Вы находитесь на странице: 1из 52

JBN Volume XXVI - Número 3 - Supl.

1 - Agosto de 2004

Artigos
Doença Renal Crônica: Definição,
Epidemiologia e Classificação
Diagnóstico de Doença Renal Crônica:
Avaliação da Função Renal
Diagnóstico de Doença Renal Crônica:
Avaliação de Proteinúria e Sedimento Urinário
Recomendações para Diminuir o
Risco de Agudização da DRC
Prevenção da Progressão da Doença Renal Crônica
Alterações Metabólicas
Doenças Cardiovasculares na Doença Renal Crônica
Potássio e Bicarbonato
Anemia da Doença Renal Crônica
Osteodistrofia Renal
Distúrbios do sistema nervoso central e periférico
Avaliação do Estado Nutricional
Diretrizes sobre Hipertensão Arterrial e uso de
anti-hipertensivos na Doença Renal Crônica (DRC)
Indicações, escolha do método e preparo do
paciente para a Terapia renal substitutiva (TRS),
na Doença Renal Crônica (DRC).

1 /2004
ISSN 0101-2800
SUMÁRIO

Volume XXVI Número 3 Suplemento 1 Agosto 2004

Doença Renal Crônica: Definição, Epidemiologia e Classificação


João Egidio Romão Jr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

Diagnóstico de Doença Renal Crônica: Avaliação da Função Renal


Roberto Pecoits-Filho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Diagnóstico de Doença Renal Crônica: Avaliação de Proteinúria e Sedimento Urinário


Maria Almerinda R Alves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Recomendações para Diminuir o Risco de Agudização da DRC


Marília Bahiense Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Prevenção da Progressão da Doença Renal Crônica


Rachel Bregman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Alterações Metabólicas
Marcelo Batista e Cássio José R. de Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Doenças Cardiovasculares na Doença Renal Crônica


Maria Eugênia F. Canziani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Potássio e Bicarbonato
Cláudia Maria de Barros Helou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Anemia da Doença Renal Crônica


Hugo Abensur . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Osteodistrofia Renal
Aluízio Barbosa de Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Distúrbios do sistema nervoso central e periférico


Rosilene Motta Elias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Avaliação do Estado Nutricional


Marcus G. Bastos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

Diretrizes sobre Hipertensão Arterrial e uso de anti-hipertensivos na Doença Renal Crônica (DRC)
José Nery Praxedes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

Indicações, escolha do método e preparo do paciente para a Terapia renal substitutiva (TRS) , na Doença Renal Crônica (DRC).
Pasqual Barretti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
EDITORIAL

Diretrizes Brasileiras de Doença Renal Crônica

Desenvolvemos as Diretrizes de Condução de Doença Renal Crônica por solicitação da diretoria da


Sociedade Brasileira de Nefrologia.
A elaboração destas diretrizes teve início no dia 6 de Setembro de 2003, quando o tema foi subdividido
em capítulos, que foram distribuídos entre destacados membros de nossa Sociedade. No dia 13 de Março de
2004, foi feita a leitura em público de cada capítulo e todos os membros deste grupo tiveram a oportunidade
de opinarem na tentativa de obter um documento consensual. Aqui, destaca-se a colaboração do Prof. Dr.
Sérgio Antonio Draibe, que apesar de não ter escrito um capítulo específico, contribuiu com suas importantes
considerações em todos os capítulos das diretrizes. Depois as diretrizes permaneceram no site da Sociedade
Brasileira de Nefrologia para consulta pública e agora temos um documento a disposição dos nossos
associados e de colegas de outras especialidades.
A Altana Pharma Ltda. patrocinou de maneira desinteressada em todas as etapas da elaboração destas
diretrizes.
O grau de recomendação das diretrizes foi classificada de acordo com o nível de evidência das
referências:

Revisão Sistemática Com Metanálise


Estudo Randomizado Com Grande Amostra
• Nível De Evidência I
• Grau De Recomendação A
Estudo Randomizado Com Pequena Amostra
• Nível De Evidência Ii
• Grau De Recomendação A
Estudo Prospectivo Não Randomizado
• Nível De Evidência Iii
• Grau De Recomendação B
Estudo Retrospectivo
• Nível De Evidência Iv
• Grau De Recomendação C
Relatos De Casos
Opiniões De Especialistas
• Nível De Evidência V
• Grau De Recomendação D

Hugo Abensur
Coordenador
Doença Renal Crônica: Definição,
Epidemiologia e Classificação
João Egidio Romão Junior

DEFINIÇÃO rios à saúde são essenciais para o diagnóstico e encami-


nhamento precoce ao nefrologista e a instituição de dire-
A doença renal crônica consiste em lesão renal e trizes apropriadas para retardar a progressão da DRC, pre-
perda progressiva e irreversível da função dos rins (glo- venir suas complicações, modificar comorbidades presentes
merular, tubular e endócrina).Em sua fase mais avançada e preparo adequado a uma terapia de substituição renal.
(chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica -
IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade
do meio interno do paciente. ESTADIAMENTO DA
DOENÇA RENAL CRÔNICA

EPIDEMIOLOGIA Nos pacientes com doença renal crônica o estágio da


doença deve ser determinado com base no nível de função
A doença renal crônica constitui hoje em um im- renal, independentemente do diagnóstico (C).
portante problema médico e de saúde pública. No Brasil, a
prevalência de pacientes mantidos em programa crônico Para efeitos clínicos, epidemiológicos, didáticos e
de diálise mais que dobrou nos últimos oito anos. De conceituais, a DRC é dividida em seis estágios funcionais,
24.000 pacientes mantidos em programa dialítico em de acordo com o grau de função renal do paciente. Estes
1994, alcançamos 59.153 pacientes em 2004. A incidência estágios são:
de novos pacientes cresce cerca de 8% ao ano, tendo sido Fase de função renal normal sem lesão renal –
18.000 pacientes em 2001. O gasto com o programa de importante do ponto de vista epidemiológico, pois inclui
diálise e transplante renal no Brasil situa-se ao redor de 1,4 pessoas integrantes dos chamados grupos de risco para o
bilhões de reais ao ano. desenvolvimento da doença renal crônica (hipertensos, dia-
Levando-se em conta dados norte-americanos, para béticos, parentes de hipertensos, diabéticos e portadores de
cada paciente mantido em programa de diálise crônica DRC, etc), que ainda não desenvolveram lesão renal.
existiriam cerca de 20 a 25 pacientes com algum grau de Fase de lesão com função renal normal - corres-
disfunção renal, ou seja, existiriam cerca de 1,2 a 1,5 ponde às fases iniciais de lesão renal com filtração glome-
milhão de brasileiros com doença renal crônica. Trabalho rular preservada, ou seja, o ritmo de filtração glomerular
populacional recente em Bambui – MG mostrou que a está acima de 90 ml/min/1,73m2.
prevalência de creatinina sérica elevada foi de 0,48% em Fase de insuficiência renal funcional ou leve -
adultos da cidade, chegando a 5,09% na população mais ocorre no início da perda de função dos rins. Nesta fase, os
idosa (>60 anos), o que projetaria a população brasileira níveis de uréia e creatinina plasmáticos ainda são normais,
com disfunção renal a cerca de 1,4 milhão de pessoas. não há sinais ou sintomas clínicos importantes de insufi-
A detecção precoce da doença renal e condutas tera- ciência renal e somente métodos acurados de avaliação da
pêuticas apropriadas para o retardamento de sua progressão função do rim (métodos de depuração, por exemplo) irão
pode reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos finan- detectar estas anormalidades. Os rins conseguem manter
ceiros associados à DRC. Como as duas principais causas razoável controle do meio interno. Compreende a um rit-
de insuficiência renal crônica são a hipertensão arterial e o mo de filtração glomerular entre 60 e 89 ml/min/1,73m2.
diabetes mellitus, são os médicos clínicos gerais que Fase de insuficiência renal laboratorial ou mode-
trabalham na área de atenção básica à saúde que cuidam rada - nesta fase, embora os sinais e sintomas da uremia
destes pacientes. Ao mesmo tempo, os portadores de dis- possam estar presentes de maneira discreta, o paciente
função renal leve apresentam quase sempre evolução pro- mantém-se clinicamente bem. Na maioria das vezes, apre-
gressiva, insidiosa e assintomática, dificultando o diagnós- senta somente sinais e sintomas ligados à causa básica (lu-
tico precoce da disfunção renal. Assim, a capacitação, a pus, hipertensão arterial, diabetes mellitus, infecções uriná-
conscientização e vigilância do médico de cuidados primá- rias, etc.). Avaliação laboratorial simples já nos mostra,
2 Doença Renal Crônica

quase sempre, níveis elevados de uréia e de creatinina homens entre 35 e 57 anos. O risco de desenvolvimento de
plasmáticos. Corresponde a uma faixa de ritmo de filtração nefropatia é de cerca de 30% nos diabéticos tipo 1 e de 20%
glomerular compreendido entre 30 e 59 ml/min/1,73m2. nos diabéticos tipo 2. No Brasil, dentre 2.467.812 pacientes
Fase de insuficiência renal clínica ou severa - O com hipertensão e/ou diabetes cadastrados no programa Hi-
paciente já se ressente de disfunção renal. Apresenta si- perDia do Ministério da Saúde em 29 de março de 2004, a
nais e sintomas marcados de uremia. Dentre estes a ane- freqüência de doenças renais foi de 6,63% (175.227 casos).
mia, a hipertensão arterial, o edema, a fraqueza, o mal-es-
tar e os sintomas digestivos são os mais precoces e co-
muns. Corresponde à faixa de ritmo de filtração glomeru- Risco para Doença Renal Crônica
lar entre 15 a 29 ml/min/1,73m2. Elevado Hipertensão arterial
Fase terminal de insuficiência renal crônica - co- Diabetes mellitus
História familiar de DRC
mo o próprio nome indica, corresponde à faixa de função
renal na qual os rins perderam o controle do meio interno, Médio Enfermidades sistêmicas
tornando-se este bastante alterado para ser incompatível Infecções urinárias de repetição
com a vida. Nesta fase, o paciente encontra-se intensamente Litíase urinária repetida
sintomático. Suas opções terapêuticas são os métodos de Uropatias
Crianças com < 5anos
depuração artificial do sangue (diálise peritoneal ou Adultos com > 60 anos
hemodiálise) ou o transplante renal. Compreende a um Mulheres grávidas
ritmo de filtração glomerular inferior a 15 ml/min/1,73m2.
DIRETRIZES GERAIS DE TRATAMENTO
Estadiamento e classificação da doença renal crônica
Estágio Filtração Glomerular Grau de Insuficiência Renal
(ml/min) A avaliação e o tratamento de pacientes com doença re -
nal crônica requer a compreensão de conceitos separa -
0 > 90 Grupos de Risco para DRC
Ausência de Lesão Renal dos, porém relacionados de diagnóstico, risco de perda
1 > 90 Lesão Renal com da função renal, gravidade da doença, condições comór -
Função Renal Normal bidas e terapia de substituição renal (C).
2 60 – 89 IR Leve ou Funciona
3 30 – 59 IR Moderada ou Laboratorial O tratamento de pacientes portadores de insufi-
4 15-29 IR Severa ou Clínica
ciência renal progressiva pode ser dividido em vários
componentes, a saber:
5 < 15 IR Terminal ou Dialítica
• Programa de promoção à saúde e prevenção pri-
IR = insuficiência renal; DRC=doença renal crônica.
mária (grupos de riscos para DRC)
Obs.: Para efeitos de tratamento, são considera- • Identificação precoce da disfunção renal (Diag-
dos nestas Diretrizes somente os Estágios de 2 a 5 da clas- nóstico da DRC)
sificação da DRC. • Detecção e correção de causas reversíveis da
doença renal

GRUPO DE RISCO PARA A


DOENÇA RENAL CRÔNICA

Todo paciente pertencente ao chamado grupo de risco


para desenvolverem a doença renal crônica deve ser
submetido a exames para averiguar a presença de lesão
renal (análise de proteinúria) e para estimar o nível de
função renal (RFG) a cada ano (C).

Dados da literatura indicam que portadores de hi-


pertensão arterial, de diabetes mellitus, ou história fami-
liar para doença renal crônica têm maior probabilidade de
desenvolverem insuficiência renal crônica.
A incidência de DRC em hipertensos é de cerca de
156 casos por milhão, em estudo de 16 anos com 332.500
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 3

• Diagnóstico etiológico (tipo de doença renal) • Recidiva de glomerulopatias


• Definição e estadiamento da disfunção renal • Glomerulopatia do transplante
• Instituição de intervenções para retardar a pro-
gressão da doença renal crônica Apresentação clínica
• Prevenir complicações da doença renal crônica • Aumento gradual da creatinina
• Modificar comorbidades comuns a estes pacientes • Proteinúria
• Planejamento precoce da terapia de substituição • Hipertensão arterial
renal (TSR).

Fatores de risco para DRC


DOENÇA RENAL CRÔNICA “DE NOVO” • Proteinúria
• Hipertensão arterial
Pacientes portadores de aloenxerto renal, apresentando • Aumento do colesterol
DRC resultante das diferentes formas de agressão ao
tecido transplantado
Tratamento
Causas: • Devem ser acompanhados com os mesmos cui-
• Rejeição crônica dados e indicações de qualquer portador de DRC, soman-
• Nefrotoxicidade por uso de drogas imu- do-se a manipulação adequada de drogas imunossupres-
nossupressoras soras nefrotóxicas (B).

REFERÊNCIAS

1. Passos VMA, Barreto SM, Lima-Costa MFF, Bambui Health America, with emphasis on Brazil. Kidney Int 83: S131-S134,
and Ageing Study (BHAS) Group – Detection of renal dys- 2003.
function based on serum creatinine levels in a Brazilian com-
munity. The Bambuí Health and Ageing Group. Braz J Med 7. K/DOQI clinical practice guidelines for chronic kidney dis-
Biol Res 36: 393-401, 2003 ease. Am J Kidney Dis 39 (Suppl 1): S1-S246, 2002.

2. Romão Jr JE, Pinto SWL, Canziani ME, Praxedes JN, San- 8. Klag MJ, Whelton PK, Randall BL, Neaton JD, Brancati FL, Ford
tello JL, Moreira JCM – Censo SBN 2002: Informações epi- CE, Shulman NB, Stamler J - Blood Pressure and End-Stage
demiológicas das unidades de diálise do Brasil. J Bras nefrol Renal Disease in Men. New Engl J Med 334: 13-18, 1996.
25: 188-199, 2003. 9. Morgensen CE – Microalbuminuria, blood pressure and dia-
3. United States Renal Data System (USRDS) – 2001 Annual betic renal disease: origin and development of ideas. Dia-
Data Report. Am J Kidney Dis 37: S1-S189, 2002 betologia 42: 263-285, 1999.

4. Moeller S, Gioberge S, Brown G – ESRD patients in 2001: 10. Ministério da Saúde do Brasil, Programa HiperDia.
Global overview of patients, treatment modalities and devel- http://hiperdia.datasus.gov.br, 29/03/2004.
opment trends. Nephol Dial Transplat 17: 2071-2076, 2002
11. K/DOQI clinical practice guidelines for chronic kidney dis-
5. Ministério da Saúde do Brasil, Secretaria de Assistência à ease. Am J Kidney Dis 39 (Suppl 1): S1-S246, 2002.
Saúde – Estudo epidemiológico brasileiro sobre terapia renal
substutiva. Brasília (DF), 2002 12. Rossert JA, Wauters JP – Recommendations for the screen-
ing and management of patients with chronic kidney disease.
6. Zatz R, Romão Jr JE, Noronha IL – Nephrology in Latin Nephrol Dial Transplant 17 (Suppl 1): 19-28, 2002.
Diagnóstico de Doença Renal
Crônica: Avaliação da Função Renal
Roberto Pecoits-Filho

INTRODUÇÃO FG é afetada pelas diferenças em sua geração, levando a


variações da sua concentração sérica de acordo com a ida-
A estimativa da filtração glomerular (FG) represen- de, dieta, sexo e raça.
ta uma ótima maneira de mensurar a função renal, e uma Em resumo o uso da creatinina sérica é limitado na
FG reduzida é considerada um bom índice da função renal, avaliação da FG, pois é afetado por fatores independentes
e deve ser usada no estadiamento da doença renal crônica da FG como idade, sexo, raça, superfície corporal, dieta,
(DRC). Uma queda na FG precede o aparecimento de sin- drogas e diferenças em métodos laboratoriais. Por isso, re-
tomas de falência renal em todas as formas de doença renal comendamos que a creatinina sérica não deve ser utilizada
progressiva. Portanto, ao se monitorizar mudanças na FG para avaliar o grau de disfunção renal em IRC.
estima-se o ritmo de perda da função renal. A aplicação
clínica da FG permite ainda predizer riscos de complica- “Em geral, a medida da FG usando urina de 24 horas
ções da DRC e também proporcionar o ajuste adequado de não é mais confiável que as calculadas por equações”.
doses de drogas nestes pacientes prevenindo a toxicidade.
A FG não pode ser medida de forma direta, porém Grau de recomendação B, Nível de evidência III
se uma substância tem sua concentração estável no plas-
ma, é livremente filtrada no glomérulo renal, não é secre- Apesar de que a coleção de urina de 24 horas seja
tada, reabsorvida, metabolizada ou sintetizada pelo rim, a útil na mensuração da excreção de creatinina, muitas vezes
sua concentração filtrada é igual a sua quantidade excreta- este método não se mostra superior (e às vezes até inferior)
da na urina. Estimativas da FG através da depuração de às estimativas da FG provenientes de equações [1]. Este
creatinina com urina de 24 horas e a creatinina sérica fo- fato pode ser justificado por erros de coleta e variações
ram as formas mais usadas nos últimos anos para estimar diárias na excreção de creatinina. Em alguns casos como
a FG, porém também apresentam limitações práticas. Mais indivíduos em dietas vegetarianas, tomando suplementos
recentemente, equações usadas para estimar a FG a partir de creatina, amputados, extremo de idade e tamanho cor-
da creatinina sérica têm sido analisadas e testadas em poral e paraplegia, as equações têm seu uso limitado e a
grandes estudos que serão neste texto revisados. estimativa da FG pela depuração de creatinina com urina
de 24 horas é recomendada.
“A dosagem da creatinina sérica isolada não é uma boa
estimativa da FG” “A creatinina sérica ajustada através de equações deve
ser utilizada para a avaliação da função renal”
Grau de recomendação B, Nível de evidência III
Grau de recomendação B, Nível de evidência III
Apesar de que a creatinina sérica representa uma
estimativa grosseira da FG, seu ritmo de excreção não é O uso de equações para estimar a FG tem como van-
constante entre indivíduos e através do tempo, e sua men- tagem fornecer um ajuste para variações substanciais em se-
suração varia de acordo com o laboratório onde a creati- xo, idade, superfície corporal e raça que interferem na pro-
nina é dosada. Estes fatos mostram as razões para sérias li- dução de creatinina [2]. Várias equações foram desenvolvi-
mitações no uso prático como estimativa da FG. Além dis- das para predizer a FG em pacientes adultos e crianças. A
so, por ser (além de filtrada) secretada no sistema tubular mais comumente utilizada ainda é a fórmula de Cockcroft-
a creatinina excretada na urina é uma combinação da sua Gault (Tabela 1), desenvolvida para o cálculo da depuração
filtração e secreção, podendo ser pouco precisa especial- da creatinina, mas freqüentemente utilizada para estimar a
mente em pacientes com disfunção renal. Estima-se que FG [3]. Mais recentemente, uma fórmula para a estimativa
aproximadamente 50% dos indivíduos com baixa FG da FG foi desenvolvida a partir do estudo (MDRD) [4]. Em
apresentam creatinina sérica ainda dentro do limite da nor- crianças, duas fórmulas foram sistematicamente avaliadas:
malidade. Além disso, a relação entre creatinina sérica e a a equação de Schwartz [5] e a de Counahan-Barratt [6].
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 5

Tabela 1: Principais fórmulas usadas para a estimativa da FG tudos demonstram uma leve vantagem na aplicação da
Equações recomendadas para estimativa da FG em adultos: fórmula do MDRD em relação à fórmula de Cockcroft-
Gault [4], esta análise se baseia em uma população dife-
Equação de Cockcroft-Gault:
FG (ml/min)= (140 – idade) x peso x (0,85 se mulher) / 72 x rente da brasileira e, portanto sua validade em nosso meio
Creatser ainda deve ser investigada de forma apropriada. Portanto,
recomenda-se que em nosso meio a fórmula de Cock-
Equação simplificada do MDRD:
FG (ml/min/1,73m2) = 186 x (Creatser)-1154 x idade-0.203 x (0,742
croft-Gault seja aplicada como primeira opção na avalia-
se mulher) x (1,210 se negro) ção da FG.

Equações recomendadas para estimativa da FG em crianças: “Em pediatria, as equações de Schwartz e a de


Fórmula de Schwartz: Counahan-Barratt devem ser utilizadas preferencial -
FG (ml/min) = 0,55 x altura / Creatser mente”.
Equação de Counahan-Barratt:
FG (ml/min/1. 73m 2) = 0,43 x altura / Creatser Grau de recomendação B, Nível de evidência III

“Entre as equações disponíveis, a fórmula de Cockcroft- Entre crianças, a equação de Schwartz e a de


Gault deve ser aplicada preferencialmente em nosso Counahan-Barratt utilizam a proporcionalidade entre a
meio”. FG e a altura/creatinina sérica. Ambas usam a altura com
estimativa de massa muscular e se tornam relativamente
Grau de recomendação D, Nível de evidência V imprecisas à medida que a FG cai. Apesar desta limitação,
qualquer uma das fórmulas é conveniente e prática e re-
Uma equação amplamente usada e validada é a de comenda-se o seu uso na prática clínica.
Cockcroft-Gault. A principal limitação da equação é a
ausência de padronização para área de superfície corpo- “Em idosos, o diagnóstico de DRC deve ser estabelecido
ral. Calculadores online são encontrados na internet com base na presença de outro marcador de doença
(www.sbn.org.br) e representam uma ferramenta útil na renal além da FG”
prática clínica.
A fórmula derivada do MDRD é a recomendada Grau de recomendação C, Nível de evidência IV
pelo DOQI da National Kidney Foundation. A equação
permite o ajuste de acordo com a área de superfície cor- Em pacientes idosos, a FG pode diminuir como
poral e sua versão simplificada (Tabela 1) necessita parte do processo de envelhecimento do organismo, e é
apenas de dados relacionados a idade, sexo e raça, além difícil diferenciar diminuição da FG relacionada com a
da creatinina sérica. Calculadores estão também disponí- idade com a relacionada com DRC no idoso. Portanto para
veis disponíveis na internet (www.sbn.org.br). No Brasil, fins de estratificação e intervenções, o diagnóstico de DRC
dada a intensa miscigenação racial, a definição da raça não deve ser feito exclusivamente a partir da estimativa da
(necessária para a aplicação desta fórmula) pode ser um FG, mas também na presença de outros marcadores de
fator limitante na sua aplicação. Apesar de que alguns es- doença renal, como alterações do sedimento urinário.

REFERÊNCIAS

1. Walser M: Assessing renal function from creatinine A more accurate method to estimate glomerular filtration rate from
measurements in adults with chronic renal failure. Am J serum creatinine: a new prediction equation. Modification of
Kidney Dis 32:23-31, 1998 Diet in Renal Disease Study Group. Ann Intern Med
130:461-470, 1999
2. Perrone RD, Madias NE, Levey AS: Serum creatinine as an
index of renal function: new insights into old concepts. Clin 5. Schwartz GJ, Feld LG, Langford DJ: A simple estimate of
Chem 38:1933-1953, 1992 glomerular filtration rate in full-term infants during the first
year of life. J Pediatr 104:849-854, 1984
3. Gault MH, Longerich LL, Harnett JD, Wesolowski C:
Predicting glomerular function from adjusted serum 6. Counahan R, Chantler C, Ghazali S, Kirkwood B, Rose F,
creatinine. Nephron 62:249-256, 1992 Barratt TM: Estimation of glomerular filtration rate from
plasma creatinine concentration in children. Arch Dis Child
4. Levey AS, Bosch JP, Lewis JB, Greene T, Rogers N, Roth D: 51:875-878, 1976
Diagnóstico de Doença Renal Crônica:
Avaliação de Proteinúria e Sedimento Urinário
Maria Almerinda R. Alves

PROTEINÚRIA Proteinúria é um marcador de doença renal e cons-


titui um fator de risco independente para a sua progressão.
Definições Aumentos ou decréscimos no valor de proteinúria (ou
albuminúria) são importantes marcadores do prognóstico
Proteinúria: (valores de normalidade) – Quantificação (C) renal do paciente. Dessa forma, em pacientes com doença
renal a pesquisa de proteinúria constitui um elemento im-
Volume urinário de 24 horas: Em adultos são con- portante no diagnóstico e no acompanhamento.
siderados normais valores menores que 150mg embora,
dependendo da metodologia utilizada, possam ser consi- A pesquisa de presença de proteinúria pode ser, inicial -
derados normais valores abaixo de 300 mg. mente, realizada em fitas reagentes.(C)
Amostra isolada: Em amostra isolada os resultados
devem ser expressos em proteinúria por creatininúria, sen- Fitas reagentes tradicionais são sensíveis para de-
do considerados normais valores abaixo de 200mg de pro- tectar a presença de proteinúria (exceto quando a consti-
teína/grama de creatinina. tuição protéica não incluir albumina), porém não para a
detecção de microalbuminúria. Em alguns pacientes (prin-
Albuminúria: (valores de normalidade) – Quantificação cipalmente com diagnóstico de paraproteinemias e doen-
(C) ças tubulointersticiais) a proteinúria é detectada sem a pre-
sença de albuminúria.
Volume urinário de 24 horas: Em adultos são con-
siderados normais valores abaixo de 30mg. A presença de Proteinúrias positivas em fita reagente devem ser quan -
albuminúria em valores entre 30 e 300mg definem micro- tificadas(C). O acompanhamento de pacientes com diag -
albuminúria. nóstico de proteinúria (albuminúria) deve ser feito por
Amostra isolada: Os resultados devem ser expressos métodos quantitativos (D)
em albuminúria por creatininúria sendo considerados nor-
mais valores abaixo de 30mg de albumina/grama de creatini- A quantificação da proteinúria (ou albuminúria) é
na. Valores entre 30 e 300 mg/g definem microalbuminúria. importante no diagnóstico, indicação terapêutica e prog-
nóstico da doença renal. Quanto maior for a proteinúria
Proteinúria: Detecção (C) mais rápida é a perda de função renal.

