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O ECLESIÁSTICO

1 – DADOS GERAIS

1.1 - Título e autor:

• É um livro que não forma parte do cânon judaico. Lhe foram dados vários títulos. O
'eclesiástico', deriva da Vetus Latina e quer significar que era livro da Igreja por dois
motivos:

 porque era catecismo para catecúmenos.


 ou porque entrou no cânon devido ao grande uso que dela fazia a Igreja.

• Foi também chamado de 'Livro de Sabedoria' pela liturgia latina, por alguns Santos Padres
e pelos Midraxim hebraicos. Também recebeu o título de η παναντος σοφια, porque
apresenta ensinamentos sobre as virtudes. Hoje usa-se preferencialmente o título de
Sabedoria de Ben Sirá, que aparece como assinatura final, (51,30) ou ainda Siracida.

• O autor é um só: Jesus Ben Sirá. Este personagem nasceu em Jerusalém, onde foi educado
(50,27); manifesta um grade interesse pela vida da cidade. Apresenta traços de ter sido um
escriba amante da Lei. Era de família aristocrata ou, pelo menos, de situação econômica
alta: viaja pelo mundo (seria diplomático ou servidor de algum rei estrangeiro?); parece
ter sido objeto de uma conspiração fruto de uma calúnia (51,7-10; 34,13); manifesta
familiaridade com funcionários e magnatas (11,1); tem grande experiência de diversão em
terra estrangeira (29,33-35), de banquetes sofisticados (31,12-32,13). No final da vida
parece que teve uma escola na qual ensina o amor pelas Escrituras. Fruto de tudo isto foi o
livro.

• Como bom israelita cultiva o amor pelo Templo e pelo Culto, o respeito pelo Sacerdócio e
o zelo pela Palavra de Deus. Se considera a si próprio como o último dos servidores da
Sabedoria (33,16-17); um canal de instrução -à imagem dos profetas- cada vez mais
abundante (24,40-47). Admira as obras de Deus com lirismo e gratidão (39,31-32.38-41.
Na B. de Jerusalém 39, 32-35).

1.2 – Data de composição:

• Situa-se entre 195 e 168 a.C., e mais provavelmente no ano 180. Fixa-se a data de 195
como sendo a mais remota pelo elogio que faz do Sumo Sacerdote Simão (50,1-21),
parecido ao de Flávio José, o qual nos leva a Simão II (220-195 a.C.); dá a impressão de
conhecê-lo pessoalmente e de que sua morte era recente.
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• Fixa-se o ano 168 como data mais recente porque no 167 começa a rebelião macabaica, e
o autor não faz nenhuma referência a ela. À data de 180 chega-se pelas informações do
prólogo: o autor dele é um neto de Ben Sirá, que chega ao Egito o ano 38 do reinado de
Ebergetes, que tem que ser Ptoloméu VII, pois foi o único de sua dinastia que reinou mais
de 38 anos (170-117). O ano 38 de seu reinado corresponde ao 132 a.C.; se o tradutor é
neto, existem duas gerações (50 anos ): logo, por volta do 180.

1.3 – O Texto:

1.3.1 - Processo de Composição:

• O Prólogo indica que foi escrito em hebraico; também o atesta São Jerônimo. Porém o
texto hebraico desapareceu cedo (s.I), tal vez devido à popularidade da tradução grega e,
principalmente, à falta de canonicidade, tanto judia quanto cristã. Os rabinos o citam até o
s.XII p.C. Por volta do 800 p.C. foram descobertos em Jericó, possivelmente originários
de Qum Ram, uma série de documentos bíblicos e extra-bíblicos, entre os quais restos de
Sirácida em hebraico. Em 1896 foram descobertos mais restos do nosso livro numa
Geniza do Cairo, perfazendo mais de duas terceiras partes do total. Em l931 apareceu
mais uma parte, com a qual se completaram 40 dos 51 capítulos. (Provavelmente estes
fragmentos sejam todos cópias daqueles do 800 achados em Jericó). Em 1947 apareceram
em Qum Ram restos contendo fundamentalmente o c.6 (as vantagens da Sabedoria). E,
finalmente, em Massada se encontrou um rolo em hebraico com os cc.39-44. Porém ainda
não foi possível completar o texto hebraico total.

