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06 OE NOVEMBRO 2010 ESTA REVISTA FAZ PARTE INTEGRANTE 00 DIARIO DE NOTicIAS

·Notícias Sábado'252 N. Sln2 E 00 JORNAL DE NOTicIAS N. 158/123 NAo PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE
O O
22 NS DESPORTO PERFIL

AMANOIA QUEIROS/GLOBAL IMAGENS

Mas a mão amiga de Bobby Robson também


se estendeu em direcção ao FC Porto, o clube
que André Villas-Boas aprendeu a admirar
desde os tempos de criança, o mais repre-
sentativo da cidade onde nasceu há 33 anos.
Foi o técnico inglês quem deu o empurrão
definitivo para o rapaz passar a colaborar nas
camadas jovens e vencesse mais uma etapa do
crescimento profissional. Foi aí que travou
conhecimento com um conjunto de treina-
dores mais velhos e pôde constatar o que era
o trabalho de campo na qualidade de assisten-
te. Percorreu vários escalões, sempre com os
olhos bem abertos e os ouvidos afinados.
Nessa altura, o culto pelo futebol também
passava por estar em casa com o computador
à frente. Perdia horas a jogar o Championship
Manager, um simulador no qual os utilizado-
res gerem uma equipa profissional como se
fossem treinadores a sério. Também assinava
várias revistas estrangeiras que lhe permitiam
saber o nome de muitos futebolistas e a com-
posição de vários plantéis. Tinha uma sede de
conhecimento notável, era o primeiro a querer
melhorare mostrava uma dedicação extrema
em todos papéis que lhe eram confiados.
O que não passava despercebido. A ninguém.
Aí,já vincava os traços que fazem dele um
treinador próximo dos jogadores, quase um
amigo e um confidente, alguém capaz de se
divertir quando o ambiente é descontraído ou
duro quando as circunstâncias assim o exi-
gem. «Há um episódio de que não me esque-
ço. Quando fomos campeões nacionais de
juvenis, em 1996/97, o André era adjunto do
professor Ilídio Vale e os jogadores foram
todos curtir para a noite. Ele andou connosco
como se fosse um de nós. Era muito próximo
da equipa», conta Manuel José, jogador do
Paços de Ferreira. Há 13 anos era um dos fute-
bolistas mais promissores dessa equipa e con-
tactou de perto com aquele rapaz de olhar
atento. De uma extrema competência.
Mas André Villas-Boas sempre foi um aven-
tureiro, tinha a coragem para protagonizar as Desde muito jovem, André Villas-Boas apontava tudo o que se passava
decisões mais arrojadas e inesperadas. Desde em cada jogo para fundamentar os seus relatórios que ficaram famosos.

logador nos Clistritais


Entre a adolescência e a idade adulta, dois populares clubes da cidade. Um disputa Era onde muitos amigos do Colégio Nossa
André Villas-Boas jogou futebol no campeq- os campeonatos distritais; o outro os amadores. Senhora do Rosário jogavam. Nessa altura,
nato amador e distrltal do Porto. Era médio. Onde sejoga por carolice, às vezes na lama e o clube p~ssava por tempos difíceis, afundado
ccUm jogador ã FCPorto)) ao serviço do sem contrapartidas financeiras. Era um médio nos últimos lugares da tabela classificativa,
Ramaldense e do Marechal Gomes da Costa. com muita fibra, dizem que tinha a mesma mas safou-se da despromoção. Viílas-Boas
Há quem pense que André Villas-Boas é apenas garra e o espírito combativo que caracterizam ajudou a inverter o cenário negro como um dos
um teórico da bola e todos os conhecimentos os jogadores à PCPorto. Futebolistas que suam jogadores fundamentais da recuperação.
adquiridos só foram garantidos em cursos a camisola até à. última gota. «Quando cheguei, li) plantei não apresentava
de treinador. Isso não correspemdeà verdade. Entre 1994 e 1996,já quando era treinador nas muitas garantias e resolvi promover três
Na adolescência, o técnico do fC Porto calçou escolinhas de formação dos portistas, jogava ao juniores. Um élelesera o André», recorda Quim
as chuteiras e palmilhou os campos pelados fim-de-semana com a camisola do Ramaldense, Espanhol, o treinador da altura.
da Associação de Futebol do Porto, ao serviço uma colectividade onde Harnberto Coelho deu Foi assim que começou a recuperação do
do Ramaldense e do Marechalliomes da Costa, nas vistas antes de se transferir para o Benfica. Ramaldense, à medida que o actual treinador
23NS