Fitas reagentes: Os valores de normalidade são A quantificação da proteinúria (ou albuminúria) pode
considerados quando a pesquisa, em fita reagente, resultar ser realizada em urina de 24 horas ou em amostra isola -
negativa. Em urinas muito concentradas e muito alcalinas da corrigida por creatinina urinária (C).
pode haver resultados falsamente positivos. Os resultados
negativos correspondem à presença de valores menores ou A avaliação de proteinúria em volume de 24 horas
iguais a 10mg/dL (0,1g/L). é considerada o padrão ouro para a quantificação de pro-
Observação: As controvérsias existentes entre os teinúria e de albuminúria.
valores de normalidade, principalmente de microalbumi- O uso da razão proteinúria/creatininúria (ou albu-
núria na dependência, do sexo e da idade dos indivíduos minúria/creatininúria em mg/g), em amostra isolada, é tido
analisados convergem para a necessidade de uma padroni- como um método de mensuração menos sujeito a erros de
zação mais ampla entre os laboratórios. coleta. Correlaciona-se de forma importante com a medida
em 24 horas, principalmente quando é utilizada a primeira
Diretrizes amostra da manhã. Tem sido considerado o método reco-
mendado para a investigação diagnóstica e para o acompa-
Em pacientes com doença renal (sintomática ou assinto - nhamento dos pacientes com doença renal.
mática), a presença de proteinúria deve ser investigada.(C) Albuminúrias superiores a 500-1000mg/g podem ser
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 7

acompanhadas por quantificação de proteinúria. AVALIAÇÃO DO SEDIMENTO URINÁRIO

Em pacientes com doença renal e proteinúria negativa Evidências


deve ser pesquisada e quantificada a albuminúria.(C)
Em pacientes com risco de doença renal (diabéticos, hi - Várias doenças renais (glomerulares, tubulointers-
pertensos, pacientes com história familiar de doença ticiais, vasculares), sintomáticas ou não, se expressam por
renal), deve ser realizada a pesquisa de albuminúria.(C) alterações de sedimento urinário.
A análise do sedimento urinário permite a diferen-
A presença de microalbuminúria é fator de risco ciação diagnóstica de doenças renais
para o desenvolvimento de doença renal progressiva em Fitas reagentes permitem identificar a presença de
pacientes diabéticos e em pacientes hipertensos. hemácias (hemoglobina), leucócitos (leucócitoesterase) e
Albuminúria tem maior prevalência que proteinú- bactérias (nitrito)
ria. Na grande maioria dos pacientes adultos com protei- O exame microscópico do sedimento urinário é um
núria a presença de albumina é identificada, porém em método útil para analisar o aspecto morfológico das he-
mais da metade dos indivíduos com microalbuminúria mácias, leucócitos, cilindros e cristais presentes na urina.
não se evidencia a presença de proteinúria.
Diretrizes
A avaliação sistemática de proteinúria ou albuminúria
na população geral assintomática é controversa. Em indivíduos com doença renal o exame de urina
deve ser realizado de rotina.(C)
Não há evidências que suportem a hipótese de que Fitas reagentes podem ser utilizadas para detectar
microalbuminúria seja um fator de risco para progressão alterações.(C)
de doença renal na população geral, embora a presença de No caso de alteração na fita reagente a análise do
microalbuminúria seja considerada um fator de risco para sedimento urinário deve ser realizada por microscopia(C)
doença cardiovascular também nessa população. A ultrassonografia renal está indicada em todos os
pacientes com doença renal.(D)

REFERÊNCIAS

1. Jafar TH, Stark PC, Schmid CH, Landa M, Maschio G, de clinical laboratories a problem? Am J Kidney Dis. 2003
Jong PE, de Zeeuw D, Shahinfar S, Toto R, Levey AS; Aug;42(2):392-4.
AIPRD Study Group Progression of chronic kidney disease:
the role of blood pressure control, proteinuria, and angioten- 5. Eknoyan G, Hostetter T, Bakris GL, Hebert L, Levey AS,
sin-converting enzyme inhibition: a patient-level meta- Parving HH, Steffes MW, Toto R. Proteinuria and other
analysis. Ann Intern Med. 2003 Aug 19;139(4):244-52. markers of chronic kidney disease: a position statement of the
national kidney foundation (NKF) and the national institute of
2. de Jong PE, Hillege HL, Pinto-Sietsma SJ, de Zeeuw diabetes and digestive and kidney diseases (NIDDK). Am J
Screening for microalbuminuria in the general population: a Kidney Dis. 2003 Oct;42(4):617-22.
tool to detect subjects at risk for progressive renal failure in an
early phase? Nephrol Dial Transplant. 2003 Jan;18(1):10-3 6. Ruggenenti P, Perna A, Mosconi L, Pisoni R, Remuzzi G.
Urinary protein excretion rate is the best independent
3. Brown WW, Collins A, Chen SC, King K, Molony D, Gannon predictor of ESRF in non-diabetic proteinuric chronic
MR, Politoski G, Keane WF Identification of persons at high nephropathies. “Gruppo Italiano di Studi Epidemiologici in
risk for kidney disease via targeted screening: the NKF Nefrologia” (GISEN). Kidney Int. 1998 May;53(5):1209-16.
Kidney Early Evaluation Program. Kidney Int Suppl. 2003
Feb;(83):S50-5. 7. Harwell TS, Nelson RG, Little RR, McDowall JM, Helgerson
SD, Gohdes D.:Testing for microalbuminuria in 2002: barriers
4. Brown WW, Peters RM, Ohmit SE, Keane WF, Collins A,
to implementing current guidelines. Am J Kidney Dis. 2003
Chen SC, King K, Klag MJ, Molony DA, Flack JM Early
Aug;42(2):245-8.
detection of kidney disease in community settings: the Kidney
Early Evaluation Program (KEEP). Am J Kidney Dis. 2003 8. Ruilope LM. New European guidelines for management of
Jul;42(1):22-35 hypertension: what is relevant for the nephrologist.
5. Keane WF, Eknoyan G. Proteinuria, albuminuria, risk, Nephrol Dial Transplant. 2004 Mar;19(3):524-8.
assessment, detection, elimination (PARADE): a position 9. Jurkovitz C, Franch H, Shoham D, Bellenger J, McClellan W.
paper of the National Kidney Foundation. Am J Kidney Dis. Family members of patients treated for ESRD have high rates
1999 May;33(5):1004-10. of undetected kidney disease. Am J Kidney Dis. 2002
4. Hostetter TH. Detecting early chronic kidney disease: are Dec;40(6):1173-8.
8 Diagnóstico de Doença Renal Crônica

10. de Jong PE, Hillege HL, Pinto-Sietsma SJ, de Zeeuw D. risk for kidney disease via targeted screening: the NKF
Screening for microalbuminuria in the general population: a Kidney Early Evaluation Program. Kidney Int Suppl. 2003
tool to detect subjects at risk for progressive renal failure in an Feb;(83):S50-5
early phase? Nephrol Dial Transplant. 2003 Jan;18(1):10-3
13. Atkins RC, Briganti EM, Zimmet PZ, Chadban SJ. Association
11. Jones CA, Francis ME, Eberhardt MS, Chavers B, Coresh J, between albuminuria and proteinuria in the general popula-
Engelgau M, Kusek JW, Byrd-Holt D, Narayan KM, Herman tion: the AusDiab Study. Nephrol Dial Transplant. 2003
WH, Jones CP, Salive M, Agodoa LY. Microalbuminuria in the Oct;18(10):2170-4.
US population: third National Health and Nutrition Exa-
mination Survey. Am J Kidney Dis . 2002 Mar;39(3):445-59. 14. National Kidney Foundation. K/DOQI clinical practice
guidelines for chronic kidney disease: evaluation, classifica-
12. Brown WW, Collins A, Chen SC, King K, Molony D, Gannon tion, and stratification. Am J Kidney Dis. 2002 Feb;39(2
MR, Politoski G, Keane WF Identification of persons at high Suppl 1):S1-266
Recomendações para Diminuir
o Risco de Agudização da DRC
Marília Bahiense Oliveira

RECOMENDAÇÕES cia renal prévia. Entretanto estudos de metanálise com pa-


cientes em uso de aminoglicosídeos diversos e diferentes
Manter o paciente com volemia normal e usar judiciosa - níveis de função renal, desenhados para observar tanto a
mente drogas que alteram a microcirulação renal (como eficácia quanto a toxicidade da droga, revelam que a utili-
exemplo: inibidores da enzima conversora da angioten - zação da dose única do medicamento guarda resultado se-
sina II e antagonistas do receptor AT1 da angiotensina melhante quanto ao tratamento antibacteriano, com risco
II, ciclosporina, tacrolimus, anti-inflamatório não-este - menor de nefrotoxicidade (2,3,4)
róide incluindo inibidores da ciclo-oxigenase tipo. Reali -
zar diagnóstico precoce de obstrução do fluxo urinário Utilização da anfotericina B em preparação lipídica co -
(intra e extra-renal). mercialmente disponível.

Nível de evidência V, grau de recomendação D. Nível de evidência V, grau de recomendação D.

Prevenir a agudização da insuficiência renal em po- A utilização da anfotericina em preparação lipídica


pulações de risco é importante, na medida em que a IRA comercialmente disponível para o tratamento das infec-
pode complicar o curso clínico dos pacientes. Entretanto ções fúngicas parece diminuir o risco de desenvolvimento
estudos bem desenhados têm falhado em demonstrar bene- nefrotoxicidade (5,6). Contudo os estudos publicados não
fício do uso de muitas drogas (dopamina, fator natriurético foram desenhados especificamente para observar a dis-
atrial, diuréticos, aminofilina) para prevenir a deterioração função renal e as populações avaliadas são heterogêneas
da função renal, especialmente em pacientes críticos. De quanto à lesão renal prévia e comorbidades. A anfote-
modo que boa parte das recomendações permanece empíri- ricina B diluída em emulsão lipídica preparada artesanal-
ca: evitar hipotensão, desidratação, exposição a nefrotoxi- mente não foi adequadamente estudada em pacientes e
nas e realizar diagnóstico precoce de obstrução do trato uri- resultados de ensaios clínicos preliminares são con-
nário (1). A hipovolemia é a principal causa de perda agu- flitantes (7).
da de função renal em indivíduos não hospitalizados (cau-
sada comumente por vômitos, diarréia, diminuição da in- Hidratação com salina e uso de N-acetil-cisteína antes e
gesta hídrica, uso excessivo de diuréticos e laxantes). A depois do uso de contraste radiológico intravenoso.
orientação a pacientes e familiares e atenção da equipe de
saúde cuidadora é importante. Há situações de maior risco Nível de evidência I, grau de recomendação A.
em particular, nas quais mais de uma condição predispõe à
perda de filtração glomerular. Pacientes com insuficiência O uso de contraste radiológico intravenoso é um
cardíaca estão sob maior risco, pois podem sofrer dimi- insulto tóxico para os rins, muitas vezes necessário em
nuição do fluxo plasmático renal (baixo débito cardíaco), pacientes com doenças de macro e microvasculatura
além de freqüentemente estarem em uso de bloqueadores (como diabetes, aterosclerose e hipertensão). A hidra-
do sistema renina angiotensina e diuréticos. Igualmente pa- tação dos pacientes a serem submetidos ao uso de con-
ra aqueles pacientes com dor crônica, por conta da expo- traste com solução salina tem se mostrado de valor na
sição excessiva aos anti-inflamatórios não esteróides. prevenção da perda de função renal em diversos estudos
e deve ser instituída (8, 9). Em pacientes com insu-
Quando necessário o uso de aminoglicosídeos, opção por ficiência cardíaca ou oligúricos, um menor volume pode
regime de dose única. ser necessário para evitar hipervolemia. O uso da N-
acetil-cisteína (portadora de propriedades anti-oxidantes)
Nível de evidência I, grau de recomendação A. tem sido associado a um menor risco de agudização da
insuficiência renal prévia (10, 11). Contudo a melhor
Não há estudos específicos quanto ao efeito do uso dose e o melhor regime de administração ainda não fo-
de aminoglicosídeos apenas em pacientes com insuficiên- ram definidos.
10 Risco de Agudização de DRC

REFERÊNCIAS

1. Thadhani R., Pascual M., Bonventre J. V. Acute Renal Fail- Amphotericin B for Empirical Therapy in Patients with Persistent
ure. N Engl J Med 1996; 334:1448-1460. Fever and Neutropenia. N Engl J Med 1999; 340: 764-71.
2. Barza M, Ioannidis JP, Cappelleri JC, Lau J. Single or multi- 7. Costa S, Nucci M. Can we decrese amphotericin nephrotoxi-
ple daily doses of aminoglycosides: a meta- analysis. Brit city? Curr Opin Crit Care 2001; 7:379-383.
Med J 1996; 312:338-45.
8. Solomon R, Werner C, Mann D, D´Elia J, Silva P. Effects of
3. Hatala R, Dinh T, Cook DJ. Once-daily aminoglycoside dos- saline, mannitol, and furosemide to prevent acute decreases
ing in immunocompetent adults. A meta-analysis. Ann Intern in renal function induced by radiocontrast agents. N Engl J
Med 1996; 124:717-725. Med 1994; 331:1416-20.
4. Bailey TC, Little JR, Littenberg B, Reichley RM, Dunagan 9. Mueller C, Buerkle G, Buettner HJ, Petersen J, Perruchoud
WC. A meta-analysis of extended-interval dosing versus mul- AP, Eriksson U, Marsch S, Roskamm H. Prevention of Con-
tiple daily dosing of aminoglycosides. Clin Infect Dis 1997; trast Media–Associated Nephropathy. Randomized Compari-
24:786-95. son of 2 Hydration Regimens in 1620 Patients Undergoing
Coronary Angioplasty Arch Intern Med 2002;162:329-336.
5. Bowden R, Chandrasekar P, White MH, Li X, Pietrelli L, Gur-
with M, van Burik JA, Laverdiere M, Safrin S, Wingard JR. A 10. Birk R, Krzossok S, Markowetz F, Schnülle P, van der
double-blind, randomized, controlled trial of amphotericin B Woulde F, Braun C. Acetylcysteine for prevention of contrast
colloidal dispersion versus amphotericin B for treatment of nephropathy: meta-analysis. Lancet 2003; 362:598-603.
invasive aspergillosis in immunocompromised patients. Clin
Infect Dis. 2002; 35:359-66. 11. Alonso A, Lau J, Jaber BL, Weintraub A, Samak MJ. Preven-
tion of radiocontrast nephropathy with N-acetylcysteine in
6. Walsh T, Finberg RW, Arndt C, Hiemenz J, Schwartz C, Boden- patients with chronic kidney disease: a meta-analysis of ran-
steiner D, Pappas P, Seibel N, Greenberg R et al. Liposomal domized, controlled trials. Am J Kidney Dis 2004; 43:1-9.
Prevenção da Progressão da Doença Renal Crônica (DRC)
Rachel Bregman

A taxa de declínio da filtração glomerular deve ser ava - deve ser estimada pelo menos uma vez ao ano, e a cada
liada através de estimativas periódicas, utilizando medi - três meses naqueles com: (2-17)
das da creatinina sérica. • FG <60ml/min/1,73m 2
• Declínio rápido da FG no passado (> 4ml/min/
Nível I Grau A 1,73m2/ano)
• Fatores de risco para progressão mais rápida
O declínio da filtração glomerular (FG) deve ser es- • Vigência de tratamento para diminuir a progressão
timado para avaliar o efeito de intervenções para retardar a • Exposição a fatores de risco para declínio agudo
progressão e, predizer o intervalo até a necessidade de se
iniciar terapia renal substitutiva. A diminuição da filtração Portadores de diabetes mellitus, hipertensão arterial e,
glomerular (FG) não deve ser maior do que 4ml/min/ano. A familiares de portadores de doença renal crônica devem
queda da FG é relativamente constante no mesmo paciente, ser investigados para doença renal crônica e tratados
e varia muito de um paciente para outro, adicionalmente sa- precocemente.
be-se que a taxa de declínio da FG se relaciona com a
doença de base (1-10). Nível I Grau A

Evoluem mais rapidamente A hipertensão arterial e o diabetes mellitus são os


• Nefropatia diabética maiores responsáveis pela DRC, e se tratados adequada-
• Doenças glomerulares mente a DRC pode ser prevenida ou seu aparecimento
• Doença renal policística pode ser postergado (18 - 25).
• Doença renal no rim transplantado
Todos os pacientes com DRC devem ser encaminhados
Evoluem mais lentamente precocemente ao nefrologista.
• Nefroesclerose hipertensiva
• Doenças renais tubulointersticiais Nivel III Grau B

A taxa de declínio da FG também se relaciona com Todos os pacientes que apresentam FG < 60ml/min
fatores modificáveis e não modificáveis (8 - 16) devem ser encaminhados ao nefrologista. Aqueles que apre-
sentam FG > 60ml/min devem ser encaminhados se apre-
Fatores não modificáveis (evolução mais rápida) sentarem proteinúria e/ou alteração do sedimento urinário.
• Sexo masculino Todos os pacientes com FG <30ml/min apresentam
• Idade avançada maior risco de deterioração da função renal e devem
obrigatoriamente ser encaminhados ao nefrologista (18,
Fatores modificáveis (evolução mais rápida) 22,26,27).
• Maior proteinúria
• Hipoalbuminemia Controle rigoroso da glicemia em diabéticos
• Hipertensão arterial
• Controle glicêmico ineficaz Nível I Grau A
• Fumo
Valores desejados: (28)
Embora não existam evidências definitivas para Glicemia de jejum 80-120mg/dl
estipular a freqüência das consultas, considera-se que a FG HbA1c <7%
12 Prevenção da DRC

Não há evidência de que o controle rigoroso da Vide capítulo específico


glicemia, no portador de DM tipo II com nefropatia, altere
a evolução (29). Terapia hipolipêmica

Controle rigoroso da pressão arterial para todos os Vide capítulo específico


pacientes
Correção da anemia
Nível I Grau A
Vide capítulo específico
O controle adequado da pressão arterial retarda a
progressão da DRC. Nos portadores de nefropatia não O fumo deve ser proibido nos pacientes com DRC
diabética, se apresentarem proteinúria > 1g/24horas, a
pressão arterial deve se manter < 125/75 mmHg. Estes pa- Nível IV Grau C
cientes devem ser tratados com inibidor da enzima de
conversão da angiotensina II (IECA) como primeira esco- Parar de fumar retarda a progressão da DRC em
lha. Antagonista de receptor de Angiotensina II (ARA II) diabéticos, porém o mesmo não está demonstrado para
pode ser associado para obtenção de melhor controle da pacientes não diabéticos. Entretanto o fumo está associa-
pressão arterial e/ou proteinúria. do à proteinúria mais severa (45-47).
Nos portadores de DRC apresentando proteinúria
<1g/24horas, a pressão arterial deve se manter < 135/85 Avaliação da DRC no Idoso (16, 48- 55)
mmHg. Estes pacientes também devem ser tratados com
IECA e também pode se associar o ARA II para melhor Pacientes idosos com FG de 60 a 90 ml/min/
controle da pressão arterial e/ou proteinúria. Atenção espe- 1,73m2 devem ser avaliados para DRC
cial deve ser dada com o uso de IECA ou ARA II em por-
Nível IV Grau C
tadores de rim transplantado e portadores de rim único.
Nos portadores de nefropatia diabética, o controle
Avaliação clínica deve incluir:
adequado da pressão arterial retarda a progressão da ne-
• Riscos para desenvolver doença renal crônica
fropatia. Diabéticos hipertensos sem albuminúria devem
• Medida da pressão arterial (PA)
ser tratados com IECA como primeira escolha (30 - 38)
• Albumina/creatinina em amostra de urina
• Sedimento urinário com pesquisa para hemácias
Os inibidores da enzima de conversão da angiotensina
e leucócitos
II (IECA) ou antagonistas do receptor de angiotensina Estes níveis de FG são definidos como DRC se
(ARA II), devem ser utilizados em todos os pacientes acompanhados de outro marcador de doença renal. A FG
com DRC que apresentem: (20, 36-43) diminui com a idade, e é difícil diferenciar diminuição da
FG relacionada com a idade com a relacionada com DRC
• Hipertensão arterial no idoso.
• Microalbuminúria ou Proteinúria A intervenção clínica no idoso com DRC deve ser
baseada em diagnóstico, severidade do comprometimento
Níve II Grau A de função renal, estratificação do risco de evolução e
doença cárdio-vascular (DCV). Pacientes com leve declí-
Não há evidência de que alguma classe de IECA nio da FG, baixo risco de progressão e de DCV têm bom
ofereça alguma vantagem sobre outra. prognóstico e, podem requerer somente:
Não existem evidências suficientes para recomen- • Ajuste na dosagem de drogas que são excretadas
dar o uso universal de IECA para diabéticos com pressão pelo rim
arterial e albuminúria normais. • Monitorização da PA
Não existem evidências suficientes de que os ARA • Evitar drogas e procedimentos de risco para di-
II sejam especificamente benéficos para a nefropatia dia- minuição aguda da FG
bética. Porém podem ser usados em pacientes que não to- • Modificação de hábitos de vida para reduzir risco
leram os IECA (44). de DCV.
Todos os pacientes com DRC em uso de IECA ou • Função renal deve ser monitorizada pelo menos
ARA II devem ter seus níveis séricos de K medidos anualmente.
periodicamente. Pacientes com diminuição moderada ou severa da
FG, e/ou risco para declínio rápido da função renal ou
Restrição da ingestão protéica DCV têm pior prognóstico.
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 13

REFERÊNCIAS

1. MDRD Study Group. Blood pressure control, proteinuria, and Results from the hypertension detection and follow-up pro-
the progression of renal disease. Ann Intern Med 123: 754 - gram. The Hypertension Detection and Follow-up Program
762, 1995 Cooperative Group. Hypertension 13:I80-I93, 1989
2. Levey AS. Nephrology Forum: Measurement of renal function 17. Bergström J, Alvestrand A, Bucht H, Gutierrez. Progression
in chronic renal disease. Kidney Int 38:167-184, 1990 of chronic renal failure in man is retarded with more frequent
clinical follow-ups. Clin Nephrol 25:1-6, 1986
3. Walser M. Progression of chronic renal failure in man. Kidney
Int 37:1195-1210, 1990 18. Kissmeyer L, Kong C, Cohen J, Unwin RJ, Woolfson RG,
Neild GH Community nephrology: audit of screening for renal
4. Austin SM, Lieberman JS, Newton LD, Mejia M, Peters WA, insufficiency in a high risk population. Nephrol Dial Trans-
Myers BD. Slope of serial glomerular filtration rate and the plant 14: 2150-2155, 1999
progression of diabetic glomerular disease. J Am Soc
Nephrol 3:1358-1370, 1993 19. National Kidney Early Evaluation Program (KEEP), 2000.
Affiliate News and Issues: Keeping With NKF’s Early Inter-
5. Hannedouche T, Albouze G, Chauveau P, Lacour B, Jungers vention and Prevention Initiative
P. Effects of blood pressure and antihypertensive treatment [http://www.kidney.org/general/affiliates/keep.cfm]
on progression of advanced chronic renal failure. Am J Kid -
ney Dis 21:131-137, 1993 20. Standards of medical care for patients with diabetes mellitus.
Diabetes Care 25:213-29, 2002
6. Nielsen S, Schmitz A, Rehling M, Mogensen CE. The clinical
course of renal function in NIDDM patients with normo- and 21. Lei HH, Perneger TV, Klag MJ, Whelton PK, Coresh J Famil-
microalbuminuria. J Intern Med 241:133-141, 1997 ial aggregation of renal disease in a population-based case-
control study. J Am Soc Nephrol 9:1270-6, 1998
7. Ruggenenti P, Perna A, Zoccali C, Gherardi G, Benini R,
Testa A, Remuzzi G. Chronic proteinuric nephropathies. II. 22. Levin A, Lewis M, Mortiboy P, Faber S, Hare I, Porter EC,
Outcomes and response to treatment in a prospective cohort Mendelssohn DC. Multidisciplinary predialysis programmes:
of 352 patients: Differences between women and men in rela- quantification and limitations of their impact of patient out-
tion to the ACE gene polymorphism. Gruppo Italiano di Studi comes in two Canadian settings. Am J Kid Dis 29: 533-540,
Epidemologici in Nefrologia (GISEN). J Am Soc Nephrol 1997
11:88-96, 2000
23. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green
8. Hunsicker LG, Adler S, Caggiula A, England BK, Greene T, LA, Izzo JL Jr, et al. The Seventh Report of the Joint Nation-
Kusek JW, Rogers NL, Teschan PE. Predictors of the pro- al Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and
gression of renal disease in the Modification of Diet in Renal Treatment of High Blood Pressure: The JNC 7 Report. JAMA
Disease Study. Kidney Int 51:1908-1919, 1997 289:2560-71, 2003
9. Hannedouche T, Chauveau P, Kalou F, Albouze G, Lacour B, 24. Coresh J, Astor BC, Greene T, Eknoyan G, Levey AS. Preva-
Jungers P. Factors affecting progression in advanced chron- lence of chronic kidney disease and decreased kidney function
ic renal failure. Clin Nephrol 39:312-320, 1993 in the adult US population: Third National Health and Nutrition
Examination Survey. Am J Kidney Dis. 41:1-12, 2003
10. Hovind P, Rossing P, Tarnow L, Smidt UM, Parving HH. Pro-
gression of diabetic nephropathy. Kidney Int 59:702-709, 25. Madeira EPQ, Santos OR, Santos SFF, Silva LA, Innocenzi
2001 AMI, Santoro-Lopes G. Familial aggregation of end-stage kid-
ney disease in Brazil. Nephron 91:666-70, 2002
11. Mänttäri M, Tiula E, Alikoski T, Manninen V. Effects of hyper-
tension and dyslipidemia on the decline in renal function. 26. Sesso R, Belasco AG Late diagnosis of chronic renal failure
Hypertension 26:670-675, 1995 and mortality on maintenance dialysis. Nephrol Dial Trans-
plant 11:2417-20, 1996
12. Walker WG: Hypertension-related renal injury: A major con-
tributor to end-stage renal disease. Am J Kidney Dis 22:164- 27. Avorn J, Bohn RL, Levy E, Levin R, Owen WF Jr, Winkel-
173, 1993 mayer WC, et al. Nephrologist care and mortality in patients
with chronic renal insufficiency. Arch Intern Med 162:2002-
13. Breyer JA, Bain RP, Evans JK, Nahman NS Jr, Lewis EJ, 6, 2002
Cooper M, McGill J, Berl T. Predictors of the progression of
renal insufficiency in patients with insulin-dependent diabetes 28. DCCT: Retinopathy and Nephropathy in patients with Type I
and overt diabetic nephropathy. The Collaborative Study diabetes four years after a trial of intensive therapy. New
Group. Kidney Int 50:1651-1658, 1996 Engl J Med 342:381-389, 2000.
14. Yokoyama H, Tomonaga O, Hirayama M, Ishii A, Takeda M, 29. Parving HH. Renoprotection in diabetes: Genetic and non-
Babazono T, Ujihara U, Takahashi C, Omori V. Predictors of genetic risk factors and treatment. Diabetologia. 41:745-759,
the progression of diabetic nephropathy and the beneficial 1998.
effect of angiotensin-converting enzyme inhibitors in NIDDM
patients. Diabetologia 40:405-411, 1997 30. Kasiske BL, Kalil RS, Ma JZ, Liao M, Kean WF. Effect of anti-
hypertensive therapy on the kidney in patients with diabetes:
15. Standards of Medical Care for Patients with Diabetes Melli- a meta regression analysis. Ann Intern Med 118:129-138,
tus, Position Statement. Clinical Practice Recommendations 1993.
2001. Diabetes Care 24:S33-S43, 2001
31. Lewis JB, Berl T, Bain RP, Rohde R, Lewis EJ. Effect of inten-
16. Shulman NB, Ford CE, Hall WD, Blaufox MD, Simon D, Lang- sive blood pressure control on the course of type 1 diabetic
ford HG, Schneider KA. Prognostic value of serum creatinine nephropathy. Collaborative Study Group. Am J Kidney Dis
and effect of treatment of hypertension on renal function. 34:809-17, 1999.
14 Prevenção da DRC

