indenização por perdas e danos, se cabível.

Além disso, a resolução se efetiva apenas após a devolução ao consumidor dos


valores devidos, bem como a compensação dos frutos percebidos e os prejuízos por
ele experimentados.

Em decorrência do direito básico de informação do consumidor, os contratos


de adesão devem ser redigidos de forma clara e com caracteres ostensivos e legíveis
(tamanho da fonte não inferior a 12, segundo a Lei 11.785/2008) .

Quaisquer cláusulas limitativas de direitos do consumidor devem ser redigidas


com destaque, permitindo a fácil e imediata compreensão dessas limitações pelo
consumidor (art. 54, § 2º). Trata-se da aplicação do princípio da transparência. Sendo a
redação dúbia e permitindo várias interpretações, adotar-se-á aquela que mais
favoreça o consumidor.

((  #   ï 

Cabe à União, aos Estados e ao DF o poder de editar normas gerais de consumo


com a finalidade de regulamentar a produção, a industrialização, a distribuição e o
consumo de produtos e serviços. É hipótese de competência legislativa concorrente,
prevista no art. 24, da CF.

O poder de fiscalização, que se insere no âmbito da competência material ou


administrativa, prevista no art. 23, da CF, é da União, do DF, dos Estados e dos
Municípios. Esse poder é descentralizado, isto é, não é exercido apenas e diretamente
pelos órgãos da Administração Direta, cabendo também às autarquias e às agências
reguladoras exercê-lo.

55
DIREITO DO CONSUMIDOR

A teor do art. 55, § 3º, podem ser formadas comissões permanentes para a
elaboração, revisão e atualização das normas emanadas da União, dos Estados e do
DF.

No ato de fiscalização, os órgãos poderão expedir notificação aos fornecedores


para que prestem informações de interesse dos consumidores. O não cumprimento
pode caracterizar crime de desobediência (CP, art. 330).

O art. 56 lista as espécies de sanções administrativas aplicáveis:

- multa;

- apreensão do produto;

- inutilização do produto

- cassação do registro do produto junto ao órgão competente;

- proibição de fabricação do produto;

- suspensão de fornecimento de produto ou serviço;

- revogação de concessão ou permissão de uso;

- cassação de licença do estabelecimento, de obra ou de atividade;

- intervenção administrativa;

- imposição de contrapropaganda.

Distinguem-se as    Y    (multa) das    Y    (que


envolvem bens e serviços prestados ʹ apreensão, inutilização, proibição de fabricação,
suspensão do fornecimento) e das    Y   (relativas à atividade empresarial
ou estatal dos fornecedores ʹ cassação de licença, interdição do estabelecimento;
contrapropaganda).

Quem as aplica é a autoridade administrativa, no exercício de suas atribuições


legalmente definidas.

Nada impede a cumulatividade das sanções aplicadas.

Nada obstante, a imposição de sanção administrativa deve se dar mediante


procedimento administrativo, assegurado o contraditório e a ampla defesa do
fornecedor, sob pena de nulidade. Havendo urgência, a penalidade poderá ser aplicada
por meio de medida liminar, deferida em juízo ou mediante incidente do
procedimento administrativo.

56
DIREITO DO CONSUMIDOR

Quanto à  , os critério de sua aplicação estão no art. 57, do CDC. A


autoridade deverá, para graduar a multa, analisar: a gravidade da infração, a vantagem
auferida pelo fornecedor e sua condição econômica. O valor mínimo é de 200 UFIRs e
o máximo, de 3.000.000 UFIRs. Quando atribuição for da União de aplicá -la, o
respectivo pagamento será revertido ao Fundo previsto na Lei de Ação Civil Pública (Lei
7.347/85), objetivando -se a reparação das lesões produzidas. As multas aplicadas
pelos Estados, DF e Municípios reverterão para os Fundos de proteção ao consumidor.