DAVID AUGUSTD/GLDBAL IMAGE~S

Título nobre
e ascendênda inglesa
- Luís André Pina Cabra I Vil/as-Boas
nasceu no Porto a17 de Outubro
de 1977, tem 33 anos e raízes nobres.
É bisneto de José Cerardo Çoelho Vieira
Pinto do VaI!! Peixoto de Vil/as-Boas,
1. o visconde de Cuilhomil, título criado
pelo rei D. Carlos em 1890. Entre o final
do século XIX e início do século xx,
foi chefe no conselho do Partido
Progressista, uma das grandes forças
partidárias no segundo rotativismo
monárquic.o. Além de ter feito carreira
como político também se notabilizou
como magistrado. André Vil/as-Boas
tem ascendência inglesa pela avó
paterna, Margaret Nevil/e Kendall,
que terá influenciado o seu perfeito
domínio da língua inglesa.
No Chelsea, onde foi os «olhos e ouvidos» de Mourinho e dissecou a maneira de jogar
das melhores equipas do futebol inglês.

SócjodoFI:: Porto
sempre alimentou o sonho de ser treinador tinha para trabalhar como treinador cio que
principal e quando tinha 23 anos viu um anún- no dinheiro que tínhamos para lhe oferecer», desde os dois anos
cio numsite dainternet que lhe parecia ser in- conta Kenríck Grant, na altura o presidente
teressante. Em 2000, havia urna selecção que da Federação de Futebol daquele minúsculo _ Desde os tempos de criança que André
precisava de um jovem técnico e qualificado, país no mar das Caraíbas, Aos poucos, come- Vil/as-Boas sempre nutriu uma paixão
com um salário em conta, al- çou a mostrar o seu talento, um especial pelo FC Porto. É sócio do clube
guém que mostrasse uma ambi- AOS 23 ANOS sentido de organização notável desde os dois anos, numa altura em que
ção desmedida para trabalhar e as funções que exercia passa- Pinto da Costa ainda não era presidente
TORNOU-SE
nos escalões de base. Viu o pedi- ram a ser redutoras para quem e as suas funções estavam confinadas
do; mandou o currículo por RESPONSÁVEL tinha horizontes largos: «Era ao departamento de futebol. Ao assu-
e-mail, fez uma entrevista e foi PELA SELECÇÃO muito bom a criar manuais de mir o comando técnico dos dragões,
aceite. Foi assim que assumiu as DAS ILHAS treino no computador, Criou cumpriu um velho sonho de infância:
rédeas da selecção das ilhas Vir- VIRGENS métodos específicos para todos ser treinador do clube do coração.
gems Britânicas. Num abrir e fe- BRITÂNICAS. os treinadores das camadas jo- Por isso, quando é questionado sobre
char de olhos. vens. Também era estupendo o futuro ou quando lhe colocam pela
Mais uma vez, o velho amigo na observação, a detectar os frente outros cenários além do FC Porto,
Bobby Robsonfoiimportante. «Deu-nos boas pontos fortes e fracos dos adversários. Por is- responde sempre da mesma maneira:
referências e isso ajudou. Também se mos- so, demos-lhe o cargo de director técnico pa- "Estou na minha cadeira de sonhe,»
trou mais interessado na oportunidade que ra que orientasse todos os escalões» Palavra do sócio número 11428.
24 NS DESPORTO PERFIL

