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CO M

258 # 16.03.2008
Jornal Diário | Ano LX I | Nº19014 | 0,55 e
Fundado em 1946 | Terceira | Açores

Emílio Ribeiro

Comunista
graças a Deus
olhares NOTA DE ABERTURA
FOTOGRAFIA antónio araújo José Lourenço

04 Emílio Ribeiro
Emílio Ribeiro: o guerreiro
[reportagem] Tema de abertura: Começou aos 14
anos nas associações juvenis, foi per-

10 Combustíveis nos Açores


seguido pela PIDE e fundou e liderou
[REPORTAGEM] mais de uma dezena de movimentos
sociais, sindicais e culturais na Terceira.
Aos 78 anos, Emílio Ribeiro fala em mis-
são cumprida: “Penso que já desempe-
nhei o meu papel. Agora cabe aos mais
novos abrirem novos caminhos. É o re-
pouso do guerreiro”. Fundou o Parti-
do Socialista na Terceira. Foi presidente
da Fanfarra Operária, onde abriu esco-
las de ballet, teatro e piano. Liderou o
Sindicato dos Empregados de Escritório
e Caixeiros, o Sport Clube Lusitânia, a
Conferência de São Vicente de Paulo, a
delegação diocesana da Cáritas em An-
gra... É cristão, acredita no comunismo
e diz que sempre tentou ser um “ins-
trumento” para tornar a sociedade me-
lhor. Emílio Ribeiro conta, a DI-Revista,

12 Francisco Coelho e Reis Leite


a sua história.
[PERSPECTIVAS] Reportagem: a convulsão no mercado pe-
trolífero mundial terá, mais cedo ou mais

14 Maduro-Dias
tarde, reflexos significativos no arquipéla-
[VELA DE ESTAI] go. Nos últimos quatro meses, a Região
registou quatro aumentos no combustí-

16 Victor Rui Dores


vel. E tudo aponta que as coisas não vão
[CRÓNICA] ficar por aqui. No planeta, várias agên-
cias, perante este problema, apontam o

18 Luiz Fagundes Duarte


mar como a fonte de uma solução. Por
[FOLHETIM] cá, ainda se continua à espera.
Reportagem (outra): o Centro de Co-

20 Centro de Conhecimento
nhecimento dos Açores reúne diversos
[REPORTAGEM] de documentos de interesse cultural e
histórico. Uma boa parte desse acervo

22 Comunidade Gaming
está digitalizado e pode ser consultado
[REPORTAGEM] na rede de postos do centro ou atra-
vés da internet. O objectivo é facilitar o

24 A cidade e as serras
acesso a documentos considerados re-
[REPORTAGEM] levantes para a cultura e história dos
Açores e que até agora estiveram guar-

26 Benjamim & Heitor


dados sem possibilidade de consulta.
[DESPORTO] Entrevista: É histórica a incompreensão
dos cidadãos das urbes em relação aos

28 Sugestões
rurais, e ainda hoje se mantém intacta,
[AGENDA] prejudicando uns e outros. Mas quem
mais sai a perder, em termos de ima-

29 Tiro&Queda
gem, são os que habitam as zonas ru-
[CARTOON] rais, defende Calos Duarte Oliveira, an-
tigo Secretário de Estado da Agricultura.
No resto, o prejuízo é de todos.

DI DOMINGO  16.MARÇO.2008 DI DOMINGO  16.MARÇO.2008


Emílio Ribeiro

“Sou um
associativista
compulsivo”
Começou aos 14 anos nas associações juvenis, foi perseguido

pela PIDE e fundou e liderou mais de uma dezena de movimentos

sociais, sindicais e culturais na Terceira. Aos 78 anos, Emílio

Ribeiro fala em missão cumprida: “Penso que já desempenhei o

meu papel. Agora cabe aos mais novos abrirem novos caminhos.

É o repouso do guerreiro”. »

DI DOMINGO  16.MARÇO.2008
REPORTAGEM helena fagundes fotografia antónio araújo Fundou o Partido Socialista beiro, na próxima reunião, vai falar sobre este tema’. rouca, de “associativista compulsivo”. Ainda antes do
Não sabíamos quem é que ia nomear para contradi- 25 de Abril, foi filiado no MPD/CDE, na Acção Socia-
na Terceira. Foi presidente da Fanfarra Operária, onde abriu esco- zer. Todos tínhamos de estudar o assunto, porque po- lista, e presidente da direcção do Sindicato dos Em-
díamos ter de refutar. Era uma coisa fabulosa, em ter- pregados de Escritório e Caixeiros. Num currículo de
las de ballet, teatro e piano. Liderou o Sindicato dos Empregados mos de aquisição de conhecimentos e de consciên- seis páginas que entrega logo no inicio da entrevis-
cia crítica”. ta lê-se ainda que foi presidente da delegação dioce-
de Escritório e Caixeiros, o Sport Clube Lusitânia, a Conferência Uma consciência crítica que Emílio Ribeiro não vê na sana da Caritas, do secretariado diocesano dos Cur-
juventude de hoje. “No fundo, penso que a nossa ju- sos de Cristandade, da Conferência de São Vicente de
de São Vicente de Paulo, a delegação diocesana da Cáritas em An- ventude é sempre fabulosa, os adultos é que são os Paulo. Foi ainda membro da direcção nacional e coor-
principais culpados do alheamento, só aparente, dos denador regional do Sindicato dos Trabalhadores da
gra... É cristão, acredita no comunismo e diz que sempre tentou jovens. Não lhes marcam metas, não lhes propõem Função Pública do Sul e Açores, conselheiro nacional
iniciativas, não lhes dão alternativas”. da federação dos STFP e vereador da Câmara Munici-
ser um “instrumento” para tornar a sociedade melhor. Emílio Ri- Recebe-nos em casa, na Rua do Galo. A meio da con- pal de Angra. Fundou a cooperativa cultural Sextante,
versa, puxa de um postal de parabéns vermelho, fei- a União das Colectividades de Cultura e Recreio dos
beiro conta a história de um associativista compulsivo. to pelos dois netos. “Está a ver, é disto que eu estou a Açores, bem como as publicações “O Búzio” e “Direc-
falar”, diz, abrindo o cartão. Um dos netos escreve so- to”. Colaborou em vários outros jornais da ilha. Lide-
bre o percurso do avô. Diz que gostava que a sua vida rou a Fanfarra Operária. E o currículo continua.
conseguisse ser assim tão completa. “É isso que lhes Chega à Terceira ainda com 20 anos. Depois de ter ti-
procuro transmitir, que existem muitos caminhos pa- do de regressar ao Pico, após a PIDE iniciar uma per-
Talvez tenha começado ainda em São Roque do vogado que era contra a situação e que nos forçava ra seguir e que o associativismo é um dos mais im- seguição à Sociedade Juvenil dos Autodidactas Portu-
Pico. Emílio Ribeiro, na altura uma criança, via os ho- a discutir assuntos de extraordinário interesse social. portantes”. gueses, Emílio Ribeiro teve de deixar novamente a ilha
mens da ilha saltarem para os botes da caça à baleia Chegava, tinha uma reunião connosco e dizia: ‘O Ri- Emílio Ribeiro é o que chama, com uma gargalhada para frequentar a tropa. Acaba por se fixar na Terceira,
e chegarem cansados, com pouco dinheiro para re-
ceber e muito para dar a ganhar aos patrões. “Abas-
teciam-se numa mercearia propriedade dos mesmos
senhores que faziam enriquecer e onde podiam com-
prar fiado. Se algum chegava a uma altura em que
não tinha como se orientar, chegavam a dizer que não
lhe davam mais fiado. As pessoas estavam condena-
das à pobreza e apenas uns poucos senhores tinham
voz activa. Era uma miséria que eu não podia compre-
ender”, conta, hoje, aos 78 anos, após uma longa his-
tória de envolvimento em movimentos sociais, sindi-
cais e culturais.
Já no Faial, para onde foi para completar o primei-
ro ano do liceu, soube de uns “senhores” da ilha que
eram contra a situação e que se reuniam no escritó-
rio de um deles. “Devia ter uns doze anos e senta-
va-me num banco do lado de fora, só para os ver en-
trar. Eram pessoas influentes e estavam contra o regi-
me, contra toda aquela situação de atraso... Ainda não
tinha conseguido aceitar a situação daquelas gentes
do Pico, os senhores que eram donos dos trabalha-
dores. Só de os ver entrar para o escritório tinha uma
sensação de vitória, como se no fundo existisse espe-
rança”.
Seria já em Loulé, no Algarve, para onde foi em 1944
para tirar o sétimo ano de liceu, actual 12ºano, que
entrou no mundo do associativismo. As ideias com
que se debatia ainda no Pico ganharam forma. “Eu
sou filho de um bom carpinteiro e sempre vivemos
uma vida sem passar grandes necessidades, mas ti-
nha essa consciência. Mal cheguei ao Continente en-
volvi-me no MUD/Juvenil, como tesoureiro”.
A PIDE acabaria por proibir o movimento. A sede seria
fechada pela Guarda Nacional Republicana, mas, pou-
co depois, Emílio Ribeiro entrava noutra associação, a
Sociedade Juvenil dos Autodidactas Portugueses. “Era
um grupo de malta preocupada, rapazes e raparigas
da mesma idade, que se reunia, liderado por um ad-

