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: Movimento hip hop. Rap. Discurso musical. Identidades étnicas.
This hip hop emerged in the United States, created primarily by young people from African
American and Latin American communities in the suburbs of New York city in the late
1970s. The movement has complex roots and, consequently, presents a heterogeneous
context. In this sense, even though hip hop is related to a common collective universe, in the
emergence of the street culture, it presents conflicts and contradictions, as in any other
community. The hip hop movement came to Brazil through the media, but we consider that
this transposition process was not based solely on the passive consumption, but on its
reappropriation. This way, Brazilian hip hop is constituted as a local expression of a
worldwide phenomenon. Rap, besides being a musical genre consumed by young people from
the Brazilian suburbs, is also a generator of meanings, and its musical discourse is
characterized as one of the stages of this production. Thus, besides listening to the songs, the
public also wants to know who make them, and what their opinions, ideas and understanding
of reality are. This production of meaning also permeates an aesthetic, behavioral, political
and ideological, in other words, the constitution of linked identities, principally, the periphery
and the ethnic predominance of what they live in these social spaces.
O movimento hip hop1 em sua essência pode ser considerado um fenômeno mundial.
Inicialmente, suas manifestações eram desenvolvidas predominantemente nos Estados Unidos
durante a década de 1980. Entretanto, na década seguinte, marcada pelo acirramento da
globalização, e pela þ
no âmbito cultural, o hip hop, principalmente pelo
protagonismo assumido pelo rap3, por meio da indústria fonográfica e pela mídia, transcende
as fronteiras nacionais para adquirir adeptos em inúmeros países.
Neste sentido, o hip hop, possui expressões locais e que se trata de um processo
heterogêneo em que ³no local´ é ressignificada sua matriz norte-americana. Mesmo que
muitos dos termos, roupas ou mesmo a musicalidade sejam mantidos
ao modelo
original, o movimento perpassa por um processo de legitimação e de autenticidade.
O hip hop, no período em que surgiu, entre o final da década de 1970 e início de
1980, pode ser considerado um, ³vértice da cultura afro-americana, surgida nas camadas
pobres da sociedade dita µpós-industrial¶, em Nova Iorque´ (YOSHINAGA, 2001, p. 06). Isto
porque, o movimento foi constituído primordialmente por jovens
De acordo com os antropólogos Sidney Mintz e Richard Price, nenhum grupo, por
mais equipado que esteja, ou por maior que seja sua liberdade de escolha, é capaz de transferir
de um local para outro, intactos, o seu estilo de vida e as crenças e valores que lhe são
concomitantes. Desde o início da formação da cultura afro-americana, da presença dos
africanos na América, via escravidão, ³o compromisso com uma nova cultura, em
determinado lugar, inclui a expectativa de um dinamismo contínuo, de mudanças, elaboração
e criatividade´ (MINTZ; PRICE, 2003, p. 76). As culturas afro-americanas, neste sentido,
tiveram igualmente esse ³dinamismo intrínseco´, e ³muitas formas sociais e culturais
contemporâneas representam continuidades diretas das práticas africanas´ (MINTZ; PRICE,
þ p. 77).
Poderíamos dizer então que, além do contexto social, da intensa atuação de afro-
americanos em defesa dos direitos civis, tradições africanas relacionadas à oralidade e estilos
1
Entendemos o hip hop enquanto um movimento cultural, porque concordamos com Teixeira Coelho (1997) ao
considerar que são fenômenos da modernidade com formação fluída, ³não regida por contratos formais de
nenhuma espécie (embora nelas se possa observar a existência de códigos), cujos membros relacionam-se de
modo informal mediante uma constelação de princípios ou preceitos´ (p. 229).
2
Renato Ortiz (2003) utiliza o conceito þ , pois diferencia o termo ³global´ que emprega para
referir-se a processos econômicos e tecnológicos e ³mundial´ que utiliza para designar o domínio específico da
cultura. (p.29).
