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INTRODUÇÃO
Neste midrash (estudo), vamos tentar rever todas as passagens bíblicas relevantes, que são conhecidas por,
supostamente, condenarem a homossexualidade, e o homossexualismo. Tentaremos identificar as bases
históricas da homofobia. Veremos alguns problemas, encontrados pelos pesquisadores, ao interpretar o que
os autores originais, quiseram nos dizer, a respeito de D’us, e dos seus desígnios, e desejos para o homem.
Começaremos perguntando e respondendo algumas questões.
Quer dizer que a Igreja intencionalmente omitiu informações por serem contrárias as
tradições?
Sim, os Pesquisadores, têm até um nome para isto: Ciclo Hermenêutico. Hermenêutica, em primeiro lugar,
é a prática da interpretação bíblica. A interpretação de escrituras é sempre necessária, porque nem tudo o
que um escritor pensa, ou experimenta, pode ser interpretado literalmente; ou, no popular, “ao pé da letra”.
Além disto, palavras podem ter mais de um significado, e, em caso de interpretação de escrituras, em que
foram utilizadas línguas da Antiguidade, dificuldades adicionais certamente surgirão.
Onde começamos?
Antes que possamos iniciar um estudo detalhado sobre o que a Bíblia realmente diz, ou não, a respeito da
homossexualidade, temos que nos deparar com alguns pontos enfrentados por qualquer um que queira
desenvolver qualquer tipo de pesquisa séria com base nas Escrituras. Temos que trazer a Bíblia para uma
perspectiva mais próxima, tirá-la de dentro da redoma que alguns insistem em colocá-la. “Temos que nos
debruçar sobre tópicos, como “Infalibilidade Bíblica”, “Contextualização” e Inspiração Divina”.
Será que a quebra do código da hospitalidade, foi realmente a principal razão para a
condenação de Sodoma? Yaohushua Há’Mashiach achava que sim. Como nos mostra Mateus 10, e
Lucas 10; Yaohushua Há’Mashiach enviou seus discípulos, e deu a eles autoridade para curar os enfermos,
expulsar demônios, e proclamar as boas novas da salvação. Ele os ensinou que, quando chegassem a uma
cidade, procurassem quem fosse digno e pousasse na casa desta pessoa. “E, se ninguém vos receber,
nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa, ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Em verdade vos digo, que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do
que para aquela cidade.
Aqui, percebemos que Cristo faz uma comparação entre a punição reservada à cidade que não possui o dom
da hospitalidade em relação aos seus discípulos e àquela reservada à Sodoma e Gomorra.
Existem outras evidências bíblicas que indicam que, o que os homens da cidade realmente tencionavam, era
mesmo a prática da violência sexual, e do estupro? No livro de Juízes, capítulo 19 encontramos uma história
semelhante à de Sodoma e Gomorra. Um homem viajando, chega até a cidade de Gibeá, e no verso 15,
encontramo-lo sentado na praça da cidade, com a sua concubina. Ao anoitecer, vinha um velho do seu
trabalho no campo, os encontra e os convida para pousarem em sua casa. No começo do versículo 22,
lemos: Enquanto eles alegravam o seu coração, eis que os homens daquela cidade, filhos de Belial,
cercaram a casa, bateram à porta, e disseram ao ancião, dono da casa: Traze cá para fora o homem
que entrou em tua casa, para que o conheçamos (yadtha’). Encontramos em algumas traduções: “Traze
cá para fora o homem que entrou em tua casa, para que tenhamos sexo com ele. (yadtha’)”.
Como na história de Sodoma e Gomorra, o velho oferece sua filha virgem à população, e o homem oferece a
sua concubina, mas os homens da cidade não estão interessados. Mas, ainda assim eles põem-na de fora, e
ela foi estuprada e abusada toda a noite. Quando o dia amanhece ela é liberada, e acaba por falecer à porta
de casa.
A despeito do fato de a linguagem usada pela multidão nesta passagem ser a mesma usada na passagem
de Sodoma e Gomorra, ainda não foi tido conhecimento, de nenhum pesquisador ou comentarista, sugerir,
que os homens de Gibeá eram homossexuais. Ressalte-se que, enquanto os Sodomitas simplesmente
ameaçaram violá-los, os homens de Gibeá consumaram o fato, chegando a causar a morte da concubina.
Ainda assim D’us não mandou imediatamente uma chuva de enxofre e fogo sobre Gibeá como castigo pelo
que os homens haviam dito. Sendo usada à mesma linguagem, inclusive o mesmo verbo original no
Hebraico (yadtha), em ambas as histórias, porque somente os habitantes de Sodoma são considerados
homossexuais? Porque estes acabaram por estuprar a concubina, o que não se pode considerar como um
comportamento homossexual, que neste caso provavelmente não iriam querer ir além de “trocar receitas”
com a concubina? Talvez porque a história de Gibeá apresenta um detalhe adicional que não encontramos
na história de Sodoma. O homem, quando perguntado mais tarde pelos Israelitas sobre o que havia
acontecido, respondeu (versículo 20:5): "E os cidadãos de Gibeá se levantaram contra mim, e cercaram
a casa de noite, e intentaram matar-me, e violentaram a minha concubina, de maneira que morreu."
Ele não parecia muito preocupado com sua própria ameaça de estupro (?), do que com a intenção de matá-
lo. Apesar de que D’us não fez chover enxofre e fogo do céu sobre Gibeá, ao final do capítulo 20, lemos que
todos foram mortos a fio de espada, e a cidade incendiada.
Existe qualquer outra relevante referência bíblica referente à razão que levou D’us a destruir Sodoma e
Gomorra? Sim. O grande profeta Ezequiel foi chamado por D’us para castigar Jerusalém, que havia sido
uma cidade de Canaã e tornara-se judia. D’us zelava por esta cidade e ela tornou-se próspera; mas, então, o
poder subiu-lhe à cabeça. Voltou-se para a idolatria, sacrifício de crianças, e estabeleceu más alianças com
outras nações. Então, Ezequiel “foi chamado a repreendê-la, e a comparou com “a sua irmã” Sodoma,” Eis
que esta foi à iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade, a
tiveram ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. Também elas se
ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de mim; pelo que, ao ver isso, as tirei do seu lugar."
(Ezequiel 16.49, 50).
Agora, temos pela palavra do grande profeta Ezequiel, as razões pelas quais D’us destruiu Sodoma e
Gomorra. Nenhuma menção à homossexualidade, nenhuma vaga menção sequer. Os Sodomitas eram
soberbos, glutões, egoístas. Não ajudavam aos mais necessitados, julgavam-se melhores que os outros, e
cometiam abominações. Que, ou quais, seriam tais abominações?
Na Concordância Bíblica de Strong encontramos que a palavra hebraica usada é towebah, ou toebah, e
define abominação da seguinte maneira: algo repulsivo, odioso, que causa fastio, ou seja, uma
repugnância, aversão; especialmente idolatria ou concretamente um ídolo. Então Strong nos diz que o
uso da palavra toebah está relacionado a descrever a abominação da idolatria. Lembre-se que o primeiro
Mandamento diz: ”Eu sou o Senhor teu D’us, que te tirei do Egito, da escravidão. Não terás outros
deuses diante de mim” (Êxodo 10.2-3).
Na concepção dos Hebreus este mandamento é o primeiro e mais notável. Qualquer coisa menor, que a
absoluta devoção a YHWH é considerada a pior atitude de uma pessoa; sendo ainda considerada
detestável, abominável.
Examinaremos as práticas idólatras quando chegarmos ao Livro de Levítico.
Só há uma passagem na Bíblia, que faz ligação entre atividade sexual, com Sodoma, e Gomorra, e sua
destruição; no livro de Judas. Estudaremos esta passagem no próximo estudo.
LIVRO DE JUDAS
Decidimos estudar Judas agora, apesar de não estarmos ainda estudando o Novo Testamento, porque,
muito do que diz este livro, têm relação com a História de Sodoma e Gomorra.
A fim de facilitar nosso estudo, incluímos algumas diferentes traduções do livro de Judas. Aconselhamos que
usem também o maior número possível de diferentes versões; de maneira que, nós possamos ter uma idéia,
de como as diferenças entre uma língua arcaica, e uma língua moderna, pode afetar o entendimento de
algumas passagens em particular; e, também, a fim de que, possamos perceber, como o uso de versões de
linguagem atualizada, e diferentes intérpretes, podem apresentar versões, e visões diferentes, a partir de um
mesmo episódio.
Judas está comparando, o que aconteceu em Sodoma e Gomorra, com o que nós chamamos de anjos
caídos. O que quer que tenham feito os anjos, foi algo similar ao que fizeram os habitantes de Sodoma e
Gomorra. O que será que fizeram? Encontraremos a resposta em Gênesis seis:
Estes versículos são admitidamente muito controversos. Existem opiniões diversas entre os pesquisadores
sobre o que estes versículos querem dizer exatamente. Existem discordâncias quanto a quem seriam os
“filhos de D’us”. Alguns acreditam que seriam seres humanos, seguidores de D’us. Se este argumento for
verdadeiro, por que, haveria o autor de diferenciar entre os filhos de D’us e as filhas do homem? Temos uma
referência bíblica que nos indica que eles eram seres da corte de D’us. Jó 1:6 nos diz “E num dia em que
os filhos de D’us vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles”.
Então vemos que houve um tempo em que os anjos vieram a Terra, e se sentiram atraídos pelas mulheres.
Eles casaram-se com elas e tiveram filhos. Então encontramos uma palavra peculiar que é traduzida como
gigante. Uma das versões que usamos nem sequer importou-se em traduzi-la; mas, simplesmente, tomou
as letras do Hebreu, e a escreveu em Português, ou o que parecia mais próximo de Nefilim. Esta palavra é
tão rara, que ninguém sabe com certeza o que significa, mas tem algo a ver com ser estranho, esquisito,
bizarro, grotesco, enorme, gigantesco. Apesar de que seu sentido literal não é conhecido, parte de sua raiz é
Naw-fal, o que significa cair ou caído. Mas, qualquer que seja o significado, era algo que não agradava a
D’us, porque resultou no dilúvio.
Então, Judas, está nos dizendo, que alguns anjos abandonaram seu lar celestial, e o que quer que tenham
feito, acabou por condená-los a serem acorrentados até o fim dos tempos. Gênesis 6.1-4 nos diz que,
aqueles anjos, coabitaram com mulheres mortais, humanas, e tiveram filhos grotescos, gigantescos. Qual foi
o pecado daqueles anjos? Terem coabitado com um ser de uma diferente ordem, de diferente espécie da
sua.
Então, Judas, diz que, o que os sodomitas fizeram, foi o mesmo que os anjos fizeram; e, como estes, foram
também punidos. Então qual foi à outra carne que os sodomitas seguiram? Não foi por serem pessoas do
mesmo sexo, e, sim, por serem anjos, seres de diferente espécie.
Adicionalmente ao que foi mencionado sobre os pecados de Sodoma e Gomorra, o primeiro capítulo de
Isaías, indica que, a razão pela qual D’us se retirou destas cidades, era porque suas mãos estavam cheias
de sangue (Isaias 1.15); e, semelhantemente ao que escreveu Ezequiel, eles eram injustos, não amparavam
os oprimidos, os menos favorecidos, as viúvas e os órfãos. (Isaías. 1.17). Jeremias, também lista uma série
de irresponsabilidades, e as atribui a Sodoma e Gomorra.
