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Educação e
movimentos
movimentos
sociais
sociais
BOLETIM 03
ABRIL 2005
BOLETIM 03
ABRIL 2005
SUMÁRIO
PROPOSTA PEDAGÓGICA
EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS .................................................................................................................... 03
Paulo Afonso Barbosa de Brito
PGM 1
MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES ....................................................................................................................... 14
Movimentos sociais: aspectos históricos e conceituais
Paulo Afonso Barbosa de Brito
PGM 2
ASSOCIATIVISMO COMUNITÁRIO E LUTAS URBANAS ...................................................................................... 22
Relação estado e sociedade civil na construção dos Direitos Humanos
Francisco Mesquita de Oliveira
PGM 3
IDENTIDADES E SOLIDARIEDADES ......................................................................................................................... 27
Educação popular e movimentos de mulheres
Carmen Silvia Maria da Silva
PGM 4
CULTURAS JUVENIS .................................................................................................................................................... 33
Movimentos juvenis: mudanças e esperanças
Nerize Laurentino Ramos
Paulo Afondo Barbosa de Brito
PGM 5
REDES E FÓRUNS SOCIAIS ......................................................................................................................................... 40
O Movimento das Redes e as Redes de Movimentos
Carmen Silvia Maria da Silva
Luciene Mesquita (Mana)
Os Movimentos Sociais Populares emergiram no contexto social e político brasileiro com uma
fantástica capacidade criativa, organizativa e mobilizadora, principalmente na década de 80, sendo
responsáveis por expressivas conquistas que garantem melhorias na qualidade de vida de amplos
setores sociais, afirmação de direitos e exercício da cidadania para um número cada vez maior de
agrupamentos humanos, construção de identidades coletivas e auto-estima pessoal e social de
setores e grupos historicamente discriminados ou oprimidos, intervenção nas políticas públicas,
modificando ou inibindo as seculares práticas assistencialistas e clientelistas, contribuindo assim
para mudanças em nível do poder local e da política tradicional. Tais conquistas são permeadas por
processos educativos, tanto dos participantes diretos de tais movimentos, quanto das pessoas e
grupos atingidos por sua ação e da sociedade envolvente.
Esta rápida apresentação – quase em forma telegráfica – do que existe atualmente de movimentos
organizados no país quer valorizar o conjunto dos movimentos e organizações existentes e evitar os
riscos de separação entre os movimentos de reivindicação e os movimentos identitários, ou entre os
da sobrevivência e os da cidadania. Estamos optando por uma apresentação didática sucinta, uma
vez que não concordamos com a dicotomia criada entre identidade e estratégia, ou entre existência e
cidadania. Consideramos que há um continuum ou uma articulação entre estas dimensões. Neste
sentido, consideramos importante a ação de tais movimentos, que vai desde a indicação de
representantes para a participação nos Conselhos setoriais de proposição e gestão de políticas
públicas, nas Conferências de definição de políticas, nas passeatas e nas ocupações de terras rurais e
urbanas, até as campanhas de amamentação, de uso do “soro caseiro”, da fabricação comunitária de
complemento alimentar de alto teor nutricional, ou outras pequenas iniciativas populares capazes de
ter incidência na diminuição da mortalidade infantil. Ou seja, uma série de distintas iniciativas que
dialogam de forma diferenciada, mas complementar, com resultados para melhorar a qualidade de
vida das pessoas e o seu modo de vida.
O importante neste momento é registrar que estas expressões organizativas mobilizam grupos
específicos, levantam bandeiras bem definidas, apresentam formas diversas de mobilização,
conseguindo consistência cada vez maior, construindo teias de articulação às vezes invisíveis e
redes de comunicação e solidariedade responsáveis por importantes conquistas. Entre estas
podemos destacar:
- Auto-estima pessoal e solidariedade social – muita gente confirma que passou a se valorizar
mais, a se amar mais, a defender sua dignidade humana, a partir de sua participação em alguma
2. Objetivos da série
• Aprofundar o debate atualizado sobre o papel dos movimentos sociais, seus modelos
organizativos, suas bandeiras de luta, sua constituição enquanto sujeitos sociais, sua dimensão
educativa e emancipatória;
• Debater as diversas expressões dos movimentos sociais, destacando o que diferencia e o que
unifica esses movimentos;
• Relacionar a ação dos movimentos sociais e do conjunto da sociedade civil, com um projeto
político e pedagógico da educação brasileira;
3. Fundamentação teórica
A prática e a temática dos movimentos sociais se incorporam como objetos de estudo das ciências
humanas e sociais, projetando-se, em seguida, como um novo paradigma, devido à grande
importância prática e analítica que tais objetos de estudo atingiram, tanto na sua concepção
empírico-analítica, quanto na sua dimensão de categoria teórica. Daí a grande atração que a
problemática provoca para as principais escolas teóricas das ciências humanas e sociais
contemporâneas.
Os principais estudiosos dos movimentos sociais no Brasil gravitam entre as correntes teóricas
neomarxistas e a corrente teórica culturalista-acionalista. Esta última foi gradativamente se
consolidando como teoria dos novos movimentos sociais 2 .
Nossa perspectiva teórica assume um distanciamento dos esquemas utilitaristas e das teorias
baseadas na lógica racional. E, ao fazer o diálogo com a teoria dos novos movimentos sociais,
assumimos esquemas interpretativos que enfatizam o cotidiano, a cultura, a ideologia, as lutas
sociais, a solidariedade entre pessoas e grupos, os processos de construção de identidades coletivas
e de vivências de subjetividades. Mas enfatizamos, sobretudo, a centralidade da ação social como
ação política, portanto, como construção de força social-política, que tem um valor em si mesma
através do vínculo social, e um valor universal, contribuindo para os processos de consolidação da
democracia participativa.
A experiência brasileira, tanto na peculiaridade dos movimentos sociais, que têm em seu interior
forte hegemonia da parcela conhecida como movimentos populares, quanto no “ineditismo” de
experiência da democracia participativa 3 , reforça tal opção teórica e metodológica.
Nesta opção interpretativa, consideramos importante retomar o conceito de movimentos sociais, tal
qual assumido por Eder Sader, um dos seus principais estudiosos no Brasil, herdeiro de certa
tradição emancipacionista marxista. Tal conceito inova ao romper com esquemas rigidamente
predeterminados, priorizando dimensões mais da ação que de estruturas, mais de movimento que de
Para uma teorização dos movimentos sociais, Alberto Melucci propõe um roteiro com cinco pontos
centrais:
1º) A construção da ação coletiva, em que enfatiza que o agir coletivo não é o resultado de forças
naturais ou de leis necessárias da História, nem simplesmente produto de crenças e de representação
de atores; é um objeto construído pela vontade consciente;
2º) Aponta cinco princípios de análise dos movimentos sociais: a) Um movimento social não é uma
resposta a uma crise, mas uma expressão de conflito; b) Um movimento social é uma ação coletiva
cuja orientação comporta solidariedade, manifesta um conflito e implica a ruptura dos limites de
compatibilidade do sistema ao qual a ação se refere; c) O campo analítico da ação de um
movimento social depende do sistema de relações no qual tal ação coletiva se situa e à qual ele se
refere; d) Todo movimento concreto contém sempre uma pluralidade de significados analíticos; e)
Cada movimento é um sistema de ação coletiva, com oportunidades e vínculos;
5º) A ação invisível aqui aponta uma aproximação com a Teoria da Mobilização de recursos, mas
não se confunde com a mesma.
