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Brasil x China"
São Paulo
2011
São Paulo
2011
iii
Dedicatória
Agradecimento
Agradeço meus pais, Moisés e Eloisa, aos meus filhos Juan Mitsuo e Veronica Mei, pelo
apoio e pela paciência nestes meses de ausência, a Luciana Jorge Rodrigues pelo apoio
incondicional, a Bruna de Oliveira Santos Pinto pela escuta dedicada, e a Monica Fix
Korbivcher, pelo incentivo. Especialmente agradeço à professora Nildes Pitombo Leite,
minha orientadora neste trabalho, pelo apoio dedicado e atencioso.
v
Resumo
Abstract
This work has the objective of analysing the context on which the intense urbanization of
China has taken place for the last thirty years, alongside comparing the different strategies
applied by Brazil and China on improvement of Living Standards, Urban Planning, Social
Inclusion, Public Participation and the Protection of the Natural Environment. In this process,
there is an effort of contextualizing the legal frame and the implementation strategies of
local policies of support to the productive activity. The selection of the two countries was
motivated by this Course extension to China, when we as a group could observe the
immense contrasts of the housing policies for the inclusion of migrants due to intense
industrialization process of the two developing nations. The comparison has shown itself
valid, as although these countries are strikingly different in many aspects, they deal with
similar challenges regarding the problems of fast urban growth, and we are inevitably faced
with the question of why Brazil, with an income per capita many times larger than China, has
not been able so far to include it’s most poor population within the realm of dignified
housing, and therefore, including this group into plain market rules.
vii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................1
1.2 OBJETIVOS..........................................................................................................2
1.2.1 Geral................................................................................................3
2.1 Na China............................................................................................................7
2.2 No Brasil...........................................................................................................31
3 METODOLOGIA
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................46
1
1.1 INTRODUÇÃO
Muito da motivação inicial desta pesquisa vem de anos de experiência de estudo e envolvimento
com inúmeras organizações que lidam com a questão do Plano Diretor Participativo conforme
previsto na Lei. As cidades brasileiras são obrigadas pelo Estatuto das Cidades1, Lei 10.257, a
elaborarem, de forma democrática e participativa, os seus Planos Diretores de modo a
delinearem os projetos que ordenarão o seu crescimento nos próximos anos.
Esses Planos Diretores têm enorme importância, pois neles residem a possibilidade de
ordenamento urbano do crescimento das cidades maximizando o crescimento e o aproveitamento
do território para atender às necessidades coletivas e individuais dos seus habitantes, tais como
moradia de qualidade, espaços públicos adequados, trânsito fluido e inclusão social.
Considerando a enorme responsabilidade dos governantes no ato de planejar, junto à população
esses Planos, é de fundamental importância investigar se tais instrumentos tem servido aos seus
propósitos.
Uma questão relevante é que os Planos Diretores também regram a Expansão Urbana de forma a
definir como a cidade irá se desenvolver espacialmente. Nesse aspecto, é importante lembrar que
uma cidade pode se desenvolver incluindo ou excluindo seus cidadãos, respeitando ou não o seu
meio ambiente, dando ou não infra-estrutura às industrias e facilitando ou não o translado dos
seus habitantes.
Este Trabalho de Conclusão de Curso tem assim por objetivo investigar de que forma as
necessidades de inclusão social através da habitação vêm sendo atingidas no Brasil e na China, de
que forma tais os objetivos têm sido alcançados nestes dois países e como os países tem
aproveitado o propício momento econômico para desenvolver as suas cidades, aproveitando o
que se configura como oportunidade única de ordenamento e desenho de um futuro melhor para
os seus habitantes.
1
O Estatuto da Cidade é a denominação oficial da lei 10.257 de 10 de julho de 2001[1], que regulamenta o capítulo
"Política urbana" da Constituição brasileira[2].
2
Após a visita da turma 37 a República Popular da China foram apresentadas inúmeras questões
relativas ao planejamento das cidades desse país, que em comparação com o Brasil desenvolveu
uma política agressiva de desenvolvimento urbano sem paralelo talvez na história da
humanidade. O desafio proposto na China é abrigar mais 300 milhões de habitantes em suas
cidades, até o ano 2050 e se prepara para esse desafio com características particulares as quais
serão investigadas ao longo deste trabalho.
A abordagem da questão brasileira, assim, se inicia após uma análise do contexto das estratégias
de desenvolvimento urbano aplicadas na China, de forma que se possa, a partir de uma referência
externa, estabelecer novos olhares para os problemas habitacionais brasileiros.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Gerais
O objetivo deste trabalho é analisar o contexto no qual ocorreu a intensa urbanização na China
nos últimos 30 anos, além de estabelecer bases comparativas entre o Brasil e China no que a se
refere às estratégias de desenvolvimento urbano visando a melhoria da Qualidade de Vida,
3
Planejamento Urbano, Inclusão Social, Participação Pública e a Proteção do Meio Ambiente nas
cidades.
1.3.2 Específicos
1.3.2.4 Identificar o nível de suporte gerado pelos Planos Diretores para a Ampliação da Oferta
Habitacional, incluindo aqui o estabelecimento das bases de infra-estrutura necessárias
para o Programa Minha Casa Minha Vida
Planos Diretores que garantam a mobilidade ágil, a sustentabilidade, a inclusão social e cultural, a
eficiência da cidade e a eficácia dos seus sistemas de suporte à atividade econômica e à
cidadania.
Neste estudo, considera-se que a grande expansão na oferta de residências de cunho social
no Brasil no momento só pode ser organicamente absorvida pelas cidades a partir de
planejamento adequado, e, neste momento, no Brasil o Ministério das Cidades está exigindo tanto
um estudo qualificado da demanda quanto um estudo aprofundado da infra-estrutura disponível
nas cidades brasileiras. Tais estudos, por exemplo, como os Planos Municipais de Saneamento e
de Mobilidade, vêm com o intuito de complementar os Planos Diretores que, constituídos a partir
dos princípios estabelecidos pelo Estatuto das Cidades, definem como as cidades irão se
desenvolver a partir de sua implementação.
Uma questão extremamente relevante para este estudo é a da eficiência das cidades no
tocante às suas políticas propostas de suporte à atividade produtiva. Dentro desse aspecto, se
enfatiza não apenas a questão do suporte às demandas específicas de setores industriais e de
serviços, mas a inclusão social como suporte fundamental ao desenvolvimento econômico, no
tocante às dinâmicas de eficiência das cidades. As questões transversais que permeiam a
discussão, neste trabalho, são: é possível crescer sem incluir? É possível identificar os fatores que
permitem ou não o desenvolvimento integrado das cidades e, mais ainda, o perfil de
desenvolvimento urbano que cada país adota a fim de atender às suas demandas? Quais
demandas são prioritárias para atendimento na planificação das cidades?