32. Lewis EJ, Hunsickeler LG, Bain RP, Rohde RD The effect of 43. Lewis EJ, Hunsicker LG, Clarke WR, Berl T, Pohl MA, Lewis
angiotension converting enzyme inhibition on diabetic JB, Ritz E, Atkins RC, et al. Renoprotective effect of the
nephropathy. The collaborative study group N Engl J Med angiotensin-receptor antagonist irbesartan in patients with
329:1456-1462, 1993. nephropathy due to type 2 diabetes. N Engl J Med 345:851-
860, 2001
33. Weidmann P, Schneider M. Bohlen L. Effects of different anti-
hypertensive drugs on human diabetic nephropathy an updated 44. Andersen S, Tarnow L, Rossing P, Hansen BV, Parving HH.
META analysis. Nephrol Dial Transpl 10 (S9):39-45, 1995. Renoprotective effects of angiotensin II receptor blockade in
type I diabetic patients with diabetic nephropathy. Kidney Int
34. Lebovitz HE, Wiegmann TB, Cnaan A, Shahinfar S, Sica DA, 57:601-6, 2000.
Broadstone V, Schwartz SL, Mengel MC, Segal R, Versaggi
JA: Renal protective effects of enalapril in hypertensive 45. Chase HP, Garg SK, Marshall G, Berg CL, Harris S, Jackson
NIDDM: Role of baseline albuminuria. Kidney Int 45 :S150- WE, Hamman RE: Cigarette smoking increases the risk of
S155, 1994. albuminuria among subjects with type I diabetes. JAMA
265:614-617, 1991
35. Ravid M, Lang R, Rachmani R, Lishner M. : Long-term reno-
protective effect of angiotensin-converting enzyme inhibition 46. Stegmayr B, Lithner F: Tobacco and end stage diabetic
in non-insulin dependent diabetes mellitus. A 7-year follow-up nephropathy. Br Med J Clin Res Ed 295:581-582, 1987
study. Arch Intern Med 156:286-9, 1996.
47. Sawicki PT, Didjurgeit U, Muhlhauser I, Bender R, Heine-
36. The Sixth Report of the Joint National Committee on Preven- mann L, Berger M: Smoking is associated with progression of
tion, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pres- diabetic nephropathy. Diabetes Care 17:126-131, 1994
sure (JNC VI). Bethesda, MD, US Department of Health and
Human Services, Public Health Service, National Institutes of 48. Manjunath G, Tighiouart H, Coresh J, Macleod B, Salem DN,
Health, National Heart, Lung and Blood Institute, 1997 Griffith JL, et al. Level of kidney function as a risk factor for
cardiovascular outcomes in the elderly. Kidney Int 63:1121-
37. Mailloux LU, Levey AS. Hypertension in chronic renal dis- 1129, 2003
ease. Am J Kidney Dis 32:S120-S141, 1998
49. Davies DF, Shock NW. Age changes in glomerular filtration
38. Bakris GL, Williams M, Dworkin L, Elliott WJ, Epstein M, Toto rate, effective renal plasma flow, and tubular excretory capac-
RDA, Tuttle K, Douglas J, Hsueh W, Sowers J: Preserving ity in adults males. J Clin Invest 29:496-507, 1950
renal function in adults with hypertension and diabetes: A
consensus approach. National Kidney Foundation Hyperten- 50. Watkins DM, Shock NW. Age-wise standard value for Cin,
sion and Diabetes Executive Committees Working Group. Cpah and TmPAH in adult males. J Clin Invest 34:969, 1955
Am J Kidney Dis 36:646-661, 2000
51. Monane M, Bohn RL, Gurwitz JH, Glynn RJ, Levin R, Avorn
39. Ruggenenti P, Remuzzi G: Angiotensin-converting enzyme J. Compliance with antihypertensive therapy among elderly
inhibitor therapy for nondiabetic progressive renal disease. Medicaid enrolees. The roles of age, gender, and race. Am J
Curr Opin Nephrol Hypertens 6:489-495, 1997 Health 86:1805-1808, 1996
40. Weir MR, Dworkin L: Antihypertensive drugs, dietary salt, and 52. Lindeman RD, Tobin J, Shock NW. Longitudinal studies on
renal protection: How low should you go with which therapy? the rate of decline in renal function with age. J Am Geriatr
Am J Kidney Dis 32:1-22, 1998 Soc 33:278-285, 1985
41. Keane WF, Ekynoyan G. Proteinuria, albuminuria, risk, 53. Shlipak MG, Fried LF, Crump C, Bleyer AJ, Manolio TA, Tracy
assessment, detection, elimination (PARADE): A position RP, et al. Cardiovascular disease risk status in elderly persons
paper of the National Kidney Foundation. Am J Kidney Dis with renal insufficiency. Kidney Int 62:997-1004, 2002
33:1004-1010, 1999
54. Aronoff GR, Berns JS, Brier ME, Golper TA, Morrison G,
42. Ruggenenti P, Pagano E, Tammuzzo L, Benini R, Garattini L. Singer I, et al. Drug Prescribing in Renal Failure: Dosing
Gruppo Italiano Di Studi Epidemilogici in Nefrologia (GIN- Guidelines for Adults. Philadelphia: American College of
SEN). Kidney Int 59:286-294, 2001 Physicians; 2002.
Alterações Metabólicas
Marcelo Batista e Cássio José de Oliveira Rodrigues

O perfil lipídico completo deve ser avaliado periodica - Pacientes portadores de DRC devem ser considerados
mente em portadores de DRC. como de alto risco para doença cardiovascular, ou seja,
apresentam risco equivalente a indivíduos com Insufi -
Nível de evidência I ciência Coronariana conhecida.
Grau de recomendação A
Nível de Evidência: I
Pacientes portadores de Doença Renal Crônica Grau de Recomendação: A
apresentam um perfil lipídico tipicamente trombogênico,
com elevações dos níveis de triglicérides e reduções do A relação entre dislipidemia e doença cardiovascular
HDL-colesterol. As alterações do metabolismo lipídico na na população geral está bem estabelecida, sendo indepen-
DRC podem ser observadas em fases iniciais do declínio dente do sexo, idade, história de tabagismo e presença de
da função renal (TFG < 60 ml/min). O tipo e a severidade hipertensão arterial ou diabetes mellitus (10-13). As reco-
da dislipidemia nesta população depende da doença de mendações do “Third Report of The National Cholesterol
base e a ocorrência de doença coronariana frequentemente Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection,
se dá com níveis normais de LDL-colesterol. Alterações Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol In
preponderantes do perfil lipídico na DRC são concentra- Adults “(III NCEP) determinam a estratificação do risco
ções plasmáticas elevadas de triglicérides e níveis redu- individual a fim de estabelecer objetivos relacionados aos
zidos de HDL-colesterol , em especial nas suas formas valores ideais da cada fração lipoproteica. Indivíduos com
maiores (HDL 2). Os níveis de VLDL e IDL-colesterol, Insuficiência Coronariana conhecida apresentam um risco
mas não necessariamente de LDL-colesterol, estão eleva- estimado de evento coronariano acima de 20% em 10 anos,
dos e se acompanham por concomitante elevação das con- sendo classificados como de maior risco, com objetivos mais
centrações da apolipoproteína C-III e apolipoproteína E rígidos quanto ao controle da dislipidemia. Indivíduos que
nestas frações lipoproteicas (1-3). A composição do LDL apresentam risco estimado comparável, mesmo não sendo
é anormal, apresentando aumento no seu conteúdo de tri- portadores de Insuficiência Coronariana, devem ser conduzi-
glicérides. Similarmente, ocorre um acúmulo dos rema- dos de forma semelhante (10). Existem evidências suficien-
nescentes de lipoproteínas (RLP) no plasma dos pacientes tes de uma alta morbi-mortalidade cardiovascular em indiví-
com DRC. Partículas altamente aterogênicas, os RLP são duos com DRC (14), o que permite estimar um risco de
produtos da degradação parcial do VLDL-colesterol pela evento coronariano acima de 20% em 10 anos, merecendo,
lipase lipoproteica e, em menor extensão, pela lipase hepá- portanto, classificação como de alto risco.
tica, enzimas que apresentam disfunção em pacientes com
DRC. Os remanescentes de quilomicrons e de VLDL, in- Na ausência de dados específicos obtidos em estudos de
cluindo o IDL-colesterol, resultantes desta disfunção enzi- populações de portadores de DRC, é razoável seguir as
mática, são ricas em colesterol e depletadas em triglicéri- determinações do III NCEP para estabelecer metas e es -
des, realçando sua característica aterogênica. A dosagem tratégias terapêuticas de correção das anormalidades li -
do VLDL-colesterol plasmático, embora não muito pídicas encontradas nos pacientes com DRC.
acurada, é o marcador mais disponível e de menor custo
para a avaliação dos RLP (4-5). Outras alterações do perfil Nível de evidência III
lipídico têm sido estudadas em pacientes com DRC. Vá- Grau de recomendação B
rios estudos demonstraram uma associação positiva entre
Lp(a) e doença cardiovascular nesta população (6-8), em- Não existem estudos controlados randomizados
bora este dado não seja uniforme na literatura (9). com larga amostra populacional que comprovem redução
16 Alterações Metabólicas

na incidência da doença cardiovascular com o tratamento Dados de população geral demonstram um prová-
da dislipidemia em pacientes com DRC. O papel da des- vel efeito benéfico das estatinas, independente da redução
nutrição e inflamação modulando o metabolismo lipídico, dos níveis lipídicos (31, 32), relacionado a uma provável
em particular nos pacientes com DRC, dificulta traçar um ação pleiotrópica (33). Este efeito deve ser extrapolado
paralelo entre o impacto do tratamento da dislipidemia e para população de pacientes portadores de DRC.
a redução da morbi-mortalidade cardiovascular (15-20). Não existem evidências de relação entre níveis
De fato, resultado da desnutrição e da reação inflamatória aumentados de triglicérides e morbi-mortalidade cardio-
sistêmica, níveis reduzidos de colesterol observados nos vascular em portadores de DRC, no entanto, evidências
pacientes com DRC se associam com maior mortalidade extrapoladas da população geral permitem assumir esta
cardiovascular (21). Níveis reduzidos de colesterol estão provável associação (34, 35). Pacientes com DRC e hi-
associados a marcadores inflamatórios, como PCR, IL-6 e pertrigliceridemia que apresentam LDL dentro do nível
TNF (22). ideal, devem ser conduzidos no sentido de obter valores
O III NCEP (23) determina que indivíduos com ní- de colesterol não HDL (ou seja, VLDL + LDL) abaixo de
veis de triglicérides maiores ou iguais a 500mg/dl devem 130mg/dl. As estatinas proporcionam redução dos níveis
ser tratados visando inicialmente à correção deste distúr- de triglicérides da ordem de 7 a 20% e provavelmente
bio, em razão do risco de pancreatite, além da maior pre- deve ser a escolha inicial, considerando o risco potencial
disposição para eventos coronarianos. Indivíduos com hi- do uso de fibratos, embora não haja dados suficientes
pertrigliceridemia devem ser tratados com modificações para definir a conduta ideal. O efeito das medicações
do estilo de vida (24, 25) (dieta, abstinência alcoólica, tra- sobre o HDL é discreto e não há indicações até o
tamento de hiperglicemia, atividade física) e caso não ha- momento, para tratamento visando correção dos níveis
ja redução dos níveis até abaixo de 150mg/dl, a utilização de HDL.
de drogas hipolipemiantes se faz necessária.
Os principais agentes redutores de triglicérides são O tratamento das alterações lipídicas, principalmente
os fibratos e o ácido nicotínico, capazes de obter reduções através do uso de estatinas, em indivíduos com DRC
em torno de 20 a 40% em relação aos valores iniciais. O pode retardar a evolução da doença renal.
alto índice de efeitos colaterais com o ácido nicotínico faz
com que o fibrato seja a medicação eleita inicialmente. Na Nível de evidência II
DRC, a metabolização/ eliminação dos fibratos estão re- Grau de recomendação B
tardados havendo maior risco de miopatia, o que é um li-
mitante na sua utilização. Dentro desta classe, o Genfibro- Poucos estudos avaliaram o papel do tratamento
zil está relacionado a menor ocorrência de lesão muscular hipolipemiante em relação à progressão da doença renal
podendo ser alternativa na DRC. Independentemente do crônica, na maioria das vezes analisando pequeno número
agente utilizado, a monitorização criteriosa de enzimas de indivíduos e por curto período de tempo. Na sua maio-
musculares (CPK) se faz imperiosa, em especial quando ria, os estudos analisaram o impacto do tratamento das
da associação entre fibratos e estatinas nesta população. estatinas sobre a progressão da DRC e sobre a proteinúria.
Em concordância com o III NCEP, a adequação Os resultados são conflitantes embora tendam a demons-
dos valores de LDL-colesterol é alvo primário da terapêu- trar ao menos um impacto na redução da proteinúria des-
tica naqueles nos quais os valores de triglicérides não es- tes pacientes (36-38). Estes resultados, no entanto, não
tão elevados de maneira aberrante. Uma vez considerado são uniformes (39-41). Uma recente meta-análise, in-
portadores de DRC como equivalente isquêmico, ou seja, cluindo 498 pacientes com alteração no ritmo de filtração
risco de evento coronariano acima de 20% em 10 anos, o glomerular ou com proteinúria (52% diabéticos), mostrou
LDL-colesterol alvo deve ser de 100mg/dl ou menos. uma redução leve no ritmo de queda da função renal(42)
Diversos estudos na população geral demonstram com uso das estatinas. Recentemente, estudo randomiza-
o benefício do tratamento com estatinas na redução da do placebo-controlado enfatiza benefício do uso de pra-
morbi-mortalidade cardiovascular (23). Apenas quatro es- vastatina no retardo da queda da TFG. Este retardo na
tudos controlados randomizados analisaram o efeito do queda da TFG parece preponderar nos pacientes com
tratamento com estatinas em pacientes com DRC (26-29). DRC e proteinúria (43).
O III NCEP recomenda o uso de estatinas para indivíduos
com LDL maior ou igual a 130mg/dl ou que não tenham Em pacientes renais crônicos a administração de insuli -
obtido o LDL alvo < que 100mg/dl com modificações de na e hipoglicemiante oral deverá ser feita com cautela
hábitos após três meses de intervenção. Nestas circuns- devido ao risco de hipoglicemia.
tâncias, o risco de miopatia também é potencializado (30).
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 17

Nível de evidência II Não existem estudos clínicos controlados rando-


Grau de recomendação A mizados avaliando desfecho das alterações no metabolis-
mo dos carboidratos em portadores de DRC ou norteando
A DRC está associada a um estado de resistência à condutas no sentido de reduzir conseqüências destas alte-
insulina. Em fases avançadas de disfunção renal há redução rações. É possível que o estado de resistência à insulina
da degradação da insulina. A uremia induz a uma série de tenha algum efeito sobre sua alta morbi-mortalidade car-
alterações no metabolismo da glicose. Existe inicialmente diovascular.
uma tendência a hiperglicemia ou normoglicemia mantida
às custas de níveis aumentados de insulina (44, 45). Em portadores de DRC, os níveis de ácido úrico devem
Diversos fatores levam a um estado de insensibili- ser tratados sempre que apresentarem uma manifesta -
dade tissular à insulina, dentre eles o aumento da glico- ção clínica.
neogênese hepática, a redução da captação de glicose
pelas células musculares esqueléticas e a deficiência da Nível de evidência III
síntese intracelular de glicogênio. À medida que a disfun- Grau de recomendação B
ção renal progride, ocorre redução da degradação da insu-
lina, causada pela perda de massa renal, conjugada à re- A deposição de cristais de ácido úrico no interstí-
dução do metabolismo hepático de insulina induzido por cio medular leva a uma resposta inflamatória secundária,
toxinas urêmicas. Em fases avançadas de disfunção renal favorecendo a fibrose intersticial (55). Níveis elevados de
pode haver uma redução na síntese pancreática de insuli- ácido úrico tem sido associados a uma série de alterações
na, impedindo o aumento que seria esperado em resposta metabólicas e a elevada morbi-mortalidade cardiovascu-
ao estado de resistência tissular (46, 47). lar, no entanto, uma relação causal não foi estabelecida
Diversos fatores estão associados com o estado de (56, 57, 58). Uma relação independente entre os níveis de
resistência à insulina induzido pela disfunção renal. Dois ácido úrico e aumento da mortalidade cardiovascular foi
estudos controlados demonstraram que o uso de calcitriol encontrado. É possível, no entanto que a hiperuricemia
endovenoso tende a melhorar a sensibilidade á insulina, seja apenas um marcador de outros fatores de risco, como
independentemente dos níveis de PTH (48, 49). O próprio hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia (59, 60). Não
PTH e outras possíveis toxinas têm sido associados às existem estudos analisando um possível papel da hiperu-
alterações no metabolismo de carboidratos induzidas pela ricemia como fator de risco cardiovascular na DRC.
uremia (50). A diálise também tem efeito benéfico, com Uma desordem autossômica dominante composta
melhora da sensibilidade à insulina (47), que também é por gota e/ou hiperuricemia e disfunção renal foi descrita
obtida com um programa de exercício aeróbicos (51). (61) porém a hiperuricemia parece mais consequência que
A maioria dos indivíduos não diabéticos não de- causa da disfunção renal.
senvolve hiperglicemia, a não ser que haja predisposição O acompanhamento de indivíduos com hiperurice-
á doença (44). No entanto, a hiperinsulinemia contribui mia assintomáticos ou mesmo com gota demonstrou ten-
para a elevação dos níveis de triglicérides e para altera- dência ao desenvolvimento de disfunção renal crônica
ções na fibrinólise (52). Em fases avançadas de DRC, (62). De forma semelhante, a correção da hiperuricemia
com a redução da depuração de insulina, haverá menor com o uso de Allopurinol não parece ter benefício no sen-
necessidade de insulina ou hipoglicemiantes (53) e maior tido de retardar a progressão para DRC terminal (63). Por-
risco na ocorrência de hipoglicemia (54). tanto, não há indicação de seu uso com este objetivo.

REFERÊNCIAS

1. Lindner A, Charra B, Sherrard D, Schriber BH. Accelerated 4. Cleeman JI, Grundy SM, Becker D, Clark LT, Cooper RS,
atherosclerosis inprolonged maintenance hemodialysis. New Denke MA, Howard J, hunninghake DB, Illingworth R, Luep-
Engl J Med 1994; 290:697-701. ker RV, McBride P, Mckanney JM, Pasternak RC, Stone NJ,
Horn LV. Executive Summary of the Third Report of the
2. Attman PO, Samuelsson O, Alaupovic P. Lipoprotein matab- National Cholesterol Education Program (NECP) Expert
olism in renal failure. Am J Kidney Dis 1993;21:573-592. Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood
3. Nestel PJ, Fidge NH, Tan MH. Increased lipoprotein remnant Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA 2001;
formation in chronic renal failure. N Eng J Med 1982; 285(19):2486-97.
307:329-33.
18 Alterações Metabólicas

5. Mowri HO, Ptsch W, Smith LC, Gotto AM, Patsch JR. Differ- hemodialysis. Report of the Diaphane collaborative study.
ent reactivities of high density lipoprotein2 subfractions with Nephron. 31(2):103, 1982.
hepatic lipase. J Lipid Res 1992; 33:1269-1279.
20. Iseki K, Uehara H, Nishime K, Tokuyama K, Yoshihara K,
6. Zimmermann J; Herrlinger S; Pruy A; Metzger T; Wanner C: Kinjo K, Shiohira Y, Fukiyama K: Impact of the initial levels of
Inflammation enhances cardiovascular risk and mortality in laboratory variables on survival in chronic dialysis patients.
hemodialysis patients. Kidney Int 55(2):648, 1999. Am J Kidney Dis. 28(4):541, 1996.
7. Kronenberg F; Neyer U; Lhotta K; Trenkwalder E; Auinger M; 21. Iseki K; Yamazato M; Tozawa M; Takishita S: Hypocholes-
Pribasnig A; Meisl T; Konig P; Dieplinger H: The low molecu- terolemia is a significant predictor of death in a cohort of
lar weight apo(a) phenotype is an independent predictor for chronic hemodialysis patients. Kidney Int 61(5):1887, 2002.
coronary artery disease in hemodialysis patients: a prospec-
tive follow-up. J Am Soc Nephrol 10(5):1027, 1999 22. Bologa RM; Levine DM; Parker TS; Cheigh JS; Serur D; Sten-
zel KH; Rubin AL: Interleukin-6 predicts hypoalbuminemia,
8. Cressman MD; Heyka RJ; Paganini EP; O’Neil J; Skibinski hypocholesterolemia, and mortality in hemodialysis patients.
CI; Hoff HF: Lipoprotein(a) is an independent risk factor for Am J Kidney Dis 32(1):107, 1998.
cardiovascular disease in hemodialysis patients. CDRCula-
tion 86(2):475, 1992 23. Executive Summary of The Third Report of The National Cho-
lesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detec-
9. Webb AT; Brown EA: Prevalence of symptomatic arterial dis- tion, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In
ease and risk factors for its development in patients on con- Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA 285: 2486, 2001.
tinuous ambulatory peritoneal dialysis. Perit Dial Int 13 Suppl
2:S406, 1993 24. Goldberg AP; Geltman EM; Hagberg JM; Gavin JR 3rd;
Delmez JA; Carney RM; Naumowicz A; Oldfield MH; Harter
10. Executive Summary of The Third Report of The National Cho- HR: Therapeutic benefits of exercise training for hemodialysis
lesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detec- patients. Kidney Int Suppl 16:S303, 1983.
tion, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In
Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA 285: 2486, 2001. 25. Deligiannis A; Kouidi E; Tassoulas E; Gigis P; Tourkantonis
A; Coats A: Cardiac effects of exercise rehabilitation in
11. LaRosa JC; He J; Vupputuri S: Effect of statins on risk of hemodialysis patients. Int J Cardiol 70(3):253, 1999.
coronary disease: a meta-analysis of randomized controlled
trials. JAMA 282(24):2340, 1999. 26. Saltissi D, Morgan C, Rigby RJ, Westhuyzen J: Safety and
efficacy of simvastatin in hypercholesterolemic patients
12. Sacks FM; Tonkin AM; Shepherd J; Braunwald E; Cobbe S; undergoing chronic renal dialysis. Am J Kidney Dis
Hawkins CM; Keech A; Packard C; Simes J; Byington R; 39(2):283, 2002.
Furberg CD: Effect of pravastatin on coronary disease events
in subgroups defined by coronary risk factors: the Prospective 27. Chang JW, Yang WS, Min WK, Lee SK, Park JS, Kim SB:
Pravastatin Pooling Project. CDRCulation 102(16):1893, Effects of simvastatin on high-sensitivity C-reactive protein
2000. and serum albumin in hemodialysis patients. Am J Kidney
Dis 39(6):1213, 2002.
13. Pyorala K; Pedersen TR; Kjekshus J; Faergeman O; Olsson
AG; Thorgeirsson G: Cholesterol lowering with simvastatin 28. Van den Akker JM, Bredie SJ, Diepenveen SH, van Tits LJ,
improves prognosis of diabetic patients with coronary heart Stalenhoef AF, van Leusen R: Atorvastatin and simvastatin in
disease. A subgroup analysis of the Scandinavian Simvas- patients on hemodialysis: effects on lipoproteins, C-reactive
tatin Survival Study (4S). Diabetes Care 20(4):614, 1997. protein and in vivo oxidized LDL. J Nephrol. 16 (2): 238,
2003..
14. U.S. Renal Data System, USRDS 2003 Annual Data Report:
Atlas of End-Stage Renal Disease in the United States, 29. Harris KP, Wheeler DC, Chong CC; Atorvastatin in CAPD
National Institutes of Health, National Institute of Diabetes Study Investigators. Continuous ambulatory peritoneal dialy-
and Digestive and Kidney Diseases, Bethesda, MD, 2003. sis: A placebo-controlled trial examining atorvastatin in dys-
lipidemic patients undergoing CAPD. Kidney Int. 61(4):1469,
15. Cheung AK, Sarnak MJ, Yan G, Dwyer JT, Heyka RJ, Rocco 2002.
MV, Teehan BP, Levey AS: Atherosclerotic cardiovascular
disease risks in chronic hemodialysis patients. Kidney Int. 58 30. Pasternak, RC, Smith, SC Jr, Bairey-Merz, CN, et al:
(1): 353, 2000. ACC/AHA/NHLBI Clinical Advisory on the Use and Safety of
Statins. Stroke 33: 2337, 2002.
16. Kronenberg F, Neyer U, Lhotta K, Trenkwalder E, Auinger M,
Pribasnig A, Meisl T, Konig P, Dieplinger H: The low molecu- 31. Ridker PM; Rifai N; Clearfield M; Downs JR; Weis SE; Miles
lar weight apo(a) phenotype is an independent predictor for JS; Gotto AM Jr: Measurement of C-reactive protein for the
coronary artery disease in hemodialysis patients: a prospec- targeting of statin therapy in the primary prevention of acute
tive follow-up. J Am Soc Nephrol. 10 (5): 1027, 1999. coronary events. N Engl J Med 344(26):1959, 2001.
17. Cressman MD, Heyka RJ, Paganini EP, O’Neil J, Skibinski 32. Albert MA; Danielson E; Rifai N; Ridker PM: Effect of statin
CI, Hoff HF: Lipoprotein(a) is an independent risk factor for therapy on C-reactive protein levels: the pravastatin inflam-
cardiovascular disease in hemodialysis patients. CDRCula- mation/CRP evaluation (PRINCE): a randomized trial and
tion 86 (2): 475, 1992. cohort study. JAMA 286(1):64, 2001.
18. Stack AG, Bloembergen WE: A cross-sectional study of the 33. Munford, RS: Statins and the acute-phase response. N Engl
prevalence and clinical correlates of congestive heart failure J Med 344:2016, 2001.
among incident US dialysis patients. Am J Kidney Dis. 38
(5): 992, 2001. 34. Assmann G; Schulte H; Funke H; von Eckardstein A: The
emergence of triglycerides as a significant independent risk
19. Degoulet P, Legrain M, Reach I, Aime F, Devries C, Rojas P, factor in coronary artery disease. Eur Heart J 19 Suppl
Jacobs C: Mortality risk factors in patients treated by chronic M:M8, 1998.
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 19