No tocante às  #    ï!     ï, a par da
responsabilidade do fornecedor perante o consum idor que suportou prejuízos, aquele
pode ser sancionado administrativamente com a apreensão, a inutilização do produto;
a cassação do registro do produto junto ao competente órgão; a proibição de sua
fabricação; a suspensão de seu fornecimento ou a revogação de concessão ou
permissão de uso. É o caso, por exemplo, de um medicamento que se revele perigoso
aos consumidores, caso em que a autoridade administrativa pode aplicar uma ou mais
sanções administrativas.

A reincidência na prática de infrações administrativas sujeita o fornecedor à


aplicação da sancão de cassação de alvará de licença, de intervenção e de suspensão
temporária de atividade. No caso de haver ação judicial em que se discuta a
penalidade administrativa, deve se observar o disposto no § 3º, do art. 59, segundo o
qual o infrator será considerado reincidente quando houver trânsito em julgado de
sentença condenatória, a exemplo do que ocorre no direito penal.

As concessionárias de serviços públicos se sujeitam à sanção de cassação da


concessão, caso deixem de cumprir o estabelecido no contrato administrativo firmado
com o ente público, ou no CDC.

Aplica-se a intervenção administrativa quando as circunstâncias


desaconselharem a cassação de licença, interdição ou suspensão de atividade (serviços
públicos essenciais).

Por derradeiro, a contrapropaganda é imposta quando o fornecedor se vale de


publicidade enganosa ou abusiva (art. 60, CDC). Seu objetivo, como já foi dito, é
desfazer os efeitos perniciosos causados por aquele tipo de publicidade, co nsistindo no
esclarecimento do engano ou do abuso cometido pelo anunciante. Os custos
decorrentes de sua aplicação são, naturalmente, do anunciante.

((   ) #" 

O CDC tipifica onze condutas como crimes contra o consumidor. Tratam-se de


tipos especiais, ou seja, contêm todos os caracteres dos tipos gerais e mais outros,
específicos. Embora algumas dessas condutas se amoldem às infrações
administrativas, são de tal forma ofensivas ao direito que a mera sanção administrativa

57
DIREITO DO CONSUMIDOR

se revela ou se considera insuficiente para a tutela do bem juridicamente protegido,


ou para reprimir e prevenir a sua prática.

A prática dos crimes contra o consumidor deve ser investigada por meio de
inquérito policial, via de regra, daí a determinação de serem criadas delegacias de
polícia especializadas nos atendimentos dos consumidores vítimas de infrações penais
de consumo.

A par dos tipos previstos no CDC, outros crimes contra o consumidor existem:

- no Decreto 22.626/33 ʹ crime de usura;

- Lei 1.521/51 ʹ crimes contra a economia popular;

- Lei 4.591/66 ʹ crimes relativos às incorporações imobiliárias;

- Lei 7.920/86 ʹ crimes contra o Sistema Financeiro da Habitação;

- Lei 8.137/90 ʹ delitos contra a ordem econômica.

Também no Código Penal há condutas que visam tu telar o consumidor:

- Art. 175 (fraude no comércio);

- Art. 177 (fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por


ações);

- Art. 272 (falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou


produtos alimentícios);

- Art. 273 (falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto


destinado a fins terapêuticos ou medicinais), que é, inclusive, crime hediondo (Lei
8.072/90, art. 1º, VII-B);

- Art. 274 (emprego de processo proibido ou de substância não permitida);

- Art. 275 (invólucro ou recipiente com falsa indicação);

- Art. 277 (substância destinada à falsificação);

- Art. 278 (substâncias nocivas à saúde pública);

- Art. 280 (medicamento em desacordo com a receita médica).

São as condutas criminosas previstas no CDC:

=YYY  Y Y Y   Y  Y Y   Y Y    Y


 Y  Y Y   Y Y Y   Y Y   Y

58
DIREITO DO CONSUMIDOR

Refere-se ao descumprimento do dever que o fornecedor tem de informar o


consumidor sobre a periculosidade ou nocividade dos produtos que coloca no
mercado. Sujeita-se o agente a uma pena de detenção, de 6 meses a dois anos, e
multa.

Na mesma pena (§ 1º) incorre quem deixar de alertar, mediante


recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidad e do serviço a ser prestado.

