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Cesar Augusto Duarte Ramos

A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA
2003, BOOKBRASIL EDITORA LTDA.

PLANEJAMENTO GRÁFICO:
Celestino A. .J. Neto

REVISÃO:
Thelma Badaró

ILUSTRAÇÃO DA CAPA:
Renata Pacces

I S B N 85-89092-02-X

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de


qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos xerográficos, sem permissão
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e-mail do autor:
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A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA

INTRODUÇÃO ..................................................... 7

I. A MÁ TEMÁTICA .............................................. 11

O embuste de Platão ......................................... 11


Pacto com Belzebú ........................................... 16
Rateando a cabeça ............................................ 20
A astúcia de Maquiavel .................................... 26
O espião Galileu ............................................... 31
Bacon à moda chefe ......................................... 34
A tolice de Descartes ........................................ 36
A dialética cartesiana ........................................ 44
O incomparável Newton ................................... 54

II. A DOILÉTICA DE HEGEL ................................ 63

Hegel, o absoluto ............................................. 63


A perna mecânica ........................................... 71
A forja dialética ............................................... 73
A perversão do Direito ..................................... 81
A versatilidade do Volk e a codificação ............ 90
O pequeno falsário ........................................... 95
O macaco peralta .............................................. 105
O ardil materialista ........................................... 119
A fantasia de Freud .......................................... 132
Argh! ............................................................... 144
A solidariedade dos lobos ................................. 155
Lenta agonia .................................................... 159
III. FASCIAMO LA GUERRA ..................................... 165

Fasciamo na Alemanha .................................... 168


Fasciamo nell´Itália ......................................... 183
Fasciamo na França ......................................... 188
Vaca Leiteira ................................................... 193
No ritmo das castanholas, tiros de canhão .......... 198
O mundo em contradição .................................. 200
Índio também quer apito ................................... 211
Avança no Brasil .............................................. 224

IV. REVERSÃO: Fim da dialética, começo da Odisséia 227

Dialética x Somalética ..................................... 227


O fim da dialética ............................................. 232
Entropia ........................................................... 235
2001, a Odisséia recém começa ......................... 245

NOTAS .................................................................. 259


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................... 289
INTRODUÇÃO

Esse aspecto genético do paralelo en-


tre o desenvolvimento científico e o
políico não deveria deixar maiores
dúvidas.
Thomas Kuhn (1)

Teoria da Relatividade e a Física Quântica evidenciaram


A que a ciência erigira uma Babel. As ciências humanas,
convocadas à inglória empreitada, converteram o ser num
objeto programado ao fim idealizado, triste fim.
Que significado assumiu a dialética? Quem primeiro dela
se valeu? Seria um filósofo? Matemático? Ou religioso? Com
que objetivo? Em quais momentos teóricos e históricos ela foi
preponderante? Como a Matemática e, por consequência, a
Física foram envolvidas, levando junto não só a Engenharia, a
Economia, mesmo a Medicina, como também a própria
Filosofia, a Biologia, a Antropologia, a Psicologia, até as
Ciências Jurídicas e Sociais à amplidão infinita da metafísica
ilusionista, universo de artistas? Seria ela imprescindível, ou
obstáculo ao conhecimento? Que disposições daí emanadas
acendem, preferencialmente, o fogo do ódio entre a gente? E
quem ainda insiste na monstruosa armação? Qual chance de
escapulir de tão intensa gravidade?

7
Naveguei por uma década, à cata de indícios. Das qui-
nhentas obras vasculhadas, elenco quase a metade, a satisfazer
T.S. Kuhn, Foucault, Poincaré, Morin, você e Bachelard, para
quem “um conhecimento mais profundo é sempre acom-
panhado de uma abundância de razões coordenadas.” (2)
As informações, outrora truncadas, herméticas, enfei-
xadas, mistificadas, desencontradas, de acesso dificultado ou
censuradas por perigosas, hoje são reveladas ao mundo dos
normais. O cidadão comum vê emergir, apesar de uma
infinidade de mitos e obstáculos dogmáticos, a majestosa
reversão científica que, sob os auspícios do gênio do século XX,
modifica nosso entendimento simplesmente sobre tudo. In-
felizmente as ciências, e por extensão a política, evoluíram ao
gosto dos velhacos e tiranos. Maquiavel, Galileu, Bacon, Des-
cartes, Newton, Hobbes, Rousseau, Bentham, Mill, Proudhom,
Hegel, Malthus, Darwin, Freud, Comte e Marx são as estrelas
mais brilhantes da via láctea do inolvidável Platão. A mon-
tagem milenar, força concentrada de tamanhas brilhaturas, vara
os tempos precipitando os povos à insanidade, desde as peri-
*
pécias do Tirano de Siracusa ao obscuro César Bórgia; do
galante Cromwell, à sangrenta Revolução travestida demo-
crática, daí ao Corso e às guerras civis e mundiais que se
sucederam. Malgrado o linchamento de Mussolini, a bomba
atômica, muitos suicídios e o colapso soviético, suas perfídias
não se extinguiram; e até hoje impregnam quase a totalidade das
constituições, sempre conservadas e até aprimoradas pelo pode-
roso de plantão, o qual dispõe da ferramenta ideal para a domi-
nação total, cega finalidade partidária. Felizmente, desde o
limiar do século passado, os falsos brilhantes perdem o brilho
emprestado pela própria ciência que outrora lhes oferecia

*
Dionísio (405-367), "aluno" de Platão, "taxava tão pesadamente os cidadãos que,
segundo Aristóteles, chegava a confiscar toda a propriedade deles." Cit. Pipes, R., p.
281.

8
guarida. A velocidade das comunicações, e, por conseqüência
das alterações, as quais já não conhecem tempo, nem barreira,
sequer distância, indica que o político tem que ser sua imediata
expressão, sob pena de triste fim, soterrado nos escombros de
sua própria morada. Resta-lhe despir-se dos adereços e aban-
donar o palco ilusionista no qual florescem as ervas daninhas e
o podre odor suavizado nas gotas dos falsos ideais.
Chegaremos mais próximos da reorganização e de um
reacomodamento natural, paradoxalmente, desintegrando a
torpe novela. Como disse Ortega Y Gasset, “o homem que
descobre uma nova verdade científica precisou, anteriormente,
despedaçar em átomos tudo o que aprendera, e chega à nova
verdade com as mãos sujas de sangue do massacre de mil
superficialidades.” (3)
Iniciado o “massacre”, invoco a salvaguarda de Popper:
“Se neste livro se falam palavras ásperas com relação a
alguns dos maiores dirigentes intelectuais da humanidade, não é
o desejo depreciá -los, creio, o meu objetivo. Nasce ele antes da
convicção de que, se nossa civilização tem de sobreviver,
devemos romper com a habitual deferência para com os grandes
homens.” (4)
Por fim, tomo emprestado as palavras de Einstein: “Se,
no que se segue, eu vier a expressar minhas idéias um tanto
dogmaticamente, será apenas em nome da clareza e da sim-
plicidade.” (5)
Consigno, todavia, a ressalva: diferentemente do gênio,
não apresento, de modo direto, novas idéias. O livro é menos
escrito por mim, muito mais pelos vultos; mas atirei-me na
*
faina de reuni-los. Decifrei o puzzle . Ofereço-lhe descascado.

*
Em condições normais, o cientista investigador não é um inovador mas um
solucionador de puzzles, e os puzzles em que ele se concentra são precisamente
formulados e resolvidos pela tradição científica existente." (Kuhn, T.S., cit. Gleick, J.,
p. 63)

9
Com você, honroso leitor, a alienação provocada pela
dialética, acrescida das graves repercussões epistemológicas,
jurídicas, econômicas, culturais, ecológicas, sociais e sua mais
simples solução.

10
I. A MÁ TEMÁTICA

Uma ilusão geral constitui uma força


social, que serve potentemente para
cimentar a unidade e a organização
política de um povo, como de uma
inteira civilização.
Gaetano Mosca (1)

1. O embuste de Platão

ESDE os primórdios da civilização vinga o prático e


D animalesco princípio de dividir para conquistar, domi-
nador (não denominador) generalizado (não o comum), cami-
nho mais curto ao usufruto do poder e da riqueza:
“Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros,
quase todos os preconceitos funestos que acabo de pintar deve-
ram seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento
à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para
governá-los mais absolutamente.” (2)
No comentário do prof. Franklin Cunha, as ironias:

11
“Tudo começou com o Criador (ou o Classificador)
Supremo, pois criando o homem já o classificou em macho e
fêmea. Em seguida, criou duas outras categorias: a do bem e do
mal. Depois, os sete pecados capitais, os dez mandamentos, an-
jos e demônios, fé e idolatria, esperança e desespero, caridade e
avareza, castidade e luxúria, prudência e loucura, paciência e
cólera, concórdia, discórdia, obediência e rebelião, perseve-
rança e inconstância.” (3)
O Gênesis oferece vários contrastes:
“No Princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém,
estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e
o Espírito de Deus movia -se sobre as águas. E Deus disse:
Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e
separou a luz das trevas. E chamou a luz de dia, e as trevas
noite. E fez-se tarde e manhã: o primeiro dia.” (4)
No Paraíso não havia discordância, que dirá algum
confronto:
“Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte.
Se é vermelha tinge a outra de vermelho.
Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã.
É língua muito transitiva a dos pássaros.
Não carece de conjunções nem de abotoaduras.
Se comunica por encantamentos,
E por não ser contaminada de contradições
A linguagem dos pássaros
Só produz gorjeios.” (5)
Depois da maçã, vestimos preto-e-branco, listas horizon-
tais e numerado. Daí a Platão (428-347 a. C.) foi apenas um
lapso: “Em Atenas, Eurípedes e Platão foram acusados de
roubar idéias de outros autores e filósofos.” (6)
De Parmênides (540-450 a.C.), Platão contrabandeou as
alegorias da ilusão; de Pitágoras, (VI a.C.) a geometria e a
matemática. Assim crescia a dialética: o fato, a suposição e a
resposta, conflito estimulado por distinções polares, paradoxais

12
e enfraquecidas mutuamente, receptiva à introdução de sua
vontade. Na eterna corrente da dúvida, o métron é a justa
medida, a mais exata, presumidamente a mais correta solução.
A primariedade da fórmula não alcança a complexidade uni-
versal: “Bem e mal são categorias inventadas pelo homem para
conviver. A imensidão do espaço não pode ser analisada do
ponto de vista do bem e do mal. Não tem sentido, nenhum
sentido, do ponto de vista do bem e do mal.” (7)
Como disse Tocqueville, todavia, “uma idéia simples,
mas falsa, terá sempre mais peso no mundo do que uma idéia
verdadeira, mas complexa.” (8)
Platão fugiu com a muamba e voltou para anunciar o
*
nascimento de sua ciência, na maternidade da Academia . O
galo estufava o peito: “Platão, sonhando com uma retórica dig-
na do filósofo, queria que os discursos deste pudessem con-
vencer os próprios deuses.” (9)
A “engenharia” teológica platônica condenou o homem
ao pêndulo:
“Dilacerado entre o desejo de eternidade e a solicitação
do corpo, jamais ele poderia superar essa contradição se a sua
alma não fosse naturalmente votada ao divino. Tudo é duplo no
homem, tudo se joga entre o tempo e a eternidade. Só o amor,
que surge como raiva, libido, arrebatamento ou delírio divino,
pode rasgar o reino da necessidade.” (10)
O estandarte anunciava o desfile das fantasias:
“A partir do triunfo da metafísica, o caráter demiúrgico
expresso no plasma da sofística já não mais corresponde à
produção real de efeitos; transportado para a mimesis na visão
platônica, transforma-se, no livro X de A república, após o
estabelecimento da teoria do conhecimento platônica (final do
livro VI, início do VII), em invenções de meros simulacros,

*
Atenas, 387: o senhor Platão acaba de inaugurar sua escola filosófica de alto nível.
Localiza-se em terras que levam o nome do lendário herói Academos, ao noroeste da
cidade.

13
cópias de cópias, distantes em três graus do real, do mundo
transcendente das idéias.” (11)
Nada se fazia à toa:
“O objetivo desse curso de instrução era desviar os pen-
samentos dos homens das mudanças do mundo sensível para a
estrutura imutável que há por trás dele, do devir para o ser, para
usar as palavras de Platão. No entanto, nenhuma dessas disci-
plinas é autônoma. Afinal, todas seguem os cânones da dialé -
tica e o estudo destes cânones é o verdadeiro traço distintivo da
educação.” (12)
O traço era transviado: “Durante seu desenvolvimento
pelo pensamento grego, a filosofia da natureza enveredou por
um caminho equivocado. Esse pressuposto errôneo é vago e
fluído no Timeu, de Platão.” (13)
O deslize, embora turvasse a busca do conhecimento e,
por conseqüência, fosse carrear graves prejuízos educacionais a
todas as gerações, ensejava o gozo de outro tipo de poder, mais
pragmático, de proveito instantâneo. Corrido de Atenas, Platão
sentou praça no sul da Itália, secundando o Tirano de Siracusa.
De lá, voltou com a questão fundamental para envolver os
conterrâneos: “Quem deveria governar? Quem legisla?” (14)
Ele próprio deu a resposta, até certo ponto lógica, mas de
inigualável pretensão: “Os sábios deverão dirigir e governar, e
os ignorantes deverão segui-los.” (15)
Em outras palavras, só ele e seus amigos acadêmicos é
que poderiam (e deveriam) encabrestar a população, fato que
levou Popper a trocar a questão, diante de tão capacitados
governantes, “de quem deva governar” para “de como nos
livrarmos pacificamente de governantes corruptos e incom-
petentes.” (16)
À empunhadura do poder, Platão “inventou” a grande
justificativa do coletivismo: “Legislo tendo em vista o que é
melhor para todo o Estado; coloco justamente os interesses do
indivíduo num nível inferior de valor.” (17)

14
Nietzsche discordou, e muito antes do nazifascismo e do
comunismo: “Mas o Estado mente em todas as línguas do bem
e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-
o. Além onde acaba o Estado começa o homem que não é
supérfluo.” (18)
O grego, todavia, suplantava o “louco” filósofo: “Platão
sutilmente instituiu uma sinomia entre individualismo e egoís-
mo: apelando para o sentimento humanitário, subverteu o
conceito de individualismo, conceito que se opõe ao coletivis-
mo não implicando, portanto, na adoção do egoísmo como
padrão moral, tentando tornar a alternativa coletivista como a
única moralmente compatível com o altruísmo.” (19) Maqui-
avel, Descartes, Hobbes, Rousseau, Malthus, Bentham, Dar-
win, Comte, Gramsci, Freud, George Sorel e Marx, além de
Hegel, apenas para citar os vetores mais eficazes do cientismo
político, vieram contaminados pela mais famosa fonte, prog-
nóstico que se realiza por dois mil anos: “E o Estado erigirá
monumentos para celebrar sua memória. E sacrifícios ser-lhes-
ão oferecidos como a semideuses como a homens que são
abençoados pela graça e semelhantes a deuses.” (20) Faltou
acrescentar: e a Nação os derrubará, enterrando junto sua
memória. Lenin, Stálin, Hitler e Mussolini que o digam.

