Célia Quico, gestora de projectos de TV digital e interactiva
Talento Dois terços dos lares portugueses
estão mal servidos de televisão
“Educar,
informar e
entreter” é o
que deve ser um
serviço público
de televisão.
Célia Quico
desenvolve
projectos em
torno da
televisão digital
e interactiva.
Porque, excepto
DR
Obikwelu,
“depressa e bem É gestora de projectos de tele-
visão digital e interactiva. Em que
há pouco consiste especificamente o seu
trabalho?
quem”, uma Está a meio caminho entre a
produção de programas de televi-
rede terrestre são e a gestão de projectos de sites
ou de outros produtos multimé-
de TV digital em dia. Estive envolvida, por exem-
plo, na gestão de projecto do Mul-
Portugal “só é tijogos Sport TV, um serviço que
permite acompanhar em simultâ-
provável” em neo quatro jogos da Liga dos Cam-
peões. Sempre que possível lanço
2008. Natural novos projectos: destaco o servi-
da Nazaré, diz ço MTV Europe Music Awards Lis-
boa 2005, que permitiu aceder a
que é um erro conteúdos extra relacionados com
este, de forma semelhante ao que
pensar que a acontece num DVD. Outro pro-
jecto é o serviço de Áudio-Descri-
Internet é uma ção em filmes portugueses, desti-
nado a cegos e amblíopes. Consiste
ameaça à numa narração adicional à ban-
da-sonora do filme, na qual são
imprensa descritos os detalhes visuais mais
importantes para a compreensão
escrita. do plano ou da cena.
A TV Cabo tornou-se, em 2001,
um dos primeiros operadores no
mundo a lançar um serviço de
televisão digital e interactiva, ten-
do sido o primeiro a nível mun-
dial a oferecer a funcionalidade
de gravação de vídeo digital numa
set-top box por cabo. Para quan-
do um serviço de Televisão Digi-
tal Terrestre (TDT)?
Gostaria que viesse a aconte-
cer em breve. Acredito que a con-
corrência vai beneficiar as empre-
sas do sector e os consumidores.
Entre as vantagens da TV digital
destaco a melhor qualidade de ima-
gem e de som, a existência de mais
opções, inclusive com a possibili-
dade de distribuição de canais de
âmbito regional ou local. Podem
ainda usufruir de serviços inte-
ractivos, como jogos, guias de pro-
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tancial do número de leitores nas
camadas jovens. A crescente uti-
lização da Internet explica em gran-
de parte esta diminuição. Mas jul-
go que é errado vê-la como uma
ameaça. A Imprensa, pode e deve
tirar partido da net como meio de
publicação de conteúdos noticio-
sos e de publicidade, mas sobre-
tudo como meio de interacção com
o seu público.
O nascimento do semanário
Sol e o renovado Expresso atin-
giram na primeira semana resul-
tados bastante significativos. Con-
seguirão os dois coexistir no futuro?
Espero que consigam e que o
JORNAL DE LEIRIA | 21 DE SETEMBRO DE 2006
mercado tenha espaço para mais
jornais concorrentes. Vai ser difí-
cil para ambos manter os resulta-
dos do passado fim-de-semana:
um beneficiou do factor novida-
de e o outro beneficiou do factor
DVD. Vamos ver o que valem por
si próprios.
gramação, aluguer de filmes ou de
programas. Com base nas últimas
data proposta pela Comissão Euro-
peia para descontinuar o serviço
O que deve ser um serviço públi-
co de televisão?
informações publicadas, é prová- de TV analógica. Além de todos “Educar, informar e entreter” é
vel que só em 2008 os portugue- os passos processuais do concur- a máxima da BBC desde o seu iní-
ses possam ter acesso à TDT . Esta so há ainda a ter em atenção que cio e é certeira como poucas. O
é uma estimativa optimista aten- para receber o sinal digital vai ser presidente da BBC Worldwide Amé-
dendo a todos os passos do pro- necessário comprar novos televi- ricas, Mark Young, afirmou que
cesso: lançar concurso público, sores ou caixas descodificadoras. “uma TV Pública tem que ser do
seleccionar melhor proposta, ope- Esta reconversão não se faz da noi- bom. Isto é, fazer com que o bom
racionalizar o projecto, etc. Trin- te para o dia. “Depressa e bem, há seja popular e o popular seja bom”.
ta e cinco por cento dos lares são pouco quem”. Excepção feita ao
assinantes de TV paga via cabo ou Obikwelu, como é evidente. Como interpreta os fenóme-
via satélite, o que significa que em nos Floribella e Morangos com
quantidade e qualidade, quase dois Começou a sua carreira como jor- Açúcar?
terços dos lares portugueses estão nalista. Deixou de exercer por Prefiro interpretar as interpre-
mal servidos de televisão. alguma razão em especial?
Sou muito curiosa e tenho hor-
tações e os interpretes destes fenó-
menos. O problema de muitos deles
Depois de um primeiro concur-
so abortado para o “lançamen-
ror à rotina. O jornalismo é uma
boa profissão para pessoas que
é que baseiam os seus juízos em
preconceitos, em vez de estuda-
to” da televisão digital terrestre,
adiou-se o lançamento de novo
sofrem destes males. Tenho múl-
tiplas paixões para além da escri-
rem os fenómenos de forma séria
e rigorosa. Assim, partem do prin-
concurso devido, primeiro, às
mudanças dos governos e, depois,
ta: a leitura, a pintura, o desenho,
o design gráfico, a fotografia e o
cípio que as crianças e jovens são
completamente permeáveis à
à oferta pública de aquisição (OPA) cinema. O multimédia agrega estas influência dos conteúdos de TV
lançada pela Sonaecom sobre a paixões e mais algumas, com a em vez de investigar devidamen-
PT. Estará Portugal a tempo de vantagem de ser interactivo e poten- te o assunto, sustentando a sua
cumprir as metas de Bruxelas cialmente participativo. interpretação em investigação empí-
para o switch off (desligar o sis- rica. Prefiro prestar mais atenção
tema analógico e ficar unicamente Hoje consomem-se cada vez mais ao facto de serem precisamente as
com o digital)? Media em simultâneo. Que desa- faixas etárias dos 4 aos 14 e dos
É provável que Portugal seja o fios se apresentam à imprensa 15 aos 24 anos as que menos vêem
País mais atrasado da União Euro- escrita para manter a fidelidade Televisão.
peia neste capítulo. Não será fácil dos seus leitores?
recuperar o tempo perdido até 2012, O problema é a diminuição subs- Ricardo Rosenheim Rodrigues
Torre de Belém online
Em 1995, antes de terminar a licenciatura em -graduações e num mestrado da Universidade
Ciências da Comunicação na Universidade Nova Lusófona de Tecnologias e Humanidades, em Lis-
de Lisboa, já fazia jornalismo. Célia Quico pas- boa. Em Julho de 2003, iniciou estudos para um
sou pela imprensa nacional e regional, rádio e doutoramento em Audiovisual e Media Interac-
televisão. Natural da Nazaré, desde 2000 que tem tivos na Universidade Nova de Lisboa. Dos diver-
por funções a gestão de projectos de serviços sos projectos em que participou o destaque vai
digitais e interactivos da TV Cabo Portugal. Em para a gestão dos web sites do Mosteiro dos Jeró-
representação desta operadora leccionou em pós- nimos e da Torre de Belém.