O Brasil tem um deficit habitacional que se situa entre 5 a 8 milhões de moradias (Maricato,
2009)2. Um grande projeto, inédito no Brasil, pretende atender a uma demanda histórica por
moradia para uma população de baixa renda que nunca teve, em nenhum momento, graças ao
perfil de financiamento imobiliário no Brasil, acesso à habitação (Royer, 2009, p.132). Esse
projeto movimentará empresas, criará centenas de milhares de novos empregos, ampliará, de
forma significativa, a área de moradia de milhares de cidades e afetará, inevitavelmente, a infra-
estrutura das cidades brasileiras. Uma vez que o Plano Diretor Participativo é o instrumento legal
2
Entrevista à Revista Caros Amigos, Maio, 2010
5
de constituição das cidades, ou seja, é o instrumento que define as áreas de expansão e dá suporte
para o planejamento adequado da ampliação da infra-estrutura, é fundamental que ele leve em
conta os diversos fatores ambientais e humanos que envolvem a tomada de decisões, assim como
considere qual é a participação dos diversos agentes (stakeholders) na elaboração do documento
e, mais ainda, na determinação de uma política de expansão urbana. Muitas vezes, essa política
não considera habilmente todas as variáveis de mercado, institucionais e populacionais no
momento do exercício do planejamento.
Dessa forma, este trabalho aborda a questão de como os Planos Diretores brasileiros tem tratado
essas questões e qual é o cenário que se desponta para o futuro a partir dessa realidade aqui
imposta. Do mesmo modo, investigará como países com desafios enormes em relação aos
processos em curso de urbanização vem lidando com a questão do crescimento de suas cidades,
em uma busca de se encontrar paralelos que propiciem uma reflexão ampla sobre a questão.
No que diz respeito à China, até o final do ano de 2009 existiam 654 cidades ( UM-
HABITAT, 2009). Com um índice de urbanização de 46,59%, havia 621,86 milhões de chineses
vivendo em cidades e metrópoles na China.
É importante lembrar, ou melhor, ainda recolocar neste debate, que o fator “planejamento
urbano”, é um vetor definitivo de sucesso ou insucesso em solucionar demandas evidentes na
dinâmica da urbanização, seja aqui, ou, literalmente, na China. Uma vez que a proposta é fazer
um comparativo das políticas de expansão urbana entre China e Brasil, é imperativo que se
consiga, em primeiro lugar, aprofundar o estudo entre os dois países, identificando as
similaridades e diferenças que podem contextualizar este estudo de forma consistente.
Na etapa que antecedeu a este referencial teórico, inúmeros estudos e experiências podem
ajudar a refletir sobre o tema deste Trabalho de Conclusão de Curso. Percebe-se que para
desenvolver melhor uma análise sobre estratégias de desenvolvimento urbano torna-se
interessante promover uma análise comparativa entre diferentes países, e como a planificação é
aplicada no sentido de promover a expansão das cidades.
De acordo com Royer (1991), o modelo brasileiro de expansão urbana, em geral, obedece
a critérios ditados pelo capital especulativo, ou seja, aquele que se submete apenas a um
determinado risco, bastante limitado ou inexistente, inerente ao capitalismo. É relegado ao poder
publico o papel de gerar condições estáveis para o crescimento das cidades, contando com uma
demanda sempre crescente, a partir do crescimento do poder aquisitivo da população mais
carente. Os planos diretores são, na sua concepção mais atual, uma ferramenta recente para o
planejamento das cidades e muitas delas ainda não os têm concluídos.
Ainda assim, o governo federal conseguiu iniciar um programa bastante agressivo para
resolver a questão, que se arrasta há décadas, sem iniciativas governamentais de peso. A
participação, ou melhor, a questão do Estado é suficiente no sentido de se permitir uma
comparação precisa entre as políticas dos dois países, e questões como a moradia e a infra-
estrutura só aparecem razoavelmente atendidas pelo Estado, em função do qual giram as
principais questões que regulamentam os principais eixos de desenvolvimento urbano tanto no
7
Brasil como na China. Se, de acordo com Campos Filho3, os Planos Diretores no Brasil ou são
superficiais ou muito óbvios, então há carência de real investimento no Planejamento das
Cidades.
Tratam-se hoje de dois países pertencentes ao bloco das nações em franco processo de
desenvolvimento, com perfis econômicos e sociais bastante distintos, mas afins em alguns
aspectos, como por exemplo, o da enorme migração em direção às cidades. Nesse aspecto, a
China conseguiu, apesar do fluxo gigantesco de trabalhadores em direção aos grandes centros
industriais, controlar razoavelmente a ocupação desses centros sem que se apresentassem
problemas tais como a submoradia e a moradia emergencial tornada permanente pelas falhas da
administração, e a ausência de políticas adequadas de inclusão urbana. Contribui para isso a
controversa classificação dos cidadãos chineses em “camponeses” ou “urbanos”, através do
sistema de Houkou, ou seja, uma identidade que dá ao cidadão direitos na Cidade, ou não, ou
seja, o cidadão só é digno de usufruir os serviços do Estado quando de posse de uma identidade
específica.
2.1 Na China
3
Professor Candido Malta Campos Filho, palestra ministrada na FECOMERCIO, Maio 2010
8
dizer que a vida urbana na China talvez fosse a mais desenvolvida no mundo. Marco Polo, em
visita à Hangzhou, ficou impressionado ( “a cidade mais esplendida do mundo... com 13 mil
pontes quase todas de pedra...”). As cidades eram conhecidas por sua riqueza e conforto,
elegância e vida cultural.
No final do século XIX, no entanto, a população urbana da China havia decrescido para
6,0 a 7,5%, embora a população urbana absoluta tivesse aumentado consideravelmente. Nessa
época, os países industrializantes da Europa já apresentavam taxas como a de 61% na Grã-
Bretanha e 29 % no resto da Europa. Essa diferença aumentou ainda mais em 1949, quando o
regime comunista tomou conta do governo ( Fenby, 2009).
O instrumento mais importante dessa política é o sistema de houkou, que designa a cada
morador da China uma localidade específica. Esse sistema discrimina moradores urbanos de
moradores da zona rural, com os primeiros com muito mais benefícios e privilégios do que os
demais (Friedman 2005). Esse sistema se tornou lei em 1958, quando o Congresso Nacional do
Povo aprovou a “Regulamentação de Registro de Moradia da República Popular da China”.
Nessas regras, cada cidadão chinês é registrado em um local ( hukou suozaidi) e uma
classificação territorial (houkou leibie) (Fan apud Yu, 2002, Fei-Ling Wang 2005). Na maioria
das vezes, essa classificação é herdada da condição dos pais. Um houkou agrícola dá acesso à
terra; um houkou não-agrícola dá acesso a postos de trabalho, habitação, comida e benefícios
patrocinados pelo Estado. A classificação territorial do houkou especifica onde cada um pode
usufruir os direitos garantidos pelo Estado. Em essência, especifica o lugar de pertencimento de
cada cidadão. Até o meio dos anos 80 era extremamente difícil para os chineses do campo
sobreviverem nas cidades, porque sem um houkou urbano, não tinham acesso às necessidades da
9
vida, tais como comida e habitação, muitas das quais eram distribuídas de forma centralizada.
Dessa forma, o sistema de houkou suprimia as imigrações a um mínimo. (Fan, 2008).