1.3.2 – Versões: Merecem citar-se três:

 A grega: a mais importante por sua antigüidade (s.II) e pelo uso que dela fez a
Igreja. O tradutor conhecia o grego melhor do que o hebraico.(Seria de
mentalidade helênica).
 A Vetus Latina: por volta do 200 p.C. O texto esta conservado na Vulgata,
recolhido por São Jerônimo. Tem de especial o fato de ser quase uma paráfrase,
ou tradução ampliada. Foi muito usada, especialmente a liturgia, embora o texto
não é muito feliz.
 A peshitta (=popular) siríaca: Feita originalmente sobre o texto hebraico, mas
diferente daquele usado pelo neto de Ben Sirá e dos outros conhecidos. Por volta
do 200 p.C.
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1.3.3 – Divisão: Com o Sirácida acontece algo parecido como com Provérbios. Podemos
distinguir:

 Prólogo: Acrescido pelo neto do autor para justificar a tradução o Egito.


 1ª Parte: 1,1-42,14: Uma coleção de sentenças e provérbios, sobre a natureza
da sabedoria e Deus e as criaturas. É de tipo sapiencial.
 2ª Parte: 42,15-50,29. Um tratado teológico sobre a Glória de Deus
manifestada na natureza (42-43) e na História (44-50).
 - Dois apêndices: Um Hino de ação de graças (51,1-12), e um Poema em forma
de oração para pedir a Sabedoria (51,13-30).

1.4 – Fontes:

O próprio autor as oferece em 39,1-7 ao informar sobre o modo de adquirir a sabedoria:

 - Estudo da Escritura.
 - Pesquisa da Sabedoria Universal.
 - A oração.
• A respeito do primeiro meio, o Sirácida é o livro com mais citas do AT. Conhece já as três
coleções: Torah, Ketubim e Nebiim (39,1). Dentre os sapienciais lista Pr, Sl, Cnt e Jó.
Também Es, Ne, e Cr. Não alude a Est, Dn, nem ao resto dos deuterocanônicos.

• Referente ao segundo meio, manifesta um certo parecido com a Sabedoria de Aikar, do


Egito, e com o filósofo grego Teognis (s.VI). Não se trata de dependência direta, mas
devido a que a sabedoria gnômica (de sentenças) era comum ao Oriente Meio todo.

1.5 – Intencionalidade, Destinatários e Ocasião:

• A pretensão do autor é ensinar o modo de ajustar a vida à Lei Mosaica; trata-se de uma
espécie de manual moral: elenca até 30 virtudes.

• O livro é uma apologia do judaísmo (33,18), e está endereçado a três grupos principais:
Judeus da Palestina. Judeus da Diáspora. Pagãos de boa vontade.

• A ocasião encontra-se na situação provocada pelo desafio do helenismo, que se intensifica


a partir do 198 com a substituição dos Ptolomeus pelos Seleucidas da Síria no governo da
Palestina. De entrada foram tolerantes, porém pela necessidade de dinheiro, pelo
modernismo de algumas famílias judias influentes e o fanatismo helenizante dos
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selêucidas, tudo foi mudando, até atingir seu ponto alto com Antioco IV Epífanes (175-
163) que ocasionou a revolta dos Macabeus (2Mc 3,4-34). Os judeus resistiram ao início,
mas paulatinamente foram acontecendo as deserções em massa. Isto provoca a reflexão de
Ben Sirá.

1.6 – Canonicidade e Influência

• Pertence ao grupo dos deuterocanônicos hebraicos, embora gozasse de prestígio entre os


apócrifos judaicos. Não foi aceito pelos judeus da Palestina por duas razões:

 Tardio em sua composição.