Portanto, nós podemos ver que existiram várias razões para que D’us destruísse as cidades: orgulho,
imoralidade, falta de cuidado com os mais vulneráveis e necessitados naquela sociedade, falta de
hospitalidade e uma tentativa de abuso sexual de seres de diferentes espécies. Nem uma única palavra
sobre homossexualidade.
Para aqueles que ainda argumentam, que o que os homens de Sodoma queriam, era sexo homossexual,
solicitamos que leiam Juízes 19, o que é um paralelo à história de Sodoma e Gomorra. Naquela passagem,
vemos que quando a concubina foi lançada à multidão, ela foi vítima de abuso sexual repetidamente até que
morreu, da mesma maneira que teriam feito com o homem, se o velho tivesse permitido que ele saísse de
casa. Está óbvio que a intenção era estuprar o homem e não amá-lo; bem como fizeram com a concubina.
Devemos nos lembrar que o estupro, o abuso sexual, tem sempre a ver com violência, e não com sexo
consentido; e, definitivamente, nada a ver com amor; amor que acontece entre duas pessoas, que por acaso
são do mesmo sexo.
LEVÍTICO
Levítico 18.22 (JFA)
Com homem não te deitarás, como se fosse mulher é abominação.
Levítico 20.13 (JFA)
“Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação;
certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles”.
Algum tempo atrás, circulava na Internet, uma “carta-aberta”, dirigida à locutora de um programa de rádio,
conhecida por ser conservadora, e, homofóbica. Esta locutora usava estas passagens bíblicas do livro de
Levítico para apoiar a sua condenação à homossexualidade. A carta-aberta, que surgira em resposta às
acusações, utiliza-se de passagens do mesmo livro do Levítico, e estabelecem questões como as que se
seguem:
· Eu sei que quando eu queimo um bezerro no altar, como um sacrifício, o odor que se desprende é
cheiro suave e agradável ao Senhor (Levítico 1.5-9). O problema são meus vizinhos. Eles dizem que o odor
não é nada agradável, e ameaçam chamar a Saúde Pública, que também não gosta do odor. Que devo
fazer?
· Levítico 11.7- 8, diz: que ao tocar o cadáver de um porco me torno impuro. Poderei praticar algum
esporte com bola feita de pele de porco, caso use luvas?
· Levítico 11.12, diz que comer marisco é abominação. È uma abominação maior ou menor do que a
homossexualidade?
· Eu sei que não devo ter contacto com uma mulher durante o seu período menstrual (Levítico 18.19). O
problema é. Como saber? Sempre que pergunto, a maioria das mulheres se sente ofendida.
· Levítico 19.19, me diz que não posso plantar tipos diferentes de sementes no mesmo campo; e, nem
usar roupas feitas de dois tipos diferentes de material. Devo concluir que serei condenado se tiver uma
hortazinha no fundo do quintal, com alguns vegetais e temperos; ou, se usar uma camisetinha básica, de
algodão e poliéster.
· A maioria das pessoas que conheço corta o cabelo de vez em quando, apesar de que isto é
expressamente proibido em Levítico 19.27. Estaremos todos condenados?
· Levítico 21.16-20 declara que eu não posso me aproximar do altar de D’us se eu tiver um defeito físico.
Eu uso óculos. Será que D’us faz “vista-grossa” para este pequeno detalhe?
· Levítico 25.44 declara que eu posso possuir escravos ou escravas desde que tenham sido comprados
em um dos países vizinhos. Um amigo meu insiste, que esta regra se aplica a argentinos, e, paraguaios,
mas, não, aos Uruguaios. Poderia me orientar? Porque não me é permitido possuir escravos uruguaios?
Parece muito claro a percepção de que, é muito incoerente, e até inconveniente, tirar alguns versos das
Escrituras de seu contexto, e tentar aplicá-los no mundo de hoje. Podemos também questionar, a validade
de se aplicar algumas passagens da Bíblia, a um determinado grupo de pessoas, e, simplesmente ignorar o
resto. Parece-nos ridículo, tentar aplicar nos dias de hoje, as passagens do Levítico 1.5-9, 11.7- 8, 11.12,
18.19, 19.19, 19.27, 21.16-20, 25.44, isto para mencionar apenas algumas passagens. Nesse caso o que
justifica então os versos 18.22 ou 20.13? Enquanto não podemos simplesmente “jogar fora o bebê junto com
a água da banheira”, nós podemos ter os Dez Mandamentos como nosso referencial no Antigo Testamento,
e os mandamentos de Yaohushua Ha’Mashiach; na era Cristã, Yaohushua Ha’Mashiach nos disse, que a Lei
Hebraica e os ensinamentos dos Profetas poderiam ser incorporados na Lei do Amor; amor a D’us, amor ao
próximo, e amor-próprio; amar a D’us sobre todas as coisas, e ao teu próximo como a ti mesmo.
Obviamente, relações incestuosas, e adúlteras; bem como, molestar crianças, estão fora desse padrão de
amor.
Mas por outro lado: Será tão simples assim? Está bem claro na Bíblia: “um homem não se deitará com outro
homem como se fosse com uma mulher porque isto é uma abominação”. Se isto não for uma condenação à
homossexualidade, o que é isto? E porque está lá então? Nós queremos que este estudo seja completo, sem
deixar áreas nebulosas, com dúvidas. Apesar de que está claro que não podemos pinçar umas passagens, e
aplicá-las nos dias de hoje. A pergunta então é: quando, e a quem esta passagem foi dirigida? Se é que foi,
algum dia. Será que esta passagem foi dirigida a algum grupo de homossexuais da Antiguidade? Para
respondermos a estas questões, precisamos observar estes versos dentro de seu contexto. Como veremos,
sempre que ocorre uma discussão sobre o significado de determinadas passagens da Bíblia, os
pesquisadores assumem diferentes abordagens para chegarem a um ponto de entendimento sobre o que
eles pensam que as Escrituras dizem. Tentaremos mostrar as várias percepções, de acordo com o nosso
entendimento delas.
Primeiramente, devemos entender que, naquela época, as pessoas não tinham a concepção de
homossexualidade como nós temos hoje em dia. Tratava-se de uma sociedade patriarcal, gerida e
administrada pelos homens, na qual as mulheres eram consideradas propriedades dos homens. Naquela
época, sexo, geralmente não tinha muito a ver com amor, e muito menos com carinho. Sexo era meio de
procriação, e, claro, de prazer; sobretudo para os homens; mas, o sexo também, era sinal de dominação.
Após as batalhas, era comum que os vitoriosos, praticassem sexo forçado com os derrotados, a fim de
humilhá-los. Proprietários de escravos, poderiam normalmente praticar sexo forçado com estes como uma
atitude de dominação. Para um homem livre, deitar-se com outro homem livre da mesma tribo, ou
comunidade, significaria uma dominação; seria comparável a reduzi-lo ao status de uma mulher, e, isto o
desonraria. Por isso era proibido, ou expressamente desaconselhável.
A segunda coisa, que precisamos estar atentos, é que, durante o êxodo, Moisés designou à tribo de Levi a
atribuição de atuar como Sacerdotes para o povo de Israel (Êxodo 32.29); e o livro de Levítico, foi escrito
como que para “instruções”; ou, um “código de conduta” para os Sacerdotes. De acordo com o Manual
Bíblico de Abbington, o livro do Levítico:
“… referem-se às atividades dos Sacerdotes Levitas, que dirigiam o povo de D’us, durante os cultos e
cerimônias de adoração. Os capítulos 17 a 26 faziam parte de um documento independente mais
antigo, chamado de Código de Santidade. Muitas leis deste código, e o restante do Levítico, são da
antiguidade, alguns provavelmente tirados da prática Canaanita, e adaptados nesta nova
circunstância. Este conjunto de leis e ritos serviu como modelo ritualístico e Sacerdotal no Templo
durante o pós-exílio.” (p. 101).
Os primeiros três versículos do Capítulo 18 nos dizem: Falou mais o Senhor D’us a Moisés, dizendo:
“Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Eu sou o Senhor vosso D’us. Não fareis segundo as obras da
terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos
levo, nem andareis nos seus estatutos." Os versículos seis até dezoito, enumeram uma série de
proibições a cerca de relações sexuais entre membros da família; e o versículo dezenove, instrui os homens
a não terem relações sexuais com mulheres durante o seu período menstrual; enquanto que o versículo vinte
proíbe relações sexuais com a mulher do próximo. Entretanto, parece que há uma mudança de assunto a
partir do versículo 21; mudando da proibição de relações sexuais com parentes, e próximos, para a idolatria;
incluindo os versículos 22 e 23, que dizem o seguinte:
Deuteronômio 23.18
“Não trarás o salário da prostituta nem o aluguel do sodomita para a casa do Senhor teu D’us por qualquer
voto, porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor teu D’us.”
O vocábulo traduzido como sodomita ou cão, de acordo com algumas versões, na linguagem original, era
“keleb”, o qual significa latir, ganir, ou uivar, ou, ainda atacar; ou cão; e, conseqüentemente, por eufemismo,
um praticante da prostituição masculina (Strong’ #3611). A questão, entretanto é, de que tipo de prostituição
está falando? Os pesquisadores apresentam opiniões diferentes.
Na série ”Estudos Bíblicos Diários” o autor do estudo do livro de Deuteronômio, David F Payne,
escreve somente isto a respeito desta passagem:
“Versículos 17-18: debruça-se sobre a prática de ritos religiosos, e proíbe a prática de prostituição em nome
de YHWH; a palavra traduzida como cão, conseqüentemente significa praticantes de prostituição ritualística,
muito comum na religião canaanita”.
Esta é a única passagem em toda a Bíblia que trata do hábito de se usar roupas do sexo oposto; conhecido
em nossa cultura como travestismo, apesar de que para muitos, este termo aplica-se tão somente ao homem
usar roupas femininas. A fim de padronização, salientamos que, utilizaremos o termo travestismo, quando
nos referirmos ao uso de roupas próprias de um sexo, por uma pessoa do outro sexo, independentemente de
qual sexo estejamos nos referindo.
A Nova Bíblia Anotada Oxford afirma, “A proibição contra o travestismo procura, sobretudo estabelecer os
limites de gênero”. Uma similar preocupação com limites, é evidente nos versículos 10-12. Nestes versículos,
lemos: Não lavrarás com junta de boi e jumento. Não te vestirás de diversos estofos de lã e linho juntamente.
Franjas porás nas quatro bordas da tua manta, com que te cobrires.
Enquanto os versículos dez e onze parecem observar ao extremo o conceito de não misturar “espécies
diferentes”, o versículo doze nos mostra que, na verdade, o que as escrituras tentam nos ensinar, é o
conceito de separação. Os Israelitas deveriam ser um povo separado, e distinto daquele povo, que habitava
a terra para a qual eles mudaram-se.
