DISCIPLINA – CIÊNCIA, TÉCNICA, EDUCAÇÃO – Trab. Em Grupo (2)
DOCENTE – LUZIA SILVA
Textos escolhidos para debate: Texto 11 e Texto 10.
O Ensino a Distância (EaD) no Brasil, e pode-se dizer no mundo, já se constituí
uma realidade inegável. O que cabe aos educadores questionar e tentar de forma incansável alcançar é sua qualidade. Quando o ministro Fernando Haddad nos coloca que “falta definir um foco de atuação para a EaD no Brasil” não temos como contestá-lo. Realmente o que se tem visto é que a EaD no Brasil tem se destinado a interesses mercadológicos, tem sido apenas mais uma forma de ganhar dinheiro com o que muitos chamam de educação, mas que não passa de mero produto para venda. Realmente, enquanto a EaD continuar formando professores para a educação básica presencial temos um grave problema de segregação e manipulação política, que está aumentando o fosso sócio-cultural em nosso país. Segundo Baccega, “as tecnologias nada mais fazem que amplificar o que queremos dar a conhecer, cujo conteúdo avaliamos como importante”. Nessa perspectiva, segundo ela, “ o ensino de qualidade continua a ser aquele que busca, através de projetos adequados, a inserção do aluno como cidadão crítico. O uso da tecnologia poderá favorecê-lo, ampliá-lo, mas sua ausência não implicará falta de qualidade”. Percebe-se então que se a EaD no Brasil continuar a formar pedagogos via internet, o ensino como um todo estará fadado à deterioração, pois não conseguiremos formar um cidadão crítico, que consegue selecionar adequadamente os conteúdos que a internet e outros meios de comunicação trazem. Baccega traz, então, que “a internet, por seu caráter democrático, aumenta a responsabilidade da escola na formação do receptor crítico, capaz de selecionar”. O problema é que, no Brasil, a EaD não está auxiliando o desenvolvimento da capacidade de pensamento crítico, embora pretenda-o, o que é um grande equívoco já que não poderia fazê-lo sem que o aluno tenha “uma base sólida no ensino superior na área de humanidades e artes” (Baccega, pag. 3). “O desenvolvimento da capacidade de pensamento deveria ser colocado em primeiro lugar, e não a aquisição de conhecimento especializado. Se uma pessoa domina o fundamental no seu campo de estudo e aprendeu a pesar independentemente, ela será mais capaz de adaptar-se ao progresso e às mudanças do que outra cujo treinamento consistiu apenas na aquisição de conhecimento detalhado” (Einstein). Este é o papel da escola, mas ela não poderá desenvolvê-lo se seus professores não passarem anteriormente por este processo de “desenvolvimento da capacidade de pensamento”. O que se pode esperar de uma educação despendida por um profissional “cujo treinamento consistiu apenas na aquisição de conhecimento detalhado”? Mais do que isso, o que se pode esperar, no que concerne à justiça social e produção de conhecimento, de uma geração educada por estes profissionais? A EaD pode funcionar como um ótimo propagador de conhecimento especializado, mas jamais como formador de um pensamento crítico, pois só terão êxito na busca do conhecimento especializado aqueles que forem capazes de pensar criticamente . Isto mostra a importância de definir um foco para a EaD no Brasil. Um foco que deve ter em mente a questão: o que queremos para o Brasil no futuro? Que cidadãos queremos formar? Em que sociedade queremos viver? Devemos ter em mente que “só o conhecimento, com sua percepção de totalidade, pode ajudar na seleção do que é efetivamente importante e necessário para as mudanças históricas” (Baccega, pag. 3). “Na busca da inclusão social e digital, a Escola desempenha importante papel, já que é o lugar privilegiado da socialização dos encontros marcados para reflexão, para construção de cidadania. (...) Ensinar a ler os meios, possibilitar conhecimento para que a seleção seja adequada aos interesses coletivos constituem a base do que vem sendo chamado 5º poder: o poder da sociedade nas suas relações com a mídia” (Baccega, pag. 6). Nesse panorama, percebe-se que a EaD no Brasil está se tornando uma nova forma de dominação social e manutenção da desigualdade, uma vez que limita o ensino do pensamento crítico, formando professores que também não o tem desenvolvido. A EaD pode funcionar para repassar conhecimento especializado, o que a tornaria um meio eficiente de produção coletiva de conhecimento, mas não pode, e é isso que os educadores devem rejeitar de todas as formas, formar profissionais para a educação, já que para ensinar é preciso formar-se cidadão e para isso “precisa-se de relações diretas, pois a presença do outro é balizador principal do agir humano” (Giolo). Precisamos ter no Brasil um foco para a EaD e este deve ser baseado, sobretudo, na interpretação de um público-alvo que já tenha o pensamento crítico desenvolvido.