DI DOMINGO  16.MARÇO.2008 DI DOMINGO  16.MARÇO.2008


onde conhece a mulher. “Fico por cá e começo a tra- situações de verdadeiro desespero, de miséria doen-
balhar na Base, sempre envolvido em associações. É tia”. Qual foi a situação que mais o marcou? Emílio Ri-
também na Base que acabo por ter mais uma das mi- beiro baixa a voz, cruza os braços sobre a camisola de
nhas aventuras, sempre com política pelo meio”. lã grossa e responde. “Deparei-me com um caso em
Era ainda a época dourada da Base das Lajes, que ab- que uma família de três pessoas vivia na absoluta po-
sorvia uma grande parte da mão-de-obra da ilha. A breza. Eram um irmão doente, que não conseguia ga-
“aventura” envolveu Emílio e dois colegas. “Nessa al- nhar nada para trazer para casa, uma mãe velhinha e
tura tinha acontecido o assalto ao navio Santa Maria, uma irmã que ganhava umas migalhas a trabalhar pa-
pelo Henrique Galvão. Tratou-se de um caso político, ra a Casa dos Bordados. Juntámos esforços e conse-
ele foi rumo ao Brasil e falou-se que tinha sido uma guimos arranjar-lhes uma casa decente, já com casa
acção de protesto contra o regime fascista. Uma revis- de banho, por exemplo, e sem necessidade de pagar
ta brasileira publicou um artigo sobre isso. Um ami- renda, no Pico da Urze. Não sei quem mora hoje nes-
go emprestou-ma para eu ler e partilhei a leitura com sa casa, mas foi um caso que me marcou”.
esses dois colegas. Lembrámo-nos de tirar fotocópias No entanto, o seu envolvimento no socialismo e no
para distribuir e usámos a máquina que existia no es- comunismo - chegaria a assistir a algumas reuniões
critório. Tivemos azar porque o meu colega deixou fi- do Partido Comunista Português e a “dar o nome” co-
car lá o artigo. Uma americana foi tirar fotocópias e mo deputado – custou-lhe o virar de costas da Igreja.
começa a sair aquilo. Chamou o meu colega, que dis- “A uma dada altura, e não é com pouca tristeza que
se que não sabia de nada. Havia uma tensão entre Es- digo isto, começaram a dizer que eu era um subma-
tados Unidos da América e Portugal e ela, com me- rino do comunismo na Igreja. Disse que preferia con-
do que aquilo pudesse criar um conflito diplomático, tinuar a ser quem era e deixar de ir à Igreja. Acabou-
chamou a polícia. Foi um cowboiada, um grandessís- se o submarino”. Porém, não se considera comunista.
simo pé-de-vento dentro daquela Base, com polícia “Sou socialista. O comunismo exige um grau de entre-
americana e portuguesa ao barulho e vistorias às nos- ga muito elevado”.
sas secretárias”. Emílio Ribeiro foi também o fundador do Partido So-
Emílio Ribeiro e os colegas acabariam por se entregar. cialista na Terceira. A casa na Rua do Galo seria a pri-
“Nesse dia houve uma coincidência. Dois colegas nos- meira “sede” socialista na ilha. “Os primeiros militan-
sos estavam doentes e tinham ido à Base apresentar tes que se filiaram na Terceira fizeram-no na minha
atestados. Eles ficaram no escritório durante a hora de casa. Cheguei a andar por cá com o doutor Mário Soa-
almoço enquanto a malta toda saiu. Começaram a li- res. Foi a partir da minha casa que se colocou a estru-
gar uma coisa à outra e estavam a implicá-los no que tura no terreno, por assim dizer”. de e Segurança Social, nos incentivou a avançar. Abriu Não é apenas a morte do filho que Emílio Ribeiro ain-
tinha acontecido. Eu e os outros que tinham tirado É com bons olhos que vê o governo socialista, quer logo as portas ao cofre e deu-nos tudo quanto fosse da vive. Sentado na sala de estar – a idade foi-lhe rou-
fotocópias encontrámo-nos no corredor e decidimos a nível regional como nacional: “Penso que o Gover- preciso. Penso que existem coisas que são mais im- bando a capacidade de andar – lembra as várias peri-
entregar-nos, pois iam prendê-los”. no de César tem sido francamente positivo, com uma portantes que as diferenças políticas”. pécias que viveu: A ida ao cinema com um grupo de
Depois da confissão, veio a PIDE. Emílio Ribeiro viu a grande preocupação social. Acho o mesmo do presi- Apesar da grande fatia da sua vida dedicada ao sindi- amigos em que encontrou o director da PIDE na Ter-
casa revistada por duas vezes. A mulher e os dois fi- dente da câmara de Angra, que tem feito um bom tra- calismo e associativismo e das duas rusgas da PIDE a ceira, por exemplo. “Era o senhor Rendeiro. Naque-
lhos pequenos a assistirem, assustados. “Foi uma si- balho apesar de muitas limitações, inclusive financei- sua casa, Emílio Ribeiro garante que nunca teve uma la altura, antes do filme, passaram um documentário
tuação difícil. Estive mais de um mês a ir todos os ras”. E em relação a Sócrates? A pergunta é feita no discussão com a mulher sobre o assunto. Ela nun- com o Marcelo Caetano e o presidente da República,
dias para a PIDE, que era à frente do seminário. Só ia mesmo dia em que milhares de professores percorre- ca lhe pediu para parar. “ Na verdade, ela nunca teve Américo Tomás. No intervalo, eu comentei que até no
a casa dormir e para as refeições. Eram interrogató- ram as ruas da capital em protesto. “Penso o mesmo. grandes convicções políticas, mas acreditava em mim cinema tínhamos que apanhar com aquelas duas al-
rios consecutivos e chatos. Ao fim de um mês e meio Existem reformas que têm de ser feitas e classes que e naquilo que eu fazia. Era uma santa. Chegava a ficar catras. Apareceu o Rendeiro e um dos meus amigos
mandaram-nos embora”. pura e simplesmente se agarram a privilégios, não a acordada pela madrugada fora, nas centenas de noi- disse que eu não tinha coragem de repetir o que ti-
direitos”. tes em que eu tive reuniões. Nunca conseguia dormir nha dito em voz alta. Mas eu repeti. O meu amigo dis-
Do amor e do comunismo Outro dos grandes projectos da sua vida é a Fanfarra enquanto eu não chegasse. Por vezes ficava na janela, se que, no outro dia, eu ia ter uma queixa na PIDE. Eu
Emílio Ribeiro é, acima de tudo, um homem de es- Operária, da qual foi presidente. Emílio Ribeiro criou à espera... Eu, para a consolar, dizia-lhe que ela sabia disse que já lá tinha um livro. O Rendeiro vira-se pa-
querda. “Um socialista”, diz, com convicção. Mas tam- aulas de música, de ballet, um grupo folclórico e o Ci- sempre onde eu estava. Bastava para ligar para a Fan- ra mim e diz: ‘Sim, e a última página está por escre-
bém é cristão. “Quanto mais me apercebo das injusti- clo de Iniciação Teatral, por onde passaram muitos jo- farra, para o sindicato... Encontrava-me sempre lá”. ver’. Dali a oito dias dá-se o 25 de Abril. Foi a última
ças sociais, mais de esquerda e mais marxista me sin- vens, alguns deles das famílias menos ricas da cidade. O espírito revolucionário do pai entranhou-se nos fi- página”.
to. Um homem de esquerda, marxista, não cruza nun- “Quando falo da Fanfarra Operária não consigo dizer lhos? “Penso que sim, de certa forma. A minha filha A mesma frontalidade com que encarou a vida é a
ca os braços perante as necessidades do seu próximo. que tenha sido um projecto apenas importante para a expressa-se através da escrita. O meu filho, que mor- que Emílio Ribeiro guarda para a morte. Encara-a com
Isto entronca no que Jesus Cristo veio transmitir. Sinto Terceira, mas também para os Açores. É uma grande reu, era anarquista. Queria, se calhar, ser mais revolu- naturalidade, diz que o que mais o preocupa é a es-
pela figura de Jesus Cristo um grande fascínio, como instituição. Sobretudo porque conseguimos levar cul- cionário que o pai”, diz, com um riso amargo. posa. Não quer perdê-la nem deixá-la. Quanto a lutas,
sinto pelo ideal do socialismo”. tura às pessoas e, sobretudo, a jovens que de outra Jornalista, o filho chegou a escrever para vários jornais diz que chegou ao fim. “Tentei ser sempre um instru-
Foram várias as associações cristãs onde desempe- forma não teriam acesso a ela”. do Continente. Trabalhou ainda na embaixada da Pa- mento para ajudar os outros, para tornar esta socieda-
nhou funções de liderança. A que mais o marcou foi a Ligado à Fanfarra Operária surgiu o primeiro centro pa- lestina e desenvolveu uma relação próxima com o lí- de um pouco melhor, mas chegou a altura de parar.
Conferência de São Vicente de Paulo. “Posso até dizer ra a terceira idade da Terceira. “Há uma coisa curiosa der da Líbia, Kadafi. Morreria em consequência de um Guardo comigo a memória de todas as associações
que foi a experiência mais marcante da minha vida. em relação a esse projecto. Foi desenvolvido com aju- coma diabético. “Ainda vivo isso em segredo, nem falo por onde passei e de todas as pessoas que trabalha-
Pela primeira vez tive o desafio de ver Cristo em ca- da de uma pessoa que está nos antípodas de mim, no da morte dele à minha mulher, para não a perturbar. ram comigo, mas é tempo de dar espaço aos mais no-
da pobre e procurar libertá-lo dessa situação. Dar-lhe que diz respeito a convicções políticas: O doutor Costa Faço e contas que ele emigrou e pronto”, diz, com os vos para que eles inventem e percorram novos cami-
as condições para se orientar por si próprio na vida. Vi Neves. Foi ele que, enquanto director regional da Saú- olhos emocionados a contrariar a firmeza da voz. nhos. Chegou o repouso do guerreiro”.