Devemos também lembrar, que numa cultura basicamente patriarcal, para um homem, fazer qualquer coisa
que pudesse ser considerada como feminina, seria uma degradação de sua masculinidade, e, por extensão,
degradação da masculinidade de um modo geral. A hierarquia daquela sociedade, fundamentada no gênero
(sexo) tinha uma base bíblica. E formou o SENHOR D’US o homem do pó da terra, e soprou em suas
narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. (Gn 2.7) Ao homem foi dado o fôlego do
próprio D’us; portanto, o homem era o ser vivente mais aproximado de D’us. Mas, o homem estava sozinho,
e D’us entendeu que isto não era bom. D’us então decidiu criar uma auxiliadora idônea. (Gn 2.18, 20a) Nos
versículos 21-22, lemos que D’us então, causou um sono profundo no homem, retirou uma de suas costelas,
e formou dela a mulher.
Interpretamos esta passagem, como nos dizendo que, já que D’us soprou dentro do homem o seu próprio
fôlego de vida, o homem é, portanto a criatura mais aproximada de D’us. A mulher, entretanto, foi criada a
partir do homem, estando a um degrau abaixo do homem, na proximidade de D’us. Ainda mais, como a
mulher foi criada, com a finalidade de auxiliar o homem, isto era interpretado, como se ela fosse criada para
ser uma escrava para o homem; novamente demonstrando, que ela estava a um degrau abaixo do homem.
Por conseguinte, um homem que se vestisse de mulher, estaria se diminuindo; e, por implicação, estaria
rebaixando todos os homens ao nível das mulheres. Da mesma forma, a mulher, não deveria usar vestes
masculinas; pois, ao fazê-lo, ela estaria sendo elevada ao “status” de homem, e causando descrédito e
vergonha aos homens.
David Payne escreve na série “Estudos Bíblicos Diários” sobre Deuteronômio 22.5:
Existem razões para crermos que a Lei descrita no versículo cinco não esteja relacionada com a aberração
sexual conhecida como travestismo, mas que seja um repúdio a certas práticas pagãs daquela época.
Portanto esta lei, hoje em dia, não seria mais do que um guia de distinção, do que aquela descrita no
versículo doze, a respeito das franjas das bordas da manta a ser usada pelos Israelitas. Estas franjas,
qualquer que seja a sua origem, pretendiam lembrar a cada um dos Israelitas da sua obrigação de obedecer
a D’us e à sua lei. Com efeito, estas franjas fizeram os Israelitas distintos dos canaanitas, na sua maneira de
vestir.
Existem evidências, que indicam que os praticantes da prostituição no templo, especialmente os homens,
usavam roupas do sexo oposto. Se aceitarmos esta afirmação, podemos então concluir que, as instruções
contrárias ao “travestismo”, encontradas em Deuteronômio 22.5, na verdade nos dizem que:
1. Os Israelitas devem ser imediatamente identificados como tal, ou seja, eles não devem agir nem
vestirem-se como os habitantes das terras para onde D’us os levou.
2. Os Israelitas devem observar as separações de gênero, de maneira a não macular a imagem
masculina com a feminina (sociedade patriarcal, machista).
3. Os Israelitas não devem envolver-se em práticas idólatras.
A PERSPECTIVA CRISTÃ
Todos os Cristãos que tentam aplicar a sua própria interpretação das Escrituras na sua própria vida, ou na
vida de outrem, estão, na verdade, violando os ensinamentos de Cristo.
Paulo, na sua carta aos Gálatas nos fala a respeito da Lei: "Todos quantos, pois, são das obras da lei
estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas
escritas no Livro da Lei, para praticá-las. É evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de D’us,
porque o justo viverá pela fé” (3.10,11). Paulo continua a explicar: “Mas, antes que viesse a fé, estávamos
sob a tutela da lei e nela encerrados, para que essa fé que, de futuro, haveria de se revelar. De maneira que
a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados pela fé. Mas, antes,
tendo vindo à fé, já não permanecemos subordinados ao aio." (3.23-25).
Não interprete mal este ensinamento. Paulo não está de maneira nenhuma tentando diminuir ou depreciar a
Lei Judaica. Paulo era ele mesmo Judeu, e um Fariseu. Na sua juventude, ele era extremamente zeloso em
relação às tradições de seus pais (Lei), segundo o que ele nos revela em Gálatas 1.14.. Mas, a Lei de
Ordenanças foi designada para um período específico no mundo, o período prévio à vinda do Messias.
Yaohushua Ha ‘Mashiach nos explica em Mateus 5.17, "Não penseis que vim para revogar a Lei ou os
Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir." Yaohushua Há Mashiach,, o Messias Judeu, cumpriu
e complementou a Lei. Em outras palavras, os seguidores dEle, os Cristãos, não mais estão sob o jugo da
Lei Judaica, mas, sob a Graça de D’us. Paulo nos explica: "Não anulo a graça de D’us; pois, se a justiça é
mediante a lei, segue-se que Cristo morreu em vão!" (Gálatas 2.21).
Conseqüentemente, já que os Cristãos estão vivendo sob a Graça, e não mais submetidos à Lei de
Sacrifícios, não podem então, querer que outros, ou eles mesmos, estejam ainda atados a esta mesma Lei.
Os que insistem em fazê-lo estão como Paulo nos diz de forma tão eloqüente, sob maldição. Estes se
condenam a si mesmos a estarem completamente inertes, de pés e mãos atados, pela própria Lei.
Como já vimos anteriormente, seria praticamente impossível, cumprir a Lei na sua integridade. O sacrifício
de animais, bem como a queima destes holocaustos, por exemplo, não é mais permitida ou legal nos dias
atuais. No livro de Atos, no décimo capítulo, encontramos uma pequena história que demonstra que os
requerimentos da Lei foram concluídos e não são mais aplicáveis. Pedro tem uma visão na qual ele estava
faminto, os céus se abriram e um grande lençol desceu dos céus com toda a sorte de animais-permitidos e
proibidos, e ouviu uma voz do céu que lhe disse: “Levanta-te Pedro, mata e come”. ‘De modo nenhum,
Senhor. Pedro retrucou. “Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.” A voz respondeu:
‘Não considere impuro aquilo que D’us purificou. ’ (Atos 10.13-15)
Mais ainda, em Hebreus 10:4 aprendemos que é impossível que o sangue de touros e de bodes remova
pecados, e continuamos a aprender no versículo dez que pela vontade de D’us temos sido santificados
mediante a oferta do corpo de Yaohushua Ha’Machiach, O Cristo, de uma vez por todas.
É importante anotar que a Enciclopédia Bíblica Padrão Internacional em seu artigo Natural/Natureza
(The International Standard Bible Encyclopedia) afirma:
“... a palavra natureza está contaminada por conceitos não bíblicos a partir do pensamento grego em diante,
especialmente conceitos carentes da confissão bíblica fundamental de D’us como Criador. A ambigüidade do
termo (por quaisquer razões) admite um espectro de uso que varia do abstrato e universal à subjetiva e
sensata vida de uma pessoa.... O relacionamento natural entre os sexos está estabelecido na ordem regular
da natureza (Romanos 1,26). Os pagãos são culpados pela violação desta physis (isto é, natureza)."
Novamente encontramos esta referência à idolatria como sendo o que é “contra a natureza”, e a condenação
indicada em Romanos 1.26-27.
CORÍNTIOS
1Coríntios 6,9–10:
“Não sabeis que o ímpio não herdará o Reino de D’us? Não vos iludais. Nenhum destes herdará o Reino de
D’us: o imoral, os idólatras, os adúlteros, malakoi, arsenokoitai, os ladrões, o ganancioso, os bêbados, os
caluniadores nem os extorsionários herdarão o Reino de D’us”.
Paulo apresenta ao leitor uma lista daqueles que ele declara que não herdarão o Reino de D’us. A palavra no
grego original parafraseada por ímpio é akidos e significa iníquo; por extensão, mau; por implicação,
traiçoeiro; especialmente bruto: iníquo, pecaminoso.
Há duas palavras que certamente chamarão sua atenção de imediato: malakoi e arsenokoitai. Você não
encontrará essas palavras em nenhuma tradução; você encontrará, no entanto, várias palavras e frases. O
que eu mostrei acima são as palavras na língua original. A verdade é que ninguém sabe realmente com
certeza o que as palavras significam, e, conseqüentemente, nem o que Paulo quis dizer realmente.
Comparando as palavras em diferentes traduções, você notará grandes variações em como estas palavras
são definidas:
• Rei James: “nem afeminados nem abusadores de si mesmos com a humanidade”;
• Nova Rei James: “nem homossexuais, nem sodomitas”;
• Bíblia de Jerusalém: “nem os depravados, nem as pessoas de costumes infames”;
• Revisada Padrão (apenas uma palavra): “homossexuais”;
• Nova Internacional: “prostitutos masculinos; nem ofensores homossexuais”;
• Contemporânea Inglesa: ”nem o que se comporta como um homossexual”;
• Novo Testamento Inclusivo: “prostitutas e pederastas”;
• Oxford Comentada: “prostitutos masculinos, sodomitas”;
• Nova Versão Internacional (Edição 2002): “Nem homossexuais ativos e passivos”;
• Editora Ave Maria: “nem os efeminados, nem os devassos”;
• Sociedade Bíblica do Brasil (Edição 1969): “nem efeminados, nem sodomitas”;
• Sociedades Bíblicas Unidas: “nem adúlteros, nem efeminados (sic)”;
• Tradução Ecumênica da Bíblia: “nem os efeminados, nem os pederastas”;
• Reina Valera: “nem os efeminados, nem os que deitam com homens”.
É muito interessante que a Bíblia Contemporânea Inglesa usa a frase comporta-se como um homossexual.
Se a censura é contra alguém que "comporta-se" como um homossexual, então, os escritores desta
tradução, acreditam que as palavras não se referem, nem se aplicam, aos homossexuais; mas, aos
heterossexuais que se comportam; leia-se: “engajam-se em comportamento homossexual”, como
homossexuais. Podia isto novamente ser uma referência ao templo de culto ou à prostituição em santuários?
Enquanto que a Nova Versão Internacional, Edição 2002, da editora Vida: “Nem homossexuais ativos e
passivos”; é, no mínimo, mal intencionada.
Por que uma tão larga gama de diferenças entre as traduções? As palavras são extremamente obscuras.
Malakoi (ou malekos) aparece somente quatro vezes no Novo Testamento. Em três vezes significa fino ou
macio, como quando Yaohushua Ha’Mashiach a usou para falar de João Batista em Mateus 11.8: "... Mas
que fostes ver? Um homem vestido em roupas finas (malekos)? Mas os que vestem roupas finas (malekos)
vivem nos palácios dos reis" (VBJ). A outra vez onde a palavra aparece é na versão de Lucas deste mesmo
discurso (7.25).
Enquanto que no Dicionário Strongs de Grego do Novo Testamento (Strongs Greek Dictionary of The New
Testament), nós lemos como segue: malakos = macio; isto é, roupas finas; figurativamente, um efeminado,
alguns dicionários gregos definem-na como significando moralmente fraco. Martinho Lutero traduziu-a como
fraco (em corpo, mente ou caráter).
No Dicionário Vine, de Palavras do Novo Testamento (Vine’s Dictionary of New Testaments Words), se você
procurar pela palavra macia, o livro mostra: Veja Efeminado. Lá você encontrará o original: malakos: macio,
macio ao toque, fino, é usado como (a) roupa fina; (b) metaforicamente, em um mau sentido, "efeminado",
não simplesmente de um macho que pratique formas de lascívia, mas das pessoas em geral que são
culpadas de apego aos pecados da carne, voluptuosos.