OR
adolescente de cabelo ruivo cativava quem o
ouvia falar sobre futebol. E aceitou-o.
Em 2003, começou a ser «os olhos e os ou-
vidos» de José Mourinho (a expressão é do
próprio Special One), quando era preciso es-
tendê-los em direcção aos adversários para
detectar os pontos fortes e as fragilidades. Foi
assim que começaram a ser feitos os famosos
relatórios que dissecavam a forma de jogar
de quem se cruzava no caminho do FC Porto.
Nada passava despercebido. Fosse o compor-
tamento das equipas em campo, a postura ou
os movimentos específicos dos jogadores, fos-
sem as questões tácticas ou os posicionamen-
tos, todos os pormenores eram analisados e
trabalhados pelo jovem aspirante a treinador.
Antes de cada jogo, cada futebolista rece-
bia um minucioso relatório sobre as caracterís-
ticas do marcador directo ou de quem tinha
de perseguir dentro do campo. «Eramdossiers
muito detalhados e ficávamos a saber tudo
sobre os nossos adversários. Raramente éra-
mos surpreenclidos e já se notava que estáva-
Na primeira experiência como treinador principal, no ano passado, pegou na Acadêmica mos na presença de alguém que sabia muito
em último lugar e salvou-a da descida de divisão. de futebol», revela Ricardo Costa, defesa do
Valência, um dos jogadores que estiveram na
caminhada sensacional dos dragões quando
Em termos desportivos, a qualificação pa- os dragões desesperavam por vencer o título conquistaram a Taça UEFA (2002/03) ea
ra o Munclial2002 acabaria por ser a imagem de campeão e procuravam um treinador ca- Liga dos Campeões (2003/04).
de uma selecção débil e que se encontrava na paz de colocá-los na rota do sucesso. É nesse Além disso, André Villas-Boas também ti-
cauda do ranking da FlFA. Averbou duas der- contexto que José Mourinho é contratado à nha outras preocupações e transmitia um
rotas diante das Bermudas (5-1, em casa; 9-0 União de Leiria no decorrer da pouco do seu conhecimento no
fora). Nada que perturbasse uma carreira as- época de 2001/02, um rosto contacto pessoal com os atletas:
cendente. Durante os 18 meses em que viveu emergente do futebol portu- AOS 26ANOS «Antes dos jogos grandes con-
nas Caraíbas nunca perdeu os laços de amiza- guês que tinha como missão TIROU O NíVEL versava com alguns de nós, de-
de com os responsáveis do FC Porto e envia- germinar novos hábitos de vitó- MÁXIMO DO pois dos treinos, e chamava-nós
va-lhes postais a ilustrar as belas paisagens ria. Logo aí abriu-se umajanela CURSO DE a atenção para determinados
marítimas. Só quando regressou a Portugal, de oportunidade para o rapaz. aspectos deste ou daquele adver-
TREINADORES.
aí sim, teve a coragem de revelar a:idade. Quando o novo treinador pre- sário.» Eram essas as caracterís-
Porque nas 'ilhas Virgens Britânicas todos cisava de um observador, um
NA ESCÓCIA. ticas de quem fazia do rigor uma
pensavam que fosse mais velho. «Sempre se perito capaz de desmontar a máxima de vida, um discípulo
mostrou interessado em um dia vir a treinar forma de jogar dos adversários, houve alguém que soube beber todos os ensinamentos do
o FC Porto», conta Kenrick Grant. que lhe falou em André Villas-Boas. O nome mestre, mas que nunca se deu por satisfeito.
André Villas-Boas voltava à casa de partida não lhe era estranho, conhecia-o dos tempos Nem renclido. Quis sempre saber mais. E em
e encontrava um clube diferente do actual. em que o agora treinador do Real Madrid 2003, aos 26 anos, tirou o nível máximo do
Sem a chama das vitórias. No início da década, era adjunto de Bobby Robson. Quando o tal curso de treinadores na Escócia.

