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Por um Modelo de Desenvolvimento Sustentável para superar a Crise*

Os desafios ambientais constituem oportunidades para a criação de vantagens competitivas através da


Inovação. A crise, se vem dificultar investimentos usando as soluções estabelecidas, acicata o
desenvolvimento de novas soluções, criando as condições para a própria saída da crise. Sob o nível da
crise financeira subjaz a crise da competitividade das economias ocidentais, que parece ser a crise de um
modelo económico que se esgotou ao globalizar-se. A Inovação está a preparar as condições para a
emergência de um novo modelo de desenvolvimento, que pelas perspectivas de um crescimento
sustentável esvazie as incertezas dos mercados financeiros.

1. O País Mudou; estamos mais bem preparados para responder à crise do que há trinta anos

Trinta anos atrás, quando para superar uma crise idêntica com o deficit e os pagamentos internacionais,
o “plano de estabilidade” com o FMI teve sucesso na superação da crise financeira, contribuiu para
congelar a mudança no padrão de especialização que já na altura se sabia ser inadequado aos desafios
da competitividade.

Mas trinta anos volvidos, o País está mais bem preparado para responder à crise acelerando a
mudança estrutural. A Investigação e Desenvolvimento (I&D) empresarial focada num modelo de
desenvolvimento sustentável pode ter um papel decisivo nesta mudança.

Durante três décadas investimos intensivamente na criação de condições “infra-estruturais” para a


realização do 3º D de Abril: o do Desenvolvimento. A melhoria foi significativa, desde as redes de
saneamento, transportes, comunicações e energia, às infra-estruturas de saúde e desporto e
principalmente, apesar dos problemas que ainda subsistem, na formação dos recursos humanos e
desenvolvimento da capacidade C&T. Subsiste uma situação de dualismo, com raiz nas assimetrias
demográficas e sociais na formação, que precisa de tempo para ser assimilada, mas os principais
problemas são de organização e de “software social”, que serão mais facilmente desbloqueados numa
dinâmica de crescimento, do que como sua condição prévia.

Temos agora um sistema Cientifico e Tecnológico (C&T) mais moderno e actualizado, com uma
dimensão já relevante, rejuvenescido e fortemente internacionalizado, que tem agora laços de trabalho
conjunto com a parte mais moderna do tecido empresarial. Emergiu um novo tecido de PME, de base
tecnológica, que está a “fermentar” a difusão de novas tecnologias e a criação de novos produtos. A
prova de que também em Portugal é possível desenvolver uma economia internacionalmente
competitiva, baseada no conhecimento, está feita. O desafio é agora o de transformar este “Portugal
Inovador” em modelo estruturante e dinamizador do conjunto da economia. O grande crescimento de
I&D empresarial que se está a verificar vai alimentar uma nova geração de produtos, que chegarão ao
mercado nos próximos anos, com massa crítica para alimentar esta mudança estrutural.

*
Intervenção na Conferência “O Ambiente na Crise Económica: Retrocesso ou Oportunidade”, Lisboa,
CCB, 18 de Maio 2010
2. O Crescimento da I&D Empresarial Prepara um Modelo de Desenvolvimento Sustentável

Energia, Ambiente e Saúde são os três sectores de aplicação mais importantes dos projectos de I&D em
Consórcio em curso desde 2008. Correspondem a 38% do número de projectos e a 50% do valor do
investimento em curso, dos Programas de apoio à Investigação em Consórcio com financiamento do
QREN e do Eurostars, de que a AdI é responsável.

A indústria está pois a fazer uma aposta estratégica em áreas que são uma boa opção em termos de
especialização internacional.
As prioridades que a estrutura de investimento na I&D revela correspondem a um bom modelo de
especialização, adequado simultaneamente às nossas características competitivas e às tendências de
evolução da economia mundial.

Energia, Ambiente e Saúde correspondem a três áreas de procura mundial dinâmica num horizonte de
longo prazo. Os nossos problemas de competitividade advêm ainda, em grande medida, da nossa
especialização em sectores de procura estagnada, condenados a uma luta feroz com “meio mundo”
para melhorar as cotas de mercado.

Estes três sectores correspondem também a sectores com um grande potencial de inovação, em que
estão a ter lugar grandes mudanças tecnológicas que permitem diferenciação, posicionando-nos em
actividades com mais futuro e menor concorrência.

Além do interesse estratégico correspondem também a áreas em que é possível articular a prossecução
de objectivos de longo prezo com a resolução de problemas imediatos.

São áreas de forte dependência das importações e causas de deficit orçamental. O seu
desenvolvimento deverá permitir diminuir estes dois constrangimentos macro-económicos.