DI DOMINGO  16.MARÇO.2008 DI DOMINGO  16.MARÇO.2008


reportagem rui messias

fotografia antónio araújo

Combustíveis nos Açores


Crise à porta?
Jorge Morais esteve na Terceira de que o cenário anormal tende a transformar-se em
normalidade.
A convulsão no mercado petrolífe-
Alternativas
ro mundial terá, mais cedo ou mais O cenário não é famoso, contudo. Fontes ligadas ao
abastecimento de combustíveis na Região confirmam
tarde, reflexos significativos no ar- que se avizinham tempos difíceis. Ou porque serão os
ganhos das operadoras afectados pela evolução do quanto às reservas reais de petróleo no planeta, agrava- vai sair a perder desta fórmula, uns perderão na pri-
quipélago. preço do petróleo; ou porque será o orçamento regio- da pelos riscos da produção já estar em declínio. meira linha, mas quem será alvo do maior impacto se-
nal a pagar uma factura cujo preço vai crescer para as- A esta equação junta-se a incapacidade actual do pla- rá o consumidor – ou porque terão acesso a combus-
segurar aos açorianos preços razoáveis no combustí- neta no refinamento do petróleo. Nos últimos anos, tível mais caro devido ao aumento dos preços, caso as
vel que metem nos carros e energia eléctrica a custos várias refinarias encerraram devido a imposições am- operadoras tenham de começar a pagar a factura do
Avizinham-se tempos difíceis no arquipélago. É ca- comportáveis. bientais. Só recentemente, o mundo começou a reto- aumento do preço do petróleo; ou porque o Governo
da vez mais caro abastecer o carro nos postos das Porque é preciso não esquecer que nesta coisa do pe- mar a capacidade de refinamento exigida pela procu- Regional terá de assumir essa despesa e, usando o or-
ilhas. Em quatro meses ocorreram quatro aumentos. E tróleo, as implicações para a Região não se prendem ra. Esta incapacidade afecta o mercado. Mas, a médio çamento regional, diminuirá investimentos.
as operadoras reconhecem que o crescimento do pre- apenas aos motores dos carros. Uma fatia considerá- prazo, trará outro problema: com maior capacidade Dizem-nos as mesmas fontes do sector que o impac-
ço não se ficará por aqui. vel do combustível que chega às ilhas tem como des- de refinamento, maior pressão existirá sobre a maté- to, neste momento, não é maior porque o dólar está
Nos Açores, o preço do combustível vendido nos pos- tino a produção de energia eléctrica. ria-prima. O que, segundo vários analistas, é mau por- desvalorizado em relação ao euro. Quando a moeda
tos de abastecimento não é real. Deriva de decisões ad- Neste caso, no entanto, nos últimos anos, a Região que não se sabe ao certo que reservas de petróleo o norte-americana começar a subir rumo ao euro, aí os
ministrativas, da responsabilidade do Governo Regional, tem vindo a libertar-se do jugo do petróleo através mundo ainda dispõe. problemas serão maiores, já que o barril de petróleo
que fixa os preços máximos, impedindo assim que as da aposta na geotermia e nas renováveis. Mas o pe- está a ser negociado acima dos 100 dólares e vários
variações no valor do crude se reflictam directamente no so dos combustíveis fósseis continua a fazer-se sen- Solução: o mar analistas perspectivam que se mantenha nesse valor
preçário praticado nos postos de abastecimento. tir. Daí que vários observadores aconselhem a que se Com o desenvolvimento do planeta a crescer, em mé- por um período maior do que o esperado.
Essa variabilidade, no arquipélago, é suportada pelo procurem outras soluções para que, num futuro ex- dia, cinco por cento ao ano, havendo determinadas Daí que várias agências internacionais, assim como
Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos, valor que, no pectável de negrume, o arquipélago não tenha sur- zonas do planeta – caso da China e da Índia – a subir analistas e observadores desta realidade, defendam a
orçamento regional deste ano, ronda os 30 milhões presas desagradáveis. o seu desenvolvimento acima, muito acima, da mé- aposta clara em novas alternativa. O mundo olha ago-
de euros. Mesmo assim, a fatia maior da energia consumida na dia, é natural que o preço dos combustíveis suba. ra com atenção para o bio-combustível, situação que,
Segundo DI apurou, a variação diária do preço do bar- Região é da responsabilidade dos transportes terres- A procura é muita, a oferta abaixo dela; as trocas co- em boa verdade, começa a evidenciar problemas, ca-
ril de petróleo afecta o preço do combustível trazido tres. Segundo dados do Governo Regional, 83 por cen- merciais fazem-se nesta base – quem tem dinheiro, so do impacto no preço dos cereais.
pelas operadoras para a Região. Mas para o consumi- to da energia consumida no arquipélago tem esse fim. manda no preço. O último relatório da Simmons and Company Inter-
dor final essa variabilidade está estabilizada já que o Os Açores contavam, em 2004 com um parque auto- Ora, toda a área do planeta onde o crescimento é national, entidade que analisa o comportamento dos
executivo, através da sua receita neste negócio – ora móvel integrado por 107.492 veículos, 88 por cento muito inferior à média mundial – em Portugal, o cres- mercados petrolíferos e energéticos do planeta, apon-
recebendo mais ora recebendo menos – bloqueia o dos quais ligeiros. A cilindrada média dos automóveis cimento económico anda próximo, acima ou abaixo, ta como solução mais interessante para a crise ener-
efeito directo do preço do petróleo no preço da gaso- ligeiros em circulação na Região era de 1.600 centí- do um por cento – fica assim sujeita aos humores de gética do planeta o mar.
lina e do gasóleo. metros cúbicos, situando-se os seus consumos mé- quem tem dinheiro, sendo, por isso, incapaz de suster A água cobre 70 por cento da superfície terrestre. On-
Mesmo assim, para que as margens das operadoras, dios em 9,4 litros por 100 quilómetros. a subida dos preços e, pior que isso, enfrentar de for- das, marés, energia térmica do oceano, bio-fuel aquáti-
dos revendedores e do próprio executivo não sofram ma viável essa escalada. co ou correntes são alguns dos fenómenos apontados
choques agressivos, o preço final do combustível vai Problema internacional O caso assume maior gravidade nos Açores: o preço por esta entidade como capazes de produzir energia.
subindo aos poucos, procurando, dessa forma, um A crise do petróleo que tem reflexos directos numa actual dos combustíveis é garantido por via adminis- A agência dá o exemplo da energia térmica do oceano
ajuste maior à realidade. Região pequena e dependente resulta de factores ex- trativa – o Governo Regional assume a factura da dife- capaz de produzi amónio que, segundo o documen-
E é por aqui que se evitam males maiores. Mesmo ternos às ilhas. Logo, os resultados são imprevisíveis. rença entre o preço real e o preço praticado, impondo to, pode substituir a gasolina. As algas podem também
assim, quer da parte do Governo Regional quer das Para esta problemática contribuem três factores: cresci- impostos sobre o produto e retirando do orçamento servir de matéria-prima a um bio-combustível.
operadoras que transaccionam combustível para a mento económico em algumas regiões do planeta, pres- regional as verbas necessárias. Estando os Açores próximos do mar, pode estar à sua
Região assume-se que novos aumentos são inevitá- sionando a procura de combustível; instabilidade nos Por isso, com a previsível subida do preço do petróleo, porta a solução para um possível problema energéti-
veis, até porque o preço do barril de petróleo ultrapas- principais países produtores, inflacionando os preços do é expectável que a factura comece a pesar. Daí que os co. Mas para que tal aconteça é fundamental a apos-
sou a barreira dos 100 dólares e a procura dá mostras barril pela perspectiva de cortes na produção; incerteza operadores contactados por DI assumam que alguém ta na pesquisa.

