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De acordo com o célebre primeiro ministro inglês Sir Winston Churchill, a democracia é a pior
forma de governo, excetuando-se todas as outras que já foram tentadas, (“It has been said that
democracy is the worst form of government except all the others that have been tried”). Essa
citação tem sido, freqüentemente, empregada na defesa das vantagens dos sistemas democráticos
de governo. Porém, ela encerra em si mesma uma grande falácia: a de que todas as democracias
possuem outras semelhanças além do nome pelo qual são designadas.
É lógico que Churchill, ao pronunciar a célebre frase, referia-se à democracia inglesa. Infelizmente,
não existem dois sistemas democráticos idênticos em todo o planeta. Sendo as democracias
conhecidas como “o império das leis”, elas diferem na mesma medida em que diferem essas leis e
na eficácia com que são cumpridas. Mesmo, se analisarmos o sistema de governo da Grécia
antiga, concluiremos que a tão citada democracia grega era na verdade uma oligarquia, já que
apenas os chamados cidadãos gregos tinham o direito de participarem ativamente das decisões
políticas, o que excluía as mulheres, os escravos e os estrangeiros, ou seja, a maioria do povo.
Além disso, apenas os que possuíam “arete” (virtude) e capacidade de oratória eram capazes de
discursar de modo eficaz na “ágora” (praça onde eram tomadas as decisões políticas), sendo
capazes de fazerem valer suas idéias.
Nas democracias dignas deste nome deve existir ampla troca de idéias entre eleitores e eleitos. Os
anseios populares tornam-se plataformas políticas dos candidatos que obtêm seus votos em
função de compromissos de campanha voltados para a satisfação das demandas das
comunidades que representam. Assim, a aferição popular da eficácia da atuação dos candidatos
eleitos efetua-se pela satisfação daqueles anseios, dependendo as carreiras políticas das atuações
parlamentares ou das realizações dos mandatos. No Brasil, a comunicação eleitor – eleito deixa
bastante a desejar. Com exceção das prefeituras de pequenos municípios onde a atuação do
prefeito pode ser sentida mais diretamente, quase não há troca de idéias entre os políticos e a
população. Praticamente, o povo ignora o modo de atuação dos parlamentares, sendo expressiva
parte dos eleitores incapaz de sequer nomear a quem elegeram, mesmo poucos dias após as
eleições.
Nas democracias não são as leis que fazem os costumes, mas sim os costumes é que devem
nortear o teor da legislação. Em outras palavras, a lei deve ser consuetudinária. Todavia, nota-se
em nossas inúmeras leis e regulamentos a tendência de regularem quase todas as atividades
existentes, à revelia do interesse popular, pouco sendo deixado ao bom senso e ao livre
empreendimento. Pior do que tudo, nossos políticos acostumaram-se a legislarem por exceção. O
resultado é a proliferação de leis que faz com que elas sejam praticamente desconhecidas pela
população, gerando a idéia de que existem leis que “não pegaram”. Esse efeito indesejado deve-se
em grande parte ao despreparo desses políticos e ao seu divorcio dos anseios populares. Basta
relembrarmos os anúncios existentes no interior dos coletivos que limitam o numero de
passageiros em pé e compararmos essa restrição com a realidade dos ônibus da hora do rush
para conhecermos a eficácia de nossa legislação.
Além disso, o poder executivo domina os demais, seja pela nomeação dos juizes do Supremo
Tribunal Federal, seja pelo toma lá dá cá a que se submetem os parlamentares, seja pela
inundação de medidas provisórias que sufocam os trabalhos do Congresso. A carga tributária
relaciona-se às maiores do mundo, todavia os serviços oferecidos ao povo em troca são totalmente
ineficazes quando sequer existem.
Assim, não podemos dizer que os serviços executados pelas verbas obtidas com a pesada
tributação estejam revertendo ao povo sob a forma de serviços dignos desse nome.