 Estar relacionado tematicamente com a sabedoria saducéia (O Cânon
palestinense foi fixado pelos fariseus)
• A Igreja Católica seguiu o Cânon dos judeus da Diáspora de Alexandria, que sim o inclui.
Contudo São Jerônimo o impugna, ainda que Santo Agostinho ateste que foi recebido
desde o início. Seu teor mais moral do que dogmático pode estar na raiz de sua demora
para entrar no Cânon. Trento sanciona sua canonicidade em 1546.

• O citam o Talmud e os Midraxim. No NT:

• Certamente influi nos Sinóticos: cf Mt 6,14 x Sir 28,2. Sem que isso signifique
dependência direta.
• Mais forte é no Prólogo de João, a respeito do conceito de sabedoria: cf Jo 1,1-7 x
Sir 1,1-26; 29,2-29.
• - Em Tg, até dez passagens: cf Tg 1,19 x Sir 5,11.
• Teve grande influência na Igreja primitiva: Didaché, Carta de Barnabé, 1Carta de
Clemente, Irineu, Clemente Alexandrino. Supera as citas, inclusive, dos
protocanônicos. Além disso foi muito usado na liturgia nas festas dos Apóstolos,
Virgem e vários santos.
• Enquanto à sua relação com a teologia judaica, parece combinar bem com o pensamento
saduceu; a ressalva é que estes só apareceram com João Hircano (139-105). O Sirácida
representaria, então, o pré-saduceismo. Mais em concreto tem que ser relacionado como
os hassideus (hasidim = puros), zelosos da Lei, que aparecem com os Macabeus (1Mcb
2,42), e que de alguma maneira poderiam estar na origem dos essênios.
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2 - TEOLOGIA

2.1 – Apresentação temática

2.1.1 – Secção Primeira: 1,1-23-27

• Tópicos sapienciais. Esta secção recolhe uma ampla amostra de atitudes e tipologias de
caráter individual e social, meramente humanas ou decididamente religiosas. Louvam-se
virtudes e censuram-se vícios. Guarda semelhanças com a literatura extra-bíblica, mas seu
húmus é explicitamente javista: recorre à intervenção de um Deus retribuidor. Arranca
desde um princípio especificamente religioso: princípio da Sabedoria é o temor do Senhor
(1,14.16), e dele depende a vida toda. Esse impulso religioso impregna todo o texto.

• Compaixão de Deus (2,11.18). Tema quase que obsessivo para Ben Sirá, porém não
entendido como álibi para o erro (5,5-6). Esse espírito religioso tal vez possa explicar o
“estranho conselho” de 3,21-24, onde o sábio recomenda não almejar a sabedoria.
Provavelmente responda a uma polêmica contra a tradição livre pensadora do helenismo,
carente de “livros revelados”, que havia introduzido em Israel as especulações
cosmogônicas e teosóficas. Neste sentido, o israelita já tem suficiente com o que lhe foi
revelado.

• Necessidades sociais (4,1-10). O campo da justiça é um dos lugares privilegiados para


quem procura o temor do Senhor. Além disso, a riqueza pode induzir a pseudo confiança,
causante da cegueira religiosa, como fruto mais amadurecido dos instintos e paixões (5,1).

• Pragmatismo e humanismo. Ele é clarividente e experiente, ao ponto de criticar


ensinamentos tradicionais. Mas surpreende, e até escandaliza, seu pragmatismo (12,1-
2.4.6). O caráter equilibrado e o profundo humanismo aparecem em todos os temas, mas
fundamentalmente ao tratar da sabedoria (22,6-18)

2.1.2 – Secção Segunda: 24,1-42,14

• Insiste nos mesmos temas que a anterior secção (disciplina, mulher, família, amizade) e
outros novos, tais como segredos, hipocrisia, vingança, rixas, empréstimos, saúde,
alimentos, testamentos (cc 27-31). Nesta secção aparece mais evidente o acento religioso
da instrução de Ben Sirá (32,14-33,6)

• A maior novidade dela é a relativa ao ideal do sábio (38,24-39,11): considera as profissões


mais representativas da época, para concluir zombando delas. O ideal de sábio (39,1ss)
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situa-se no final de uma linha evolutiva onde se fundem, decididamente, o sábio perito em
enigmas e o sábio homem religioso e perito na Lei do Senhor