35. Austin MA; Hokanson JE; Edwards KL: Hypertriglyceridemia SD: Effects of intravenous calcitriol on lipid profiles and glu-
as a cardiovascular risk factor. Am J Cardiol 81(4A):7B , cose tolerance in uraemic patients with secondary hyper-
1998. parathyroidism (abstract). Clin Sci (Colch) 87(5):533, 1994.
36. Olbricht CJ: Cholesterol in progressive renal disease 50. Perna AF; Fadda GZ; Zhou XJ; Massry SG: Mechanisms of
(Abstract). Nephrology 3: S39, 1997. impaired insulin secretion after chronic excess of parathyroid
hormone. Am J Physiol 259(2 Pt 2):F210, 1990.
37. Rayner BL, Byrne MJ, van Zyl Smit R: A prospective clinical
trial comparing the treatment of idiopathic membranous 51. Goldberg AP; Geltman EM; Gavin JR 3d; Carney RM; Hag-
nephropathy and nephrotic syndrome with simvastatin and berg JM; Delmez JA; Naumovich A; Oldfield MH; Harter HR:
diet, versus diet alone. Clin Nephrol 46: 219, 1996. Exercise training reduces coronary risk and effectively reha-
bilitates hemodialysis patients. Nephron 42 (4): 311, 1986.
38. Thomas ME, Harris KP, Ramaswamy C, Hattersley JM,
Wheeler DC, Varghese Z, Williams JD, Walls J, Moorhead 52. Hong SY; Yang DH: Insulin levels and fibrinolytic activity in
JF: Simvastatin therapy for hypercholesterolemic patients patients with end-stage renal disease. Nephron 68(3):329,
with nephrotic syndrome or significant proteinuria. Kidney Int 1994.
44: 1124, 1993.
53. Weinrauch LA; Healy RW; Leland OS Jr; Goldstein HH; Lib-
39. Tonolo G, Ciccarese M, Brizzi P, Puddu L, Secchi G, Calvia ertino JA; Takacs FJ; Bradley RF; Gleason RE; D’Elia JÁ:
P, Atzeni MM, Melis MG, maioli M: Reduction of albumin Decreased insulin requirement in acute renal failure in dia-
excretion rate in normotensive microalbuminuric type 2 dia- betic nephropathy. Arch Intern Med 138(3):399, 1978.
betic patients during long-term simvastatin treatment. Dia-
betes Care 20: 1891, 1997. 54. Arem R: Hypoglycemia associated with renal failure.
Endocrinol Metab Clin North Am 18(1):103, 1989..
40. Nielsen S, Schmitz O, Moller N, Porksen N, Klausen IC,
Alberti KG, Mogensen CE: Renal function and insulin sensi- 55. Johnson RJ; Kivlighn SD; Kim YG; Suga S; Fogo AB: Reap-
tivity during simvastatin tretment in type 2 (non-insulin-depen- praisal of the pathogenesis and consequences of hyper-
dent) diabetic patients with microalbuminuria. Diabetologia uricemia in hypertension, cardiovascular disease, and renal
36: 1079, 1993. disease. Am J Kidney Dis 33(2):225, 1999.
41. Smulders YM, van Eeden AE, Stehouwer CD, Weijers RN, 56. Freedman DS; Williamson DF; Gunter EW; Byers T: Relation
Slaats EH, Silberbusch J: can reduction in hypertriglyceri- of serum uric acid to mortality and ischemic heart disease.
daemia slow progression of microalbuminuria in patients with The NHANES I Epidemiologic Follow-up Study. Am J Epi-
non-insulin-dependent diabetes mellitus? Eur J Clin Invest demiol 141(7):637, 1995.
27: 997, 1002.
57. Brand FN; McGee DL; Kannel WB; Stokes J 3d; Castelli WP:
42. Fried L, Orchard T, Kasiske B: The effect of lipid reduction on Hyperuricemia as a risk factor of coronary heart disease: The
renal failure progression: a meta-analysis (Abstract). J Am Framingham Study. Am J Epidemiol 121(1):11, 1985.
Soc Nephrol 10: 73A, 1999.
58. Fang J; Alderman MH: Serum uric acid and cardiovascular
43. Tonelli M, Moyé L, Sacks FM, Cole T, Curhan GC: Effect of mortality the NHANES I epidemiologic follow-up study, 1971-
Pravastatin on Loss of Renal Function in People with Moder- 1992. National Health and Nutrition Examination Survey.
ate Chronic Renal Insufficiency and Cardiovascular Disease. JAMA 283(18):2404, 2000.
J Am Soc Nephrol 14: 1605, 2003.
59. Culleton BF; Larson MG; Kannel WB; Levy D: Serum uric acid
44. Mak, RH, DeFronzo, RA: Glucose and insulin metabolism in and risk for cardiovascular disease and death: the Framing-
uremia. Nephron 61: 377, 1992. ham Heart Study. Ann Intern Med 131(1):7, 1999.
45. Alvestrand, A. Carbohydrate and insulin metabolism in renal 60. Wannamethee SG; Shaper AG; Whincup PH: Serum urate
failure: Kidney Int 52(Suppl 62): S48, 1997. and the risk of major coronary heart disease events. Heart
46. Rabkin, R, Simon, NM, Steiner, S, et al: Effects of renal dis- 78(2):147, 1997.
ease on renal uptake and excretion of insulin in man. N Engl 61. Puig JG; Miranda ME; Mateos FA; Picazo ML; Jimenez ML;
J Med 282: 182., 1970. Calvin TS; Gil AA: Hereditary nephropathy associated with
47. DeFronzo, RA, Tobin, JD, Rowe, JW, et al: Glucose intoler- hyperuricemia and gout. Arch Intern Med 153(3):357, 1993.
ance in uremia. Quantification of pancreatic beta cell sensi-
62. Berger L, Yu TF: Renal function in gout IV. An analysis of 524
tivity to insulin and tissue sensitivity to insulin. J Clin Invest
gouty subjects including long-term follow-up studies. Am J
62: 425, 1978.
Med 59: 605, 1979.
48. Kautzky-Willer A; Pacini G; Barnas U; Ludvik B; Streli C; Graf
63. Emmerson BT. Gout and renal disease. In: Gout, hyperuri-
H; Prager R: Intravenous calcitriol normalizes insulin sensitiv-
caemia and other crystal-associated arthropathies, 1st
ity in uremic patients. Kidney Int 47(1):200, 1995.
ed., edited by Smith CJ, Holers VM, New York, Marcel
49. Lin SH; Lin YF; Lu KC; Diang LK; Chyr SH; Liao WK; Shieh dekker, pp 241-250, 1999
Doenças Cardiovasculares
na Doença Renal Crônica.
Maria Eugênia F. Canziani

“Todo paciente com Doença Renal Crônica (DRC) deve mocisteína, desnutrição, inflamação e o aumento do
ser considerado como paciente de alto risco para Doen - estresse oxidativo tem sido associados a maior mortalida-
ças Cardiovasculares (DCV)”. de cardiovascular (1,8-10).

Grau de recomendação B, Nível de evidência III Quadro 1. Fatores de risco para DCV
em pacientes com DRC Ref (11)
Justificativa: Pacientes com doença renal crônica,
Fatores de Risco Tradicionais
quando comparados à população geral, apresentam maior Idade avançada
prevalência de doenças cardiovasculares (DCV), incluin- Gênero masculino
do doença coronariana, cérebro-vascular, vascular perifé- Raça Branca
rica e insuficiência cardíaca. (1). Hipertensão
Alguns estudos têm demonstrado que o desenvolvi- Colesterol LDL elevado
mento da DCV é precoce no curso da DRC (2-4). Colesterol HDL diminuído
Alem disso, as doenças cardiovasculares consti- Diabetes mellitus
tuem a principal causa de óbito nos pacientes com DRC Fumo
em fases iniciais(5-7). Em análises de grandes populações, Inatividade física
Menopausa
tais como o “Hypertension Detection and Follow-up Pro-
Estresse psico-social
gram” (6) e no British Regional Heart Study (7), a princi-
História familiar de DCV
pal causa de óbito nos pacientes com alguma alteração da
função renal foram as DCV. Fatores de Risco Não Tradicionais
Tipo (diagnóstico) de DRC
“Todo paciente com Doença Renal Crônica (DRC) deve Taxa de filtração glomerular diminuída
ser avaliado quanto aos fatores de risco “tradicionais” e Proteinúria
“não tradicionais” para Doenças Cardiovasculares Atividade do sistema renina-angiotensina
(DCV)”. Sobrecarga do volume extracelular
Metabolismo de cálcio e fósforo anormal
Grau de recomendação B, Nível de evidência III Dislipidemia
Anemia
Desnutrição
Justificativa: Quando comparados à população
Inflamação
geral, os pacientes com DRC, apresentam maior prevalên- Infecção
cia de fatores de risco “tradicionais” para DCV (1,8). São Fatores trombogênicos
considerados fatores de risco “tradicionais”, aquelas variá- Estresse oxidativo
veis definidas na população geral através de estudos pros- Homocisteína elevada
pectivos de coorte, que se associam à ocorrência de DCV, Toxinas urêmicas
tais como presença de hipertensão e dislipidemia.
Outros fatores de risco associados à DCV são rela-
cionados à Doença Renal Crônica, e foram denominados “Todo paciente com DRC deve ser tratado para redução
fatores de risco “não tradicionais”. Estes incluem anorma- dos fatores de risco cardiovasculares modificáveis”.
lidades hemodinâmicas e metabólicas decorrentes da dis-
função renal. A prevalência de muitos dos fatores não tra- Grau de recomendação D, Nível de evidência V
dicionais aumenta à medida que a função renal diminui.
Entre eles anemia, os distúrbios do metabolismo de cálcio Justificativa: Não existem trabalhos prospectivos de
e fósforo, a sobre-carga de volume, dislipidemia, hiperho- grandes populações com DRC que demonstrem que a redu-
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 21

ção da ocorrência dos fatores de risco diminui a ocorrência substancialmente maiores em pacientes com DRC do que
de DCV assim como e a mortalidade. Entretanto extrapola- na população geral e a expectativa de vida da maioria dos
ções de evidências a partir dos resultados de estudos clínicos pacientes com DRC geralmente excede a duração do
na população geral têm sido aceitas para estes pacientes, tratamento necessário para os efeitos benéficos (11).
uma vez que os fatores de risco “tradicionais” para DCV Algumas medidas de redução dos fatores de risco
podem ser modificados em pacientes com DRC, os efeitos para DCV da população geral foram adaptadas para os
adversos da redução de fatores de risco não parecem ser pacientes com DRC (1,12).

REFERÊNCIAS

1. Levey AS, Beto JA, Coronado BE, Eknoyan G, Foley RN, 6. Shulman NB, Ford CE, Hall WD, Blaufox MD, Simon D, Lang-
Kasiske BL, Klag MJ, Mailloux LU, Manske CL, Meyer KB, ford HG, Schneider KA: Prognostic value of serum creatinine
Parfrey PS, Pfeffer MA, Wenger NK, Wilson PW, Wright JT, and effect of treatment of hypertension on renal function.
Jr.: Controlling the epidemic of cardiovascular disease in Results from the hypertension detection and follow-up pro-
chronic renal disease: what do we know? What do we need gram. The hypertension detection and follow-up program
to learn? Where do we go from here? National Kidney Foun- cooperative group. Hypertension 13: I80-93, 1989.
dation Task Force on Cardiovascular Disease. Am J Kidney
Dis 32:853-906., 1998 7. Wannamethee SG, Shaper AG, Perry IJ: Serum creatinine
concentration and cardiovascular disease: A possible marker
2. Barrett BJ, Parfrey PS, Morgan J, Barre P, Fine A, Goldstein for increased risk of stroke. Stroke 28,557-563, 1997.
MB, Handa SP, Jindal KK, Kjellstrand CM, Levin A, Mandin
H, Muirhead N, Richardson RM: Prediction of early death in 8. Parfrey PS: Cardiac disease in dialysis patients: diagnosis,
end-stage renal disease patients starting dialysis. Am J Kid- burden of disease, prognosis, risk factors and management.
ney Dis 29:214-22., 1997 Nephrol Dial Transplant 15:58-68., 2000
3. Culleton BF, Larson MG, Wilson PW, Evans JC, Parfrey PS, 9. Sarnak MJ, Levey AS: Cardiovascular disease and chronic
Levy D: Cardiovascular disease and mortality in a communi- renal disease: A new paradigma. Am J Kidney Dis, 35:S117-
ty-based cohort with mild renal insufficiency. Kidney Int S131, 2000.
56:2214-9., 1999
10. Coresh J, Longenecker JC, Miller ER III: Epidemiology of car-
4. Levin A, Singer J, Thompson CR, Ross H, Lewis M: Prevalent diovascular risk factors in chronic renal disease. J Am Soc
left ventricular hypertrophy in the predialysis population: iden- Nephrol 9:S24-S30, 1998.
tifying opportunities for intervention. Am J Kidney Dis
27:347-54., 1996 11. Association of chronic kidney disease with cardiovascular dis-
ease. Am J Kidney Dis, 39, 2(S1):S204-S212, 2002
5. Jungers P, Khoa TN, Massy ZA, Zingraff J, Labrunie M,
Descamps-Latscha B, Man NK. Incidence of atherosclerotic 12. Ritz E, Bianchi G, London GM, Marcelli D, Massy ZA, Parfrey
arterial occlusive accidents in predialysis and dialysis PS, Passlick- Deetjen, Rabelink TJ, Wanner C, Marx A. Clin-
patients: a multicentric study in the Ile de France district. ical algorithms on cardiovascular risk factors in renal patients.
Nephrol Dial Transplant.14(4):898-902, 1999 Nephrol Dial Transplant 15 (S5):123-154, 2000.
Potássio e Bicarbonato
Cláudia Maria de Barros Helou

POTÁSSIO rular estiver entre 10 e 60 ml/min. Estes são os casos (1,2)


em que o paciente:
Todo o paciente com Doença Renal Crônica (DRC) deve • aumentar a ingestão de maneira excessiva de fru-
ser avaliado para a prevenção da Hipercalemia e tas, legumes frescos, carnes e sais substitutivos do cloreto
Hipocalemia. de sódio. Ou então, no caso destes pacientes receberem
administração parenteral como pode ocorrer nas transfu-
Justificativa: A manutenção do potássio corpóreo sões sangüíneas.
depende de um balanço integrado. Onde, a ingestão e a • apresentar oligúria
absorção do potássio pelo intestino encontram-se de um • estiver em situação clínica de grande lise celular co-
lado e a sua eliminação pela urina e pelas fezes estão no mo ocorre nos casos de trauma, convulsões generalizadas, he-
outro lado. Assim, em condições normais, um indivíduo mólise e nos tratamentos com quimioterápicos das neoplasias.
deve ingerir cerca de 100 meq de potássio por dia, pois 90 Além das situações acima descritas, certos medica-
meq serão eliminados na formação diária da urina e os mentos dificultam a eliminação do potássio pelos rins. E
outros 10 meq na formação das fezes (1,2). assim, a hipercalemia poderá ocorrer. Os principais medi-
Na Doença Renal Crônica observam-se mecanis- camentos são os que bloqueiam a secreção e/ou a ação da
mos adaptativos para aumentar a excreção do K+ nos né- aldosterona (1,2). A Tabela 1 resume os principais exem-
frons remanescentes como também no intestino. Estes me- plos destes medicamentos.
canismos têm limite e assim, a hipercalemia será observa- Alerta: A avaliação do potássio plasmático é então
da quando a filtração glomerular atingir valores menores recomendada nas avaliações clínicas periódicas dos pacien-
do que 10 ml/min. Entretanto, a hipercalemia também po- tes portadores da Doença Renal Crônica em especial atenção
derá ocorrer em certas situações em que a redução da fil- aos que estiverem nas situações clínicas acima citada (1,2).
tração glomerular for moderada, ou seja a filtração glome- Atenção também deve ser dispensada quando o pa-

TABELA 1
Droga Nome Comercial Classe Ação
Espironolactona Aldactone Aldazida* Diurético Antagonista da aldosterona
Amiloride Moduretic* Amilorid* Diurético Bloqueador dos canais
de sódio no ducto coletor&
Captopril Capoten Hipotensor Inibidor da enzima de conversão da
Enalapril Renitec Angiotensina I em Angiotensina II
Lisinopril Zestril resultando em Hipoaldosteronismo
e outros e outros
Losartan Cozaar Hipotensor Bloqueador do receptor AT 1 da
Valsartan Diovan Angiotensina II resultando em
e outros e outros Hipoaldosteronismo
Trimetropim Bactrim* Antibiótico Bloqueador dos canais de sódio
no ducto coletor &
Heparina Heparina Anti-coagulante Inibidor da secreção da Aldosterona
Liquemine
* quando o medicamento é composto por associação de drogas
& o ducto coletor corresponde às porções distais do néfron
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 23

ciente apresentar acidemia metabólica e estiver em uso de Alerta: Como o risco da ocorrência da hipercale-
β-bloqueadores (Propranolol, Atenol, Selokem e outros). mia é maior nos pacientes com Doença Renal Crônica de-
Nestes casos, parte do estoque de potássio é liberado para vido a Diabetes Mellitus e/ou Nefrite Intersticial, as aten-
o extra-celular resultando em hipercalemia (1,2). ções descritas acima, em especial o uso de medicamentos
Os pacientes aidéticos também requerem vigilân- que impedem a eliminação do potássio na urina deve ser
cia pois podem apresentar Hipoaldosteronismo (3) e aumentada (7). Nível de evidência I, grau de reco -
muitas vezes estão recebendo altas dose de “Bactrim” mendação A
para o tratamento da Pneumocystis carinii (4). Nível de Atenção deve-se também, ao se analisar os resul-
evidência II grau de recomendação A tados divulgados de estudos epidemiológicos de grandes
amostras populacionais. Pois, alguns estudos podem rela-
Risco de Hipocalemia em pacientes portadores de tar uma baixa incidência de hipercalemia. Entretanto, esta
doença renal crônica observação poderá ser decorrente a um efeito “diluidor”
devido a grande amostragem de pacientes com Doença
Justificativa: A hipocalemia em pacientes porta- Renal Crônica (11) ou a exclusão destes pacientes do es-
dores de Doença Renal Crônica não é freqüente. Entre- tudo (6).
tanto, isto pode ocorrer nos pacientes (1,2): O risco da hipercalemia não difere entre os pa-
• com distúrbios no Sistema Digestório (vômitos, cientes com Doença Renal Crônica que recebem
diarréias). inibidor da ECA ou bloqueador do receptor da angio-
• em uso excessivo de diuréticos espoliadores de tensina II (7) ou que receberam os dois medicamentos
potásssio (“Lasix”). associados (6,12-14). Nível de evidência II, grau de
• em uso de broncodilatadores β estimulantes (Sal- recomendação A.
butamol, Berotec e outros). Nestes casos, esta drogas in-
duzem a entrada do potássio para o intra-celular.
• em restrição dietética excessiva. BICARBONATO
• e em situações de Doenças Tubulares como no
caso da Doença de Fanconi. Deverão ser suplementados com o bicarbonato de sódio
os pacientes portadores de Doença Renal Crônica com
Alerta: A preocupação em manter o potássio plas- acidose metabólica.
mático nos valores considerados normais (3,5 a 5 meq/l)
porque tanto a hipocalemia como a hipercalemia são fato- Justificativa: Diariamente, um indivíduo normal
res de risco para arritmias cardíacas e morte súbita (5). gera de 13 000 a 20 000 mmol de ácido volátil (ácido car-
Nível de evidência II grau de recomendação A bônico) e 40 a 60 mmol de ácidos fixos resultantes do seu
metabolismo. Esta carga ácida é eliminada através da in-
Os bloqueadores do sistema renina angiotensina devem tegração entre os Sistemas de Tampões, Respiratório e
ser utilizados com cautela em situações de hipoaldoste - Renal. Com a redução do número de néfrons, os rins não
ronismo-hiporreninêmico. conseguem exercer de maneira adequada esta função.
Assim, os pacientes portadores da Doença Renal Crônica
Nível de evidência I, grau de recomendação A passam a apresentar acidemia metabólica.
A suplementação com bicarbonato de sódio é reco-
Justificativa: O uso dos inibidores do Sistema Re- mendada a pacientes portadores de Doença Renal Crôni-
nina-Angiotensina (inibidores da ECA) vem sendo de- ca com acidemia metabólica nos casos em que o trata-
monstrado como benéfico no tratamento de pacientes por- mento dialítico não está indicado. A suplementação com
tadores de Doença Renal Crônica (6,7). Nível de evidên - bicarbonato de sódio exclui os pacientes com oligúria
cia I, grau de recomendação A e/ou risco de formação de edema e/ou risco de piora da
Entretanto, os pacientes portadores de Doença Re- Hipertensão Arterial (1-3). A recomendação da suple-
nal Crônica devido a Diabetes Mellitus e/ou Nefrite In- mentação com bicarbonato de sódio é para que os
tersticial apresentam risco de desenvolverem hipercale- pacientes tenham preservação da massa muscular e não
mia mesmo em vigência de Insuficiência Renal moderada desenvolvam doença óssea (4-8). Nível de evidência III,
(8-10). Estes pacientes apresentam deficiência em secre- grau de recomendação B.
tar aldosterona muitos por apresentarem a Síndrome do
Hipoaldosteronismo Hiporeninêmico. Nível de evidência Alerta: No caso dos pacientes portadores de
II, grau de recomendação A Doença Renal Crônica devido a doença tubular, a suple-
24 Potássio e Bicarbonato

mentação com bicarbonato de sódio deve ser feita como O nível do CO2 total deve ser ≥ 22 mEq/L. Se
também nas crianças na fase de crescimento (1,9). necessário, sais alcalinos devem ser administrados para
A determinação do CO2 total deverá ser feita atingir esta meta.
rotineiramente de acordo com o estágio da Doença Renal Nível de evidência I, grau de recomendação A.
Crônica: A suplementação de bicarbonato de sódio por via
Estágio 3 - cada 12 meses endovenosa poderá causar aumento da tonicidade plas-
Estágio 4 - cada 3 meses mática e risco de hipercalemia (10,11). Nível de evidência
Nível de evidência V, grau de recomendação D III, grau de recomendação B.

