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SÃO PAULO
2007
JOSÉ ANTONIO DOS PASSOS UNIÃO CIVIL HOMOAFETIVA 2007
[
JOSÉ ANTONIO DOS PASSOS
SÃO PAULO
2007
P321u Passos, José Antonio dos.
União Civil Homoafetiva / José Antonio dos Passos – 2007.
CDD 340
JOSÉ ANTONIO DOS PASSOS
Aprovado em
The “same-sex civil unions” and the present omission of the brazilian laws in
establishing norms for the same-sex couples rights, situation are the objects of study
of this research.
To reach the objective tracings, we will follow two plans of study:
1st - to analyze the current theories about the nature of the homosexual behavior.
The most recent theori say that the homosexual behavior has genetic origin, and its
register in the most diverse cultures, with this, to strengthen that such behavior is
inherent to a parcel of the population of the world.
In Brazil, it approximately corresponds around 3% of the entire population.
2nd - to study the origin of the brazilian right, and the influence of the canon law, that
takes root moral concepts, that, in many times, it repudiates and it condemns the
homosexualism violently.
Such behavior opposes constitutional guarantees, such as, freedom and dignity of
the person human being. It is concluded of this study that the homosexuality is not a
choice, but a biological determination, of genetic origin, and, therefore, a natural law,
that must have legal support and protection of the State.
Sumário
1 Introdução............................................................................................................................ 12
2 Objetivos .............................................................................................................................. 13
2.1 Justificativa....................................................................................................................... 13
2.3 Método .............................................................................................................................. 15
3 Origens Biológicas ............................................................................................................. 16
3.2 A questão genética ......................................................................................................... 17
3.3 Gene homossexual?....................................................................................................... 17
3.4 Homossexualidade na natureza ................................................................................... 18
3.5 Critérios objetivos definem o homossexualismo........................................................ 19
3.6 Falta de opção?............................................................................................................... 20
3.7 A Explicação Psicológica ............................................................................................... 22
3.8 Lesbianismo e homossexualismo masculino ............................................................. 23
4 Análise dos Resultados ..................................................................................................... 24
4.1 Quanto às origens ........................................................................................................... 24
4.2 A Perspectiva Genética.................................................................................................. 24
4.3 Influências do ambiente cultural e familiar.................................................................. 24
4.4 Lesbianismo ..................................................................................................................... 25
4.5 A perspectiva psicanalítica: Sigmund Freud............................................................... 25
4.6 A perspectiva histórica: homossexualismo através dos tempos ............................. 26
4.7 A perspectiva jurídica ..................................................................................................... 28
4.8 O casamento .................................................................................................................... 28
4.9 Evolução histórica ........................................................................................................... 29
4.10 Definição de homossexualismo .................................................................................. 31
5 União Civil Homoafetiva (Projeto de lei 1.151/95) ....................................................... 33
5.1 Tramitação na Câmara dos Deputados....................................................................... 36
5.2 Quais os direitos protegidos.......................................................................................... 36
5.3 Análise comparativa entre o projeto e o substitutivo................................................. 37
5.4 Análise crítica do projeto................................................................................................ 38
6 Direito Estrangeiro.............................................................................................................. 40
7 Conclusão e Discussão ..................................................................................................... 42
7.1 Conclusão sobre Aspectos Jurídicos do Projeto de Lei ........................................... 42
7.2 Análise Crítica sobre os Depoimentos dos Advogados Entrevistados................... 42
7.2.1 Transcrição da primeira entrevista............................................................................ 42
7.2.2 Transcrição da segunda entrevista........................................................................... 45
7.2.3 Análise dos resultados das entrevistas.................................................................... 50
8 Considerações Finais ........................................................................................................ 51
9 Referencias Bibliográficas................................................................................................. 53
12
1 Introdução
2 Objetivos
Este trabalho seguirá dois planos de estudos. Por um lado pretende analisar
as teorias sobre a natureza do comportamento homossexual , sua origem e
evolução ao longo da história. Em paralelo visa estudar as origens do Direito
brasileiro e, em especial as origens do “Direito de família” e o porquê desse instituto
ser tão preconceituoso e, às vezes, “homofóbico”.
2.1 Justificativa
garantia deve ser positivada para que esses indivíduos tenham a proteção da lei e o
reconhecimento e tolerância da comunidade.