A partir de 1980, muitos governos locais começaram a cobrar dos imigrantes altas taxas –
variando de alguns milhares para muitas vezes dezenas de milhares de yuan – em troca de
houkous de cidades e vilas. As prefeituras se justificaram dizendo que elas precisariam ser
compensadas por estender benefícios urbanos para os imigrantes. No começo dos anos 90,
grandes cidades como Shanghai e Shenzhen começaram a oferecer “houkou carimbados de azul”
para imigrantes que atendiam a determinados requisitos profissionais, e eram capazes de fazer
grandes investimentos ( Fan apud Wong e Huen 1998). Como um green card norte-americano,
este houkou podia ser convertido em um houkou permanente depois de um certo período. Estas
práticas “comodizaram” os houkou e canalizaram recursos de uma pequena elite de imigrantes
para os cofres públicos ( Fan apud Cai 2001; Cao 2001).
população foi contabilizada como sendo de 144,4 milhões de pessoas, e a estimativa é que em
2015 chegue a 200 milhões de pessoas.
O que se verificou a partir de 1980 é que as cidades retiveram relativa autonomia para
regular o seu crescimento. Dessa forma, a maioria das grandes cidades optou por um relaxamento
bastante gradual das regras de houkou. Essa mudança em política estimulou a multiplicação de
indústrias em pequenas cidades e vilas em áreas rurais, que em 1990 empregaram 93 milhões de
trabalhadores e que eram responsáveis por 17 % das exportações chinesas de manufaturas. Em
1996 esses empreendimentos denominados TVE (Township and Village Enterprises)
empregavam 135 milhões de pessoas e se encarregavam de 46% das exportações chinesas. Esses
arranjos produtivos locais, que em geral provinham de comunas constituídas inicialmente no
Grande Salto Adiante de 1959-1962, tomaram grande impulso depois de 1980, com a
descentralização das ações do Estado dessa época. A industrialização rural se alimentou de uma
reserva inédita e surpreendente de empreendedorismo e a descentralização fiscal fortaleceu
autoridades locais a tomarem iniciativas em atividades econômicas diversas.
11
Muitas cidades conservaram o sistema de houkou ao longo dos anos como uma estratégia
para controle migratório. Cidades pequenas e médias começaram a receber, com atenção
renovada, esses trabalhadores, pois apostavam na renda gerada pelos impostos para renovar a sua
infraestrutura urbana. Em contraste, cidades maiores se utilizaram do sistema, pois não tinham
garantia de que poderiam fornecer os serviços necessários à absorção dessa população. Uma
disparidade de renda da ordem de 1:2,4 entre áreas rurais e urbanas e muito mais oportunidades
de trabalho tornaram as cidades grandes ainda mais atraentes. Essa diferença, que incentivou
milhões de habitantes a se transferirem para as cidades, também ajudou a melhorar o padrão de
vida em inúmeras das áreas rurais mais pobres, provocando uma aproximação aos níveis de áreas
urbanas. O entendimento é que essa transferência de renda contrabalança alguns dos problemas
associados com a migração intensa.
As diferenças entre o meio rural e urbano na China tem persistentemente sido a principal
causa da disparidade de renda na China. Em parte, esse enorme abismo é explicado por legados
institucionais do socialismo chinês. A partir dos anos 1950, os líderes do partido comunista
separaram claramente residentes do campo e da cidade através do sistema de houkou, como visto
anteriormente, estabelecendo o desenvolvimento industrial e urbano como o principal objetivo do
planejamento econômico. Trabalhadores urbanos ganharam um „prato de ferro de arroz”, na
forma de emprego vitalício, assim como saúde gratuita, moradia e benefícios trabalhistas
diversos. Camponeses, por outro lado, foram organizados em comunas, nas quais acesso à saúde
básica e educação melhoraram consideravelmente. Entretanto, com o objetivo de acelerar a
industrialização do país, o sistema de planejamento fixou preços e dirigiu investimentos de forma
que instituiu um comportamento discriminatório em relação à agricultura e áreas rurais, levando à
enormes diferenças de padrão de vida entre moradores de áreas rurais e urbanas.
Os dados da pesquisa ainda demonstram que os imigrantes têm menor tendência a caírem
abaixo dos níveis de pobreza. Os imigrantes não apenas remetem recursos consideráveis para as
suas vilas, mas também ao retornar, provocam uma onda de investimentos locais em agricultura e
outras atividades rurais. Além disso, os que possuem mais educação têm uma tendência menor à
emigração, compensando a evasão de profissionais qualificados para as grandes cidades.
12
A incrível expansão da população urbana chinesa de 191 milhões em 1980 para 562
milhões em 2005 e para 622 milhões em 2010 demandou um investimento massivo em habitação
e infraestrutura. Ao contrário do que aconteceu em países de terceiro mundo, com população bem
menor, a China conseguiu absorver mais de 400 milhões de pessoas nas suas cidades sem a
proliferação de favelas, embora a infraestrutura urbana ficou comprometida em diversas
localidades, contabilizando quase um terço sem serviços básicos de saneamento e coleta de lixo.
Hoje, das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 são chinesas.
São três os fatores primordiais que garantiram a relativa suavidade da transição urbana: a
disponibilidade de fundos de investimento intermediados pelo sistema bancário, a iniciativa forte
do setor imobiliário e um crescimento aceitável da capacidade regulatória dos centros urbanos. O
papel do capital gerado através da poupança doméstica foi determinante nesse conjunto.
Todo o processo de reforma da China começou com a adoção do chamado “sistema rural
de contrato familiar”, que arrenda as terras produtivas para famílias de agricultores. Isso significa
que a produção coletiva foi dissolvida desde o início do processo de reforma, com a agricultura
privada prevalecendo. Embora as fazendas “coletivas” tenham continuado como proprietárias da
4
Site: Project Syndicate:www.projectsyndicate.org; Fan Gang: Urbanizing China, 2010
13
terra rural, as famílias podem ficar com todos os “excedentes” da produção, o que cria o
incentivo necessário para usar a terra de forma produtiva. Eles podem até transferir o
arrendamento para outras famílias de agricultores, caso seus membros encontrem trabalhos
melhores nas cidades.
Embora esse esquema proporcione um caminho mais suave para a urbanização, é algo
transicional, não permanente. Os trabalhadores migrantes ainda se sentem incapazes de integrar-
se realmente às cidades, porque sua rede de segurança social continua ancorada em suas origens
rurais. De fato, a segregação provocada pelo sistema de terras ampliou, em vez de encolher, as
disparidades sociais. Tendo em vista essas circunstâncias e o alto grau de locomoção dos
chineses, a urbanização do país está longe de ser algo estável. Para atingir uma “urbanização
permanente”, a China precisa desenvolver uma nova rede de segurança. Anunciar a abolição do
5
Project Syndicate:www.projectsyndicate.org; Fan Gang: Urbanizing China, 2010
14
sistema houkou pode ser fácil, mas teria pouco significado sem instituições que possam
amortecer os riscos enfrentados pelos trabalhadores rurais migrantes nas cidades chinesas.
Embora não seja o objeto central de estudo deste trabalho, não há como não mencionar
que nenhum outro país foi tão bem sucedido em alocar recursos de forma tão eficiente para
mobilizar financiamentos a partir do sistema bancário aproveitando os altos índices de M3 - uma
definição de um sistema que inclui moeda, depósitos compulsórios, poupanças diversas e
depósitos, a longo prazo, depósitos em eurodólar, e a taxa de empréstimos lastreados ao
crescimento do PIB, que apresentam índices maiores do que a grande maioria dos demais países
emergentes( Yusuf e Nabeshima, 2009).
