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tensão ecológica
Geoenvironmental Compartment in Campo Maior Complex, PI: an ecologic
tension area
Compartimentation Geoambiental dans le complexe du Campo Maior, PI : une aire
de tension écologique
Compartimentación geoambiental en el complejo de Campo Mayor, PI: un área de tensión
ecológica
Resumo: A região pesquisada, localizada numa área de tensão ecológica, foi submetida a estudos de
compartimentação geoambiental de suas unidades, segundo pressupostos da teoria geossistêmica. A vegetação, em
manchas ou capões, configura tipos fisionômicos com contatos abruptos ou gradacionais, instalados em solos
submetidos a processos de lateritização e ferralitização. Foram analisadas relações entre solo, vegetação, estrutura,
florística e diversidade em oito parcelas de 20m x 50m, registrando-se 4 434 indivíduos arbustivo-arbóreos.
Palavras-chave: Ecótono; lateritização; microrrelevos.
Abstract: The researched region, located in ecological tension area, was subjected to geo-environmental
compartmentalization of its units, according to presupposed geo-systemic theories. The vegetation, in “cerrado
island around termite hills”, configures physiognomic types with abrupt or gradual contacts, installing themselves in
soils subjected to lateritization and ironization processes. The relations between soil, vegetation, structure, floristic
and diversity were analysed in 8 parcels (20m x 50m, each).
Key words: Ecotone; lateritization; micro-relieves.
Résumé: La région étudiée, qui se trouve dans une région de tension écologique, a été soumise à des études de
compartimentation de géo-environnement de ses unités, selon la théorie géo-systémique. La végétation, en touffes ou
« capões », configurent des types de paysages avec des contacts brusques ou graduels, installés sur des sols soumis
à des procédés de latérisation et de ferrilisation. Il a été analysé les relations entre sol, végétation, structure, flore et
diversité en 8 parcelles de 20m x 50m, où il a été enregistré 4.434 arbustes et arbres.
Mots-clé: Écotone; latérisation; micro-reliefs.
Resumen: La región pesquisada, localizada en un área de tensión ecológica, fue sometida a estudios de
compartimentación geoambiental de sus unidades, según hipótesis de la teoría geosistémica. La vegetación, en
manchas o capas, configura tipos fisonómicos con contactos abruptos o graduales, instalados en suelos sometidos a
procesos de ferraliticar y lateritización. Fueron analizadas relaciones entre suelo, vegetación, estructura, florística y
diversidad en 8 parcelas de 20m x 50m, registrándose 4.434 individuos arbustivo arbóreos.
Palabras claves: Ecótono; lateritización; micro relieves.
* BIOTEN. Parte da dissertação de Mestrado do primeiro Autor. PRODEMA/TROPEN/UFPI. Rua Adalberto Correia
Lima, 1672 – Planalto Ininga. CEP: 64049-680 Teresina – Piauí. (jsidneybarros@terra.com.br).
** Departamento de Biologia/TROPEN/UFPI. Av. Da Universidade 1310 – Ininga CEP: 64049-550 – Teresina –
Piauí. (aajfcastro@uol.com.br).
INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 8, N. 13, p. 119-130, Set. 2006.
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lam entre 100m a 420m de altitude tem, na cerrado-caatinga presentes na parte central
área, cotas inferiores relacionadas a feições da bacia do Parnaíba, distribuindo-se por
de interflúvios tabulares. O clima da região, toda uma região denominada de Depressão
segundo a classificação de Köppen, enqua- de Campo Maior (CPRM, 2000; VELLOSO
dra-se no tropical subúmido (C1WA’4a’), com et al., 2001), esquematizada na figura 1.