Admite-se a modalidade culposa (§ 2º), apenada com detenção, de um a seis


meses, e multa.

O tipo em questão tutela o direito à vida, à saúde e à segurança do consumidor,


bem como a clara e adequada informação sobre os produtos e serviços.

A periculosidade do produto, sem a qual inexiste o crime, é a chamada latente,


eis que é própria, típica do produto ou serviço, que pode muito bem ser
comercializado, exigindo, contudo, do fornecedor, que informe o consumidor dos
riscos ali presentes.

É crime omissivo próprio, que não admite a tentativa. Consuma -se


simplesmente com a não inserção das informações, na embalagem, dos riscos a que se
sujeita o consumidor. É também crime de perigo, o qual se presume diante da
exposição do consumidor à periculosidade do produto, de forma inadvertida.

=Y Y c  Y  Y   Y Y    Y     Y Y Y    Y Y


   Y Y     Y  Y   Y  Y     Y   Y    Y Y  Y
    Y Y   Y

Y _  Y Y    Y Y Y  Y Y Y  Y Y Y

Y _    Y  Y
  Y  Y   Y   Y  Y   Y  Y   Y  Y
   Y      Y   Y     Y   Y    Y     Y Y
  Y  Y Y   Y Y  Y  Y  

Tutela-se o mesmo bem jurídico do artigo anterior: a vida, a saúde e a


segurança do consumidor, bem como seu direito à plena informação sobre o produto.

A periculosidade, nesse caso, é a adquirida, constatado somente depois de o


produto ter sido colocado no mercado. Essa a princi pal diferença desse tipo em
relação ao tipo do art. 63.

Caso o Poder Público, no exercício de suas atribuições de fiscalização e de


defesa do consumidor, supra a omissão do fornecedor, e informe a sociedade sobre o
perigo do produto, não fica excluída a responsabilidade penal do fornecedor, nem
tampouco a civil ou administrativa.

59
DIREITO DO CONSUMIDOR

O sujeito passivo é o fornecedor, nesse caso o fabricante ou produtor,


estendendo-se a responsabilidade ao comerciante, na hipótese do parágrafo único.

É, também, crime omissivo próprio, que não admite tentativa. O núcleo do tipo
é   Y  Y    e   Y  Y   . O elemento subjetivo é o dolo do agente.
Não há previsão de modalidade culposa.

=Y Y   Y   Y  Y  Y  Y  Y     Y     Y


    Y Y    Y     Y

Y _  Y Y    Y Y Y  Y Y Y  Y Y Y

Y _    Y  Y =Y   Y   Y  Y  Y  Y  Y  


Y  Y
     YY  Y   Y YY  

Tipo que visa à proteção da vida, da saúde e da segurança do consumidor. A


periculosidade do serviço é a exagerada, isto é, aquela que obsta à prestação do
serviço, mesmo tendo o fornecedor tomado os devidos cuidados no tocante à
informação dos consumidores. O serviço cuja periculosidade seja exagerada
simplesmente não podem ser colocados no mercado.

Como a periculosidade exagerada há de ser aferida pela autoridade


competente, que determina sua não comercialização, cuida-se, aqui, de norma penal
em branco. Prevê-se, tão somente, a modalidade dolosa do crime.

Como é crime comissivo que se consuma com a prestação do serviço, é


perfeitamente admissível a tentativa. A consumação independe qualquer dano,
prejuízo ou lesão sofrida pelo consumidor. Aliás, se da prestação do serviço resultar
lesão ou morte do consumidor, aplicar-se-á a regra do concurso formal de crimes (art.
70, do CP).

=Y Y  Y   Y   Y Y    Y Y Y    Y     Y


  Y Y   Y    
 Y    Y    Y    Y     Y
   Y Y Y   Y Y  Y Y   Y

Y _  Y Y    Y YY  Y YY  Y Y Y

Y YY
  Y Y  Y  Y  Y   Y Y    Y

Y Y Y Y Y YY  Y

Y _  Y Y    Y YY Y Y  Y Y 

A tutela do tipo recai sobre o direito à informação verdadeira e transparente


sobre os produtos e serviços, que devem ter sua qualidade, quantidade, segurança,

60
DIREITO DO CONSUMIDOR

desempenho, durabilidade, preço e garantia corretamente especificados.