Esse trabalho busca explicar os motivos pelos quais esse reconhecimento
parece impossível, hoje, no Brasil, e quais os caminhos para que ele se torne
possível em breve.
2.2 O Problema
2.3 Método
3 Origens Biológicas
ligação obrigatória com a geração de filhos. Isso acontece porque o bem-estar que
resulta do encontro sexual entre homem e mulher – o orgasmo – é uma experiência
incrivelmente agradável.
Por último, Bagemihl (2002) lista o contato sexual propriamente dito. Para ele,
sexo é todo o momento em que há estimulação dos órgãos genitais, e, no seu
estudo, constam observações feitas com uma espécie de macacas japonesas
(Macaca fuscata) que formam pares de fêmeas que montam uma na outra.
Com isso, o autor acredita ter deixado claro que o termo “homossexualismo”,
aplicado aos animais, não significa o mesmo que o aplicado para pessoas. Afirma
que o uso da palavra homossexual faz muita gente associar a idéia a imagens de
gays e lésbicas, e que é necessário que se aprenda a separar as coisas.
Douglas Futuyama, da Univesridade do Estado de Nova York, outro estudioso
do comportamento animal, concorda dizendo que não se pode estabelecer conexões
entre animais e seres humanos, nem afirmar que os motivos sejam os mesmos.
Mas, constata que em todas as categorias de animais pode ocorrer o
comportamento homossexual.
A existência desses hábitos entre os animais já era conhecida, mas nunca
ninguém os havia reunido em uma pesquisa.
Ainda mais relevante, Bagemihl(2002), forneceu a primeira demonstração de
que a atração homossexual é muito freqüente.
5 Célebre escritor irlandês do século XIX, condenado à pena de dois anos de trabalhos forçados por ser homossexual.
6 Vitiello, 2000, www.sosdoutor.com.br
23
4.1Quanto às origens
4.4 Lesbianismo
10 www.sosdoutor.com.br, 2000.
26
ato de mamar (fase oral). Aos três anos, o controle do esfíncter anal é a fonte de
prazer (fase anal). Dos quatro aos seis anos o prazer vem do toque no pênis ou
clitóris (fase fálica).
Durante a fase fálica a criança dirige sua busca pelo prazer para o
relacionamento com genitor do sexo oposto. Este desejo incestuoso é considerado
tabu em nossa sociedade, contudo, admitido em outras culturas. Freud admite a
homossexualidade associada ao complexo de Édipo (desejos incestuosos pela mãe,
acompanhados de culpa e temores, como o da castração; seguidores do pai da
psicanálise chamaram de complexo de Electra o desejo de filha pelo pai). Alguns
meninos tenderiam a negar seu interesse pelo sexo oposto como forma genética de
negar a atração pela mãe, devido ao medo de serem castrados pelo pai ciumento.
Nas mulheres, o lesbianismo nasceria do temor ao pênis, que as meninas
invejariam nos meninos como uma arma e instrumento de poder.
Além disso, o lesbianismo seria uma forma inconsciente de identificação com
pai. A lésbica, ao ter relações sexuais com outra mulher, estaria vivendo uma
fantasia inconsciente na qual ela vive o papel do pai enquanto a parceira vive a
identidade da mãe. Freud ainda associava a homossexualidade ao narcisismo e
ambas as formas de homossexualismo seriam maneiras diferentes do indivíduo
amar a si mesmo.
amante em combate e procuraria honrá-lo com feitos heróicos. Platão, assim como
Sócrates e tantos outros contemporâneos, aconselhava que todo adolescente
tivesse por preceptor um amante mais velho.
No Egito e Mesopotâmia ocorriam formas institucionalizadas e sagradas de
prostituição homossexual. Já para os judeus, a homossexualidade era vista como
um risco de subversão porque apareceria como elemento ritual em religiões
estrangeiras, incompatíveis com o monoteísmo. Além disso, pela necessidade de
expansão da população, o homossexualismo era visto como um desperdício da
atividade procriadora ("Os homossexuais são os anticoncepcionais de Deus"). Na
Bíblia, temos citações proibindo o homossexualismo masculino11, todavia, não há
referência ao lesbianismo.
No Japão, esteve em moda em vários períodos (séc. XI ao XIX) e na China
Imperial (séc. XI).