15
2. O pacto com Belzebú

Minha principal habilidade é vislum-


brar os efeitos, as consequências e as
possibilidades e relacionar as des-
cobertas de outros com minhas idéias
atuais.
Albert Einstein (1)

mistificação e o conhecimento proliferaram graças ao


A dedo de Gutemberg. De modo simultâneo, cerca de mil
tipografias levavam as boas novas ao interior, a duzentos e
cinqüenta distintas localidades (2): “De todas as revoluções
tecnológicas do milênio, a de maior alcance ocorreu um pouco
antes da metade dessa era. Em 1455 Gutemberg escreve a
Bíblia.” (3)
Ao findar o século, havia duzentos e quatorze livros de
matemática.(4) A “verdadeira ciência”, entretanto, como
aquela, nascia lambuzada de preconceito:
“A idéia é originalmente devida a Platão, que, sem
dúvida influenciado pelas concepções pitagóricas, foi o
primeiro a afirmar que o círculo, cujas partes são todas iguais
entre si, é por essa razão a mais perfeita figura geométrica, e,
portanto, como os corpos celestes são eles mesmos perfeitos, o
único movimento que lhes é possível é o movimento circular
uniforme. A tarefa dos astrônomos a partir de então foi
construir um modelo matemático que explicasse os dados
observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam
dotados de movimentos circulares uniformes.” (5)
Adotamos o mico: “O grande desenvolvimento da
aplicação de técnicas matemáticas a problemas científicos
atingiu seu pico nos séculos XVII e XVIII, mas seus
fundamentos foram lançados no século XVI.” (6)

16
Ele fez um estrago considerável: “Seja qual for, de resto,
a validade desta tese geral ela é verdadeira para o século XVI.
Que tudo abalou, tudo destruiu: a unidade política, religiosa, es-
piritual da Europa; a certeza da ciência e a da fé; a autoridade
da Bíblia e a de Aristóteles; o prestígio da Igreja e o do Esta-
do.” (7)
Toffler se reporta à confusão: “Um conselho sem dúvida
bem-intencionado, atribuído a Santo Agostinho, advertia os
cristãos a manter distância das pessoas que sabiam somar ou
subtrair. Era óbvio que haviam firmado um “pacto com o
diabo”. (8)
A matemática era o cimento das ciências, garantia de sua
coerência, defesa segura contra qualquer tentativa de acolher,
“com distorções de palavras”, proposições de várias proce-
dências, incompatíveis entre si: “O prestígio das matemáticas
vem-lhes do facto de a afirmação excluir nelas a própria
possibilidade de controvérsias: a partir de agora, serão as
matemáticas que irão fornecer a unidade na medida de todas as
ciências.” (9)
O conhecimento anterior fora disseminado por incon-
sistentes palavras; agora, cabiam aos iniciados promover o
novo tom: “A ciência ocidental tornou-se matematizada. A
linguagem matemática da ciência, que causa tanto desânimo ao
leitor de outras áreas, implantou-se como resultado do conflito
entre as visões de mundo eclesiástica e leiga e seu propósito era
justamente causar o afastamento do público comum.” (10)
Os maestros do infortúnio obtinham a prova cabal, hege-
mônica e insofismável dos mais modernos instrumentos: “As
ciências humanas sofreram a invasão do modelo oriundo da
física clássica, e tudo aquilo que resistisse a esse modelo
pareceu retrógrado.” (11)
A faculdade de conhecer o verdadeiro se resumia ao que
braços ou olhos podiam confirmar, mas o acesso ao ideal
estava, há muito, plenado. As regras do jogo lhe pertenciam:

17
“A matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina,
tornou-se aquele ‘discurso vivo’ que Platão considerou a única
verdadeira forma de conhecimento.” (12)
“Mas o Número era, indubitavelmente, uma invenção do
próprio Platão.” (13)
A muamba numérica de Pitágoras e o ilusionismo de
Parmênides geraram a ramificação. Foi esta a matéria prima de
Carlos Magno:
“Para isso, ele funda escolas – sempre ligadas às insti-
tuições católicas – e unifica o conteúdo do ensino, que com-
preende, à maneira romana, as sete artes liberais (isto é, dignas
de um homem livre): gramática, retórica e dialética (o trivium)
e geometria, aritmética, astronomia e música (o quadrivium).
Nenhuma dessas artes, porém, justifica-se por si mesma: elas
estão a serviço da ciência das ciências, isto é, a teologia.” (14)
Havia pano para muita manga: “...existem, na história da
filosofia, muitos Platões e muitos platonismos. Em particular
são de dois tipos diferentes: o platonismo, ou mais exatamente
o neoplatonismo, da academia florentina, mistura de mística, de
aritmologia e de magia; há o platonismo dos matemáticos, o de
Tartaglia e o de um Galileu; um platonismo que é um mate-
matismo, e nada mais.” (15)
O script numerado lhe outorgava falsa sapiência: “Não
entre quem não saiba geometria.” (16)
Na República do infeliz, poetas e pensadores ganhavam
cartão vermelho: “‘Letras servem à fantasia’, enquanto o ‘o
livro da natureza é dominado pelo rigor matemático, donde seu
objetivo precípuo é aquele de aprender a verdade.’” (17)
Destarte, as idéias e as formas geométricas atravessaram
os séculos destinadas “a fascinar os próprios matemáticos que
as evocavam.” (18)
O narcisimo arrastou o homem ao reino da ilusão, ao
topo da inútil torre.

18
Euclides (III a.C), “que possivelmente freqüentou a
Academia de Platão” (19), apresentou o ápice geométrico, mas
o papel preponderante coube a Ptolomeu (II a.C.): após
mirabolantes cálculos e “fatos” levantados, ou inventados, ele
*
liquidou com o “herege” Aristarco cravando o alienado geo-
centrismo. A presunção foi encampada com tenacidade e arrojo
pelos cabos eleitorais do partido celestial, razão de sua
persistência, incólume (!?) por quatorze séculos, enquanto a má
temática medidora se estabelecia ungida rainha das ciências,
permanecendo por mais quatro! Sequer o Inferno, de Dante
(20), escaparia do crivo, para o protesto de Mandelbrot: “A
maior parte da natureza é muito, muito complicada. Como se
poderia descrever uma nuvem? Uma nuvem não é uma esfera.
É como uma bola, porém muito irregular. Uma montanha?
Uma montanha não é um cone. Se você quer falar de nuvens,
de montanhas, de rios, de relâmpagos, a linguagem geométrica
aprendida na escola é inadequada.” (21)
No século XIX, o monstro sagrado da própria mate-
mática, Bernhard Riemann, já sentenciara: “a linguagem
resultava demasiada pobre para captar a experiência.” (22)
Einstein acrescentou as letras famosas. Na equação
E=mc 2 , elas ganham dos números por 3x1, (sic) mas os
derrotados não se deram por vencidos: “Desde que os mate-
máticos se apossaram da teoria da relatividade, eu mesmo não a
entendo mais.” (23)
Sabemos de algumas sérias conseqüências: “A lenda de
Einstein, o mito de que a relatividade é incompreensível,
tornou-se arquetípica em nossa cultura. A clareza, beleza e
simplicidade da teoria foram transformadas no seu oposto, e o
nome de Einstein virou sinônimo de incompreensibilidade.”
(24)

*
Aristarco de Samos (III a.C.) propusera o sol no centro do sistema astronômico,
sendo por isso acusado de heresia.

19
Antes de exclusão, do confronto entre letras e números,
mister sua complementação, intrínseca e imprescindível à rea-
lidade fundamental. Se houvesse oportunidade, avisaria Platão.

3. Rateando a cabeça

padre polonês Niklas Koppernigk (1473-1543) pere-


O grinou por Bologna (1496), Roma (1500), e Pádua
(1503), “para aprender Direito, Medicina e, sobretudo,
Astronomia.” Certamente passou por Florença. Em 1513, com
base nas teorias geométricas do movimento planetário,
Copérnico calculou futuras posições astrais; no ano seguinte,
determinou o centro estático do Universo, em torno do qual a
*
Terra e os outros planetas se deslocavam em órbitas circulares.
São dele as palavras: “Imóvel, no entanto, no meio de tudo está
o Sol. Pois nesse mais lindo templo, quem poria esse candeeiro
em outro ou melhor lugar do que esse, do qual ele pode ilumi-
nar tudo ao mesmo tempo? Pois o Sol não é inapropriadamente
chamado, por alguns povos, de lanterna do Universo; de sua
mente, por outros; e de seu governante, por ainda outros?
**
Hermes, o Três Vezes Grande, (O Trimegistro) chama-o de
um deus visível, e Electra, de Sófocles, de onividente.” (1)
O código matemático, presumida “expressão da nature-
za”, assumiu a postura dogmática, irrefutável, mandamental
como todo código, devendo ser aplicado nos projetos das

*
A denominação provém do grego; significa “vagante, errante”. Alves, R. p. 62.
**
Hermes Trismegistro foi autor de inúmeros textos alquímicos, donde se sobressai a
famosa Tábua de Esmeralda. Ganhou o cognome Trismegistro em virtude de possuir
"três partes da sabedoria de todo o mundo"; Gilchrist, C, p. 59.

20
ciências e, por extensão, à política, a todos os povos, enfim.
*
Copérnico , como sugerira Platão, restringia o comando aos
iluminados da razão, a esses que pairavam acima do bem e do
mal, estratosfera vetada aos menores: “As matemáticas são
escritas para os matemáticos.” (2)
Da geopolítica ao comércio, das belas artes à medicina,
nada permaneceu imune: “Como mostra Michael Baxandall, a
análise das formas geométricas tornou-se uma preocupação
comum aos comerciantes, aos engenheiros e aos artistas (que
eram freqüentemente engenheiros também). Descobrir as
proporções, identificar os triângulos, os cones ou os cilindros
passou então a ser uma espécie de hábito cultural amplamente
difundido.” (3)
Criatividade, poesia e humanidade configuravam atribu-
tos desprezíveis, malgrado o romantismo renascentista. Fou-
cault estudou a dimensão do câmbio: “Passa-se de uma arte de
governar, cujos princípios foram tomados de empréstimo às
virtudes tradicionais (sabedoria, justiça, liberalidade, respeito
às leis divinas e aos costumes humanos) ou às habilidades co-
muns (prudência, decisões refletidas, cuidados para se acercar
de melhores conselheiros), a uma arte de governar cuja
racionalidade tem seus princípios e seu domínio de aplicação
específico no Estado.” (4)
No prolongamento da coroa da economia e do pinhão do
direito, assentou-se o eixo do poder:
“O esquema copernicano, por outro lado, foi visto como
se prestando muito facilmente ao apoio de formas mais
absolutistas de monarquia. À medida que a monarquia passava
a reivindicar um domínio cada vez mais absoluto, reduzindo o
poder da pequena nobreza, a cosmologia copernicana se tor-
nava ainda mais útil.” (5)

*
“O platonismo aliado ao hermetismo dá toda uma metafísica da luz e todo um jogo
de metáforas.” Châtelet, F., p. 42.

21
Nesse espírito tomado científico, à bête-machines, cabia
o azeite da oficina do astuto exterminador do futuro: “Antes
que Descartes dissesse que sua metafísica não era senão geo-
metria, Maquiavel pode ter pretendido que sua política não era
mais que matemática, com seus signos fundamentais, mais, me-
nos, igual.” (6)
A “genialidade” maquiavélica, reconhecida especial-
mente por aqueles que o interpretam como um ser realista, pro-
*
vém desse empírico e obsoleto paradigma , racionalidade
mecanicista também flagrada por Gusdorf. (7) “Razão” faz-se
**
no cálculo . Seu designativo vem de ratio, latim, significando
ratear, contar, dividir, multiplicar: “Para cumprir com sua
responsabilidade universal, o príncipe era obrigado a procurar a
medida de seus atos nos efeitos previsíveis que suas ações
trouxessem para a comunidade. Assim, a obrigatoriedade de
agir impunha também a obrigatoriedade de ser o mais previ-
dente possível. O cálculo racional de todas as possíveis conse-
qüências tornou-se o primeiro mandamento da política.” (8)
O estilo é todo de Platão, mas não só dele. Pascal tam-
bém sustentara a importância da geometria no plano da razão:
“O verdadeiro método de conduzir a razão quer significar outra
coisa; que é a faculdade de conhecer o verdadeiro. Neste

*
Paradigma: do grego paradeigma, significa “modelo” ou “padrão”, foi reintroduzido
por Thomas Kuhn (1922-1996) no fim dos anos sessenta, em The structure of scientific
revolutions, como “uma constelação de realizações - concepções, valores, técnicas, etc.
- compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para
definir problemas e soluções legítimos”. (Capra, F., A Teia da Vida, p. 24.) Por seu
criador: “Considero paradigmas as realizações científicas universalmente reconhecidas
que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade de praticantes de uma ciência.” (Kuhn, T., p. 13)
**
“Para Hobbes, a razão é uma operação de cálculo, com o qual extraímos
conseqüências dos nomes escolhidos para expressar e registrar nossos pensamentos.”
Hobbes, T., cit. Bobbio, N. Thomas Hobbes, p. 105.