Concretização do princípio da veracidade da oferta (art. 31, d o CDC).

Sujeitam-se às penas previstas não apenas o fornecedor, mas também o


patrocinador (§ 1º), aquele que paga determinado valor para a veiculação da
informação inverídica. O sujeito passivo é o consumidor, seja direto ou por
equiparação.

O crime pode ocorrer na forma comissiva (fazer afirmação falsa ou enganosa...)


ou omissiva (omitir informações relevantes...). O crime admite a modalidade culposa.
Dá-se a consumação com a simples afirmação falsa ou enganosa acerca dos aspectos
elencados, prescindindo -se da ocorrência de qualquer resultado naturalístico (crime de
mera atividade).

=Y!Y Y Y   Y  Y  Y  Y Y   Y  Y Y    Y


Y  Y

Y _  Y Yc    Y YY  Y YY  Y Y 

Tipo que visa reprimir os excesso s na prática de publicidade que objetive


alavancar as vendas de um determinado produto ou serviço.

O sujeito ativo é o fornecedor, bem como o publicitário que confecciona a peça


de publicidade, e os responsáveis pela veiculação do anúncio nos meios de
comunicação. O sujeito passivo é o consumidor direto ou por equiparação.

Somente existe na modalidade dolosa. Como é crime plurissubsistente


(execução fracionada em vários atos), admite a tentativa.

=Y"Y Y Y   Y  Y  Y  Y Y   Y  Y Y  Y Y


 Y Y   Y Y  Y    Y  Y   Y   Y Y    Y Y  Y   Y Y
   Y

Y _  Y Y    Y Y Y  Y Y Y  Y Y 

Mais uma vez, busca-se proteger a vida, a saúde e a segurança do consumidor,


assim como seu direito à adequada e clara informação sobre o produto/serviço que
adquire, inclusive a respeito dos riscos trazidos . É tipo que pune a publicidade abusiva.

Sujeito ativo é o publicitário ou o fornecedor. O sujeito passivo é qualquer


pessoa exposta à publicidade ilícita.

Trata-se de crime comissivo, plurissubsistente, pelo que se admite a tentativa


(a peça publicitária está pronta e não foi veiculada por motivos alheios à vontade do
agente).

61
DIREITO DO CONSUMIDOR

Somente existe a modalidade dolosa.

=Y#Yc  Y Y   Y  Y Y Y Y 


 Y  Y Y  YY
  Y

Y _  Y Y    Y YY Y Y  Y Y 

O fornecedor tem o dever de manter os dados fáticos, técnicos e científicos que


comprovem a veracidade da mensagem publicitária veiculada. Tanto para esclarecer
qualquer interessado sobre aspectos do produto, quanto para se proteger da
responsabilidade decorrente do descumprimento desse dever. Responsabilidade essa,
aliás, que pode ser penal, conforme o art. 69, que tutela o direito à veracidade e
exatidão das informações veiculadas.

Sujeito ativo é o fornecedor anunciante. Sujeito passivo, o consumidor exposto


à publicidade.

É crime omissivo próprio, sendo inadmissível a tentativa.

=Y !$Y  Y  Y     Y  Y   Y  Y Y     Y  Y


    Y  Y Y    Y Y   Y

Y _  Y Y    Y YY  Y YY  Y Y .

O art. 21 determina que os serviços de reparação de produtos devem empregar


peças originais e novas, salvo se autorizado pelo consumid or a utilizar peças usadas.

Protege-se a transparência e a honestidade na prestação de serviços; e também


a saúde, a segurança e o patrimônio do consumidor.

É crime comissivo que admite a tentativa. Não se aperfeiçoa o tipo penal se o


consumidor houver consentido com o emprego de peças usadas no reparo de seu
produto. Não existe a modalidade culposa.

