UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO/ DECAE

DISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA: ROSEMARY DORE HEIJMANS

ROTEIRO DE ESTUDOS II

Texto: DORE Soares, Rosemary Ensino e novas tecnologias: situação atual e

novas perspectivas In: Caminhos da história. Montes Claros, v. 6, n. 6, 2001, pg.
69-98.

1. A autora apresenta o processo de ensino e aprendizagem no conto de

Isaac Asimov sobre a profissão e em seguida faz uma reflexão sobre tal
processo. Sintetize a reflexão da autora e explique em que consiste a
“técnica de pensar”.

A reflexão da autora sobre o processo de ensino e aprendizagem toma por

base a comparação entre o que se apresenta no conto de Asimov e o que
ocorre no contexto escolar atual, além de identificar as relações entre a
evolução tecnológica e os métodos de ensino. Ela assinala aspectos das
novas metodologias de ensino que, mesmo novas, não dispensam as
metodologias clássicas e preservam a figura do professor no processo
educativo; a existência de formas desiguais de aquisição de cultura e saber
e de inserção na vida social e produtiva; o reforço da tese que discute as
novas tecnologias educacionais e seu uso não como um desejo ou forma
de status, mas, como recurso auxiliar no processo de ensino. A técnica de
pensar é um procedimento metódico que segundo Gramsci foi adotado
como reação ao desenvolvimento intelectual baseado na retorica e na
oratória. Tal técnica é adquirida culturalmente, não é inata no ser humano,
necessita determinadas inclinações, costumes e rico patrimônio cultural
acumulado pelas gerações, além de condições estratégicas e intervenções
metodológicas por parte da escola, para que atinjam as classes
trabalhadoras e seus filhos e com a finalidade de formar dirigentes.

2. Quais são as relações de poder que a autora identifica na sociedade e na

escola?
“As formas desiguais de aquisição do conhecimento e
da cultura, que o conto de Asimov deixa transparecer,
relacionam-se aos conflitos inerentes ao Estado
capitalista que a escola, como instituição da classe
civil, expressa.” (p.84)
A classe dominante vê a escola como mediadora da criação de consenso
favorável à sua permanência no poder, para valorizar o capital e formar
trabalhadores no sentido de atender às exigências da atividade produtiva. A
 classe dominada vê a escola como espaço que favorece o acesso aos
saberes, uma aliada na busca pela libertação social, pela elevação cultural
e fortalecedora em suas lutas políticas.

3. Analise a questão da "técnica de pensar", considerando o ponto de vista de

pelo menos 3 autores cujo pensamento é focalizado no texto, e mostre a
sua relação com a conquista de autonomia intelectual e moral.
Partindo do ponto de vista de Gramsci, este ressalta que tal técnica não é
inata, não nasce do “senso comum”. Ela é uma qualificação que depende
do ensino metódico e disciplinado; Asimov, em seu conto, retoma o
problema do método de ensino, mostrando as razões pelas quais as
“tecnologias” não podem substituir o processo tradicional de busca pelo
conhecimento, que envolve a “técnica de pensar” proposta por Gramsci;
levando em conta as estratégias de ensino destinadas aos trabalhadores e
estimuladas pelas empresas, defende-se o método do “aprender a
aprender” que nada mais é que uma das versões da técnica de pensar
defendida por Gramsci e que na visão de Kessels é a transformação do
trabalhador de um simples recurso humano da força produtiva para
contribuinte em potencial á produtividade do conhecimento, ou seja, o
capital intelectual. A visão dos três teóricos traz uma reflexão positiva com
relação à técnica do pensar e de como esta pode capacitar o trabalhador a
desenvolver, além de novos conhecimentos e conceitos, a capacidade de
tomar decisões conscientes por sua vida e pela vida dos que o cercam.

4. Que problemas são focalizados pela autora quanto às propostas de

formação dos trabalhadores para "aprender a aprender" e para a aquisição
de conceitos?