Em conjunto com uma política adequada de preços, esforços para levantar a renda rural,
conservar água, promover a diversificação e fortalecer a infraestrutura de transporte pode
melhorar a renda local e diminuir a pressão por imigração para as grandes cidades. A criação de
infraestrutura deve se focalizar nas áreas com potencial a largo prazo. No entanto, outros tipos de
transferência de renda e apoio social são adequadas para locais onde a terra é infértil e a água
limitada. Encorajar pessoas para emigrar de tais regiões é a melhor política em termos
econômicos e ecológicos6. Há que se lembrar que a China só tem 8 % da água mundial, embora
sua população corresponda a 22%.
Todo tipo de migração que muda consideravelmente a ordem social estabelecida deve se
dar em torno de áreas onde estão localizados os postos de trabalho. Assim sendo, áreas que
6
World Bank Report apud Sinn and Westermann 2001
16
prometem crescimento de largo prazo são as mais interessantes deste ponto de vista. A idéia é ter
áreas em que estes possam estar estabelecidos em regiões que absorvam naturalmente tais
populações imigrantes. Problemas ocorrem quando os migrantes entram em áreas de crescimento
letárgico, e as tensões com moradores antigos surgem por conta de disputas por postos de
trabalho escassos.
O tamanho das cidades também tem sido um fator determinante. Economias de escala e
taxas de crescimento acelerado do país acompanham o ritmo frenético do crescimento das
grandes cidades. A aglomeração contribui aprofundando o mercado de trabalho, introduzindo
economias a partir de avanços tecnológicos e ainda por cima encorajando um grande diversidade
de atividades. Numa economia globalizada, a diversificação proporcionada pela aglomeração de
serviços e recursos, sejam estes estruturais ou humanos, são uma válvula de escape segura que
permite a indústria urbana expandir em novas direções e manter um portfólio considerável de
produtos e um potencial de adicionar novas atividades quando as existentes se esgotam.
Um grande centro urbano também provê um ambiente onde empresas podem atingir mais
rapidamente economias em larga escala, por conta de amplos mercados locais e custos menores
de operação, ampliando o potencial das empresas. A competição nesses mercados as preparam
assim para atingir mercados externos. Esta intensa diversificação é tida, inclusive, como uma
avenida fundamental no incremento das vendas em mercados nacionais e mundiais (Yusuf e
Nabeshima, 2008).
No que diz respeito à questão da posse da terra, antes da fundação da Republica Popular
da China7, a terra era privada e poderia ser transferida através de um acordo mútuo. Em 1946,
três anos antes da fundação da RPC, o Partido Comunista Chinês iniciou um processo de reforma
agrária dentro das áreas sob seu controle administrativo, expropriando os latifundiárioa e
transferindo essas terras para os lavradores e pequenos arrendatários ( Qin apud Klein, 1961).
Quando o Partido Comunista assumiu o poder em 1949, essa forma de propriedade pelos
camponeses continuou inalterada ( Leonard, 2008). Na realidade, a constituição de 1954 garantiu
7
The impact of political forces on urban land ownership reform in transitional China
Xiaojing Qin; University of Manchester, 2010,Manchester, UK
17
Com relação aos arranjos constitucionais para a propriedade da terra, tem-se que ela,
pertencente ao Estado, estava geralmente vinculada a unidades sócio-economicas conhecidas por
danwei, para uso sem custos por um período indefinido. O estado, assim tinha um papel duplo
neste processo, tanto como dono da propriedade como o administrador político da terra. Como as
unidades de danwei também eram de propriedade do Estado, o direito de uso da terra e da
propriedade da terra eram institucionalmente inseparáveis. A quantidade de terra alocada para o
danwei era determindada por objetivos da política de governo de forma que os propósitos de uma
determinada danwei eram sujeitos à estes. Em outras palavras, os recursos da terra estavam
distribuídos para os danwei de acordo com a ideologia política das unidades de negócio, e não
aos princípios de eficiência econômica (Qin apud Zhu, 2002).
com os edifícios e o capital de investimento era provido pelo parceiro estrangeiro. De acordo com
a Lei da RPC sobre Joint – Ventures Chinesas-Estrangeiras:
A terra continuou a ser propriedade do estado. Entretanto, esta liberdade para um danwei
investir o seu direito de uso da terra como parte de uma empreitada comercial privada
representava uma diminuição significativa do controle político da instituição da terra por parte do
Estado. Isto, em conjunto com o desejo do estado de cobrar o uso da terra também indicava a
emergência, pela primeira vez, de um valor comercial para a terra (Qin apud Chan e Kwok,
1999). O conceito de direito de uso da terra, e seu valor associado, foi assim criado ( Qin apud
Chan e Kwok, 1999). Essa era obviamente uma mudança radical em comparação com o período
de centralização econômica. É necessário enfatizar no entanto que a alienação do interesse sobre
a terra estava ainda proibido, refletindo a forte característica social da ideologia dominante ( Qin
apud Li, 2000).
Outro fator dominante em dar formato aos direitos de propriedade é advindo do papel do
governo local no mercado imobiliário recém formado. Durante a era de reforma política e
econômica uma diretriz de descentralização dos processos de tomada de decisão deu incentivos
aos governos locais para que tomassem as rédeas do desenvolvimento local. Como resultado, as
administrações locais gradualmente alienaram o governo central do exercício de poder
administrativo, mas também assumiram papéis significativos no tocante ao desenvolvimento
econômico em nível local. Os escritórios locais reconheceram a terra como um recurso
importante para atrair investimento e termos favoráveis foram, assim, oferecidos a investidores
por todo o país. Essa abordagem, embora contribuísse para a explosão imobiliária e a emergência
de uma “febre de zonas de desenvolvimento” em muitas cidades grandes, também resultou em
distorções custosas de mercado, à medida que os termos favoráveis significavam que a terra era
oferecida em valores abaixo do mercado ou, em alguns casos, sem qualquer tipo de pagamento.
(Qin apud Li, 2007).
19
Além desse cenário, a falta de um sistema eficiente para avaliar a performance dos oficiais
de governo os levou a serem julgados por métricas bastante superficiais, por exemplo, pela
quantidade de projetos de desenvolvimento imobiliário completados ao longo dos seu período na
posição ocupada (Qin apud Cao e Edwards, 2002). Consequentemente, escritórios locais
forçavam a construção de mais e mais edifícios pois isso contava muito aos olhos dos seus
superiores políticos (Qin apud Zhang e Sun, 2006). Incentivos perversos foram instaurados,
assim apresentados para governantes procurando promoção para transformar áreas
subaproveitadas em edifícios de grande porte. Esses mecanismos de mercado pelos quais a
alocação da terra tomou lugar, também eram influenciados por essas pressões. Formas
transparentes de negociação, como licitações abertas e leilões públicos, eram a todo custo
evitadas. Ao invés disso, para maximizar o seu retorno político, os governos locais preferiam
alocar os direitos de uso da terra a valores com descontos estratégicos através de formas de
negociação suspeitas. Dessa maneira, embora os níveis de investimento se situassem no mesmo
patamar, eles podiam maximizar a quantidade de empreendimentos em uma mesma região.