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A cobrança de dívidas do consumidor é permitida, observadas as restrições do


art. 42, do CDC. Assim, ocorre crime quando o consumidor não observa, dolosamente,
as limitações de seu direito de cobrar o débito do consumidor, expondo -o a vexame,
coação, constrangimento, atingindo sua liberdade, imagem e honra.

62
DIREITO DO CONSUMIDOR

Pratica o crime o fornecedor ou qualquer pessoa por este contratada com o fito
de realizar a cobrança ilegal. O sujeito passivo é o consumidor efetivo.

A jurisprudência considera como meios vexatórios: a) ameaçar o consumidor


inadimplente, constrangendo-o, sobretudo em seu local de trabalho, e incomodando
seus colegas de trabalho, submetendo-o a vexame e xingamentos; b) constrangê-lo
perante empregados e clientes; c) afixar cartaz ostensivo no estabelecimento
comercial.

Exige o dolo para seu aperfeiçoamento.

Tratando-se de crime formal, que se consuma com a efetiva utilização de


ameaça, constrangimento, coação, etc, independentemente do recebimento do valor
devido, tem-se que não admite ele a forma tentada.

=Y! Y
 Y Y Y Y   Y Y  YY   Y  Y  Y
 Y  Y Y   Y  Y Y  Y Y Y   Y

Y _  Y Y    Y Y Y  Y YY  Y Y .

Do direito básico do consumidor à informação, decorre que a ele deve ser dado
acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de
consumo arquivados sobre ele, bem como de suas respectivas fontes. É esse direito o
bem jurídico tutelado pelo tipo em questão.

Comete o crime aquele que detenha os dados cadastrais e descumpre seu


interesse.

Crime que depende de dolo do agente e que se consuma com a prática do ato
que impeça ou dificulte o acesso do consumidor às informações desejadas. Discutível é
a prática da tentativa, posto que se trata de crime formal.

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Y _  Y Y    Y YY Y Y  Y Y 

Tutela-se o direito de o consumidor de manter atualizados e corretos os dados


a seu respeito nos bancos de dados dos fornecedores e empresas que mantêm
cadastros de consumidores.

O sujeito ativo é o arquivista responsável pela manutenção dos registros.

A doutrina estabelece como razoável o prazo de cinco dias úteis para que a
correção dos dados seja efetivada.

63
DIREITO DO CONSUMIDOR

Crime praticado somente na modalidade dolosa, inclusive eventual (͞deveria


saber inexata͟).

É crime de mera atividade, unissubsistente, que não admite a forma tentada.

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   Y Y Y    Y  Y Y Y    Y

Y _  Y Y    Y YY Y Y  Y Y 

Tutela-se a garantia contratual, que é complementar à legal (art. 50), bem


como o patrimônio do consumidor.

Como é crime omissivo próprio ou puro, não admite a tentativa.

p Y   Y Y  Y   Y Y os crimes previstos na Lei 8.137/90


complementam a tutela penal do consumidor, entre outros, estabelecendo, no art. 7º,
as condutas criminosas contra as relações de consumo:

=Y!Yp Y Y  Y Y   Y Y   Y

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Y Y    Y Y  Y Y Y  Y   Y Y Y    Y Y
  Y Y  Y Y  Y Y  Y Y  Y Y      Y

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&Y = Y  Y  Y  Y  Y     Y  Y    Y  Y  Y Y  Y
   Y Y  Y

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64
DIREITO DO CONSUMIDOR


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Segundo o art. 75, do CDC, quem concorrer para os crimes ali estabelecidos
incide nas penas cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição a venda ou manutenção em depósito
de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições pelo CDC vedad as.

As penas dos crimes previstos no CDC são agravadas pelas seguintes


circunstâncias (art. 76):

- serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de


calamidade;

- ocasionarem grave dano individual ou coletivo;

- dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;

- quando cometidos:

- por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico -social


seja manifestamente superior à da vítima;

- em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior


de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental, interditadas ou não;

- serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou


quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.

A pena de multa é calculada de acordo com o disposto no Código Penal.