A liberdade das gentes é ao mesmo tempo inexistente e infinita. Não temos direito à defesa da
própria vida já
Não há igualdade de oportunidades, já que essa igualdade depende basicamente da educação que
é quase inexistente. Em regime democrático, todos deveriam ter igual acesso à educação
elementar e secundária de boa qualidade. Isso faria com que todos tivessem igual oportunidade na
competição pelo acesso ao ensino universitário. A idéia de que todos devem ter acesso à
Universidade existe somente em países onde a demagogia é amplamente utilizada. Sendo esse
ensino cada vez mais dispendioso e tendo que ser pago pela sociedade, (não existe ensino
gratuito), sendo o número de vagas restrito e dependendo o progresso da Nação dos resultados
das pesquisas daqueles que a ele têm acesso, a aprovação nos vestibulares tem que depender de
competição que favoreça somente os mais capacitados intelectualmente. Em nossa sociedade,
para a grande maioria, diploma significa apenas status, possibilidade de exigir maiores salários e
de ser preso em cela especial. Poucos têm o idealismo de fazer com que os conhecimentos
adquiridos revertam em benefícios sociais como frutos benéficos da pesquisa cientifica e
tecnológica.
Nem sequer a sobrevivência dos cidadãos é assegurada por nossa democracia que prioriza o
superávit primário ao invés da possibilidade de oferecer a eles oportunidade de trabalho honesto.
O desemprego ou o subemprego mutila o caráter de milhões de brasileiros. Como engabelo,
adotam-se programas sociais que lhes fornecem migalhas para que sobrevivam sem a
contrapartida de salário digno, ensino de qualidade e planejamento familiar coerente com o
crescimento econômico
Tente nomear os partidos políticos de memória. Se você conseguir repetir apenas os seus nomes
já terá conseguido muito. Conhecer as idéias que defendem e seus programas (se é que os têm) é
tarefa muito difícil mesmo para quem se interessa por política.
Partido Liberal – Nº 22
Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Nº15
Partido Progressista – Nº 11
Partido Verde – Nº 43
Podemos, pois, concluir que, na verdade, nossa democracia não faz jus a esse nome. Somos uma
demoligoanarquia. Democracia no nome, oligarquia para os que exercem o poder egoisticamente e
anarquia para os que sabem que a lei somente se aplica em determinadas situações às quais não
estão sujeitos.
A análise efetuada nos deixa uma séria questão: qual seria então a forma de governo adequada? A
democracia é claro. Mas a democracia de verdade e não esta que aí está. Para isso, algumas
medidas poderiam ser adotadas de modo a que nosso sistema de governo não continuasse a ser
falacioso:
Os juizes do Supremo Tribunal Federal seriam eleitos pelo voto dos advogados inscritos na OAB.
Os requisitos para ser considerado elegível para o cargo seriam estabelecidos pela OAB e
aprovados pelo Congresso Nacional. O candidato eleito continuaria a ser submetido à aprovação
do Senado Federal.
Terem apresentado projetos de lei compatíveis com suas plataformas políticas e defendido pontos
de vista compatíveis com os assumidos em suas campanhas, mérito julgado pelo STE.
Terem comparecido a, pelo menos, metade das sessões do parlamento ou, no caso do presidente,
ter atendido ao expediente do palácio, pelo menos, a metade dos dias úteis do mandato.
Os congressistas não poderiam gozar férias superiores ao recesso parlamentar que seria de no
máximo trinta dias, nem se ausentariam para campanhas políticas. Seu desempenho no
Congresso determinaria sua reeleição e não seus acordos secretos.
Os congressistas poderiam apenas contratar como auxiliares funcionários admitidos por concurso
para a função de assessores parlamentares.
Os delegados de polícia deveriam ser eleitos pelos habitantes de suas áreas de jurisdição.
As inúmeras polícias que existem deveriam ser unificadas, sendo seus integrantes formados em
organização específica. No momento, podemos citar de memória a existência das seguintes
polícias: militar, civil, federal, portuária, naval, ferroviária, rodoviária, SUNAB, guarda municipal,
IBAMA...
O mandato presidencial deveria ser de cinco anos, sendo o presidente submetido a referendum
popular no meio do terceiro ano de seu exercício. Caso não aprovada a sua atuação, o Presidente
da Câmara dos Deputados deveria assumir de pronto o cargo, sendo convocadas novas eleições
presidenciais com a brevidade possível.
O salário dos professores dos cursos elementar e secundário deveria ser aumentado
substancialmente, a ponto de atrair qualquer universitário para o cargo. Como haveria mais
candidatos do que vagas seriam admitidos os que melhor se classificassem em concurso público.