2.1.3 – Secção Terceira: 41,15-50,29

• Manifesta perfis mais nítidos do que as anteriores, e pretende ser uma recapitulação. Seu
intuito é apresentar a Sabedoria na natureza e na história: a Criação é fruto da Sabedoria
suprema de Deus (42,15-43,33). Os capítulos 44-50, dedicados ao elogio dos antepassados
de Israel, estão na mesma linha: a sabedoria manifestada no cosmos (criação) manifesta-
se, igualmente, na ordem da realidade humana, morando no meio dos povos, “deitando
raízes num povo glorioso, na herança do Senhor”.

2.2 – Sistematização teológica

• De Deus afirma um estrito monoteísmo e existência eterna (42,21). Afirma a verdade da


Criação, que manifesta os atributos de Deus de grandeza, poder, sabedoria glória e
providência (18,2-6; 42,21-26; 43,2-20; 16, 26-28). Em sua relação com o homem destaca
sua justiça e misericórdia (5,6; 17,16; 23,28; 42,18) e dirige os acontecimentos e destino
do homem.

• A respeito da sabedoria, Sirácida é um dos últimos elos de uma corrente sapiencial muito
antiga em todo o Oriente. Sobre ela afirma sua origem divina e misteriosa, já que existe
desde a eternidade e está sempre ao lado de Deus (24,5; 1,4-9). Está por cima de todas as
criaturas e se manifesta a elas (24,6-10). Embora todos os povos lhe pertençam,
estabeleceu sua sede em Israel, porque Deus lhe deu sua Lei e personagens ilustrês (24,10-
16; 15,1; 19,18; 43,37; 44,1); para as outras nações está impressa as coisas (17,1-5).

 A Sabedoria se identifica com o temor do Senhor, que significa conhecer sua


vontade para praticá-la; a quem assim age, Deus concede benefícios morais
(virtudes) e físicos (paz, longevidade, saúde, gozo, honra) (1,15.20.22; 10,14-27;
1,12-13; 4, 12-14).

• Do homem, Sirácida afirma que foi criado por Deus em liberdade diante do bem e do mal,
como rei da criação (17,1-8; 15,14-21). Por ter seus dias contados, desce ao xeol onde não
existe gozo nem louvor do Senhor (17,3.16-17; 41,1-7; 14,2).

• Está familiarizado com o tema da morte, de quem afirma sua universalidade (8,8; 17,29).
Diante dela umas vezes aparece como estóico (41,3-4) e outras como fatalista, pois tudo
termina com ela (17,27-28). Contudo, não se resigna diante dela; quando a confronta com
a providência divina aposta por uma ulterior sanção (1,13), embora não precise se antes ou
depois da morte.
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• Messianismo: Quando escreve Sirácida, já se passaram seis séculos de profetismo, razão


pela qual as idéias messiânicas deveriam ser conhecidas; porém, dentro da corrente
sapiencial não tiveram tanta ressonância e acolhida, não por desconhecimento mas porque
os sábios estão mais preocupados com os comportamentos do presente individual.
Sirácida contem duas perícopes de caráter messiânico: A Oração por Jerusalém (36,1-17) e
o Salmo de louvor (51,12+).

 O primeiro texto tem um especial interesse por ter sido composto por volta do 190,
pouco antes da revolta macabaica, quando Israel encontra-se humilhado sob os
Seleucidas. Guarda relação com a Shemoné Esré. Começa com uma prece pela
restauração do povo eleito (vv.1-2), e outra pelo cumprimento das promessas =
chegada da era messiânica (vv 6.9-10.12: o tema da destruição dos inimigos é
tipicamente messiânica). Em terceiro lugar vem uma prece para que Deus reúna as
tribos na Pátria prometida (vv13-14) esperança muito viva na época de exílio e
posterior. O último pedido é a glorificação de Jerusalém e o Templo (vv 15-18),
tema messiânico que já aparecera em Ezequiel.