Investir em soluções que melhorem as condições de vida da população, criem emprego, diminuindo as
importações e criando simultaneamente novos eixos de exportação competitiva é um feliz “três em
um” que devemos explorar de forma sistemática. Neste caso o mercado interno não contradiz, antes
serve, a política de desenvolvimento das exportações, se funcionar como oportunidade para os novos
produtos inovadores, como mercado de teste, de aprendizagem e de demonstração internacional.

Os salários podem não aumentar nos próximos anos, mas a qualidade de vida pode e deve melhorar
até como condição de competitividade estratégica. Porque condições de vida “sustentáveis” são um
factor para atrair recursos humanos qualificados que são o fundamental num modelo de
desenvolvimento assente no conhecimento.
3. A “Sustentabilidade” torna o país mais atractivo para investimentos qualificados

Esta especialização “sustentável” prolonga e reforça a componente de base tecnológica de uma


especialização já antiga, com base nos recursos naturais, e que ainda corresponde a uma parte
significativa da imagem positiva que se tem de Portugal no estrangeiro.

Nos produtos mais tradicionais baseados em recursos naturais temos vindo a conseguir melhorias da
qualidade muito significativas, nos vinhos, no azeite, nos primores, no peixe, na culinária, no cavalo
lusitano, na cortiça (numa luta difícil, com melhoria da qualidade da rolha e pela diversificação para
outras formas de valorização). Há uma imagem de qualidade do natural que está a evoluir para essa
percepção de sustentabilidade pela sofisticação. Ao nível do consumo mais sofisticado, têm vindo a
juntar-se outros serviços: o turismo de qualidade, os portos de cruzeiros, o turismo de negócios, os
desportos de ar livre, a organização de eventos e de produtos culturais, o renascimento do termalismo.

Esta imagem de sustentabilidade como “sofisticação”, “certificada” pelo mercado europeu, ajudará a
abrir as portas nos mercados das classes médias em emergência nas BRICs, com poder de compra
crescente e poder de decisão nas empresas.

As componentes dessa imagem de produtor sofisticado, identificam-se com o território, qualificando-o


como um “país em que é bom viver”, o que é fundamental para reter e atrair os recursos humanos
qualificados e criativos que são a matéria-prima fundamental de um modelo de desenvolvimento
assente no Conhecimento. Reforçando esta imagem de “país em que é bom viver” juntaram-se serviços
de maior conteúdo tecnológico como o Multibanco, a Via Verde, a oferta internacional de serviços de
saúde e o investimento nas energias renováveis. O que ajuda a reforçar a ideia de que o natural e o
tradicional não são atraso mas sofisticação.

Portugal é um país europeu onde convergem povos de todos os continentes, o que constitui uma
oportunidade para a criatividade e o desenvolvimento de soluções inovadoras para diversos destinos do
mercado mundial.
4. O novo eixo de especialização em “meios de produção” aumenta o potencial da
internacionalização

Portugal foi entretanto construindo uma nova linha de especialização - com enorme potencial no
mercado global - na concepção e industrialização de “meios de produção”. Muita da tecnologia que foi
sendo desenvolvida nos últimos anos materializa-se em “meios de produção” para diversos sectores.
Esta melhoria na estrutura da economia portuguesa veio criar condições:

- para uma maior difusão dos resultados de I&D, como fonte para a inovação das outras empresas;

- para o projecto, desenvolvimento e prototipagem de novos produtos;

- para a emergência de novos eixos de exportação com particular importância para os mercados de
países em vias de desenvolvimento.

Há que alimentar a continuação desta tendência de diversificação para estes produtos de maior valor
acrescentado e que são difusores da inovação pelo tecido económico. Ao “high touch” nos bens de
consumo, podemos associar o “high tech” nos “meios de produção”.

Esta alteração na especialização da economia vai permitir-nos agora uma maior aceleração na mudança
estrutural. Não só porque correspondem eles próprios a uma melhor especialização como
principalmente pelo impacto indusido nos outros sectores.

A formação do novo tecido de PME de base tecnológica fornecedoras de meios de produção fez-se com
o domínio e introdução de novas tecnologias, muitas vezes com um ainda maior potencial de impacto
de âmbito multissectorial.