DI DOMINGO 10 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 11 16.MARÇO.2008


P E R S P E C T I V A S
Francisco coelho reis leite

FUNDAMENTALISMOS A LEI, A AUTORIDADE


E A SEGURANÇA
Fomos, eu e o dr. Reis reito. É verdade que o vi- do álcool, o que é juridi- goria dos “passivos”, que
Leite, noutras lides me- ver em sociedade implica camente punido é a con- não querem fumar em 2ª
diáticas, desafiados para respeitar a liberdade dos dução automóvel, e não mão, a isto tendo direito.
glosar o tema dos novos outros e os poderes pú- o consumo – sendo certo Apesar de tudo, o equilí-
fundamentalismos, a res- blicos devem sensibilizar e inevitável que, por con- brio e a convivência so-
peito da nova Lei do ta- e tentar formar e informar trato, seja lícita também cial é possível, e a legis- Portugal é um país ex- duvidoso. para que nos cafés e res- é simplesmente de falta
baco e duma proposta do os cidadãos dos riscos de a limitação do consumo lação em vigor não é tão traordinário, indisciplina- O que se tem passado taurantes se volte a fumar de quem a cumpra ou fa-
Parlamento açoriano pa- determinados hábitos no (todos percebem que tra- “fundamentalista” quanto do e onde a própria cida- com a lei anti-tabágica e com tolerância das auto- ça cumprir.
ra, relativamente a deter- bem-estar individual. balhar embriagado é in- isso… dania, ou, melhor dito, os com a lei anti-álcool dava ridades, até que um novo Além disso, mesmo que
minado tipo de conduto- Até porque a soma dos fracção disciplinar…). Is- Mas a “vigilância demo- deveres de cidadania se uma saga. São leis fero- surto faça aplicar-se as re- a Constituição permita
res, baixar o grau de alco- comportamentos indivi- to sem prejuízo da sensi- crática” contra fundamen- cumprem com relutância císsimas que tocam qua- gras com rigor e assim su- que as iniciativas legisla-
olémia legalmente per- duais tem óbvia repercus- bilização e de censura de talismos, “limpezas so- e por impulsos. se as raias do fundamen- cessivamente. tivas das assembleias re-
mitido para até 0,3 g./li- são na economia e rela- outras e diversas ordens ciais” e intolerâncias tra- Os políticos parecem, por talismo militante e para Quanto ao grau de alcoo- gionais possam ser para
tro de sangue. cionamento globais du- normativas e sociais. vestidas de modernismos sua vez, actuar também as tornar ainda mais ex- lemia no sangue é a mes- aplicação ao todo nacio-
O tema é interessante. ma sociedade. Quanto ao tabaco, como é sempre necessária. Por- por impulsos, ao legisla- travagantes acrescenta- ma coisa. Numas épocas nal, tenho dúvidas que se
Porque recoloca a ques- Creio que, apesar de tu- problema de saúde pú- que não há nada que se- rem, fazendo, muitas ve- se sempre que serão apli- é tudo a soprar no balão justifique, ou seja sequer
tão do conflito entre liber- do, é preciso olhar para blica, o fumo…propaga- ja tão nocivo à saúde co- zes, leis draconianas, de cadas com tolerância ze- por dá cá aquela palha e do interesse regional me-
dade individual, “paterna- as leis existentes de forma se. E surgiu a nova, irri- mo…a falta de liberda- execução duvidosa e de ro, ou seja com rigor. Na noutras cada qual bebe termo-nos nas questiún-
lismos” e Estado de Di- descomplexada. No caso tante mas legítima cate- de! efeito prático ainda mais prática, passadas umas o que entende, que nin- culas nacionais. Devemos
semanas, volta tudo aos guém lhe vai á mão. A tratar do nosso território e
brandos costumes, as persistência não é virtude dos nossos interesses re-
autoridades fecham os que os portugueses culti- gionais e deixar ao País da
olhos e cada um obede- vem. Pátria as questões da Re-
ce à lei conforme a sua Vem tudo isto a propósito pública e do “continente”.
consciência. de uma iniciativa legislati- Pensam os nossos depu-
Agora que estou em Lis- va dos nossos deputados tados que as especifici-
boa, soube que num regionais, que decidiram dades regionais aconse-
concerto de rock, mui- apresentar à Assembleia lham em questões de al-
to badalado, no Pavilhão da República uma emen- coolemia passar de 0,5
Atlântico, até ao intervalo da ao Código de Estrada, para 0,3 graus, pois pro-
não se fumava, indo ca- fazendo diminuir de 0,5 ponham que o Código de
da fumador à rua sempre para 0,3 o grau de alcoo- Estrada tenha regras mais
que precisava de uma do- lemia no sangue em cer- restritivas para os Açores.
se de nicotina. Pois, pas- tos casos. Com isso protegem-nos
sado o intervalo, cada um É uma iniciativa piedo- (se houver quem consiga
fumou no interior do pa- sa, com intuito de melho- fazer cumprir a lei, é ób-
vilhão o que muito bem rar a segurança das pes- vio, o que duvido) e va-
quis e não houve autori- soas, principalmente das lorizam as nossas espe-
dade que aplicasse a tal pessoas menos protegi- cificidades. Já fazem um
lei que todos ameaçaram das, como crianças e ido- bom serviço e outro ain-
que seria aplicada com sos, mas deviam lembrar- da mais se não se imiscu-
tolerância zero. se que o problema portu- írem nas guerras republi-
Não dou muito tempo guês não é de falta de lei, canas.

DI DOMINGO 12 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 13 16.MARÇO.2008


VELA DE ESTAI
Francisco Maduro-Dias
maduro.dias@mail.telepac.pt

PARQUES DOS NOSSOS


Waterloo é, certamente, um lugar famoso. tes, o sonho que fora o desta gente!
Os vencedores de Napoleão, especialmente os ingle- É que a placa - colocada pouco depois de 1918 - não
ses de Wellington, certificaram-se que ali morreriam fala de primeira nem segunda, assume que a “Gran-
definitivamente os sonhos do Imperador. de Guerra” tinha sido única e estava passada. Mal sa-
O lugar, perto de Bruxelas, é uma área de parque pro- biam eles e elas que ali choraram os seus mortos, o
tegida, tem hoje um centro de interpretação, visitas, que viria a seguir…
actividades. O uso destes lugares para algo mais que a contempla-
Do outro lado do Atlântico, os principais pontos da ção da história passada, sobretudo no modo como é
sangrenta guerra que deu início à libertação dos ne- feito, devia interessar a nós, na ilha Terceira, concre-
gros americanos, Pittsburg por exemplo, também são tamente.
sítios protegidos, integrados no sistema do Serviço A gente tem nesta ilha três batalhas interessantíssi-
Nacional de Parques dos EUA e cheios de actividades mas e, não menos relevante, um cerco ao que é uma
lúdicas, pedagógicas, recreativas. das maiores fortalezas do mundo, levado a cabo por
Também é verdade que há muitos outros sítios (as “tropa macaca” de ordenanças, contra a tropa espa-
praias da Normandia são um deles) que só agora des- nhola de S. Filipe.
pontam para este tipo de actividades, em torno de lo- Refiro-me à Batalha da Salga (1581), à Batalha da
cais com importância na vida da humanidade. Baía das Mós (1583), à Batalha da Praia (1829) e ao
Desde há muito tempo os rochedos de Dover, defron- cerco do castelo (entre a quaresma de 1641 e Março
te da França, escavados durante séculos para instala- de 1642).
ção de sistemas e equipamentos militares, com ga- Na Praia até tem sido difícil garantir que esse seja o
lerias e galerias, salas de comando, baterias, pontos dia feriado municipal, apesar do que a batalha signifi-
de observação e zonas de permanência, integram, em ca na história do País e como pedrinha que bem pode
conjunto com sítios UNESCO próximos, um projecto servir para uma reflexão sobre o Mundo!
de uso e animação que até inclui, além dos evidentes Quanto à “das Mós”, foi, só, o lugar onde o grande He-
centros de interpretação e espaços valorizados, pou- rói de Lepanto precisou de dezenas de navios e vá-
sadas da juventude, locais de reunião, hotelaria e res- rios milhares de homens, não apenas para derrotar
tauração. os portugueses que cá estavam, mas porque o xadrez
Entre nós, na parte ibérica de Portugal, os campos de europeu, que se jogava na época, envolvia de um lado
Aljubarrota são, por certo, o sítio mais conhecido. Inglaterra e França e doutro Espanha e ganhar a ilha
E há outros locais ainda, que vivem dentro de nós, era fundamental, custasse o que custasse.
sem precisar de muito alarido. Tudo num quadro ideológico onde é bom não esque-
A Catedral de Bruxelas guarda talvez o marco mais im- cer Martinho Lutero, os Turcos, o Concílio de Trento, a
pressionante de tudo o que se tem passado onde é arte maneirista, Dona Violante do Canto, etc.
hoje a Bélgica. Sobre a “nossa” Batalha da Salga, digamos que de-
Singela, quase escondida numa capela lateral, rebri- veria merecer muito mais que uma corrida, mantida
lhando no fulgor de todas as cores heráldicas do Im- sobretudo pela carolice do Regimento de Guarnição
pério, tem pouco mais de um metro uma lápide, re- nº1, e um monte de pedra à guisa de memorial.
cordando o horror da Primeira Grande Guerra neste Talvez que antes dos parques que por aí se propõe,
termos, em tradução livre: valesse a pena equacionar a organização de três: Um
“Em memória do milhão de mortos do Império Britâ- na Praia, outro na zona da Salga e das Mós, outro no
nico que combateram e morreram durante a Grande Monte Brasil.
fotografia antónio araújo

Guerra, e que repousam na sua maior parte nesta ter- A sério, usando os diversos recursos, promovendo
ra da Bélgica, 1914 – 1918”. retornos sociais e económicos, fazendo - apenas e
Não foi preciso mais para, ao ver depois na TV um do- só - o que os outros já fazem, com coisas que não
cumentário sobre a I Guerra Mundial, recordar esta lá- são menos interessantes, sobretudo se bem enqua-
pide e sentir, de modo muito mais violento do que an- dradas.