Este é um roteiro-proposta para teorizar os movimentos sociais numa sociedade complexa, ou, para
quem preferir outras adjetivações, pode ser sociedade pós-industrial, destacando os conflitos e os
Embora o modelo analítico proposto por Melucci apresente um arcabouço teórico consistente, o
mesmo salienta que este modelo refere-se às sociedades complexas, na realidade de países como os
da América Latina, onde movimentos relevantes ainda se situam na reivindicação por terra,
moradia, saúde, direitos humanos fundamentais. Certamente que o diálogo com a teoria dos
movimentos sociais precisa ser relacionado com tudo o que se tem elaborado em torno da
construção de redes sociais.
No sentido das Redes sociais, Ilse Scherer-Warren define rede como “uma articulação de diversas
unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente,
e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto,
na medida em que são fortalecidas por ele” 6 (Scherer-Warren, 1999). Esta autora resgata ainda a
contribuição de Castells em torno das redes sociais e suas características de intensividade,
extensividade, diversidade, integralidade e realimentação. “Está aí embutida a idéia de que a rede
poderá assumir um caráter propositivo, tendo em vista o seu efeito multiplicador e conseqüente
mecanismo de difusão simbólica de novos valores e de empoderamento dos movimentos. Portanto,
a rede desempenha, segundo esta ótica, um papel estratégico, enquanto elemento organizador,
articulador, informativo e de empoderamento do movimento no seio da sociedade civil e para
relação com outros poderes instituídos” 9 (Scherer-Warren, 2001).
Outra referência mais tradicional, mas que certamente oferece uma grande contribuição ao debate
atual sobre as conseqüências da ação dos movimentos sociais e, portanto, também ao atual debate
sobre redes, pode ser encontrada nos estudos de Antonio Gramsci, através dos conceitos de luta
ideológica, hegemonia, bloco histórico, guerra de posição e guerra de movimento, vontade coletiva,
unidade intelectual e moral... Como tal referência enfatiza a ação política como ato criador, criativo,
inovador, provoca inovações, ou resgata primitivas elaborações no interior do marxismo,
fornecendo consistência para o debate que estamos travando. Pois, ao valorizar a ação, Gramsci não
menospreza o papel das estruturas, uma vez que “(...) a ação nasce no terreno permanente e
orgânico da vida econômica, mas supera-o, fazendo entrar em jogo sentimentos e aspirações em
cuja atmosfera incandescente o próprio cálculo da vida humana individual obedece a leis diversas
do proveito pessoal”. Nesta mesma linha, retoma o papel da identidade, mas articulando-a com o de
organização: “(...) uma multiplicidade de vontades desagregadas, com fins heterogêneos, se
Tal perspectiva analítica parece muito importante para os debates dessa série, pois concentra a
reflexão em torno das disputas de hegemonia, através do processo de consolidação da práxis social.
Ainda no debate em torno da ação da sociedade civil, na relação com o trabalho das redes, podemos
destacar as contribuições de Jean Cohen e Andrew Arato, ao conceber a sociedade civil como rede
de associações autônomas, com interesses comuns, que deve exercer o controle sobre o Estado,
utilizando meios institucionais ou informais. Nesta perspectiva, apontam ainda como composição
da sociedade civil os seguintes elementos: a) Pluralidade – famílias, grupos informais, associações
voluntárias; b) Pluralidade – instituições de cultura e comunicação; c) Privacidade – domínio e
autodesenvolvimento de escolha moral; d) Legalidade – leis gerais e direitos básicos 8 (Oliveira,
2003).
Temas que serão abordados na série Educação e movimentos sociais , que será apresentada no
programa Salto para o Futuro/TV Escola de 10 a 15 de abril de 2005:
Este programa vai apresentar uma introdução inicial aos movimentos sociais populares, destacando
alguns conceitos fundamentais. Neste sentido, serão discutidos: a composição social dos
movimentos sociais populares, suas bandeiras de luta e reivindicações, suas estratégias e seus
objetivos, seus modelos organizativos, e ainda: os métodos de ação, os diversos tipos de
movimentos, as alianças e os interlocutores, a cultura política e as práticas educativas que os
movimentos sociais populares desenvolvem ou fortalecem.
Este programa deverá discutir as questões dos movimentos que se formam a partir de identidades
coletivas, de enfrentamentos de discriminações e opressões específicas, ou a partir de valores éticos
de defesa da vida. Neste sentido, deverão ser destacados os movimentos de mulheres, de negros, de
portadores de necessidades especiais, de meninos e meninas de rua, de homossexuais, de ajuda
humanitária, de presença fraterna e solidária junto a grupos empobrecidos. Este programa deverá
destacar, portanto, as experiências organizativas em que as pessoas se sentem bem-vindas, amadas e
respeitadas nos grupos de que participam, condição para a elevação da auto-estima pessoal e
coletiva, experiências de solidariedade que estão ajudando as pessoas a viverem melhor, a se
libertarem dos preconceitos e das discriminações. Deverão ser evidenciadas as aprendizagens e
práticas educativas que conduzem à elevação da auto-estima, a novas relações de gênero e etnia,
bem como os impactos sociais advindos dessas práticas, como a diminuição da mortalidade infantil
e materna, os projetos de segurança alimentar.
Este programa vai discutir como os movimentos sociais e suas articulações em Fóruns e Redes
estão conseguindo construir estratégias de sobrevivência e de elevação da qualidade de vida para
amplos setores e grupos sociais, criando formas de relações horizontais que fortalecem os próprios
movimentos e a sociedade civil e, a partir daí, propondo novos processos democráticos e novos
modelos de desenvolvimento. Deverá debater, também, os processos educativos desenvolvidos a
partir das práticas sociais e econômicas, que tornam os participantes dos movimentos sociais, de
suas redes e fóruns mais capacitados para proposição de modelos organizativos e produtivos para
suas próprias organizações e para a sociedade brasileira.
Bibliografia
DAGNINO, Evelina. Anos 90: política e sociedade no Brasil (Os Movimentos sociais e a
emergência de uma nova noção de cidadania). São Paulo: Brasiliense, 1994.
GENRO, Tasso Fernando. O futuro por armar: democracia e socialismo na era globalitária.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
HABERMAS, Jurgen. Direito e democracia: entre factividade e validade. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997.
JACOBI, Pedro. Movimentos sociais e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1993.
