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O que é neoliberalismo
Frei Betto
O capitalismo é uma religião laica fundada em dogmas que, historicamente, merecem pouca
credibilidade. Um deles reza que a economia é regida pela “mão invisível” do mercado. Ora, em
muitos períodos o sistema entrou em colapso, obrigando o governo a intervir na economia para
regular o mercado.
Esse caráter “social” do capitalismo durou até fins da década de 1970 e início da década
seguinte, quando os EUA se deram conta de que era insustentável a conversibilidade do dólar
em ouro. Durante a guerra do Vietnã, os EUA emitiram dólares em excesso e isso fez aumentar
o preço do petróleo. Tornou-se imperioso para o sistema recuperar a rentabilidade do capital. Em
função deste objetivo várias medidas foram adotadas: golpes de Estado para estancar o avanço
de conquistas sociais (caso do Brasil em 1964, quando foi derrubado o governo João Goulart),
eleições de governantes conservadores (Reagan), cooptação dos social-democratas (Europa
ocidental), fim dos Estado de Bem-Estar Social, utilização da dívida externa como forma de
controle dos países periféricos pelos chamados organismos multilaterais (FMI, OMC etc.) e o
processo de erosão do socialismo real no Leste europeu.
O socialismo ruiu naquela região por edificar um governo para o povo e não do povo e com o
povo. À democracia econômica (socialização dos bens e serviços, e distribuição de renda) não
se adicionou a democracia política; não nos moldes do Ocidente capitalista, mas fundada na
participação ativa dos trabalhadores nos rumos da nação.
http://www.correiocidadania.com.br/ed441/betto.htm 04/04/2005
Correio da Cidadania Página 2 de 2
beleza exuberante.
Tudo isso restrito a um único espaço: o mercado, equivocadamente adjetivado de “livre”. Nem o
Estado escapa, reduzido a mero instrumento dos interesses dos setores dominantes, como tão
bem analisou Marx. Sim, certas concessões são feitas às classes média e popular, desde que
não afetem as estruturas do sistema e nem reduzam a acumulação da riqueza em mãos de uma
minoria. No caso brasileiro, hoje os 10% mais ricos da população – cerca de 18 milhões de
pessoas – têm em mãos 44% da riqueza nacional. Na outra ponta, os 10% mais pobres
sobrevivem dividindo entre si 1% da renda nacional.
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