DI DOMINGO 14 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 15 16.MARÇO.2008


crónica
Victor Rui Dores

“santo amaro”
as agonias
do enjoo

fotografia FOTO JOVIAL


Sete de Setembro de 1969. -Segura firme o cabo da popa!
Tarde sombria e mar picado. É dia de São Vapor e pai- Mestre Ezequiel decide-se: aproveitando um período
ra no ar um intenso cheiro a maresia. O cais está api- de vagas pequenas, inicia as manobras. Grita para o um lado, fiada do outro, os passageiros, encolhidos estremecer os vidros das janelas. Não retiro os olhos
nhado de gente, que embarca, desembarca e espera contramestre e para o maquinista: e estremunhados, entregam-se à viagem. Alguns fin- do mar. Lá estão as vagas a correr pela popa e tudo
que alguma coisa aconteça… E há também muitas va- -Larga! Marcha à ré! Guina! P´ra vante! gem-se despreocupados. Nanja minha mãe que me aquilo me parece aterrador e enervante!
cas que aguardam a sua vez para serem embarcadas Zarpamos, baloiçando à voga picada. Um cheiro a ga- abraça e vai rezando baixinho… Viajamos recostados Os tripulantes não têm mãos a medir a acudir este e
no “Lima”, com destino a outros matadouros... sóleo começa a toldar-me o estômago… nos desconfortáveis bancos… Há um calor abafadi- àquele outro: contínua e continuadamente, vão des-
Menino e moço, vou de viagem pela primeira vez. Dei- O “Santo Amaro” apita três vezes e foge às ondas que ço, um bafo tépido, um cheiro a suor e a tintas que pejando para o mar o conteúdo das latinhas de alu-
xo a casa da minha infância e, pela mão de minha avançam em colunas cerradas, umas atrás das outras. me dão voltas ao estômago… Olho, impaciente, pe- mínio… Despejam, lavam na borda, voltam a trazer as
mãe, dirijo-me ao cais de partida. Desço, a medo, os O barco rola, assustadoramente, de bombordo para es- las vigias e vejo os vagalhões espumosos que desa- malditas latinhas. Paira ali um cheiro azedo e nausea-
degraus esverdeados da escaleira, e salto para bor- tibordo, de estibordo para bombordo. Abre-se um abis- bam sobre a embarcação. E sinto a pancada das on- bundo… Estou lívido, mas não vomito…
do do “Santo Amaro”, barco de cabotagem, com dois mo à proa e o “Santo Amaro” desce para logo subir. das no costado e o ranger do cavername… A meu la- Lá fora, a chuva tomba, grossa como cabos de amar-
mastros, o casco pintado de preto e a casa de bran- Passamos pelo “Lima”, ao pé do qual o “Santo Ama- do, um soldado vocifera pragas a cada solavanco do ras, e ouvimos as refregas do vento que assobia nos
co. No convés amontoam-se caixotes, malas, barris, ro” é uma autêntica casca de noz… Lá está o navio barco. À minha frente uma velhota, de xaile pela ca- mastros e nas enxárcias…
sacas, lonas… Há cestos e cabazes cobertos com toa- atarracado e pesadão, adornado a bombordo. Olho a beça, vai gemendo um “ai Jesus” de quando em vez. Um tripulante vem informar-nos que há quatro cama-
lhas brancas que exalam o cheiro de frutas maduras: sombra do casco reflectida fantasmagoricamente no Ao lado dela, uma rapariguinha rói nervosamente as rotes disponíveis (cada camarote tinha dois beliches).
ameixas, uvas, peras e figos… Depois de terem carre- mar. Assusto-me com os jorros de águas espumosas unhas. Há uma mulher que come laranjas, outra que Digo à minha mãe que quero ir para lá descansar. Te-
gado o porão com telhas, fecham o alçapão do mes- que saem de vários bueiros do negro costado do na- maldiz a sua sorte. Há um padre que se esforça para nho a cabeça tonta e o corpo em desequilíbrio com os
mo e, acto contínuo, um piano é içado para bordo, o vio…Aprecio o dorso da chaminé e reparo que aquele ler um jornal e, além, um funcionário público a contas tombos do barco… Não consigo adormecer. (Os beli-
que desperta a curiosidade dos que estão no cais. vapor é bem mais alto do que a torre sineira da igreja com as agonias do enjoo… ches eram feitos de tábuas de forro cheirando a sujo
Gaivotas voam em terra e vejo o embate estrondoso da vila onde nasci… (Vomitava-se para dentro de umas latinhas de alumí- e a vomitado…).
das vagas contra as rochas… Sinto frio na cara e a hu- A minha ilha vai ficando para trás, cada vez mais lon- nio em forma de ampulheta…). …O tempo é lesma a passar…
midade dos borrifos de água salgada na boca. ge, até se extinguir na distância… O vento rodou para noroeste e um temporal desfeito E continuamos, inseguros, enfrentando a fúria das on-
- Vamos ter vaga cavada… Vagas de respeito! – A bordo, as acomodações são mais que rudimenta- abate-se sobre nós. As vagas rolam contra o costado das alterosas.
sentencia um velho lobo do mar. res. Há uma sala comum, que alberga a maior parte do barco, galgam-lhe a proa, a borda… Uma das gran- Ao fim de sete horas de tormenta, chegamos à baía
O motor, com um estampido, arranca e o “Santo Ama- dos passageiros, com bancos de madeira transversais des eleva o “Santo Amaro” no ar e fá-lo depois afo- de Angra em águas tranquilas. Durante a manobra de
ro” estremece… Na ponte de comando, mestre Eze- e pegajosos… À popa, mais bancos corridos e apenas cinhar nas grandes covas de água cavadas pelo ven- atracagem no Porto das Pipas, não consigo conter tan-
quiel, picaroto de rija têmpera e marinheiro experi- utilizados quando o mar está bom. À proa, uma cozi- to desabrido. O motor abranda a marcha, desembraia ta emoção: debruço-me na borda e vomito prosaica-
mentado, estuda os ritmos do mar, contando mental- nha improvisada, onde se pode comprar sandes, bo- nas vagas maiores. Só vejo lençóis de espuma, poalha mente…
mente as vagas grandes e pequenas, enquanto orde- lachas, pirolitos e cerveja… de espuma. Estamos entregues à experiência e perícia - Lá vai engodo para o mar! – ironiza mestre Eze-
na ao marinheiro que está em cima do cais: Na câmara comum, janelinhas quadradas, fiada de de mestre Ezequiel. O movimento surdo da hélice faz quiel.

DI DOMINGO 16 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 17 16.MARÇO.2008


folhetim
luiz fagundes duarte
364

Um Bom
Serviço Público
A minha primeira memória do que fossem funcio- rante os pobres e humilhados, descalços e de chapéu
nários públicos ficou irremediavelmente presa às “ra- na mão, punham e dispunham da vida de cada um,
parigas da assistência”, que por finais dos anos cin- quer se tratasse de pagar impostos e derramas, de re-
quenta e pelos sessenta adiante – que é aonde me gistar terras e casamentos, ou de distribuir os benefí-
chega a dita memória – trabalhavam naquilo que o cios da assistência social.
Estado Novo dava como Assistência Social, e que era Mas, como tudo, os tempos foram passando. E eu
uma espécie de caridade do governo que apoiava próprio, de certa maneira – como professor da Uni-
uma parte dos mais pobres (ou uma parte da classe versidade –, sou um funcionário público e, é claro, fre-
média urbana que, substituindo-se aos pobres dos quentador de uma quantidade de serviços públicos –
meios rurais, lá usavam do seu direito à cunha jun- de entre os quais destacarei, hoje, o Serviço de Finan-
to das suas parentes ou conhecidas que trabalhavam ças de Angra do Heroísmo, por meio da sua Chefe, a
na assistência) no acesso aos cuidados mínimos de Sr.ª D. Isaura Silva Evangelho.
saúde. Lembro-me – como se lembrará ainda mui- E pelas melhores razões: quis o acaso da minha vi-
ta gente – do quanto cramavam as pessoas da Ser- da atribulada que eu tivesse que contactar estes ser-
reta (que eram as que eu conhecia) contra os traba- viços, a fim de me ser explicada uma situação fiscal
lhos que era conseguirem receber alguma ajudinha que eu não conseguia entender. E fi-lo pelo meio ca-
da assistência, sendo certo que a maioria dos po- da vez mais em uso nos tempos que correm: por cor-
bres das freguesias adoeciam e morriam, novos ain- reio electrónico – ainda que com a secreta descon-
da mas já parecendo terrivelmente velhos, sem qual- fiança de que, provavelmente, nunca receberia qual-
quer apoio, nas suas casas, porque não podiam pa- quer resposta. Mas recebi-a: por correio electrónico,
gar o Hospital que, ainda por cima, ficava muito lon- no mesmo dia, e assinada pela Chefe do Serviço.
ge, na cidade. Delicada, esclarecedora, profissional.
Nesses tempos, como ainda hoje em muitas partes Porém, como ainda me restasse uma dúvida, respon-
malditas deste mundo em que vivemos, morria-se de di a esta resposta – tendo obtido nova resposta no es-
males que não tinham nome. Morria-se de tristeza. paço de algumas horas. E fi-lo outra vez ainda, e ou-
Morria-se à míngua de tratamento. Na paz de Deus. E, tra, até ficar tudo esclarecido – e sempre com respos-
como se dizia surdamente, de entre os xailes e cachi- tas prontas e claras.
nés negros das viúvas, perante a má criação das rapa- Então, de repente, apercebi-me de que o meu País,
rigas da assistência, que todos os dias recusavam, co- e a minha Região, em matéria de atendimento em
mo se fosse delas o dinheiro, uma ajuda aos mais po- serviços públicos, entraram definitivamente na civili-
bres dos pobres. zação da modernidade: com a sua competência pro-
Essas raparigas, apesar de meras fantasias para mim fissional, a Chefe do Serviço de Finanças de Angra do
fotografia antónio araújo

(eu nunca vira nenhuma, apenas registava o asco com Heroísmo apagou-me, de vez, a terrível memória que
que ouvia as pessoas falarem delas), encarnavam na ainda me aflorava a respeito do que fossem funcioná-
minha infância aquilo que, anos mais tarde, eu viria a rios públicos.
entender como os funcionários públicos: umas pesso- Ao ponto de até me apetece rezar por alma das mal-
as pagas pelo governo e que, azedas e malcriadas pe- fadadas raparigas da assistência…

DI DOMINGO 18 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 19 16.MARÇO.2008


reportagem hélio vieira Algumas obras de referência da cultura da Região AQUISIÇÃO DE DOCUMENTOS
fotografia antónio araújo estão disponíveis para consulta pública no Centro de O acervo do Centro de Conhecimento dos Açores está
Conhecimento dos Açores devido ao recurso das po- a aumentar em boa parte devido à aquisição de ma-
tencialidades das novas tecnologias. terial que se encontra na posse de particulares ou de
Criado em 2004, o Centro de Conhecimento dos Aço- leiloeiras.
res tem sede no Palácio de Silveira e Paulo, em Angra O director regional da Cultura, Vasco Pereira da Costa,
do Heroísmo e parte do seu acervo cultural está dis- garante que existe vontade de continuar a política de
ponível para consulta na internet em http://pg.azores. aquisições de material de interesse regional que pos-
gov.pt/drac/cca sa ser depois disponibilizado para consulta pública.