LYRA, Rubens Pinto. Textos de teoria política. João Pessoa, PB: UFPB/ FUNAPE, 1989.
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena: falas e lutas dos trabalhadores da
Grande São Paulo, 1970 – 1980. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Notas
2 Maria Glória Gonh, embora reconheça que estes dois blocos não possam ser
separados com uma delimitação muito precisa, nem que eles sejam homogêneos
internamente, reconhece traços identificadores de um e outro bloco. Gonh cita como
representantes da corrente neomarxista os historiadores Hobsbawm, Rude e
Thompson; além dos teóricos ligados à corrente histórico-estrutural representada por
Castells, Borja e Lojkine. E, na corrente dos novos movimentos sociais, destaca três
linhas: a histórico-política, de Clauss Offe; a psicossocial de Alberto Melucci, Laclau
e Mouffe; a acionalista de Alain Touraine (Gonh, 1997, p. 119).
A história brasileira é profundamente marcada pela efervescência dos Movimentos Sociais, embora
só muito recentemente estes tenham aparecido com o lugar de destaque nas publicações e registros
da história oficial. Faz-se necessário resgatar a dívida social e histórica que a nação tem com os
empobrecidos e trabalhadores, enquanto se organizam e lutam por direitos, tanto para
reconhecimento de sua participação na constituição da própria nação, quanto para o reconhecimento
da pluralidade de sujeitos sociais presentes na dinâmica política nacional.
Outro movimento social, inspirado em valores liberais (de forte influência na Europa naquele
período), mas formado, em grande parte, por setores minoritários das elites, como religiosos,
advogados, poetas, foi o abolicionismo, que também teve papel importante para que a nação
superasse esta terrível fase de sua história.
Durante todo o século XX, possivelmente, o movimento sindical se expressou como a principal
forma de organização entre os movimentos sociais, tendo assumido diferentes influências, como a
dos anarquistas no início do século, dos trabalhistas e dos comunistas entre a década de 30 e o
Golpe Militar de 1964, do novo sindicalismo (que veio a se consolidar na construção de Central
Única dos Trabalhadores – CUT), a partir da década de 80.
Para esse texto, que visa oferecer subsídios para os debates do programa 1 desta série de programas,
concentraremos nossa análise nos chamados novos movimentos sociais, que tiveram os primeiros
ensaios nas décadas de 60 e 70, mas puderam se expressar com maior dinamicidade e mobilidade a
partir da década de 80.
Esta rápida apresentação, quase em forma telegráfica, do que existe atualmente de movimentos
organizados no país, quer valorizar o conjunto dos movimentos e organizações existentes, e evitar o
risco de separação entre os movimentos de reivindicação e os movimentos identitários, ou entre os
da sobrevivência e os da cidadania. Estamos optando por uma apresentação didática sucinta, pois
não concordamos com a dicotomia criada entre identidade e estratégia, ou entre existência e
cidadania. Consideramos que há um continuum ou uma articulação entre estas dimensões. Neste
sentido, consideramos importante a ação de tais movimentos, que vai desde a indicação de
representantes para participação nos Conselhos setoriais de proposição e gestão de políticas
O importante neste momento é registrar que, embora estas expressões organizativas mobilizem, a
cada vez, grupos específicos, levantem, a cada vez, bandeiras bem definidas, apresentem, a cada
vez, formas diversas de mobilização, elas têm conseguido consistência cada vez maior, construindo
teias de articulação às vezes invisíveis e redes de comunicação e solidariedade responsáveis por
importantes conquistas. Entre estas podemos destacar:
Destacamos, neste texto, a experiência dos Movimentos Sociais Populares, com todos o
significados anteriormente explicitados, não só no Brasil, mas em todo o mundo. E o Fórum Social
Mundial (que não é composto só por Movimentos Sociais, mas tem importante participação destes)
é a expressão mais visível deste significado, e se incorpora como objeto de estudo das ciências
humanas e sociais, projetando-se, em seguida, como um novo paradigma, devido à grande
importância prática e analítica que atingiu, tanto na sua concepção empírico-analítica, quanto na sua
dimensão de categoria teórica.
Pelas razões apresentadas até aqui, em torno da concepção e das práticas dos movimentos sociais,
nossa perspectiva teórica assume um distanciamento dos esquemas utilitaristas e das teorias
baseadas na lógica racional. E, ao fazer o diálogo com a teoria dos novos movimentos sociais,
assumimos esquemas interpretativos, que enfatizam o cotidiano, a cultura, a ideologia, as lutas
sociais, a solidariedade entre pessoas e grupos, os processos de construção de identidades coletivas
e de vivências de subjetividades.
Os conceitos que pretendam captar a dinamicidade dos novos movimentos sociais precisam inovar,
rompendo com esquemas rigidamente predeterminados, priorizando dimensões mais da ação que de
estruturas, mais de movimento que de classe estruturalmente dada, mais de simbólico-cotidiano que
de racionalidade proletária. Daí que se reforça a necessidade da análise a partir das subjetividades e
identidades, bem como dos imaginários e dos sistemas simbólicos que permeiam suas práticas e
dinâmica de funcionamento.
Mas, se faz necessário enfatizar, a centralidade da ação social como ação política, portanto como
construção de força social-política, tem um valor em si mesma através do vínculo social, e um valor
universal, contribuindo para os processos de consolidação da democracia participativa.
A experiência brasileira, tanto na peculiaridade dos movimentos sociais, que têm em seu interior
• Movimentos Sociais como expressão dos Conflitos na Sociedade – a parte mais visível destes
conflitos está em torno dos direitos de propriedade, uma vez que as lutas por terra, por moradia, por
água, enfrentam-se com a tradição de concentração das terras e das riquezas, tão fortemente
presentes na história brasileira. Mas também os conflitos de valores, como os presentes nas relações
de gênero, de raça, de gerações.
Notas
Por construção política do Estado, entende-se o processo de concepção do Estado, que lhe deu
forma, expressão, jeito de agir e de se relacionar, em suma, a forma como ele foi configurado.
Nesse sentido, o Estado brasileiro, grosso modo, passou por duas grandes fases: o Estado imperial,
que fundou as primeiras bases políticas, econômicas e sociais da nossa sociedade, e o Estado
republicano.
- Dos anos 30 aos anos 50, o Estado se moderniza na lógica capitalista moderna. Nasce a elite
urbana, que assume o processo de consolidação do Estado, sem, contudo, incorporar novos valores
e práticas culturais, mas apenas reproduzindo novos padrões da velha cultura política.- Nos anos 60
e até meados dos anos 80, período dos governos militares, o Estado rompeu todas as possibilidades
de relação com a sociedade civil. Vivemos o “período de chumbo”. Ou seja, intensa perseguição às
liberdades, atitudes e práticas políticas. - Na era de Redemocratização, com a Constituição de 1988,
e até os dias atuais, surgem novos elementos que reconfiguram o Estado, como a doutrina
- Mas, no geral, tem-se observado que em grande parte as parcerias têm sido mais uma transferência
de responsabilidade do Estado para a sociedade civil. É o Estado assumindo a lógica neoliberal de
desresponsabilizar-se dos serviços sociais (que tem tudo a ver com os direitos humanos),
repassando-os para o mercado e para a sociedade executar. Nessa concepção de parceria, as
organizações da sociedade civil não passam de meras executoras de serviços públicos. É a inversão
Bibliografia
ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR, Arturo. O cultural e o político nos
movimentos sociais latino-americanos. In: ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR,
Arturo (orgs.). Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras. Belo
Horizonte: UFMG, 2000. Cap. 1, p. 15-57.