«À segunda-feira trazia relatórios n


Porestes dias, o ColégioNossa Senhora do Rosá- Nos tempos de estudante, .
rio, no Porto, é notícia por liderar o rankíng das AndréVilla~Boas era um rapaz popular?
melhores escolas do país.Foi nessa instituição _Sim, era um miúdo muito pacato.
privada, de cariz religioso ligado ao Sagrado Co- Não se metia em grandes confusões,
ração de Maria, que André Villas-Boas estudou. mas era popular no grupo de amigos.
JoséEiró,48 anos, professor de educação física, Era muita fiem acelte e não tinha problemas
foi director de turma do treínsdor do FCPorto no relacionamento com os outros.
entre o sétimo e o nono ano €'Iembra-se daque- Mas era calado~tímiElo. Às vezes, não se
le rapaz pacato. Não era um aluno brilhante, dava por ele na sala de aula. Metia-se na sua
mas tinha jeito para o desporto. A0513 anos, já conchinha, se calhar, pensava «deixa-me
fazia relatórios das equipas de futebol. Escrevia- estar quieto para ninguém me ver e assim
-os nos cadernos e mostrava-os aos colegas. ninguém me chateia».
Gostava de treinar
na Argentina
_ É um apaixonado pelo futebol
espectáculo. Por isso, já revelou
que tem «alguns sonhos estranhos».
Não passam por treinar nos campeo-
natos mais sonantes como Espanha,
Itália ou Inglaterra. Passam apenas
por orientar uma equipa nas ligas
onde a paixão se sobrepõe a tudo
o resto. Onde os adeptos vibram
à custa de jogos recheados de golos
e emoção. Por isso, já confessou
que gostava de treinar na Argentina
e no Chile. Etambém no Japão.
No Japão'?Sim, porque gosta
da cidade de Tóquio.
Outro dos seus sonhos era ficar ...
dez anos no FCPorto. Fica ao critério
de Pinto da Costa.

A fama já chegou
aoJapão
_ A excelente carreira de André
Villas-Boas no FCPorto já despertou
o interesse de várias publicações inter-
nacionais. Foi tema da revista japonesa
Hochi Shimbum, que fez deslocar
um jornalista nipónico até ao centro
de treinos dos azuis e brancos. Também
já mereceu destaque no jornal norte-
-americano Wall StreetJoumal, que
o apelidou de «rapaz genial» e que
a aposta num jovem pode levar
«os clubes a alterar a sua forma de re-
crutar os treinadores». Ojornal italiano
C;azzetta dello Sport já lhe dedicou
uma página e escreveu que estamos Mal chegou à Académica notaram-se as mudanças no futebol da Briosa:
na presença de «o novo Mourinho». mais confiança e sempre à procura do melhor resultado.

dernos»
ra bom aluno'? gens de marca do André, os relatórios que Nessa altura, passava-lhe pela cabeça que
Não era brllhante. Era mediano de notas trazia nos cadernos à segunda-feira, quando pudesse vir a ser treinador de futebol?
rês e quatro. Não dedicava muito tempo aos tinha 13 e14 anos. Também sabia sempre .Nunca. Sabia que era vizinho de Bobby
studos porque, já nessa altura, se virava a constituição da equipa do FC Porto. Robson e entregava-lhe relatórios na
ais para o futebol. Fazia relatórios sobre as Já lhe passou mais algum aluno pelas mãos brincadeira. Foi uma surpresa quando soube
'luipas. Quando chegava à escola, à segun- com essas c:araderisticas'? que trabalhava no PC Porto e estudava
=felra, dizia como tinham jogado durante .Não, Os alunos costumam discutir ~ segun- as equipas adversárlas. Não é muito normal.
im-de-semana e sabia as posições dos da-feira os jogos do fim-de-semana. mas é numa família tradicional como a dele, que
adores. Tinha esta motivação e esta ape- aquela discussão solta, clubista e emocional. o futuro do André passasse pelo desporto
da para fazer a leitura do jogo em termos O André era mais racional. Também levava e pelo futebol.
tlcos. Muitas vezes contestava as deci- para as aulas cadernetas de futemol e jornais éomo é que a família encarava essa paiXião
das treinadores. Essa era urna das ima- desportivos. pelo futebol'?
26 NS DESPORTO PERFIL

PEDRD CORREINGLOBAL IMAGENS

Casado e pai
de duas filhas
- Sabe-se pouco sobre a vida
privada do treinador do FC Porto,
que sempre optou por uma faceta
recatada, não dá entrevistas e só fala
em conferências de Imprensa.
Além da ascendência inglesa e das
ligações fi nobreza, sabe-se que
André Villas-Boas é casado com
Joana Villas-Boas e tem duas filhas:
Benedita, de 16 meses, e Carolina,
que nasceu a 9 de Outubro. Desde
que assumiu o comando técnico
dos dragões, os familiares mais
próximos resguardaram-se
da exposição mediática e chegaram
a bloquear as contas no Facebook.
Por uma questão de privacidade,
obviamente.