CENTRO DE CONHECIMENTO O espólio do Centro de Conhecimento dos Açores é


constituído por bibliografia geral do arquipélago, ar-
“No final da semana passada recebi um cidadão que
trazia consigo uma caixa que continha cenas de fono-

Cultura no digital
quivos fonográfico e de fotografia, inventário do pa- gramas de cantorias, danças de Carnaval, “pezinhos” e
trimónio imóvel da Região, documentação para estu- desgarradas de folclore que foram recolhidos em me-
dos genealógicos, teatro popular e património suba- ados do século passado. Existem vários casos de pes-
quático. soas que nos contactam para nos deixar informação
Com postos de consulta na sede, em Angra do Hero- que depois é disponibilizada para consulta do públi-
ísmo, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada e Mu-
seu de São Jorge, o Centro de Conhecimento dos Aço-
res deverá chegar a todas as ilhas através de parcei-
ras com as estruturas que integram a rede regional de
museus e bibliotecas.
A directora do Centro de Conhecimento dos Açores,
Filomena Barcelos, assegura que existe um público di-
versificado e interessado na pesquisa da informação
que vai desde dos estudantes até a investigadores e
académicos de diferentes áreas.
“Recebemos muitas solicitações para disponibilizar in-
formação através da Internet sobre questões relacio-
nadas com genealogia ou de obras de autores açoria-
nos. Por vezes, também recebemos pedidos de infor-
mação sobre os Açores que são de carácter turístico.
Pretendemos disponibilizar a informação todo o tipo
de público e não apenas aos investigadores. No se re-
fere à Internet não está apenas disponível para con-
sulta a documentação que está abrangida pelos direi-
tos de autor ou que ainda não se encontra digitaliza-
da”, refere.
Para além de ser um repositório de diversa informa-
ção regional, o Centro de Conhecimento dos Aço-
res também promove conferências e acções de for- co. Por outro lado, sempre que temos conhecimento
mação que permitem a sua promoção junto do pú- que existe material com interesse para a Região que
blico. se encontra à venda tentamos adquiri-lo”, afirmou.
“Temos utilizado todos os meios que temos ao nosso Há cerca de duas semanas, a direcção regional da Cul-
alcance para divulgar as actividades que o Centro de tura adquiriu numa leiloeira de Lisboa um conjunto
Conhecimento dos Açores tem desenvolvido, de mo- de cartas e postais do maestro jorgense Francisco La-
do a que as pessoas possam encontrar nele uma for- cerda.
ma de acesso a determinados documentos digitaliza- No entanto, Vasco Pereira da Costa reconhece que
dos que, devido ao seu estado de conservação, não muito há ainda para fazer numa área onde existe vas-
podem ser manuseados nas bibliotecas ou nos arqui- ta informação que pode ser do interesse do público.
O Centro de Conhecimento dos tro ou através da internet. O objec- vos”, adiantou Filomena Barcelos. “Sabemos que este trabalho vai levar algum tempo.
Por outro lado, o Centro de Conhecimento dos Açores Temos a preocupação de disponibilizar o mais rapi-
Açores reúne diversos de docu- tivo é facilitar o acesso a documen- tem editado algumas obras em papel e formato digital damente possível toda a informação que não estava
das quais se destaca a “Fenix Angrence ” (parte gene- até agora ao alcance do público por diferentes razões.
mentos de interesse cultural e his- tos considerados relevantes para alógica) do padre Manuel Luís Maldonado. Julgamos que o Centro de Conhecimento dos Açores
Estão já disponíveis para consulta do público a digita- pode desenvolver uma actividade complementar em
tórico. Uma boa parte desse acer- a cultura e história dos Açores e lização de documentos para trabalhos na área da ge- relação às bibliotecas e arquivos regionais. Temos a
nealogia das ilhas de São Jorge, Flores e Corvo e de- mais-valia que é possibilidade de disponibilizar parte
vo está digitalizado e pode ser con- que até agora estiveram guardados corre o trabalho de transposição para formato digital significativa da informação na Internet o que permite
de documentos genealógicos do investigador micae- uma consulta fácil por parte do público em geral e das
sultado na rede de postos do cen- sem possibilidade de consulta. lense Carlos Machado. comunidades escolares”, concluiu.

DI DOMINGO 20 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 21 16.MARÇO.2008