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo. Pós-
neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
p. 9-23.
ARMANI, Domingos. A dinâmica dos atores sociais no Brasil. Porto Alegre: [s.n.], 2000.
Mimeografado.
BARRETO, Maria Inês. As organizações sociais na reforma do Estado brasileiro. In: PEREIRA,
Luiz Carlos Bresser; GRAU, Nuria Cunill (orgs.). O público não-estatal na reforma do Estado. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. Cap. 4, p. 107-150.
BATISTA, Maria da Conceição Araújo. A relação governo e sociedade na gestão da política pública
de esporte e lazer no governo do Estado: gestão 1999-2001: analisando o projeto “Idosos em
Movimento”. 2002. 182 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Centro de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Apresenta dados sobre as eleições 2000. Disponível em:
<http://www.tse.gov.br>.BUARQUE, Cristovam. A missão do PT e de seus governos. In:
MAGALHÃES, Inês; BARRETO, Luiz; TREVAS, Vicente (orgs.). Governo e cidadania: balanço e
reflexões sobre o modo petista de governar. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999. p. 46-50.
COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis: Vozes, 1994. p.
108-136.COMBLIN, José. O neoliberalismo: ideologia dominante na virada do século. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 2000. p. 9-187. (Coleção Teologia e Libertação, Série VI - Desafios da Cultura).
DAGNINO, Evelina. Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. In: DAGNINO, Evelina (org.).
Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo: UNICAMP: Paz e Terra, 2002. cap. 1, p. 9-
15.
______. Sociedade civil, espaços públicos e a construção. In: DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade
Civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo: UNICAMP: Paz e Terra, 2002. Cap. 8, p. 279-301.
______. et al. Sociedade civil e democracia: reflexos sobre a realidade brasileira. IDÉIAS-Revista
do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, Campinas, ano 5(2) /6(1), p. 13-42,
1998/1999.
Nota
IDENTIDADES E SOLIDARIEDADES
Tem muita gente espalhada por este Brasil afora fazendo coisas para mudar o mundo e uma boa
parte mantém a Educação Popular como fontes de inspiração e de aprendizagem contínuas. Mas
quem são estas pessoas? Por que insistem em desenvolver ações referidas à educação popular?
Onde trabalham? O que fazem? São homens e mulheres, educadores e educadoras populares, que
seguem acreditando numa perspectiva de transformação social a partir da luta dos empobrecidos,
discriminados, violentados, daqueles que são excluídos dos processos decisórios e do direito à
expressão. Educadores e educadoras populares, engajados em entidades de movimentos sociais,
organizações não-governamentais, pastorais e serviços eclesiais, universidades e sindicatos, que
continuam fazendo o mundo mudar, ajudando a desenvolver consciência crítica e solidária, a
organizar grupos que manifestam seus interesses e constroem direitos. Homens e mulheres que
trabalham acompanhando os esforços de atuação articulada dos movimentos em redes, as
intervenções junto aos poderes públicos, a organização de novas formas econômicas e a
participação política. São pessoas para as quais a democracia, a justiça e a ética são ideais de vida
manifestos na conflitiva experiência cotidiana.
Educação Popular é vista aqui como uma concepção pedagógica, mais precisamente um ideário
educacional que alimenta um conjunto de práticas sociais, marcadas fortemente pela dialogicidade e
pela perspectiva de formação de sujeitos autônomos, críticos e criativos, que se mobilizam pela
transformação social. Nascida das idéias de Paulo Freire, a educação popular inspirou-se nas
experiências revolucionárias latino-americanas e na experiência de formação dos novos
movimentos sociais no período da redemocratização, ao final da ditadura militar no Brasil. Neste
processo, constituiu-se como um ideário ético, político e educacional, que congrega valores e
problemas decorrentes deste processo histórico.
A redemocratização da sociedade brasileira foi alimentada, a partir de meados da década de 70, com
o aparecimento na cena política de manifestações públicas em torno de interesses comuns,
Manifestações contra a carestia; em defesa da anistia aos presos e exilados políticos; as greves
salariais; as passeatas por acesso à saúde, à educação, ao transporte coletivo; o movimento pela
cultura negra; os grupos de arte na rua; os grupos de mulheres se afirmando como cidadãs, donas do
seu próprio corpo – todos estes movimentos, entre outros, levaram às ruas milhares de pessoas que
se percebiam com força para alterar o rumo da história. Mas quem são essas pessoas? Por que, de
repente, foram às ruas? Eram, em grande número, componentes de uma rede invisível de pequenos
grupos de bairros periféricos, de escolas e universidades, de trabalho, teatros, igrejas e bares, que
faziam resistência cotidiana às formas de dominação e participavam de pequenas lutas por melhores
condições de vida, pelo direito à participação, por alterações culturais ou pela garantia da liberdade
de ter um estilo de vida particular.
A Educação Popular, à época, foi uma presença forte nessas organizações de grupos, expressa nas
experiências de alfabetização de adultos, acompanhamento sistemático a grupos populares,
formação política e sindical, entre outras. As idéias de Paulo Freire, que articulavam ação cultural e
prática política, mesclaram-se a outros fundamentos destes novos movimentos sociais, para dar
vigor ao debate sobre autonomia dos sujeitos, processos de transformação, democracia e
organização de base, igualdade de direitos e construção de novos direitos.
Muitos grupos feministas que surgiram neste período conseguiram, na prática, articular elementos
Articulações, formação política e intervenções sociais, vividas intensamente por esses movimentos,
geraram um conjunto de organizações com incidência política, que se expressa na presença pública
nacional, capacidade de formulação e atuação no espaço público, a partir de seus interesses
específicos, mas em alguns momentos em causas comuns, capazes de mobilizar todo o campo
político dos que lutam pela transformação da realidade. Esta nova teia organizativa colocou novos
desafios à Educação Popular como referencial do trabalho social. Por um lado, porque as
referências ao ‘popular' e à ‘base' não são mais suficientes como explicação do fenômeno em curso,
exigindo, portanto, uma profunda reflexão teórica fincada na prática social destes novos
movimentos. Por outro lado, frente a especificidades e diferenciações de intervenção, várias
organizações desenvolveram metodologias próprias, adequadas ao seu público e às suas proposições
teórico-práticas, a exemplo da pedagogia feminista, da educação social na rua, educação popular
junto ao público rural ou à juventude, ainda que, em grande parte, alicerçadas no ideário da
Educação Popular.