Observe a palavra efeminado(s) usada tanto na Bíblia de Jerusalém como indicado acima, bem como no
dicionário Strongs. Tom Horner, em seu livro Jônatas amou Davi (Jonathan Loved David), identificam
efeminados como: “... os homens extremamente efeminados que transformaram a homossexualidade em
uma profissão. Estes eram os efeminados, os prostitutos homossexuais da Grécia antiga, os assim
chamados “cães sagrados” dos santuários cananeus, e os eunucos seguidores da deusa Cibele... Em
algumas sociedades, tais como aquelas da antiga Frigia, os efeminados foram olhados com honra e respeito;
mas na sociedade hebraica, em todos os períodos que conhecemos, não o eram". Outra vez encontramos a
referência aos prostitutos de santuários, aqueles que se engajavam no sexo do mesmo gênero para o culto
de ídolos.
Horner continua: "Na Grécia clássica, também, homens efeminados geralmente eram menosprezados. Por
quê? Porque representavam o oposto exato do tipo heróico ou nobre de amor que era muito admirado da
época do Hércules legendário, que depois, na Roma imperial foi ligado eroticamente a dois homens (e
numerosas mulheres) do imperador Adriano. Este modelo heróico foi idealizado como o mais nobre, e em
alguns casos, romântico, tipo de amor. Em O Banquete, de Platão, é elogiado como a máxima expressão do
amor físico (e espiritual sinal de virtude). E, pelo contrário, sair com um efeminado era algo ordinário. Todo
homem poderia fazê-lo; e em algumas sociedades quase todo homem o fez uma vez ou outra. Além disso,
como o patriarcado aumentou seu domínio nas sociedades mediterrâneas orientais, o homem em que
faltavam traços viris, como a fêmea a quem ele tão proximamente se assemelhou, foi mais e mais
estigmatizado" (Páginas 22, 23).
A segunda palavra usada na passagem destacada, arsenokoitai (arsenokoites) é ainda mais obscura.
Aparece somente duas vezes no Novo Testamento, aqui e em 1 Timóteo 1,10. Esta palavra é tão obscura
que o dicionário Vine nem tenta defini-la. Em vez de uma definição, o dicionário dá as duas únicas
passagens onde à palavra aparece. O dicionário Strongs usa: “um sodomita: abusador (que perverte) a si
mesmo com a humanidade. Derivado de arsen = macho, homem, e kemai = mentir de forma contumaz”.
Rev. Robert Arthur, em seu livro Homossexualidade à Luz da Linguagem e Cultura Bíblicas (Homosexuality
in the Light of Biblical Language and Culture), falando de cultos pagãos, escreve:
Era extremamente comum, portanto, encontrar deuses e deusas que recebiam presentes de apreciação e de
adoração de seus adeptos sob a forma de atos sexuais. Para facilitar o oferecimento de tais presentes,
homens e mulheres eram ligados (a templos) para receber estes presentes e tornaram-se conhecidos como
prostitutos do templo (tanto homossexuais como heterossexuais). (...) A adoração da fertilidade deste tipo e
expressões similares continuaram por pelo menos nos primeiros 100 anos da era cristã, em lugares tais
como o templo de Diana em Éfeso. Na língua grega a palavra usada para os prostitutos do templo nestes
lugares da adoração pagã era arsenokoites. Não foi antes de por volta de 200-250 da era cristã que uma
homofobia marcante (...) começou a rastejar na Teologia. Por esta época, a adoração cultual do sexo
começou a morrer e a palavra usada por Paulo para descrever os prostitutos do templo estava começando a
tornar-se obsoleta. É importante observar que (...) ao tempo de Cristo a palavra de uso comum que
significava homossexualidade era homophilia. (...) Esta palavra foi usada na língua grega até bem depois da
época da morte de Paulo. Mas esta palavra nunca foi usada nas Escrituras.
Padre John McNeill, sacerdote jesuíta, em seu trabalho A igreja e o Homossexual (The Church and the
Homosexual), escrevem que o uso da palavra, no segundo século, na Apologia de Aristides, parece indicar
que significa um corruptor obsessivo de meninos. Do mesmo modo, o professor Robin Scroggs, do
Seminário Teológico de Chicago, em seu livro, Novo Testamento e Homossexualidade (New Testament and
Homosexuality), posiciona-se que ambas as palavras – malekos e arsenokoites – referem-se aos parceiros
ativos e passivos na prática grega da pederastia, a qual não deve de modo algum ser confundida com
homossexualidade. Pederastia é a molestação de crianças, pura e simplesmente. Um relacionamento
‘pederástico’ existe entre um amante, que é geralmente um homem maduro, e, o amado, um garoto jovem o
bastante, para ainda ser imberbe. O amante era sempre o parceiro ativo; o amado era solicitado a ser
passivo. Nem todo relacionamento era sexual em sua natureza, mas quase todos o eram. O amado não
devia ser sexualmente satisfeito, o que era prerrogativa exclusiva do amante apenas. Quando o amado
tornava-se velho o bastante para ter barba e por outro lado tornar-se mais viril, era trocado por uma pessoa
mais nova. A razão para isto era porque o ideal era um menino que se assemelhasse a uma mulher. Os
meninos deveriam depilar os pelos faciais, deixar seu cabelo crescer, alguns até usavam maquiagem. O
professor Scroggs sustenta que este menino era o malekos, e o adulto, o arsenokoites, referidos nesta
passagem da Escritura Sagrada.
Enquanto que a pederastia parece ser, equivocadamente, homossexual por natureza, a realidade é que as
pessoas engajadas nessa atividade eram, para a maioria das pessoas, heterossexuais. A pederastia era
considerada apropriada ao treinamento de um menino para a masculinidade. O relacionamento não era
permanente, durando somente o tempo em que o garoto mantinha sua aparência jovem. Não havia nenhuma
mutualidade, nenhuma satisfação ou prazer mútuo, e o garoto era desumanizado, usado pelo amante como
uma coisa, não como uma pessoa para amar e estimar. Por outro lado, o amado recebia regularmente
presentes do amante. O amado, por sua vez, freqüentemente tornava-se o amado de diversos amantes,
todos os mais lucrativos para ele, tornando-se, finalmente, um prostituto masculino, por tanto tempo quanto
sua beleza resistisse.
Pederastia, ainda que culturalmente aceita, era moralmente errada em muitos aspectos, como demonstrado
acima. Não pode de maneira alguma ser interpretada como uma descrição da homossexualidade, que é o
amor emocional, espiritual, romântico, afetivo, de dedicação mútua, e sexual, entre parceiros mútuos do
mesmo gênero.
A Nova Bíblia Comentada de Oxford, publicada em 2001 é considerada um dos comentários mais
autorizados de todas as Bíblias,; ela oferece a seguinte nota de rodapé para os versículos destacados:
Os termos gregos traduzidos como prostitutos masculinos e sodomitas, não se referem aos “homossexuais”,
como em inapropriadas traduções mais antigas; “masturbador”, “e prostitutos masculinos”, podem ser a
melhor tradução.
Que tipo de conflitos você viveu até se conformar em ter uma atração homossexual?
Conforme o tempo passava, e a minha repressão sexual, ficava cada vez mais fraca, o contato com rapazes,
transformou-se numa frustração estranha, e não deu mais para negar os desejos que brotavam de dentro de
mim. Em certa ocasião, quando estava em Israel, eu fiquei tão desesperado, por perceber, que a minha
atração, por certo colega estudante, aumentava cada vez mais, que fui visitar um sábio, Rav Yosef Shalom
Eliashuv, que vive em uma das mais isoladas comunidades ortodoxas de direita em Jerusalém. Falando em
hebraico, eu disse a ele, o que na época, era a minha verdade: “Mestre, eu sinto atração tanto por homens,
quanto por mulheres. O que devo fazer?”. Ele respondeu, “Meu caro, você tem duas vezes o poder do amor.
Use-o com cuidado.” Eu fiquei perplexo, e como ele ficou em silêncio, perguntei: “E o que mais?”. Ele sorriu e
respondeu: “Isso é tudo. Não há mais nada a dizer.”
As palavras dele me acalmaram, permitindo que eu, temporariamente, esquecesse as terríveis tensões que
me atacavam. Claro, que eu não estava pedindo permissão para agir a partir dos meus sentimentos, e, ele,
também não estava permitindo isso. Mas, eu tinha que entender o que é que significava o meu desejo por
homens. Por suas palavras, eu compreendi que não era para eu encarar esse desejo com medo; mas, sim,
como a prova de que eu tinha um grande potencial para amar. O mais engraçado, é que eu até achei, que
essa minha característica, poderia me fazer um Rabino melhor; porque como bissexual, eu teria uma vida
emocional mais ampla, e mais rica; e, quem sabe, uma vida mais espiritual, mais profunda, e ainda me casar
e ter uma família.
Voltei de Israel para Nova Iorque em 1978, para terminar meus estudos e me casar. Com 22 de idade,
metades dos meus colegas estavam noivos; ou já casados, e, eu, estava entusiasmado para entrar nesse
grupo. Namorei mulheres nesse período, mas, confesso que não sabia exatamente o que deveria sentir.
Como eu estava me tornando um Rabino ortodoxo, elas sabiam que não podiam esperar nada sexual da
minha parte. Cheguei a “me apaixonar” umas três vezes; e em cada vez, cheguei à triste conclusão, de que
aquelas mulheres, não me atraíam o suficiente. O que mais poderia explicar o meu total desinteresse sexual
por elas?
Em que momento, e por que razão você passou a aceitar a homossexualidade como
um dom de D’us?
Com a publicação do artigo na Tikkun, eu virei um endereço para pessoas ortodoxas homossexuais de
ambos os sexos, que procuravam apoio. Ao responder as cartas, meu mundo expandiu-se. Ao me abrir para
outras pessoas homossexuais, eu senti o início de uma comunidade e um senso crescente de
responsabilidade por ela. Eu sabia que teria que transformar os sentimentos expressos no meu artigo de
jornal, em um argumento muito mais sustentável, defendendo a inclusão de judeus homossexuais dentro da
comunidade ortodoxa.
A partir da sua aceitação, o que mudou na sua vida pessoal? E na sua relação com
D’us?
Por anos orei a D’us, pedindo que Ele afastasse o flagelo da perversidade para longe de mim. Por vezes,
senti que D’us era meu torturador. Quando comecei meu primeiro relacionamento homossexual, voltei a orar.
Eu fiquei entre celebração e culpa; ou seja, algumas manhãs, depois de ter passado a noite dormindo nos
braços do meu amante, eu nem conseguia me paramentar para as orações, de tanta culpa que sentia; outras
manhãs, eu me paramentava, e ia rezar com um enorme prazer, agradecendo a D’us por estar vivo, depois
de ficar tantos anos como um semimorto. Demorei muito para entender que “O D’us que me criou em
conformidade com a Sua vontade não ia me rejeitar depois”.
Como você avalia a ação desse documentário junto aos judeus em conflito com a
sua orientação homossexual?