temperaturas entre o máximo de 35ºC e o Fundamentada na discussão de aspec-
mínimo de 23ºC nos meses secos. A precipita- tos relativos à instalação de processos de
ção reveste-se de características contrastan- compartimentação geoambiental, ao con-
tes no tempo e no espaço, atingindo valores templar o estudo geológico, geomorfológico,
anuais de 1.400mm, extremamente elevados pedológico e fitossociológico, estes dois últi-
quando se compara com dados de áreas afins mos numa tentativa de inter-relação em áreas
com vegetação caducifólia de transição ou com consideradas frágeis, esta pesquisa tem por
características vegetacionais semelhantes. objeto de estudo as rochas das formações
Essas variações climáticas refletem-se nas di- Longá e Poti e unidades limítrofes, represen-
ferentes associações vegetais, com contribui- tantes últimas de um dos mais importantes
ção da litologia e do relevo. Como feição pre- ciclos tectono-sedimentares da Bacia do
dominante destaca-se um complexo Parnaíba, e a distribuição da vegetação em
vegetacional, relacionado a zonas de contato área de ecótono.
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GEOAMBIENTE 3. Ambiente Seco, bem lenhosa está ausente. A couraça laterítica, com
drenado, intemperismo incipiente, caracteri- nódulos predominantemente hematíticos, so-
zando-se por freqüente exposição do substra- brepõe-se a uma camada continua de areia
to rochoso (arenitos Longá e Poti), onde predo- média e cascalho assumindo, este, uma pre-
minam solos da classe dos Neossolos Litólicos sença mais significativa com o aumento da pro-
em áreas com as maiores altitudes (130m a fundidade, até atingir-se a crosta laterítica, em
200m) e uma boa drenagem. Os solos analisa- torno de 30cm a 50cm da superfície. Os capões
dos apresentam baixas concentrações de nutri- acham-se nucleados por formigueiro, sobressa-
entes disponíveis, caracteristicamente ácidos indo na topografia na forma de microrrelevos,
e marcadamente distróficos, observando-se situando-se a 1m ou 1,20m acima do nível to-
um certo predomínio e maior ocorrência das pográfico local. Os capões ocorrem com uma
classes dos Neossolos, Gleissolos e Plintossolos. densa cobertura vegetal com levantamento de
A esse geoambiente estão relacionados os três 810 indivíduos distribuídos por 54 espécies (Ta-
(3) subambientes seguintes: SUBAMBIENTE bela 1) como a Curatella americana L., Qualea
6 - Ambiente seco com presença das concre- parviflora Mart., Combretum leprosum Mart.,
ções ferruginosas e blocos de sílica na forma Arrabidaea brachypoda (DC.)., Senna acuruensis
de um conglomerado. A vegetação é do tipo (Benth.) H.S.Irwin & Barneby., Combretum
arbórea com alturas variando de 0,80m a duarteanum Cambess., Cereus jamacaru DC.,
18,0m, sem estrato herbáceo, não associada a Arrabidaea cf. dispar Bureau ex K.Schum.,
cursos d’água e com uma presença significati- Guettarda virbunoides Cham. et Schltdt., e
va e caracterizante de cipós. O substrato cons- Salvertia convallariaeodora A.St.-Hill., perten-
titui-se de concreções lateríticas, de profundi- centes a 25 famílias onde uma é exclusiva e as
dade não superior aos 50cm, com baixo intem- mais representativas, por ordem decrescente
perismo e exposição localizada de camadas ou de importância são: Dilleniaceae, Vochysia-
lajes do arenito silicificado ou quartzítico, bas- ceae, Combretaceae, Bignoniaceae, Fabaceae,
tante fraturado, da Formação Longá. A vege- Caesalpiniaceae, Cactaceae, Rubiaceae, Apo-
tação apresenta-se com uma forma exuberan- cynaceae e Malpighiaceae. SUBAMBIENTE 8
te, com fisionomia de mata seca. A estas áreas - Ambiente instalado diretamente sobre o subs-
está relacionada uma boa disponibilidade de trato rochoso, representado pelas lajes dos are-
nutrientes, com valores mais elevados para cá- nitos Longá e Poti. Este subambiente tem como
tions trocáveis de Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e H+ e característica particular a sua posição na topo-
baixos teores em Al3+. Todas estas característi- grafia, por corresponder às maiores cotas alti-
cas contribuem para que este subambiente métricas da área, situando-se a altitudes com
apresente o maior número de espécies por uni- valores iguais ou superiores aos 170m. O solo
dade mapeada (56), das quais destacam-se As- é raso, localmente inexistente, distrófico, de bai-
pidosperma subincanum Mart., Helicteres heptan- xo intemperismo, de fase pedregosa e seco. Em
dra L.B.Sm., Hymenaea courbaril L., Tabebuia im- contraste com os demais subambientes, a cros-
petiginosa (Mart. ex DC.) Standl., Combretum ta laterítica acha-se completamente ausente.