Mas, afinal, o que é Educação Popular? Na historiografia da educação, pouco é dito sobre este tema.
Ele está mais presente no universo da reflexão própria dos movimentos sociais, e para alguns
estudiosos isto seria mais um assunto de Sociologia dos Movimentos Populares do que
propriamente de Educação; para outros, seria fundamentalmente a produção de Paulo Freire e suas
Nesta última perspectiva, a Educação Popular teria sido forte com as escolas anarquistas, no início
do século passado, seguida da luta pela escola pública mobilizada pelos “pioneiros”, e teria tido
força associada à cultura popular na década de 60, expressando-se em seguida com a educação dos
movimentos populares, e hoje estaria dando base às propostas de políticas educacionais de alguns
governos democrático-populares, ou de iniciativas no interior de algumas escolas ou programas
como MOVA – Movimento de Alfabetização de Adultos e EJA – Educação de Jovens e Adultos.
No nosso entendimento, a Educação Popular pode ser tudo isso e um pouco mais. Muitas vezes, nos
relatórios de Congressos e Seminários, que reúnem quem faz educação popular, ela aparece como
um movimento de educadores/as, não como uma organização, mas como um pertencimento a uma
comunidade de sentido que tenta manter vivos um ideário construído e um jeito de fazer educação.
O fato é que nos processos de organização e luta dos movimentos sociais, assessorados ou não por
agentes externos, as pessoas compartilham saberes, enfrentam novos desafios de aprendizagem,
elaboram alternativas, isto é, se educam politicamente, o que expressa o caráter educativo dos
movimentos.
É um fato que a participação política, em si, é educativa, mas isso não nega os esforços de várias
organizações em ações pedagógicas específicas para formação das pessoas que as integram,
formuladas como “políticas de formação”, em cujo processo se estabelecem objetivos, linhas de
trabalho, estrutura própria, metodologia e um entendimento comum dos princípios que devem
nortear tais ações, programadas em cursos, seminários e/ou outros processos formativos no interior
destes movimentos, a exemplo da política de formação da CUT – Central Única dos Trabalhadores,
que possui um conjunto de escolas de formação sindical, e de outros movimentos nacionalmente
organizadas como o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e o MNMMR –
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.
Tais políticas, tomadas como objeto de pesquisa, ainda são pouco discutidas no campo teórico da
Educação Popular, assim como as experiências “de segunda ordem”, aquelas que são desenvolvidas
Notas
3 Portella, Ana Paula e Gouveia, Taciana. Idéias e Dinâmicas para Trabalhar com
Gênero . Metodologia SOS CORPO. Recife, 1995.
4 Graciani, Maria Stela Santos. Pedagogia Social de Rua . São Paulo, Editora
Cortez e Instituto Paulo Freire, 1997. Ver também Paulo Freire e Educadores de
Rua - uma abordagem crítica . Projeto Alternativas de Atendimento a Meninos de
Rua. UNICEF, SAS, FUNABEM, 1987.
9 Dagnino, Evelina. Anos 90: Política e Sociedade no Brasil . São Paulo, Brasiliense,
1994.
CULTURAS JUVENIS
1. Apresentação
Cotidianamente, jovens aparecem nas manchetes de quase todos os grandes jornais impressos do
país, nos noticiários radiofônicos e televisivos, normalmente vinculando-se a ações de rebeldia e
violência, à relação com galeras e com o narcotráfico, quase sempre como vítimas de tais ações e,
muitas vezes, como promotores.
Mas as juventudes voltaram para a agenda nacional também pela sua fantástica capacidade de
provocar mobilizações, de tomar iniciativas criativas e inovadoras, desde as tradicionais
movimentações estudantis, às novas formas de expressões culturais das juventudes das periferias
urbanas, das pastorais juvenis, das iniciativas no meio rural, tecendo uma articulação de ações, que
tem, na expressão do protagonismo juvenil, uma síntese tradutora e articuladora.
Desde o princípio, estamos falando de juventudes no plural, para deixar claro que existe uma a
diversidade em torno destes sujeitos sociais. Muitas vezes, as diferenças são grandes, entre as quais
podemos destacar:
• as classes sociais de onde se originam e convivem, incluindo aí também os lugares onde moram,
trabalham, se divertem, estudam, como as periferias urbanas, o meio rural, as pequenas cidades do
interior, os bairros centrais das grandes cidades;
• as relações de gênero e de orientação sexual, bem como de raça ou etnia, que trazem cargas
culturais, marcas de preconceitos, discriminações, mas também de afirmações de identidades
importantíssimas.
Quando destacamos estas diferenças, não negamos que possam existir também semelhanças, como
as transformações experimentadas no próprio corpo, as novas sensações e emoções, os desejos
vivenciados, o crescimento dos seios e a menstruação, nas meninas, as carícias diversas, a
masturbação, os impulsos e desejos que afloram e que os jovens e as jovens sentem sem perceber
exatamente de onde vêm. Claro que tudo isso deve ser percebido dentro do contexto social e
cultural em que estão inseridos(as), pois, embora a sexualidade faça parte do desenvolvimento
individual da pessoa humana, quem dita a forma da sexualidade e dos comportamentos, em grande
medida, são os valores morais e culturais da sociedade. Nesse sentido, as juventudes também têm
dado grande contribuição para mudanças de tais valores e comportamentos.
Destacamos também, como elementos caracterizadores das juventudes, as diversas opções e estilos
de vida. Neste sentido, devem ser consideradas as multidões de jovens que, em nosso tempo, lotam
os estádios de futebol, se empolgam nos shows de rock, de hip-hop, de forró. Mas também devem
ser considerados os grupos, muitas vezes minoritários, que se entusiasmam pela participação em
entidades juvenis e/ou estudantis, os diversos grupos culturais, de dança, de capoeira, de teatro, de
música, de expressões religiosas, de projetos desenvolvidos por ONGs. E as juventudes que fazem
parte de diversos movimentos sociais populares, como a luta pela moradia, o Movimento dos Sem
Terra, de Meninos e Meninas de Rua, de Associações Comunitárias, de negros(as), de
homossexuais, de mulheres. E, ainda, as juventudes militantes dos partidos políticos. Diversas
juventudes que, a partir de sua participação social, religiosa, política, alimentam sonhos de mudar o
mundo, as relações, os valores.
A partir da segunda metade do século passado, setores das juventudes passam a intervir como
sujeitos sociais coletivos, com maior visibilidade na cena política e social nacional. No primeiro
período, entre os anos 50 e 70, a expressão mais forte desta intervenção foi o Movimento
Estudantil, sobretudo o Universitário. Na década de 50, tal movimento experimentava o embate
político entre grupos que controlavam a UNE (União Nacional dos Estudantes), os
udenistas/liberais e os grupos de esquerda, reunidos em torno do Partido Comunista. Este foi um
período de grandes campanhas nacionalistas, como “O Petróleo é Nosso”. Em seguida (anos 60), a
força maior da UNE passa para novos agrupamentos, reunidos em torno de lideranças vindas da
Juventude Universidade Católica (JUC), e sua expressão especificamente política, a Ação Popular
(AP). Neste período, houve um maior estreitamento da relação do Movimento Estudantil com os
setores, organizações e lutas populares.