Para lidar com esse conflito, os Rabinos têm adotado amplamente a posição de muitos líderes religiosos
cristãos, de “Amar o pecador e odiar o pecado”. Quando alguém é incapaz de ser curado do flagelo do
desejo homossexual através de esforço espiritual, de força de vontade moral ou da terapia, o Rabinato
Ortodoxo, por vezes com um reconhecimento doloroso, ordena o celibato para toda a vida. Uma vez que o
caráter de uma pessoa é comumente moldado pela restrição do desejo pessoal em prol de objetivos
sublimes, nos é dito que a escolha é nossa: opte pela Ortodoxia e resista à expressão homossexual; ou opte
por ser homossexual e saia da comunidade. Mas eu recebo diariamente e-mails e cartas sobre o impacto
positivo que o filme teve nas vidas das pessoas. Famílias foram refeitas e jovens tiveram sua conexão ao
Judaísmo restaurada pela esperança que foi transmitida no filme. Para alguns judeus não-ortodoxos, o filme
aumentou sua raiva contra a ortodoxia, pela forma como trata os homossexuais. Entretanto, normalmente
ouvimos de Judeus Ortodoxos, que o filme foi espiritualmente comovente, e, que eles foram tocados pela fé,
e pela persistência de pessoas, que têm todas as razões para abandonarem as Comunidades Ortodoxas,
mas permanecem. Como eu.
A LEI DO AMOR
Qual é a mensagem fundamental da Bíblia, e do Evangelho de Yaohushua Ha’Mashiach? Como cristãos,
nós acreditamos, que a escritura hebraica é a revelação inspirada dos compromissos de D’us para com o
seu povo. Também se constitui em um importante estudo da história hebraica. Acima de tudo, é parte da
continuação de uma história e uma promessa de redenção. Além disso, como cristãos, nossa lei é a de
Cristo, e essa lei, é a lei do amor. Seu fundamento é o mandamento "ame a D’us, e ao próximo como a si
mesmo".
Nem Yaohushua Ha’Mashiach, nem Paulo, nem ninguém mais do Novo Testamento, diz que os cristãos
estão presos às regras de ordenanças da Lei de Moisés. Paulo ensinou claramente que os cristãos não
estão mais sob a Lei de ordenanças e sacrifícios do Velho Testamento (Gálatas. 3.23-25). Ensinou também,
que a velha lei, é complementada em Cristo (Romanos 10.4), e que sua realização se cumpre no amor
(Romanos 13.8-10; Gálatas 5.14).
Yaohushua Ha’Mashiach, verdadeiramente lidou, com a sexualidade humana, de uma maneira aberta e com
aceitação. Por um lado, ele afirmou as virtudes do casamento; mas por outro, também declarou que o
casamento não é para todas as pessoas (Mateus 19.3-12). Por fim, a Bíblia não possui registrada nenhuma
palavra falada por Yaohushua Ha’Mashiach condenando a homossexualidade.
LEVÍTICO 18:22 : "É uma abominação para um homem se deitar tanto com um homem como com uma
mulher."
Desde os tempos do Talmud, numerosas tentativas têm sido feitas pelos Rabinos para explicar esta
passagem. A palavra to'evah é por si só problemática, e quase todos os estudiosos concordariam que a
tradução por "abominável" é imprecisa e inapropriada. Bar-Kapparah a interpretou para que se lesse "to'eh
atah ba" Ð literalmente, "você está se desestruturando devido a isso" Ð e não que o ato em si é
intrinsecamente (Nedarim 51a). Uma vez que a declaração de Bar-Kapparah é em si pouco clara, algumas
tentativas têm sido feitas de explicá-la. De acordo com o Pesikta (Zatarta) e Sefer Há’Chinukh (209), mishkav
zakhur (intercurso com outro homem) não é passível de resultar em procriação. Uma vez que o judaísmo
tradicional vê pru v'urvu como a única motivação aceitável para relações sexuais (Será?? Vamos discutir isso
mais tarde), atos homossexuais claramente violam este mitzvah enfático. O Tosafot e Rabino Asher Ben
Yechiel (em seus comentários ao Nedarim 51a) aplicam este "se desestruturando" para significar que a
busca por atos homossexuais farão com que um homem abandone sua família. Outra possível explicação,
dada pelo Rabino Baruch Ha’Levi Epstein (in Torah T'mimah to Lv 18.22) é que, a homossexualidade em si é
anti-natural: "Você estará se desestruturando das bases da Criação." Enquanto Norman Lamm, outro Rabino
ortodoxo da época atual, defende ser desnecessário explicar o texto, de fato ele dá sua própria explicação:
"Talvez justamente pelo fato de permitir uma interpretação múltipla, queira significar um significado muito
mais fundamental da to'evah, que um ato caracterizado como "abominável" à primeira vista possa ser visto
como repulsivo e não possa ser definido ou explicado" (204). Este argumento, no entanto, é
surpreendentemente frágil, especialmente para um estudioso da Torah. O conservador Rabino Gordon
Tucker questiona essa colocação: "No Rabinato clássico judaico, nunca usamos “a Torah claramente diz”
como argumento inquestionável, final e decisivo.” (41) De fato, se aceitarmos o raciocínio do Rabino Lamm
como base para decisões, os violadores do Shabbat seriam apedrejados até a morte e pais poderiam
espancar filhos mal comportados.
Todas essas interpretações se esquecem de olhar o contexto bíblico no qual a palavra to'evah é usada.
Numerosas fontes contemporâneas têm deduzido de todos os seus usos na Torah "que to'evah é na verdade
um termo técnico usado para referenciar atos proibidos de idolatria. A partir dessa informação, podemos
concluir que as referências do Levítico são específicas para práticas rituais da homossexualidade, e não para
relações sexuais como as conhecemos hoje." (Alpert 68) O Rabino Alpert aponta para a segunda proibição
contra a homossexualidade, em Deuteronômio 23.18, que se refere especificamente a templos de
prostituição masculina. Mesmo o Rabino Lamm concorda com esse esclarecimento: "Estudiosos identificam
que o kadesh imposto na Torah como prostituto masculino para rituais." (201).
Sob a ótica da variedade de interpretações mostradas acima, como estudiosos halachic não podemos
unicamente confiar nas declarações contidas na Torah para fazer uma regra, especialmente se vemos essas
passagens específicas fazendo referência a atos inteiramente diferentes daqueles proibidos por Rabinos
através dos tempos. Logo, devemos abordar cada um desses argumentos específicos, usados pelos
Rabinos, e examinar sua aplicação em nossa situação atual.
ARGUMENTOS FINAIS
Por que o Judaísmo lida com a questão da homossexualidade? Não é claro o que diz a Torah? "A existência
do debate entre judeus halachicamente comprometidos," responde o Rabino Tucker, "dá testemunho
eloqüente que este assunto que não está claro pelo texto... Sim, está claro que Levítico18. 22 deveria ser
superado; um argumento nesse sentido não está ainda totalmente pronto, mas está começando a surgir."
(43) Se de fato este for o caso, outras barreiras duvidosas não deveriam ser colocadas no caminho dos
homossexuais que gostariam de servir suas comunidades. É hora de ver que não é mais justo nem
justificável halachicamente impedir homossexuais de serem modelos construtivos para jovens judeus e
reconhecer o grande potencial com o qual podem contribuir para tikkun olam como líderes da comunidade
judaica.
NOTA: A palavra lésbica vem da ilha de Lesbos, na Grécia, onde vivia uma poetisa e sacerdotisa chamada
Safo. Ela iniciava mulheres no homossexualismo; daí, o adjetivo lésbica, ou mulher sáfica. As palavras
sodomitas e efeminados, usadas em 1 Co 6.9, têm significados distintos: sodomita vem do pecado de
Sodoma, e tornou-se sinônimo universal de homossexualismo ativo, quando o homossexual faz o papel de
“marido” na relação com outro homem; e, efeminado, é quando o homossexual faz o papel de passivo, ou
seja, o de “mulher” na relação sexual com outro homem; e, também, quando tem trejeitos femininos, ou
gosta de vestir-se com roupas de mulher, como no caso, os travestis.
CONCLUSÃO: Posta assim a questão, é de se dizer em conclusão, que este trabalho teve puramente o
intuito de ponderar que as relações afetivas entre seres humanos datam do início dos tempos, e que estas,
embora tenham só a forma heterossexual regulada por lei no Brasil, já começa a necessitar absolutamente
de legislação para regularizar a forma homossexual de relação afetiva. A sociedade já trata com mais
respeito do tema, os grupos sociais homo afetivos já não têm mais medo, organizam-se e já não querem
mais se esconder, já há uma luta formal por esta classe que mesmo discriminada, como as concubinas no
passado, vislumbra esperança em conquistar seus direitos.
Igreja só para cristãos homossexuais vai erguer Mega-Templo nos Estados Unidos
Por: Eduardo Salgado.
Embora os livros penitenciais - que serviam como orientação teológica aos confessores, desde o século VI
até o X, contenha sempre, quando menos, um cânone condenatório da sodomia é São Pedro Damiani (1007-
1072) o primeiro autor a dedicar toda uma obra à incriminação da homossexualidade.
Trata-se do clássico Liber Gomorrhianus (Livro de Gomorra), datado de 1049, oferecido ao Papa Leão IX,
onde este escrupuloso Sacerdote propõe uma pastoral dirigida aos clérigos a fim de fazê-los abandonar o
abominável pecado de sodomia, sugerindo igualmente medidas punitivas contra os relapsos. O motivo que o
levou a escrever tal obra é indicado logo no prefácio: "o crescimento deste vergonhoso e abominável vício";
segundo ele, perigosíssimo e hediondo. O seu texto é um dos libelos mais homofóbicos que se escreveu em
toda história humana: “A sodomia ultrapassa a sordidez de todos os vícios”. É a morte dos corpos, a
destruição das almas. Este vício possui a carne, extingue a luz da mente. Expulsa o Espírito Santo do templo
do coração humano, introduz o Diabo, que incita à luxúria. Induz ao erro, remove completamente a verdade
da mente que foi ludibriada; abre o inferno, fecha a porta do paraíso. Este vício tenta derrubar as paredes da
casa celestial, e trabalha na restauração das muralhas reconstruídas de Sodoma, pois viola a sobriedade,
mata a modéstia sufoca a castidade e extirpa a irreparável virgindade com a adaga do contágio impuro.
Conspurca tudo, desonrando tudo com sua nódoa, poluindo tudo. “Não permite nada puro, nada limpo, nada
além da imundície" (40).
Diversos historiadores confirmam que, durante boa parte da Idade Média, a sodomia passou a ser
popularmente conhecida como vício dos clérigos, de tal modo, era cultuado dentro dos conventos, mosteiros,
igrejas e cabidos (41). As pesquisas na documentação da Inquisição Portuguesa confirmam essa mesma
tendência na Península Ibérica ao longo dos séculos XVI ao XVIII: numa lista de mais de 4 mil denunciados
e/ou confessados constantes nos Repertórios do Nefando, assim como na relação de mais de 400 sodomitas
efetivamente presos e processados pelo Santo Ofício, um terço desses indivíduos eram clérigos, Sacerdotes
e religiosos, valendo, por conseguinte, também para o mundo ibérico a identificação da sodomia como
vicium clericorum (42).