leprosum Mart., Qualea parviflora Mart., Arrabi- Dos levantamentos florísticos em parcelas des-
daea brachypoda (DC.) Bureau., Amburana cea- te subambiente constam 257 indivíduos distri-
rensis (Allemão) A.C.Sm., Guettarda virbunoi- buídos por 36 espécies (Tabela 1), como Qualea
des Cham. et Schltdt., e Combretum duarteanum parviflora Mart., Salvertia convallariaeodora
Cambess. Das 25 famílias presentes na área A.St.-Hill., Combretum duarteanum Cambess.,
(Tabela 1), as mais importantes em ordem de- Senna acuruensis (Benth) H.S.Irwin & Barneby.,
crescente de percentual, são: Apocynaceae, Combretum leprosum Mart., Curatella america-
Bignoniaceae, Caesalpiniaceae, Sterculiaceae, na L., Qualea grandeflora Mart., Byrsonima
Vochysiaceae, Fabaceae, Rubiaceae, Euphor- correifolia (L.) Kunth., Copernicia prunifera (Mill.)
biaceae e Sapindaceae. SUBAMBIENTE 7 - H.E.Moore., e Luetzelburgia auriculata Ducke,
Ambiente seco colinoso, com forte presença pertencentes a 21 famílias. Dessas, as mais sig-
de uma couraça, canga laterítica ou cascalhei- nificativamente presentes são: Vochysiaceae,
ra ferruginosa, sob a influência de pequenas Combretaceae, Caesalpiniaceae, Fabaceae,
linhas d’água. Nestes sítios, e de modo esporá- Dilleniaceae, Malpighiaceae, Myrtaceae,
dico, a crosta ferruginosa ou laterita pode apre- Arecaceae, Bignoniaceae e Celastraceae.
sentar-se exposta em trechos onde a vegetação
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Tabela 1 - Lista de famílias e espécies, com nomes vulgares, levantadas na área de pesquisa,
por geoambientes (G) e respectivos subambientes (S).
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áreas onde as camadas de solos, de textura BEARD, John Stanley. The savanna vegetation of northern
arenosa, são profundas é freqüente observar- tropical America. Ecological monographs, v.23, 1953.
se o domínio de dois tipos de vegetação: às BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global:
áreas arenosas com rápida infiltração da água esboço metodológico. Cadernos de Ciências da Terra (13),
São Paulo, IG/USP, 1971.
corresponde uma fisionomia de savana com
CASTRO, Antônio Alberto Jorge Farias; MARTINS,
vegetação esparsa de gramíneas e herbáceas;
Fernando Roberto; FERNANDES, Afrânio. The woody
àquelas onde a presença de crostas lateríticas, flora of cerrado vegetation in the state of Piauí, northeastern
superficiais ou em profundidades, impedem Brazil. Edinburgh Journal of Botany, Edinburg, v.55, n.3,
a infiltração da água desenvolve-se uma ve- p. 455-72, 1998.
getação densa de bosques ou mata seca. Ou- CPRM. Programa de Levantamentos Geológicos Básicos do
tra situação de ocorrência na área e de carac- Brasil. Carta Hidrogeológica. Folha SB 23XB – Caxias.
terística importante prende-se à presença, em 2000.
alguns sítios, de uma cobertura contínua de EITEN, George. The cerrado vegetation of Brazil. Botanical
review. 33(2) 201-341.1972.