 O segundo texto se parece com o Sl 136, e tem sua autoria discutida; só o recolhe o
texto hebraico. Idéias:

 Louvor a Deus pela Criação e, em especial, por ter resgatado e reunido o Israel
disperso e ter restaurado o Templo.
 Louvor especial a Deus por ter feito brotar o chifre da casa de Davi. O chifre é
sinal de força (cf Sl 18,3); existem expressões como 'levantar o chifre'
(arrogância) ou 'abater o chifre' (debilidade). Significa também abundância e
prosperidade (1Sm 2,1; Lc 1,50). São expressões que, embora não sejam
tipicamente messiânicas, insinuam o messianismo.
 (Neste salmo aparece uma menção aos 'filhos de Sadoc', o que fez pensar que
venha da comunidade essênica da Aliança, origem do 'Documento de
Damasco' e dos de Qum Ram).

• O Culto: Ben Sirá venera o culto, se interessa por suas leis e ama o sacerdócio. O culto é
para ele expressão da verdadeira sabedoria, porque significa viver a lei. Contra os que
falam em oposição de culto e lei, Sirácida recorda que o culto está prescrito pela lei (7,33-
35) e que não existe culto legítimo sem a observância da lei (34,21-23).

 Nessa mesma perspectiva cultual vê a história: tudo o entende desde a realidade


da Aliança, encarnada numa série de personagens como Noé, Abraão, Jacó, Aarão,
Davi (cf cc.44-45). Essa Aliança foi estabelecida não só com o povo mas também
com as famílias sacerdotais e reais.
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 Este olhar retrospectivo da história serve-lhe como trabalho apologético e meio


para trazer para a prostração nacional atual a grandeza de tempos passados (46,14;
49,12). Deseja que surjam descendentes dignos daqueles personagens; um deles
Sirácida reconhece-o no Sumo Sacerdote Simão II (50,1-29), como contraponto à
mediocridade de seus contemporâneos.

2.3 – Dificuldades doutrinais

• Trata-se de certos pontos que apresentam contradições, que Ben Sirá tentou harmonizar,
aparentemente sem sucesso:

2.3.1 – Retribuição e Criação


• Ben Sirá acredita em um Deus imparcial: para o honesto a felicidade e para o pecador o
fracasso (21,9-10; 41,5,130) Mas, por não crer na ressurreição, tal retribuição deve
acontecer aqui. Daí que tenha que fazer equilíbrios para explicar o velho problema do
triunfo do ímpio e o infortúnio do justo. Sua resposta apela para o determinismo divino
(33,7-13), algo parecido ao que a teologia moderna chama de predestinação. Salva a
liberdade do homem argumentando em 33,14-15. Mas fica em pé a pergunta: como o
homem poderá “escolher”, se Deus já “diversificou seus caminhos”, isto é, sua conduta,
seu destino? Este tema aparece também no contexto da teologia da criação (39,12-15)

2.3.2 – Predeterminismo e Liberdade


• Desde a tradição do monoteísmo ético, Ben Sirá Afirma que Deus controla o curso dos
acontecimentos em benefício do justo e contra o malvado (39,26-31). Junto com isso
afirma a liberdade do homem (15,14). Desde esta perspectiva, a norma positiva ajuda ao
homem a usar corretamente sua liberdade (15,15). Mas como encaixar este texto com o
determinismo de 33, 10-13? E ainda, que valor tem a afirmação de que a sabedoria se
adquire mediante o esforço humano (6,18-19) visto que se trata de uma criatura “quase
divina”, que Deus concede aos piedosos?

2.3.3 – Ética e Ritualismo


• Textos como 34,18-36, com imagens fortes, recordam críticas proféticas a um culto sem
observância da justiça. Mas, por ouro lado, Ben Sirá concede grande importância ao
ritualismo do Templo (35,1.4.7-8), ao sacerdócio (45,6; 50, 1-2), ao ponto de dar maior
destaque a Aarão e Simão do que a Moisés, com um poema laudatório que fecha o livro.
Não estranha que identifique a sabedoria com a Lei. Ele é, dentre os livros sapienciais,
quem maior destaque dá ao culto.