Para evitar que os fiéis, ao serem recriminados pelas autoridades eclesiásticas, pela prática de condutas
imorais, não repetissem o ditado bíblico: "médico, cura-te a ti mesmo!" (43), urgia que a moralização dos
costumes se iniciasse dentro das próprias hostes clericais, daí a importância do Livro de Gomorra como
marco dessa campanha contra o relaxamento dos costumes intraclaustros. A forte presença do amor
homossexual entre os clérigos, colocava em xeque, um dos alicerces da moral cristã: a superioridade da
castidade e do celibato vis-à-vis não só a incontinência sexual, como em face do próprio matrimônio, posto
que a Teologia Moral defendesse que o estado religioso, com a adoção dos três votos (pobreza, castidade e
obediência), representava um estado mais elevado de perfeição do que a opção conjugal. Inúmeros católicos
foram denunciados e perseguidos pelas diversas inquisições modernas exatamente por defenderem a
proposição herética que "é melhor casar do que ser padre" (44). Mais ainda: Pedro Damiani estabelece
vinculação direta entre a sodomia, heresia, lepra e o diabo, sendo considerado este pecado mais grave do
que o incesto.
A homossexualização do clero representava um enorme risco não só por servir de mau exemplo e estímulo
para o relaxamento moral dos leigos, mas também, como bem enfatizava Damiani, a presença de padres
homossexuais desacreditava a pureza das relações dos "pais espirituais" com os seus "filhos", na medida
em que tornava carnal e libidinoso o que devia primar por ser místico e acético. Um clero homossexual
coloca em xeque a própria seriedade da vida monástica, por trazer o pecado da sensualidade para dentro
das dependências religiosas; o que era muito mais difícil de ser controlado do que as relações com o sexo
oposto; posto que as mulheres sempre foram rigidamente impedidas de entrar na clausura (e vice-versa, no
tocante aos homens adentrarem-se em instituições femininas). Se São Pedro Damiani se distinguiu pela sua
cruzada contra a sodomia intraclaustros, um outro santo reformador dirigiu particularmente a sua pregação
anti-sodomita aos libertinos do mundo: o Franciscano São Bernardino de Sena (1380-1444).
"Embora o pecado de sodomia fosse tradicionalmente referido como vício inominável, este não é
decididamente o caso de Bernardino. Ele o menciona com tal freqüência que foi considerado o mais
expressivo e vívido comentarista a respeito da sodomia na Itália na baixa Idade Média; sendo o principal
responsável pela exacerbação da grande paúra do Quatrocento italiano, a sodomia, inspirando a primeira
perseguição do comportamento homossexual em larga escala na história européia, registrado em Florença e
outras cidades italianas. Ao lado do anti-semitismo, e a ansiedade da caça às bruxas; a época de São
Bernardino é marcada pelo surgimento da intolerância à atividade homo genital, tal qual está documentado
na literatura e legislação eclesiástica e civil, podendo-se falar de uma sodomofobia como um fenômeno de
intolerância crescente através da Europa, tal qual foi estudada por Boswell e Greenberg" (45).
Bernardino costumava afirmar que Florença era pior do que Sodoma e Gomorra, e que a Toscana tinha a
mais baixa população do mundo por causa do grande número de amantes do mau pecado - atribuindo a
essa abominação a causa da peste que assolou a Itália naquele período (46).
A opinião de São Bernardino de Sena, relativamente ao papel dos amores unissexuais como causa da
diminuição populacional, dá a pista para melhor entender o recrudescimento da homofobia na baixa Idade
Média e a sua posterior legitimação, no mundo ibero-americano, através dos tribunais da Santa Inquisição.
A homossexualidade é apontada como motivadora não só de castigos divinos pretéritos e futuros,
representando igualmente deletério risco à recuperação do crescimento habitacional após a dramática
população da Europa em decorrência da peste negra. A associação implícita ou explícita do amor unissexual
ao risco da bancarrota demográfica tem sido uma constante ao longo da história humana. Mesmo nos
nossos dias, quando a humanidade se vê confrontada com o espectro da explosão demográfica, os
homossexuais continuam sendo acusados de constituírem uma grave ameaça à sobrevivência de nossa
espécie: é comum ouvirmos, entre intelectuais e gente do povo, o argumento de que se for completamente
liberado o homo erotismo, a humanidade corre inevitável risco de extinção. Mais do que ledo engano, tal
assertiva indica claramente o quanto à sociedade heterossexista teme a normalização dos amores
unissexuais, pois suspeita que a sua liberação redunde num crescimento incontrolável de homens e
mulheres que deixariam de interagir sexualmente, pondo em xeque a perpetuidade de nossa descendência.
Subjacente a este enunciado, está à crença inconfessa de que a maioria dos casais de homens e mulheres
continua a praticar o heterossexualismo por mera imposição da moral dominante. Heterossexualidade
compulsória e por decreto, portanto. O já citado Dr. Boswell, assim como A. Kinsey e F. Whitam, são
unânimes em reconhecer o contrário dessa crença alarmista: "Não há teoria científica contemporânea
relativa à etiologia da homossexualidade que defenda que a tolerância social determina a sua maior
incidência. Mesmo teorias puramente biológicas postulam uniformemente que a homossexualidade seria
uma preferência minoritária sob qualquer condição, mesmo nas mais favoráveis" (47).
Whitam, estudando diferentes culturas contemporâneas, chegou à média de 6% como o total de
homossexuais exclusivos, independentemente do maior ou menor grau de tolerância regional (48). Há
provas antropológicas e históricas que confirmam tal assertiva: dois exemplos clássicos remetem-nos às
sociedades tribais da Nova Guiné e ao Japão novecentista. Os etoros, papuanos negróides da Oceania,
pertencem a uma cultura que poderíamos chamar de homossexualista, de tal forma, é oposta à nossa
tradição heterossexista Abraâmica: todos os rapazes dessa tribo, quando entram na puberdade, são
confiados a um jovem adulto, que tem como obrigação transmitir ao adolescente, por via anal, o seu próprio
sêmen, justificando os nativos que essa é a única forma de tornar aquele jovem iniciado num verdadeiro
homem, futuro transmissor de esperma. Se não receber sêmen pelo ânus, não poderá, quando adulto,
fecundar a sua futura mulher. Tão homossexualista é a cultura etoro, assim como a de diversas outras
sociedades da Oceania, que a cópula heterossexual é proibida de 205 a 260 dias por ano, estando limitada a
certos espaços marginais à aldeia, rodeada de uma série de restrições heterofóbicas. Pois bem: mesmo
nessa sociedade radicalmente homossexualista, estudos revelam que a taxa anual de fecundidade da
população se reduz em apenas 15%, se comparada com os demais povos heteros-sexistas, não chegando,
portanto essa prática privilegiada do homo erotismo a ameaçar a perpetuidade desses exóticos exemplares
da espécie humana (49).
Um outro exemplo histórico que contradiz a fobia irracional de que a liberação homossexual possa provocar
o fim de nossos semelhantes remete-nos ao Japão antes da restauração da dinastia Meiji (1865), quando a
prática homossexual era socialmente aceita como comportamento normal e moralmente correto. Hoje se
sabe que grande parte dos valorosos samurais e a maior parte dos delicados atores transformistas do teatro
nô e kabuki eram praticantes do homo erotismo, gozando de enorme admiração e aplauso geral (50). Pois
bem: comprova a demografia histórica que, apesar da grande tolerância e prática generalizada da
homossexualidade, a população nipônica cresceu naquele período até os limites extremos da subsistência
física, derrubando-se assim as ilações alarmistas de que a liberação do amor entre parceiros (as) do mesmo
sexo levaria necessariamente à de população e extermínio do Homo sapiens (51).
Há décadas, é este, o ensinamento de diferentes ramos do saber. Homossexuais representam sérias
ameaças à sobrevivência humana. Esta é uma das explicações da recrudescência da homofobia logo após a
enorme mortandade registrada na Europa em conseqüência da peste negra: "os homossexuais tornaram-se
bodes expiatórios para a peste e para o declínio populacional, e eram claramente vistos como um ultraje
para o código de respeitabilidade burguesa, recém-estabelecido e influenciado pelas Ordens Mendicantes".
Como se sabe aproximadamente 40% da população européia pereceu em conseqüência da peste negra
(1348), provocando enorme desequilíbrio sócio-demográfico; inclusive em Portugal, daí a necessidade
premente de povoar vastos territórios desertificados de gente após tamanha mortandade. Além de "os
pregadores invariavelmente atribuírem o início da Peste Negra à sodomia" (52), o desperdício do sêmen por
parte dos sodomitas passou a ser ainda mais atentatório, dado a calamidade populacional vivida numa
quadra tão dramática (53).
Se de um lado a imoralidade do clero e o espectro da peste desencadearam reações de intolerância
localizadas ou regionais contra os sodomitas, uma terceira hipótese explica a generalizada onda de
desconfiança e repressão aos amores unissexuais - onde novamente se revela o temor de seu caráter
intrinsecamente revolucionário e demolidor: a preservação do padrão tradicional do casamento
heterossexual e da constituição da família burguesa. Os homossexuais foram vistos, e de fato assim agiram,
em variados contextos históricos, como perigosos "filhos da dissidência”.
Segundo relata os etnógrafos, a quase totalidade das sociedades humanas teve como critério definidor dos
enlaces matrimoniais, não o amor romântico ou paixão sexual, mas os interesses patrimoniais de aliança das
famílias dos nubentes. Matrimonio = Patrimônio. Ainda no tempo de nossos avós ou bisavós, sobretudo nas
classes mais abastadas e controladas pela moral cristã predominava os casamentos arranjados, onde o que
menos importava era a vontade dos noivos. Na esteira da tradição judaica, ao longo de toda a Idade Média,
os cristãos continuam a visualizar a mesma finalidade no casamento: antídoto contra a tentação sexual e a
geração de numerosa prole. Casam-se para procriar, de preferência filhos homens.
Filhos numerosos são interpretados como inefável bênção divina e felicidade suprema. A esterilidade da
mulher representa desgraça máxima, castigo de D’us. O apóstolo Paulo e Yaohushua Ha’Mashiach,
reinterpretam neste particular a Lei de Moisés, passando o cristianismo a condenar o divórcio (54), embora
somente a partir do século XIII a Igreja confira ao casamento o status de sacramento, ao lado do batismo e
da ordem (55). Teólogos, como o Bispo Huguccio e Jean Gerson, defendiam ainda no século XV que mesmo
dentro do matrimônio, o sexo, até na posição "pai-mãe", também conhecida como "posição do missionário",
constituía pecado venial (56). Predominava, em amplos círculos da cristandade, o vetusto ensinamento de
São Jerônimo: "Um homem sábio deve amar a sua mulher com discernimento, e não com paixão e,
consequentemente, controlar os seus desejos e não se deixar levar à copulação. Nada é mais imundo do
que amar a sua mulher como uma amante" (57).
Dentro desse estóico código moral, o amor deve suceder ao casamento e não necessariamente precedê-lo,
obrigando a Santa Igreja a dar publicidade da cerimônia nupcial como forma de controlar os desejos,
interferir nas alianças familiares, exigindo para tanto que os proclamas fossem realizados com bastante
antecedência, evitando-se assim os riscos da fraude e, sobretudo o pecado e crime da bigamia. A
burocratização cartorial do matrimônio, formalizada a partir de então, além de garantir muitas benesses e
polpudas espórtulas ao clero, visavam o controle integral, através dos sacramentos, de todo o ciclo vital do
rebanho dos fiéis; batismo no nascimento, matrimônio na maturidade sexual, extrema-unção na
hora da morte (58).