22
sentido, a geometria, esta “admirável ciência”, é a própria ra-
zão.” (9)
Para justificar a presença do Estado, Platão “recomenda-
ra” estimular conflitos. Maquiavel projetava pólos contraditó-
rios, para impor os efeitos integralizantes. Como cascavel,
balançava o sino numa ponta para picar com a outra. Pica e
oferece o antídoto. É certo que a artimanha não foi sua
invenção, mas ele nem precisava ir à fonte grega - a própria
Igreja, que o rodeava de modo avassalador, propunha alegorias
assemelhadas ao irônico poema, do tio de Platão:
“Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava sob
os véus de mendaz sabedoria.
Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam...
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor,
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.” (10)
Por volta do sexto século, Isidoro de Sevilla dera o tom:
“Pela vontade de Deus, a pena da servidão foi imposta à
humanidade devido ao pecado do primeiro homem; quando ele
nota que a liberdade não convém a alguns homens, miseri-
cordiosamente lhes impõe a escravidão. E, embora todos os
fiéis possam ser redimidos do pecado original pelo batismo,
Deus, na sua eqüidade, fez diferente a vida dos homens,
‘determinando que alguns fossem servos, outros senhores’, de
modo que o arbítrio que têm os servos de agir mal fosse
limitado pelo poder dos que dominam. Com efeito, se ninguém
temesse, quem poderia impedir alguém de cometer o mal? Por
isso são eleitos príncipes e reis, para que ‘com o terror’, livrem

23
seus súditos do mal, ‘obrigando-os, pelas leis, a viver reta-
mente’.” (11)
O dogma tomou o impulso definitivo no fim da Idade
Média: “Agostinho é o acérrimo defensor do pecado original e
da essencial maldade do homem.” (12)
O princípio requer a presença da bondade infalível, daí à
supremacia papal; o homem pecador exige a ditadura, premissa
que inspirou Hobbes a decretar “o homem lobo do homem” e a
clamar a interferência salvadora do Estado Leviathan.
A aliança de governantes e eclesiásticos sempre interes-
sou a ambos. O físico PhD Marcelo Gleiser identifica e acata a
estratégia imanente, tragédia latente:
“A ambigüidade pode ser uma arma de propaganda
extremamente útil: ao insinuar sem comprovar, ao sugerir sem
definir, ao criar imagens fantásticas que inspiram o fascínio e o
terror sem oferecer uma clara interpretação de seu significado,
você decerto irá despertar a curiosidade de muitas pessoas. Se,
em sua mensagem, você assegurar uma recompensa àqueles
que seguirem suas idéias, seu sucesso estará praticamente
garantido. Assim foi com o Apocalipse, que prometia nada
mais nada menos do que a salvação ou a danação eterna. O
texto provocou um debate constante entre os pioneiros da
Igreja Católica.
Em tempos de dificuldade, uma interpretação literal do
Apocalipse era mais favorecida, enquanto em tempos de
relativa calma, a sua interpretação tornava-se mais alegórica.
Essa variação é uma conseqüência da própria estrutura e estilo
do texto, que se presta a múltiplas interpretações. Sua
ambigüidade é sua virtude.” (13)
Belzebú é seu filho, sparring, coadjuvante. El viejo
sorrateiro sempre reaparece flamante, demonstrando conhe-
cimento. Todos o detestam, mas sem ele não há luta, não há
espetáculo, não há público.

24
A participação eclesiástica na política foi fatal à huma-
nidade: “O homem moderno, no entanto, especialmente nas
democracias, considera-a, a política, uma atividade suspeita.
Pode-se dizer que desde os tempos de Maquiavel, com sua
máxima de que os meios justificam os fins, e do Cardeal
Mazarino, que acreditava ser a política um jogo de torpezas, ela
passou a ser mal vista, pelo menos mais do que em épocas
anteriores.” (14)
Apenas um reparo: para Maquiavel, são os fins
projetados (e jamais alcançados) que justificam os meios utili-
zados. Mutatis mutandis, a diabólica perfídia excede seu tem-
po. O mestre Reale observa como tudo sobrevive: “O que
efetivamente caracteriza o homem moderno é a confiança em
seus poderes demiúrgicos, em sua capacidade de penetrar nas
leis da natureza, não pelo prazer estético-intelectual de
expressá-las, mas pela necessidade de convertê-las em ins-
trumento de seus projetos existenciais.” (15)
No horizonte do novo século, a gente se dá conta: “A
Razão tem tido enorme sucesso entre os filósofos que
abominam a comple xidade e os políticos (tecnocratas, ban-
queiros, etc., etc.) que não se importam com dar pouco estilo à
sua luta pelo domínio do mundo. É um desastre para os
restantes, isto é, praticamente quase todos nós. Já é tempo de
lhe dizermos adeus.” (16)
Cabe-nos tão somente escolher: “Disse Platão certa vez
que a raça humana não se livraria de seus males até que os
filósofos se tornassem reis, ou os reis se tornassem filósofos.
Talvez haja uma outra opção, a medida que um crescente
número de pessoas assuma a liderança de suas próprias vidas.
Essas pessoas se tornam seu próprio poder central. Diz um
provérbio escandinavo: ‘Em cada um de nós existe um rei.
Procure-o e ele aparecerá.’” (17)

25
4. A astúcia de Maquiavel

Esse aspecto genético do paralelo


entre o desenvolvimento científico e o
político não deveria deixar maiores
dúvidas.
Thomas Kuhn (1)

Império Romano não deixara saudades; exceto no círculo


O de Roma: “Até Maquiavel, Estado e sociedade não se
diferenciavam no “todo orgânico da existência humana.” (2)
A cópia antecipada do Duce reencarnava vestida de
Príncipe, “a grande e real concepção de um verdadeiro gênio
político, animado pelos objetivos mais altos e mais nobres.” (3)
O “gênio político” levaria a civilização a se auto-
aniquilar, para ele arbitrar. Em 1513, enquanto Copérnico
admirava a “lanterna do Universo”, Frá Francesco de Meleto se
encarregou do alarme:
“Por todo lado haverá sangue. Haverá sangue nas ruas,
sangue nos rios, as pessoas navegarão em ondas de sangue,
lagos de sangue, rios de sangue. Dois milhões de demônios
serão largados do céu, porque mais mal foi cometido nestes
últimos dezoito anos do que durante os cinco mil que os
precederam.” (4) Que descrição o atento Frá utilizaria depois
das revoluções soviética, espanhola, chinesa ou das guerras
mundiais, meros replays agigantados?
No infeliz desígnio, o uso da fraude, da violência, do
Terrorismo, passou a ser aceito, banalizado, até exigido.
Legislar, verbo originário de legere, ou seja, leitura da
natureza, pela pena racionalista virava facere, agere, primo
canto baconiano-positivista-marxista. As ações sócio-políticas
não deveriam mais obedecer determinações “espirituais”,
portanto “inexistentes”. O pragmatismo “realista-materialista”
de Nicoló di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) surgia

26
imprescindível. O conselheiro do Príncipe obtinha êxito por se
adiantar: “O gênio de Maquiavel consistiu em aplicar ao
domínio humano as normas da revolução mecanicista um bom
século antes do advento da física experimental.” (5)
De fato, Francis Bacon (1561-1626), pioneiro da física
experimental, valeu-se do guizo: “Temos uma grande dívida
para com Maquiavel e alguns outros, que descreveram o que os
homens fazem e o que não deveriam fazer, pois não é possível
unir a duplicidade da serpente e a inocência da pomba, quando
não se conhecem exatamente todos os recursos da serpente: sua
baixeza rasteira, sua flexibilidade pérfida, o ódio que afia o
dardo.” (6)
Para abiscoitar tamanho galhardão o figurinista do
Príncipe não necessitava muito engenho: “A dialéctica, isto é, a
história das opiniões filosóficas, não passa de uma galeria de
espelhos que se reflectem uns aos outros de modo mais ou
menos distinto.” (7)
A galeria de Maquiavel é paupérrima. A filosofia tomista
não o atingiu. De Aristóteles, não tomou conhecimento.
Marcelo Gleiser sugere a importante veia: “Além de sua in-
fluência na teologia cristã, o pensamento monístico grego
exerceu grande influência no desenvolvimento da ciência mo-
derna, em particular após a redescoberta de textos gregos na
Europa no fim da Idade Média e início da Renascença.” (8)
O poder se mantinha por essas duas pernas:
“A interpretação religiosa assenta nessa mesma am-
bigüidade: una est religio in rituum varietate, proclama Ficino,
que, na Teologia Platônica – título revelador – desenvolve o
acordo entre o platonismo e o cristianismo. ‘Eis a razão porque,
quem quer que leia seriamente as obras de Platão, nelas en-
contrará, evidentemente, tudo, mas em particular essas duas
verdades eternas: o culto reconhecido de um deus conhecido e
a divindade das almas, onde reside toda a compreensão das
coisas, toda a regra de vida e toda a felicidade. E tanto o mais

27
que, sobre estes problemas, a maneira de pensar de Platão é tal
*
que, de entre outros filósofos, foi a ele que Agostinho es-
colheu para modelo, como sendo o mais próximo da verdade
cristã, afirmando que, com pequenas alterações, os platônicos
seriam cristãos.’” (9)
O trilho estava estendido:
“Maquiavel considerava que a religião e, sobretudo o te-
mor a Deus, era essencial ‘para comandar os exércitos, para
estimular a plebe a manter os homens bons, para fazer os reis
se envergonharem.’ Escrevia ele também que o culto divino e o
temor a Deus são necessários sobretudo nas repúblicas: ‘e
como a observância do culto divino é origem da grandeza das
repúblicas, também o desprezo daquele é origem da ruína
destas. Porque onde falta o temor a Deus, convém ou que
aquele reino desabe, ou que seja sustentado pelo temor a um
príncipe que supra os defeitos da religião.’” (10)

*
“AGOSTINHO pode ser considerado como autor da primeira filosofia do
cristianismo, intitulada ‘De Civitae Dei’ (Sobre a Cidade de Deus), bem como o pai ou
precursor da hierarquia eclesiástica, que culminou no século XIII e vem teológica e
políticamente sistematizada na ‘Summa Theologiae’ de Tomás de Aquino... O sistema
filosófico-teológico de Agostinho está inteiramente calcado sobre a ideologia do
Antigo Testamento. As doutrinas de Agostinho sobre o pecado e redenção do homem
são de uma clareza diáfana e foram aceitas quase universalmente, com algumas
modificações pela Igreja cristã do Ocidente, até aos nossos dias.” Rohden, H.,
Filosofia contemporânea, p. 23; 27/8
“O platonista cristão, ou o cristão platônico, não conseguiu, jamais, durante a sua
longa vida, como vimos, estabelecer verdadeira e satisfatória harmonia entre o
grandioso monismo filosófico de Platão e dos seus discípulos alexandrinos e o
dualismo teológico da Igreja de seu tempo. Quando pensa, pensa em moldes platônicos
– quando fala, fala em terminologia eclesiástica. Ele é o filósofo platônico ex opere
operantis (subjetivamente) – e é teólogo eclesiástico ex opere operato (objetivamente).
É monista da metafísica – e dualista na ética.” (Idem, p. 35.)
Nascido na Argélia e educado em Cartago, o padre assimilou o maniqueísmo,
(oriundo do persa Mani ((215-276), o qual divide o mundo entre bem e mal,
conjugando-o através da filosofia platônica: “Os séculos IV e V, em que Agostinho
vive, são uma época em que a filosofia, talvez com exceção do neoplatonismo de
Plotino, perdeu a confiança na razão... Cabe então a Agost inho restaurar a certeza da
razão, e isso, paradoxalmente, por meio da fé.” Abrão, B., p. 98/9

28
A Escolástica, de SantoTomás de Aquino, havia de certo
modo superado a charla, mas os papas renascentistas redes-
cobriam Platão, à felicidade de Nicolau e infortúnio geral:
“Até o Renascimento, o Ocidente praticamente desco-
nhecia Platão, mas alguns manuscritos gregos comprados em
Constantinopla, mudaram esse cenário. Entre eles, levados a
Florença em meados de 1430, estava nada mais nada menos do
que a obra completa de Platão.” (11)
*
“Florença, no governo Cosme de Medici, viu nascer a
Academia Florentina. Esta instituição favoreceu Platão, frente
às universidades estabelecidas.” (12)
O leitmotiv da famosa família jamais teve cunho
educativo, espiritual ou cultural: “A Academia Platônica,
**
fundada por Marsilio Ficino , com consentimento de Cosme
de Medici, elabora com efeito uma doutrina destinada a uma
larga difusão, por longo tempo benéfica à manutenção da
hegemonia cultural florentina, mas da qual os Medici são os
primeiros a tirar vantagem concretamente.” (13)
Platão legara tese, estilo de vida, propósitos e atitudes:
“Quer se suceda que governem com a lei ou sem a lei,
sobre súditos voluntários ou forçados; quer que purguem o
estado, para bem deste, matando ou deportando alguns de seus
cidadãos, enquanto procederem de acordo com a ciência e
a justiça e preservarem o estado, tornando-o melhor do que
era, esta forma de governo pode ser descrita como a única que
é certa.” (14)
O crime de massa poderia continuar, agora até com a
proteção do Vaticano, abreviando o sofrimento, amém. Em
Florença florescia a Renascença; por suas pétalas e mudas,
refastelam-se os oportunistas: “Pouco a pouco, os soberanos

*
Cosme, O Velho (1389-1464)
**
1433-1499 .

29
compreenderam que a justiça podia ser também pretexto para a
extensão de seu poder e a afirmação de sua autoridade.” (15)
O fantasma amava a bota; e para Maquiavel, a Itália
“parece nascida para ressuscitar as coisas mortas.” (16)
Que outra adega precisaria visitar o mais famoso floren-
tino para compor tão perene obra, tão corrosivo cocktail? A
civilização tomou o bonde errado:
“O individualismo era parte da velha idéia intuitiva da
justiça. A justiça não é, como quereria Platão, a saúde e
harmonia do estado, mas antes certo modo de tratar os indiví-
duos; é o que Aristóteles acentua, como se lembrará que ‘a jus-
tiça é algo que pertence às pessoas’” (17)
Importava a capacidade de uma classe emergente: “Ain-
da que os artilheiros deste tempo se contentem de bom grado
com o mais grosseiro empirismo, os príncipes, cobiçosos de
eficácia militar, não desdenham o apelo à ciência e a função de
matemático-engenheiro aparece ligada aos arsenais, designada-
mente na Itália.” (18)
Leonardo da Vinci (1452-1519) mudou-se para o Palá -
cio, convite de Ludovico Scorza, o Mouro, depois de convencê-
lo da utilidade de seus atributos como “estrategista militar,
construtor de pontes, catapultas e projetista de morteiros, ‘com
os quais posso lançar pedras de modo que estas pareçam cair
como chuva, e cuja fumaça mergulhará o inimigo em terror,
para seu grande dano e confusão.’” (19)
No banho de sangue e sublime humanismo, de Dante a
Rafael, o Renascimento glorificara a guerra como obra de arte,
assim cultuando o terreno a ser ocupado pelo soldado - o ce-
mitério.