Depois de uma fase em que a Revolução das TICE (Tecnologias de Informação, Comunicações e
Electrónica) foi motor da desmaterialização da economia, intervindo nos outros sectores industriais pela
automação e informatização dos processos, entrámos numa nova fase em que vai “embeber” a própria
economia “material”, dando origem a novas gerações de produtos nos sectores industriais tradicionais.
O paradigma da Internet vai passar pela massificação da “realidade aumentada”, pelas tecnologias
“embebidas”, pela “Internet das coisas”, pela “Internet da Energia”. Esta economia “simbiótica”
permitirá acelerar o crescimento, por três movimentos simultâneos: o aumento da produtividade (pelo
aumento do valor dos produtos), a emergência de novos produtos e o aumento da produção,
viabilizado pelo desenvolvimento da capacidade comercial, conseguida pela aliança com empresas de
maior dimensão, poder financeiro e capacidade comercial.
O desenvolvimento dos sectores de meios de produção vai permitir um posicionamento mais adequado
ao desenvolvimento dos países emergentes, numa abordagem “sustentável”, ajudando-os a produzir
junto ao mercado de consumo, criando emprego local e reduzindo custos com o transporte
internacional.
5. Esta crise não é uma “desaceleração”; estamos parados numa encruzilhada

O que se vai passar nos próximos três anos vai ser decisivo para o nosso futuro. Não teremos “mais
trinta anos” para prosseguir com as mudanças de fundo em que temos vindo a investir, nomeadamente
nas infra-estruturas e na formação dos recursos humanos. Não podemos recuar saindo do Euro. Seria
catastrófico. Se não conseguirmos mudar de modelo económico estaremos numa situação delicada
porque a redução do deficit, que decerto vamos conseguir, não seria sustentável a médio prazo, porque
o PIB não cresceria o suficiente. Estamos limitados no deficit público como financiador do investimento.
Precisamos de rentabilizar melhor aquilo em que já investimos, com investimentos complementares que
“libertem” o crescimento da Produção Nacional.

Não podemos para resolver os problemas imediatos comprometer o futuro.


Nos últimos anos registou-se um grande aumento da I&D empresarial cujos resultados deverão chegar
ao mercado nos próximos anos. O sucesso destes resultados no mercado constituirá um grande
impulso para de forma decidida por de pé o novo modelo de desenvolvimento.

O impacto económico destes projectos de desenvolvimento depende do seu sucesso técnico, mas
também da capacidade da sua rápida valorização no mercado o que dependerá das políticas de apoio
(a) à valorização/difusão e (b) dos “modelos de negócio” que venham a ser seguidos.

a) As políticas de apoio à difusão/valorização são tanto mais importantes nos próximos anos quanto se
trata, em muitos destes casos, de produtos/tecnologias novos na oferta nacional, envolvendo mesmo
agentes empresariais eles próprios de recente criação. Apoios à Demonstração, à introdução no
mercado, à industrialização, são fundamentais. Com o aumento da oferta nacional justifica-se uma
alteração do mix de medidas de apoio, que em muitos casos estão centradas no apoio à procura,
acentuando agora o apoio através da oferta.

As grandes empresas e o Estado podem ajudar a “minorar o risco de mercado” da inovação, abrindo-
lhes mercados de aprendizagem e de referência, que acelerem a industrialização e internacionalização
desses resultados.

O Estado deve intervir, em particular, na criação de procura para soluções inovadoras, com elevado
impacto social e que permitam no futuro reduzir a despesa pública corrente, e criando condições de
desenvolvimento sustentável, mais atractivo para a captação de Recursos Humanos e investimentos
qualificados.
Exemplos de “soluções inovadoras com elevado impacto social”

Software que permita o uso partilhado de táxis, diminuindo simultaneamente os custos para os
utilizadores com percursos complementares e para os taxistas.

Estacionamento automóvel com tarifário que integre o custo de estacionamento no “passe” do


transporte colectivo.

Preços de estacionamento variáveis com as horas do dia, usando o telemóvel como meio de pagamento
electrónico. Generalização dos micro-pagamentos por telemóvel nomeadamente nos táxis e bombas de
combustível, aumentando a segurança no quotidiano.

A economia do “usar e deitar fora” pode ser lucrativa para algumas empresas, mas à custa de
externalidades negativas que acabam por se pagar pelas outras empresas e cidadãos, pela degradação
das condições ambientais ou, na qualidade de contribuintes, nos impostos para financiar os “remédios”
para as situações criadas. É preciso dar prioridade ao desenvolvimento de soluções que minorem as
externalidades negativas, o que acabará por diminuir a despesa pública corrente no futuro. Do mesmo
modo que na saúde, em que o desenvolvimento de tecnologias que antecipem a detecção de doenças,
não só aumenta a probalidade de cura como diminui os gastos com os tratamentos, diminuindo assim
os gastos do Estado com os futuros subsídios aos remédios.

b) A urgência em obter resultados, os constrangimentos na capacidade de financiamento do


investimento, apontam para modelos de negócio que, embora à custa de uma maior complexidade,
maximizem rapidamente a rentabilidade dos investimentos. Em actividades capital intensivas, como as
energias renováveis, jogar na “integração” de aplicações - em lugar da mais fácil “segregação” de
actividades - através de investimentos partilhados multiuso (por exemplo entre energias do mar e
piscicultura de água salgada). Integração de proximidade de actividades diferentes que permitem
valorizar “desperdícios”. Intensificar a componente tecnologicamente inovadora dos investimentos,
dando prioridade ao investimento de “retrofitting” dos equipamentos, redes e infra-estruturas,
relativamente aos investimentos novos.