As escolas funcionariam em tempo integral, sendo gratuitas apenas para os que percebessem
menos do que valor a ser estabelecido. Os alunos teriam que se diplomar em dois cursos
profissionalizantes. Ao invés de presídios, seriam construídas escolas. Como as prisões seriam
transformadas em colônias agrícolas penais em áreas remotas do território nacional, seria
estudada a oportunidade dos presídios serem transformados em escolas.
As benesses de nosso sistema penal que reduzem as penas dos criminosos a quase nada seriam
revistas de modo a que estes tivessem certeza de sua punição. As penas passariam a ser culpado
ou inocente, ficando o prazo de soltura dependente do comportamento do condenado e da
gravidade do crime cometido. Como cada caso é um caso, (em virtude da desigualdade que existe
entre os seres humanos), esse prazo seria constantemente reavaliado por comissão especifica de
profissionais avaliadores que julgariam a capacidade do preso poder retornar à sociedade em
liberdade condicional.
O pagamento da dívida externa (e de seus juros) deveria depender de que fossem investidos os
recursos necessários à criação de empregos de modo a que fosse assegurado o pleno emprego.
O maior salário de qualquer assalariado dos poderes executivo, legislativo e judiciário e dos
funcionários federais, estaduais e municipais ou membros de quaisquer outras organizações pagas
pela Federação, Estados ou Municípios não poderia ser superior a trinta vezes o salário percebido
pelos congressistas (salário mínimo)...
Sendo dever dos congressistas legislar, não seriam elegíveis cidadãos que não fossem capazes de
redigir e interpretar textos, mérito julgado por comissão de professores de português. Tampouco
seriam elegíveis candidatos que já tivessem sido condenados pela justiça, anteriormente.
Uma reforma política digna desse nome deveria ser implementada de modo a tornar transparente a
origem dos fundos das campanhas políticas.
O presidente do Bando Central deveria ser eleito pelo Congresso dentre candidatos que teriam que
ser, anteriormente, aprovados por comissão parlamentar específica.
Os bancos seriam obrigados a honrarem cheques sem fundo, caso fornecessem talões de cheques
para pessoas que emitiram mais de um.
Deveria ser instituído um programa de construção de moradias a custos simbólicos para favelados,
sendo as favelas gradualmente extintas. Essas moradias poderiam ser erigidas próximo aos locais
das grandes obras que seriam executadas com os recursos oriundos do condicionamento do
pagamento dos juros da dívida externa à obtenção de pleno emprego, de modo a oferecer salários
dignos juntamente com moradia, escola e hospital aos favelados que se candidatassem a isso.
Esses canteiros de obras teriam que incluir um plano de desmobilização a seu término, de modo a
assegurar emprego continuado aos que para lá fossem. A construção de Brasília não levou isso
em consideração, ocasionando o surgimento de um cinturão de miséria em torno do plano piloto
em poucos anos.
As emissoras de rádio e tv seriam obrigadas a adotarem código de ética por elas mesmas
controlado, de modo a que fossem estabelecidos os horários em que certos tipos de programas
poderiam ser transmitidos, sendo também obrigadas a cumprirem percentual de programas
considerados como educativos pelo Ministério da Educação e da Cultura.
O jogo deveria ser explorado pelo governo em locais remotos do território nacional com o propósito
de angariarem-se recursos externos. Apenas turistas seriam autorizados a jogar. Afinal, o governo
já explora o jogo de diversas formas. Os atuais cassinos clandestinos seriam fechados.
O estatuto do desarmamento seria aplicado apenas aos bandidos e aos cidadãos condenados
judicialmente que perderiam o privilégio de portarem armas.
As viaturas com menos de dois anos de uso desde sua fabricação seriam dispensadas de vistoria,
já que isso é totalmente ilógico.
Etc. etc. etc.
Você, com toda a certeza, também já deve ter imaginado uma série de outras medidas que
poderiam nos conceder o direito de sermos conhecidos como um país democrata de fato. Todavia,
sabemos que as medidas citadas são muito difíceis de serem implementadas em
demoligoanarquias. Assim, tudo indica que continuaremos a reconhecer no termo democracia
apenas mais uma das muitas falácias a que está o povo brasileiro ora submetido.