Ainda assim, o processo de transferência dos direitos de uso da terra podia ser uma fonte
de corrupção na ausência de regulamentação adequada. Como o acordo particular era uma das
opções para garantir o direito de uso da terra, fatores políticos ainda existiam no mercado
imobiliário, ainda que em menor grau. De acordo com estatísticas não oficiais antes de junho de
2002, aproximadamente 95% de todos os direitos de uso da terra estavam garantidos por
autoridade locais e garantidores, com apenas 5 % através de convites para licitações ou leilões
(Qi apud Li e Baker e McKenzie, 2008). A ausência de transparência para garantir o direito de
uso da terra resultava em transações escusas entre autoridade locais e especuladores urbanos com
o Estado arcando com a perda das receitas de impostos.
Novas leis esclareceram ainda mais o papel do Estado. Em julho de 2002, uma
regulamentação definiu que a transferência de direitos de uso da terra para propósitos comerciais,
como negócios privados, comércio, turismo, uso recreacional ou desenvolvimento de projetos de
habitação teria que passar por um processo de convites para licitações, leilões ou anúncio de
tomada de propostas, e proibiu acordos particulares. Embora atualmente a maior parte das
transferências ainda ocorra por meio de acordos privados, cada vez mais a regulamentação legal
provoca a diminuição da relevância das transferências pelas ferramentas não pertencentes ao
mercado ( Qin apud Zhu, 2002). Desse modo, na China atual se busca obter um equilíbrio de
forças entre diversos atores no desenvolvimento do mercado imobiliário. O Estado atua como
regulador para que o mercado atue com maior competitividade e eficiência, preservando os
21
mecanismos naturais e impondo a Lei quando não existe outra ferramenta para que os seus
objetivos sejam atingidos. Essa Lei coloca o Estado como proprietário e gestor final dos direitos
de uso da terra. Governos municipais tem enormes incentivos para alimentar as vendas, e
necessita de grandes lucros mais do que nunca para financiar novos projetos. Nas 70 maiores
cidades chinesas, as receitas com vendas de direitos de uso de terras aumentarem 140 por cento
em 2009, alcançando 158 bilhÕes de dólares. As vendas do direito de uso da terra representam
até 60 por cento das receitas dos governos locais8.
Na busca por eficiência e redesenho das cidades, é fato que na China cidades maiores são
bem melhor administradas do que as pequenas (Yusuf e Nabeshima, 2008). Novas alternativas
têm surgido no cenário do seu desenvolvimento urbano recente. Um exemplo interessante é o da
cidade de Hangzhou, que se utilizou das suas características peculiares de topografia e
distribuição espacial para aplicar o conceito de desenvolvimento policêntrico. O desenvolvimento
espacial policêntrico ( que atua como fator preventivo contra congestionamentos causados por
um foco demasiado no centro das cidades, com a ajuda de cálculos adequados da área edificável
através do coeficiente de aproveitamento), e um bom projetado sistema de transporte são as
chaves para tornar as cidades mais habitáveis. Também importantes são as políticas de uso do
solo que conservam a terra através do adensamento e do uso misto, sem sacrificar espaços verdes
vitais e áreas de recreação que apóiam a qualidade de vida. Uma coisa, no entanto, são as regras,
outra, uma administração eficiente que faça valer tais regras e princípios. Em períodos, se faz
necessário absoluta firmeza na aplicação das leis. Em outros, há necessidade de alguma
flexibilidade quando necessário.
8
Website: Facts and Detais: Urban Development and Destruction of the Old Neighborhoods in China.
http://factsanddetails.com/china.php. Acessado em janeiro de 2010
22
Em Hangzhou, após detalhada análise realizada por meio de tais estudos, verificou-se que
em torno dos principais corredores de trânsito, os valores médios apresentavam picos múltiplos, e
que o índice de um formato horizontal aparecia nas franjas urbanas, configurando assim a
formação policêntrica. Além disso, à medida que o crescimento nas zonas limítrofes da cidade
aumentava em proporção geral no crescimento urbano, o crescimento interno representava uma
proporção cada vez menor na evolução da cidade. O desenvolvimento policêntrico de Hangzhou
só foi possível através do desenho e dos esforços do governo municipal atuando em conjunto com
as forças do Mercado. A prefeitura apresentou os guias para um desenvolvimento polinuclear por
meio do desenho e da revisão dos planos diretores, anexando distritos próximos e estabelecendo
zonas de desenvolvimento. Assim mesmo, a participação ativa de diversas forças teve um papel
cada vez mais importante no desenvolvimento do Mercado imobiliário, a absorção de
trabalhadores migrantes e a realocação das indústrias. (Wenze Yue, 2009)
9
Public participation in China:sustainable urbanization and governance
Bert Enserink and Joop Koppenjan
Faculty of Technology Policy and Management, Delft University of Technology, Delft, The Netherlands
23
forma acessível. Diversos projetos paralelos abordaram os problemas de saneamento, dos dejetos
industriais, das infraestruturas, do transporte e das comunicações, assim como dos parques e
jardins. Atualmente, Chengdu é uma cidade moderna, limpa e verde, que não se esqueceu nem do
seu patrimônio cultural nem ambiental. Grande parte do leito original dos rios foi restaurado e as
lições apreendidas sobre planejamento participativo e acordos de colaboração publica-privada
estão se aplicando em diversas populações e nos distritos vizinhos.
2010, mais de 70 mil dessas manifestações foram identificadas pelo governo chinês, e por ele
divulgadas. Na sua grande maioria, são manifestações por questões específicas que atingem uma
comunidade ou uma determinada categoria de trabalhadores, e assim se limitam.
Alguns drásticos efeitos colaterais tem sido observados neste radical processo de
mudanças. O jornal China Daily apontou que apenas em Beijing, 4,43 milhões de metros
quadrados de área de antigos pátios ( hutongs) foram demolidos desde 1990, o equivalente a 40
por cento de sua área central. Em 2007, o vice-ministro da construção lançou um ataque similar
nas “ações sem sentido” de e oficiais que derrubaram sítios de valor histórico e relíquias culturais
para produzir cidades padronizadas. Suas críticas, no entanto, não tiveram qualquer efeito para
redirecionar a maneira como a China desenvolve o seu espaço urbano. Na transitoriedade
absoluta do recente cenário urbano, de acordo com o China Daily, o edifício chinês dura em
média 30 anos, em comparação aos 74 dos edifícios norteamericanos e 132 para as construções
britânicas.
Em relação à reurbanização de Beijing, Andrew Jacobs escreveu no New York Times: “A
destruição de uma cidade de 800 anos geralmente segue o roteiro: o ideograma chinês para
„demolir‟ chai (拆)aparece misteriosamente na parede de um edifício antigo, os moradores se
debatem numa batalha infrutífera para salvar as suas casas, e mais rápido de que você possa dizer
„celebremos a nova beijing‟, uma equipe de demolição chega, muitas vezes acompanhadas pela
polícia, para pulverizar as estruturas de tijolo e madeira (Andrew Jacobs, New York Times,
2009). Cidades históricas como Kashgar tem sido devastadas em nome da reurbanização forçada,
e este tem sido um assunto cada vez mais presente na mídia chinesa e estrangeira.
não é impeditivo para o crescimento das cidades chinesas, que crescem muitas vezes em
descompasso estrutural.
torno de 30% do total dessas receitas. De certa forma, pode-se verificar que os valores
arrecadados flutuam ao longo das variações de mercado e, em conjunto com outras receitas,
fazem com que os investimentos em infraestrutura das pequenas e médias cidades sejam
consideravelmente menores, per capita, do que nas cidades grandes. Em algumas das províncias
das regiões centrais e ocidentais, esse processo é danoso, no sentido de que a decentralização fez
com que muitas cidades dessas regiões estejam perdendo renda continuamente (Wu, 2009).