É preciso tirar partido, do investimento já feito, com os investimentos complementares necessários para
rentabilizar os equipamentos e infra-estruturas já existentes, criando emprego e de preferência criando
mercado para o domínio e industrialização das tecnologias mais avançadas.

É provável que não se vá dar um relançamento da construção nova. Mas a recuperação de edifícios
abre boas oportunidades para a colocação de painéis solares (partilhando os custos com a renovação
dos telhados dos edifícios), de aproveitamento de águas das chuvas, de uso de novos materiais de
isolamento e resistência anti-sísmica, de redes mais avançadas de comunicações que permitem
aplicações de domótica com menor preço e mais funções - desde a segurança à poupança energética e à
monitorização de doentes.
O “retrofitting” - a actualização tecnológica de equipamentos existentes - é um enfoque
particularmente adequado, para acelerar a mudança estrutural neste período de crise de mercado e de
financiamento. Permite aceder ao uso de novas tecnologias, com menos investimento, porque
concentrado naquilo que é efectivamente novo; cria desde já emprego qualificado, funcionando como
formação “on Job” para viabilizar o investimento em novas fábricas no futuro; dinamiza a criação de
novos mercados, permitindo simultaneamente testar as reacções dos consumidores e melhorar os
produtos. Portugal, que não tem muitas das indústrias em que o “retrofiting” é uma oportunidade
relevante só tem a ganhar em fazer esta abordagem desde já, dinamizando os mercados e a criação de
emprego no curto prazo e criando ao mesmo tempo as condições favoráveis para investimentos mais
ambiciosos para o futuro.

A abordagem do investimento de “retrofitting” aplica-se a inúmeras situações, desde a modernização da


rede eléctrica, à modernização do parque de veículos de transporte.

Na rede de transporte eléctrica, novas tecnologias de monitorização vão permitir a detecção de pontos
de perda de energia, e a integração de novos tipos de sensores nos cabos vai permitir, por uma gestão
mais optimizada, um aumento significativo de energia transportada sem ter de investir em novos pilares
a “poluírem” ainda mais a paisagem.

Do mesmo modo que a substituição nos veículos dos motores a combustão por motores eléctricos vai
permitir tirar rapidamente partido da rede de abastecimento eléctrica, criando emprego directo e
indirecto, funcionando como oportunidade de formação “on Job” para novas profissões, aumentando a
segurança dos veículos e reduzindo os custos com os transportes, a poluição e o endividamento externo
com as importações.

Uma abordagem semelhante pode ser seguida para os barcos a motor, com a vantagem de, devido às
suas características, ser mais viável a adopção de painéis fotovoltaicos. Nas albufeiras deveríamos
evoluir para tornar esta abordagem obrigatória.
6. Alavancar o crescimento, inserindo Portugal nas correntes comerciais mais dinâmicas da economia
mundial

Uma especialização internacional centrada em produtos mais inovadores pode (ao contrário da
especialização tradicional) ser alavancada inserindo o país nas correntes comerciais mais dinâmicas do
comércio mundial. O período de crescimento das exportações portuguesas com adesão à CEE, entrou
em esgotamento com as mudanças geo-estratégicas que decorreram da queda do Muro de Berlim.
Portugal está a ajustar a dinâmica das suas exportações às novas dinâmicas da economia global.

A entrada em funcionamento, que se prevê para 2014, do Canal do Panamá alargado, constituirá uma
nova oportunidade para intensificar o comércio de mercadorias com duas das zonas mais dinâmicas da
economia mundial: o extremo oriente e a costa oeste americana.

A possibilidade da passagem dos navios porta-contentores da maior dimensão torna este trajecto mais
competitivo para relações entre o extremo oriente e a Europa ocidental, apresentando-se Sines como o
primeiro porto europeu de águas profundas.

Além do desenvolvimento das actividades portuárias e logísticas, esta revalorização da posição


geográfica portuguesa, permite repensar o modelo de desenvolvimento económico português, re-
industrializando a economia, com a incorporação dos serviços tecnológicos que temos vindo a
desenvolver.

Lino Fernandes
Lisboa, 18 de Maio, 2010

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