Chegou a ser institucionalizado entre os Maias no século XV. Em seitas
protestantes as posições divergem. Para os metodistas e presbiterianos atos
homossexuais são incompatíveis com o ensinamento cristão. Já na igreja episcopal
há tanta tolerância que, em 1977, uma lésbica foi ordenada nos Estados Unidos.
Formas institucionalizadas de homossexualismo têm existido entre índios da
América do Norte, tribos africanas, da Oceania e da Sibéria. A palavra lésbica
ganhou nova conotação no século XX, sendo usada para difamar a imagem das
mulheres inglesas que lutavam pelo direito de voto com o slogan "sem voto, sem
sexo". Já no século XIX, as instituições inglesas executavam em praça pública
indivíduos com características homossexuais.
Atualmente, a prática homossexual recebe crescente aderência e aceitação;
um exemplo são os desfiles gays em Nova Iorque que chegam a aglomerar mais de
um milhão de pessoas.
Em São Paulo, no ano de 2001, havia aproximadamente 35.000 ativistas, que
cobraram do Congresso a aprovação da união civil entre os homossexuais. Tal
projeto já existe a mais de dez anos na pauta de votação. Já existem países em que
esse tipo de união é reconhecida, tais como: Holanda, Bélgica, Islândia, Noruega,
Suécia, Dinamarca e até na Itália, os governos de Pisa e Florença aprovaram tal
4.8 O casamento
Não sendo objetivo deste trabalho estudar o casamento, mas sim a relação
entre homossexuais, convém ater-se a citar somente esses conceitos, pois como já
foi dito anteriormente, são inúmeras as definições trazidas por diversos
doutrinadores, os quais demonstram sempre a idéia que possuem de tal instituto. O
que se pretende aqui, no entanto, é salientar que o casamento encontra sua
estrutura na união entre homem e mulher, deixando claro ser o casamento um
instituto incompatível com a união de pessoas do mesmo sexo.
Justificativa do projeto:
Em 26 de outubro de 1995, foi apresentado ao plenário da Câmara dos
Deputados, o projeto da então deputada Marta Suplicy, o qual buscou disciplinar a
união civil entre pessoas do mesmo sexo, tratando ainda de outras questões. Iniciou
sua justificativa com a seguinte assertiva:
"O presente Projeto de Lei visa o reconhecimento das relações entre pessoas
do mesmo sexo, relacionamentos estes que cada vez mais vêm se impondo em
nossa sociedade.”
a) realidade e direitos
Trata da expressão dos direitos inerentes a pessoa humana, acrescentando
ter os indivíduos direito à busca da felicidade. Esclarece que o projeto pretende tão
somente fazer valer o direito à orientação sexual, hetero, bi ou homossexual.
b) relação duradoura
Neste aspecto, justifica que uma relação não discriminada, mas que se torne
pública e protegida por lei, leva que as pessoas com este tipo de orientação sexual
possam assumir seu compromisso, saindo assim da clandestinidade, e
conseqüentemente da angústia que esta causa nas pessoas.
34
c) violência
No nosso país, são freqüentes as violências contra os homossexuais, sendo
que a legalização desta união levaria à diminuição de comportamentos homofóbicos
e, via de conseqüência, a constantes agressões.
d) solidariedade
Ao tornar oficial a união homossexual, poderiam esses casais encontrar mais
apoio em suas famílias. Os casais heterossexuais, quando em crise, encontram forte
apoio dos familiares, dos amigos, possuindo tratamentos os quais possibilitam a
harmonia entre ambos, afastando a possibilidade de uma separação. Já os
homossexuais, por viverem na clandestinidade, freqüentemente são afastados de
qualquer ajuda de amigos e familiares. Com isso, quando diante de uma crise de
relacionamento, não encontrando o apoio adequado, acabam rompendo a união.
Justifica ainda que o projeto não resolveria todos os problemas, mas ao menos
amenizaria a situação, levando às relações um efeito estabilizador.
e) homossexualidade
Explicita aqui algumas considerações gerais sobre o que vem a ser a
homossexualidade e como esta é hoje encarada.
g) aspectos jurídicos
É importante, salientar que o projeto de lei apresentado, não contraria a
Constituição, muito pelo contrário, pois entende que a Constituição Federal veda
sim, em seu artigo 3º, inciso I e IV, a discriminação de origem, raça, cor idade,
dentre outras, bem como garante a construção de uma sociedade livre, justa e
solidária, que promova o bem de todos.
