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·Notícias Sábado'252 N. Sln2 E 00 JORNAL DE NOTicIAS N. 158/123 NAo PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE
O O
22 NS DESPORTO PERFIL
Título nobre
e ascendênda inglesa
- Luís André Pina Cabra I Vil/as-Boas
nasceu no Porto a17 de Outubro
de 1977, tem 33 anos e raízes nobres.
É bisneto de José Cerardo Çoelho Vieira
Pinto do VaI!! Peixoto de Vil/as-Boas,
1. o visconde de Cuilhomil, título criado
pelo rei D. Carlos em 1890. Entre o final
do século XIX e início do século xx,
foi chefe no conselho do Partido
Progressista, uma das grandes forças
partidárias no segundo rotativismo
monárquic.o. Além de ter feito carreira
como político também se notabilizou
como magistrado. André Vil/as-Boas
tem ascendência inglesa pela avó
paterna, Margaret Nevil/e Kendall,
que terá influenciado o seu perfeito
domínio da língua inglesa.
No Chelsea, onde foi os «olhos e ouvidos» de Mourinho e dissecou a maneira de jogar
das melhores equipas do futebol inglês.
SócjodoFI:: Porto
sempre alimentou o sonho de ser treinador tinha para trabalhar como treinador cio que
principal e quando tinha 23 anos viu um anún- no dinheiro que tínhamos para lhe oferecer», desde os dois anos
cio numsite dainternet que lhe parecia ser in- conta Kenríck Grant, na altura o presidente
teressante. Em 2000, havia urna selecção que da Federação de Futebol daquele minúsculo _ Desde os tempos de criança que André
precisava de um jovem técnico e qualificado, país no mar das Caraíbas, Aos poucos, come- Vil/as-Boas sempre nutriu uma paixão
com um salário em conta, al- çou a mostrar o seu talento, um especial pelo FC Porto. É sócio do clube
guém que mostrasse uma ambi- AOS 23 ANOS sentido de organização notável desde os dois anos, numa altura em que
ção desmedida para trabalhar e as funções que exercia passa- Pinto da Costa ainda não era presidente
TORNOU-SE
nos escalões de base. Viu o pedi- ram a ser redutoras para quem e as suas funções estavam confinadas
do; mandou o currículo por RESPONSÁVEL tinha horizontes largos: «Era ao departamento de futebol. Ao assu-
e-mail, fez uma entrevista e foi PELA SELECÇÃO muito bom a criar manuais de mir o comando técnico dos dragões,
aceite. Foi assim que assumiu as DAS ILHAS treino no computador, Criou cumpriu um velho sonho de infância:
rédeas da selecção das ilhas Vir- VIRGENS métodos específicos para todos ser treinador do clube do coração.
gems Britânicas. Num abrir e fe- BRITÂNICAS. os treinadores das camadas jo- Por isso, quando é questionado sobre
char de olhos. vens. Também era estupendo o futuro ou quando lhe colocam pela
Mais uma vez, o velho amigo na observação, a detectar os frente outros cenários além do FC Porto,
Bobby Robsonfoiimportante. «Deu-nos boas pontos fortes e fracos dos adversários. Por is- responde sempre da mesma maneira:
referências e isso ajudou. Também se mos- so, demos-lhe o cargo de director técnico pa- "Estou na minha cadeira de sonhe,»
trou mais interessado na oportunidade que ra que orientasse todos os escalões» Palavra do sócio número 11428.
24 NS DESPORTO PERFIL
OR
adolescente de cabelo ruivo cativava quem o
ouvia falar sobre futebol. E aceitou-o.
Em 2003, começou a ser «os olhos e os ou-
vidos» de José Mourinho (a expressão é do
próprio Special One), quando era preciso es-
tendê-los em direcção aos adversários para
detectar os pontos fortes e as fragilidades. Foi
assim que começaram a ser feitos os famosos
relatórios que dissecavam a forma de jogar
de quem se cruzava no caminho do FC Porto.
Nada passava despercebido. Fosse o compor-
tamento das equipas em campo, a postura ou
os movimentos específicos dos jogadores, fos-
sem as questões tácticas ou os posicionamen-
tos, todos os pormenores eram analisados e
trabalhados pelo jovem aspirante a treinador.
Antes de cada jogo, cada futebolista rece-
bia um minucioso relatório sobre as caracterís-
ticas do marcador directo ou de quem tinha
de perseguir dentro do campo. «Eramdossiers
muito detalhados e ficávamos a saber tudo
sobre os nossos adversários. Raramente éra-
mos surpreenclidos e já se notava que estáva-
Na primeira experiência como treinador principal, no ano passado, pegou na Acadêmica mos na presença de alguém que sabia muito
em último lugar e salvou-a da descida de divisão. de futebol», revela Ricardo Costa, defesa do
Valência, um dos jogadores que estiveram na
caminhada sensacional dos dragões quando
Em termos desportivos, a qualificação pa- os dragões desesperavam por vencer o título conquistaram a Taça UEFA (2002/03) ea
ra o Munclial2002 acabaria por ser a imagem de campeão e procuravam um treinador ca- Liga dos Campeões (2003/04).