REFERÊNCIAS

1. KAMEL K.S., HALPERIN M.L., FABER M.D., STEIGER- sion, remission, regression of chronic renal diseases. Lancet
WALT S.P., HERLIG C.W., NARINS R.G.: Disorders of 357:1601-1608,2001.
Potassium Balance. In Brenner B.M. (ed.) The Kidney, 6th
ed., W.B. Saunders Company, Philadelphia, pp., 2000. 12. PRESTON R.A., BALTODANO N.M., ALONSO A.B,
EPSTEIN M.: Comparative effects on dynamic renal potassi-
2. OSORIO F.V., LINAS S.L.: Disorders of Potassium Metabo- um excretion of inhibition versus angiotensin receptor block-
lism. In Schrier R.W. (ed.) Atlas of Diseases of the Kidney, ade in hypertensive patients with type II diabetes mellitus. J.
http://www.kidneyatlas.org Clin. Pharmacol 42(7):754-61, 2002.
3. HOSHINO Y., YAMASHITA N., NAKAMURA T., IWAMOTO 13. AGARWAL R.: Add-on angiotensin receptor blockade with
A.: Prospective examination of adrenocortical function in maximized ACE inhibition. Kidney Int 59(6):2282-9, 2001.
advanced AIDS patients. Endocr J 49(6):641-7, 2002.
14. RUILOPE L.M., ALDIGIER J.C., PONTICELLI C., ODDOU-
4. MEDINA I., MILLS J., LEOUNG G., HOPEWELL P.C., LEE STOCK P., BOTTERI F., MANN J.F.: Safety of the combina-
B., MODIN G., BENOWITZ N., WOFSY C.B.: Oral therapy for tion of valsartan and benazepril in patient with chronic renal
Pneumocystis carinii pneumonia in the acquired immunodefi- disease. European Group for the Investigation of Valsartan in
ciency syndrome. A controlled trial of thrimethropim-sul- Chronic Renal Disaease. J. Hypertens 18(1):89-95, 2000.
famethoxazole versus thrimethoprim-dapsone. N Eng J Med
323(12):776-82, 1990.
5. MICHAUD G.F., STICHERLING C., TADA H., ORAL H., BICARBONATO
PELOSI F. JR, KNIGHT B.P., MORADY F., STRICKBERG- 1. KOPPLE J.D.: Dietary considerations in patients with
ER S.A., American Heart Association, American College of advanced chronic renal failure, acute renal failure, and trans-
Cardiology: Relationship between serum potassium concen- plantation. In Schrier R.W. & Gottschalk C.W. (ed) Diseases
tration and risk of recurrent ventricular tachycardia or ventric- of the kidney, 6th ed, Little, Brown and Company, Boston
ular fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 12(10):1109- pp2913-2962, 1997.
1112, 2001.
2. STEINMAN TI.: Kidney protection: how to prevent or delay
6. RUGGENENTI P., PERNA A., REMUZZI G.: ACE inhibitors chronic renal failure. Geriatrics 51(8):28-35, 1996.
to prevent end-stage renal disease: when to start and why
possibly never to stop: A Pos Hoc analysis of the REIN trial 3. BAILEY J.L., MITCH W.E.: Metabolic acidosis as a uremic
results. J Am Soc Neprol 12:2832-2837, 2001. toxin. Semin Nephrol 16(3):160-6, 1996.
7. BAKRIS G.L., WEIR M.R.: Angiotensin-converting enzyme 4. ROBERTS R.G., GILMOUR E.R., GOODSHIP T.H.: The cor-
inhibitor-associated elevations serum creatinine: is this a rection of acidosis does not increases dietary protein intake in
cause for concern? Arch Intern Med 160(5):685-93, 2000. chronic renal failure patients. Am J Kidney Dis 28(3):350-
3,1996.
8. SCHAMBELAN M., SEBASTIAN A., BIGLIERI E.G.: Preva-
lence, pathogenesis, and functional significance of aldos- 5. VEROVE C., MAISONNEUVE N., EL AZOUZI A., BOLDRON
terone deficiency in hyperkalemic patients with chronic renal A., AZAR R.: Effect of the correction of metabolic acidosis on
insufficiency. Kidney Int 17:89-94, 1980. nutritional status in elderly patients with chronic renal failure.
J Ren Nutr 12(4):224-8,2002.
9. DU BOSE T.D. JR: Hyperkalemic hyperchloremic metabolic
acidosis: Pathophysiologic insights. Kidney Int 51:591-602, 6. GARIBOTTO G., RUSSO R.,SOFIA A., SALA M.R., SABATI-
1997. NO C., MOSCATELLI P., DEFERRARI G., TIZIANELLO A.:
Muscle protein turnover in chronic renal failure patients with
10. CRONIN C.C., BARRY D., CROWLEY B., FERRIS J.B.: metabolic acidosis or normal acid-base balance. Miner Elec-
Reduced plasma aldosterone concentrations in randomly trolyte Metab 22 (1-3):58-61,1996.
selected patients with insulin-dependent diabetes mellitus.
Diabet Med 12(9):809-15,1995. 7. RUSTOM R., GRIME J.S., COSTIGAN M., MALTBY P.,
HUGHES A., TAYLOR W., SHENKIN A., CRITCHLEY M.,
11. RUGGENENTI P., SCHIEPPATI A., REMUZZI G.: Progres- BONE JM. Oral sodium bicarbonate reduces proximal renal
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 25

tubular peptide catabolism, ammoniogenesis, and tubular 10. PASSFALL J., PAI J., SPIES K.P., HALLER H., LUFT F.C.:
damage in renal patients. Renal Failure 20(2):371-82, 1998. Effect of water and bicarbonate loading in patients with chron-
ic renal failure. Clin Nephrol 47(2): 92-8, 1997.
8. LU K.C., LIN S.H., YU F.C., CHYR S.H., SHIEH S.D.: Influ-
ence of metabolic acidosis on serum 1,25(OH)2D3 levels in 11. CONTE G., DAL CANTON A., IMPERATORE P., DE NICO-
chronic renal failure. Miner Electrolyte Metab 21(6):398- LA L., GIGLIOTTI G., PISANTI N., MEMOLI B., FUIANO G.,
402, 1995. ESPOSITO C., ANDREUCCI V.E.: Acute increase in plasma
9. SORIANO J.R.: Renal Tubular Acidosis: The clinical entity. J osmolality as a cause of hyperkalemia in patients with renal
Am Soc Nephrol 13:2160-2170,2002. failure. Kidney Int 38(2):301-7, 1990.
Anemia da Doença Renal Crônica
Hugo Abensur

DIRETRIZES de eritropoetina e da presença de um estoque de ferro no


organismo. Portanto, nas situações de deficiência de ferro a
A presença de anemia deverá ser investigada em todo reposição de ferro torna-se imperiosa. Os critérios para re-
paciente com depuração de creatinina estimada menor posição de ferro são: saturação de transferrina < 20% e /ou
que 60mL/min/1,73m2 de superfície corpórea. (A) ferritina sérica < 100ng/mL. O ferro pode ser reposto ini-
cialmente por via oral, porém muitos pacientes terão que
Justificativa: Anemia é uma complicação freqüen- receber ferro por via endovenosa, pois o ferro por via oral
temente encontrada nos pacientes portadores de DRC e pode ocasionar intolerância gástrica e nem sempre é absor-
está relacionada com a intensidade da insuficiência renal vido em quantidade suficiente para repor de maneira ade-
1,2. (Nivel I) quada os estoques de ferro do paciente. No Brasil dispomos
de uma única preparação de ferro endovenoso que é o Sa-
Pesquisar as causas da anemia em todos os pacientes carato de Hidróxido de Ferro III (Noripurum‚). As ampolas
com DRC. (B) de 5 mL contém 100 mg de ferro elementar. Não existe
uma rotina bem definida de reposição de ferro EV em pa-
Justificativa: A anemia presente nos pacientes cientes com doença renal crônica não dialítica. Geralmente
portadores de doença renal crônica pode ser conseqüente à os pacientes recebem 1 ou 2 ampolas por semana por um
diversas causas, sendo a deficiência relativa de eritropoe- período de 1 a 2 meses, sendo necessária a monitorização
tina o fator mais comum 3,4. periódica dos níveis de saturação de transferrina e /ou
Além da deficiência de eritropoetina outras situa- ferritina. O ferro pode ser administrado por injeção lenta ou
ções podem contribuir para o advento de anemia em pa- em infusão diluído exclusivamente em soro fisiológico. O
cientes portadores de doença renal crônica, como: defi- emprego de ferro endovenoso é bem tolerado, porém é
ciência de ferro, deficiência de ácido fólico e vitamina recomendado que seja feito com supervisão médica ou de
B12; perdas sangüíneas, hemólise e inflamação. Estas si- enfermagem. Muitas vezes é verificada a correção da ane-
tuações, principalmente a deficiência de ferro que é a si- mia apenas com a reposição de ferro, prescindindo,
tuação mais comum (52%), devem ser pesquisadas antes portanto do emprego de eritropoetina6 (nível 2).
da introdução da terapia de reposição de eritropoetina5 (ní-
vel 3). Iniciar tratamento com eritropoetina nos pacientes por -
Os seguintes exames poderão fazer parte de uma tadores de doença renal crônica que permanecem anê -
investigação sumária de causa de anemia nesta população micos somente após correção e/ou excluir outras causas
de pacientes: de anemia. (A)
• índices hematimétricos
• contagem de reticulócitos Justificativa: Existem evidências demonstrando
• ferro sérico que o emprego de eritropoetina melhora significantemen-
• saturação de transferrina te a qualidade de vida de pacientes com doença renal crô-
• ferritina sérica nica no período pré-dialítico 7,8 (nível 2).
• pesquisa de sangue oculto nas fezes A Epo foi inicialmente empregada em pacientes
com IRC terminal em programa de diálise e demonstrou-
A reposição de ferro deverá ser feita nos pacientes com se bastante eficiente e segura nesta situação. Quanto ao
deficiência de ferro previamente à terapia com eritropoe - emprego no período de tratamento conservador houve
tina. (A) uma preocupação inicial, baseado em alguns trabalhos,
realizados em animais de experimentação, que evidencia-
Justificativa: A produção de glóbulos vermelhos ram que a Epo poderia acelerar a progressão da IRC .
depende, entre outros fatores, de uma quantidade adequada Vários estudos9-11 realizados em pacientes portado-
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 27

res de IRC em tratamento conservador mostraram que o em uma a 2 injeções por semana. Apenas a eritropoetina
emprego de Epo em pacientes com IRC pré-dialítica é efi- distribuída pela Jansen-Cilag (Eprex‚) não é recomendada
caz na correção da anemia e não acelera a perda de fun- em bula por via subcutânea, devido ao advento de alguns
ção renal residual e em alguns12,13 deles observou-se in- casos de aplasia pura de série vermelha, ocasionada por
clusive desaceleração da progressão para IRC terminal. anticorpos neutralizantes anti-eritropoetina, atribuídos pelo
Porém, na maioria deles houve necessidade, em cerca de fabricante como conseqüência do emprego subcutâneo da
30 a 40% dos pacientes, de introdução ou de aumento da medicação. Esta dose inicial deverá ser ajustada de acordo
medicação hipotensora. com a variação dos níveis de hematócrito e hemoglobina.
No momento ainda não estão definidos os níveis
de hematócrito para iniciar tratamento com eritropoetina Alerta: Introduzir eritropoetina apenas nos pa-
nesta população de pacientes. Como opinião do grupo de cientes com níveis controlados de pressão arterial e man-
elaboração destas diretrizes, sugerimos iniciar o emprego ter os pacientes com a pressão arterial adequada em vi-
de eritropoetina quando o hematócrito for menor que gência do tratamento com eritropoetina. (A)
30%, valor geralmente verificado quando a depuração de
creatinina é em torno 20 ml/min. Mais importante do que Justificativa: Desde os trabalhos iniciais com o
o valor numérico do hematócrito é repercussão da anemia emprego de eritropoetina, verificou-se que a eritropoeti-
no estado clínico geral do paciente. Da mesma forma, os na piora os níveis de pressão arterial 8,16 (nível 2), inclusi-
níveis alvos de hematócrito e hemoglobina ainda não ve foi demonstrado um efeito vasoconstritor direto da me-
estão definidos para esta população, portanto recomenda- dicação. Portanto, atenção especial deve ser dada a este
mos manter os níveis designados para pacientes em pro- aspecto, sobretudo para que não ocorra aceleração da pro-
grama de diálise: hematócrito de 33 a 36% e hemoglobina gressão da doença renal.
de 11 a 12 g/dL14.
A eritropoetina pode ser administrada por via endo- Alerta: A correção da anemia com eritropoetina
venosa (sem diluir, 1 a 2 minutos) ou subcutânea. A via nos pacientes com DRC e anemia falciforme deverá ser
subcutânea é a via preferencial para uma maior eficiência da feita com cautela, objetivando níveis de HB não su-
medicação15. A dose inicial é de 80-160 U/kg/sem, dividida periores a 9 g/dL para evitar crises de falcização17 (D).

REFERÊNCIAS

1. Coresh J, Wei GL, MacQuillan G,Brancati FL, Levey AS, effect of i.v. iron alone or in combination with low-dose ery-
Jones C, Klag MJ: Prevalence of high blood pressure and thropoietin in the rapid correction of anemia of chronic renal
elevated serumcreatinine level in United states: Findings from failure in the predialysis period. Clin Nephrol. 55(3):212-9,
the third National Health and Nutrition Examination Survey 2001.
(1988-1994). Arch Intern Med 161:1207-1216, 2001 (I)
7. Revicki DA, Brown RE, Feeny DH, Henry D, Teehan BP,
2. Levin A, Thompson CR, Ethier J, Carlisle EJ, Tobe Djurdjev Rudnick MR, Benz R. Health-related quality of life associated
O: Left ventricular mass index increase in early renal disease: with recombinant human erythropoietin therapy for predialysis
Impact of decline in hemoglobin. Am J Kidney Dis 34:125- chronic renal disease patients. Am J Kidney Dis 25(4):548-
134, 1999 (I) 54, 1995.
3. McGonigle RJ, Wallin JD, Shadduck RK, Fisher JW: Erythro- 8. The US Recombinant Human Erythropoietin Predialysis
poietin deficiency na inhibition of erythropoiesis in renal insuf- Study Group. Double-blind, placebo-controlled study of the
ficiency. Kidney Int 25:437-444, 1984. therapeutic use of recombinant human erythropoietin for ane-
4. Radtke HW, Claussner A, Erbes PM, Scheuermann EH, mia associated with chronic renal failure in predialysis
Schoeppe W, Koch KM: Serum erythropoietin concentration patients. Am J Kidney Dis 18(1):50-9,1991.
in chronic renal failure: Relatioship to degree of anemia and 9. Frenken LAM e cols. Efficacy and Tolerance of Treatment
excretory renal function. Blood 54:877-884, 1979. with Recombinant-Human Erythropoietin in Chronic Renal
5. Hutchinson FN, Jones WJ. A cost-effectiveness analysis of Failure (Pre-Dialysis) Patients. Nephrol Dial Transplant 4:
anemia screening before erythropoietin in patients with end- 782-86, 1989.
stage renal disease: Am J Kidney Dis 29(5):651-7, 1997. 10. Austrian Multicenter Study Group. Effectiveness and Safety
6. Silverberg DS, Blum M, Agbaria Z, Deutsch V, Irony M, of Recombinant human Erythropoietin in Predialysis Patients.
Schwartz D, Baruch R, Yachnin T, Steinbruch S, Iaina A: The Nephron 61:399-403, 1992.
28 Anemia da DRC

11. Roth D e cols. Effects of r-HuEpo on renal function in chron- 30:4(3):S194-S240, 1997.
ic renal failure pre-dialysis patients. Am J Kid Dis 24:777-
784, 1994. 15. Besarab A, Reyes CM, Hornberger J. Meta-analysis of sub-
cutaneous versus intravenous epoetin in maintenance treat-
12. Schärer e cols. Treatment of renal anemia by subcutaneous ment of anemia in hemodialysis patients. Am J Kidney Dis
erythropoietin in children with preterminal chronic renal fail- 40(3):439-46, 2002.
ure. Acta Paediatr 82: 953-8, 1993
16. Canadian Erythropoietin Study Group. Effect of recombinant
13. Kuriyama S e cols. Reversal of Anemia by Erythropoietin human erythropoietin therapy on blood pressure in hemodialysis
Therapy Retards the Progression of Chronic Renal Failure, patients. Am J Nephrol 11(1):23-6, 1991.
Especially in Nondiabetic Patients. Nephron 77: 176-185, 19
17. van Ypersele de Strihou C. Should anaemia in subtypes of
14. NKF-DOQI Clinical Paractice Guidelines for The Treatment of CRF patients be anaged differently? Nephrol Dial Trans-
Anemia of Chronic Renal Failure. Am J Kidney Dis plant. 14 Suppl 2:37-45, 1999.
Osteodistrofia Renal
Aluízio Barbosa de Carvalho

Avaliação do metabolismo do cálcio e fósforo Nível de evidência IV / Grau de recomendação C


(Estágio 5)
Os níveis de cálcio, fósforo e PTH-intacto (PTHi)
devem ser determinados em todos os pacientes com Justificativa: Os níveis-alvo de paratormônio são
Doença Renal Crônica (DRC) nos quais a taxa de filtração baseados nos ensaios que medem o PTHi. Tais ensaios de -
glomerular (TFG) esteja abaixo de 60 mL/min/1,73 m2. A tectam também frações biologicamente inativas do hor -
freqüência das determinações deve ser baseada no estágio mônio (PTH 7-84), de forma que o diagnóstico de hiper -
da DRC, conforme a Tabela 1. paratiroidismo pode ser superestimado (7-9). Para pa -
As medidas devem ser mais freqüentes nos trans- cientes em Estágio 5, níveis de PTHi entre 150 e 300
plantados renais ou em qualquer paciente com DRC que pg/mL mostraram ser os ideais para manutenção da re -
esteja em tratamento dos distúrbios do metabolismo do modelação óssea dentro da normalidade (2,10). Deve-se
cálcio e fósforo. salientar que dois grandes estudos, desenvolvidos na Eu -
ropa e EUA, demonstraram que quase 80% dos pacientes
Nível de evidência I / Grau de recomendação A em diálise apresentavam PTHi fora dos níveis-alvo (5,6).

Justificativa: Além dos já conhecidos efeitos sobre Avaliação da Doença óssea na DRC
o osso (1,2), o distúrbio mineral e as alterações do PTHi
em pacientes com DRC têm sido recentemente associados O padrão-ouro para a determinação do tipo de
à calcificação cardiovascular (3) e a mortalidade (4-6). doença óssea associada a DRC é a biópsia óssea com du-
Procurar sempre individualizar a monitorização, par - pla marcação pela tetraciclina, seguida de análise histo-
ticularmente se o paciente estiver no limite entre di - morfométrica.
ferentes estágios da DRC.
Os limites-alvo de PTHi plasmático nos vários Nível de evidência I / Grau de recomendação A
estágios da DRC estão na Tabela 2.
Justificativa: A doença óssea é uma freqüente
Nível de evidência V / Grau de recomendação D complicação da DRC e pode contribuir para a calcifica -
(Estágios 3 e 4) ção extra-óssea, principalmente a do tipo vascular

TABELA 1 – Freqüência de dosagens de Ca, P e PTHi de acordo com o estágio da DRC


Estágio da DRC Filtração Glomerular Dosagem de PTHi Dosagem de Ca e P
(mL/min/1,73 m2) (frequëncia) (frequëncia)
3 30-59 Anual Anual
4 15-29 Trimestral Trimestral
5 < 15 ou diálise Trimestral Mensal

TABELA 2 – Níveis-alvo de PTHi de acordo com o estágio da DRC


Estágio DRC Filtração glomerular (mL/min/1,73 m 2) PTHi alvo (pg/mL)
3 30-59 35-70 (Opinião)
4 15-29 70-110 (Opinião)
5 < 15 ou diálise 150-300 (Evidência)
30 Osteodistrofia Renal

(11,12). Torna-se necessária, portanto, a avaliação do te - Justificativa: Nível elevado de fósforo sérico é
cido ósseo com a finalidade de otimizar a prevenção e o altamente preditivo de mortalidade, causada possivel -
tratamento da doença óssea. mente por calcificação vascular (6,20,21).
Apesar de ser método padrão-ouro, a biópsia óssea
não se faz necessária na maioria das situações da prática Restrição de fósforo dietético
clínica. Porém, a biópsia óssea deve ser considerada em
pacientes em diálise (Estágio 5) que apresentem níveis de O fósforo dietético deve ser restrito em 800 a 1000
PTHi entre 100 e 500 pg/mL, associados à ocorrência mg/dia (ajustado às necessidades protéicas) quando os
inexplicável de hipercalcemia ou elevação da fosfatase al- níveis de fósforo sérico forem maiores que 4,6 mg/dL
calina ou, então, à suspeita de doença óssea por Al. (Estágios 3 e 4) ou maiores que 5,5 mg/dL (Estágio 5); ou
então quando os níveis de PTHi estiverem acima do
Nível de evidência III / Grau de recomendação A recomendado para o estágio da DRC (Tabela 2).

Justificativa: A biópsia óssea está indicada quan - Nível de evidência III / Grau de recomendação A
do se esgotarem outros métodos diagnósticos da doença
óssea, especialmente naqueles pacientes com PTHi entre Justificativa: A retenção de fósforo tem início
120 e 350 pg/mL (2,10). precoce no curso da DRC. O controle da ingestão de fós -
Radiografias ósseas, embora não indicadas para foro é o primeiro passo lógico no manuseio e prevenção
avaliação da doença óssea, são úteis na detecção de da hiperfosfatemia (22).
fraturas, calcificação vascular periférica severa e doença
óssea devido a amiloidose por β2-microglobulina. Uso de quelantes de fósforo

Nível de evidência III / Grau de recomendação A Deve ser instituído quando não houver controle do
fósforo ou do PTHi (Diretrizes 1 e 3) apesar da restrição
Justificativa: A importância da radiografia na do fósforo dietético (Diretriz 4).
avaliação da doença óssea reside no fato de a ocorrência Os quelantes de fósforo à base de cálcio são efeti-
de uma única fratura ser indicativa de risco para novas vos e podem ser utilizados como terapia inicial, desde que
fraturas (13,14). O uso da radiografia na detecção de na ausência de hipercalcemia (Cálcio total corrigido >
calcificação vascular ou, como método auxiliar no diag - 10,2 mg/dL), de PTHi < 150 pg/mL e de calcificação
nóstico da amiloidose, é consenso na literatura. extra-óssea. A dose total de cálcio elementar fornecida
Densitometria óssea deve ser realizada naqueles pelo quelante não deve ultrapassar 1500 mg/dia ou 2000
pacientes com fraturas e naqueles com fatores de risco mg/dia quando incluído o cálcio da dieta.
para osteoporose (menopausa, outras causas de insufi- Para pacientes no Estágio 5 quelantes de fósforo à
ciência gonadal, tabagismo, raça caucasiana, idade > 65 base de cálcio e outros que não contenham cálcio, alumí-
anos, hiperparatiroidismo grave, doença óssea de baixa re- nio (Al) ou magnésio (tal como o sevelamer®) são efeti-
modelação e medicamentos, tais como, corticosteróides). vos e podem também ser usados como terapia inicial. No
caso de persistência de hiperfosfatemia, uma combinação
Nível de evidência III / Grau de recomendação B de ambos os tipos de quelantes pode ser utilizada.

Justificativa: Estudos recentes tem demonstrado Nível de evidência I / Grau de recomendação A


um risco aumentado de fraturas em pacientes com DRC
(15,16). Estudos nacionais tem evidenciado alta prevalên - Justificativa: Vários estudos mostraram efetivi -
cia de osteopenia evidenciada quer pela densitometria quer dade de todos os quelantes em baixar o fósforo sérico
pela biópsia óssea (17,18). No entanto, ainda é discutível a (23-30). A maioria dos estudos, alguns com metanálise,
correlação entre densitometria óssea e fraturas (19). avaliou os quelantes à base de cálcio (28,31-34). A reco -
mendação para a não utilização de quelante à base de
Avaliação do fósforo sérico cálcio quando o PTHi estiver baixo, deve-se ao fato de
que tais pacientes comumente apresentam doença óssea
O nível de fósforo sérico deve estar entre 2,7 e 4,6 de baixa remodelação e nestes casos o osso torna-se
mg/dL (Estágios 3 e 4) e entre 3,5 e 5,5 mg/dL (Estágio 5). incapaz de incorporar uma sobrecarga de cálcio (35).

Nível de evidência I / Grau de recomendação A Avaliação do cálcio sérico e produto cálcio-fósforo


J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 31

Pacientes nos Estágios 3 a 5 gido retorne a níveis próximos do limite inferior (entre 8,4
e 9,5 mg/dL).
Os níveis de cálcio total corrigido devem ser man- Caso a hipercalcemia persista, apesar de tomadas
tidos dentro do valor normal dado pelo laboratório de re- as medidas anteriormente assinaladas, dialisato com redu-
ferência (Estágios 3 a 5), sendo que em pacientes no Es- zida concentração de cálcio (1,5 a 2,0 mEq/L) pode ser
tágio 5 devem ser preferencialmente mantidos dentro dos usado por 3 a 4 semanas.
valores mais baixos (entre 8,4 e 9,5 mg/dL). Paciente cujo O produto cálcio-fósforo deve ser mantido abaixo
cálcio sérico esteja abaixo do nível normal deverá receber de 55 mg2/dL2, sendo isto mais facilmente alcançado
suplementação de cálcio, na forma de carbonato de cálcio, através do controle do fósforo sérico.
e/ou vitamina D se: a) existirem sintomas clínicos de hi-
pocalcemia, tais como, parestesia, sinais de Chvostek e Nível de evidência II / Grau de recomendação A
Trousseau, broncoespasmo, laringoespasmo, tetania e/ou
convulsões, ou b) os níveis de PTHi estiverem acima do Justificativa: Uma associação pôde ser observa -
recomendado para o estágio da DRC (Tabela 2). da entre produto Ca-P e risco de morte, em uma popula -
ção americana de 2669 pacientes tratados por hemodiá -
Nível de evidência II / Grau de recomendação A lise (HD) por pelo menos 1 ano (20). Pacientes com pro -
duto Ca-P acima de 72 (20% dos pacientes) tinham 34%
Justificativa: Pacientes com TFG abaixo de 60 mais risco de morte, comparados àqueles com produto
mL/min/1,73 m2 apresentam comum, mas não invariavel - Ca-P entre 42 e 52. Além disso, para cada aumento de 10
mente, níveis séricos reduzidos de cálcio total e iônico no produto Ca-P, houve um aumento de 11% no risco re -
(36,37). Os níveis de cálcio sérico diminuem conforme a lativo de morte. Embora os estudos existentes não sejam
função renal se deteriora (38). Poucos estudos, publica - controlados para potenciais variáveis influenciadoras,
dos no início da década de 70, sugeriam que a hipocalce - seria razoável concluir que um elevado produto Ca-P pu -
mia poderia ter conseqüências danosas para pacientes desse conduzir ao risco de calcificação vascular (43, 44,
com DRC (39,40,41). No entanto, um estudo de coorte, 45, 46). Assim, a evidência, ora disponível, pode ser limi -
com 433 pacientes, em início de programa de diálise e se - tada, mas parece bastante provável que o evento primá -
guidos prospectivamente, mostrou que a hipocalcemia rio (taxa aumentada de mortalidade) e o secundário (cal -
esteve associada a aumento de mortalidade (42). cificação extra-esquelética) estejam relacionados ao pro -
duto Ca-P.
Pacientes no Estágio 5
Prevenção e tratamento da deficiência de vitamina D
Na vigência de hipercalcemia (cálcio total corrigi-
do > 10,2 mg/dL) as seguintes medidas devem ser toma- Se o PTHi estiver acima do esperado para o está-
das: se a hipercalcemia estiver associada a níveis mais re- gio da DRC (Tabela 1) a 25-hidroxivitamina D deve ser
duzidos de fósforo, a dose de quelante a base de cálcio de- dosada. Estando normal, a determinação da vitamina D
verá ser diminuída; se a hipercalcemia estiver associada a deverá ser repetida anualmente. Se os níveis séricos de
hiperfosfatemia, a dose de vitamina D deve ser diminuída 25-hidroxivitamina D estiverem abaixo de 30 ng/mL, a
ou sua terapia descontinuada até que o cálcio total corri- suplementação com vitamina D2 (ergocalciferol) deve ser

TABELA 3 – Suplementação de vitamina D recomendada para pacientes DRC


com insuficiência/deficiência da vitamina (Estágios 3 e 4)
25(OH) D3 Definição Dose de Ergocalciferol Duração Comentários
sérica (ng/mL) (Vitamina D2) (meses)
<5 Deficiência 50.000 UI/semana, via oral, 6 Dosar 25(OH)D3 após
severa de Vit. D x 12 semanas; após, mensal 6 meses
50.000 UI / I.M. Assegura aderência do paciente;
dose única dosar 25(OH)D3 após 6 meses
5 – 15 Deficiência leve 50.000UI/semana x 4 semanas, 6 Dosar 25(OH)D3;
de Vit.D após 50.000 UI/mês, via oral após 6 meses
16 - 30 Insuficiência de Vit. D 50.000 UI/mês, via oral 6
32 Osteodistrofia Renal

iniciada. A partir de então, os níveis de cálcio e fósforo ativa, os níveis de cálcio e fósforo devem ser
devem ser monitorizados a cada 3 meses e, em caso de hi- monitorizados ao menos 1 vez por mês, nos primeiros 3
percalcemia e/ou hiperfosfatemia a terapia com vitamina meses e, a seguir, a cada 3 meses. O PTHi deve ser
D deve ser suspensa (Tabela 3). dosado a cada 3 meses. A vitamina D ativa deve ser
suspensa se o PTHi estiver abaixo do recomendado e a
Nível de evidência I / Grau de recomendação A metade da dose anterior reintroduzida quando o PTHi
retornar a seus níveis desejados. Se a dose de vitamina D,
Justificativa: A insuficiência de 25-hidroxivitami - utilizada anteriormente, já for a mais baixa, passar a
na D é talvez um aspecto negligenciado no controle do prescrever a medicação em dias alternados. Se os níveis
PTH e do metabolismo Ca-P na DRC. No entanto, há de cálcio sérico estiverem elevados a prescrição de
evidências de que baixo nível de vitamina D é um fator vitamina D deve seguir o mesmo procedimento anterior.
importante para o desenvolvimento do hiperparatiroidis - Se os níveis de fósforo sérico estiverem elevados (> 4,6
mo secundário e, conseqüentemente da osteodistrofia re - mg/dL), suspender a vitamina D e iniciar ou aumentar a
nal (47-51). dose de quelantes de fósforo até que seus níveis retornem
à faixa recomendada (Tabela 5).
Tratamento com vitamina D ativa
Nível de evidência V / Grau de recomendação D
O tratamento com vitamina D ativa (calcitriol,
alfacalcidol) está indicado quando os níveis séricos de 25- Justificativa: Até o presente momento, o trata -
hidroxivitamina D forem > 30 ng/mL e o PTHi estiver mento com vitamina D ativa é a única opção terapêutica
acima do recomendado para o estágio da DRC. As doses para pacientes com níveis elevados de PTH e níveis con -
de calcitriol ou alfacalcidol devem ser de 0,25 µg/dia. O trolados de fósforo. No entanto, não é eficaz em todos os
tratamento com vitamina D ativa só deve ser instituído se pacientes e o risco de episódios de hipercalcemia e hiper -
os níveis de cálcio e fósforo estiverem normais e vitamina fosfatemia deve sempre ser considerado. Deve-se ressal -
D ativa não deve ser prescrita a pacientes com deteriora- tar que altas doses de vitamina D são freqüentemente
ção rápida da função renal (Tabela 4). prescritas para pacientes com DRC Estágio 5 para o con -
trole do PTH. Infelizmente, porém, seus efeitos sobre o
Nível de evidência I / Grau de recomendação A metabolismo mineral fazem com que os níveis de cálcio e
fósforo dificilmente alcancem os níveis-alvo recomenda -
Após o início do tratamento com vitamina D dos (52-57).