Segue uma descrição das principais fases desse projeto que se encontra
ainda em tramitação.
Em 26 de outubro de 1995, foi o projeto apresentado em plenário pela autora,
Deputada Marta Suplicy, sendo em seguida encaminhado à mesa para despacho
inicial, tendo ainda tramitação pelas diversas comissões.
Em 1º de abril de 1996, foi novamente levado a Plenário, o qual após leitura e
publicação da matéria encaminhou à mesa, quando em 12 de junho de 1996, foi
constituída uma comissão especial destinada a apreciar e proferir parecer sobre o
projeto.
Em 26 de novembro de 1996, a comissão especial deu parecer favorável do
relator, deputado Roberto Jefferson, o qual apresentou um substitutivo. No dia 10 de
dezembro de 1996, foi então aprovado o parecer do relator, opinando pela
constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa, bem como sendo aprovado o
substitutivo.
Atualmente, encontra-se o projeto em tramitação, tendo sido levado à votação
no dia 09 de maio de 2001, sendo novamente adiado, aguardando designação de
data para discussão.
A principal proteção que busca o projeto de lei vem especificado no artigo 1º,
que trata, além do reconhecimento da união civil, da proteção dos direitos à
propriedade e sucessão, além dos outros assegurados no projeto, relativos à
previdência social, alimentos, imigração.
Já o substitutivo, inovou os direitos acrescentando os seguintes: curatela,
composição de rendas para financiamento de casa própria, e direitos relativos a
planos de saúde, seguro de grupo e inscrição de dependentes para efeitos
tributários.
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Sendo consensual, deverá ser homologada pelo juiz. Caso contrário, deverá haver o
pedido judicial de extinção da união. Acrescentamos ainda, neste aspecto, que pode
qualquer das partes requerer a extinção, caso demonstre a infração contratual em
que se funda o pedido.
Vemos, com as observações feitas, que mais uma vez se está estendendo os
mesmos direitos e obrigações que nascem quando do casamento à relação
homossexual, prevendo até casos de "separação consensual, litigiosa, fundada ou
não na culpa do outro".
Assim, por essas razões, os críticos mais severos entendem que o projeto
busca equiparar essas uniões ao casamento, mas com outra denominação. Data
vênia, dizem que o projeto apresentado não podendo expressamente equiparar as
relações entre pessoas do mesmo sexo ao casamento, pois levaria a paz social e a
coletividade a rejeitar liminarmente a idéia, procurou fazê-lo de forma mais branda,
dando outro nome, mas concedendo os mesmos direitos, e, quem sabe, até mais.
40
6 Direito Estrangeiro
Esse tema vem sendo tratado nos mais diversos países, e das mais diversas
formas, conforme apresentado a seguir. Em alguns países já existem leis
regulamentando a união entre homossexuais, como é o caso da Groelândia,
Hungria, Islândia, Noruega, Suécia, Holanda e Dinamarca, sendo que esta admite
inclusive a adoção de filhos do seu parceiro.
Já a Hungria, reconhece tão somente a união de fato entre homossexuais. No
Brasil, Bélgica, Finlândia e República Checa, a lei está em discussão pelo
Congresso. A Espanha, Canadá, Bélgica, Estados Unidos e França (234
prefeituras), reconhecem o contrato de união civil.
Mais recentemente, em 19 de fevereiro de 2007, nos Estados Unidos, no
Estado de Nova Jersey, entrou em vigor a lei de uniões civis de Nova Jersey. Já no
primeiro mês de união civil gay em Nova Jersey , 219 casais formaram união civil12.
As uniões civis oferecem a casais homossexuais os benefícios legais de um
casamento mas não o título.
Alguns países proíbem expressamente a discriminação por motivo de
orientação sexual, como é o caso da África do Sul, Canadá, Dinamarca, Eslovênia,
Espanha, França, Holanda, Noruega, Nova Zelândia, Polônia e Suécia. No Brasil, a
Câmara dos Deputados está apreciando a Proposta de Emenda a Constituição nº
139/95, da ex-deputada Marta Suplicy.