65
DIREITO DO CONSUMIDOR

Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser aplicadas,


cumulativa ou alternativamente, as penas de:

- interdição temporária de direitos (art. 47, CP);

- publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às


expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;

- prestação de serviços à comunidade (art. 46, CP).

Poderá ser concedida fiança, que será determinada pelo juiz ou pela autoridade
que presidir o inquérito, no valor de cem a duzentas mil vezes o valor do BTN, ou
qualquer outro índice que venha a substituí-lo. Conforme a situação econômica do
indiciado ou do réu, a fiança pode ser reduzida à metade de seu valor mínimo, ou
aumentada em vinte vezes.

Admite-se a ação penal subsidiária da pública, caso o Ministério Público não


intente a ação penal dentro do prazo que a lei lhe assinala.

A vítima poderá atuar no processo, como assistente de acusação.

((  c)   ! 

Os arts. 81 a 103, do CDC, tratam das disposições processuais, não se podendo


olvidar que o CDC é um microssistema jurídico. As normas do CPC são aplicadas de
forma subsidiária. Explica-se a disciplina processual própria em virtude da
indisponibilidade dos direitos referidos no CDC, bem como de sua especialidade.

=  Y    ʹ O CDC trouxe algumas hipóteses de demandas coletivas, a fim


de efetivar os direitos ali previstos. Nessas ações, segundo o art. 87, o autor não se
obriga a adiantar o pagamento das custas, emolumentos, honorários periciais ou
outras despesas. Pode, contudo, sucumbir nas custas e honorários se for comprovada
a má-fé da entidade autora da ação coletiva.

Condenada a autora por litigância de má-fé, será ela condenada a pagar os


honorários advocatícios e as custas decuplicadas, bem como os diretores responsáveis
pela propositura da ação, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

De se lembrar, ainda, que não se incluem na competência dos Juizados


Especiais Cíveis e Criminais as demandas que versarem sobre direitos ou interesses
metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), tanto no âmbito da
Justiça Federal como na Estadual.

c  Y Y   Y Y Y    ʹ São os chamados direitos


transindividuais ou metaindividuais, que não se limitam apenas ao indivíduo, afetando

66
DIREITO DO CONSUMIDOR

uma coletividade determinada ou indeterminada de pessoas, que têm algo em


comum.

Os direitos difusos são indivisíveis, titularizados por pessoas indeterminadas e


ligadas por circunstâncias de fato (art. 81, I);

Os direitos coletivos também têm natureza indivisível, e são titularizados por


um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base. Seus titulares são pessoas determinadas ou determináveis
(art. 81,II);

Os direitos individuais homogêneos são decorrentes de uma origem comum


(art. 81, III). São divisíveis, isto é, de titularidade individual. Os titulares são
determinados ou determináveis.

Os direitos difusos são insuscetíveis de apropriação, justamente por


pertencerem a toda a coletividade. Os coletivos são passíveis de serem apropriados,
sendo possível determinar seus sujeitos, ligados que estão por uma relação jurídica
base (uma categoria ou classe de pessoas). Relação jurídica base é aquela que é
comum a uma determinada coletividade de consumid ores, nascida da lei ou do
contrato. Os direitos individuais homogêneos são, na realidade, direitos individuais,
titularizados por pessoas determinadas ou determináveis que, por exemplo,
compartilham prejuízos de origem comum. Nesse último caso, a reparação do dano
será sempre divisível e poderá variar entre os integrantes do grupo. O que distingue os
direitos individuais homogêneos dos direitos individuais puros é o conteúdo social
relevante, a justificar seu caráter coletivo. Enquanto que os direitos indi viduais
homogêneos derivam de um fato comum, os direitos coletivos derivam de uma relação
jurídica base comum.

A doutrina distingue, ainda, os direitos essencialmente coletivos (difusos e


coletivos) dos acidentalmente coletivos (individuais homogêneos).