TABELA 4 – Valores de PTH, Cálcio e fósforo necessários para o início de terapia


com vitamina D oral e doses iniciais recomendadas para pacientes com DRC (Estágios 3 e 4)
PTHi (pg/mL) Ca sérico (mg/dL) P sérico Dose oral Dose oral alfa- Dose oral doxercalci-
(mg/dL) calcitriol ( g/dia) calcidol ( g/dia) ferol ( g 3x/semana)
> 65 (DRC 3) < 9,5 < 4,6 0,25 0,25 2,5
> 100 (DRC 4)

TABELA 5 – Dose inicial de vitamina D recomendada


de acordo com os níveis de PTHi, cálcio, fósforo e produto Ca-P
PTHi Ca P Produto Dose/HD Dose/HD Dose/HD
(pg/mL) (mg/dL) (mg/dL) Ca-P (mg2/dL2) Calcitriol1,2 Paricalcitol1 Doxercalciferol2
300 – 600 < 9,5 < 5,5 < 55 IV 0,5-1,5µg 2,5-5,0µg IV 2µg Oral 5µg
Oral 0,5-1,5µg
600 – 1000 < 9,5 < 5,5 < 55 IV 1,0-3,0µg 6,0-10,0µg IV 2-4µg
Oral 1,0-4,0µg Oral 5-10µg
> 1000 < 10,0 < 5,5 < 55 IV 3,0-5,0µg 10,0-15,0µg IV 4-8µg
Oral 3,0-7,0µg Oral 10-20µg
1Intra-venoso
2Oral
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 33

Concentração de cálcio no dialisato DFO) deve ser realizado se o Al sérico estiver acima de
30 µg/L, na presença de sinais ou sintomas de intoxicação
A concentração de cálcio no dialisato (HD ou ou anteriormente à paratiroidectomia, nos pacientes
peritoneal) deve ser de 2,5 mEq/L. previamente expostos ao Al.
Concentrações maiores ou menores estão indica- O teste ao DFO é feito através da infusão de
das para casos específicos. 5mg/kg de DFO durante a última hora da 1ª. ou 2ª. sessão
de HD da semana, com determinações do Al sérico antes
Nível de evidência V / Grau de recomendação D da infusão e 44 horas após, antes da próxima sessão de
HD; o teste é considerado positivo se o incremento de Al
Justificativa: A utilização de dialisato com baixa sérico for maior ou igual a 50 µg/L; o teste ao DFO não
concentração de cálcio deve ser feita com indicação pre - deve ser feito se o Al sérico for maior que 200 µg/L, para
cisa, isto é, em casos de hipercalcemia resultante de so - se evitar neurotoxicidade induzida pela droga.
brecarga de cálcio e não decorrente de hiperparatiroidis - O diagnóstico padrão-ouro de doença óssea por Al é
mo severo refratário. A indicação para o uso de dialisato a biópsia óssea com coloração específica para Al, consi-
com níveis elevados de cálcio é duvidosa, pois a hipocal - derada positiva quando a superfície óssea estiver recoberta
cemia pode ser facilmente controlada através de vitamina por Al em mais de 15-25%. A presença de doença óssea por
D e quelante de fósforo (58). Al pode ser predita pelo teste ao DFO positivo, combinado
com níveis de PTHi menores que 150 pg/mL. Um aumento
Amiloidose por 2-microglobulina do Al sérico 2,5 vezes acima de seu valor basal, associado a
um nível de PTHi menor que 150 pg/mL é altamente
Nenhuma terapia atual (exceto o transplante renal) sugestivo de doença óssea por Al. O status de ferro do
é capaz de interromper a progressão ou aliviar os sinto- paciente deve ser considerado antes do teste ao DFO.
mas da amiloidose por β2-microglobulina. Dessa forma,
o transplante renal deve ser considerado quando do trata- Nível de evidência III / Grau de recomendação B
mento desta patologia.
Na avaliação da amiloidose por β2-microglobuli- Justificativa: A incidência de intoxicação alumí -
na, qualquer tipo de abordagem, incluindo sua dosagem nica tem diminuído de maneira importante nos últimos
sérica, não é recomendada. Nos pacientes com evidência anos, devido ao controle de Al no dialisato e da redução
ou risco de desenvolver a doença, dialisadores mais bio- no uso de quelantes de fósforo contendo Al (61-63). Con -
compatíveis e de alto fluxo devem ser usados. centrações séricas de Al acima de 60 g/L são geral -
mente indicativas de intoxicação alumínica, conseqüente -
Nível de evidência III / Grau de recomendação B mente dispensando o teste ao DFO (64). O status de ferro
do paciente deve ser considerado previamente à interpre -
Justificativa: A deposição amilóide é uma fre - tação do teste ao DFO (65,66).
qüente complicação da DRC, principalmente naqueles
pacientes há longo tempo em diálise. Se fosse economica - Tratamento da Intoxicação alumínica
mente viável, membranas de alto fluxo e mais biocompa -
tíveis deveriam ser utilizadas em todos os pacientes, com Em todos os pacientes com níveis séricos de Al
a finalidade de reduzir o risco de amiloidose por 2-mi - acima de 60 µg/L, teste ao DFO positivo ou sintomas
croglobulina (59,60). clínicos, compatíveis com intoxicação alumínica, a fonte
de Al deve ser identificada e eliminada.
Sobrecarga e intoxicação por alumínio na DRC Em pacientes sintomáticos com níveis séricos de
Al entre 60 e 200 µg/L ou um delta de Al, pelo teste ao
Com relação à prevenção da intoxicação alumíni- DFO, maior que 50 µg/L, DFO deve ser administrado
ca: a administração de quelantes a base de Al não deve ser para tratar sobrecarga alumínica.
utilizada; a concentração do metal no dialisato deve ser Para se evitar neurotoxicidade induzida por droga
inferior a 10 mg/L; sais de citrato não devem ser adminis- em pacientes com Al sérico maior que 200 µg/L, DFO
trados pois estimulam a absorção intestinal de alumínio; não deve ser administrada até que se tenha realizado 6
Al sérico deve ser dosado a cada 3 meses, caso o paciente sessões de HD (6 dias/semana) com membranas de alto
esteja em uso de quelantes a base de Al ou, anualmente, fluxo e um nível de alumínio no dialisato menor que 5
nos demais pacientes; níveis séricos de Al devem estar µg/L e, até que o nível sérico pré-dialítico de Al tenha
abaixo de 20 µg/L; o teste a deferoxamina (Desferal®; sido reduzido para menos de 200 µg/L.
34 Osteodistrofia Renal

Nível de evidência III / Grau de recomendação B onde a exposição ao Al foi reduzida (61,71-80). A re -
dução de massa óssea na forma de osteoporose é um as -
Justificativa: Embora tenha sido menos freqüente pecto da osteodistrofia renal que tem sido freqüentemente
a identificação de casos clinicamente relevantes de into - observado (17,18,81).
xicação alumínica, o nefrologista deve sempre estar
consciente da possibilidade de ocorrência de intoxicação Paratiroidectomia (PTX) em pacientes com DRC
pelo Al e prontamente tratá-la, a fim de evitar a doença
óssea, distúrbios hematológicos e neurotoxicidade. A re - Indicada nos pacientes com níveis de PTHi persis-
moção da fonte de Al é o mais seguro e efetivo tratamento tentemente elevados (usualmente maiores que 800-1000
para intoxicação alumínica (63,64,67-70). pg/mL), com hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia refratá-
rias à terapêutica clínica. A PTX efetiva deve seguir a
Tratamento da Osteodistrofia renal técnica total com autotransplante em antebraço ou pré-es-
ternal, e crio-preservação de tecido paratiroideano em
Hiperparatiroidismo e doença mista - Se os níveis nitrogênio líquido.
de PTHi estiverem acima do recomendado em mais de Em pacientes que realizarem PTX, as seguintes
duas medidas consecutivas, a ingestão de fósforo deverá medidas devem ser tomadas: a) dosar o cálcio iônico (Cai)
ser restrita. Se a restrição dietética for ineficaz em reduzir a cada 4-6 h nas primeiras 48-72hs após a cirurgia; depois
o PTHi, calcitriol ou um de seus análogos deverão ser de 12/12hs; b) se o Cai estiver progressivamente em queda
prescritos para prevenir/melhorar a doença óssea (Está- ou abaixo de 1,11 mmol/L (hipocalcemia), infundir
gios 3 e 4). Para pacientes no Estágio 5, provavelmente já gluconato de Ca na velocidade de 1-2 mg de cálcio ele-
com sinais de hiperatividade de PTH no tecido ósseo, mento / kg de peso / hora e ajustar a dose até que se
além da restrição dietética, calcitriol ou um de seus aná- obtenha o Cai normal (1,11-1,40 mmol/L). Uma ampola
logos devem ser administrados. de 10 mL de gluconato de Ca 10% contém 90 mg de Ca
Osteomalácia secundária à intoxicação alumínica elemento; c) A infusão de Ca deve ser gradualmente dimi-
deve ser prevenida em pacientes em diálise através da ma- nuída até que o Cai sérico permaneça normal e estável; d)
nutenção da concentração de Al no dialisato abaixo de 10 calcitriol pode ser iniciado até uma semana antes da PTX
µg/L e evitando compostos que contenham Al. Sobrecar- com a finalidade de diminuir o risco de hipocalcemia.
ga alumínica que conduza à doença óssea deve ser tratada
com DFO. Osteomalácia secundária à deficiência de vita- Alerta: Atentar para os valores de Cai do labora-
mina D ou à depleção de fósforo deve ser tratada com su- tório de apoio. Há grande variabilidade dos valores de
plementação de vitamina D 2 ou D3 e/ou fosfato, respecti- referência.
vamente. Se houver falha no tratamento, particularmente Assim que possível, introduzir por via oral, 3-4 ve-
em pacientes no Estágio 5 da DRC, vitamina D ativa po- zes ao dia, carbonato de cálcio, inicialmente na dose de 1-
derá ser administrada. As doses de fosfato podem ser 2 g e calcitriol na dose de 1-2 µg. Estas doses devem ser
aumentadas até que se alcancem valores normais de fós- ajustadas para manter o Cai dentro do normal. Suspender
foro sérico. quelantes de fósforo. Em caso de necessidade de re-inter-
Doença óssea adinâmica (determinada por biópsia venção cirúrgica, a avaliação das paratiróides deve ser
óssea ou PTHi menor que 100 pg/mL) deve ser tratada de feita preferencialmente através da cintilografia com Ses-
maneira que o PTH se eleve, para que haja aumento da re- tamibi-99Tc. Tomografia computadorizada ou ressonância
modelação óssea. Isso pode ser alcançado através da re- magnética podem ser úteis nos casos em que a cintilogra-
dução da dose ou suspensão de quelantes de fósforo a ba- fia for negativa.
se de cálcio e/ou vitamina D, além do uso de dialisato
com baixas concentrações de cálcio. Nível de evidência V / Grau de recomendação D
É aconselhável que a densidade mineral óssea seja
quantificada como parte da avaliação do perfil ósseo. Justificativa: A PTX subtotal apresenta alta inci -
dência de recorrência do hiperparatiroidismo e a PTX
Nível de evidência III / Grau de recomendação B total de hipoparatiroidismo. Embora a PTX total com
autotransplante exija o apoio de centros mais especiali -
Justificativa: Estudos recentes demonstraram que zados que ofereçam condições para a preservação de
mais da metade de pacientes em HD exibem hiperparati - tecido paratireoideano, esse tipo de cirurgia tem sido o
roidismo secundário. Além disso, a incidência de doença de escolha entre especialistas da área, clínicos e cirur -
óssea de alta remodelação tem aumentado nos países giões (82-87).
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 35

Acidose metabólica Nível de evidência II / Grau de recomendação A

A determinação do CO 2 total ou bicarbonato plas- A densidade mineral óssea (DMO) deve ser men-
mático deverá ser feita na mesma freqüência com que se surada, em todos os pacientes transplantados, por densito-
determina o cálcio e fósforo (vide Tabela 1). metria (DEXA) de coluna lombar e colo de fêmur, na
O nível de CO2 total ou bicarbonato deve ser man- época do Tx e após 1 e 2 anos do mesmo. Se a DMO (Z-
tido acima de 22 mEq/L. Se necessário, sais alcalinos de- score) for menor que –1 na época do Tx, ou em subse-
vem ser administrados para atingir esta meta. qüentes avaliações, a terapia com bisfosfonatos deve ser
considerada. O tratamento dos distúrbios do metabolismo
Nível de evidência II / Grau de recomendação A mineral e ósseo é determinado pelo grau de função renal
e deve seguir as recomendações para cada caso.
Justificativa: A acidose metabólica contribui
para o desenvolvimento e agravamento da osteodistrofia Nível de evidência V / Grau de recomendação D
renal em pacientes com DRC. O controle da acidose pode
ajudar a corrigir o PTH e o distúrbio mineral e, conse - Justificativa: Imediatamente após o Tx, alguns pa -
qüentemente, a doença óssea (88-95). cientes estão sob risco de hipercalcemia, devido à hiper -
plasia das paratiróides e o desenvolvimento de hipofosfa -
Doença óssea pós-transplante renal temia, resultante das altas taxas de excreção de fósforo
(96-99,100-104). A indicação do Z-score, como referên -
Os níveis séricos de cálcio, fósforo, bicarbonato e cia para avaliação da massa óssea, deve-se ao fato de
PTHi devem ser monitorizados antes e após o transplante que o T-score não leva em consideração a idade do pa -
renal (Tx) conforme a Tabela 6. Durante a primeira sema- ciente e, assim, muitos jovens com DMO reduzida pode -
na de Tx, o fósforo sérico deve ser medido diariamente. riam não ser elegidos para tratamento. Na prática, a
Hipofosfatemia (fósforo sérico abaixo de 2,5 mg/dL), se maioria dos pacientes perde DMO após o Tx, principal -
presente, deve ser tratada com suplementação de fósforo. mente no 1º ano (105-112). A mais forte indicação para a
Para minimizar a perda de massa óssea e osteone- terapia com bisfosfonatos é, portanto, para aqueles pa -
crose, o esquema imunossupressor deve ser ajustado para cientes que apresentem baixa DMO já no momento do Tx
a mais baixa dose de corticosteróide. (113-115).

TABELA 6 – Freqüência de determinações de cálcio,


fósforo, bicarbonato e PTHi após o Tx
Parâmetro 3 primeiros meses 3 meses a 1 ano
Cálcio cada 2 semanas mensalmente
Fósforo cada 2 semanas mensalmente
Bicarbonato cada 2 semanas mensalmente
PTHi mensalmente cada 3 meses
Após 1 ano, a freqüência de medidas deve seguir as recomendações da Tabela 1.

REFERÊNCIAS

1. Pei Y, Hercz G, Greenwood C et al. Risk factors for renal 4. Rostand SG, Drüeke TD. Parathyroid hormone, vitamin D,
osteodystrophy: a multivariant analysis. J Bone Miner Res and cardiovascular disease in chronic renal failure. Kidney
1995;10:149-56. Int 1999;56:383-92.
2. Torres A, Lorenzo V, Hernandez D et al. Bone disease in pre- 5. Diaz-Corte C, Gómez-Alonso C, Barreto S et al. Prevention,
dialysis, hemodialysis, and CAPD patients: evidence of a bet- diagnosis and treatment of renal osteodystrophy in Spain.
ter bone response to PTH. Kidney Int 1995;47:1434-42. Preliminary results from a multicentre enquiry. Nephrol Dial
Transplant 1998;13(Suppl 3):51-6.
3. Ribeiro S, Ramos A, Brandão A et al. Cardiac valve calcifica-
tion in hemodialysis patients: role of calcium-phosphorus 6. Young E, Satayathum S, Pisoni R et al. Prevalence of values
metabolism. Nephrol Dial Transplant 1998;13:2037-40. on mineral metabolism being outside the targets from the pro-
36 Osteodistrofia Renal

posed new draft NKF-K/DOQI and European Best Practice 23. Mai ML, Emmett M, Sheikh MS et al. Calcium acetate, an
Guidelines in countries of the Dialysis Outcomes and Practice effective phosphorus binder in patients with renal failure. Kid-
Patterns Study (DOPPS). Nephrol Dial Transplant ney Int 1989; 36:690-95.
2003;18(Suppl 18):667 (abstract W414).
24. Slatopolsky E, Weerts C, Lopez-Hilker S et al. Calcium car-
7. John MR, Goodman WG, Gao P et al. A novel immunoradio- bonate as a phosphate binder in patients with chronic renal
metric assay detects full-length human PTH but not amino- failure undergoing dialysis. N Engl J Med 1986; 315:157-61.
terminally truncated fragments: Implications for PTH mea-
surements in renal failure. J Clin Endocrinol Metab 1999; 25. Emmett M, Sirmon MD, Kirkpatrick WG et al. Calcium acetate
84:4287-90. control of serum phosphorus in hemodialysis patients. Am J
Kidney Dis 1991; 17:544-50.
8. Monier-Faugere MC, Geng Z, Mawad H et al. Improved
assessment of bone turnover by the PTH-(1-84)/large C-PTH 26. Alfrey AC. Aluminum intoxication. N Engl J Med 1984;
fragments ratio in ESRD patients. Kidney Int 2001; 60:1460- 310:1113-15.
68. 27. Chertow GM, Burke SK, Lazarus JM et al. Poly[allylamine
9. Slatopolsky E, Finch J, Clay P et al. A novel mechanism for hydrochloride] (Renagel): A noncalcemic phosphate binder
skeletal resistence in uremia. Kidney Int 2000; 58:753-61. for the treatment of hyperphosphatemia in chronic renal fail-
ure. Am J Kidney Dis 1997; 29:66-71.
10. Sherrard DJ, Hercz G, Pei Y et al. The spectrum of bone dis-
ease in end-stage renal failure—an evolving disorder. Kidney 28. Bleyer AJ, Burke SK, Dillon M et al. A comparison of the cal-
Int 1993 Feb;43(2):436-42. cium-free phosphate binder sevelamer hydrochloride with cal-
cium acetate in the treatment of hyperphosphatemia in
11. Braun J, Oldendorf M, Moshage W et al. Eletron beam com- hemodialysis patients. Am j Kidney Dis 1999; 33:694-701.
puted tomography in the evaluation of cardiac calcification in
chronic dialysis patients. Am J Kidney Dis 1996;27:394-401. 29. Chertow GM, Dillon M, Burke SK et al. A randomized trial of
sevelamer hydrochloride (Renagel) with and without supple-
12. Hercz G. Regulation of bone remodeling: impact of novel mental calcium. Strategies for the control of hyperphos-
therapies. Semin Dial 2001;14:55-60. phatemia and hyperparathyroidism in hemodialysis patients.
Clin Nephrol 1999; 51:18-26.
13. Stein MS, Packham DK, Ebeling PR et al. Prevalence and
risk factors for osteopenia in dialysis patients. Am J Kidney 30. Chertow GM, Dillon MA, Amin N et al. Sevelamer with and
Dis 1996;28:515-22. without calcium and vitamin D: Observations from a long-term
open-label clinical trial. J Ren Nutr 2000; 10:125-32.
14. Lunt M, O’Neill TW, Felsenberg D et al. Characteristics of a
prevalent vertebral deformity predict subsequent vertebral 31. Janssen MJ, van der Kuy A, ter Wee PM et al. Aluminum
fracture: results from the European Prospective Osteoporosis hydroxide, calcium carbonate and calcium acetate in chronic
Study (EPOS). Bone 2003;33:505-13. intermittent hemodialysis patients. Clin Nephrol 1996;
45:111-19.
15. Stehman-Breen CO, Sherrard DJ, Alem AM et al. Risk factors
for hip fracture among patients with end-stage renal disease. 32. Ring T, Nielsen C, Andersen SP et al. Calcium acetate ver-
Kidney Int 2000; 58:2200-05. sus calcium carbonate as phosphorus binders in patients on
chronic hemodialysis: A controlled study. Nephrol Dial
16. Coco M, Rush H. Increased incidence of hip fractures in dial- Transplant 1993; 8: 341-46.
ysis patients with low serum parathyroid hormone. Am J Kid-
ney Dis 2000; 36:1115-21. 33. Birck R, Zimmermann E, Wassmer S et al. Calcium ketoglu -
tarate versus calcium acetate for treatment of hyperphos-
17. Lobão R, Carvalho AB, Cuppari L et al . High prevalence of phatemia in patients on maintenance hemodialysis: A cross-
low bone mineral density in pre-dialysis chronic kidney dis- over study. Nephrol Dial Transplant 1999; 14:1475-79.
ease patients: Bone histomorphometric analysis. Clin
Nephrol (submetido). 34. Pflanz S, Henderson IS, McElduff N et al. Calcium acetate
versus calcium carbonate as phosphate-binding agents in
18. Barreto FC, Barreto DV, Moysés RA et al. Risk factors for chronic haemodialysis. Nephrol Dial Transplant 1994;
osteopenia in chronic hemodialysis patients. A histomorpho- 9:1121-24.
metric study. ERA-EDTA, Lisbon, 2004, 217 (abstract MO13).
35. Kurz P, Monier-Faugere MC, Bognar B et al. Evidence for
19. Atsumi K, Kushida K, Yamazaki K et al. Risk factors for ver- abnormal calcium homeostasis in patients with adynamic
tebral fractures in renal osteodystrophy. Am J Kidney Dis bone disease. Kidney Int 1994; 46:855-61.
1999; 33:287-93.
36. Rix M, Andreassen H, Eskildsen P et al. Bone mineral densi -
20. Block GA, Hulbert-Shearon TE, Levin NW et al. Association ty and biochemical markers of bone turnover in patients with
of serum phosphorus and calcium x phosphate product with predialysis chronic renal failure. Kidney Int 1999; 56:1084-
mortality risk in chronic hemodialysis patients: A national 93.
study. Am J Kidney Dis 1998;31:607-17.
37. Coburn JW, Popovtzer MM, Massry SG et al . The physico-
21. Pisoni R, Satayathum S, Young E et al. Predictors of hyper- chemical state and renal handling of divalent ions in chronic
phosphatemia and its association with cardiovascular deaths renal failure. Arch Intern Med 1969; 124:302-11.
and hospitalization in chronic hemodialysis patients: interna-
tional results from the DOPPS. Nephrol Dial Transplant 38. Wasler M. The separate effects of hyperparathyroidism,
2003;18(Suppl4):678 (abstractW415). hipercalcemia of malignancy, renal failure and acidosis on the
state of calcium phosphate and other ions in plasma. J Clin
22. Martinez I, Saracho R, Montenegro J et al. The importance of Invest 1962; 41:1454-64.
dietary calcium and phosphorus in the secondary hyper-
parathyroidism of patients with early renal failure. Am J Kid- 39. Duursma SA, Visser WJ, Mees EJ et al. Serum calcium,
ney Dis 1997;29:496-502. phosphate and alkaline phosphatase and morphometric bone
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 37