As transformações pelas quais a sociedade passa, as quais muito

acentuadas no que diz respeito à organização técnica e administrativa do
trabalho, exigem dos trabalhadores que estes adquiram competências,
habilidades e capacidades cognitivas que os tornem multi-especializados e
empregáveis e, além disso, capazes de “aprender a aprender” e adquirir
noções de e sobre conceitos. Uma revolução no próprio entendimento de
trabalhador, que passa de recurso humano para sujeito primordial do
capitalismo cultural, proposto por Kessels (p.93). Os problemas advindos
dessa realidade envolvem a rapidez com que tais transformações são
operadas, e, conforme a autora focaliza no Brasil a situação do ensino,
deplorável, de péssima qualidade, com professores mal remunerados e,
acrescento eu, mal preparados resultam no comprometimento da formação
dos trabalhadores para “aprender a aprender” e a operar conceitos. A
autora lembra ainda que politicas públicas como exemplo, os programas de
formação de trabalhadores em 30 e 40 horas, financiados pelo Fundo de
Amparo ao Trabalhador, não são capazes de ajudar os trabalhadores a
desenvolver tais aptidões. Observar esses problemas coloca ainda em
questão a formação docente e a necessidade (ou não) das novas
 tecnologias e das pesquisas como procedimentos de ensino adequados e
suficientes atualmente para produzir esse novo trabalhador.

5. Qual a relação que a autora apresenta entre "técnica de pensar", método

de pesquisa e realização de pesquisa?
Com base no que foi exposto no texto, é preciso considerar uma relação de
proporcionalidade entre técnica de pensar, método de pesquisa e
realização de pesquisa. A realização da pesquisa e consequente produção
de conhecimentos, de qualidade, só são possíveis se a técnica de pensar
for bem desenvolvida entre os sujeitos envolvidos. Segundo a autora, os
alunos que chegam ao ensino superior trazem marcas dos problemas que
acompanham a escola básica, entre eles, déficits da “técnica do pensar”
criados pela cultura contemporânea que comprometem a qualidade dos
conhecimentos desenvolvidos por esses alunos. Em suma, pesquisa de
qualidade é resultado de desenvolvimento de técnica de pensar de
qualidade.

6. O que você entendeu ser a "formação de dirigentes", na concepção

gramsciana, e quais os requisitos que a autora apresenta para esse tipo de
formação?
A formação de dirigentes na concepção gramsciana leva em consideração
o fato de que se a “técnica do pensar” pode ser desenvolvida, os
trabalhadores podem se apropriar dela para mudar sua condição. Ele se
mostra preocupado com a aquisição de capacidades intelectuais por parte
dos trabalhadores para que estes possam exercer com segurança, atitudes
pertinentes aos dirigentes, até mesmo para a própria vida, através do uso
de métodos clássicos com o propósito de quebrar os estigmas de elitismo
nas escolas. Ele insiste no combate à profissionalização do ensino, pois
para ele, isso é um agravante no problema de divisão de classes sociais
reproduzida naturalmente no contexto da escola, lugar que segundo ele,
deveria ter uma organização e um funcionamento que possibilite aos filhos
das massas trabalhadoras a superação das dificuldades para se apropriar
dos conhecimentos historicamente acumulados.

7. Qual a importância que você consegue distinguir no desenvolvimento da

técnica de pensar e da capacidade de adquirir conceitos?

No meu entendimento o desenvolvimento da técnica de pensar e a

capacidade de adquirir conceitos são tarefas árduas para o ser humano. Ao
longo do processo evolutivo abrimos mão do que é considerado velho para
adquirir novas concepções e assim, o conhecimento acumulado torna-se
cada vez mais distante de nossas mãos. Paradoxalmente, tão acessíveis,
se pensarmos nas novas tecnologias, mas inatingíveis se levarmos em
conta que para adquirir conceitos, com uma certa qualidade, leva um tempo
do qual não mais dispomos em função da atual concepção de mundo pós
contemporâneo. Visto que Gramsci qualifica tais capacidades como
instrumentos culturais adquiridos, cabe a nós, não somente enquanto
alunos, mas como sujeitos sociais buscar o desenvolvimento dessas
habilidades para assim podermos adquirir uma maior autonomia de
pensamento e de atitudes perante a realidade que nos cerca.