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de "burnout"
MARIANA VIVEIROS da Folha de S.Paulo 04/11/2004 - 09h42
Dizer que o estresse contínuo causado pelo trabalho traz conseqüências sérias à saúde pode
soar como exagero ou, por outro lado, obviedade. Não é nem uma coisa nem outra, segundo
a psiquiatra Maria Cristina De Stefano, 52, com base numa experiência pessoal vivida há três
anos e no diagnóstico dos pacientes que atende em Jundiaí (SP).
O termo, que na gíria inglesa identifica usuários de droga que se acabaram por causa do
vício, significa, ao pé da letra, o esgotamento ocasionado pelo consumo excessivo de
energia. Ganhou espaço na literatura médica a partir de 1974, em estudos feitos nos EUA
com profissionais de saúde, e designa uma resposta emocional e física ao estresse
ocupacional crônico.
No caso de Maria Cristina De Stefano, a rotina de trabalho de até 14 horas diárias, reuniões
intermináveis, cobranças, dois filhos adolescentes para criar sozinha e a necessidade de
cuidar da mãe recém-operada resultaram num cansaço crônico que evoluiu para insônia,
mau humor permanente, uma crise de herpes e terminaram na tireoidite.
Depois de um ano sofrendo, a psiquiatra descobriu que estava em "burnout" após ler um
livro sobre a síndrome. Hoje, mantém apenas o consultório, deixou de trabalhar nas tardes
de sexta-feira, parou de atender pacientes de convênios, pratica exercícios ao menos duas
vezes por semana, entrou num coral e numa confraria de vinhos e faz trabalhos voluntários,
tudo em busca de mais qualidade de vida. "É preciso buscar ajuda e mudar", receita.
Causas e conseqüências
O estado de "burnout" é causado por uma conjugação de fatores internos e externos, explica
a psicóloga Ana Maria Benevides-Pereira, 54, autora do livro que ajudou no autodiagnóstico
de De Stefano ("Burnout: Quando o Trabalho Ameaça o Bem-Estar do Trabalhador") e de uma
série de artigos sobre o tema.
"As empresas estão começando a tomar consciência de que têm de fazer mais que oferecer
plano de saúde e ginástica laboral porque, se os funcionários faltam ou não realizam suas
tarefas de forma adequada por causa de "burnout", o prejuízo é grande. Muitas já levam a
questão do estresse a sério nos exames anuais e cuidam do ambiente de trabalho para
evitar casos crônicos", afirma Cecilia Cibella Shibuya, presidente da ABQV (Associação
Brasileira de Qualidade de Vida).
Prova disso é que nomes como Natura, Basf, Accor, Procter&Gamble e Vivo formaram no
mês passado o Gesc (Grupo de Estudo em Saúde Corporativa), coordenado pelo médico
Ricardo De Marchi, ex-presidente da ABQV e que tem o intuito de discutir e buscar saídas
para melhorar a gestão de saúde dos trabalhadores. O tema será alvo de debates no 2º
Global Health Seminar, que ocorre entre 16 e 20 em São Paulo.