30
5. O espião Galileu

RÍTICO de Aristóteles, não por coincidência nascido na


C região de Maquiavel, Galileu Galilei (1564-1642) de-
monstrou a certeza do cálculo, outra “revanche de Platão” (1):
“Deixou Pisa em 1585 sem qualquer diploma, mas rico de uma
cultura adequada ao ideal de erudição humanista. Nutrira-se
dos diálogos de Platão e meditara no isocronismo das
oscilações do pêndulo.” (2)
Geymonet confirma: “Não tenho dificuldades para admi-
tir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter
platônico da ciência galileana.” (3)
O russo Alexander Koyré (1882-1964) já levantara: “A
grande idéia de Koyré, justamente, é que Galileu encarnava a
herança do platonismo. Em outras palavras: Galileu acreditava
que, graças à matemática, os físicos conseguiriam apreender a
estrutura íntima da realidade.” (4)
Galileu tornou-se o “pai da física matemática”. (5) Po-
demos dizer, sem querer ofendê-lo, mas completá-lo, que sua
idéia foi a “mãe da pretensão científica”: “É interessante
registrar que tanto A. Koestler (Os sonâmbulos) quanto P.
Feyrabend (Contra o método) propõem um novo ‘processo
Galileu’, no qual a ciência perde um mártir para ganhar um
fabulador e um intrigante inescrupuloso.” (6)
Não éramos mais o “centro do universo”; o sol não gira-
va sobre a Terra. Só seria claro, lógico, correto, justo, o que
fosse matemático ou, pelo menos, matematisável. O homem
poderia ser, quanto muito, inexpressiva peça da engrenagem do
reino solar, portanto perfeitamente calculável, ajustável e,
acima de tudo, utilizável. Importa é o que a inteligência
concebe, mas sem concurso da imaginação, dos sentidos, muito
menos sentimentos. Hawking foca o instante:

31
“O sopro da morte atingiu a teoria aristotélico-ptolomá-
tica em 1609. Neste ano, Galileu começou a observar o céu à
noite, através de um telescópio que acabara de ser inven-
tado.Ao focalizar o planeta Júpiter, Galileu descobriu que se
fazia acompanhar de vários pequenos satélites, ou luas, que
giravam à sua volta. Isto implicava que nada precisava
necessariamente girar em torno da terra, como Aristóteles e
Ptolomeu haviam pensado.” (7)
“Trata-se de uma revolução que, além de derrubar a di-
tadura de Aristóteles, arruína completamente, através da luneta
astronômica, o dogma da incorruptibilidade dos corpos celes-
tes. Fica ainda absolutamente rejeitado o axioma identificando
o real objetivo à percepção sensível: as qualidades são relativas
a nossos sentidos e a matéria é quantitativa.” (8)
Foi uma lástima, à ciência e à civilização: “O método de
Aristóteles era qualitativo. Recusando as idéias pitagóricas so-
bre a importância da matemática, ele não se deu nenhum
conteúdo numérico preciso a suas explicações e se concentrou
unicamente na interpretação conceitual dos fenômenos, em
particular nas causas da mudança, a própria ausência de mu-
dança não lhe parecendo exigir explicação particular.” (9)
Vejamos o tamanho do equívoco na premissa de Galileu
Galilei, pintada como conclusão de pensamento, a subversão
numérica substituta das letras:
“A filosofia está escrita neste grande livro que perma-
nece sempre aberto diante de nossos olhos; mas não podemos
entendê-la se não aprendermos primeiro a linguagem e os ca-
racteres em que ela foi escrita. Esta linguagem é a matemática e
os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geo-
métricas.” (10)
O engano foi possível graças ao know-how pirateado:
“Galileu foi o primeiro cientista a ter idéia de usar um
telescópio para examinar o céu noturno. Em 1609, depois de

32
*
saber que ‘um certo holandês’ inventara um instrumento que
ampliava as imagens distantes, ele construiu seu próprio teles-
cópio.” (11)
“No entanto, ele montou para si um telescópio melhor
em 1609 e foi o pioneiro de seu uso como instrumento astronô-
**
mico.” (12)
O aparelho acabava com a intimidade da lua e com qual-
quer sonho romântico. Isso interessava aos famigerados Mé-
dici. Em 1610, Galileu foi recebido na maquiavélica corte,
permanecendo intramuro o grande segredo.
Em 1632 Galileu acabou encontrando uma editora para
Diálogo sobre dois maiores sistemas do mundo. Em 1638,
Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove
***
scienze attenenti alla meccanica inauguram, oficialmente, a
era mecanicista.
Ao invés da fita cortada, tivemos cabeças; e sobreviven-
tes, atados pelos pés, mãos e cérebros: “Mas os telescópios
aperfeiçoaram-se, e o conhecimento criou a ignorância.” (13)
Copérnico, Galileu, Kepler, Bacon, Descartes e Newton
alteraram, ou melhor, adulteraram os destinos da humanidade:
“O episódio da lógica quântica vem mostrar que a boa física
depende da lógica e não o contrário. E sugere que a espécie de
lógica que se escolhe para elaborá-la pode ter motivação
filosófica.” (14)

*
Hans Lippershey
**
Galileu escreve, em seu livro de 1610, A mensagem das estrelas
(MAST/Salamandra, trad. C. Ziller, 1987): “Há cerca de dez meses chegou a nossos
ouvidos que um certo belga havia produzido um ‘óculo´com o qual os objetos visíveis
ainda que muito longe do olho do observador se discerniam claramente como se
estivessem próximos.” (Nota de Hélio da Motta Filho, revisor técnico de Brennan, R.,
p. 20.)
***
Galilei, Galileu, Discursos e demonstrações matemáticas em torno de duas novas
ciências, publicado em Leida, 1638.

33
No caso retificado, a motivação se resumia na alterna-
tiva: ou o desejo de acomodar-se no palácio, ou o ímpeto de
ambicionar sua propriedade.

6. Bacon à moda chefe

ACON veio à boca; não o saboroso bacon, mas Sir


B Francis Bacon, professor de Direito, Cavaleiro de Jaime
I, Procurador Geral do Reino, Lord Chanceler e Barão de
Verulam, integrante da Câmara dos Comuns de 1584 e autor de
*
Novum Organum : aforismos sobre a interpretação da natu-
reza e do reino do homem (1620) e Nova Atlântida: o mundo
da ciência.
Denunciado por crime e corrupção, Lord Chanceler
ainda assim conseguiu influenciar, mercê de sua inegável ca-
pacidade intelectual, conhecimentos de estratégia e status pes-
soal, não só os governos britânicos da época, o que seria
desprezível, mas o curso da longa viagem internacional ini-
ciada pelo trem racionalista:
“Na dedicatória de seu livro O progresso da sabedoria
(1605) a Jaime I, sir Francis Bacon declara que ‘de todas as
pessoas ainda vivas que conheci, sua Majestade é o melhor
exemplo de um homem que representa a opinião de Platão de
que todo o conhecimento é apenas memória. Embora Platão te-
nha expressado essa definição como alegoria à sua crença na
imortalidade da alma e Bacon, como parte de um astuto plano
para obter certos favores do rei (que por sinal, funcionou muito
bem), podemos nos referir a elas como uma alegoria à enorme

*
Alusão contrária ao “velho” Organum , de Aristóteles.

34
importância que o pensamento grego exerceu e exerce no de-
senvolvimento da cultura ocidental.’” (1)
Os objetivos da ciência em voga, da escolástica, se resu-
miam na sabedoria, na compreensão sem provas e na harmonia.
Os estudos eram voltados para “maior glória de Deus”, para
apreciar a “ordem da natureza”, ou fluir na corrente do “tao”,
como ensinavam os chineses. (2) Agora, até Bacon endossava a
hipótese do Deus “brincalhão”: “A glória de Deus consiste em
ocultar a coisa, a glória do rei em descobri-la.” (3)
O bajulamento real, como acontecera com Maquiavel,
também lhe foi rendoso e convincente, até pela possibilidade da
transferência de poder, da ordem natural apreciada à manipu-
lação acionada: “A investigação das causas finais é estéril e,
como uma virgem consagrada a Deus, não engendra nada.” (4)
Ao que destaca Goytisol: “Assim, foi abandonada a filo-
sofia natural como um traste inútil e o vazio, produzido pelo
seu abandono, pretendeu o homem enchê-lo com a ciência.” (5)
E que “ciência” esplendorosa:
“Bacon, por exemplo, falou da natureza como de uma
fêmea, sendo “obrigada a servir”, posta em “sujeição” e escra-
vizada pelo filósofo natural. De nada vale tentar agarrá-la se
não se exercer controle sobre ela, ele escreveu; a Natureza deve
ser capturada e seus segredos penetrados, como seus aposentos
íntimos.” (6)
Falava a criatura, perdoe-me, de estupro à natureza:
“A partir de Bacon, o objetivo da ciência passou a ser
aquele conhecimento que pode ser usado para dominar a na-
tureza. A natureza, na opinião dele, tinha que ser “acossada em
seus descaminhos”, “obrigada a servir”, “escravizada”. Devia
ser “reduzida à obediência” e o objetivo do cientista era
“extrair da natureza, sob tortura, todos os seus segredos...” (7)
A ciência baconiana prostrava-se à mercê da astúcia e da
covardia, ao sabor do pupilo Thomas Hobbes, o criador do Le-
viathan.

35
7. A tolice de Descartes

perfídia dialética vara os séculos incólume. Poderia ser


A extinta, bastando impedir novas aventuras megalo-
maníacas. Há, porém, o pormenor: na busca analógica, a dia -
lética atinge primeiro as ciências exatas. Ao sabor de Bacon,
ela importa o número, a matemática, para retornar armada ao
templo das humanas, subjugando-as inapelavelmente. Com o
terreno assim plenado e a mesa posta, de Vienne veio ao ban-
quete o desavisado René Descartes (1596-1650), na época com
27 anos, “fundador da moderna filosofia”. (1)
Só ela (e ele) “poderia desenvolver-se para extrair
verdades seja de que assunto for.” Para fundar tão incisivos pi-
lares, o francês mergulhou no universo da precisão requerida.
Com o decifrar, com o cálculo, por ironia, Descartes se per-
suadiu; e jogou a humanidade a subir, degrau por degrau, à co-
bertura da inútil torre, a nova babel que ainda sobe, o que
chamo a Rebabel, razão do Clero em refutá-la: “Ao saber do
processo contra Galileu em 1633, Descartes sustou a publi-
cação de um importante tratado de física no qual adotava a
teoria de Copérnico.” (2)
Era melhor tê-la vetada para sempre: “Durante seu
desenvolvimento pelo pensamento grego, a filosofia da nature-
za enveredou por um caminho equivocado. Esse pressuposto
errôneo é vago e fluído no Timeu, de Platão.” (3)
Observa Koyré: “Ocorre que para Aristóteles a geo-
metria era apenas uma ciência abstrata. Por isso, a geometria
nunca poderia explicar o real. As suas leis não dominam o
mundo físico. O estudo da geometria não precede o da física.
Uma ciência do tipo aristotélico não se apoia numa metafísica.
Conduz a ela, em vez de partir dela. Uma ciência tipo carte-
siana, que postula o valor real do matematismo, que constrói
uma física geométrica, não pode dispensar uma metafísica. E

36
tem mesmo que começar por ela. Descartes sabia -o. E Platão,
que fora o primeiro a esboçar uma ciência desse tipo, sabia -o i-
gualmente.” (4)
De Platão a Descartes foi apenas um lapso. Russell co-
menta: “O que ocupava a mente dos filósofos matemáticos de
modo mais especial era a unificação da aritmética e da geo-
metria, problema finalmente resolvido com grande brilho por
Descartes, dois mil anos depois.” (5)
Timeu desconcertou Descartes a ponto de levá-lo a uma
vida peregrina. Alistado em exércitos estrangeiros, entremeios
formulava suas anotações. A França não lhe convinha. Holanda
e Baviera, Bretanha e finalmente Suécia, países coinciden-
temente estranhos à comunidade latina, até receberam seus
esforços, mas não lhe renderam homenagens. Eram poucos os
que sabiam ler; raros poliglotas. Em Estocolmo, desgostoso
com a negligência geral, Descartes acabou falecendo. No post
mortem tornou-se mundialmente conhecido; mais ainda, pra-
ticado - afinal, consumira o tempo centrado em si mesmo.
Infelizmente a morbidez confessa não elidiu seu sucesso. Mui-
tas linhas descrevem sua própria história. Examinemos o no-
tável exemplo de pretensão na péssima redação:
“Penso que tive muita sorte em me ter encontrado desde
a juventude em certos caminhos que me conduziram a consi-
*
derações e a máximas com as quais formei um método pelo
qual me parece que tenho possibilidades de aumentar gradual-
mente o meu conhecimento e levá-lo ao mais alto ponto a que a
mediocridade do meu espírito e a curta duração de minha vida
poderão permitir-me chegar; já tirei dele tais frutos que,
embora no juízo que faço de mim próprio trate sempre de me

*
“O termo ‘método’, que significa literalmente ‘seguindo um caminho’ (do grego
méta, junto, em companhia, e hódos, caminho), se refere à especificação dos passos que
devem ser tomados, numa certa ordem, a fim de se alcançar um determinado fim.”
(Paul Edwards, The Encyclopedia of Philosophy, v. 7, p. 339; cit. Alves, R., p. 133.

37
inclinar para o lado da desconfiança mais que para o da pre-
sunção, e que, olhando com olhos de filosófo as diversas ações
e empresas de todos os homens, não haja quase nenhuma que
não me pareça vã e inútil, não deixo de receber uma extrema
satisfação dos progressos que penso já ter feito na procura da
verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que, se en-
tre as ocupações dos homens puramente homens houver algu-
ma que seja solidamente boa e importante, ouso crer que é a
que eu escolhi. Espero que ele (este escrito) venha a ser útil a
alguns, sem ser nocivo para ninguém, e que todos apreciarão
minha franqueza.” (6)
Que modéstia comovente, encantadora! O comentário de
Koyré o aniquila:
“Que um sábio nos conte a sua biografia, aí é que é
surpreendente. Imaginamos Einstein ou Broglie a contarem-nos
a vida, mesmo espiritual, antes de exporem a Teoria da Rela -
tividade ou a Mecânica Ondulatória? Ora, Descartes fá-lo
dizendo que teve a sorte de descobrir um “método” que lhe
permitira fazer grandes progressos no estudo das ciências e que
expõe a fim de que os leitores o possam aproveitar.” (7)
No que pode consistir esse método? Responde-nos Gil-
les-Gaston Granger:
“Convém efectivamente distinguir dois pólos de todo
irredutíveis da idéia de método. Um corresponde às noções de
‘receita’, ‘procedimento’, ‘algoritmo’, que descrevem detalha-
damente a concatenação do que deve ser feito. O outro corres-
ponde ao conceito de estratégia, que não fornece necessa-
riamente uma indicação particularizada dos actos a cumprir,
mas somente do espírito dentro do qual a decisão deve ser to-
mada e do esquema global no qual as acções devem decorrer o
aspecto principal parece ser o método como estratégia.” (8)
Descartes fez história a partir da primeira crise, ao sair
da escola por excesso de dúvidas e decepções no estudo das
letras. Fora buscar conhecimentos claros e certos, advindos de

38
um saber, mas lhe apresentaram somente discussões. Presumia
o iluminado ser possível passar pela vida sem portar dúvidas.
Como traçar uma estratégia com tantas opções sugeridas? Co-
mo saber qual delas seria a verdade?
“Tinham-lhe, em suma, prometido uma ciência e uma
sabedoria (sagesse). E não lhe tinham dado nem uma nem
outra.” (9)
Deram-lhe, pelo menos, a desculpa para vadiar. Folgado,
saiu ao turismo, a curtir bisbilhotices, futilidades e tolices, lo-
gradas com raro sentimento de oportunismo, tudo confesso em
sofrível estilo literário, inexorável conseqüência da precoce
autoformatura filosófica:
“Assim que a idade me permitiu sair da sujeição aos
meus professores, deixei inteiramente o estudo das letras; e re-
solvendo-me a não procurar outra ciência senão aquela que
poderia encontrar-se a mim mesmo ou então no grande livro do
mundo empreguei o resto de minha juventude a viajar, a ver
cortes e exércitos, contatar com pessoas de diversos humores e
condições, a recolher diversas experiências, a experimentar-me
a mim mesmo nos encontros que a fortuna me propunha, e por
todo o lado a fazer reflexões sobre as coisas que se me apresen-
tavam de modo a poder tirar delas qualquer proveito” (10)
*
A mathésis universalis constituia a antena da sapiência.
O eclipse das ciências humanas começou na singela premissa:
“O prestígio das matemáticas vem-lhes do facto de a
afirmação excluir nelas a própria possibilidade de controvér-
sias: a partir de agora, serão as matemáticas que irão fornecer a
unidade na medida de todas as ciências.” (11)

*
Números não contém nacionalidade, só racionalidade. “O radical da palavra grega
‘mathemática’ é mathein , que quer dizer captar, aprender, apanhar. A captação é
mathéma (ou mathésis) de que deriva a nossa palavra matemática, designando não uma
construção mental, mas uma captação de uma realidade já existente.” Rohden, H.,
Einstein, o enigma do universo, p. 136.