Uma perigosa brecha persistia, porém, embutida na tradição cristã; segundo o direito canônico medieval, os
próprios nubentes eram reconhecidos como os legítimos ministros do matrimônio, bastando para sua
validação legal que o casal declarasse perante uma testemunha, podendo ser inclusive um leigo, que a partir
daquele instante passavam ambos a reconhecer-se e a coabitar como marido e mulher. Tal possibilidade
canonicamente válida colocava em grave risco o controle da família cristã, desde quando, sobretudo os
jovens, "tentados pelo demônio", realizavam clandestinamente o chamado "casamento de palavras",
arruinando os projetos de aliança familiar zelosamente construído pelos progenitores.
Foi somente o Concílio de Trento (1545-1563) que proibiu rigorosamente tal prática, obrigando a divulgação
dos banhos corridos e a presença de um sacerdote oficiante como condição sine qua non da validade desse
sacramento, ratificando-se nesse mesmo sínodo tridentino outro dogma relativo à união conjugal católica: a
stabilitas - a estabilidade indissolúvel dos casados. "Equilíbrios tão cuidadosamente preparados e tão frágeis,
onde se patenteia o caráter coercitivo da aliança entre famílias e dos intercâmbios de rapazes e raparigas,
teriam sido comprometidos se os casamentos pudessem ser rompidos com demasiada facilidade, e as
esposas repudiadas; Tem-se a impressão de que a stabilitas do casamento precoce era a condição da
stabilitas da comunidade inteira. Cabia à própria comunidade fazer com que ela fosse respeitada" (59).
Nesse contexto de crescente domesticação da moralidade, como agiam e eram vistos os praticantes do
amor unissexual, ou melhor, do abominável e nefando pecado de sodomia? Com a palavra nosso já
conhecido São Bernardino de Sena:
"Pode existir um jovem rapaz de raros talentos, alguém de grande inteligência, feito para realizar maravilhas,
mas uma vez corrompido pela sodomia, ele se transforma numa criatura do Diabo. Ele rejeita todas as coisas
naturalmente boas, todos os pensamentos de D’us, do Estado, da sua família rejeita os seus negócios, a sua
honra, a sua própria alma. Ele só pensa em assuntos “malignos” (60).
Quem melhor sintetizou na nossa língua a suposta malignidade revolucionária representada pelos sodomitas
foi o cardeal D. Henrique (1512-80), segundo inquisidor geral da Inquisição Portuguesa, que, em 1574
obteve um Breve de Gregório XIII ratificando a pena de morte aos sodomitas, referidos na documentação
inquisitorial como "filhos da dissidência" (61).
Dissidência cisma, cisão equivale a se separar de uma corporação por divergência de opiniões, atentar
contra a tão desejada unidade do orbe católico, "um só rebanho e um só pastor!". Os sodomitas atentavam
contra esse desiderato ideológico, assustando todas as camadas sociais, dos donos do poder ao populacho.
Tanto quanto ou até mais que os hereges, os filhos da dissidência, devido ao seu inconformismo numa
questão reputada como indiscutível, a moral sexual natural, ultrajavam com a sua dissidência erótica o
ensinamento oficial da ortodoxia, ostentando o caráter revolucionário de sua insubordinação às leis divinas e
insistência na prática do peccatum contra naturam.
Eis o pensamento oficial da Inquisição Portuguesa sobre este particular: “O crime de sodomia é gravíssimo,
e de tal qualidade, que, houve quem afirmasse, com grande fundamento, que quem o cometia, era suspeito
na fé, e tão contagioso, que mostra a experiência, pois em breve tempo infecciona não só as casas, lugares,
vilas e cidades, mas ainda Reinos inteiros, e é obrigação precisa, atalhar males grandes e de que D’us tanto
se ofende, com meios eficacíssimos e, para os descobrir, não há outro meio mais adequado que a denúncia
forçada" (62).
Num sermão, num auto de fé, realizado em Lisboa, em 1645, onde foram queimados diversos sodomitas,
esse mesmo pensar é assim ratificado: "Sodoma quer dizer traição. Gomorra, rebelião. É tão contagiosa e
perigosa a peste da sodomia, que haver nela compaixão, é delito. Fogo e todo rigor, sem compaixão nem
misericórdia! “Tanta força tem o lugar apestado deste vício que para livrar dele até a um inocente, é
necessário a violência de muitos anjos” (63).
Pode considerar-se um precioso achado sócio lingüístico a caracterização dos amantes do mesmo sexo
como "filhos da dissidência", pois, por mais alienado, reprimido e pré-político que seja um homossexual, a
sua insubordinação aos cânones da moral oficial representa uma violenta revolução que ameaça arruinar os
alicerces constitutivos da hegemonia do macho e da sociedade heterossexista. Ao tomar como móvel da
aproximação dos corpos tão-somente a paixão erótica e eventualmente o amor romântico, os homossexuais,
desde priscas, eras, privilegiaram a emoção e o prazer em detrimento da reprodução biológica ou das
alianças patrimoniais. Antecipou em milênios o que Freud antevia como elemento desestabilizador da
hierarquia dos sexos na nossa civilização: a possibilidade de libertar os amantes de uma gravidez
indesejável numa sociedade que desconhecia métodos eficazes de anticoncepção.(64).
Uma segunda e não menos assustadora ameaça dos filhos da dissidência nestes quatro mil anos de história
pós Abraâmica tem sido o questionamento da cruel hegemonia falocrática do macho todo-poderoso, da
perpetuação da hierarquia patriarcal através de contratos nupciais, onde a cobiça do patrimônio prevalece no
matrimônio, onde o prazer sexual e emocional é relegado à periferia da instituição conjugal. Os
homossexuais, inversamente, ao privilegiarem desde sempre a atração física, a emoção, o amor e paixão,
como ingredientes indispensáveis dos arranjos íntimos interpessoais tornaram-se, historicamente, se não os
inventores, quando menos os precursores e principais praticantes do amor romântico, isto, muitíssimos
séculos antes da paixão impossível de Romeu e Julieta e dos trovadores medievais.
Tal dissidência inovadora ao modelo erótico-sentimental dominante foi altamente reprimida por ser
causadora de incontrolável desestabilização da autoridade do pater-famílias e da família patriarcal, tanto que
o casamento de palavras passou a ser perseguido como grave delito do conhecimento da justiça
eclesiástica, posto representar uma forma também revolucionária e insurgente de os jovens contestarem o
autoritarismo familiar. A repressão anti-homossexual tem a ver diretamente com o medo representado pelo
cisma, quase heresia, representada pelo estilo de vida dos sodomitas, onde estão reunidos ingredientes
explosivos, tais como a democracia sexual, o questionamento da hierarquia dos gêneros, a alternativa da
unissexualidade, a inversão dos papéis sexuais, o travestismo, a transexualidade, todos os comportamentos
e condutas altamente desestabilizadores da sociedade heteros-sexistas e falocrática, onde as regras de
comportamento de gênero e o erotismo são definidos hierarquicamente garantindo a supremacia do macho.
As uniões nômades ou passageiras, a "promiscuidade", a rotatividade de parceiros e inversão de
performances, a androginia são mais alguns elementos revolucionários da subcultura homossexual, já
devidamente documentada desde o século XVI, constantes ainda hoje em dia (65), que questionam e
assustam a sacralidade e indissolubilidade dos vínculos matrimoniais dos casais heterossexuais. Daí a
repulsa neurótica de alguns homofóbicos mais autoritários que se opõem tenazmente à legalização da
parceria civil e mais ainda, ao casamento homossexual, alegando que a família e o matrimônio heterossexual
estariam gravemente ameaçados. Novamente aqui, a mesma fobia mitológica, de que a liberação
homossexual redundaria na bancarrota da heterossexualidade.
Na Idade Média, o amor homossexual foi duramente reprimido por constituir deletéria ameaça à estabilidade
da família tradicional, na medida em que minava perigosamente a autoridade patriarcal no tocante ao
controle das estratégias de aproximação dos sexos e a constituição de novas unidades familiares. Na
América Portuguesa; assim como na Espanhola, a endogamia das famílias de origem européia foi a
estratégia oficial, abençoada pela Igreja, instaurada a fim de evitar que "cristão-novo" e "gente de sangue
impuro" se unissem e infectassem as "famílias limpas". A endogamia da oligarquia colonial, evitando a
mistura de seus descendentes com a raia miúda, e, sobretudo com a gentalha não-branca, tornou-se uma
obsessão das elites fundiárias, optando muitas famílias, às vezes, pelo enclausuramento forçado das suas
filhas donzelas, evitando assim uniões com indivíduos considerados de condição social ou racial inferior. Os
famigerados processos de "qualificação de pureza de sangue", indispensáveis para admissão na clericatura
e nas altas funções governamentais, visavam exatamente manter na elite tão-somente os cristão-velhos.
A união livre dos homossexuais, desrespeitando as barreiras de raça, estamento e idade, parceria baseada
tão-somente na paixão e mútua empatia, detonava a ordem famialista patriarcal tradicional; daí o afinco com
que os donos do poder colonial reprimiram os "filhos da dissidência”. Hoje em dia, nos inícios do terceiro
milênio, quando na prática, os homossexuais continuam sendo, dentre todas as minorias sociais, as
principais vítimas do preconceito e discriminação, estamos presenciando a persistência de um mito, velho
de quatro mil anos, imposto aos nossos antepassados à custa de pedradas e da fogueira da Inquisição - mito
cruel e pernicioso que hoje, na era dos computadores, urge que ceda lugar ao respeito dos direito humanos
e à diversidade cultural. Sobretudo, porque há muito que torno ridiculamente caduca aquela fobia irracional
ao potencial revolucionário representado pelos amantes do mesmo sexo. O problema atual da humanidade é
a explosão demográfica, sendo, portanto absurdo e antiecológico pretender aumentar a população "como as
estrelas do céu e as areias do mar”. Hoje homossexuais deveriam ser premiados por colaborarem
efetivamente com o controle da natalidade (73).
Uma segunda invenção dos homossexuais, antigamente revolucionária e temida, tornou-se também hoje
inofensiva: o sexo prazer dissociado da reprodução e o primado do amor romântico como critério das uniões
conjugais. Hoje, graças à pílula, ao preservativo e aos novos métodos anticoncepcionais ou abortivos, os
heterossexuais também podem manter relações sexuais sem o risco da gravidez indesejada, apanágio dos
sodomitas em épocas coevas (74). Da mesma forma, o amor romântico e a atração física, antigamente
privilégio dos filhos da dissidência, tornaram-se hoje, graças aos efeitos da globalização da cultura ocidental,
a regra áurea da aproximação dos sexos em grande parte do universo.