reportagem helena fagundes

fotografia antónio araújo

Os “clãs” dos computadores


Comunidade gaming
Fernando conduz carros de rally. Existem no mercado equipamentos que ajudam essa
simulação a aproximar-se cada vez mais do real. Volan-
Marco e Luís percorrem labirintos tes que rodam a 900 graus, semelhantes aos dos au-
tomóveis, e caixas de mudanças. O equipamento mais
de arma em punho. Tudo na Inter- caro custa 33 mil euros e é quase um carro de rally. A
estrutura inclui um ecrã de 50 polegadas e um volan-
net. Como eles, existem centenas de te que roda a 900 graus. Move-se para a frente e para Pode parecer exagero, mas talvez não seja. Em 2002, peu e mundial.
trás e para os lados e pode atingir uma rotação de 180 os jornais, a rádio e a televisão deram a notícia da mor- O cenário é conhecido: Filas intermináveis de compu-
jovens nos Açores. Pertencem à co- graus. O jogador tem de usar cinto de segurança. Se- te de um jovem sul-coreano de 24 anos que morreu tadores e jogadores que não descolam os olhos dos
não, pode ser cuspido. Fernando não tem este equipa- num cibercafé em Kwangju, a 260 quilómetros de Seul, ecrãs luminosos. Cartazes publicitários de grandes em-
munidade gaming. mento. Fez uma estrutura onde colocou o volante, a ca- depois de jogar continuamente por 86 horas. Alguns presas do ramo da informática em pano de fundo. “É
deira de automóvel e o ecrã. dias depois, outro jovem, desta vez na Tailândia, mor- um verdadeiro negócio, sobretudo se estivermos falar
Porém, 2500 euros aproximam-se do que um jogador ria após uma maratona de 32 horas frente ao compu- ao nível mais alto. Hoje, um puto de 16 anos pode ga-
com uns cinco anos de actividade gasta. Sobretudo são tador. nhar 650 euros por mês apenas sentado a um compu-
São centenas nos Açores. Reúnem-se em clãs que as placas gráficas e a memória RAM, que têm constan- Em 2006 o caso repetiu-se em Pequim, a capital chi- tador”, diz Luís.
se defrontam on-line em sessões que podem durar vá- temente de ser actualizadas, explica Luís Silva, de 19 nesa, desta vez com uma rapariga que jogou “World of A nível local existe a PROLAN, promovida pela Esco-
rias horas e, por vezes, dias. Encontram-se em fóruns anos, do D9 Clan, um grupo semi-profissional que re- Warcraft” durante dias seguidos. Receberia depois um la Profissional da Praia da Vitória, que reúne dezenas
onde discutem desde as melhores tácticas aos melho- úne membros de várias nacionalidades. Luís joga “Call funeral realizado na Internet, por outros utilizadores. de jogadores da ilha. A maioria participa pelo conví-
res jogadores e onde são colocadas as classificações. of Duty”, também em modo de “First Person Shooter”. Marco Coelho está longe destes três casos debatidos vio, mas há quem leve o torneio a sério. “Na edição do
Os clãs podem ser “multi-gaming” – com membros A terminar o 12º ano na área de Artes, tem de conciliar até à exaustão. Mas conhece de perto o sentimento de ano passado, em que ficámos em primeiro lugar, pas-
que se dedicam a vários jogos de computador – mas a escola, os amigos e as maratonas passadas em fren- adição. Está agora numas “férias” do Azorean Vicious sámos duas semanas a treinar. Para a maioria das pes-
cada jogador é, regra geral, especializado. Ao mais al- te ao ecrã do computador. “Sim, de vez em quando a Clan e apenas utiliza a Internet para falar com alguns soas vem o convívio e só depois a competição. Para
to nível, participam em campeonatos nacionais e euro- minha mãe vai-me chamar e dizer que eu devia era amigos no MSN. Engordou 12 quilos desde que pa- nós, veio a competição e só depois o convívio”, explica
peus. A mais recente inovação é os campeonatos en- sair com os meus amigos. Diz-me que só desço mes- rou de jogar. Na casa onde vive com os colegas che- Marco Coelho, dos Azorean Vicious Clan.
tre selecções de vários países. O fenómeno move mi- mo para jantar”, admite, com um meio sorriso. Os jogos gou a estar fechado no quarto durante mais de um dia. Os AVC já estiveram a poucos meses da profissionali-
lhões. de computador são viciantes? Luís não hesita em res- Saía do emprego- é administrador de redes informáti- zação e Luís, dos D9, joga num clã semi-profissional,
O membro do Azorean Vicious Clan, Marco Coelho, de ponder: “Sim. Ponto. São muito. Jogamos nos tempos cas – e jogava pela madrugada dentro. Chegou a ador- mas todos tem noção que optar por esse nível impli-
27 anos, joga “Counter Strike”, no modo “First Person livres e, por vezes, passamos o dia todo a pensar em mecer em cima do teclado: “Não posso dizer que fos- ca abdicar de um vida dita normal. Fernando, com 30
Shooter”, em que, no ecrã, apenas aparecem a arma, tácticas. É muito viciante, mas é algo com que apren- se um estilo de vida saudável. Era comer mal e fumar anos, é casado e já teve de deixar de participar em vá-
o cenário e os inimigos. O jogador está dentro do jo- demos a lidar”. sem parar em frente de um computador. Estou bem rios torneios. Mesmo tendo sido primeiro classifica-
go. Marco joga “a sério” há perto de seis anos. Come- melhor agora”. do no Troféu Mono Marca, em 2007, tem outras prio-
çou com um grupo de amigos, em LAN (off-line), mas Overdose de Internet ridades. Marco não pensa, por agora, voltar a jogar.
depressa saltou para o on-line. O Azorean Vicious Clan, Mas não é fácil lidar com o vício. Alguns estudos de- O negócio Luís quer deixar de fazê-lo quando entrar na faculda-
que Marco abrevia para AVC, surgiu quando já morava monstram que a dependência é tão forte como a pro- Mas os jogos de computador não são apenas um vício. de. Mas é nítido, ao falar com eles, que o gosto ain-
com outros colegas, numa espécie de “República”. vocada por algumas drogas. O jogo absorve quem o jo- São um negócio que rende milhões. As multinacionais da está lá.
Fernando Menezes, descontraído na bancada de ma- ga. A obsessão é melhorar as classificações, vencer o do sector informático patrocinam os melhores jogado- No arquipélago, são muitos os que já entraram neste
deira, de frente para a pista do Bowling, em Angra, on- adversário. res, os prémios dos grandes campeonatos chegam aos mundo. No caso dos jogos de rally, perto de 25 jogado-
de nos sentamos para a entrevista, é outro dos mem- Na Alemanha, já existe um centro de reabilitação para vários milhares de euros. A febre do gaming espalhou- res terceirenses e 30 micaelenses reúnem-se on-line.
bros fundadores do AVC. Para Fernando, o forte é os jovens viciados em computadores e Internet, patroci- se pela Europa, Estados Unidos da América e Ásia. Os jogadores de “Counter Strike” são 120 na Terceira,
carros de alta cilindrada. Joga desde os 14, 15 anos. nado pela Igreja Evangélica. No centro, situado no bal- O Azorean Vicious Clan já participou na CAL (Cyberath- 200 em São Miguel e 30 no Pico. Perto de duas cen-
Hoje acelera com o “Richard Burns Rally”. “É muito neário de Boltenhagen, às margens do mar báltico, no lete Amateur League) e na ETL (E-Tournaments and Le- tenas jogam “Call of Duty”. Na Terceira são 30, no Faial
mais próximo da realidade. Pode-se dizer que já é um Norte do país, a “desintoxicação” é feita através de uma agues), uma plataforma nacional. No entanto, não che- 10. O resto está em São Miguel. Ao todo, são centenas.
simulador”, diz. vida ao ar livre. gou a entrar nos grandes campeonatos, a nível euro- A comunidade gaming chegou aos Açores.

DI DOMINGO 22 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 23 16.MARÇO.2008


reportagem . fotografia henrique dédalo

CONFLITUOSIDADES
A CIDADE E as serras
É histórica a incompreensão dos vivemos “seria bem pior em todos os sectores da eco-
nomia, já que a agricultura gera riqueza para todos, já
cidadãos das urbes em relação aos que é responsável pela gestão de quase 85 por cento
do território nacional e de praticamente todo o terri-
rurais, e ainda hoje se mantém in- tório dos Açores”.

tacta, prejudicando uns e outros. URBANO VS RURAL


Na opinião de Carlos Oliveira, os habitantes das zonas
Mas quem mais sai a perder, em ter- urbanas “não percebem a complexidade do mundo
agrícola e aquilo que são as grandes preocupações
mos de imagem, são os que habitam dos agricultores”:
“Se um citadino conseguisse sequer imaginar o traba- E acentua que “a questão de fundo é que o urbano, ver com o facto de os políticos e os fazedores de opi-
as zonas rurais, defende Calos Du- lho que é para o agricultor tirar o leite das vacas de muitas vezes, que não percebe esta função de interes- nião urbanos, mantêm uma distância física em rela-
manhã e à noite, sem poder sequer pensar em férias se público, do qual ele próprio se serve todos os dias ção à agricultura e ao mundo rural, que prejudicam
arte Oliveira, antigo Secretário de e muito menos em domingos ou feriados, e se es- e em todas as circunstâncias, tem uma imagem do uma visão concreta e rigorosa daquilo que é a impor-
tá a contribuir para a economia nacional e que for- agricultor de alguém que vive à custa do Orçamento tância, para o desenvolvimento sustentável de uma
Estado da Agricultura. No resto, o nece formas de ganhar a vida a todos os que se en- do Estado, que não produz e que ainda por cima cau- região qualquer, e de um país, da actividade em que
contram a montante, como os vendedores de rações, sa incómodos e impactes ambientais e de qualidade o agricultor se move nesse território, e é nesse sentido
prejuízo é de todos. de pesticidas, de máquinas agrícolas – quase todos de vida, sem perceber que o agricultor que tem a sua que, para pessoas como eu, a política nunca vem em
habitantes das cidades -, bem como imensos outros terra, que não é valorizada para construção, enquanto primeiro lugar, mas sim a defesa de uma causa de in-
produtos que ele usa nas suas explorações, mas que, o urbano ainda lhe vai invadir o seu espaço, sem que tervenção cívica, naquilo que é a minha visão do futu-
ao mesmo tempo, dá dinheiro a ganhar às indústrias dê ao agricultor uma mais-valia que lhe permita criar ro do País, no que se refere à importância para todos
Desde tempos imemoriais que o relacionamento agro-alimentares e aos industriais de leite e carne, pa- um clima de maior satisfação e entendimento entre o nós de não andarmos a atirar pedras uns aos outros,
entre urbanos e rurais tem sido difícil, e de acordo ra além de ser o fornecedor, por excelência , de alguns urbano e o rural”. mas sim, partir a pedra necessária com a finalidade de
com Carlos Duarte Oliveira, antigo Secretário de Esta- dos principais e mais preciosos bens alimentares de Inquirido sobre os porquês dessa crispação que che- compatibilizar os interesses do agricultor, quer com as
do da Agricultura, no ministério de Costa Neves, de- quem habita nas zonas urbanas, e se houvesse se- gou aos nossos dias, apesar de cada vez mais os resi- organizações não governamentais da defesa do am-
fende que essa atitude de relações deterioradas, sem- quer um ou dois minutos para os citadinos pensarem dentes das cidades procurarem refúgio no silêncio e biente, de mãos dadas com o cidadão urbano, a fim
pre influenciou, pela negativa, o bom funcionamento nisto, por certo que mudariam a ideia errada que ain- na beleza dos campos, ali adquirindo espaços e cons- de que os políticos percebam que o agricultor, apesar
da sociedade global. da teimam em ter, em relação aos habitantes das zo- truindo habitações, Carlos Oliveira diz que “muitas ve- de pesar pouco no eleitorado, é uma pessoa e, sobre-
Para além disso, considera também que o sector agrí- nas rurais”, sustenta, em entrevista ao DI-Revista. zes naquilo que é a agenda mediática política, o agri- tudo, um empresário que é fundamental para a eco-
cola tem sido sempre o que mais sofre, dada a in- cultor parece pesar menos no eleitorado e é menos nomia do País e para a gestão correcta do território,
compreensão a que é votado pelo cidadão urbano, a GESTÃO DO TERRITÓRIO valorizado aos olhos dos políticos e dos fazedores de para o ambiente e para a sustentabilidade do futuro
juntar à “actual falta de diálogo institucional” entre os Defende também que os agricultores acabam por ser, opinião, que falam para o cidadão urbano, dizendo o do País”, disse ao DI-Revista, Carlos Duarte Oliveira.
produtores agrícolas e o Governo da República, o que por inerência do seu trabalho, os responsáveis pela que este quer ouvir e no que lhe é mais grato escu- “O urbano tem que perceber que para que ele possa ga-
ainda “esmaga mais” a vivência da ruralidade. gestão do território, naquilo que constitui aos olhos tar, na maioria das vezes sem procurar compreender nhar bem a vida e ter tudo o que precisa, é fundamental
Ex-membro do Governo da República e ex-Deputado de todos um verdadeiro mosaico paisagístico, que aquilo que está na génese dos problemas dos agri- que os rural faça o seu trabalho com as melhores condi-
na Assembleia da República, Carlos Oliveira afirma- serve para o turismo poder apreciar as nossas bele- cultores”. ções e em paz e sossego, como membro igual, em par-
se como sendo “apenas um agricultor do Minho com zas. Porque o agricultor, para além de produzir todos E agora? O que fazer para alterar esta situação? ceria, no seio da comunidade global, seja uma Região
meia centena de cabeças de gado para criar e desse os bens que as pessoas conhecem, mas nem sempre “Para se ter uma solução grata para todos em rela- como os Açores, seja um País como Portugal”.
trabalho retirar os seus proventos”. reconhecem, acaba por gerir toda a natureza, o que ção às vivências do mundo rural, é fundamental que “De outra forma, uns mais do que os outros, todos se-
Acredita religiosamente que se não fosse o empreen- lhes dá realmente, funções públicas da maior impor- se inicie um processo de proximidade em relação ao rão menos felizes e lucrarão menos, em todos os sec-
dedorismo dos empresários agrícolas, o País em que tância”. problema e, a grande questão, neste momento, tem a tores da sua vida”, sentencia.