39
Descartes imputava a Deus o talento da engenharia, e ela
só poderia ser expressa pelo cálculo, tão certeiro quanto divino,
ou perfeito:
“O nosso entendimento vê as verdades matemáticas co-
mo absolutamente necessárias porque se trata de leis, ou decre-
tos, que Deus quis necessários, mas que quis livremente: a sua
eternidade e imutabilidade procedem da vontade eterna e imu-
tável de Deus, mas sem se imporem a ela, sem sequer ema-
narem dela como propriedades conjuntas à sua essência ou co-
mo os raios do Sol.” (12)
A marota fez-se totalmente prejudicial: “Nenhuma disci-
plina poderá outorgar para si própria um lugar de onde deduzir
um saber absoluto e final. Quando as ciências, a prestigiosa
matemática ocupou este lugar, revelou-se então mais mutila -
dora do que a rainha!” (13)
Lemkow assinala o aspecto mais desumano que sua
investigação constatou: “Descartes sustentava que não apenas
os vegetais e os animais, mas também o próprio corpo humano
eram máquinas.” (14)
*
Investido nas Regras para Direção do Espírito , lá se foi
o trem: “Toda a filosofia é como uma árvore cujas raízes são a
metafísica, o tronco a física, e os galhos que saem desses tron-
cos são todas as outras ciências, que se reduzem a três prin-
cipais – a medicina, a mecânica e a moral.” (15)
Teve completo êxito, especialmente na medicina: “Os
historiadores da biologia, por seu turno, seguem nos trabalhos
dos anatomistas e dos médicos cartesianos a difusão e a dife-
renciação dos modelos mecânicos reunidos no dogma do
animal-máquina e na superposição de que ‘o corpo não é mais
do que uma estátua ou máquina de terra, que Deus forma de
propósito, para tornar o mais possível parecida conosco’; à

*
Regulae ad directionem ingenii, obra incompleta escrita provavelmente antes de
1628, impressa apenas em 1701, podendo ser traduzida como Discurso sobre o método
de conduzir corretamente a razão e buscar a verdade nas ciências.

40
medida que se ia rolando em nervos diferentes o que Descartes
havia associado em cada nervo, a saber, os filetes ou cordas
encarregados de transmitir a excitação dos órgãos dos sentidos
ao cérebro, e os tubos repletos de espíritos animais que asse-
guram a motricidade passando do cérebro aos músculos, no-
tava-se de modo mais preciso o papel desempenhado no meio
do cérebro pelo centro de decisão que Descartes identificara à
glândula pineal.” (16)
“Destruir o acaso!” afirma Julien Offroy de la Mettrie
(1709-1751). (17)
Autômatos, somos suscetíveis de programação e mano-
bra:
“A racionalidade científica transforma-se em ideologia
logo que se impõe como a única forma de racionalidade: trata-
se então duma miragem mantida a serviço de opções políticas
que essa miragem serve simultaneamente para justificar e
dissimular. O dogma da racionalidade científica é uma mis-
tificação.” (18)
“A racionalidade da forma capitalística industrial mo-
derna só é possível, segundo Weber, através da ciência moder-
na (ciências matemáticas), a qual permite o advento da contabi-
lidade e da técnica. Mas, entre os fatores de importância incon-
testável que caracterizam o capitalismo industrial moderno,
encontram-se as estruturas racionais do Direito e da admi-
nistração. ‘Isto porque o moderno capitalismo racional baseia -
se, não só nos termos técnicos de produção, como num deter-
minado sistema legal - Direito calculável - e numa adminis-
tração orientada por regras formais’, ou seja, numa adminis-
tração burocratizada. Esta administração burocrática não pode
prescindir do ordenamento jurídico cujo conteúdo normativo
esteja fundado na previsibilidade. A previsibilidade, ou seja, a
possibilidade do cálculo prévio (calculabilidade), para Weber, é
crucial para o desenvolvimento do capitalismo moderno.” (19)
Pobre das ciências humanas:

41
“No entanto, a complexidade dos fenômenos reais estu-
dados nas ciências da vida ultrapassavam tudo o que podia ser
encontrado num laboratório de um físico. Os modelos mate-
máticos usados pelos biólogos tinham tendência para serem
caricaturas da realidade, tal como os usados pelos economistas,
psicólogos e planeadores urbanísticos, quando tentavam trazer
rigor aos seus estudos sobre sistemas que mudam com o tem-
po.” (20)
Pobre da natureza e da civilização: “Na medida em que o
poderio da ciência e da técnica é não somente poderio do
homem, mas poderio sobre o homem, a ciência é mediadora da
dominação do homem pelo homem; é talvez por isso que vive-
mos numa agressão e numa agressividade permanentes: por-
que o nosso meio ambie nte é considerado imputável.” (21)
“A filosofia mecânica forneceu uma resposta para o pro-
blema de ordem cósmica e, portanto, da ordem social, mas ao
fazê-lo indicou a necessidade de poder e domínio sobre a
natureza.” (22)
“A natureza toda se transformou em um palco de
impulsos e atrações, de dentes e alavancas, de movimentos de
partes ou de elementos aos quais eram diretamente aplicadas as
fórmulas de movimentos produzidos por bem conhecidas má-
quinas.” (23)
John Fowles, no século XVIII, já conhecia o desatino:
“Não havia simpatia para com a Natureza não regulada
ou primordial. Esta era uma selvageria agressiva, uma recor-
dação horrível e absoluta da Queda, da expulsão do homem do
Jardim do Eden para todo o sempre. Mesmo as ciências natu-
rais mantiveram-se essencialmente hostis à Natureza sel-
vagem, encarando-a apenas como algo a ser domado, clas-
sificado, utilizado, explorado.” (24)
A má tese, ou má temática, tornou o homo faber homo
mathematicus: “Descartes sustentava que não apenas os vege-

42
tais e os animais, mas também o próprio corpo humano eram
máquinas.” (25)
Tampouco neste particular Descartes soube ser original:
em 1543, André Vesálio já havia dado a conhecer De humani
corporis fabrica. (26)
Canguilhem explica origem e finalidade de tais regras:
“A analogia com a mecânica animal tinha por efeito re-
duzir o maravilhoso, negar a espontaneidade do existente e
garantir a ambição de uma dominação racional no curso da vida
humana. A matemática cartesiana ignorava analogias e admitia
apenas as equivalências.” (27)
Não consta que Descartes tenha se preocupado com o si-
gnificado de moral, mas se considerou capaz; no tratado O
homem, de fato foi, ao apresentar uma “medicina” redutora,
não redentora, do ser a um “animal-máquina”, presunção que o
levou a aplicar os remédios exclusivamente mecanicistas. Para
a garganta inflamada, que tal um lubrificante sintético? Pois
para o engenhoso empirista, “o homem” portaria um sistema
hidráulico, irrigado por “tubos” condutores da constante
circulação dos fluidos. Nas artérias e nas veias, nestes “tubos”,
circula o sangue. O trânsito é movido pelo motor denominado
coração. Contração e dilatação produzem a pressão e impul-
sionam o movimento pelas artérias, tudo baseado em ações
mecânicas de trações e inchamentos:
“Assim como podeis ter visto, nas grutas e nas fontes
que estão nos jardins dos nossos reis, é a simples força pela
qual a água se move ao sair da nascente que move diversas
máquinas e até toca alguns instrumentos, ou pronuncia algumas
palavras, consoante a diversa disposição dos tubos que a con-
duzem. E deveras se podem perfeitamente comparar os nervos
da máquina que vos descrevo aos tubos das máquinas destas
fontes; os seus músculos e os seus tendões, aos outros diversos
engenhos e molas que servem para as mover; os seus espíritos

43
animais, a água que as movimenta, de que o coração é a
nascente e as concavidades do cérebro são as aberturas” (28)
No EspaçoTempo cartesiano, a vela era a rainha da noite:
“Na França do século XVII, por exemplo, a crença na exis-
tência de átomos era punida com a morte.” (29)
Hoje podemos distinguir. Somos outros compostos:
“Seu corpo é totalmente caótico em determinados níveis -
átomos rodopiantes de oxigênio penetram na sua corrente
sangüínea a cada respiração, numerosas enzimas e proteínas
enchem cada célula, e até a descarga de neurônios em seu
cérebro é uma incessante tempestade elétrica. No entanto, esse
caos é apenas uma das faces da ordem, pois não há dúvida de
que nossas células são obras-primas de uma função organizada,
que nossa atividade cerebral resulta em pensamentos coe-
rentes.” (30)

8. A dialética cartesiana

A fé ninguém se desfez, muito menos Descartes, e nem


D precisava: Deus não iria enganar suas criaturas. Ele
colocara tudo aos nossos pés; cabia -nos rastrear suas charadas.
Na alegoria francamente platônica intitulada Meditação pri-
meira (1644): “A dúvida ultima-se como uma ficção, a do
‘gênio maligno’, tão astucioso e enganador quanto poderoso,
fantasma forjado pela imaginação para manter a decisão de
duvidar, que passa agora a ser justificada por razões muito
fortes e maduramente consideradas, contra a usura do tempo e
o reaparecer sub-reptício das antigas opiniões. Num certo senti-
do, o ‘gênio maligno’ representa a pior das possibilidades me-
tafísicas, a possibilidade de aquele que nos criou ser todo-
poderoso e ter prazer em nos enganar: espécie de caricatura

44
monstruosa, e no entanto fiel, do verdadeiro Deus cartesiano
que se situa além das necessidades racionais.” (1)
Descartes tornou-se um dos pais do absolutismo, realiza-
ção encontrada pelo discípulo direto Thomas Hobbes e sua
invenção, o puritano Cromwell, quando o francês reconheceu,
de modo hipócrita, a priori, “isto é a partir do facto que o
composto do homem é por natureza corruptível, e que o espí-
rito é incorruptível e imortal, – ‘os limites de toda e qualquer
ciência no que respeita a conduta de vida’ – filosofia justifica
‘a autoridade soberana’” (2)
Na carta a Mersena, Descartes assegura: “Não temais, eu
vos peço, em afirmar e publicar em toda parte que é Deus quem
estabelece essas leis na natureza, assim como um rei estabelece
leis em seu trono.” (3)
O Universo seguiria Sua lei, que “nada mais era do que
geometria”. (4)
A concepção da natureza como uma máquina perfeita a
tornava previsível, porque governada pelas leis matemáticas,
precisas, exatas, pretensão sem par: “Não havia propósito, vida
ou espiritualidade na matéria. A natureza funcionava de acordo
com leis mecânicas, e tudo no mundo material podia ser
explicado em função da organização e do movimento de suas
partes.” (5)
Na picada baconiana, transitam devastadores científicos,
ecológicos, políticos, jurídicos, econômicos e sociais: “A natu-
reza só é bela para o cientista depois de classificada e arru-
mada. A façanha está na descoberta desta ‘ordem.’” (6)
O racionalismo mergulhou na ambigüidade intrincada:
“objeto” para o saber e “sujeito” que conhece. Japiassu acres-
centa: “A antiga oposição homem/Deus substituía-se pela opo-
sição homem/mundo. Melhor ainda: pela oposição Sujeito/Ob-
jeto.” (7)
A suposição de alcançar a certeza na obediência a um
método atado em conjunto de regras palpáveis, naturalmente

45
com a melhor das intenções, visando facilitar o acesso ao
pensado verdadeiro, caminho percorrido por progressão con-
tínua, ordenada, por isto pretensamente clara, do simples ao
complicado, técnicas aprendidas na lógica dos antigos geôme-
tras e somada à álgebra, apenas descreve coincidências. Pascal
incitara. Platão sobrevivera. Partindo do pres(mal)suposto,
Descartes descreve período que o condena:
“Não admito como verdadeiro o que não possa ser dedu-
zido, com a clareza de uma demonstração matemática, de no-
ções comuns de cuja verdade não podemos duvidar. Como to-
dos os fenômenos da natureza podem ser explicados deste
modo, penso que não há necessidade de admitir outros princí-
pios da física, nem que sejam desejáveis.” (8)
Albert Einstein e Leopoldo Infeld se atreveram a contra-
riá-lo:
“Quando se estuda Mecânica pela primeira vez tem-se a
impressão de que tudo nesse ramo da ciência seja simples, fun-
damental e resolvido para sempre. Dificilmente se suspeitaria
da existência de uma pista importante que ninguém notou du-
rante trezentos anos. A pista negligenciada está relacionada
com um dos conceitos fundamentais da Mecânica, o de mas-
sa.” (9)
Por paradoxo, não há matemática capaz de projetar a rea-
lidade.
“No começo havia um mundo de pureza matemática que
se estilhaçou, dando origem ao mundo no qual nos encontra-
mos. Será que essa crença é assim tão diferente da crença da
queda no Jardim do Éden? Nós, os descobridores de padrões –
os fabricantes de padrões, ansiamos instintivamente por sime-
trias. Em vez de nos deixarmos engolfar pela confusão, o
caótico, o desregrado, construímos nossos mitos de criação;
sonhamos com um tempo em que prevalecia a ordem.” (10)
Formações astrais não são unitárias, pré-ordenadas, mes-
mo galáticas, e muitas apresentam formas e evoluções exóticas.