examinations in 30 patients with renal insufficiency. Calcif 57. Baker LR, Abrams L, Roe CJ et al. 1,25(OH) 2D3 administra-
Tissue Res 1974; 16:129-38. tion in moderate renal failure: a prospective double-blind trial.
Kidney Int 1989; 35(2):661-9.
40. Cochran M, Bulusu L, Horsman A et al. Hipocalcemia and
bone disease in renal failure. Nephron 1973; 10:113-40. 58. Cunningham J. Calcium concentration in the dialysate and
calcium supplements. Nephrol Dial Transplant 2000;
41. Fuss M, De Backer M, Brauman J et al. Parathyroid hormone 15(Suppl5): 34-5.
plasma level in untreated chronic renal failure and in hemodi-
alyzed patients. Nephron 1976; 17:144-54. 59. Van Ypersele C, Jadoul M, Malghem J et al. Effect of dialysis
membrane and patient’s age on signs of dialysis-related amy-
42. Foley RN, Parfrey PS, Harnett JD et al. Hypocalcemia, mor - loidosis. The working party on dialysis amyloidosis. Kidney
bidity, and mortality in end-stage renal disease. Am J Int 1991; 39:1012-19.
Nephrol 1996; 16:386-93.
60. Mourad G, Argilles A. Renal transplantation relieves the
43. Kimura K, Saika Y, Otani H, Fujii R, Mune M, Yukawa S. Fac- symptoms but does not reverse b2-microglobulin amyloido-
tors associated with calcification of the abdominal aorta in sis. J Am Soc Nephrol 1996; 7:798-804.
hemodialysis patients. Kidney Int Suppl. 1999; 71:S238-41
61. Ballanti P, Wedard BM, Bonucci E. Frequency of adynamic
44. Goodman WG, Goldin J, Kuizon BD, Yoon C, Gales B, Sider bone disease and aluminum storage in Italian uraemic
D, Wang Y, Chung J, Emerick A, Greaser L, Elashoff RM, patients – retrospective analysis of 1429 ilial crest biopsies.
Salusky IB. Coronary-artery calcification in young adults with Nephrol Dial Transplant 1996; 11:662-7.
end-stage renal disease who are undergoing dialysis. N Engl
J Med. 2000 May 18;342(20):1478-83. 62. Mazzoferro S, Perruzza I, Constantini S et al. Relative roles
of intestinal absorption and dialysis-fluid-related exposure in
45. Maher ER, Young G, Smyth-Walsh B et al. Aortic and mitral the accumulation of aluminium in hemodialysis patients.
valve calcification in patients with end-stage renal disease. Nephrol Dial Transplant 1997; 12:2679-82.
Lancet 1987; 2:875-77.
63. Fernández-Martin JL, Canteros A, Serrano Arias M et al. Pre-
46. Fernandez-Reyes MJ, Auxiliadora Bajo M, Robles P et al. vention of aluminum exposure through dialysis fluids. Analy-
Mitral anular calcification in CAPD patients with a low degree sis of changes in the last 8 years. Nephrol Dial Transplant
of hyperparathyroidism. An analysis of other possible risk fac- 1998; 13(Suppl 3):78-81.
tors. Nephrol Dial Transplant 1995; 10:2090-95.
64. D’Haese PC, Clement JP, Elseviers MM et al. Value of serum
47. Bouillon RA, Auwerx JH, Lissens WD et al. Vitamin D status aluminium monitoring in dialysis patients: a multicentre study.
in the elderly: seasonal substrate deficiency causes 1,25- Nephrol Dial Transplant 1990; 5:45-53.
dihydroxycholecalciferol deficiency. Am J Clin Nutr 1987;
45(4):755-63. 65. Cannata-Andia JB, Fernández-Martin JL, Diaz-López JB et
al. Influence of iron status in the response to deferoxamine
48. Khaw KT, Sneyd MJ, Compston J. Bone density parathyroid test. J Am Soc Nephrol 1996; 7:135-9.
hormone and 25-hydroxyvitamin D concentrations in middle
aged women. BMJ 1992; 305(6848):273-7. 66. Huang JY, Wu MS, Wu CH. The effect of iron supplementa-
tion on serum aluminium level and deferoxamine mobilization
49. Eastwood JB, Stamp TC, De Wardener HE et al. The effect test in hemodialysis patients. Ren Fail 2001; 23:789-95.
of 25-hydroxy vitamin D3 in the osteomalacia of chronic renal
failure. Clin Sci Mol Med 1977; 52(5):499-508. 67. Cannata-Andia JB, Fernández-Martin JL. The clinical impact
of aluminium overload in renal failure. Nephrol Dial Trans-
50. Eastwood JB, Stamp TC, Harris E et al. Vitamin-D deficiency plant 2002; 17(Suppl2):9-12.
in the osteomalacia of chronic renal failure. Lancet 1976;
2(7997):1209-11. 68. Douthat W, Acuna Aguerre G, Fernández-Martin JL et al.
Treatment of aluminium intoxication: a new scheme for defer-
51. Thomas MK, Lloyd-Jones DM, Thadhani RI et al . Hypovita - oxamine administration. Nephrol Dial Transplant 1994;
minosis D in medical inpatients. N Engl J Med 1998; 9:1431-34.
338(12):777-83.
69. D’Haese PC, Couttenye MM, Goodman WG et al. Use of low-
52. Hamdy NA, Kanis JA, Beneton MN et al. Effect of alfacalcidol dose deferoxamine test to diagnose and differentiate
on natural course of renal bone disease in mild to moderate between patients with aluminium-related bone disease and
renal failure. BMJ 1995; 310(6976):358-63. increased risk for aluminium bone disease. Nephrol Dial
Transplant 1995; 10:1874-84.
53. Nordal KP, Dahl E. Low dose calcitriol versus placebo in
patients with predialysis chronic renal failure. J Clin 70. Barata JD, D’Haese PC, Pires C et al. Low dose (5mg/kg)
Endocrinol Metab 1988; 67(5):929-36. deferoxamine in acutely aluminium-intoxicated hemodialysis
patients using two drug administration schedules. Nephrol
54. Coen G, Mazzaferro S, Bonucci E et al. Treatment of sec- Dial Transplant 1996; 11:125-32.
ondary hyperparathyroidism of predialysis chronic renal fail-
ure with low doses of 1,25(OH)2D3: humoral and histomor- 71. Coen G, Ballanti P, Bonucci E et al. Renal osteodystrophy in
phometric results. Miner Electrolyte Metab 1986;12(5- predialysis and hemodialysis patients: comparison of histo-
6):375-82. logic patterns and diagnostic predictivity of intact PTH.
Nephron 2002; 91:103-11.
55. Bianchi ML, Colantonio G, Campanini F et al . Calcitriol and
calcium carbonate therapy in early chronic renal failure. 72. Diáz-Lopez JB, Jorgetti V, Caorsi H et al. Epidemiology of
Nephrol Dial Transplant 1994; 9(11):1595-9. renal osteodystrophy in Iberoamerica. Nephrol Dial Trans-
plant 1998; 13(Suppl3):41-5.
56. Przedlacki J, Manelius J, Huttunen K. Bone mineral density
evaluated by dual-energy X-ray absorptiometry after one-year 73. Jorgetti V, Lopez BD, Caorsi H et al. Different patterns of
treatment with calcitriol started in the predialysis phase of renal osteodystrophy in Iberoamerica. Am J Med Sci 2000;
chronic renal failure. Nephron 1995; 69(4):433-7. 320:76-80.
38 Osteodistrofia Renal

74. Araujo, SM, Ambrosoni P, Lobão RR et al. The renal osteody- tion of acidosis changes progression of dialysis osteodystro-
strophy pattern in Brazil and Uruguay. Kidney Int 2003; phy. Kidney Int 1989; 36(6): 1112-8.
63(Suppl85):S54-6.
92. Movilli E, Zani R, Carli O et al. Direct effect of the correction
75. Moriniere P, Cohen-Solal M, Belbrik S et al . Disappearance of acidosis on plasma parathyroid hormone concentrations,
of aluminic bone disease in a long term asymptomatic dialy- calcium and phosphate in hemodialysis patients: a prospec-
sis population restricting Al(OH)3 intake. Emergence of an tive study. Nephron 2001; 87:257-62.
idiopathic adynamic bone disease not related to aluminium.
Nephron 1989; 53:93-101. 93. Cannata-Andia JB, Passlick-Deetjen J, Ritz E. Management
of the renal patient: experts’ recommendations and clinical
76. Carvalho AB, Lobão RR, Cuppari L et al. Does hypophos- algorithms for renal osteodystrophy and cardiovascular risk
phatemia induce hypoparathyroidism in pre-dialysis patients? factors. Nephrol Dial transplant 2000; 15(Suppl5):1.
Nephrol Dial Transplant 1998; 13(Suppl3):12-4.
94. Coen G, Mazzaferro S, Ballanti P et al. Renal bone disease
77. Hernandez D, Concepcion MT, Lorenzo V et al. Adynamic in 76 patients with varying degrees of predialysis chronic
bone disease with negative aluminium staining in predialysis renal failure: A cross-sectional study. Nephrol Dial Trans-
patients: prevalence and evolution after maintenance dialy- plant 1996; 11:813-19.
sis. Nephrol Dial Transplant 1994; 9(5):517-23.
95. Coen G, Manni M, Addari O et al. Metabolic acidosis and
78. Spasovski GB, Bervoets AR, Behets JG et al. Spectrum of osteodystrophic bone disease in predialysis chronic renal fail-
renal bone disease in end-stage renal failure patients not yet ure: Effect of calcitriol treatment. Miner Electrolyte Metab
on dialysis. Nephrol Dial Transplant 2003; 18:1159-66. 1995; 21:375-82.
79. Duarte ME, Peixoto AL, Pacheco AS et al. The spectrum of 96. Claesson K, Hellman P, Frodin L et al. Prospective study of
bone disease in 200 chronic hemodialysis patients: a correla- calcium homeostasis after renal transplantation. World J
tion between clinical, biochemical and histological findings. Surg 1998; 22:635-41.
Rev Paul Med 1998; 116:1790-7.
97. Berthoux F, Abramowicz D, Bradley B et al . European best
80. Couttenye MM, D’Haese PC, Deng JT et al. High prevalence practice guidelines for renal transplantation. Section IV: Long-
of adynamic bone disease diagnosed by biochemical markers term management of the transplant recipient. IV.8.Bone dis-
in a wide sample of the European CAPD population. Nephrol ease. Nephrol Dial Transplant 2002; 17(Suppl4):43-8.
Dial Transplant 1997; 12:2144-50.
98. Julian BA, Quarles LD, Niemann KM. Musculoskeletal com-
81. Gerakis A, Hadjidakis D, Kokkinakis E et al. Correlation of plications after renal transplantation: Pathogenesis and treat-
bone mineral density with the histological findings of renal ment. Am J Kidney Dis 1992; 19:99-120.
osteodystrophy in patients on hemodialysis. J Nephrol 2000;
13:437-43. 99. Torres A, Rodriguez AP, Concepcion MT et al. Parathyroid
function in long-term renal transplant patients: Importance of
82. Malberti F, Marcelli D, Conte F et al. Parathyroidectomy in pre-transplant PTH concentrations. Nephrol Dial Transplant
patients on renal replacement: an epidemiologic study. J Am 1998; 13(Suppl3):94-7.
Soc Nephrol 2001; 12:1242-8.
100. Green J, Debby H, Lederer E et al. Evidence for a PTH-
83. Schömig M, Ritz E. Management of disturbed calcium metab- independent humoral mechanism in post-transplant
olism in uraemic patients. 1. Use of vitamin D metabolites. hypophosphatemia and phosphaturia. Kidney Int 2001;
Nephrol Dial Transplant 2000; 15:18-24. 60:1182-96.
84. Schömig M, Ritz E. Management of disturbed calcium metab- 101. Caravaca F, Fernandez MA, Ruiz-Calero R et al. Effects of
olism in uraemic patients. 2. Indications for parathyroidecto- oral phosphorus supplementation on mineral metabolism of
my. Nephrol Dial Transplant 2000; 15:25-9. renal transplant recipients. Nephrol Dial Transplant 1998;
85. Drüeke TB. The pathogenesis of parathyroid gland hyperpla- 13:2605-11.
sia in chronic renal failure. Kidney Int 1995; 48:259-72. 102. Ambuhl PM, Meier D, Wolf B et al. Metabolic aspects of
86. Jofre R, Lopez-Gómez JM, Menarguez J et al. Parathy- phosphate replacement therapy for hypophosphatemia after
roidectomy: whom and when? Kidney Int 2003; renal transplantation: Impact on muscular phosphate con-
63(Suppl58):S97-100. tent, mineral metabolism, and acid/base homeostasis. Am J
Kidney Dis 1999; 34:875-83.
87. Afonso S, Santamaria I, Guinsburg ME et al . Chromosomal
aberrations, the consequence of refractory hyperparathy- 103. Steiner RW, Ziegler M, Halasz NA et al. Effect of daily oral
roidism: its relationship with biochemical parameters. Kidney vitamin D and calcium therapy, hypophosphatemia, and
Int 2003; 63(Suppl58):S32-8. endogenous 1-25 dihydroxycholecalciferol on parathyroid
hormone and phosphate wasting in renal transplant recipi-
88. Lemann J Jr, Litzow JR, Lennon EJ. The effects of chronic ents. Transplantation 1993; 56:843-46.
acid loads in normal man: further evidence for the participa-
tion of bone mineral in the defense against chronic metabolic 104. Levi M. Post-transplant hypophosphatemia. Kidney Int
acidosis. J Clin Invest 1966; 45(10):1608-14. 2001;59:2377-87.
89. Litzow JR, Lemann J Jr, Lennon EJ. The effect of treatment 105. Julian BA, Laskow DA, Dubovsky J et al. Rapid loss of ver-
of acidosis on calcium balance in patients with chronic tebral mineral density after renal transplantation. N Engl J
azotemic renal disease. J Clin Invest 1967; 46(2):280-6. Med 1991; 325:544-50.
90. Bushinsky DA, Chabala JM, Gavrilov KL et al. Effects of in 106. Horber FF, Casez JP, Steiger U et al. Changes in bone
vivo metabolic acidosis on midcortical bone ion composition. mass early after kidney transplantation. J Bone Miner Res
Am J Physiol 1999; 277(5Pt 2):F813-9. 1994; 9:1-9.
91. Lefebvre A, de Vernejoul MC, Gueris J et al. Optimal correc 107. Grotz WH, Mundinger FA, Gugel B et al. Bone mineral den-
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 39

sity after kidney transplantation. A cross-sectional study in 112. Cruz EAS, Lugon JR, Jorgetti V et al. Histological evolution
190 graft recipients up to 20 years after transplantation. of bone disease six months after successful kidney trans-
Transplantation 1995; 59:982-86. plantation. Am J Kidney Dis 2004 (in press).
108. Grotz WH, Mundinger FA, Gugel B et al. Bone fracture and 113. Van Cleemput J, Daenen W, Geusens P et al. Prevention of
osteodensitometry with dual energy X-ray absorptiometry in bone loss in cardiac transplant recipients. A comparison of
kidney transplant recipients. Transplantation 1994; biphosphonates and vitamin D. Transplantation 1996;
58:912-15. 61:1495-99.
109. Grotz WH, Mundinger FA, Rasenack J et al. Bone loss after 114. Fan SL, Almond MK, Ball E et al . Pamidronate therapy as
kidney transplantation: A longitudinal study in 115 graft prevention of bone loss following renal transplantation. Kid-
recipients. Nephrol Dial Transplant 1995; 10:2096-2100. ney Int 2000; 57:684-90.
110. Cueto-Manzano AM, Konel S, Hutchison AJ et al. Bone loss 115. Liberman UA, Weiss SR, Broll J et al. Effect of oral alen-
in long-term renal transplantation: Histopathology and den- dronate on bone mineral density and the incidence of frac-
sitometry analysis. Kidney Int 1999; 55:2021-29. tures in postmenopausal osteoporosis. The Alendronate
Phase III Osteoporosis Treatment Study Group. N Engl J
111. Monier-Faugere MC, Mawad H, Qi Q et al. High prevalence of Med 1995; 333:1437-43.
low bone turnover and occurrence of osteomalacia after kid-
ney transplantation. J Am Soc Nephrol 2000; 11:1093-99.
Distúrbios do sistema nervoso central e periférico
Rosilene Motta Elias

“Todo o paciente com DRC deve ser avaliado à procura mos observar atrofia muscular, perda de reflexos tendí-
de patologias neurológicas”. (Evid. V recom D) neos, déficit de atenção, perda de capacidade sensitiva
como a vibratória. Mononeuropatia isolada é menos co-
Pacientes com DRC, quando comparados com a mum, a não ser pela síndrome do túnel do carpo. Esta sín-
população geral, apresentam maior prevalência de algu- drome pode ocorrer em pacientes em tratamento conserva-
mas patologias neurológicas. dor de DRC e não são exclusivas de pacientes em hemo-
As patologias neurológicas podem ser de caráter diálise1. O PTH pode estar envolvido na gênese da neuro-
central como encefalopatia, desordens do sono e tremores; patia periférica na DRC2. Apesar da piora da qualidade de
ou periférico como polineuropatia periférica, disfunção vida, ainda não há nenhum artigo na literatura que confir-
autonômica, além de mononeuropatia periférica. me o pior prognóstico dos pacientes renais crônicos que
Devido à maior morbidade dessas patologias na desenvolvem neuropatias.1
DRC seu reconhecimento e rápido tratamento previnem Exame Complementar para Neuropatia em DRC é
complicações nesses pacientes. importante para diagnóstico, porém não se correlaciona
diretamente com o grau de perda de função renal, não sen-
Encefalopatia urêmica do útil para monitorizar progressão da doença renal. Os
pacientes sintomáticos parecem ter alterações mais evi-
É uma síndrome aguda ou subaguda que ocorre em dentes nos exames 3,4.
pacientes com DRC - estágio 5. Os pacientes podem apre- Eletroneuromiografia: Os estudos mostram uma di-
sentar déficits de memória, fala, desordens de emoção, minuição da velocidade de condução nervosa (VCN) para
consciência e percepção. Estes sintomas não são específi- valores abaixo do normal em pacientes com DRC estágio
cos de uremia e devem ser diferenciados de outros distúr- V. A VCN sensorial está diminuída em 90% enquanto a
bios orgânicos e desequilíbrios eletrolíticos. Uma caracte- motora em 40% dos casos3.
rística clínica marcante é a variação dos sintomas dia a dia Distúrbios na função sexual são complicações co-
e hora a hora. O início pode passar desapercebido com sin- muns na insuficiência renal. Estas complicações incluem
tomas leves e inespecíficos como fadiga, apatia, piora da disfunção erétil e diminuição da libido. Há também contri-
concentração e atenção. 1,2 buição de medicamentos freqüentemente usados para tra-
Algumas toxinas podem estar implicadas na pato- tamento de hipertensão, que podem ter como efeito cola-
gênese da encefalopatia. Estas incluem: (a) compostos so- teral distúrbios sexuais. As drogas que mais comumente
lúveis como uréia e creatinina; (b) moléculas médias; e (c) levam à impotência sexual são os tiazídicos, bloqueadores
compostos ligados à proteína. Outros compostos como a de canal de cálcio e metildopa. Abordagem terapêutica: O
guanidina têm sido implicados, além dos produtos finais sildenafil pode ser administrado oralmente e ser muito efe-
de glicosilação avançada (AGEs) 2. tivo em homens com uremia, mesmo com doenças cardio-
vasculares.2
Neuropatia Periférica
Valorizar queixas do sono, reconhecer e tratar a síndro -
Está presente em até 70% dos pacientes encami- me das pernas inquietas. (Evid V Recom D)
nhados a diálise e inexplicavelmente é incomum em crian-
ças. Em estágios iniciais a prevalência da neuropatia é Alterações no sono estão presentes em até 70% dos
ignorada. O curso de evolução é variável em progressão e pacientes renais crônicos. É bem estabelecido na literatura
severidade. A neuropatia urêmica clássica é distal, sensiti- o impacto negativo das desordens do sono na qualidade de
va e motora e predominantemente axonal. Os sintomas são vida e capacidade funcional do paciente. Entre os distúr-
descritos como sensação de queimação nas pernas. A clí- bios freqüentes temos a síndrome das pernas inquietas.
nica é mais evidente no estágio 5. Ao exame físico pode- Esta síndrome é uma desordem presente em 20 a 57% dos
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 41

pacientes renais crônicos. O diagnóstico é basicamente um co-fator de receptores dopaminérgicos envolvidos na


clínico e pode ser feito pelo nefrologista5, com o cuidado fisiopatologia da síndrome. O tratamento da anemia com
de se diferenciar de outras doenças com sintomas seme- eritropoetina normalizando o hematócrito diminui os
lhantes como acontece na neuropatia diabética. É caracte- movimentos periódicos de pernas, diminui a fragmentação
rizada por uma sensação desagradável nas pernas, geral- do sono e a sonolência diurna.6 Já existem estudos
mente no início do sono, que causa uma vontade quase ir- mostrando associação dos movimentos periódicos de
resistível de mexer a perna e melhorar com o movimento pernas com maior mortalidade em renais crônicos dia-
voluntário. Em exames específicos de sono como a polis- líticos7. Abordagem terapêutica: incentivar exercícios fí-
sonografia, 80% dos pacientes portadores da síndrome das sicos e corrigir a anemia(com reposição de ferro e uso de
pernas inquietas apresentam movimentos periódicos das eritropoetina). Os seguintes medicamentos podem ser uti-
pernas durante o sono. Sua gênese na DRC pode ser a lizados: L-dopa 100-200 mg ou agonista de receptor do-
uremia, assim como deficiência de ferro, sendo este último paminérgico (pramipexol), clonazepam e gabapentina 5,6,7.

REFERÊNCIAS

1. Burn DJ, Bates D: Neurology and the Kidney. J Neurol Neu- 5. Crignotta F, Mondini S, Santoro A, Ferrari G, Gerardi R, Buzzi
rosurg Psychiatry 65:810-821, 1998; G. Reliability of a questionnaire screening restless legs syn-
drome in patients on chronic dialysis. Am J Kidney Dis,
2. Fraser C, Arieff A: Nervous system manifestations of renal 40(2): 302-6, 2002
failure, in Schrier RW, Gottschalk CW (ed): Diseases of the
Kidney. Boston, MA, Little Brown, 1993, pp 2804-2809; 6. Benz RL, Pressman MR, Hovick ET, Peterson DD. A prelimi-
nary study of the effects of correction of anemia with recom-
3. Di Paolo B, Cappelli P, Spisni C, Albertazzi A, Rossini PM, binant human erythropoietin therapy on sleep, sleep disor-
Marchionno L, Gambi D: New electrophysiological assess- ders, and daytime sleepiness in hemodialysis patients (The
ments for the early diagnosis of encephalopathy and periph- SLEEPO study). Am J Kidney Dis, 34(6): 1089-95, 1999
eral neuropathy in chronic uraemia. Int J Tissue React
4:301-307, 1982. 7. Robert L, Benz MD, Mark R, Presman. PhD, Edward T, Hov-
ick and Donald D. Potencial Novel Predictors of Mortality in
4. Nielsen VK: The peripheral nerve function in chronic renal End-Stage Renal Disease Patients with Sleep Disorders.BAm
failure. VI. The relationship between sensory and motor nerve J Kidney Dis, 35:1052-1060, 2000
conduction and kidney function, azotemia, age, sex, and clin-
ical neuropathy. Acta Med Scand 194:455-462, 1973.
Avaliação do Estado Nutricional
Marcus G. Bastos

Diretriz no. ... Os pacientes com DRC devem ser subme - sivos dos efeitos benéficos das dietas com baixo conteúdo
tidos, regularmente, a avaliação da ingestão calórico- protéico na progressão da DRC, recomenda-se dietas com
protéica e do estado nutricional. A freqüência recomen - 0,75 gramas de proteína/kg/d (recomendada para
dada é 1-3 meses nos pacientes com DRC estágios IV e V indivíduos adultos normais) para os pacientes nos estágios
e a cada 6-12 meses no estágio III (se não houver evidên - I-III da DRC e que não apresentam sinais de desnutrição.3
cias de desnutrição). (A / I) A diretriz nutricional 25 do K/DOQI recomenda 30-
35 kcal/kg/dia para os pacientes com FG <25 mL/min/1,73
A monitorização freqüente da ingestão calórico- m2 (estágios IV e V da DRC), porém não contempla FG
protéica deve ser iniciada a partir da FG <60 mL/min/1,73 mais elevadas.2 A ingestão calórica permitida depende do
m2, quando já se observa diminuição dos níveis séricos de gasto energético do indivíduo. Os valores relativamente
albumina.1 Idealmente, o estado nutricional deve ser ava- altos de ingestão calórica proposta para os pacientes com
liado por um conjunto de parâmetros nutricionais que in- FG <25 mL/min/1,73 m2 baseia-se nos estudos que
clui a albumina sérica, peso corporal, avaliação global sub- demonstram maior eficácia na utilização de nitrogênio
jetiva e a avaliação da ingestão de proteína através nPNA nestas condições. Nos pacientes com DRC estágios I-III, a
ou inquérito alimentar.2 Outros marcadores do estado recomendação de dietas com valores calóricos mais
nutricional como os níveis séricos de pré-albumina, trans- elevados está indicado quando o peso corporal estiver
ferrina, bicarbonato, colesterol total e lípides, parecem abaixo do desejável ou houver evidências de desnutrição.3
depender do nível do FG. 2 A freqüência da monitorização
do estado nutricional recomendado é de 1-3 meses para os Diretriz no. ... A ocorrência de desnutrição calórico-
pacientes com DRC estágios IV e V e a cada 6-12 meses protéica (DCP), após tentativas de corrigi-la e afastadas
no estágio III, se não houver evidências de desnutrição.3 outras causas não relacionadas a ingestão alimentar,
pode ser critério de indicação de terapia de substituição
Diretriz no. ... As recomendações dietéticas para renal. (A / I)
pacientes com DRC são: a. Ingestão protéica de 0,75
g/kg/d nos pacientes com FG 30 mL/min/1,73 m2 e de O início e a gravidade da desnutrição calórico-pro-
0,6 g/kg/d nos pacientes com FG <30 mL/min/1,73 m2 ; téica se relaciona com o nível da FG, sendo mais freqüente
e b. Ingestão energética >30-35 kcal/kg/d. (A / I) nos pacientes com FG <60 mL/min/1,73 m2. São fatores
para a DCP: alterações no metabolismo de energia e calo-
A prescrição do conteúdo protéico das dietas em rias, distúrbios hormonais, anorexia, náuseas e vômitos
pacientes com DRC é complicado pelo conflito potencial (relacionados a toxinas urêmicas), comorbidades (diabe-
entre os objetivos de obter retardo na progressão da doen- tes, doença vascular periférica) e a ocorrência de infecção
ça renal e de preservação do estado nutricional protéico. e inflamação.3
As evidências são insuficientes para se recomendar ou não A desnutrição é considerada um marcador de mau
a restrição de proteína da dieta com o objetivo de retardar prognóstico na DRC.4,5 O estado ou ingestão nutricional
a progressão da DRC. 2,3 dos pacientes se correlaciona inversamente com o risco de
A quantidade ingerida de proteínas e calorias rela- hospitalização e mortalidade, e constitui um fator de risco
ciona-se ao nível da FG; abaixo de 60 mL/min/1,73 m2, clinicamente importante na evolução clínica subseqüente
observa-se redução da ingestão calórico-protéica alimentar. dos pacientes.6 Contudo, é possível que condições comor-
A diretriz nutricional 24 proposta no K/DOQI recomenda bidas per se determinem a piora da ingestão alimentar,
uma ingestão de proteína de 0,6 g/kg/d para os pacientes com conseqüente aumento da morbimortalidade. A ocor-
com FG <25 mL/min/1,73 m2 (que corresponde aos rência de desnutrição e a presença de inflamação se asso-
estágios IV e V da DRC), mas não faz menção aos casos ciam com pior prognóstico na DRC.7,8
com níveis maiores de FG.2 Na ausência de dados conclu- A baixa ingestão calórico-protéica é uma causa im-
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 43

portante de desnutrição na DRC. Estudos mostram uma re- inflamatório crônico em pacientes nos estágio III-V da
lação forte entre a quantidade dos alimentos ingeridos DRC, o qual pode determinar anorexia, maior catabolismo
(particularmente proteínas) e o estágio de desnutrição em protéico de músculos esqueléticos e diminuição do anabo-
pacientes com DRC.9,10 Porém, é importante reconhecer lismo.8,16,17 Assim, a ocorrência ou persistência de DCP
que existem outras causas de desnutrição na DRC. A aci- nos pacientes com DRC, após as tentativas de otimização
dose metabólica e a inflamação, observadas nos pacientes a ingestão de proteínas e calorias, e o desenvolvimento de
com DRC e FG <60 mL/min/1,73 m2, podem determinar anorexia podem indicar a necessidade de TSR.2,17
o aumento do catabolismo e a supressão da síntese protéi- Finalmente, é importante ressaltar que as interven-
ca.11,12 A diminuição do FG também se associa com resis- ções nutricionais mais eficazes em portadores de DRC
tência a insulina e a menor produção do fator de cresci- contam com a participação de nutricionista. É fundamen-
mento e do fator de crescimento insulina-like 1, reconhe- tal o envolvimento dos pacientes em seus tratamentos,
cidamente hormônios anabólicos (mais evidentes em despertando neles a conscientização sobre a importância
crianças com DRC e com déficit de crescimento).13,14,15 A da ingestão calórico-protéica adequada e a necessidade da
relação inversa entre o FG e os níveis séricos de citocinas prevenção da hiperfosfatemia, deficiências de vitaminas e
inflamatórias e proteínas de fase aguda sugere um estado sais minerais e hiperlipidemia. 2,3