2.3.4 – Universalismo e Nacionalismo


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• A crise do nacionaljavismo já se iniciara com as críticas de Amós à teologia do Êxodo


entendida como ideologia exclusivista (cf Am 9,7). Jeremias, Ezequiel e o Segundo Isaias,
por sua vez, abriram uma perspectiva teológica mãos universalista. Nesta mesma linha
podem ser lidos textos de Sirá como 10, 14-17; 16,12-13.26-30.
• Contudo, para Sirá Israel é o quinhão do Senhor (17,17), e Jerusalém o lugar do seu
descanso (36,12); a Sabedoria deitou raízes em Sião, no meio de um povo glorioso (24,8-
12) e Javé deve apresar-se em aniquilar as nações (36,1-17)

2.3.5 – Pessimismo e Otimismo


• O homem é pó e a ele retornará (17,1; 33,10). Sua vida e efêmera (18,9-10), e seu destino,
a morte e o xeol (7,17; 14,16; 17,27). O pesado jugo de Deus se traduz em temor, invejas,
inquietações, rivalidades, pesadelos (cf 40,3-6). Sirá chega a pensar na incapacidade do
ser humano para fazer o bem (17,31-32)

• Por outro lado apresenta o otimismo próprio do relato da criação (17, 2.3.7.11). Mas, no
seu conjunto, é verdade que a antropologia de Sirá é eminentemente negativa: o
continuado recurso à misericórdia divina implica numa desconfiança radical nas
possibilidades do ser humano (2,11.18; 18,11-13)

2.3.6 – Fé e Razão
• A sabedoria havia-se caracterizado, desde o início, por uma confiança na força da
razão, expressada na literatura gnômica (provérbios). Israel embarcou nessa abertura
para um compromisso racional com o mundo. Porém, os sábios israelitas cedo
descobriram uma série de obstáculos sobre o otimismo de tal “ordem”: teoria x prática
(Jó), impossibilidade de uma compreensão adequada do experimentável (Qoelet). Daí
que se passasse à procura de uma solução na transcendência: a personificação da
Sabedoria.
• Sirá acompanha todo este caminho, e participa de muitos postulados do pensamento
das sábios anteriores a ele. Porém, desconfia da capacidade humana de compreender
(3,21-24). Um pensamente dele resulta paradigmático a este respeito (3,23)Acaba por
desembocar numa compreensão da sabedoria mais em relação com a Lei do que em
termos de projeto autônomo racional. Sabedoria acaba por ser submissão à vontade
divina inscrita na Torah. Por tanto, o racionalismo moral de Sirá e sua fé no caráter
definitivo da revelação mosaica não estão integrados num esquema ideológico
coerente.

3 – CHAVE DE LEITURA:
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• O ponto de partida é a situação criada com a helenização do judaísmo pela política dos
seleucidas; uns abandonam a fé, outros a consideram inadequada e isolacionista, outros se
iludem. É para esse tipo de gente que escreve Ben Sirá. Quer mostrar que:

• É preciso manter a identidade do povo diante da influência estrangeira; para isso


importa muito a tradição e a fé dos antepassados. Essa sabedoria vale mais do que
a das escolas da filosofia grega.

• Essa fé está encarnada testemunhalmente na vida dos ilustres antepassados; por


isso elenca uma série de heróis, em perspectiva diferente do humanismo heróico
grego.

• Ben Sirá não é contra os estrangeiros e sua cultura (cf 34,11), mas quer evitar em
seu povo o sentimento de inferioridade e angústia; por isso ele, que era membro da
alta classe de Jerusalém, valoriza a sabedoria popular e a sistematiza recolhendo-a.

• Assinala com tino o ponto fraco da cultura grega: o empobrecimento do povo por
um comércio sedento de lucro (=os mercadores). O grande escândalo dessa cultura
'superior' é que está produzindo divisão entre os povos e seres humanos (4,1-10;
5,1-8; 13,1-24).

• Mais uma vez aparece a tese de que da releitura do passado - desta vez feita
'conservadoramente' - surge uma mudança na vida do povo.

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