de uma selecção débil e que se encontrava na paz de colocá-los na rota do sucesso. É nesse Além disso, André Villas-Boas também ti-
cauda do ranking da FlFA. Averbou duas der- contexto que José Mourinho é contratado à nha outras preocupações e transmitia um
rotas diante das Bermudas (5-1, em casa; 9-0 União de Leiria no decorrer da pouco do seu conhecimento no
fora). Nada que perturbasse uma carreira as- época de 2001/02, um rosto contacto pessoal com os atletas:
cendente. Durante os 18 meses em que viveu emergente do futebol portu- AOS 26ANOS «Antes dos jogos grandes con-
nas Caraíbas nunca perdeu os laços de amiza- guês que tinha como missão TIROU O NíVEL versava com alguns de nós, de-
de com os responsáveis do FC Porto e envia- germinar novos hábitos de vitó- MÁXIMO DO pois dos treinos, e chamava-nós
va-lhes postais a ilustrar as belas paisagens ria. Logo aí abriu-se umajanela CURSO DE a atenção para determinados
marítimas. Só quando regressou a Portugal, de oportunidade para o rapaz. aspectos deste ou daquele adver-
TREINADORES.
aí sim, teve a coragem de revelar a:idade. Quando o novo treinador pre- sário.» Eram essas as caracterís-
Porque nas 'ilhas Virgens Britânicas todos cisava de um observador, um
NA ESCÓCIA. ticas de quem fazia do rigor uma
pensavam que fosse mais velho. «Sempre se perito capaz de desmontar a máxima de vida, um discípulo
mostrou interessado em um dia vir a treinar forma de jogar dos adversários, houve alguém que soube beber todos os ensinamentos do
o FC Porto», conta Kenrick Grant. que lhe falou em André Villas-Boas. O nome mestre, mas que nunca se deu por satisfeito.
André Villas-Boas voltava à casa de partida não lhe era estranho, conhecia-o dos tempos Nem renclido. Quis sempre saber mais. E em
e encontrava um clube diferente do actual. em que o agora treinador do Real Madrid 2003, aos 26 anos, tirou o nível máximo do
Sem a chama das vitórias. No início da década, era adjunto de Bobby Robson. Quando o tal curso de treinadores na Escócia.
A fama já chegou
aoJapão
_ A excelente carreira de André
Villas-Boas no FCPorto já despertou
o interesse de várias publicações inter-
nacionais. Foi tema da revista japonesa
Hochi Shimbum, que fez deslocar
um jornalista nipónico até ao centro
de treinos dos azuis e brancos. Também
já mereceu destaque no jornal norte-
-americano Wall StreetJoumal, que
o apelidou de «rapaz genial» e que
a aposta num jovem pode levar
«os clubes a alterar a sua forma de re-
crutar os treinadores». Ojornal italiano
C;azzetta dello Sport já lhe dedicou
uma página e escreveu que estamos Mal chegou à Académica notaram-se as mudanças no futebol da Briosa:
na presença de «o novo Mourinho». mais confiança e sempre à procura do melhor resultado.
dernos»
ra bom aluno'? gens de marca do André, os relatórios que Nessa altura, passava-lhe pela cabeça que
Não era brllhante. Era mediano de notas trazia nos cadernos à segunda-feira, quando pudesse vir a ser treinador de futebol?
rês e quatro. Não dedicava muito tempo aos tinha 13 e14 anos. Também sabia sempre .Nunca. Sabia que era vizinho de Bobby
studos porque, já nessa altura, se virava a constituição da equipa do FC Porto. Robson e entregava-lhe relatórios na
ais para o futebol. Fazia relatórios sobre as Já lhe passou mais algum aluno pelas mãos brincadeira. Foi uma surpresa quando soube
'luipas. Quando chegava à escola, à segun- com essas c:araderisticas'? que trabalhava no PC Porto e estudava
=felra, dizia como tinham jogado durante .Não, Os alunos costumam discutir ~ segun- as equipas adversárlas. Não é muito normal.
im-de-semana e sabia as posições dos da-feira os jogos do fim-de-semana. mas é numa família tradicional como a dele, que
adores. Tinha esta motivação e esta ape- aquela discussão solta, clubista e emocional. o futuro do André passasse pelo desporto
da para fazer a leitura do jogo em termos O André era mais racional. Também levava e pelo futebol.
tlcos. Muitas vezes contestava as deci- para as aulas cadernetas de futemol e jornais éomo é que a família encarava essa paiXião
das treinadores. Essa era urna das ima- desportivos. pelo futebol'?
26 NS DESPORTO PERFIL
Casado e pai
de duas filhas
- Sabe-se pouco sobre a vida
privada do treinador do FC Porto,
que sempre optou por uma faceta
recatada, não dá entrevistas e só fala
em conferências de Imprensa.
Além da ascendência inglesa e das
ligações fi nobreza, sabe-se que
André Villas-Boas é casado com
Joana Villas-Boas e tem duas filhas:
Benedita, de 16 meses, e Carolina,
que nasceu a 9 de Outubro. Desde
que assumiu o comando técnico
dos dragões, os familiares mais
próximos resguardaram-se
da exposição mediática e chegaram
a bloquear as contas no Facebook.
Por uma questão de privacidade,
obviamente.
o treinador
que faz 'mea culpa'
_ Quando está no banco de suplentes,
Villas-Boas transforma-se. Diz que
é fruto da irreverência de quem tem
33 anos. Grita, corre pela área técnica
como se fosse um jogador. Também
protesta com os árbitros e já foi expulso
do banco, aliás, muito fi imagem de
José Mourinho. Em Guimarães, pediu
uma grande penalidade, recebeu ordem
de expulsão e contestou a decisão do
juiz. Disse que um adversário tinha
jogado a bola com a mão na grande
área. Mas as imagens televisivas mos-
traram o contrário. No dia seguinte,
A prova de fogo como treinador do FC Porto: esta fi frente do campeonato emitiu um comunicado. A fazer meo
sem derrotas e com sete pontos de avanço sobre o Benfica. culpo. Caso raro no futebol português. /