3
O hip hop é composto por cinco elementos básicos, o DJ (disc-jóquei), que cria as bases eletrônicas musicais e o
MC (mestre de cerimônias), que canta as rimas, estes formam o gênero musica rap; o breakdance, a dança; o
graffitti, a arte visual e o conhecimento. Os cinco elementos, portanto, se expressam por três modalidades
artísticas: a dança, a arte visual e a música.
musicais criados pelos afro-americanos, não na mesma medida, contribuíram na construção
do hip hop, principalmente do rap, no final da década de 1970 nos Estados Unidos.
Assim como nos Estados Unidos, o lugar de maior expressão do fenômeno se
encontra nas periferias, o que caracteriza um quase imediato processo identificador. O mesmo
poderíamos falar sobre a especificidade étnica do movimento, uma vez que o hip hop, em sua
origem, possui essa característica. Neste sentido, assim como naquele país a emergência do
hip hop esteve relacionado a um contexto social, étnico e cultural específico, no Brasil não foi
diferente, pois, mesmo com a apropriação das manifestações norte-americanas, as
especificidades e vínculos históricos relacionados aos afro-descendentes brasileiros fizeram
parte da formação do hip hop no Brasil.
O hip hop, como tantos outros movimentos, vai se constituir, de acordo com Yúdice
(1997), como uma cultura de possível reação a um contexto de segregação social, e de
produção, não apenas artística, mas também de novas formas de identidade, de patrimônios
culturais e símbolos. Ao citar o ¢ e o hip hop, o autor destaca que, ³por meio das músicas
nada tradicionais como o ¢ e hip hop, os jovens procuram estabelecer novas formas de
identidade desvinculadas das proclamadas premissas do Brasil como uma nação sem
diversidades conflitantes´ (p. 27).
Por sua vez, o intenso processo de urbanização, ocorrido nas décadas de 1960 e 1970
no Brasil, teve como conseqüência um vertiginoso aumento das zonas de pobreza tanto dentro
das cidades como também ao redor delas, através de um processo de
nas
metrópoles.
Segundo Rodrigo Lages e Silva, a partir da década de 1980, o termo periferia começa
a ser usado genericamente tanto para falar do subúrbio, quanto para falar das favelas. Segundo
o autor:
Periferia não se refere a uma noção geográfica, é um conceito que tem mais a
ver com o isolamento dos grupos urbanos, cabendo o adjetivo de periféricos
àqueles inferiorizados moral e financeiramente. Portanto, periferia é um
conceito que ganha ênfase a partir do aprofundamento da vigilância e da
prevenção contra a violência, ou seja, como problema social a ser agenciado.
(LAGES E SILVA, 2006, p. 08)
A formação do hip hop no Brasil, reiteramos não foi uma apropriação passiva do
movimento norte-americano, até mesmo porque é pertinente ressaltar que, em São Paulo, o
espaço de produção cultural juvenil se desenvolvia desde 1970. Nessa época, ³as
equipes de bailes começaram a estruturar-se em meio ao processo de formação dos bairros
periféricos´ (GOMES DA SILVA, 1998, p. 71). Neste mesmo contexto, ³o aparecimento de
novos aparelhos de som propiciou a realização de bailes em grandes espaços fechados sem a
necessidade de banda ou orquestra, mas apenas com discos.´ (FELIX, 2005 p. 50). Assim, as
festas freqüentadas principalmente por negros,
Os bailes no Brasil, portanto, apresentavam uma mescla de gêneros musicais
norte-americanos e brasileiros e o ritmo predominante
þ era ³naturalmente
acompanhado pela estética Black Power: cabelo , sapato mocassin ou plataforma e calça
boca de sino´ (GOMES DA SILVA, 1998, 72). Chegaram também ao Brasil, naquela época,
informações relacionadas às lutas por direitos civis por parte dos afro-americanos em seu país.
Neste âmbito, inúmeros rappers brasileiros declaram na mídia, em shows, e nas canções,
terem contato com biografias de þ
, e de terem conhecimento sobre a trajetória de
e dos
.