Com menor visibilidade expandiram-se, também neste período, os Grêmios Estudantis e os Centros
Estudantis dos Secundaristas.
Nesta mesma época, desenvolvem-se as Juventudes Católicas, nas suas muitas ramificações: JAC
(Juventude Agrária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica), JIC (Juventude Independente
Católica), JOC (Juventude Operária Católica), JUC (Juventude Universitária Católica). No
ambiente universitário, a militância Jucista caminharia em direção à radicalização da sua
participação, desembocando na Ação Popular.
O Movimento Estudantil (ME) assiste, a partir de 1964, suas organizações sendo perseguidas,
enfrenta a repressão e forçosamente envia muitos dos seus líderes para a clandestinidade. Em março
de 1968, os estudantes preparavam uma grande manifestação: armavam faixas e bandeiras. A
polícia chegou, invadiu o recinto atirando. O estudante Edson Luís de Lima e Souto foi atingido e
morreu. Sua morte marcou o reinício das manifestações estudantis, com ampla participação popular,
até o endurecimento maior da ditadura. O destaque deste período foi a realização da passeata dos
cem mil no Rio de Janeiro, e atividades semelhantes realizadas em várias cidades, como Natal,
Recife, Goiânia. O Ato Institucional n.º 5, de 13 de dezembro de 1968, retirou completamente dos
brasileiros todas as garantias individuais, públicas e privadas, o que representou um maior nível de
repressão do regime militar, empurrando muitos jovens para grupos guerrilheiros urbanos e rurais.
Mas muitos outros buscaram novas formas de ação política e social.
De maneira diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da década de 60, os
jovens atuais buscam novas formas de aglutinação, participação e expressão. A nova geração não
parece concentrar suas preocupações em mudar o mundo, pelo menos nos moldes da geração
anterior; suas preocupações se dirigem para lutas imediatas, buscando sentir o prazer de cada
conquista. É a geração que alimenta suas expectativas no meio de sucessivas desilusões da
apregoada transição democrática, geração que desconhece o exílio, a perseguição, a participação
clandestina, a morte por motivos políticos.
Mesmo assim, neste período, percebe-se que, pelo menos em momentos, a rebeldia, a criatividade, a
espontaneidade voltam às ruas e expressam sua irreverência e combatividade. Foi assim em 1992,
com a experiência dos “Caras Pintadas”, atores centrais na campanha realizada contra o Governo de
Fernando Collor, que resultou no impeachment do presidente corrupto. Essa campanha levou para
as ruas das principais cidades brasileiras milhares de jovens esbanjando energias, alegres, eufóricos,
cheios de esperanças na força da sua geração. Iniciaram suas manifestações com cerca de 300 a 400
estudantes, foram crescendo, ganhando a adesão de outros segmentos sociais e políticos, até chegar
a mobilizações de dois milhões de pessoas em São Paulo, em agosto de 1992.
Depois disto, as principais expressões juvenis se deslocam para fora das universidades e o
Movimento Estudantil perde a centralidade das mobilizações juvenis.
Hoje, são redes de diferentes grupos, dispersos, esporádicos, permanentes ou transitórios que se
encontram em vários ambientes para resolver problemas específicos, que herdam o sentimento de
justiça das gerações anteriores: duvidam, buscam, questionam, afirmam, contestam.
Muitos grupos e/ou organizações se reúnem em torno das manifestações culturais: da música
O estilo hip-hop tem se revelado como uma das principais expressões organizativas, articuladoras e
mobilizadoras das juventudes da atualidade, através do encontro do break, rap, grafite, combinando
a dança de movimentos complicados, que exige muito treinamento e vitalidade (break), a dimensão
musical do rap, caracterizada pelo jeito falado de cantar, cujas letras são sempre carregadas de
denúncias das injustiças sociais, e o grafite, como um estilo de pinturas e desenhos em muros e
grandes paredes, utilizando latas de spray de tinta, resultando em belas obras artísticas.
Os grupos de teatro popular, de danças, de capoeira, os diversos projetos que agrupam jovens a
partir de iniciativas de ONGs, a diversidade de agrupamentos de jovens em torno da vivência
espiritual e religiosa, as várias iniciativas de ação coletiva de estudantes em escolas públicas e
privadas, as expressões específicas de jovens no interior das organizações e movimentos sociais,
como do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e de outras entidades de camponeses, das
mulheres, da moradia popular, dos negros, dos homossexuais, das organizações de bairros, das
entidades estudantis, dos Partidos Políticos, todos esses projetos, movimentos e ações demonstram
que uma nova esperança está se realizando.
Não se pode afirmar que as atuais formas de organização e mobilização são menos politizadas do
que as do passado, mas que a forma de fazer política atualmente, bem como o contexto sócio-
político, são bastante distintos. Neste sentido, as recentes articulações em torno da participação
juvenil nas políticas públicas, transformando situações de necessidades, iniciativas particulares e
localizadas, em políticas universais – inclusive criando instrumentos de ação política, para a
realização de tais ações, como as Conferências de políticas para as juventudes, e os Conselhos
Municipais e Estaduais com representação dos governos e dos vários segmentos sociais que
representam e/ou trabalham com jovens – são exemplos claros desta afirmação.
Sem uma pretensão conclusiva, destacamos como os batuques, sons, imagens, movimentos,
Mas também o silêncio, a reflexão tranqüila, ou mesmo os debates acalorados nos congressos
estudantis, ou nos Festivais de Juventudes, tornam-se expressões das atuais formas de ação dos
movimentos juvenis, as disputas pela condução política das lutas, ou o empenho pela afirmação de
novos valores humanos, fraternos, solidários, são sinais de mudanças, mas também de esperanças,
para a continuidade e o avanço dos mais sinceros e comprometidos sonhos de justiça e liberdade de
nossas juventudes.
Bibliografia
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas Juvenis – Punks e Darks no espetáculo urbano. Editora Página
Aberta Ltda.
BORAN, Jorge. O futuro tem nome: Juventude. São Paulo, editora Paulinas.
NOVAES, Regina Célia Reis. Juventudes Cariocas: mediação, conflitos e encontros culturais.
Texto mimeografado.
SPOSITO, Marília. A sociabilidade juvenil e a rua: novos conflitos e ação coletiva juvenil na
cidade. Revista Tempo Social nº 5 – Revista de Sociologia da USP.