Parece que uma parcela dos próprios homossexuais, depois que saíram do armário, nos anos pioneiros da
Revolução de Stonewall (1969), o festejado coming out (75), tende hoje mais à integração do que à
dissidência: "Os homossexuais organizados representam hoje uma forma nova de encarar a vida. Casam,
adotam crianças. Os homossexuais não querem mais revolucionar o mundo. A revolução sexual ocorreu na
década de 70 e já é fato consumado. Agora é a hora da estabilidade, é a hora de se impor, de conquistar
lugares. E é isso que estamos a fazer". Estas são as palavras do primeiro homossexual assumido, do partido
Republicano, a fazer parte oficial do atual governo Norte-Americano.
Homossexuais que conquistam lugares e se impõem não deixam de representar uma força revolucionária
no mundo heterossexista. Enquanto isto, na Terra dos velhos do Restelo, políticos e detentores do poder,
insistem que "existem coisas bem mais importantes para se discutir na Assembléia da República", do que
leis que conferem direitos a homossexuais.
TEXTOS DA TORÁ
A passagem do Livro de Gênesis, que narra à destruição de Sodoma, é a passagem mais antiga, que,
geralmente, foi usada para justificar a perseguição, encarceramento e morte de milhares de homossexuais.
Pois bem, vejamos:
Como é possível que todos, desde o mais jovem até o mais velho, tenham sido homossexuais, se o número
estimado nas cidades, é de aproximadamente 10% de homossexuais mais ou menos, e ainda por cima,
discretos? Além disso, o versículo 14, diz que Lot tinha genros prometidos para suas filhas. Podemos ver
aqui, homossexuais como os de hoje, em pequeno número, ou, um fenômeno social de homossexualidade,
como meio de abuso, violência e falta de hospitalidade? Esta pergunta pode ser respondida ao ver-se, por
exemplo, que o próprio Lot ofereceu suas filhas como último recurso para acalmar a luxúria dos sodomitas;
mas eles não aceitaram, e, disseram, que fariam pior com ele, do que com os outros. Certamente, não lhe
fizeram nada sexual, porém, como indica o versículo 9, começaram a "maltratá-lo"; isto é, cometeram
violência e abuso. Os versículos 11 e 12 do Gênesis mostram que os anjos deixaram cegos a todos, e que
estes se cansaram de procurar a porta. Então, era a violência, e não o impulso sexual, que os fazia continuar
procurando a porta depois de ficarem cegos.
Encontramos outro exemplo similar a este em Juizes 19.5-26.
É surpreendente a semelhança deste relato com o de Gênesis, só que aqui, houve sim, um crime sexual, e,
ninguém, emprega este relato para condenar a heterossexualidade. A violência e a falta de hospitalidade é
que são condenadas. Este ponto de vista também é compartilhado por um médico, que considera o pecado
dos sodomitas, não com uma conotação sexual, mas que poderia ser interpretado como uma violação da
hospitalidade. Para se fazer notar isto, a Bíblia na passagem anterior (Gênesis, 18) dá um exemplo do que
deveria ter sido feito em Sodoma: mostrar hospitalidade a estes mesmos anjos. Estes dois capítulos estão
postos, não por coincidência diante de nós, mas, como contraste e exemplo, do que se deve fazer, e para
ressaltar o pecado dessas cidades, que era a falta de hospitalidade.
Longe de falar de amor entre pessoas do mesmo sexo; o texto de Sodoma fala de violência. Na Bíblia, há
cerca de cinqüenta referências à Sodoma, e, somente uma está relacionada com atos sexuais: Judas, 7,
conforme vimos em capítulo anterior.
Como Sodoma e Gomorra, as cidades circunvizinhas se entregaram à prostituição (grego: ekporneúsasai) e
se deixaram levar por vícios contra a natureza (grego: sarkós hetéras). Por isso, sofreram o castigo do fogo
eterno e serviram de exemplo a todos.
A tradução mais correta é a de algumas versões que usaram “carne diferente”: sarkós é carne e hetéras
é diferente. De fato, esta última dá origem à palavra heterossexual. A Bíblia de Jerusalém oferece uma boa
explicação do termo “carne diferente”:
Carne que não era humana, posto que seu pecado tivesse sido o de querer abusar dos anjos.
O apócrifo Testamento dos Doze Patriarcas; semelhantemente a Judas 6-7, menciona, ao mesmo tempo, o
pecado dos anjos e o de Sodoma. Judas, ao que parece, faz alusão aos anjos mencionados em Gênesis, 6,
que tomaram corpos humanos e fizeram sexo com mulheres, e daí, nasceram gigantes violentos, chamados
NEFILIM; que foi uma das razões pelas quais a Terra foi destruída pelo dilúvio. Ao que parece, cita o Livro
de Enoque, como mostram os versículos 14 e 15, no qual está escrito com detalhes o castigo dos anjos, que
criaram corpos humanos e fizeram sexo contra sua natureza espiritual, ou com carne diferente. Pelo simples
fato de serem eles anjos, como em Sodoma, esse era um ato antinatural: uma criatura humana querer sexo
com uma criatura celestial vai contra a natureza de ambos, em especial, como cita Judas, para os anjos,
porque eles não se reproduzem não lhes foi dado um corpo com o qual pudessem ter práticas sexuais.
No entanto, há muitos textos mais que aponta qual foi à verdadeira causa da destruição destas cidades. Um
exemplo disso são os livros Deuterocanônicos de Sabedoria, 19.13-14, e Eclesiastes 16.8, que contam a
falta de hospitalidade e o orgulho foram às causas. Da mesma maneira os profetas, como Ezequiel, apontam
também qual foi à causa. Ezequiel, 16.46-49 diz:
46 E tua irmã, a maior, é Samaria, que habita a tua esquerda com suas filhas; e a tua irmã, a menor, que
habita a tua mão direita, É Sodoma e suas filhas.
47 Todavia não só andaste nos seus caminhos, nem só fizeste segundo suas abominações; mas como se
isto fora pouco, ainda te corrompeste mais do que elas.
48 Tão certo quanto eu vivo, diz o Senhor D’us, não fez Sodoma tua irmã, nem as suas filhas, como tu
fizeste e também tua filha.
49 Eis que esta foi à iniqüidade de Sodoma, tua irmã: ela e suas aldeias sentiam-se orgulhosas por terem
mais abundância de alimentos e por gozarem de tranqüilidade, mais nunca ajudaram nem ao pobre, nem ao
necessitado.
O versículo indica de maneira clara, qual foi o pecado, e este não está relacionado ao sexo.
Porém, como cristãos, podemos perguntar o que disse Yaohushua Ha’Mashiach, a respeito desta cidade.
Encontramos a resposta em Lucas, 10.12, e, em Mateus 10.14-15, que nos diz:
14 E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saiam daquela casa ou cidade e sacudam o
pó de seus pés.
15 Em verdade vos digo que, no dia do juízo, o castigo para essa cidade será pior que para a gente da
região de Sodoma e Gomorra.
Mais uma vez, fala-se da falta de hospitalidade. Sim, como vimos essa interpretação do verdadeiro pecado
de Sodoma é correta, encontramo-nos diante de um dos paradoxos mais irônicos da história. Durante
milhares de anos, o homossexual tem sido vítima da falta de hospitalidade. Condenado por Sinagogas,
sofrendo perseguição, tortura e, inclusive, a morte. Em nome de uma interpretação errônea do crime de
Sodoma e Gomorra, repetiu-se e continua-se repetindo diariamente o mesmo crime.
A partir dos compêndios analisados acima, e, por se tratarem de fontes de alta confiabilidade, a Nação
Libertai, a seguir, passará a definir seus dogmas e doutrinas, baseada no tema abordado até então, neste
Livro.
É clara a confusão de interpretação dos textos acima citados, e a conveniência por todos os séculos, em
fazer alterações e condenações absurdas, acerca do que D’us nunca disse, e, nem intentou fazer. É claro
também, como testificamos acima, que aquilo que não é pecado, pode passar a ser, dependendo da maneira
que for aceito, executado, ou, até mesmo deturpado; como foi o caso das Nações vizinhas de Israel.
Portanto, fica decidido e atestado pela Nação Libertai que:
1. D’us, em Sua Divina Palavra jamais condenou o homossexualismo como forma de amor entre duas
pessoas do mesmo sexo.
2. Ninguém deverá ser discriminado pelo Sanhedrim, pelo Presbitério, e, pelos membros em geral da
Nação Libertrai, independente da sua opção sexual.
3. Todos os homossexuais terão todos os direitos semelhantes aos membros heterossexuais da Nação
Libertai.
4. Todos os homossexuais terão acesso ao Sanhedrim, e, ao Presbitério da Nação Libertai.
5. Todos os homossexuais deverão observar os padrões de santidade exigidos aos casais
heterossexuais, sem exceções.
6. Os homossexuais da Nação Libertai, bem como os heterossexuais, somente terão a bênção da
união de casamento, se estiverem sendo unidos com pessoas que professem a mesma fé Judaica-
Cristã.
7. Os homossexuais que se unirem as pessoas que não proferem a fé Judaico-Cristã, para aliança de
namoro, noivado ou casamento, poderão fazer a Teshuvá, e participar como membros comuns, com
acesso às Erétz; ficando-lhes vetado o Sanhedrim e o Presbitério.
8. A Constituição do Brasil, ainda não reconhece o casamento entre homossexuais; entretanto,
reconhece a Sociedade Legal entre eles, respeitando seus direitos legais de escolher seu parceiro.
Portanto, a Nação Libertai, procederá a essas cerimônias, baseada no Reconhecimento de
Sociedade Legal; ou, no casamento feito fora do Brasil, através de Embaixadas de países onde o
casamento homossexual já tenha sido oficialmente legalizado.
9. Não serão reconhecidas, e nem aceitas na Nação Libertai as expressões: Lésbica, gay, ou outras
semelhantes que possam vir a surgir.
10. O que a Palavra de D’us nos faz crer e entender, é que existe o HOMEM, e, a MULHER,
independente da sua opção sexual.
11. Consideramos pecado contra D’us, e contra o corpo: o travestismo, o transsexualismo, o adultério, a
prostituição, a fornicação, a bigamia, a pederastia, o sexo cultual, a bestialidade, bem como todos os
demais tipos de relacionamentos sexuais pervertidos que possam vir a surgir.
12. Todos os demais assuntos concernentes a este tema, que não foram abordados ou esclarecidos
neste Livro, serão tratados de forma especial pela Bispa Primaz; e, se, necessário for, deliberado
com o Sanhedrim.
BIBLIOGRAFIA
• Akiva Bronstein.
akiva@uol.com.br
icq#38801562
Grupo GLS de Judeus Brasileiros.
http://sites.uol.com.br/akiva
JGBR fone: (011) 9102-1366
Caixa Postal: 835 - CEP: 01059-970
São Paulo - SP - Brasil
Grupo Membro do World Congress of Gay, Lesbian, and Bisexual Jewish Organizations.
http://www.wcgljo.org/
• Igreja só para cristãos homossexuais vai erguer Mega-Templo nos Estados Unidos.
Por: Eduardo Salgado.
Grandes autores
Dr. Luiz Mott
Professor Titular do Departamento de Antropologia da UFBa,Fundador do Grupo Gay da
Bahia.
Caixa Postal 2552 - 40022-260, Salvador, Bahia, Brasil - Fone/fax: (71) 328.3782 - 328.2262.
http://www.luizmott.cjb.net/
e-mail: luizmott@ufba.br
• A Bíblia de Jerusalém.