o treinador
que faz 'mea culpa'
_ Quando está no banco de suplentes,
Villas-Boas transforma-se. Diz que
é fruto da irreverência de quem tem
33 anos. Grita, corre pela área técnica
como se fosse um jogador. Também
protesta com os árbitros e já foi expulso
do banco, aliás, muito fi imagem de
José Mourinho. Em Guimarães, pediu
uma grande penalidade, recebeu ordem
de expulsão e contestou a decisão do
juiz. Disse que um adversário tinha
jogado a bola com a mão na grande
área. Mas as imagens televisivas mos-
traram o contrário. No dia seguinte,
A prova de fogo como treinador do FC Porto: esta fi frente do campeonato emitiu um comunicado. A fazer meo
sem derrotas e com sete pontos de avanço sobre o Benfica. culpo. Caso raro no futebol português. /

dificuldade na ginástica, mas isso é normal


nos rapazes e tem que ver com o crescimento
brusco e com a falta de flexibilidade. Tudo o que
tivesse uma bola pelo meio, ele gostava. Era
daquelas pessoas que têm prazer em jogar.
Fosse o que fosse.
Nos torneios interturmas jogava em que
posição?
Senha a ideia de que era glJarda-r,eâes.
Aliás, quando jogou futebol no Ramaldense
tenho a impressão que começou por ser
guarda-redes. Mesmo nos intervalos das
aulas, gostava de ir para a baliza.
RICAROO JUNIOR/GLOBAL IMAGENS

Depois do sucesso estrondoso no FC Por-


to, Mourinho ganhou dimensão internacio-
nal e despertou a cobiça de vários clubes eu-
ropeus de nomeada. No Verão de 2004 foi
apresentado no Chelsea. E não foi sozinho.
André Villas-Boas também se mudou pata
Inglaterra, onde continuou a passar uma in-
finidade de tempo nos estádios adversários
e no gabinete, a trabalhar a informação
mais preciosa para ser entregue aos jogado-
res. Um desses relatórios de observação
chegou a ser tornado público e maravilhou
os entendidos pela forma como a equipa do
Newcastle era decomposta. Literalmente,
ao pormenor.
Em 2008, seguiu-se uma aventura em
Itália. No FC Porto, no Chelsea e no Inter de
Milão, teve a oportunidade de desmontar a
forma de jogar das melhores equipas do
mundo e isso deu-lhe uma grande bagagem
do ponto de vista táctico. Ao mesmo tempo,
foi absorvendo os ensinamentos de José
Mourinho e traçando as suas ideias. Amas-
sou um registo próprio e uma identidade André Villas-Boas cumprimenta Pinto da Costa: treinar o FCPorto foi a
bem definida daquilo que seria um estilo de realização de um sonho de infância.
jogo. O seu conceito de futebol aliado à ve-
lha ambição de ser treinador principal, um
líder capaz de se impor pelo seu pensamen- tinham nas mãos e apresentaram-lhe um custa de trinta pontos em 23 jogos e com o
to. Porque não queria ser adjunto por mui- contrato de duas épocas com uma cláusula 11.o lugar na classificação final. Era o reflexo
to mais tempo. de rescisão de quinhentos mil euros. Nada de um futebol sedutor e sem fixações defen-
Um ano depois de ter chegado ao futebol mau. Porque sabiam que nos últimos meses, sivas. Sempre à procura do espectáculo, vira-
italiano, mudou-se para Portugal, para de- o seu nome já tinha estado associado a ou- do para a baliza adversária.
sagrado do mestre. E para trei- tros clubes mais bem cotados. No início da caminhada, André Villas-
nar a Académica. A 14 de Ou- VILLAS-BOAS Estreou-se no campeonato Boas procurou distanciar-se das compara-
tubro de 2009, foi apresenta- português à oitava jornada. E ções feitas em relação a José Mourinho,
PRATICA UM
do como treinador da equipa com uma derrota. Ironia das iro- mas os jogadores são os primeiros a reco-
de Coimbra, mergulhada no FUTEBOL nias, no terreno do FCPorto (3- nhecer que mantém a mesma relação de
último lugar da tabela classifi- SEDUTOR. 2), o clube do seu coração. Mas empatia junto do planteI. «É um treinador
cativa, agoniada e desacredi- SEMPRE À logo ali se percebeu que algo iria . que tem um grande coração», conta Jonat- ,
tada perante o país desportivo. PROCURADO mudar no futebol da Briosa: a ham Bru, ex-futebolista da Académica, que
Era uma aposta de risco para ESPECTÁCULO. equipa jogou mais confiante, revela o lado humano de quem que não
umjovemde31 anos e semex- muito compacta e sem descurar olha a meios pàra fazer o grupo feliz: «No
periência de banco. Se falhas- o sentido estético do jogo. Fez o Natal do ano passado, tinha pedido dez ca-
se, a sua carreira estaria hipotecada; se ven- adversário sofrer, sempre à procura do me- misolas para oferecer aos meus amigos.
cesse, outras portas se abririam. Mas os diri- lhorresultado, sem se inibir ou baixar a cabe- Mas o clube enganou-se e entregou-me 30.
gentes estavam seguros da pérola que ça. Seguiu-se uma recuperação notável, à Disse-lhes que não podia pagar tudo de

