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Introdução
*
Bacharel em Psicologia pela UNESC.
Comumente, a título de compreensão metodológica, os intelectuais que
estudam o pensamento foucaultiano adotam uma estruturação e uma
periodização que de acordo com Veiga Neto (2004), se divide em
Arqueologia, Genealogia e Ética.
No período marcado pela arqueologia, segundo Ferreira (2005), o que
está em jogo é a problematização das condições de surgimento dos
saberes que se configuravam tanto em instituições como os hospitais
psiquiátricos, assim como o estatuto das ciências humanas na
modernidade. Entre as principais obras dessa fase destacam-se: “História
da Loucura na Idade Clássica”, “O Nascimento da Clínica”, “As palavras e
as Coisas”, e “Arqueologia do Saber”.
O segundo momento na trajetória intelectual de Michel Foucault
corresponde à fase marcada pela genealogia. É nesse momento que toda
uma teoria em torno da problemática do poder passa a ser analisada, a
partir de uma perspectiva que engloba o campo das práticas sociais na
esfera micro, ou seja, que estão presentes no cotidiano do sujeito e que
se apresentam enquanto uma positividade. As principais obras nesse
período são: “Vigiar e Punir” e “História da Sexualidade I: a vontade de
saber”.
De acordo com Machado (1993), os objetivos tanto da genealogia, quanto
da arqueologia não representam a estruturação de teorias em torno da
constituição histórica e social da civilização, mas sim a análise e a
problematização de verdades tidas como naturais. Uma das conseqüências
dessas problematizações realizadas pelo intelectual francês nesses dois
períodos, consiste em dar uma visibilidade por meio de suas pesquisas, a
setores marginalizados pela sociedade capitalista, mas que, ao longo da
história, foram alvos de intensos estudos e preocupações por parte da
ciência e do Estado na elaboração de políticas de controle e poder sobre
os corpos. É o caso do doente mental, do presidiário ou do homossexual,
por exemplo. Trata-se também de, nesses dois momentos, delimitar uma
crítica ao projeto de ciência moderna, caracterizado pelo progresso
intelectual e tecnológico, pois no período histórico conhecido por
modernidade, as ciências humanas só puderam se afirmar e se
desenvolver tomando o homem como objeto de conhecimento, e sujeitado
ante uma série de saberes.
A ética na modernidade
Considerações finais
1
Sobre a questão da biopolítica pode-se dizer que ela é um fenômeno
caracteristicamente moderno, pois sua constituição segundo Foucault começou a
se estruturar a partir do século XVIII, através de dois fatores. O primeiro foi o
adestramento e a docilização do corpo humano através de um controle
econômico. O segundo se deu quando a ciência passou a conhecer os processos
biológicos no ser humano e em conjunto com o governo passou a estudar e
desenvolver políticas normativas de intervenção. A biopolítica, portanto, passou
a interferir sobre o corpo e outras condições de vida do povo. Encontram-se mais
detalhes em: FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de
saber. Rio de Janeiro, 1977.
Trata-se, portanto, de vislumbrar nesse último Foucault estratégias de
resistência aos jogos de sujeição contemporâneos para que assim o
sujeito possa encontrar outras maneiras de ser e de existir no mundo, ou
seja, trata-se do sujeito pensar novas formas de inventariação capazes de
criar espaços de subversão crítica e liberdade sobre as estratégias de
individuação.
Recorrendo aos textos clássicos Foucault acabou por interrogar a idéia que
se tinha sobre a ética na sociedade ocidental. Tratava-se, portanto, de
recorrer à filosofia estóica para lançar uma crítica à idéia de subjetividade
defendida pela metafísica cristã.
O estoicismo pregava a afirmação de si, o sujeito enquanto senhor de seu
destino, ao passo que a compreensão moderno-cristã sobre subjetividade
delimita, ou melhor, produz um sujeito preso a valores de cunho
metafísico, científicos, políticos e ideológicos que se colocam como dados,
como valores a - históricos. Podemos afirmar então, que a ética do
cuidado de si pregada pelo estoicismo em particular, de acordo com
Foucault, era uma prática da liberdade, exercida a partir de modos como o
sujeito significava sua relação consigo mediante o controle racional de
todos os seus instintos e desejos.
É por isso que Foucault (2004B), num de seus cursos no Collège de
France, defendia a necessidade de se construir uma história do
pensamento a partir da problematização de um dado fenômeno cultural e
histórico que, nos dias de hoje, se reflete no modo de ser do sujeito. Era
preciso questionar e problematizar o que se conhecia por ética do sujeito
até então nas ciências humanas, que girava em torno de uma linearidade
que surge com os gregos, passa pelos primórdios do cristianismo e atinge
seu apogeu na modernidade. Equivale dizer então que a noção ética de
individuo numa perspectiva clássica se apresentava enquanto uma lógica
linear, isto é, principio, meio, e fim.
Trata-se, portanto, de reinterrogar a história, trazendo-a para o hoje,
pensando todas as espécies de relações sociais, mecanismos de poder e
estratégias de saber pelos quais somos atravessados, para que assim,
segundo Prado Filho (1998), possamos criar, toda uma condição que nos
torne capaz de transgredir as normas, recolocando novos modos de viver
e de pensar o mundo e nós mesmos.
Ainda de acordo com Prado Filho (1998), é necessário romper com um
conceito de subjetividade ética marcada pela abstração, em defesa de
uma ética respaldada em valores concretos que nos tornam sujeitos.
É preciso estabelecer novas regras que privilegiem a prática de si a partir
de um exercício racional da liberdade, capaz de fazer com que rompamos
com uma idéia que se tem de sujeito e subjetividade a partir de uma
lógica metafísica – cristã.
O sujeito necessita ser visto como uma produção histórica atravessado
por complexas relações de força e poder que se apresentam a partir de
diferentes perspectivas intimamente ligadas aos jogos de verdade, mas
que nos permitem com que criemos rotas de fuga e subterfúgios.
REFERÊNCIAS
_____. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. 10. ed. Rio de
Janeiro: Graal, 1984.