Existem ainda países que concedem asilo político por motivo de orientação
sexual: Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia,
Holanda, Irlanda, Noruega e Suécia. Outros concedem nacionalidade por motivo de
união civil entre homossexuais, como quer fazer o Brasil, são eles: Austrália,
Dinamarca, Holanda, Noruega, Nova Zelândia e Suécia. Por fim, alguns países
proíbem oficialmente que o homossexual sirva às forças armadas: Austrália, Bélgica,
Canadá, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Holanda, Israel, Nova Zelândia, Noruega e
Suécia.
12 http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u105678.shtml
20/03/2007 - 16h37.
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7 Conclusão e Discussão
Entrevista por pauta, a título de ensaio, feita no dia 10/09/2002 por José
Antônio Passos. Os entrevistados autorizaram a publicação da entrevista na íntegra
com menção de seus nomes.
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Entrevistados:
Dr.Fredi Moise, advogado da Defensoria Homossexual de São Paulo
Dr.Fernando Coresma Azevedo, advogado da Defensoria Homossexual de
São Paulo.
Fredi – Ele contribui para a sociedade, com deveres e direitos, portanto deve
ser tratado como cidadão.
Fernando – Cobra-se impostos e outros deveres, mas não se garante os
direitos dos homossexuais.
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José Antônio – Por que o Código Civil brasileiro não prevê a possibilidade de
união estável entre pessoas do mesmo sexo?
José Antônio – Por que o projeto de lei da então Deputada Marta Suplicy
não foi apreciado, ou se foi, não foi aprovado?
Fredi / Fernando – Não foi apreciado por questões políticas, fizeram uma
troca de votação na Assembléia, substituíram a pauta da união estável entre
homossexuais por uma sobre questão tributária com os evangélicos da Assembléia.
Há muito preconceito aqui no Sudeste, diferente do Sul do país onde o INSS já
reconhece como dependente, dando direito a pensão ao parceiro homossexual.
Fredi / Fernando – Não necessariamente. Tem que existir uma lei que
regulamente isso, a lei tem que prever a adoção além da união. Mesmo porque nem
todo casal homossexual sonha em adotar um filho e constituir uma família
tradicional, mas, se quiserem, acho que seria apropriado termos este direito
regulamentado também.
base na experiência desse povo e nas suas tradições mais relevantes, sua história,
seus mitos, e sua religião;
Admitindo, ainda, que nossa Constituição de 88 reflita, efetivamente, o desejo
desse povo, bem como nossos códigos e leis primárias e secundárias, perguntamos:
José Antônio - Não será esse preconceito uma realidade legítima, com
raízes profundas em um povo com formação judaico-cristã? Legítima no sentido de
expressão da vontade popular.
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João Silvério Trevisan: É, aí eu acho que você tem que se perguntar o que
é a vontade popular e quem é que faz a vontade popular. Existe uma interação entre
as duas coisas: a vontade popular e a criação de leis. A vontade popular não nasce,
não cai do céu e não tem uma herança genética. A vontade popular é resultado de
um determinado momento histórico e de uma determinada vivência, digamos, ética
onde entram, inclusive, os valores religiosos. Então, nessa vontade popular você tem
que considerar os preconceitos existentes, porque essa vontade popular, vox populi,
não é sagrada, nem imutável. Muito pelo contrário, ela tem que ser levada em
consideração para a construção de leis, mas existe uma interação entre “as
vontades populares” porque a democracia levanta exatamente essa possibilidade de
que hajam as mais diversificadas vontades populares. Então, quando você
menciona essa vontade popular, você de certo modo está generalizando, como se
fosse uma voz única. O resultado do que nós chamaríamos de “voz popular” é
justamente o embate de várias posições, de uma diversidade enorme de posições
relacionadas com a expressão das necessidades de um povo. Esse resultado só é –
hoje nós compreendemos isso claramente, ainda que não estejamos aplicando de
uma maneira totalmente necessária – nós hoje podemos compreender que a
expressão da vontade popular resulta de um jogo democrático em que várias
vontades se entremeiam e se entretecem, por exemplo, as eleições. Tem muita
gente que não gostou da vitória do Lula, outros que não tinham gostado da vitória do
Fernando Henrique, então a vontade popular acaba sendo uma imposição da
maioria, sim, mas é uma maioria relativa, pois, toda maioria é composta de minorias.
O sistema eleitoral você tem a maioria ganhando, mas através de um debate.