Notas
Quem assistiu ao filme “A Rede”, com certeza, sofreu um impacto com aquela visão de futuro tão
tenebrosa. Uma pessoa tem toda a sua vida completamente atrapalhada porque, legalmente, ela
deixa de existir. Todas as informações sobre sua vida cidadã, que foram absorvidas pelos mais
diversos computadores, podem ser deletadas ou re-adicionadas com alguns poucos comandos. Tudo
está interligado na rede. Em conseqüência, tudo é muito frágil. Esta imagem é bastante catastrófica
sobre o que pode vir a ser o mundo do futuro, interconectado em rede eletrônica, embora já
tenhamos tido indícios de coisas semelhantes acontecendo no sistema bancário.
Ao contrário disso, durante a recente campanha eleitoral para a Presidência da República, quem
apoiava a candidatura do nosso atual presidente viveu uma situação bem prazerosa: a sensação de
pertencimento a um grande grupo, formado por pessoas conhecidas e desconhecidas, que tinham
um mesmo objetivo. Entrar no supermercado e cruzar com alguém que sorri para você com uma
estrela no peito, encostar-se ao balcão da padaria e ser cumprimentado(a) porque tem o adesivo
colado na roupa, participar de uma caminhada de 200 mil, como a que aconteceu em Recife, e sentir
toda a vibração de milhares de pessoas com as quais você se liga a partir da vontade de mudar o
Brasil. Esta é outra forma de entender Redes, como vínculos que se criam entre as pessoas a partir
de símbolos de identificação e de relações de sociabilidade bastante leves, sem estabilidade, mas
nas quais não se percebe uma hierarquia, e sim uma identidade predominante entre os membros.
A mídia nos traz, constantemente, informações acerca de outras formas de organização em rede no
mundo da violência, do crime organizado, do narcotráfico, do terrorismo, que invadem a nossa casa
todos os dias, nos afrontam, violam os nossos direitos de cidadania. Fontes diz que “podemos
pensar em redes a partir de indivíduos, as chamadas redes egocentradas; também podemos pensar
em redes a partir das instituições, as chamadas redes organizacionais, as redes dos movimentos, as
Ao falar em rede no Nordeste, outras imagens nos chegam, de imediato. A rede de pesca, um dos
símbolos da luta pela sobrevivência do povo nordestino na busca de garantir a alimentação que vem
de seu litoral, enaltecido por muitos e fonte de renda com o turismo, no atual modelo de
desenvolvimento regional. A rede de dormir, onde o povo descansa o corpo cansado do trabalho
diário. Essas redes são teias de fios, laços e nós: uma que agarra os peixes, a outra que balança, que
move as pessoas, que acalenta. Mas essas redes também se desgastam e precisam ser reforçadas,
renovadas, enfim, precisam ser “cultivadas”, como a própria idéia de rede.
As Redes de Movimentos Sociais, isto é, as redes que articulam diversas entidades identificadas
com uma certa causa, em geral em torno da luta por direitos, se expressam no espaço público como
articulações em torno de um tema ou de um tipo de ação coletiva, com momentos de maior aparição
e momentos de imersão, dependendo da conjuntura específica. Elas congregam pessoas ou
entidades, em maior ou menor número, que possuem em comum, um certo sentido de
pertencimento ao campo político dos Movimentos Sociais 4 e àquela causa específica, a exemplo de
proteção à criança e ao adolescente, saúde, direitos reprodutivos, fiscalização do orçamento público,
etc.
No Seminário, estiveram presentes 14 experiências que se identificaram como redes, mesmo que
tendo como nome oficial fórum ou articulação. Isto quer dizer que estas experiências se identificam
com o que vem sendo discutido como sendo rede, ou seja, articulação entre diferentes sujeitos,
baseada em relações horizontais, em que estes sujeitos não se subordinam, mas somam esforços
para potencializar objetivos comuns, que não negam seus objetivos específicos.
No Nordeste, temos visto experiências bem diversificadas, algumas que se articulam em âmbito
Algumas experiências de rede se sobressaem por agregar entidades que lutam pela implementação e
fiscalização de políticas públicas, como é o caso da Rede de Conselheiros do Piauí, apoiada pelo
CEPAC, e da Rede de Intervenção em Políticas Públicas do Maranhão, que reúne diversas entidades
entre ONGs, movimentos, serviços eclesiais, gabinetes parlamentares, entre outras representações
sociais. Há também aquelas que agregam segmentos sociais como a Rede de Jovens ou a Rede de
Educadores Populares, estimuladas pela EQUIP. Há redes que reúnem grupos populares vinculados
ao trabalho de uma certa entidade, outras reúnem diversas entidades de movimentos sociais e
organizações não-governamentais, e existem ainda aquelas que reúnem movimentos sociais, ONGs
e órgãos governamentais vinculados ao enfrentamento do mesmo problema, como é o caso da Rede
Amiga da Criança do Maranhão, voltada para o atendimento de meninos e meninas de rua.
No citado Seminário, ficou claro que a organização em rede não é, em si, uma novidade, entretanto,
é nova a ênfase que está sendo dada a este debate. Vários estudiosos dos movimentos sociais têm
tentado interpretar este fenômeno e esta forma de organização está impondo uma reflexão também
entre os participantes de movimentos sociais, não para construir modelos, mas para aprofundar o
debate sobre seus elementos constitutivos e os efeitos deste trabalho na realidade dos setores
populares.
Alguns aspectos chamam a atenção nestas experiências que estiveram representadas no Seminário.
Todas se voltam para objetivos definidos e afirmam que estão potencializando seus resultados,
ainda que com algumas dificuldades. Todas se pretendem com um formato organizacional
efetivamente de rede, onde flui a comunicação, onde há objetivos consensuais, onde se aglutinam
forças sociais, onde se combate o velho "corporativismo" das práticas, onde se assume
coletivamente as responsabilidades, embora sejam reconhecidas as limitações no processo
organizativo real.
As identidades são a mola propulsora que faz com que as pessoas se vinculem a um movimento
social. Mas elas parecem ter, na vida da maioria dos participantes, uma temporalidade curta, que os
mobiliza para grandes eventos, mas não para o cotidiano das entidades. Para outros, em número
menor, todavia, a participação é algo contínuo, em torno da qual eles organizam suas vidas. Em
geral, a força desta dedicação tem a ver menos com a capacidade organizativa da rede ou da
entidade de que a pessoa participa e mais com elementos de identificação que são predominantes
para cada uma, em um dado período, como ser mulher, a questão da negritude, a sensibilização com
a ausência de direitos de crianças e adolescentes, por exemplo. Estas pessoas constroem e mantêm a
vida interna das entidades de Movimentos Sociais , na maioria com trabalho voluntário e militante,
e também dão sustentação às redes que estas entidades criam. O que as mantém com permanência
pode ser a adesão à causa específica ou, o que é mais complexo, o sentido de ser militante, de atuar
intensamente em processos de mudança, o sentimento de fazer parte do Movimento.
No Seminário “Atuação em Redes” foi colocada em questão a situação organizativa das redes ali
representadas, discutindo as motivações, os sujeitos que agregam e a comunicação que estabelecem.