Era um líder? Não é normal um treinador chegar a um


(Pausa). Em termos desportivos, acho que clube grande com 32 anos. Era uma criança
sim. Tinha algumas características madura?
líder nas aulas de educação física. Na vida Tinha uma maturidade diferente dos outros.
mal. não me parece. Mas é engraçado, Os colegas faziam aquelas bríneadelras.
QQeà segunda-feira, quando começava a aquelas coboiadas,mes o André era muito
de futebol, os outros ouviam-no e pres- mais sereno e tranquilo. Passava ao lado de
atenção ao que dizia. uma brincadeira que não lhe dissesse nada.
ava para perceber que era portista1 Não era um velho precoce, mastirrha a noção
mente. Sabia tudo sobre o fC Porto, de do que devia e não devia fazer.
ara a frente e da frente para trás. Te- Nunca mais falaram?
ideia de que o pai era sode e o André ia Não. Perdemos o contacto. Creio que tam-
quência assistir aos jogos. bém nunca mais veio ao colégio ..
28 NS DESPORTO PERFIL

IVAN DEL VAL/GLDBAL IMAGENS


No FC Porto, André Villas-Boas começou
por ser uma pequena brisa que se transfor-
mou numa lufada de ar fresco. Percebeu-se
. logo nos treinos da pré-época, nos quais
nunca repetia o mesmo exercício, exigia
uma rápida circulação de bola e impunha
uma nova mentalidade ganhadora. «Os
treinos são sempre diferentes e isso motiva
os jogadores que não sabem o que vão en-
contrar quando chegam ao relvado. Mas o
que mais me impressiona é a seriedade no
trabalho. Quando é para brincar, brinca;
quando é para exigir, exige. Nos treinos é
como nos jogos, não pára de dar indicações,
não pára de gritar. É muito exigente», diz
Miguel Lopes, lateral portista emprestado
ao Bétis.
Mesmo assim, muitas dúvidas se levanta-
ram em relação à escolha do presidente Pin-
to da Costa. Viram-no como um treinador
imaturo, sem o arcaboiço necessário para
conduzir uma equipa da grandeza do FC
Com jovens atletas: a dimensão humana é um dos trunfos de Villas-Boas. Porto. Até JoséMourinho se mostrou sur-
preendido por ver o antigo discípulo à fren-
DAVI O AUGUSTD/GLDBAL IMAGENS
te do comando técnico dos dragões. Nada
"uma vez. O mister ouviu a conversa e pagou que o abalasse. A primeira prova de fogo foi
metade.» superada com nota elevada: vitória contun-
Mas houve mais manifestações de gene- dente sobre o Benfica (2-0), na Supertaça,
rosidade que cativavam o grupo e criavam o seu primeiro troféu como treinador prin-
fortes laços de solidariedade. Esse é um dos cipal. E a mostrar uma equipa diferente, a
seus segredos, a forma como a barreira en- jogar à FC Porto, com espírito combativo e
tre osjogadores e o treinador é cortada, mas . ao ataque. A praticar um futebol sedutor e
sem colocar em causa os princípios da disci- de sentido estético. Porque essa é a sua má-
plina e da liderança. «Parece um homem du- xima de vida: «Se ganhar a jogar mal, não
ro, mas não é. Éjusto, é um amigo e trata to- durmo bem.»
da a gente da mesma maneira. Quem joga ou Aos poucos, os dragões descolaram e co-
fica no banco, todos lhe merecem o mesmo o treinador com Luís Filipe Meneses, meçaram a voar. Com um início demolidor