   Y YA legitimidade para ingressar com a ação coletiva é concorrente


dos seguintes órgãos:

- Ministério Público;

- União, Estados, DF e Municípios;

- entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que


sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses do
consumidor;

67
DIREITO DO CONSUMIDOR

- associações legalmente constituídas há pelo menos um ano que incluam entre


seus fins institucionais a defesa dos interesses do consumidor, dispensada a
autorização por assembléia.

Discute-se a legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação coletiva em


defesa de direitos coletivos ou individuais homogêneos. A doutrina e jurisprudência
majoritárias alinham-se pela legitimidade do _   , sempre que a demanda envolver
direitos que contenham suficiente abrangência ou repercussão social. No tocante aos
direitos difusos, sua legitimidade é indiscutível.

Relativamente às ações coletivas, o art. 90, do CDC, determina a aplicação


subsidiária da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) e do Código Processual Civil,
inclusive no que atina ao inquérito civil.

Os arts. 91 a 100 tratam especificamente das ações em defesa dos interesses


individuais homogêneos, com vistas à reparação de danos provocados à vítima, que
não se encontram previstas na Lei de Ação Civil Pública. Primeiramente, a ação poderá
ser proposta, pelos legitimados do art. 82, em nome próprio (legitimação
extraordinária) e no interesse das vítimas ou seus sucessores. No caso de o Ministério
Público não ser o autor da ação, deverá atuar obrigatoriamente como fiscal da lei (art.
92). Contudo, não atuará como  Y   se a vítima ingressar individualmente
contra o causador do dano.

p   Y Y Será competente a Justiça Federal nas causas em que a União,


entidade autárquica ou empresa pública federal tiver interesse, como autora, ré,
assistente ou oponente. Não havendo qualquer um desses entes como parte
interessada, a ação será processada perante a Justiça Estadual.

Determinada a competência    Y    , a ação coletiva poderá ser


proposta:

- no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando o âmbito for
local; ou

- no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de


âmbito nacional ou regional, aplicando -se as regras do CPC, nos casos de competência
concorrente.

Como se vê, o foro tem sua competência determinada em razão da abrangência


territorial dos danos. Repercutindo esses nacionalmente, a ação deverá ser proposta
no Distrito Federal (para facilitar o acesso à justiça e o próprio exercício do direito de
defesa por parte do réu, não tendo sentido que ele seja obrigado a litigar na capital de
um Estado, longínquo talvez de sua sede, pela mera opção do autor coletivo). Nada
obstante, a jurisprudência majoritária entende que, diante da abrangência nacional

68
DIREITO DO CONSUMIDOR

dos danos, há competência concorrente entre a Capital dos Estados e o DF. Sendo
circunscrito apenas no âmbito local, a competência é a do foro do lugar respectivo.
Atingindo vários municípios, a competência será do foro da Capita l do Estado.

  ʹ Permitido pelo art. 94 do CDC. Proposta a ação, o juiz mandará
publicar edital, para que as vítimas se habilitem como co -autoras da ação.

   Y    ʹ A sentença, de acordo com o pedido formulado, pode ser


declaratória (nulidade de aumento de mensalidades escolares), constitutiva ou
condenatória (condenação a ressarcir os danos provocados por fato do produto).
Nesse último caso, a condenação será genérica, limitando-se a fixar a responsabilidade
do réu pelos danos provocados. Entretanto, a sentença deverá, ainda, ser liquidada
para a apuração dos danos.