Uma economia cada vez mais baseada no conhecimento vem crescendo em todo o mundo.
Nas grandes cidades chinesas as redes de fibras ópticas vêm sendo ampliadas, como no caso de
10
China Academy of Social Sciences, citado no site Want China Times, 2010
28
Shanghai, onde um plano de cinco anos foi implementado para dotar a cidade de dutos
subterrâneos para a instalação de um backbone local, propiciando redução nos níveis de poluição
causados pelo trânsito e diminuindo acidentes relacionados ao excesso de utilização de postes de
linhas de transmissão aéreas. Assim, pode-se verificar que, de diversas formas a China vem se
ocupando em construir a sua infraestrutura ( Kathiresan, 2009), provendo serviços e
provavelmente fazendo isso de forma mais eficiente do que a maioria dos seus pares com níveis
de renda similares. No entanto, existe uma disparidade crescente entre cidades de diferentes
regiões do país, na sua habilidade e performance para financiar a sua infraestrutura urbana. Essa
desigualdade provavelmente apresentará novos desafios para o futuro, no que tange ao
crescimento urbano da China.
A China, além dos seus desafios internos aqui apresentados, apresenta igualmente
questões às demais nações emergentes e aos mercados industriais concorrentes, uma vez que
custos relacionados à adequação às normas de responsabilidade ambiental no ocidente muitas
vezes não são contrabalançados por iniciativas de igual proporção por parte de empresas
chinesas.
Em 2008, de acordo com o Global Wind Energy Council (Kathiresan, 2009), a China
tinha a maior rede de turbinas eólicas na Ásia, com uma geração de 12,21 milhões de quilowatts,
que contabilizavam pelo quarto maior parque eólico do mundo. As políticas de incentivo do
governo chinês possibilitaram a criação de mais de 600 empresas de células fotovoltaicas, a sua
grande maioria privadas, que hoje manufaturam 44 % das células para equipamentos de energia
solar. No entanto a capacidade instalada domesticamente ainda é reduzida, e a geração de energia
solar junto à grade nacional era em 2008 de apenas 0,01% do total gerado. Assim mesmo, o
governo chinês tem a intenção de que esta produção alcance 20 GW em 2020. Este crescimento
da demanda proporcionará um enorme campo de oportunidades e de novos paradigmas de
produção de energia para todo o mundo.
Além disso, voltando ao tema do crescimento urbano, o desenvolvimento das cidades nas
regiões mais secas da China tem uma forte tendência de se situar circunscrito à disponibilidade de
água potável. Hoje aproximadamente dois terços das cidades chinesas enfrentam o problema da
falta de água, causado pela distribuição desigual dos depósitos de água, pelo desvio da água para
propósitos agrícolas, e pela poluição causada por resíduos industriais. Embora o uso da água por
habitante seja comparativamente modesta quando comparada com Japão e EUA, a água é
utilizada de forma ineficiente, e uma das razoes fundamentais identificadas são os preços
exageradamente subsidiados. A China terá de rever em breve a sua política de uso de seus
recursos aquíferos para continuar suportando o crescimento urbano, considerando ainda que mais
de 680 milhões de chineses habitam justamente as regiões do norte, mais secas.
2.2 No Brasil
As cidades foram obrigadas a lidar com os efeitos dessa urbanização, sem estarem
preparadas para tanto. A falta de recursos financeiros, provinda de uma ausência de uma estrutura
fiscal adequada e de instrumentos jurídicos específicos (Fernandes, 2010) se aliava ao
atendimento prioritário da pauta dos empreendedores imobiliários e adotava “normas e padrões
moldados pelos movimentos do capital imobiliário” (Bassul, 2010, p. 71). Baixos salários da
maioria destes imigrantes explicam a exclusão do consumo e de bens de serviços urbanos
essenciais, e uma gestão caracterizada, por um lado, “pela apropriação privada dos investimentos
públicos e por outro, pela segregação de grandes massas populacionais em favelas, cortiços e
loteamentos periféricos” (Bassul, 2010, p. 71). O planejamento regulatório da época, ao contrário
de reverter o quadro de exclusão, acentuou tais efeitos ( Fernandes, 2010).
11
Estatuto da cidade: A Construção de uma Lei; José Roberto Bassul; em Estatuto da Cidade comentado, São Paulo,
2010
33
3. “nos maiores centros urbanos do País, a população que vive em sub-habitações (...)
é grande e crescente, tanto em números absolutos como relativos”;
É possível verificar que temas presentes na pauta desse seminário continuem bastante
atuais, mas essa agenda ficou praticamente congelada em função do conturbado período dos
primeiros anos da ditadura militar. A idéia de uma legislação mais abrangente para as cidades só
voltaria à pauta no final dos anos 1970. Enquanto isso, o governo federal implantou o BNH –
Banco Nacional de Habitação e, criado em 1964, se voltava a financiar programas habitacionais.
Em relação à habitação popular, apoiava a transferência de moradores de favelas para conjuntos
habitacionais, entretanto sistema se dirigiu prioritariamente à financiar incorporações imobiliárias
voltadas para a crescente demanda habitacional da classe média (Bassul, 2010). À proporção que
os problemas urbanos de agravavam, as críticas à atuação do BNH aumentavam, e no início dos
anos 1970, o BNH estendeu a sua atuação para programas de saneamento e o governo federal
criou a Comissão nacional de Política Urbana e regiões Metropolitanas (CNPU) (Bassul, 2010).
O sistema instituído em 1964 incluía, ao lado do BNH, o Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo (SERFHAU), que tinha o objetivo de orientar a elaboração dos planos diretores
municipais. O SERFHAU foi extinto em 1974 e o BNH, em 1986.
Durante o período militar, uma tentativa de se criar uma legislação para regrar o
crescimento urbano foi elaborada no âmbito da CNPU, na qual, em 1976, foi elaborado um
anteprojeto de lei de desenvolvimento urbano, baseado na constatação de que “as administrações
locais não dispunham de um instrumental urbanístico para enfrentar a especulação imobiliária e
promover a distribuição dos serviços públicos urbanos” (Bassul apud Grazia, 2003, p. 57).
No ano seguinte, no entanto, o governo militar apresentou novo projeto, motivado pelo
risco da causa pela reforma urbana servir como bandeira da oposição (Bassul apud Ribeiro e
Cardoso, op.cit, p. 13). O projeto de Lei, chamada de Lei do Desenvolvimento Urbano, ganhou o
35
5. o direito de superfície;
O projeto sofreu oposição ferrenha por parte do empresariado conservador, base do apoio
do governo, que sofreu a acusação de querer acabar com o direito de propriedade no Brasil.
Sendo assim, o Projeto de Lei 775/83 nunca foi posto em votação no Congresso Nacional
(Bassul, 2010).