A partir da década de 1970, a
þ nacional apresentou relevante crescimento:
músicos como Tim Maia, Jorge Ben, Tony Tornado, Cassiano, Banda Black Rio, Gerson
King Combo, Sandra de Sá e outros que passaram a ter presença constante nos eventos
relativos aos bailes (GOMES DA SILVA, 1998, p. 73).
Nos bailes da década de 1980, o rap surgiu integrado ao universo dançante em que
tocavam os clássicos do rap norte-americano com
e o
!MC. Segundo
Silva (1998), ³no baile black o rap integrava-se a um espaço ideologicamente distanciado do
movimento hip hop que estava se constituindo através das ruas´ (p. 74).
Em São Paulo, o lugar que de início agregava os elementos do hip hop num mesmo
espaço era a Estação São Bento do Metrô, mas como o espaço da Estação era predomínio do
break muitos rappers se sentiram desprivilegiados e por volta do ano de 1985 passaram a
4
³Mas a multiplicação de oportunidades para hibridar-se não implica indeterminação, nem liberdade irrestrita. A
hibridação ocorre em condições históricas e sociais específicas, em meio a sistemas de produção e consumo que
às vezes operam como coações segundo se estima na vida de muitos imigrantes.´ (CANCLINI, 2006, p. XXIX).
ocupar outro local, a
" no Centro de São Paulo. Desse espaço surgiram
importantes grupos de rap como o !#
± !¢
$þ
# e %
.
De acordo com Silva (1998), a organização dos rappers na
" foi de
extrema importância para os desdobramentos políticos e para a predominância da temática
étnica do hip hop paulistano. Neste momento, o grupo de rap
&þ% ganhava
visibilidade no hip hop e seus vídeos-clipe exibiam constantemente imagens de þ
e
. Neste sentido, o acesso dos rappers com a luta travada pelos afro-
americanos em um contexto diferente do Brasil ³possibilitou-lhes uma espécie de
redescoberta de si mesmos o que conduziu à revisão dos fundamentos dos mitos da
democracia racial´ (p. 97). Também foi na praça que o hip hop teve contato com o #'
(
$þ
# '¢ e com o )
(
#.
A aproximação entre os dois universos aconteceu no início da década de 1990, por
iniciativa da promotora de bailes *
"
que criou o *
, que promovia eventos
para apresentação de rappers nos bailes. Foi a *
"
também pioneira em desenvolver
uma programação voltada para o público juvenil, que foi apresentada na +
.
Os bailes também tiveram relevante importância para a música negra no Brasil, pois ³a
estrutura organizacional desenvolvida previamente pelas equipes de bailes foi decisiva, pois a
partir delas a produção musical consolidou-se via mercado fonográfico paralelo à grande
indústria´ (GOMES DA SILVA, 1998, p. 75).
Apear das palavras de Silva (1998), para o qual a organização dos rappers na
" foi importante para os desdobramentos políticos e para a predominância da
temática étnica do hip hop paulistano, há que se tornar a assertiva do rapper brasiliense GOG
no qual afirma que o hip hop não teria surgido apenas em São Paulo, mas também em outras
regiões do país também, embora este estado seja onde o movimento adquiriu maior
expressividade e representatividade a nível nacional.
Grande parte desses desdobramentos políticos e étnicos que o hip hop paulista
apresenta está relacionada principalmente ao fato das inúmeras instituições serem criadas na
cidade de São Paulo e regiões metropolitanas, o que conferia um caráter organizativo ao
movimento, e, pela aproximação com outros movimentos sociais, além do próprio #'
(
$þ
#
'¢ , que levou o hip hop a ser considerado também um movimento
negro juvenil.
A primeira pesquisa desenvolvida sobre o hip hop, por Elaine Nunes de Andrade,
possuía essa temática. A educadora considera que a organização dos rappers de São Bernardo
do Campo possibilitava uma formação política recorrente da prática social. Outra referência
importante sobre a constituição das instituições, chamadas normalmente como , é a tese
do antropólogo João Batista de Jesus Félix, intitulada ,
, -
*
.
* /
(2005). O antropólogo trata desde os bailes a formação do hip hop
paulistano, ao qual analisa a 0
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, 1
&/þ
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2
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