46
Recentemente, François Graner, da Escola Superior de Paris, e
Bérengère Dubralle, do Observatório Midi-Pyrenées, Toulouse,
demonstraram:
“Os dois cientistas franceses após estudo astronômico e
matemático da formação dos planetas, concluíram que os
modelos dessa formação possuem duas simetrias, a segunda
das quais é muito importante porque comparece em muitos
eventos da daquela formação.” (11)
A matéria requer dupla natureza incidental, razão das
simetrias. Assim como somos sínteses de pai e mãe, a matéria é
corpuscular e ondulatória, evolutiva por processos descon-
tínuos:
“A natureza não tem um nível simples. Quanto mais
tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que nos
defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas leis de
estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira natureza
da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade, uma forma
que envolve leis e jogos, tempo e eternidade. Em lugar da
clássica descrição do mundo como um autômato, retornamos
ao antigo paradigma grego do mundo como uma obra de arte.”
(12)
O “homem” surgido da obtusa racionalidade apresenta-
se ambíguo e contraditório: “objeto” para o saber e “sujeito”
que conhece. Japiassu acrescenta: “A antiga oposição ho-
mem/Deus substituía-se pela oposição homem/mundo. Melhor
ainda: pela oposição Sujeito/Objeto.” (13)
Damásio define: “Qual foi, então, o erro de Descartes?
Ou, melhor ainda, a que erro de Descartes me refiro com
ingratidão? Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo
por ter convencido os biólogos a adotarem, até hoje, uma
mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais. Mas
talvez isso não fosse muito justo, e comecemos, então, pelo
“penso, logo existo”. (14)

47
O que não pensa não existe? Ou, como ironiza Russell:
“De outro modo, poderíamos dizer igualmente ‘Ando, logo e-
xisto’, pois, se ando, é certo que devo existir.” (15)
Ao elementar equívoco, o próprio Damásio contrapõe:
“No entanto, antes do aparecimento da humanidade os seres já
eram seres.” (16)
Concentrando-se na res cogitan e na res extensa, com as
ciências humanas ocupando-se da primeira e as chamadas ciên-
cias naturais da segunda, os vértices do conhecimento chamado
objetivo se entenderam duplicados. Pensando em simplificar e
ordenar o estudo, a tentativa de elucidar os fenômenos passou
por esta protodecomposição desvirtuante, prejudicando, de pla -
no, a correta apreciação dos respectivos objetos: “O princípio
da simplificação, que animou as ciências naturais, conduziu às
mais admiráveis descobertas, mas são as mesmas descobertas
que, finalmente, hoje arruínam nossa visão simplificadora.”
(17)
“Descartes rompeu algo ao dividir o mundo em res
cogitans e res extensa, quer dizer, o pensamento e a matéria
que, como sintetizou Villey, representam respectivamente ‘o
mundo das lamas, suporte de pensamento e da vontade, do ato
livre’ e o mundo objetivo da física quantitativa, o ‘mundo das
coisas, inerte, passivo, submetido às leis determinantes da
mecânica’. Assim vão surgindo outros dualismos: sujeito e
objeto, homem e natureza, conhecimentos morais e ciências
denominadas objetivas, valor e fato, dever ser e ser, etc. Assim
a natureza fica mutilada: das qualidades (o belo, o justo) que
não se admitem cientificamente por não serem mensuráveis e
sim obscuras e imprecisas das causas finais, que tampouco se
prestam aos cálculos e pressupõem uma ordem teleólogica
numa natureza não cindida dos conjuntos sociais naturais,
reduzidos a uma soma de indivíduos isolados, objeto também
de cômputo e comparação quantitativa.” (18)

48
Decompondo o pensamento e ordenando-o nessa preten-
sa lógica, da “intuição” à “dedução”, Descartes e seus seguido-
res (praticamente a totalidade dos cientistas e pesquisadores,
entre os quais Freud) romperam a homogenia universal: “Des-
cartes deu início ao que veio a ser chamado dualismo carte-
siano – a incomensurabilidade de mente e matéria, corpo e
mente, observador e objeto, que dominou, – e enfeitiçou – o
pensamento filosófico e científico até os nossos tempos.” (19)
Na ânsia da “câmera em close” à visão pormenorizada,
suprimem do foco movimentos periféricos, eventualmente até
responsáveis pelo objeto analisado. O erro de identificação
produz um conhecimento incompleto e obtuso, desorientando o
investigador pela falsidade de base. Em outras palavras,
fomentando apenas a especialização e desprezando o conhe-
cimento mais abrangente, completo, holístico, seu trem epis-
temológico, desenhado à dinâmica tecno-estratégica, não
suporta, todavia, o selo científico, e disso já sabia Adam Smith:
“Um sistema de filosofia natural pode parecer muito plausível,
encontrar uma recepção generalizada no mundo e mesmo assim
não ter fundamento sobre a natureza, nem guardar nenhuma
espécie de semelhança com a verdade. Por quase todo um
século, uma nação muito engenhosa considerou os vértices de
Descartes uma explicação bastante satisfatória para as
revoluções dos corpos celestes. Entretanto, a humanidade se
convenceu com a demonstração de que as supostas causas
desses efeitos maravilhosos não apenas não existiam de fato,
como eram absolutamente impossíveis, e, caso realmente
existissem, não poderiam produzir os efeitos que lhes eram
atribuídos.” (20)
A Teoria da Relatividade, a atividade nuclear e a reali-
dade virtual, aferidas em qualquer monitor, consagram Locke,
Smith, Tocqueville, Jefferson, Poincaré, Einstein, Planck,
Bohr, Bose, Bohm, de Broglie, Schrödinger, Heisenberg, Pop-
per, Whitehead, Hayek, Sen, Prigogine, Naisbitt, Gleick, ao

49
tempo em que atestam a impropriedade metodológica carte-
siana. Por ironia, é a própria ciência que, pela mesma cadeira
matemática endeusada, deparou-se com a paradoxal impossibi-
lidade da verdade absoluta: “Outra noção que chegou ao mun-
do da ciência como um soco no estômago, trazida pela Teoria
do Caos, foi o reconhecimento de que, a partir de uma certa
escala de considerações, é impossível separar as coisas,
resolvê-las individualmente e depois tornar a juntá-las para ob-
ter a solução final. Idem para a proporcionalidade de causa e
efeito. Causas pequenas se amplificam em efeitos catastró-
ficos.” (21)
Agora preocupa-nos a total profilaxia, desde a raiz: “É
esse o erro de Descartes: a separação abissal entre corpo e
mente, entre substância corporal, infinitamente divisível, com
volume, com dimensões e com funcionamento mecânico de um
lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem
dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o racio-
cínio, o juízo moral e o sofrimento adveniente da dor física ou
agitação emocional poderiam existir independentemente do
corpo. Descartes pensava que o calor fazia circular o sangue,
que as finas e minúsculas partículas do sangue se transfor-
mavam em espíritos animais, os quais poderiam mover os
músculos. Porque não censurá-lo por uma dessas noções? A
razão é simples: há muito tempo que sabemos que ele estava
errado nesses aspectos concretos, e as perguntas sobre como e
por que circula o sangue receberam já uma resposta que nos
satisfaz completamente. O mesmo não sucede com as questões
relativas à mente, ao cérebro e ao corpo, em relação às quais o
erro de Descartes continua a prevalecer. Para muitos, as idéias
de Descartes são consideradas evidentes por si mesmas, sem
necessitar de nenhuma reavaliação.” (22)
Com a faca de Platão e Maquiavel, o francês primeiro
fatiava os elementos, para em seguida configurar a sobrepo-
sição hierárquica, parte por parte, tal qual o Universo para ele

50
se mostrava: “Não há nada no conceito de corpo que pertença a
mente, e nada na idéia de mente que pertença ao corpo.” (23)
Dois século após, Hegel, sem a menor originalidade, nu-
ma espécie de vulgata epistemológica, lembrou o mesmo
princípio, pensando se valorizar: “Ser é ser pensado”. (24)
O poeta e ensaísta Octavio Paz relata seu diálogo com
Joseph Brodsky: “As origens do autoritarismo estão em Hegel.
Ali começou o mal.” Ao que retruca Brodsky: “Não, vem
muito antes. O mal começou com Descartes, que dividiu o
homem em dois e que substituiu a alma por eu.” (25)
Hegel foi somente mais um elemento condutor do
deliberado equívoco. O mundo teria se livrado das barbáries,
perda de tempo e energia se a orquestra dialética não tivesse
tocado: “A partir dessa perspectiva a divisão entre mente e
corpo tornou-se verdade absoluta, ao mesmo tempo que cada
face se tornou antagônica à outra, coexistindo dentro do mesmo
ser como as duas faces hostis da mesma moeda. Alguns séculos
depois do sonho febril de Descartes continuamos a nos deparar
justamente com essa divisão, que está na base do seu
pensamento, estampada nos diversos aspectos da vida mo-
derna.” (26)
A Academia conduz à (de)formação científica: “As
disciplinas foram fragmentadas e, ao se fazer isto, impediu-se o
diálogo e a polêmica intercientífica. A física descobre agora a
necessidade de conceber outras operações para melhor perceber
a complexidade da matéria. As ciências contemporâneas pro-
gridem com a contradição: a partícula se manifesta ora como
onda, ora como partícula. A pesquisa de ponta se acha obrigada
a reintroduzir o observador na observação. Estes percursos
casuais e aleatórios nos remetem a Cristóvão Colombo. Não foi
traçando seu destino que ele descobriu a América.” (27)
Apenas um reparo – onda e partícula não são contra-
ditórias, conquanto no primeiro instante assim fossem obser-
vadas. Elas perfazem a intrigante complementariedade: “O

51
mundo é uma rede complexa de inter-relações na qual as
categorias de sujeito e objeto se fundem, embotando as distin-
ções dualistas tradicionais.” (28)
*
Thomas Kuhn anunciou, na “década mágica” :
“As pesquisas atuais que se desenvolvem em setores da
Filosofia, da Psicologia, da Lingüística e mesmo da História da
Arte, convergem todas para a mesma sugestão: o paradigma
tradicional está, de algum modo, equivocado.” (29)
Enquanto descobríamos a América, tapávamos a ciência,
ao lamento do grande Werner Heisenberg, recém há algumas
décadas atrás: “A cisão cartesiana penetrou fundo na mente
humana nos três séculos após Descartes e levará muito tempo
para ser substituída por uma atitude realmente diferente diante
do problema da realidade.” (30)
Posta a coerência aparentemente lógica, a droga físico-
matemática encoraja milhares de pesquisadores à sensação do
trem destinado ao inverso do pretendido:
“O segundo preceito do método cartesiano ‘dividir cada
uma das dificuldades em tantas parcelas que forem possíveis e
requeridas para melhor resolvê-las’, válido até certo ponto na
matemática e nas ciências físico-químicas, mostra-se inu-
tilizável em ciências humanas onde o progresso do conheci-
mento não caminha do simples ao complexo, mas do abstrato
ao concreto por uma oscilação contínua entre o conjunto e
as partes.” (31)
Foram escassos os obstáculos, questionamentos ou
dúvidas suscitadas; por isso tornou-se fácil estender o trilho a
todas estações e relações. Descreve-nos Alquié: “Graças ao

*
Década mágica: anos 60, quando a juventude passou a exigir, nas paredes da
Sorbonne, que a imaginação tomasse o poder, enquanto Trieste reunia a mais
qualificada plêiade de cientistas contemporâneos: “Foram seis conferências ao todo.
P.A.M. Dirac, W. Heisenberg, H.A. Bethe, E. Wigner e O. Klein fizeram as cinco
primeiras, falando sobre suas próprias vidas como físicos; a sexta foi feita por E.
Lifshitz em memória da vida de L. Landau ( falecido naquele ano.)” Cit. Salam, A.;
Heisenberg, W. e Dirac, P., p. 65.

52
cartesianismo - mas não só a ele - a idéia mecanicista do mun-
do torna-se uma idéia adquirida muito para além dos círculos
científicos; ela contribui muito para reformar a visão comum da
natureza.” (32)
No afã de conhecer pormenores, não passou pela cabeça
de Descartes e seus cometas reverem a possibilidade do átomo,
tampouco a do vácuo ou mesmo imaginar uma possibilidade de
condutividade espacial. Relatam-nos Coveney e Highfield: “Os
atomistas também usaram os átomos para explicar fenômenos
sensoriais como o paladar e o olfato. Infelizmente as idéias
deles foram lançadas ao esquecimento pela influência nefasta
de Platão e Aristóteles. Os pais da filosofia ocidental argu-
mentavam que a matéria conseguia se dividir infinitamente e
que não existia nenhuma unidade, por menor que fosse, que
não pudesse ser dividida ainda mais. O atomismo foi derrotado
e permaneceu nas sombras durante 2.500 anos.” (33)
A física nuclear Anna Lemkow contabiliza o alto custo
da preferência ao sopro epilético-platônico: “Podemos julgar u-
ma filosofia por seus frutos. A visão reducionista-mecanicista-
materialista cultivou inúmeras dicotomias, cismas, fragmenta-
ções, alienações: alienação de si (o vácuo espiritual) e, por
conseqüência, dos outros; alienação da natureza (autômatos não
podem sentir muito por outros autômatos - se somos apenas
máquinas, podemos muito bem nos apoderar do máximo pos-
sível, conquistar e explorar a natureza por completo); a
dicotomia entre conhecimento e valores, meios e fins, mente e
matéria, universo de matéria e universo de vida, entre ciências
e humanidades, entre ricos e pobres, industrializados e de Ter-
ceiro Mundo, entre gerações presentes e gerações futuras.”
(34)
Kuhn anunciou a falência do paradigma nos anos ses-
senta; Popper ainda antes, na década de trinta, com Hayek e a
escola austríaca de economia; Einstein, em 1905. Incrível,
porém real, é a teimosia: “Sabe-se de antemão que o mal con-

53
tinua. A ciência com seu método propõe a dicotomia sujeito-
objeto, a curiosidade desinteressada e o desapego do primeiro,
o isolamento e controle do segundo, a provocação de experiên-
cias com vista a fins bem delimitados, a ignorância dos
elementos não-essenciais e o esquecimento do todo. A ciência
contém no seu método os germes que levaram as suas mais fa-
mosas aberrações como atividade social.” (35)
As gêmeas fascista e comunista vieram no séquito.

9. O incomparável Newton

É necessário medir o que é mensu-


rável e tornar mensurável aquilo que
não é.
Galileu Galilei (1)

trem numerado corria a rota Paris/Londres pela ponte


O Hobbes-Descartes. Em Cambridge embarcou o Incompa-
rável Newton* . Graças ao tio, reverendo William Ayscough,
apresentou-se dotado de vistosa bagagem: “É sabido que Isaac
estudou a Bíblia nas línguas clássicas e desenvolveu um
interesse pelas questões teológicas que perdurou por toda sua
vida.” (2)
Malgrada a devoção, chocava sua conduta: “Em 1662,
aos 19 anos, Newton passou por período de fervor religioso,
durante o qual compilou uma lista de 58 pecados que esperava
expiar mediante atos de confissão. O décimo terceiro desses
pecados é revelador: ‘Ameaçar meu pai e minha mãe Smith de
pôr fogo neles e na casa que os cobre’.” (3)

*
Como John Locke o chamava.