Demandas sociais crescentes resultaram na organização popular que a partir dos anos 80
se organizou em torno do Movimento Nacional pela Reforma Urbana, com a presença em peso
de arquitetos, engenheiros, geógrafos e assistentes sociais, além da grande presença de
movimentos sociais urbanos, com o objetivo de “lutar pela democratização do acesso a condições
condignas de vida nas cidades brasileiras” (Bassul, 2010, p.72). Esse movimento teve influência
decisiva na incorporação à constituinte de 1988 de diversas “emendas populares”. O Estatuto da
Cidade, conjunto de leis que regulamentam a gestão do desenvolvimento urbano no Brasil, é
fruto do arcabouço legal possibilitado pela constituição ( Fernandes, 2010).
O Estatuto da Cidade, assim, é a Lei federal brasileira que regulamenta os artigos 182 e
183 da Constituição Federal de 1988. O artigo 182 dispõe que a política urbana é
responsabilidade do Município e deve garantir as funções sociais da cidade e o desenvolvimento
dos cidadãos. Estabelece, ainda, que o Plano Diretor Municipal é o instrumento básico do
ordenamento territorial urbano, devendo definir qual deve ser o uso e as características de
ocupação de cada porção do território municipal, fazendo com que todos os imóveis cumpram
sua função social. (Barros, Carvalho, Montandon, 2010).
O autor do projeto foi o Senador Pompeu de Souza, que apresentou em junto de 1989 para
o senado recolhendo parecer favorável da casa. Um ano depois, foi enviado para a câmara dos
deputados, onde lá permaneceu 11 anos. Já bastante reformulado, o Estatuto da Cidade foi
amplamente discutido e aprovado em 2001, quando foi sancionado pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso. Na justificação de seu projeto, Pompeu de Sousa afirmava que pretendia
37
conter a “indevida e artificial valorização imobiliária, que dificulta o acesso dos menos abastados
a terrenos para habitação e onera duplamente o poder público, forçado a intervir em áreas cuja
valorização resulta, na maioria das vezes, de investimentos públicos, custeados por todos em
benefício de poucos.”(Bassul, 2010).
O Estatuto da Cidade até o momento gera intensos debates. Mesmo após grande
reconhecimento internacional como uma legislação avançada, tendo como resultado cerca de
1.500 planos diretores aprovados pelos municípios como decorrência dessa legislação, as
realidades urbanas no Brasil não foram significativamente alteradas. Para seus apoiadores o
tempo poderá apresentar melhor os seus efeitos, já que há que ser considerado o enorme déficit
habitacional e o volume acumulado de problemas sociais e ambientais nas cidades, explicada pela
ausência de política urbana anterior à sua aprovação (Bassul, 2010). A criação do Ministério das
Cidades em 2003 veio a buscar organizar e transformar em realidade os princípios explícitos no
Estatuto da Cidade, dando condições à União, Estados e Municípios para que possam materializar
projetos alinhados com os seus objetivos.
Torna-se importante salientar que a questão da função social da terra é definida pela
constituição no seu Artigo 182, em que se lê:
Dessa forma, uma tarefa explícita dos Planos Diretores, enquanto mecanismos de gestão,
ordenação e planejamento das cidades, é a de determinar claramente que essas suas prerrogativas
só podem ser exercidas quando esse conceito está consolidado pelos diversos agentes que atuam
na gestão do crescimento da cidade. Sendo assim, o desafio do poder público, em geral, continua
enorme, frente às dificuldades de implementação e falta de recursos de uma política pública de
habitação que atenda à população que mais necessita.
De acordo com a professora Raquel Rolnik 12, esse espaço é autoconstruído, ou seja, não
são os agentes públicos os responsáveis pelo planejamento das cidades, mas antes, esse
planejamento atende aos especuladores de forma a suprir deficiências. Ermínia Maricato , em
documento de análise do Estatuto das Cidades (2010)13 , ainda lembra que a ausência da lei
urbanística parece fornecer um espaço profícuo para a ausência generalizada de leis, cortes,
tribunais e advogados para a resolução de conflitos e para a garantia de direitos sociais, civis e
humanos. A falta da gestão pública, e a inexistência de qualquer contrato social, remetem os
bairros homogeneamente pobres para a situação de “terra de ninguém” em que “a lei é a do mais
forte”. É compreensível o aumento do número de homicídios e do crime organizado nas grandes
cidades do mundo não desenvolvido nos últimos 30 anos.
12
Entrevista ao canal Globonews, 16 de janeiro de 2011
13
Maricato, Ermínia: Estatuto das Cidades comentado, Ministério das Cidades, em O Estatuto da cidade periférica, pg 10
39
14
(Royer, 2009)
40
Por outro lado, o programa federal Minha Casa Minha Vida tem dificuldades enormes em
atender às famílias com renda de até três salários mínimos, faixa em que se concentram 90% do
déficit habitacional do Brasil. Dados da Caixa Econômica Federal mostram que, até 31 de julho
de 2010, apenas 3.588 casas foram entregues às famílias com esse perfil. Das 604 mil unidades
contratadas até essa data, 275 mil atingem a faixa mais baixa. Já para aquelas famílias com renda
entre três e dez salários, foram entregues 149 mil unidades ( Revista Exame, Agosto de 2010).
No que tange ao desafio urbano, a urbanização pode ser vista como um meio para
melhorar as condições de vida das populações. Nesse contexto, as realizações durante as últimas
décadas na China não tem paralelo na história da civilização humana. Graças a reformas
econômicas radicais, aproximadamente 400 milhões de chineses saíram de uma situação de
pobreza extrema entre os anos de 1980 e 2001, ou seja, aproximadamente três quartos da
população mundial. Entretanto, embora as condições de moradia tenham melhorado
consideravelmente por um lado, por outro existe um desafio sério. Os atuais processos de
urbanização rápida e extensiva na China irão aumentar o consumo de recursos naturais como a
terra, água, floresta e minerais, que colocam em risco o meio ambiente e a própria
sustentabilidade desse processo.
15
Entrevista para a Agência Brasil, 2010
41
"O Estatuto das Cidades joga para o município a tarefa de fazer a intervenção no
mercado privado de terras. Portanto, falta que o governo federal e os estados apóiem os
municípios e a organização popular para que, na luta pelo plano diretor, se consiga
implantar esses instrumentos"
Assim, evidencia-se uma diferença com o modelo chinês, em que o debate sobre a função social
do território urbano é praticamente colocado em segundo plano, uma vez que o Estado não
apenas é dono do território, mas também age de forma a gerenciar as contradições do mercado,
estabelecer metas agressivas e administrar ativamente essas metas, envolvendo os atores
imobiliários para o desenvolvimento urbano. A contradição aqui encontrada é que em nenhum
dos dois modelos a inclusão das partes afetadas é plena, pois se na China não há nem a
democracia e o estado de Direito plenamente qualificados, no Brasil a Legislação ou não é
atendida ou é insuficiente para apoiar o Estado em construir política urbana de forma eficiente.
Com relação à questão dos movimentos migratórios, como regra geral, se dá por uma
modificação espacial na questão do centro econômico dos países, ou seja, países em processos de
industrialização crescente têm concentração urbana igualmente determinante. Em particular, os
movimentos migratórios no interior da China continental têm sido intensos, com cidades inteiras
mudando as suas paisagens, se adensando e outras até surgindo. Tal migração, no entanto, não
ocorre de forma a que se criem bolsões de submoradia nas periferias das metrópoles, como ocorre
no caso do Brasil.