canga ou couraça laterítica que também serve
de controle ou barreira à instalação e distri- FARIAS, Ruth Raquel Soares; CASTRO, Antônio
Alberto Jorge Farias. Fitossociologia de trechos da vegetação
buição da vegetação. A sua distribuição à su- do Complexo de Campo Maior, Campo Maior, PI, Brasil. In:
perfície impede o desenvolvimento de uma co- Acta bot. bras. 18(4): 951-965. 2004
bertura herbácea permitindo, no entanto, o de- GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra
senvolvimento de árvores isoladas ou distan- Baptista da. Geomorfologia e meio ambiente/Antônio José
ciadas significativamente umas das outras. O Teixeira e Sandra Baptista da Cunha (Org.). 4. ed. – Rio
suprimento de água, neste caso, faz-se atra- de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
vés da sua captura em profundidade. O fato IBGE. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. Mapa
observado de que a Curatella americana ocorre de unidades de relevo do Brasil. Esc. 1:5.000.000. 1993.
nestas áreas de forma sempre verde, mesmo IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
durante o período de estiagem, é mais um Macrozoneamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do
Parnaíba. Rio de Janeiro: IBGE, 1996. 111p. (Série Estudos
dado importante no qual se baseia a hipótese e Pesquisas em Geociências, 4).
de que a água encontra-se armazenada em
NIMER, Edmon. Clima. In: IBGE. Geografia do Brasil; v.2,
profundidade. A captura de água nestas áre- p. 151-187, Rio de Janeiro, 1990.
as, bem como naquelas em que a vegetação se
RADAMBRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto
instala diretamente sobre o arenito aflorante, RADAM, 1978.
faz-se a partir de um sistema de raízes que RAMBALDI, Denise Marçal; OLIVEIRA, Daniela
podem atingir cerca de 10m de comprimento, América Suárez de. Fragmentação de ecossistemas: causas,
eventual e localmente podendo atingir cifras efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de
maiores, como observado na Serra do Bugarim, políticas públicas./ Denise Marçal Rambaldi, Daniela
ao aproveitarem as fendas existentes para atin- América Suárez de Oliveira (Orgs.). Brasília: MMA/
SBF, 2003.
girem níveis profundos com boa disponibili-
RATTER, James Alexander; DARGIE, T. C. D. An analysis
dade de água. Portanto, as diferenças
of the floristic composition of 26 cerrado areas in Brazil.
florísticas têm sua variabilidade relacionada a Edinburgh Journal of Botany. v.49, p. 235-250, 1992.
características muito particulares e localizadas, ROSS, Jurandyr. L. Sanches. O registro cartográfico dos
dentre as quais podem ser citadas a variabili- fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo.
dade espacial, presença da água, sendo que Revista do Departamento de Geografia, 6 FFLCH-USP, São
nas áreas deprimidas também é importante o Paulo, 17-29p. 1992.
tempo de inundação, profundidade da lâmi- SARMIENTO, Guillermo; MONASTERIO, Maximina.
na d’água, presença/ausência de afloramento Ecologia de las sabanas de America Tropical. Analisis
macroecológica de los llanos de Calabozo, Venezuela.
rochoso, posicionamento na topografia, pro- Cuadernos Geográficos nº 4. 126p. 1971.
fundidade e pobreza/riqueza de nutrientes do
SOTCHAVA, Victor Borissovitch. O Estudo dos Geossis-
solo, e presença e profundidade da crosta e temas. In: Métodos em Questão nº 16, São Paulo, IG/USP,
canga ou couraça laterítica. 1977.
TRICART, Jean; KIEWITDEJONGE, Conrad. Ecogeography
Referências and rural management. Harlowl: Longman Scientific, 1992.
ALMEIDA, Fernando Flávio Marques. Diferenciação VELLOSO, Agnes. L.; SAMPAIO, EVERARDO, V. S. B.;
tectônica da plataforma brasileira. In: CONGRESSO PAREYN, Frans. G. C. Ecorregiões: propostas para o bioma
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 23., Salvador, 1969. Anais. caatinga; resultados do seminário de planejamento
Salvador, SBG. P.29-46. ecorregional da caatinga. Recife, TNC/APNE, 75p. 2001.
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