respeito e isso traz muita confiança. Quando o presidente da câmara de Ciaia, no campeonato: nove jogos, oito vitórias e
plantei jantava junto, fazia questão de ser ele onde funciona o centro de treinos do FCPorto. um empate. Sem derrotas. Com uma lide-
a pagar a conta do restaurante», recorda o rança expressiva no campeonato, a sete
agora jogador da Oliveirense. À custa disso, pontos de distância do rival Benfica. Na Li-
levou muitos rombos no cartão de crédito. mostrar a verdura dos 32 anos, foi apresen- ga Europa, o mesmo percurso brilhante.
Aos poucos, André Villas-Boas passou a tado no Estádio do Dragão como treinador Sempre pela mão de um treinador próximo
estar nas bocas do futebol português e a me- do FC Porto. Cumpria um velho sonho de dos futebolistas, capaz das melhores estra-
recer a atenção de outros clubes mais capa- criança: ser o técnico da equipa que mais tégias para motivar o grupo. «Nosjogos em
zes. Foi apontado como hipótese para o admira. Logo aí, perante o aparato mediáti- casa, os convocados deixaram de fazer está-
Huelva (Espanha), esteve na mira do Spor- co, as comparações com José Mourinho fo- gios no hotel. Isso motiva muito os jogado-
ting por duas vezes, numa delas chegou a ram inevitáveis, mas procurou distanciar- res, que têm a oportunidade de estar mais
dizer que tudo não passava de uma «palha- se do mestre. Otempo todo. À custa de um tempo com as famílias. É um treinador com
çada», mas resistiu à tentação e discurso inteligente e mor- espírito aberto, pronto a ouvir, é obcecado
continuou na Académica. Não daz. Não prometeu títulos, pela perfeição e vai ao detalhe», revela Mi-
por muito tempo. No fundo, es- "SE GANHARA apenas disse que assumia guel Lopes. Por isso, os adjuntos andam
perou pelo momento certo. En- IOGARMAL. NÃO «um compromisso com a vi- com folhas de papel nos treinos e as sessões"
quanto se pensava que Paulo DURMO BEM". DIZ tória». Não deixou que fizes- na pré-época foram filmadas.
Bento seria o sucessor de Je- ANDRÉ VlLLAS- sem dele uma imitação do André Villas-Boas tem dois anos de con-
sualdo Ferreira no FC Porto, BOAS. Special One, pela postura no trato com o FC Porto, mas a Europa já se
Pinto da Costa trabalhou pela banco, pela irreverência ou rendeu às qualidades de um talento preco-
calada e escolheu o antigo discí- pelos métodos de treino, ape- ce. Esta é apenas a casa de partida de um
pulo de Bobby Robson e de José nas disse que era «mais clone homem que não tem sonhos. Apenas objec-
Mourinho. Do namoro ao casamento foi um de Robson do que de Mourinho», E porquê? tivos. De ascendência nobre, não é só o san-
pequeno passo. E acabou por se despedir «Tenho ascendência inglesa, o nariz gran- gue azul que lhe corre nas veias. É a ambi-
, I
dos jogadores da Académica por SMS. Com de e gosto de beber vinho.» Mais tarde, foi ção própria dos campeões, a ambição de um
as emoções à flor da pele. mais a fundo: «Não temos o mesmo carác- principezinho que tem tudo para vir a ser
A 4 de Junho de 2010, apenas com 23 jo- ter, a mesma personalidade e temos formas um rei.
gos na Liga e um bilhete de identidade a diferentes de comunicar e trabalhar»

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