54
Relações humanas eram inoportunas: “A biblioteca de
Newton não continha uma só obra de Chaucer, Shakespeare ou
Milton.” (4)
Desde o grego, a tocha olímpica vinha sustentada pela
grei racionalista. A Isaac Newton (1642-1726) coube devotá-la:
“Newton começou sua educação superior mergulhando em
Aristóteles e Platão. Mais tarde Newton encontrou seu próprio
caminho, e um caminho que levou a René Descartes, Sir
Francis Bacon, Galileu Galilei e Johanes Kepler. Os registros
no diário de Newton e suas anotações mostram que ele
conhecia a fundo todas as obras de Descartes e que considerava
essa nova abordagem um meio melhor de explicar a natureza
que a filosofia aristotélica que prevalecia na época.” (5)
Com essas parcas credenciais, Newton se apresentou
para decifrar a linguagem dos altos e herméticos desígneos
divinos, o que intitulou Philosophie naturalis principia
mathematica: “Toda a dificuldade da filosofia – a filosofia
natural, isto é, a ciência física – parece constituir em estudar as
forças da natureza a partir dos fenômenos em movimento,
depois, a partir destas forças em demonstrar os restantes
fenômenos.” (6)
Princípios matemáticos da filosofia natural mostravam
um sistema de definições e proposições irrefutáveis, assim
explicado pela criatura: “Já que os antigos tinham a ciência da
mecânica como sendo de maior importância para a investigação
dos fenômenos naturais, e os modernos, tendo rejeitado formas
substanciais e quantidades ocultas, empenharam-se em sujeitar
tais fenômenos às leis da matemática, empreguei a última
disciplina neste tratado, na medida em que se relacionasse com
a filosofia. Portanto, ofereço este trabalho como os princípios
matemáticos da filosofia apresento este trabalho como os
princípios matemáticos da filosofia, pois todo o encargo da
filosofia parece consistir neste percurso - dos fenômenos dos

55
movimentos para a investigação das forças da natureza, e
destas forças para a demonstração de outros fenômenos.” (7)
A terceira parte afina com a estória contada pelo clero -
na criação, Deus tomara a matéria prima para dividi-la,
organizá-la e colocá-la em movimento: “Para construir esse
sistema com todos seus movimentos, foi necessário uma Causa
que compreendeu e comparou as quantidades de matéria dos
vários corpos diferentes; essa causa não pode ser uma simples
conseqüência cega do acaso, mas sim uma especialista em
mecânica e geometria.” (8)
No dogma cristão, a Deus coubera iniciar o movimento
universal e os matemáticos escorregaram na metafísica. O sis-
tema seria originário do impulso inicial deste Alguém que,
tendo elaborado ponto a ponto uma espécie de um colossal
relógio, apenas necessitasse lhe dar corda. O mundo funcio-
naria, depois do sexto dia da criação, automaticamente. Só o
pensamento exato levaria ao conhecimento dessas leis inteli-
gíveis, à verdade buscada por todos. Este é o exemplo mais
clássico, evoluído desde Bacon – a previsão do tempo discor-
rendo num eterno linear, tique-taque previsível: “A confecção
de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso,
de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas
celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos
animais.” (9)
O Clero se entusiasmou com a viabilidade da idéia pelo
cânone platônico, velada “coisificação”. Religiosos e matemá-
ticos, relojoeiros e teólogos mutuamente se reforçavam. Em
1802 William Paley comparou direto Deus como um grande
relojoeiro. Andando o grande projeto por si só, não teria mais
porque Deus atuar. Era a chance que Ele dava ao homem em
dois ângulos, pelo menos: descobrir, pelo suor de seu rosto, no
trabalho, no estudo, pela matemática, o que Deus queria.
Cumprir. Em troca, a natureza trabalharia para seu deleite e
dominação. Criado e ordenado porque perfaz “Sua imagem e

56
semelhança”, o homem, conforme as escrituras, deve ser
fecundo, multiplicando-se e enchendo a Terra, submetendo-a
(10), batido refrão. O brado ecológico pertence a Marcuse: “A
natureza deixa de colaborar e, controlada, colocada para vista
em jardins, paisagens e praias, é submetida como matéria -
prima para as necessidades da racionalidade tecnológico-
científica. Com a ciência e o capitalismo não só novas formas
de dominação do homem aparecem, mas a própria natureza
passa a ser dominada pelo homem.” (11)
Cientistas e filósofos que embarcaram no trem
mecanicista acabaram omitindo as referências divinas: uma vez
colocado o mundo em funcionamento, já que não mais tinha
Deus por que participar das operações, tampouco deveria ser
comentado. A expressão dos números e das medições obedecia
a verdades encadeadas, e eram Sua expressão, a perfeição.
Tudo era suscetível de explicação, desde que combinasse com a
explicação mecânica. O mote enviava o homem a descobrir a
prova pela matemática; nesta, o Verbo não tinha nada mais a
influenciar ou a mistificar. Ou, por outra, o Verbo se mostrava,
logicamente, pelo número. E número se faz provado e
provável.
Pois foi “apoiado no ombro dos gigantes” (12) - o
pioneiro grego, o italiano Galileu, o verdugo da natureza Fran-
*
cis Bacon e o cortante Descartes - que Newton ampliou espe-
tacularmente o cientificismo em voga, sedimentando-o pela
sintética e formosa lógica despida de abstrações e conjeturas,
**
vãs filosofias. “Hypoteses non fingo” :
“Sobre isto, Newton foi bastante claro: ‘tudo que não é
deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese; e as
hipóteses, sejam as metafísicas ou físicas, digam respeito às

*
“Sir Francis Bacon, o mais famoso desertor do Trinity College, também teve grande
influência sobre Newton.” Bacon, F.; Newton, I.; cits. Brennan, R., p. 35.
**
“Não ‘invento’ hipóteses.”

57
qualidades ocultas ou às mecânicas, não têm lugar na filosofia
experimental’.” (13)
O sentido das enigmáticas revelações alcançadas aos
babilônicos e a Descartes exige exumação, a trituração do
objeto : “Ao desenvolver o cálculo, Newton fez uso de um
princípio que aprendera com Descartes: quando um problema
parecer vasto e complicado demais, decomponha-o em peque-
nos problemas e resolva um por um. É isso que o cálculo faz.
Decompõe um problema de dinâmica em um enorme número
de degraus e em seguida sobe os degraus, cada um deles um
problema passível de solução, um por um. Quanto maior for o
número de degraus em que um problema é decomposto, mais
precisos serão os resultados finais.” (14)
Entender a “filosofia da natureza” através desses pre-
conceitos foi fatal a si e à humanidade. Pressupondo que seria
possível, tomando posse das velocidades de todas as partículas
do Universo em determinada hora, medir as forças em ação e
prever todos os detalhes do futuro, Newton atirou milhões à
escadaria da Rebabel. Cada parte de matéria no universo
atrairia outra com uma força inversamente proporcional ao
quadrado da distância entre elas e diretamente proporcional ao
produto das respectivas massas. Todos os acontecimentos na
face da Terra seriam guiados por estas matemáticas leis
extensivas a tudo que existisse. A magia do arco-íris se desfez
no interior do espectro newtoniano; no lugar da filosofia
natural, a renovada e sedutora metafísica. Alfred North White-
head constituiu uma das primeiras consciências do grave
deslize cometido com a prancha dialética, tão longo quanto
profundo, na onda que engolfa a massa humana: “Por mais que
tenham sido ditas com orgulho, as palavras de Newton
repousam num completo equívoco sobre a capacidade da mente
humana para lidar com a natureza externa.” (15)
A cientista da Nasa, Barbara Ann Brennam, Master em
Física Atmosférica pela Wisconsin University, compreende: “A

58
mecânica newtoniana descreveu com êxito os movimentos dos
planetas, das máquinas mecânicas e dos fluidos em movimento
contínuo. O enorme sucesso do modelo mecanicista levou os
físicos do século XIX a acreditarem que o universo, com efeito,
era um imenso sistema mecânico que funcionava de acordo
com as leis básicas da natureza. Considerava-se a mecânica
newtoniana a teoria definitiva dos fenômenos naturais. Tudo
podia ser descrito objetivamente. Todas as reações físicas
tinham uma causa física, como bolas que se chocam numa
mesa de bilhar.” (16)
A pesquisadora analisa: “essa maneira de ver as coisas
era muito confortadora” (17)
O funcionamento do mundo não se apresenta de modo
tão rudimentar: “A natureza não tem um nível simples. Quanto
mais tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que
nos defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas
leis de estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira
natureza da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade,
uma forma que envolve leis e jogos, tempo e eternidade. Em
lugar da clássica descrição do mundo como um autômato,
retornamos ao antigo paradigma grego do mundo como uma
obra de arte.” (18)
Os fenômenos concebidos submetiam-se às leis obser-
vadas, mas algumas eram arranjadas: “Os historiadores desco-
briram um outro aspecto um tanto desconcertante da
personalidade de Newton. Hoje se tem praticamente certeza de
que em alguns artigos importantes, ele manipulou os números.”
(19)
“Newton vai mudando os dados, em suas várias edições
sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a
teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação
no limite da desonestidade.” (20) À dúvida suscitada, Newton
contrapunha cara-feia: “Qualquer que tenha sido a causa,
Newton se tornou um homem angustiado, com uma persona-

59
lidade neurótica.” (21) Vai ver era mesmo problema de
consciência: “A reação de Hooke a esse artigo foi declarar que
Newton o roubara dele.” (22)
A dimensão físico-teórica newtoniana mostra objetos
sólidos formados por concretos (!?) blocos de átomos estanques
num cenário tridimensional. Onde ausentes formações corpó-
reas entendia -se completo vazio, um ôco da imensa caixa do
relógio universal.
Preciso e enfático, tão insofismável, tão completo,
Newton condicionou os cientistas subseqüentes em compatibi-
lizar conceitos e realizações de acordo com a dinâmica regente.
A conseqüência foi drástica em todos os sentidos. Os outros
ramos científicos tornaram-se meros satélites da teoria físico-
matemática, embora em Oxford permanecesse uma lâmpada de
resistência - John Owen, o Reitor Magnífico de 1690 - que não
cansava de recomendar a seus pupilos: “Tomem cuidado com
os números! De que modo lamentável e miserável temos sido
enganados por eles.” (23)
Tendo em vista que um mais um tem como resultado
dois, verdade inconteste, ninguém percebeu o alcance do
conselho. Cambridge se impôs sobre Oxford; e empurrou a
humanidade a escorregar pelo liso e interminável tobogã:
“Grau utópico de sua exatidão, a perfeição última da física
social radica, sob o aspecto teórico, em constatar rigorosamente
a filiação das gerações, seja quanto ao conjunto da sociedade,
seja quanto a seus mais específicos elementos, desde o
surgimento da Humanidade até sua mais recente data, e sob o
ângulo prático, prever, com não menor rigor e em todos os seus
pormenores essenciais, o estado de coisas que tende a florescer
da marcha espontânea da civilização.” (24)
O ultra-racionalista F. Nietzsche reconheceu que o
catedrático de Oxford é quem poderia estar mais perto da
verdade. Havia algo de errado na linguagem solta dos números:
“Nós queremos, tanto quanto seja possível, introduzir em todas

60
as ciências a sutileza e a severidade das matemáticas, sem que
imaginemos que com isso não chegaremos a conhecer as
coisas, mas somente a determinar nossas relações humanas
com as coisas. A matemática é simplesmente o meio da ciência
geral e última dos homens.” (25)
Mesmo sem querer, Nietzsche foi tragado na correnteza
numeral, mecanicista, logicamente arranjada, hierarquicamente
disposta; e persuadido pela dialética de Darwin. Assim falou
Zaratustra: “Percorredes o caminho que medeia do verme ao
homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo
fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco que todos
os macacos.” (26)
O cientificismo foi forte para subverter a já capitulada
filosofia, frágil por desestruturação teocrática. E, o que é pior -
o rumo das pesquisas nas ciências humanas ateve-se à linha
fatalista, predeterminada porque concebida para consecução
objetiva, dialética arranjada de acordo com o relógio (uma
bomba-relógio), fato que confirmava a necessidade de
mentores e artífices dos trágicos destinos, refrão da história.
Ninguém precisou de muita criatividade: “A história das
descobertas científicas e técnicas revela -nos quanto o espírito
humano carece de idéias originais e de imaginação criadora.”
(27)
Nesta ciência consagrada por Newton é que Hegel, o “rei
da dialética”, encontrou seu mais perfeito álibi: “Na natureza,
nenhuma coisa muda senão pelo encontro das outras.” (28)
O código matemático de interpretação da natureza, de
tão endossado, sentou no trono dogmático, definitivo, hegemô-
nico, indiscutível; porém, era falso. Assim se reportou A. Eins-
tein:
“Evidentemente, nós percebemos com facilidade, até
mesmo pelo vocabulário, que a noção de espaço absoluto,
implicando a de inércia absoluta, embaraça de modo particular
a Newton. Porque percebe que nenhuma experiência poderá

61
corresponder a esta última noção. Da mesma forma o raciocínio
sobre ações à distância o intriga. Mas a prática e o enorme
sucesso da teoria o impedem, a ele e aos físicos dos séculos
XVIII e XIX de entender que o fundamento de seu sistema
repousa em base absolutamente fictícia. O caráter fictício dos
princípios torna-se evidente pela simples razão de que se
podem estabelecer dois princípios radicalmente diferentes, que
no entanto concordam em grande parte com a experiência. De
qualquer modo, toda a tentativa de deduzir logicamente a partir
de experiências elementares os conceitos e as leis fundamentais
da mecânica está votada ao malogro.” (29)
A Física foi redimida, mas a conta não foi perdoada: o
preço foi (e ainda é) alto demais. Milhões de vidas humanas,
para não falar de todo o resto, principalmente a ecologia, foram
(e ainda são) sacrificadas. Precisa mais? Pelo jeito, sim: no
trem da alienação, os passageiros viajam num mundo sólido e
imutável, num conjunto de dialéticas e mecânicas condi-
cionantes do movimento à metafísica arbitrariamente esti-
pulada pelos aprendizes de feiticeiros e adivinhos. O vagão das
ciências humanas permanece transportando milhões de incautos
passageiros, inebriados no monótono rumo à propalada exati-
dão, pré-requisito ao diploma científico que tanto almejam.
Ficarão a pé.