   ʹ poderá ser proposta pelas vítimas e os seus sucessores, bem como


os legitimados extraordinários (art. 82). Para que a execução se dê de forma coletiva,
basta a extração de certidão das sentenças de liquidação, das quais deverão constar as
respectivas certidões de trânsito em julgado. No processo de liquidação da sentença,
que tem natureza cognitiva, o   da indenização deverá ser fixado. Para a
execução individual da sentença, o juízo competente é o da liquidação da sentença ou
o do processo de conhecimento. Sendo coletiva, o juízo competente é o da ação
condenatória. Concorrendo na execução títulos provenientes de ação individualmente
proposta pelo consumidor e de ação civil pública, cuja causa de pedir seja o mesmo
evento danoso, terá preferência o crédito individual sobre o crédito coletivo. Os
legitimados extraordinários do art. 82 poderão propor execução da indenização após o
transcurso de um ano sem que tenha havido habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano. O montante recebido em execução coletiva
reverterá para o fundo de reparação, criado pela Lei de Ação Civil Pública. Quando se
tratar de execução de sentença proferida em processo versando sobre direitos
individuais homogêneos, somente o saldo remanescente é que reverterá ao fundo.
Assim, a execução dos interesses individuais homogêneos se dá de maneira individual,
no prazo de um ano a partir do trânsito em julgado d a sentença condenatória.
Ressalte-se que, se alguma quantia relativa à condenação em ação de direitos
individuais homogêneos reverter ao fundo, por inércia dos titulares individuais na
execução da decisão que lhes é favorável, sua quota permanecerá disponível para
eventual atendimento.

p  Y   ʹ os efeitos da coisa julgada, nas ações coletivas, não


prejudicarão os interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do
grupo, categoria ou classe. A regra do CPC, quanto à coisa julgada, não se aplicam às
ações coletivas, cuja disciplina é própria.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

De acordo com o art. 103, do CDC, a sentença fará coisa julgada nos seguintes
casos:

- ação coletiva em defesa dos interesses difusos ʹ efeito  Y  , exceto se


o pedido for julgado improc edente por insuficiência de provas, caso em que qualquer
legitimado poderá ingressar novamente em juízo, com idêntico fundamento, valendo -
se de nova prova.

- ação coletiva em defesa dos interesses coletivos ʹ efeito  Y   ,


limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo no caso de improcedência por
insuficiência de provas, hipótese em que a ação poderá ser novamente proposta, com
idêntico fundamento, alicerçando-se em novas provas.

- ação coletiva em defesa de interesses individuais homogêneos ʹ efeitos  Y


 , somente no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e
seus sucessores. Julgada improcedente a ação, os interessados que não tiverem
participado do processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a
título individual. Dessa forma, sendo litisconsorte na ação coletiva, o particular lesado
será atingido pela decisão favorável ou desfavorável.

Nas ações coletivas em defesa de interesses difusos ou de interesses coletivos,


julgado o pedido improcedente, por motivo que não seja a insuficiência de provas, a
coisa julgada produzirá efeitos  Y  .

  Y Y  Y  ʹ Conforme o art. 104 do CDC, ͞as ações coletivas
(interesses difusos ou coletivos) não induzem litispendência para as ações ind ividuais,
mas os efeitos da coisa julgada  Y  You  Y   a que aludem os incisos II e
III do art. 103 não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida
sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos d o ajuizamento da
ação coletiva͟.

Dessa forma, o particular lesado que move ação individual contra o fornecedor
deverá requerer a suspensão de seu processo, no prazo de 30 dias, para que possa se
beneficiar da ação coletiva cujo objeto seja a defesa de int eresses coletivos ou
individuais homogêneos. Julgada improcedente a ação coletiva, e não tendo feito a
decisão coisa julgada material, a ação individual retoma seu curso. Não suspendendo
sua ação, o particular ficará excluído da eficácia da ação coletiva, podendo ou não
ocorrer contradição entre os julgados.

  Y  Y  Y Y  Y  Y   ʹ Deixando o fornecedor de cumprir


obrigação de fazer ou de não fazer, prevista no contrato ou na lei, o consumidor
poderá invocar o art. 84, do CDC, e requerer em ju ízo que se conceda a tutela
específica da obrigação ou a determinação de providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao adimplemento previsto na lei ou no contrato. No caso de

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DIREITO DO CONSUMIDOR

inadimplência do fornecedor, o consumidor poderá requer a convers ão da obrigação


em perdas e danos, o que ainda é possível no caso de impossibilidade da tutela
específica ou da obtenção de resultado prático equivalente à obrigação assumida pelo
fornecedor. A conversão em perdas e danos não prejudica as    eventualmente
impostas, que tem cunho processual, enquanto que as perdas e danos têm índole
material.

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