Sobre a organização, os participantes falaram que a maioria das redes agrega entidades ou grupos
que se reúnem em torno de potencializar seus objetivos; apenas uma das redes presentes congregava
indivíduos. Elas, em geral são sustentadas por projetos financeiros enviados para agências
internacionais, e a maioria conta com uma espécie de entidade-mãe, que funciona como
impulsionadora da articulação da rede. Apenas algumas redes são formadas por entidades do mesmo
Um dos problemas internos mais sentidos nas redes é exatamente a co-responsabilidade. Apesar de
intencionalmente desejarem relações horizontais, a dificuldade de compartilhar tarefas e recursos
igualitariamente acaba por colocar as redes, muitas vezes, dependendo de uma ou duas entidades.
Esta situação dificulta o dinamismo, a multiplicidade de lideranças e a comunicação
multidirecional, que são apresentados como elementos que caracterizam as redes.
Outro elemento chave neste debate é o papel que cumprem as entidades fomentadoras das redes. Há
duas situações relevantes para serem analisadas. A primeira é quando a rede é formada entre
entidades semelhantes em termos de recursos financeiros, técnicos, etc. como é o caso do Coletivo
de Políticas Públicas do Piauí, da RIPP-MA, da ASA, ou da Rede Amiga da Criança. Neste caso,
pode haver concentração em poucas entidades, mas é mais fácil pensar mecanismos de superação
disso, a exemplo do que vem sendo feito: rodízio de secretarias, coordenações colegiadas, rateio de
recursos para atividades, comunicação permanente entre os membros, planejamento com divisão
equilibrada de tarefas, reflexão sobre a importância, para o funcionamento em rede, da co-
responsabilidade, da solidariedade e do consenso.
A segunda situação é quando há, nas redes, uma entidade fomentadora, isto é, uma entidade que
detém maiores recursos financeiros e capacidade mobilizadora. Poderíamos citar como exemplos as
redes de grupos populares ligadas a projetos produtivos, que se articulam para ampliar as condições
de produção, comercialização e capacitação, como rede de Sócio-economia Solidária do Ceará,
estimulada pela Cáritas; ou a rede de conselheiros tutelares do Maranhão, fomentada pelo Centro de
Defesa da Criança e do Adolescente, ou a rede de conselheiros do Piauí, articulada pelo CEPAC.
Este caso exige uma reflexão que remonta aos princípios da metodologia de trabalho de base na
educação popular, ou seja, estas entidades, impulsionadoras da rede, procuram desenvolver um jeito
de trabalhar que impulsione a autonomia dos sujeitos envolvidos. A autonomia passa a ser uma
meta, incessantemente, buscada, e não se resume à autonomia financeira, mas também à política e à
metodológica.
A comunicação em rede, embora seja apontada como importante e necessária por todos os
participantes do Seminário, parece ser a maior dificuldade. Ainda não são suficientemente utilizados
Todos os representantes de rede apontaram como maior problema organizativo algo que é comum
também no interior das entidades de movimentos populares: o fato de que algumas pessoas
assumem as responsabilidades cotidianas com mais afinco e outras só se fazem presentes nos
momentos decisivos. Apesar disso, elas reconhecem que nas redes que reúnem entidades do mesmo
porte, que possuem igualdade de condições, este problema é bem menor.
Algumas redes adotaram uma forma mais estruturada de organização, outras preferem a
informalidade. Algumas possuem mecanismos de entrada definidos, como é o caso da ‘carta de
princípios' e ‘carta de adesão' na RIPP, em outras a adesão é menos formalizada. Algumas têm
documentos que explicam o seu funcionamento interno, outras vão fazendo coisas em conjunto sem
definir, precisamente, como deve ser a sua forma de organização. Sem querer estabelecer regras
para o que poderiam ser as redes, a reflexão que se colocou no Seminário foi sobre os problemas
que a grande informalidade gera para a adesão de membros e o funcionamento interno democrático,
em especial naquelas redes que contam com ‘entidades-mãe'. O tom da maior ou menor formalidade
vai variar a depender de seus objetivos, interesses, da relação de forças existentes e/ou do desejo das
pessoas.
Mas, para entender a noção de rede e o uso que dela está sendo feito nos Movimentos Sociais é
preciso perceber a amplitude desta idéia. Rede é um termo utilizado em diversas ciências, como
sintetizou Tomasin, em uma Gaveta Aberta de 1994: na telemática, as redes de telefones e
computadores; na biologia, a rede neuronal; na matemática, o chamado network analysis , que
nasceu a partir da teoria dos grafos ; na economia e na administração, as empresas que assumem
Segundo Tomasin, quando se fala em rede de Movimentos Sociais , estão implícitas as idéias que a
metáfora suscita, como horizontalidade, descentralização, desconcentração de poder, diversidade
interna de organizações, flexibilidade e agilidade para se moldar às novas situações,
interdependência e articulações, complexidade e abertura ao externo. Todos estes elementos, sem
dúvida, vêm à tona no debate sobre redes. Merece destaque para reflexão o problema da
interdependência. Acreditamos que esta característica está mais presente na idéia de sistema, onde
as partes constitutivas precisam (dependem) umas das outras para seu desenvolvimento. A noção de
rede, por sua vez, diz respeito muito mais à possibilidade de autonomia, de complementaridade para
potencializar objetivos específicos, a partir dos quais se dão as articulações, que não se sobrepõem
ao fazer parte individual de cada entidade, e sim os reforçam.
Ana Maria Doimo 6 usou a noção de redes para estudar os Movimentos Populares na década de 70.
Ela considera possível estabelecer alguns cortes analíticos para tipificar as redes e estabelece dois
tipos: as redes territorializadas , nas quais se incluem desde as redes de organizações populares
locais até as de alcance nacional; as redes temáticas , que indica certa especialização de funções.
Cruzando estes dois tipos, encontram-se as redes de influência que, imprimem uma certa direção ao
movimento popular. As redes de influência conseguiriam, pela sua atuação, orientar práticas, através
Outro elemento fundamental é a relação inter-redes que se desenha como uma perspectiva de
congregar esforços e potencializar os impactos na realidade local, as mobilizações gerais da
sociedade, em campos específicos de intervenção.
Hoje, o estudo, a partir da noção de redes, pode nos ajudar a compreender melhor o fenômeno dos
novos movimentos sociais, em especial seus diversos tipos de entidades e sua capacidade de obter
resultados, a partir da intervenção coletiva na realidade, alterando a situação de vida do povo. No
campo das práticas dos participantes de Movimentos Sociais, a intervenção em rede vem se
afirmando como mecanismo de exercício de democracia, da construção de relações de parceria e
co-responsabilidade, da arte de negociação, da partilha do poder, da cooperação mútua, da
solidariedade entre os seus membros.
Notas:
4 Sobre a noção de campo político dos Movimentos Sociais ver Silva, 2001 e Doimo,
1995.
5 Scherer-Warren, 1999.
6 Doimo, 1995.