DI DOMINGO 24 16.MARÇO.2008 DI DOMINGO 25 16.MARÇO.2008


reportagem mateus rocha nível competitivo é sobremaneira elevado, o que requer Heitor, em comunhão de ideias com Benjamim.
fotografia antónio araújo imenso trabalho e dedicação da nossa parte”, refere Hei- O médio verde e branco já lança os olhos para a épo-
tor Machado, perante a concordância do companheiro. ca 2008/09. “O Lusitânia está a formar uma base de
“A subida a sénior não foi devidamente planeada, trabalho de reconhecida qualidade. Se não conseguir-
mas, graças ao apoio que recebi, sinto-me preparado mos evitar a descida de divisão, julgo que podemos

BENJAMIM & HEITOR para este desafio. Claro que é complicado estar em úl-
timo, mas o grupo tem um espírito positivo, o que aju-
vencer a próxima edição da Série Açores”.
“Admito que é uma responsabilidade acrescida para

Sonhos de leão
da a enfrentar as dificuldades”, prossegue, num dis- jogadores com a nossa idade vestir a camisola de um
curso pleno de maturidade. clube como o Lusitânia na Segunda Divisão, mas com
“Podemos garantir aos adeptos do Lusitânia uma ati- trabalho e dedicação tudo se consegue”, nota Benja-
tude digna até ao fim. Jamais vamos baixar os braços, mim Vicente.
mas sim dar o máximo domingo a domingo”, reforça, Heitor Machado volta a entrar na conversa para dar a

Os dois jogadores mais novos da Se- A situação financeira e desportiva que o Lusitânia em perfeita sintonia com Benjamim Vicente. receita que qualquer jovem deve seguir, caso preten-
atravessa permitiu o lançamento na alta-roda daque- O promissor atleta dá conta da ambição que lhe vai na da vingar na modalidade:
gunda Divisão Nacional, Benjamim Vi- les que são os dois jogadores mais jovens a evoluir no alma. “Quem anda no futebol pretende sempre mais. “O respeito para com o clube e as pessoas, desde trei-
Campeonato Nacional da Segunda Divisão – Benja- É com elevado orgulho que represento o Lusitânia, nadores a directores, é fundamental, tal como traba-
cente e Heitor Machado, estão no SC mim Vicente e Heitor Machado, ambos com 17 anos. mas não escondo o desejo de um dia dar o salto para lhar com afinco. Não basta ser bom de bola para ter
Heitor fez todo o seu percurso desportivo no emble- a Primeira Liga. Espero realizar o sonho de ser profis- sucesso no futebol”.
Lusitânia de alma e coração mas am- ma da rua da Sé. Campeão de infantis e iniciados, su- sional de futebol”. “É óbvio que também gostamos de sair com os ami-
biu directamente dos juvenis para os seniores. Joga a A humildade é um traço da personalidade de Heitor gos, mas desde que a época começou ficou mais com-
bicionam os grandes palcos do fute- líbero/central, mas pode actuar noutras posições. Machado, o mesmo acontecendo, aliás, com Benja- plicado. Agora, não entendemos isso como um sacrifí-
Benjamim Vicente é médio de origem. Começou no mim Vicente. cio”, apresta-se a acrescentar Benjamim Vicente.
bol luso. Ganhar experiência é o ob- Marítimos de São Mateus e transitou para os “leões” “Queremos agradecer aos elementos mais experientes Em jeito de conclusão, Heitor e Benjamim recordam
quando era infantil do segundo ano. Sagrou-se cam- do plantel. Jogadores como o Duarte Melo (inteligên- os treinadores com quem trabalharam e deixam um
jectivo imediato destes jovens de ape- peão de infantis, iniciados e juvenis ao serviço do gré- cia), Veredas (classe), Alex (entrega), David (boa-dispo- agradecimento muito especial ao técnico João Salce-
mio leonino. sição), Piguita (carácter) e Vítor Vieira (um senhor) têm das. “Teve a coragem de apostar em nós, transmitin-
nas 17 anos de idade. “Estamos a viver uma experiência bastante agradável. O sido fundamentais na evolução dos mais novos”, diz do-nos confiança”.

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Roma, 373 depois de gra, até 20 de Abril.
Cristo. Membro de uma Uma exposição de pin-
das mais antigas famí- tura da autoria de Dimas
lias senatoriais, Festus re- Simas Lopes está patente
gressa de uma longa es- na Carmina Galeria, até 4
tadia através do Império de Maio.
onde o seu pai o enviou “Tesouros Marinhos” é
para fazer a sua educa- o título de uma exposi-
ção. ção de conhas de Augus-
Casado com a deslum- to Veiga patente no Mu-
brante e perspicaz Fla- seu da Graciosa, até 20
mínia, que espera um de Março.
feliz acontecimento,
desfruta de uma exis- Cinema
tência agradável onde
os bons vinhos e os pra- “O Comboio das 3 e 10”
tos refinados (fricassé é o filme em exibição no
de porco com damas- Centro Cultural de Angra,
cos, caçarola de coelho até quinta-feira, dia 20,
gratinado com courge- pelas 21h00. Hoje, do-
te) abundam. mingo, o filme é apre-
Mas esta paz é de curta uma verdade que com- História da Antiguidade sentado às 18h00 e às
duração. Homens são en- plicará talvez mais do tardia na Universidade 21h00.
contrados mortos, com que ele espera... de Brest. Publicou já cer- O Centro Cultural de An-
os globos oculares vaza- Historiador fora de série, ca de uma dezena de li- gra apresenta hoje, do-
dos e a língua cortada. Bertrand Lançon ensina vros. A “Conspiração dos mingo, pelas 15h00,
A investigação é confiada “Uma História de Encan-
ao jovem recentemente tar”.
nomeado adjutor. O as- O Centro Cultural de An-
sunto parece comprome- gra apresenta sábado, dia
ter os médicos e alguém 22, pelas 21h00, “Swee-
muito próximo por quem ney Todd: O Terrível Bar-
ele nutre um afecto pro- beiro de Fleet Street”.
fundo. O Auditório do Ramo DIÁRIO INSULAR - Ficha Técnica: Propriedade: Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda., nº. Pessoa Colectiva: 512002746 nº. registo título 101105 Jornal diário de manhã Composição
Neste romance policial, o Grande apresenta hoje, e Impressão: Oficinas gráficas da Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda. Sede: Administração e Redacção - Avenida Infante D. Henrique, n.º 1, 9701-098 Angra do Heroísmo Terceira
autor enreda-nos na Ro- domingo, pelas 18h00, - Açores - Portugal Telefone: 295401050 Telefax: 295214246 diarioins@mail.telepac.pt | www.diarioinsular.com Director: José Lourenço Chefe de Redacção: Armando Mendes Redacção:
ma do século IV, agitada “Call Girl”. Hélio Jorge Vieira, Fátima Martins, Vanda Mendonça, Henrique Dédalo, Rui Messias e Helena Fagundes Desporto: Mateus Rocha (coordenador), Luís Almeida, Daniel Costa, José Eliseu
pela proliferação de sei- O Auditório do Ramo Costa, Jorge Cipriano e Carlos do Carmo. Artes e Letras: Álamo Oliveira (coordenador) Colaboradores: Francisco dos Reis Maduro Dias, Ramiro Carrola, Claudia Cardoso, Luís Rafael do
tas e pelas conspirações Grande apresenta sexta e Carmo, Luiz Fagundes Duarte, Gustavo Moura, Francisco Coelho, José Guilherme Reis Leite, Ferreira Moreno, António Vallacorba, Diniz Borges, Bento Barcelos, Jorge Moreira, Duarte Frei-
de todos os tipos. O nos- sábado, dias 21 e 22, pe- tas, Guilherme Marinho, Daniel de Sá, Soares de Barcelos, Cristóvão de Aguiar, Vitor Toste, Luis Filipe Miranda, Paulo Melo e Fábio Vieira Fotografia: António Araújo, Rodrigo Bento, João
so herói avança pouco a las 21h00, “O Comboio Costa e Fausto Costa Design gráfico: António Araújo. Agência e Serviços: Lusa Edição Electrónica: Isabel Silva Sócios-Gerentes, com mais de 10% de capital: Paula Cristina Lourenço,
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DI DOMINGO 28 20.JANEIRO.2008
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DI DOMINGO 31 16.MARÇO.2008

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