REFERÊNCIAS

1. Eustace JA, Astor B, Muntner PM, Ikizler TA, Coresh J: Relationship between nutritional status and glomerular filtra-
Inflammation and acidosis are important independent predic- tion rate: Results from the MDRD study. Kidney Int 57:1688-
tors of hypoalbuminemia in renal insufficiency. J Am J 1703, 2000 – Nível I
Nephol 12:201A, 2001 (abstr) – Nível III
10. Ikzler TA, Greene JH, Wingard RL, Parker RA, Hakim RM:
2. NKF-K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Nutrition in Spontaneous dietary protein intake during progression of
Chronic Kidney Disease. Am J Kidney Dis 35:S1-S140, chronic kidney disease. J Am Soc Nephrol 6:1386-1391,
2000 (Suppl2) – Nível V 1995 – Nível III
3. NKF-K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Chronic Kidney 11. Graham KA, Renaich D, Channon SM, Downie S, Goodship
Disease: Evaluation, Classification, and Stratification. Am J TH: Correction of acidosis in hemodialysis decreases whole-
Kidney Dis 30:S1-S266, 2002 (Suppl1) – Nível V body protein degradation. J Am Soc Nephrol 8:632-637, 1997
4. Ikizler TA, Hakin RM: Nutrition in end-stage renal disease. 12. Ballmer PE, Imoberdorf R: Influence of acidosis on protein
Kidney Int 50:343-357, 1996 – Nível V metabolism. Nutrition 11:462-468, 1995 – Nível V
5. Bergstrom J: Nutrition and mortality in hemodialysis. J Am 13. Tonshoff B, Blum WF, Mehls O: Deragements of the soma-
Soc Nephrol 6:1329-1341, 1995 – Nível V totropic hormone axis in chronic renal failure. Kidney Int
58:S106-S113, 1997 (Suppl 58) – Nível III
6. Lowrie EG, Huang WH, Lew NL, Liu Y: The relative contribu-
tion of measured variables to death risk among hemodialysis 14. Saborio P, Hahn S, Hisano S, Latta K, Scheinmann JI, Chan
patients, in Friedman EA (ed): Death on Hemodialysis. Ams- JC: Chronic renal failure: An overview from a pediatric per-
terdam, The Netherlands, Kluwer Academic, 1994, pp 121- spective. Nephron 80:134-148, 1998 – Nível III
141 – Nível V
15. Boirie Y, Breyer M, Gagnadoux MF, Niaudet P, Bresson JL:
7. Ikizler TA, Wingard RL, Harvell J, Shyr Y, Hakim RM: Associ- Alterations of protein metabolism by metabolic acidosis in
ation of morbidity with markers of nutrition and inflammation children with chronic renal failure. Kidney Int 58:236-241,
in chronic hemodialysis patients: A prospective study. Kidney 2000 – Nível III
Int 55:1945-1951, 1999 – Nível III
16. Panichi V, Migliori M, De Pietro S: C reactive protein in
8. Stenvinkel P, Heimburger O, Paultre F, Diczfalusy U, Wang patients with chronic renal diseases. Ren Fail 23:551-562,
T, Berglund L, Jogestrand T: Strong association between 2001 – Nível III
malnutrition, inflammation, and atherosclerosis in chronic
renal failure. Kidney Int 55:1899-1911, 1999 – Nível III 17. Owen WF Jr, Lew NL, Liu Y, Lowrie EG, Lazarus JM. The
urea reduction ratio and serum albumin concentration as pre-
9. Kopple JD, Greene T, Chumlea WC, Hollinger D, Maroni BJ, dictors of mortality in patients undergoing hemodialysis. N
Merril D, Scherch LK, Schulman G, Wang SR, Zimmer GS: Engl J Med 1993;329:1001-1006 – Nível IV
Diretrizes sobre Hipertensão Arterial
e uso de anti-hipertensivos na Doença Renal Crônica
José Nery Praxedes

O tratamento anti-hipertensivo na IRC tem como Avaliar as complicações do tratamento medica-


objetivos: mentoso (A)
Encaminhar para o nefrologista ou especialistas:
• reduzir a pressão arterial, hipertensão refratária, complicações terapêuticas difíceis
• reduzir o risco cardiovascular em pacientes com de resolver, RFG < 30 ml/min/1,73 m2 ou declínio no RFG
DRC e hipertensão (B) e ≥ 4 ml/min/1,73 m 2 ao ano (C)
• reduzir o ritmo de progressão da doença renal em Crianças devem ser encaminhadas para nefrologis-
pacientes com hipertensão (A) e sem hipertensão (A,C). tas pediátrico sempre que possível ( C )
O tratamento anti-hipertensivo deverá ser coorde-
nado com outras medidas terapêuticas para reduzir o risco Medida da P.A. (adultos):
de doenças cardiovasculares (A). A P. A. deve ser medida em repouso no consul-
Combinações fixas podem ser usadas para manu- tório, nos ambulatórios e postos da rede pública de atenção
tenção ou no início do tratamento se PAS > 20mmHg aci- básica, em medidas domiciliares ou utilizando a MAPA.
ma da meta (B e C). Os pacientes devem ser orientados para anotarem
detalhadamente suas medidas de P.A. ( C ).
Todo paciente hiperternso com DRC deve ser submetido As medidas de P. A devem seguir os métodos e
à seguinte avaliação técnicas das IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão.
A MAPA pode ser útil no renal crônico para iden-
Medida da P.A a cada avaliação de saúde (A) tificar padrões anormais de PA relacionados com dificul-
Avaliação inicial e de seguimento da doença renal dade de controle e lesão de órgãos-alvo, porém não há evi-
crônica (A) dências para recomendar seu uso rotineiro no nefropata hi-
pertenso (D).
Para todos os pacientes hipertensos
• Creatinina e RFG calculada Avaliação para doença renovascular:
• Relação proteinúria/creatinina na urina da pri-
meira amostra matinal Para pacientes com perfil clínico sugestivo (B)
• Sedimento urinário Rastrear os pacientes com altos índices de
probabilidade com métodos não-invasivos (ultrassonogra-
Para os pacientes portadores ou com risco de fia ou angiorressonância) (A).
doença renal crônica acrescentar: Encaminhar os pacientes detectados como portado-
• Ultrassonografia renal res de estenose hemodinâmicamente significante para ne-
• Eletrólitos séricos (sódio, potássio, cloro e frologista ou especialistas ( C ).
bicarbonato)
Medidas dietéticas e outras mudanças de estilo de vida
Avaliação do risco e da presença de doença cardio-
vascular (A) Recomendações para adultos adaptando os compo-
• ECG nentes da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hy-
• Glicemia pertension) para estágios da DRC (B) (tabela 1).
• Perfil lipídico Recomendações de estilo de vida para redução do
• Determinação do IMC risco cardiovascular: redução (IMC ≥ 25 kg/m 2) e manu-
tenção (IMC < 25 kg/m2) do peso. Exercícios e atividade
Avaliar as dificuldades de adesão à dieta, modifica- física (30 minutos por dia na maioria dos dias da semana),
ções de estilo de vida e tratamento medicamentoso (B) redução do consumo de álcool e abandono do fumo (B).
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 45

do basal e K sérico até < 5,5 mEq/l (B).


Tratamento farmacológico: Uso de anti-hipertensivos Os IECA e BRA não devem ser usados
na doença renal crônica (tabela 2). No segundo e terceiro trimestre da gestação: IECA
(A) BRA (C)
Uso de IECA e BRA na doença renal crônica Em pacientes com antecedente de angioedema:
IECA (A) BRA (C)
IECA e BRA devem ser usadas em doses modera- Usar com cautela na estenose de artéria renal, evi-
das a elevadas como nos estudos controlados (A) tando usar, na estenose bilateral ou de rim único.
IECA e BRA podem ser usados como alternativa
um do outro (B) Uso de diuréticos na doença renal crônica
Pacientes tratados com IECA ou BRA devem ser A maioria dos pacientes com doença renal crônica
monitorados para hipotensão, queda do RFG e hiperpo- devem ser tratados com um diurético (A).
tassemia (A) • Tiazídicos podem ser usados nos estágios 1 a 3
Na maioria dos pacientes IECA ou BRA podem (A)
ser mantidos se a queda do RFG, em 4 meses, for < 30% • Diuréticos de alça podem ser usados em todos os

TABELA 1
Nutriente Estágios 1 – 2 Estágios 3 – 4
Proteínas (g/kg/d, % de calorias) 1,4 (~ 18) 0,6-0,8 (~ 10)
Gorduras totais (% de calorias) < 30
Gorduras saturadas (% de calorias) < 10
Colesterol (mg/d) < 200
Carboidratos (% de calorias) 50 - 60
Fósforo (g/d) 1,7 0,8 – 1,0
Potássio (g/d) >4 2-4
Sódio (g/d) < 2,4

TABELA 2
Tipo de Doença Renal Meta de controle Drogas preferidas para Outras drogas para atingir
da PA (mmHg) * proteção renal a meta de controle da PA e
reduzir fatores de risco CV **
Nefropatia diabética < 130x80 B IECA*** A Diuréticos (preferência)
ou BRA A A seguir BB ou BCC A
Nefropatia não diabética <130x80 A IECA A Diuréticos (preferência)
com relação A seguir BB ou BCC A
proteína/creatinina na urina
≥200 mg/g
Nefropatia não diabética <130x80 B Sem preferência Diuréticos (preferência)
com relação A seguir IECA,BRA,BB ou
proteína/creatinina CCB A
na urina < 200mg/g
Doença renal no <130x80 B Sem preferência BCC, Diurético BB
transplantado renal **** IECA ou BRA A
* Considerar PAS mais baixa se proteína/creatinina na urina > 1000mg/g
** Considerar terapêutica individualizada para co-morbidades
*** IECA preferência para diabetes tipo I e tipo II com microalbuminúria (30-300mg/g)
BRA preferência para diabetes tipo II com proteinúria > 300mg/g
**** BCC não dihidropiridinico podem elevar níveis de ciclosporina e tacrolimus. IECA e BRA podem agravar hipercalemia
induzida por ciclosporina e tacrolimus.
46 Hipertensão Arterial na DRC

estágios de DRC (A) rados para depleção de volume (A) hipocalemia e outras
• Diuréticos poupadores de potássio devem ser alterações eletrolíticas (A).
evitados nos estágios 4 –5 e em pacientes recebendo Devem-se usar diuréticos de longa duração e asso-
terapêutica concomitante com IECA ou BRA (A). ciação de diuréticos com outros anti-hipertensivos para
Pacientes em uso de diuréticos devem ser monito- melhorar a eficácia e adesão.

REFERÊNCIAS

1. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2002. agement and use of Anti-hypertensive agents in chronic kid-
2. K/DOOI Clinical Practice Guidelines on Blood Pressure Man- ney disease. Executive Summary October, 2003.
Indicações, escolha do método e preparo do
paciente para a Terapia renal substitutiva (TRS) ,
na Doença Renal Crônica (DRC).
Pasqual Barretti

Os pacientes portadores de DRC devem ser encaminha - DRC que apresentarem sinais de desnutrição protéico-
dos ao nefrologista, para preparo da TRS, quando apre - energética (DPE), como redução espontânea da ingestão
sentarem filtração glomerular (FG) menor que 30 protéica diária; hipoalbuminemia, redução da massa
ml/min ou mais precocemente. corporal magra, avaliação nutricional global subjetiva
(SGA) compatível com desnutrição, na ausência de con -
Grau de recomendação C, Nível de evidência IV. dições comórbidas que justifiquem esse quadro, sem res -
posta às medidas de orientação dietética.
Jungers e cols (1), comparando pacientes encami-
nhados ao nefrologista mais que 6 meses antes do início do Grau de recomendação B, Nível de evidência III.
tratamento dialítico, com aqueles que foram encaminha-
dos cerca de 1 mês antes, observaram que o grupo com en- Justificativa: Há forte associação entre indicado-
caminhamento mais precoce apresentou menores níveis res do estado nutricional e o prognóstico, em pacientes
séricos de fósforo e maiores níveis de bicarbonato, hema- dialisados. Em estudo evolvendo 7719 pacientes, menores
tócrito e albumina. O mesmo grupo teve menor custo tera- níveis basais de índice do massa corporal, albumina sérica,
pêutico por paciente, menores médias de dias de hospitali- creatinina sérica, da contagem de linfócitos e do escore da
zação por ano, e maior percentagem de casos com acesso SGA foram independentemente associados com signifi-
vascular permanente, ao início da diálise.Na série brasilei- cante maior risco de morte (6).
ra de Sesso e Belasco (2), pacientes encaminhados mais A terapia dialítica melhora o apetite e os marcado-
que 3 meses antes do início da diálise tiveram 13% de óbi- res antropométricos e bioquiímicos do estado nutricional,
tos, enquanto que os encaminhados menos que 1 mês do como referido nas séries de Pupim e cols (7) e de
início da diálise tiveram taxa de óbito de 29%. Resultados Mehrotra e cols (8)
semelhantes foram observados em outras séries (3,4).
O início da terapia dialítica, deve ser estabelecido pelo
Pacientes e familiares devem receber durante a fase pré- nefrologista com base na filtração glomerular e quadro
dialítica orientação sobre a DRC e seu tratamento, assim clínico do paciente.
como sobre os riscos e benefícios associados a cada mo -
dalidade terapêutica. Grau de recomendação C, Nível de evidência IV.

Grau de recomendação D, Nível de evidência V. As informações disponíveis não permitem estabe-


lecer consenso acerca da FG adequada para início da
A terapia dialítica deve ser iniciada a partir da identifi - diálise crônica.
cação das manifestações do síndrome urêmico (Quadro
1), que constituem indicações inequívocas de diálise e
que, em geral, ocorrem em pacientes com FG < 10 QUADRO 1 – Indicações inequívocas
ml/min. para o início da terapia dialítica
Pericardite
Grau de recomendação D, Nível de evidência V. Hipervolemia refratária a diuréticos
Hipertensão arterial refratária às drogas hipotensoras
Estas indicações correspondem a grau avançado de Sinais e sintomas de encefalopatia
uremia, são estabelecidas e aceitas desde o advento da Sangramentos atribuíveis à uremia
Náuseas e vômitos persistentes
terapia dialítica como método de tratamento (5).
Hiperpotassemia não controlada
Acidose metabólica não controlada
A terapia dialítica deve ser indicada em pacientes com
48 Preparo do Paciente para TRS

Segundo o grupo de trabalho do DOQI/NKF (9), a Crianças portadoras de DRC devem ser preferencial -
terapia dialítica deve ser iniciada quando o “clearance” mente tratadas por DP.
fracional renal de uréia (Krt/V) estiver abaixo de 2,0, o
que corresponde a uma FG entre 9 e 14 ml/min e a uma Grau de recomendação B, Nível de evidência III.
FG, calculada pela média entre as depurações de uréia e A DP é, universalmente, o método mais utilizados
creatinina, de aproximadamente 10,5 ml/min/1,73 m2. para tratamento dialítico de pacientes pediátricos. Segun-
Bonomini e cols (10) observaram maior probabi- do o North American Pediatric Renal Transplant Coopera-
lidade de sobrevida em 12 anos em pacientes que inicia- tive Study (18), a DP foi o método inicial em 97% das
ram a diálise crônica com depuração de creatinina endó- crianças menores que 2 anos, em 70 a 80% entre os 2 e os
gena maior que 10 ml/min, comparando-se àqueles que 12 anos e em 59% das crianças acima de 12 anos. Entre
iniciaram esse tratamento com níveis inferiores a 4 4150 crianças desse estudo, tratadas por DP, 69% fizeram
ml/min. Korevaar e cols (11) não observaram diferenças uso da DP automática (APD), mostrando o relevante papel
na probabilidade de sobrevida em dois anos, entre pacien- dessa modalidade no tratamento dialítico de crianças (19).
tes que iniciaram tratamento tardiamente, em relação à re- Os fatores associados à escolha prioritária da DP
dizem respeito à dificuldade em se manter adequado
comendações do DOQI/NKF, que aqueles cuja indicação
acesso vascular, ao peso corporal menor que 20 kg nas
seguiu essas recomendações . Na série de Traynor e cols crianças de menor idade e à necessidade de se freqüentar
(12), também não se observaram diferenças na probabili- regularmente a escola, em todas as idades (9).
dade de sobrevida em 10 anos, entre os pacientes com FG
de 10,4 ml/min e aqueles com FG de 6,7 ml/min ao início Os pacientes devem ser submetidos à construção de um
do tratamento. acesso vascular permanente (fístula artério-venosa ou
enxerto artério-venoso), quando apresentarem FG infe -
Para a maior parte dos indivíduos e na ausência de con - rior a 25 ml/min, ou dentro de um ano antes do início
tra-indicações, a escolha do método para a TRS pode se previsto da diálise. A fístula deve ser puncionada 3 a 4
basear na preferência do paciente. meses, após a sua confecção e nunca antes de 1 mês.

Grau de recomendação D, Nível de evidência V.


Grau de recomendação C, Nível de evidência IV.
Esta diretriz corresponde à proposta do grupo de
Para os pacientes dialisados, em geral, quando as trabalho de acesso vascular do DOQI/NKF (20).
amostras populacionais são ajustadas para idade, sexo, A utilização de cateteres venosos centrais se asso-
raça e condições comórbidas não há evidências que su- ciou a maior risco de óbito por causas infecciosas e por
portem a superioridade de um dos métodos, quanto à so- outras causas, em pacientes hemodialisados (21,22).
brevida do paciente (13,14).
A idéia preconizada de resultados melhores da diá- QUADRO 2. Contra-indicações para a diálise
lise peritoneal em pacientes diabéticos, coronariopatas e peritoneal
cardiopatas não tem sido confirmada em estudos observa- Absolutas:
cionais, envolvendo grande número de pacientes, havendo • Perda comprovada da função peritoneal ou múltiplas
necessidade de estudos aleatorizados e prospectivos para adesões peritoneais
melhor esclarecimento da morbimortalidade dos diversos • Inacapacidade física ou mental para a execução do
métodos dialíticos em subgrupos específicos (14,15, 16). método
A DP deve ser o método de escolha em pacientes • Condições cirúrgicas não corrigíveis (hérnias,
que não toleram a HD e naqueles com impossibilidade de onfalocele, gastrosquise, hérnia diafragmática, extrofia
obtenção de adequado acesso vascular. Está, entretanto, vesical, colostomias.
contra-indicada nas situações expressas no Quadro 2. Relativas
• Presença de próteses vasculares abdominais há
Grau de recomendação D, Nível de evidência V. menos que 4 meses
• Presença de derivações ventrículo-peritoneais
O transplante renal está indicado na DRC, estando recentes • Episódios freqüentes de diverticulite
o paciente em diálise ou mesmo em fase pré-dialítica • Doença inflamatória ou isquêmica intestinal
(pré-emptivo), quando a FG estiver abaixo de 20 ml/min. • Vazamentos peritoneais
Diretrizes da Associação Médica Brasileira sobre Indica- • Intolerância à infusão do volume necessário para a
ções e Contra-Indicações do Transplante Renal acham-se adequação dialítica
disponíveis (17). • Obesidade mórbida
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 3 - Supl. 1 - Agosto de 2004 49

REFERÊNCIAS

1. Jungers P, Massy ZA, Nguyen-Khoa T, Choukroun G, Robi- Early initiation of dialysis fails to prolong survival in patients with
no C, Fakhouri F, Touam M, Nguyen AT, Grunfeld JP. Longer end-stage renal failure. J Am Soc Nephrol. 2002;13:2125-
duration of predialysis nephrological care is associated with 32.
improved long-term survival of dialysis patients. Nephrol Dial
Transplant. 2001;16(12):2357-64. 13. Held PJ, Port FK, Turenne MN, Gaylin DS, Hamburger RJ,
Wolfe RA. Continuous ambulatory peritoneal dialysis and
2. Sesso R, Belasco AG. Late diagnosis of chronic renal failure hemodialysis: comparison of patient mortality with adjustment
and mortality on maintenance dialysis. Nephrol Dial Trans- for comorbid conditions. Kidney Int. 1994;45(4):1163-9.
plant. 1996 ;11(12):2417-20.
14. Vonesh EF, Moran J. Mortality in end-stage renal disease: a
3. Eadington DW, Craig KJ, Winney RL: Late referral for RRT: reassessment of differences between patients treated with
Still a commom cause of avoidable morbidity. Nephrol Dial hemodialysis and peritoneal dialysis. Am Soc Nephrol.
Transplant 1994; 9:1686 (abstract) 1999;10(2):354-65.
4. Jungers P, Zingraff J, Albouze G, Chauveau P, Page B, 15. Ganesh SK, Hulbert-Shearon T, Port FK, Eagle K, Stack AG.
Hannedouche T, Man NK. Late referral to maintenance dialy- Mortality differences by dialysis modality among incident
sis: detrimental consequences. Nephrol Dial Transplant. ESRD patients with and without coronary artery disease. J
1993;8:1089-93 Am Soc Nephrol. 2003 ;14(2):415-24.
5. Maher JF: When should maintenance dialysis be initiated? 16. Stack AG, Molony DA, Rahman NS, Dosekun A, Murthy B.
Nephron 1976; 16:83-88. Impact of dialysis modality on survival of new ESRD patients
6. Pifer TB, McCullough KP, Port FK, Goodkin DA, Maroni BJ, with congestive heart failure in the United States. Kidney Int.
Held PJ, Young EW. Mortality risk in hemodialysis patients 2003;64(3):1071-9.
and changes in nutritional indicators: DOPPS. Kidney Int. 17. w w w . a m b . o r g . b r / p r o j e t o _ d i r e t r i z e s / 1 0 0 _ d i r e t r i z e s /
2002 ;62:2238-45. TRANSPL3.PDF
7. Pupim LB, Kent P, Caglar K, Shyr Y, Hakim RM, Ikizler TA. 18. Leonard MB, Donaldson LA, Ho M, Geary DF. A prospective
Improvement in nutritional parameters after initiation of chron- cohort study of incident maintenance dialysis in children: an
ic hemodialysis. Am J Kidney Dis. 2002;40:143-51. NAPRTC study. Kidney Int. 2003 ;63(2):744-55.
8. Mehrotra R, Berman N, Alistwani A, Kopple JD. Improvement 19. Fine RN, Ho M; North American Pediatric Renal Transplant
of nutritional status after initiation of maintenance hemodialy- Cooperative Study. The role of APD in the management of
sis. Am J Kidney Dis. 2002;40:133-42. pediatric patients: a report of the North American Pediatric
9. National Kidney Foundation Dialysis Outcome Quality Initia- Renal Transplant Cooperative Study. Semin Dial.
tive. Clinical practice guideline for peritoneal dialysis adequa- 2002;15(6):427-9.
cy. Am J Kidney Dis 1997; 30 (suppl 2): S67-S136.
20. NKF-DOQI clinical practice guidelines for vascular access.
10. Bonomini V, Feletti C, Scolari MP, Stefoni S.Benefits of early National Kidney Foundation-Dialysis Outcomes Quality Initia-
initiation of dialysis. Kidney Int Suppl. 1985;17:S57-9. tive. Am J Kidney Dis. 1997;30(4 Suppl 3):S150-91.
11. Korevaar JC, Jansen MA, Dekker FW, Jager KJ, Boeschoten 21. Dhingra RK, Young EW, Hulbert-Shearon TE, Leavey SF,
EW, Krediet RT, Bossuyt PM; Netherlands Cooperative Study Port FK. Type of vascular access and mortality in U.S.
on the Adequacy of Dialysis Study Group. When to initiate hemodialysis patients. Kidney Int. 2001 ;60(4):1443-51.
dialysis: effect of proposed US guidelines on survival.
Lancet. 2001; 29;358(9287):1046-50. 22. Pastan S, Soucie JM, McClellan WM. Vascular access and
increased risk of death among hemodialysis patients. Kidney
12. Traynor JP, Simpson K, Geddes CC, Deighan CJ, Fox JG. Int. 2002;62(2):620-6.

Вам также может понравиться