Primeiro é o partido que escolhe o candidato, depois são os partidos que
apresentam vários candidatos; depois você tem o primeiro turno, o segundo turno,
então você vai tentando um diálogo com essa vontade popular até chegar a um
resultado chamado “vontade popular”, que é resultante de fricções. Então eu acho
que não posso dizer, absolutamente, que, os muçulmanos por terem tido uma raiz
muçulmana, sejam absolutamente imutáveis, tanto quanto nós, por termos uma raiz
judaico-cristã, tenhamos que ser imutáveis. Se nós formos aprofundar a questão de
um ponto de vista ou de um lado religioso (não sei se as outras perguntas vão mexer
nisso), existe o perigo muito grande e muito problemático de entrarmos num
esquema de teocracia, e essa teocracia se tornaria então uma expressão de uma
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vontade abstrata que é uma vontade que não está historicamente refletida. Peguem
o caso da Bíblia: se nós formos aplicar a Bíblia, o judaísmo bíblico hoje em dia, nós
vamos continuar tendo escravos, vamos matar nossos inimigos, as mulheres vão ter
que ser oferecidas aos seus hóspedes, os pais vão ter absoluto direito sobre as
filhas...Então, a Bíblia é a expressão de momentos históricos determinados, por isso
é que esta questão do judaico-cristã é uma questão absolutamente cheia de
reticências e absolutamente discutível, e perigosa por isso, quando se tenta
absolutizar essa questão.
José Antônio - Seria então legítimo alterar as leis sem uma consulta a esse
povo?
José Antônio - Mas seria justo para com os homossexuais se esta consulta
resultasse na legitimação do preconceito baseado em valores equivocados ou
ultrapassados? Admitindo que sejam, efetivamente, equivocados.
João Silvério Trevisan: Não. Eu acho que esta pergunta está respondida na
anterior, porque eu realmente não acho válido que exista uma resposta da maioria
através da consulta popular. Então, o que haveria nesse caso seria uma consulta ao
cidadão homossexual e para que isso aconteça, cidadão e cidadã homossexual têm
que ser reconhecidos enquanto parte dessa diversidade.
João Silvério Trevisan: Eu acho que isso é uma discussão viável, uma
discussão importante, por exemplo, Michel Foucault faria essa pergunta e
responderia não, não é legítimo.
O Direito é uma ciência, um compêndio de resultantes legais para contemplar
as necessidades de uma sociedade. Então, se o Direito contempla necessidades
heterossexuais – e ele contempla brutalmente – eu não vejo por que não contemplar
as necessidades dos homossexuais, não no sentido de colocar a orientação
homossexual debaixo do rigor da lei, mas no sentido de estar oferecendo o
reconhecimento desse status homossexual, assim como os heterossexuais têm esse
status. Se a sociedade não tivesse nenhum tipo de interesse em legislar a respeito
de orientação sexual, acho que tudo bem, não teria, portanto nenhum sentido em
que ela legislasse sobre as questões homossexuais. Mas, como ela tem uma
legislação, a meu ver, necessária – pois essa é uma expressão da vida em
sociedade – a sua sexualidade tem uma expressão social, como por exemplo, o
casamento, que é resultado de um pacto entre duas pessoas que têm um
determinado tipo de relacionamento sexual. Acho que nesse sentido seria
necessário que a sociedade também reconhecesse o status homossexual. Muita
gente acha que é uma interferência, como você disse aí, voltar a uma espécie de
teocracia, que seria uma, se é que assim posso chamar, direitocracia, mas, nós
teríamos que repensar todo o sistema legal se tivéssemos que nos contrapor a essa
50
8 Considerações Finais
9 Referencias Bibliográficas
AMARAL, Sylvia Mendonça do. Manual prático dos direitos dos homossexuais e
transexuais – São Paulo – SP: Editora Inteligentes, 2003.
BEVILAQUA, Clóvis. Direito da Família. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1943.
CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. Codex Iuris Canonici. 7. ed. rev. e amp. São
Paulo: Loyola, 1983.
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. São Paulo. Martins Fontes. 1998
LIMA, João Batista de Souza. As mais antigas normas de direito. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1983.
MOTTA, José Barros. Casamentos nulos na Igreja Católica: nova dimensão explícita
do atual código de Direito canônico. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1989. v.
1 e 2.
VARELLA, Luiz Salem. Homoerotismo no Direito brasileiro e universal: Parceria civil
entre pessoas do mesmo sexo. Campinas, SP: Agá Júris, 2000.