Uma das teorias vigentes é que no atual Ethos, dentro da estrutura de controle e poder do
Partido Comunista Chinês, qualquer sinal que aponte para algum tipo de instabilidade social é
amplamente combatido e, dessa forma, submoradias que representem eventuais focos de
dissensão política ou, como melhor descrito, desarmonia social, não são aceitos, tendo em vista a
longa história de sucessivas revoltas sociais, que derrubaram inúmeros impérios através dos
milhares de anos de história da China.
Não obstante, no Brasil tais espaços de vazio institucional são razoavelmente aceitos,
ainda dentro da lógica de dominância de uma classe política que não investe no planejamento a
longo prazo. Um exemplo claro é o das centenas de mortes no Estado do Rio de Janeiro,
causadas pelas chuvas de janeiro de 2011, em zonas onde majoritariamente o regramento de uso é
inexistente, a gestão do solo, é feita de forma especulativa e sujeita a fragilidades das regras de
ocupação de encostas. Bairros inteiros construídos em áreas de risco, algumas vezes até
aprovados pelas prefeituras, formam um exemplo trágico desse regramento irregular.
No que se refere às organizações sociais, China e Brasil têm mais diferenças do que
similaridades. A grande diferença se dá basicamente pelo grau consideravelmente mais avançado
de consolidação institucional em que o Brasil se encontra, significando que em termos de
transparência e accountability o Brasil evoluiu consideravelmente ao longo dos últimos anos. Em
43
Já na China, não existe arcabouço legal para a constituição de um terceiro setor forte. Em
todo caso, o governo chinês tem permitido, e até certo ponto incentivado, reformas trabalhistas
ainda de forma seletiva e descentralizada. Um exemplo interessante é o caso da Foxconn. Nessa
empresa, a única montadora dos aparelhos desenvolvidos para a Apple no mundo, catorze
suicídios sucessivos no ano de 2010 forçaram a empresa a reestruturar o seu modo de produção e
a descentralizar suas unidades, de forma a gerir os recursos humanos de forma menos autocrática,
inclusive gerando aumentos salariais de até 66%.
O governo chinês, de forma inédita, permitiu a divulgação dos fatos relativos à empresa,
gerando uma série de protestos na região de Shenzhen e, sucessivamente, inúmeras outras
empresas promoveram aumentos salariais e renovaram as suas práticas trabalhistas. Dessa forma,
gradual e descentralizada, a China permite certa elasticidade nas relações de trabalho e controla a
pressão social por melhor qualidade de vida e distribuição dos frutos do desenvolvimento
econômico. A Foxconn, subdisiária da Hon Hai, de Taiwan, começou a transferir unidades para
regiões menos desenvolvidas em 2010, e irá provavelmente ditar uma tendência das empresas em
busca de regiões com mão de obra mais barata e menor risco de acúmulo de tensões sociais. As
suas novas fábricas em implantação se situam em Henan e Sichuan, duas das mais populosas
províncias chinesas e origem da maioria dos trabalhadores migrantes que se transferiram à região
costeira para trabalhar em centros de exportação como Shenzhen. Como elas se apresentam como
áreas novas de ocupação, a experiência acumulada nos processos de planejamento do crescimento
das cidades da costa oeste será amplificada.
As últimas chuvas de 2009, 2010 e 2011 demonstraram que ainda se têm grandes
problemas com a gestão do solo, que é feita no Brasil de forma especulativa e pouco planejada
pelo poder público. A questão ainda da “função social da propriedade urbana”, apresentada pelo
Estatuto da Cidade como item prioritário para elaboração de política pública, tanto para fins de
moradia social como para estabelecer diretrizes públicas para o desenvolvimento urbano, não tem
a sua definição clara nos planos diretores dos municípios.
Neste exato momento, a China anunciou que irá investir 200 bilhões de dólares na
construção ou renovação de 10 milhões de casas populares, para contrabalançar o altíssimo
aumento dos preços no mercado imobiliário do país16. Em Pequim, apartamentos chegam a custar
3 mil dólares o metro quadrado. A ideia vem no sentido de estabilizar preços, forçando o
mercado a trabalhar com uma oferta considerável de imóveis. "Queremos que o atual
fornecimento limitado de imóveis seja direcionado para os consumidores que mais precisam de
casa própria. Essa é a razão básica por que impusemos medidas regulatórias no mercado", de
16
Site de Economia do Uol, 2011) (http://economia.uol.com.br/ultimas-
noticias/bbc/2011/03/09/china-investira-us-200-bi-para-frear-precos-imobiliarios.jhtm
45
acordo com vice-ministro de Habitação do governo chinês, Qi Ji. De acordo com a matéria, o
governo chinês tem respondido a esse fenômeno com medidas para tentar conter a especulação e
desincentivar a compra e venda de imóveis secundários.
Assim, verifica-se que o governo chinês possui ferramentas para ditar de forma radical a
oferta e os preços aplicados no mercado, e os utiliza de forma integral para promover a inclusão
social no mercado imobiliário. As ferramentas de que se utiliza muitas vezes estão marcadas
pelo autoritarismo e pela arbitrariedade, mas se percebe inevitavelmente a presença de um projeto
nacional para o desenvolvimento urbano.
3 METODOLOGIA
Este estudo foca a base legal e as estratégias de implementação de políticas eficientes das
cidades no tocante às suas políticas propostas de suporte à atividade produtiva e na estruturação
do desenvolvimento urbano no Brasil e na China. A seleção dos dois países foi motivada em
razão dos estudos feitos na China na ocasião da extensão do curso da FIA para o país, quando
pudemos verificar contrastes intensos sobre as estratégias de inclusão habitacional da massa de
migrantes decorrente dos processos industrializantes nos dois países em desenvolvimento.
Os dados foram analisados à luz das teorias pesquisadas, e conceitos teóricos fundamentais para
se estabelecer uma base comparativa, foram abordados, tais como a questão da Função Social da
terra, Reforma Urbana, Participação e outros.
As principais limitações desta pesquisa estão contidas na escolha de se trabalhar com os dados
secundários. A ausência da possibilidade de se trabalhar com dados locais também se fez notar,
cabendo um aprofundamento posterior sobre o tema.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferenças fundamentais nas urbanidades dos dois países levam à reflexão de que a
questão das diferenças encontra, nessas diferentes realidades, contradições que provocam outra
reflexão imediata: como a China conseguiu incluir tamanha população de forma razoável em suas
cidades sem um espalhamento e descontrole típico dos países do terceiro mundo, mesmo
contando com uma renda per capta cinco vezes menor que a brasileira?
3. O Brasil está ainda engatinhando na aplicação das avançadas leis que estão instituídas,
mas ainda não instauradas na sua essência. Assim sendo, a questão da inclusão
habitacional está sujeita a regras de um mercado imobiliário que não têm como foco
atender à população que necessita de moradia, mas a quem consegue nele se inserir.
5. O planejamento urbano na China é feito de forma integrada com seus vários agentes,
sejam eles incorporadores, poder público, população afetada e, principalmente,
intermediada por um corpo técnico preparado.
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