62
II. A DOILÉTICA DE HEGEL

1. Hegel, o absoluto

história européia, que tinha no Príncipe italiano sua


A revelação, no inglês Leviathan seu mito, e na perversa
vontade francesa de Rousseau a solução ideal, requeria pujante
organizador alemão. Mister, pois, este “Maquiavel” de olhos
azuis, modernizado, o “patriota unificador” de sobrenome
Hegel. Por completo, Georg Wilhelm Friederich Hegel (1770-
1831).
Maquiavel ensinara: “Na opinião pública, tudo é a um
tempo falso e verdadeiro, mas cabe ao Grande Homem
descobrir nela a verdade. E quem não compreende como
desprezar a opinião pública, esse nunca realizará qualquer coisa
grande.” (1)
Notemos como Hegel levou a sério o embuste: “A isto
pode-se chamar astúcia da razão - o fato de por as paixões a
trabalhar por si mesmas, embora aquilo que lhe desenvolva a
existência através dessa compulsão pague o preço e sofra a
perda... O particular é, na maior parte, demasiadamente

63
insignificante quando comparado com o geral: os indivíduos
são sacrificados e abandonados.” (2)
Não é difícil divisar a escada estendida: “O nacionalismo
era o único sentimento que encerrava capacidade de atração
geral.” (3)
A atração visava a subtração: “O Estado exige impostos
e esta exigência de que cada um dê alguma coisa de sua
propriedade, com o Estado tomando deste modo aos cidadãos,
abarcando toda a existência: o direito à vida é sagrado, mas a
ele se deve renunciar.” (4)
“Os impostos não são, em absoluto lesões do direito de
propriedade, a ponto de se considerar que reclamá-los seja algo
ilícito. O direito do Estado, é algo mais alto do que o direito do
indivíduo a sua propriedade e a sua própria pessoa.” (5)
Antes a Pátria do que a própria vida. Kamik ases e talibãs
agradecem a compreensão, mas pode alguém chamar filosofia
o convite à morte?
A Revolução Francesa, mais do que devaneios, mostrara
a potencialidade do povo reunido, massa que amassa a um
simples comando. Além do mais, de nada adiantava ao cidadão
possuir direitos em relação ao Estado, como acontecia na
Inglaterra, mas não ser respeitado por periódicos invasores,
como acontecia na Prússia:
“Hegel influiu nos negócios na Alemanha ao fim das
guerras Napoleônicas, diante a profunda humilhação nacional
perante a França e as aspirações de unificação política e criação
de um estado nacional que correspondesse a unidade e
grandeza da cultura germânica.” (6)
A humilhação e o desejo de vingança sobrevieram à dura
experiência pessoal: “Em 1806, o exército napoleônico invade
a cidade, e Hegel, cuja casa é saqueada, foge, salvando alguns
pertences, entre os quais Fenomenologia do Espírito, publidada
no ano seguinte.” (7)

64
O fenomenal espírito quis e conseguiu influir em tudo:
“Ao correr do desenvolvimento de seu pensamento, iria Hegel
colocar-se do lado da realidade da força, da violência, da
prepotência; iria salientar o desabrochar das sociedades e do
Estado como grupo hegemônico, em concorrência vital com
outros Estados. O que ele de certo modo antecipou, e se
converteu uns vinte anos depois de sua morte na idéia central
da biologia evolucionista de Darwin, com conseqüências
filosóficas que repercutiram de vários modos sobre a Concep-
ção de Mundo moderna” (8)
Seu discurso era enfático, convincente: “Uma multidão
que, devido a dissolução da força militar e a falta de uma
organização financeira, não soube formar um poder estatal, não
está em condições de defender sua independência contra
inimigos externos.” (9)
Quando publicou sua versão Enciclopédia, Hegel era
professor em Heidelberg, aprazível recanto entre Mu-
nich/Frankfurt. A Filosofia da História levou-lhe a Berlim, on-
de “recebeu a comenda” de “ditador” da filosofia política e, por
extensão, jurídica. Seu lema desfraldava a mais sublime
perfeição: “Somente a Idéia Absoluta é ser, perene vida,
verdade que se sabe a si mesma, e é toda a verdade.” (10)
Rohmann comenta: “Hegel percebia uma relação compli-
cada entre a família, a sociedade civil e o Estado, e concebia o
Estado, também, como manifestação do Absoluto, ao qual o
indivíduo é, paradoxalmente, obrigado a se sujeitar esponta-
neamente.” (12)
Os alemães se enrolariam cada vez mais: “O de-
senvolvimento do espírito na história é missão precípua dos
alemães, os únicos que compreenderam o alcance universal da
liberdade, mas não se pode deduzir que onde exista lei exista
liberdade, como Hegel de fato parece pensar. Se assim fosse,
“liberdade” seria sinônimo de “obediência à lei”, o que é um
pouco diferente da opinião de um leigo.” (11)

65
A personalidade e a obra foram ironizadas por Ludwig
von Mises: “Houve Hegel. Certamente foi um pensador
profundo; suas obras são um rico acervo de idéias estimulantes.
Não obstante, escreveu sempre dominado pela ilusão de que
Geist, o Absoluto, revelava-se por seu intermédio. Não havia
nada no universo que não estivesse ao alcance da sabedoria de
Hegel. Pena que sua linguagem fosse tão ambígua, a ponto de
ensejar múltiplas interpretações” (13) A estratégia do lobo,
altamente interessante aos profissionais da política, não
escapou da aguda crítica do contemporâneo Artur Scho-
penhauer (1788-1860): “pelos poderes vigentes como o Grande
Filósofo oficializado, era um charlatão de cérebro estreito,
insípido, nauseante, ignorante, que alcançou o pináculo da
audácia por garatujar e fortificar as mais malucas e
mistificantes tolices. Essas tolices foram barulhentamente
proclamadas como uma sabedoria imortal, por seguidores
mercenários, e prontamente aceitas como tal por todos os tolos,
que assim se juntaram num coro perfeito de admiração, como
nunca antes se ouvira. O extenso campo de influência espiritual
que assim foi fornecido a Hegel por aqueles que se achavam no
poder capacitou-o a realizar a corrupção intelectual de toda
uma geração.” (14)
Até Rousseau, as críticas em cima dos fundamentamen-
*
tos do jusnaturalismo eram inóquas tentativas dissimuladas de
suprimi-lo. O capricho de Napoleão iria torná-las hegemônicas:

*
“Doutrina segundo a qual existem leis não postas pela vontade humana - que por isso
mesmo precedem a formação de todo o grupo social e são reconhecíveis através de
pesquisa racional - das quais derivam, como em toda e qualquer lei moral ou jurídica,
direitos e deveres que são, pelo próprio fato de serem derivados de uma lei natural,
direitos e deveres naturais." Bobbio, Norberto, Liberalismo e Democracia, p. 12.
Locke enalteceu o direito natural como a principal fonte, para não dizer a única
científica, confiável e justa da própria Ciência Jurídica. Foi claro: “Se eliminas a lei da
natureza, eliminas, ao mesmo tempo, entre os homens, toda a cidadania, todo o poder, a
ordem e a sociedade”. Paulo Nader acrescenta: “O Direito Natural não possui a função
de ocultar interesses materiais ou propósitos políticos. Não é ideológico. As diretrizes
que traça para o Direito Positivo não decorrem de convenções humanas, nem são seus

66
“É representado pelas pressões exercidas pelo regime
napoleônico sobre os estabelecimentos reorganizados de ensino
superior do direito (as velhas Faculdades de Direito da Univer-
sidade haviam sido substituídas pelas Escolas centrais por obra
da República, transformadas posteriormente sob o Império em
Escolas de Direito e colocadas sob o controle direto das auto-
ridades políticas) a fim de que fosse ensinado somente o direito
positivo e se deixasse de lado as teorias gerais do direito e as
concepções jusnaturalistas (todas coisas inúteis, ou perigosas,
aos olhos do governo napoleônico que, não esqueçamos, era
nitidamente autoritário.)” (15)
A filosofia de direito de Hegel sedimentava a herança
platônico-francesa ao inseri-la na “totalidade ética”:
“Considerado isoladamente, o indivíduo era meramente
nocivo, um animal governado por instintos bruscos, como dis-
sera Rousseau, sem nenhuma norma de ação mais alta que
impulsos, apetites e inclinações, e sem regra de pensamento
mais importante que fantasias subjetivas. Os direitos e liber-
dades do indivíduo seriam aqueles que correspondessem aos
deveres impostos pela situação que desfrutava na sociedade.
Hegel fundiu a idéia da vontade geral incoerentemente
formulada por Rousseau.” (16) O extraordinário filósofo ale -
mão apelou à “vontade geral”, não a florescer no tronco da
República, como propugnara o sofista francês, mas enfeixada
na própria Monarquia, afinando destarte no diapasão de
Hobbes e Jehan Bodin. Vejamos o (pré)conceito já emanado
por Thomas Hobbes sobre o ser humano, algo que passou de

princípios estabelecidos à luz de acontecimentos históricos. Abandonar a idéia do


Direito Natural é manifestação mais grave ainda, porque tal renúncia corresponde à tese
de que não há, para o Estado, qualquer limite na sua tarefa de legislar, sendo-lhe
franqueadas todas as formas de totalitarismo.” Leo Strauss especulou pelo óbvio: “ ...
o abandono da crença no direito natural, de um direito superior ao positivo, com valor
objetivo e validade metahistórica, teria sido uma das causas do surgimento dos Estados
totalitários, cujo principio ético consiste na máxima bárbara Gesetz ist Gesetz: a lei deve
ser obedecida em si mesma, pelo fato de que é uma lei, independentemente de qualquer
consideração sobre o seu valor ético.”

67
geração a geração e de país em país: “Fora do Estado, acha-
se o domínio das paixões, a guerra, o medo, a pobreza, a
incúria, o isolamento, a barbárie, a ignorância, a bestialidade.
No Estado, acha-se o domínio da razão, a paz, a segurança, a
riqueza, a decência, a sociabilidade, o refinamento, a ciência, a
benevolência.” (17)
Thomas Hobbes sentenciara: “A autoridade, não a sabe-
doria, cria a lei.” (18) Hegel somou: “A autoridade faz a lei por
que é a sabedoria.” (19)
A “sabedoria” hegeliana se presta a vender gato por
lebre, sem entregá-lo:
“Mas desde o momento em que o Estado – conforme
HEGEL – assume a realidade do direito como desenvolvimen-
to de uma pura idéia, pretensamente moral, em pleno
voluntarismo jurídico, a tarefa de legislar tende a converter-se
num facere. Trata-se de um fazer mediante o qual sua vontade
trata de levar à prática a construção de uma sociedade nova, por
um método que combina o idealismo, que lhe ministra o
modelo, e o empirismo, com o qual trata de construí-lo. Assim
ficam abertas as portas a todo o intento de realizar cientifica-
mente qualquer tipo de utopia.” (20)
A tanto, o alemão considerava imprescindível a
monarquia nacional e constitucional, até por supor que toda a
riqueza de Espanha, França e Grã-Bretanha provinha da união
em torno do monarca. Misturando esses aleatórios dados com o
conceito de nação fincado na linguagem, como gostava o
ridículo Fichte, Hegel conseguiu liquidar com o tênue
regionalismo ainda sobrevivente. Desvirtuaram-se tradicionais
caminhos e vocações individuais, em nome do todo. O mais
alto valor deveria pertencer ao Estado, que simplesmente
responderia pelo diktak, molde estéril da personalidade
platônica, a Nação-motor da História, o polvo que a tudo
alcança, vetor estrelado, preferencialmente, por algum grande
astro capaz de magistral interpretação. Assim falava Hegel:

68
“Tudo o que o homem é, ele deve ao Estado; só nele o homem
tem sua essência” (21)
Assim cumpriram Bismarck, Mussolini, Hitler, Lênin,
Stálin, e outros clones.
Hegel pintou um estado de natureza sem inocência, (que
infância tiveram esses filósofos) alertando à tradicional
violência de civilizações sem Estado. Ele conhecia e gostava da
obra de Hobbes, sem dúvida. A velha receita determinava
detonar de imediato a base do pensamento Iluminista; a tanto,
Hegel formula o ensaio juvenil, de idade e ingenuidade, intitu-
lado Diversas maneiras de tratar cientificamente o Direito
Natural, de 1802, anúncio do sofisma posteriormente
agigantado. Russell, numa trivial definição, poderia satisfazê-lo
com apenas uma resposta. Só existe uma maneira, e não
diversas, “de tratar cientificamente o Direito Natural”:
“Neste caso, entende-se por direito natural aquilo a que um
homem tem direito, precisamente devido à sua natureza
humana.” (22)
Bobbio demonstra que Hegel conseguiu ser “mais rous-
soniano que Rousseau” (23) Este montara um contrato par-
cialmente inadequado. Mister melhor expressá-lo: “Para que tal
aconteça, explica Hegel, é necessário que haja, por parte do
Estado, autoridade absoluta e, da parte do povo, obediência
incondicional. Os cidadãos do Estado de Hegel são súditos,
servos, submissos, no exato sentido da palavra.” (24)
Neste caso, qualquer dialética é condenável, que dirá
diversidade.
John Dewey recorda os motivos da totalitarismo: “Onde
quer que impere a autoridade, o pensamento é tido como
duvidoso e nocivo.” (25)
Montesquieu alertara: “A extrema obediência pressupõe
ignorância naquele que obedece; faz suspeitar também
ignorância naquele que comanda; neste caso este não terá de

69
deliberar, de duvidar e nem de raciocinar; não deverá senão
querer.” (26)
Quem, todavia, poderia conhecer ou se interessar pelos
artífices liberais, a maioria sepultada ainda antes da famigerada
Revolução? O poder soberano, a partir de então dito também
do povo, continua exercido por seu jockey. O povo é a
montaria. O puro alemão seria o subserviente de Bismarck e
Hitler, na mais inocente ignorância: “As leis sociais visavam
mobilizar o povo de modo orgânico, homogêneo, totalitário,
fazendo com que todos caminhassem, mansa mas decidi-
damente, ao sabor da ambição imperial.”
Toynbee analisa a perspectiva da Vontade Geral, fonte
primaz de Hegel: “Segundo esta concepção, o ser humano
individual não é senão uma parte da sociedade de que ele é
membro. O indivíduo existe para a sociedade e não a sociedade
para o indivíduo. Por conseguinte, o que é significativo e
importante, na vida humana, não é o desenvolvimento
espiritual das almas, mas o desenvolvimento social das
comunidades. Na minha opinião, esta tese não é verdadeira;
sempre que tem sido considerada como tal e colocada em
prática, tem produzido enormidades morais. A asserção de que
o indivíduo é uma simples parte do todo social pode ser
verdadeira quando se trata de insetos sociais - abelhas,
formigas e térmites - mas é falsa quando se refere a quaisquer
seres humanos que conhecemos.” (27)
Henri Bergson o rejeitou frontalmente: “Em contraposi-
ção a Hegel e toda a ala da supremacia estatal, defende Bergson
o valor supremo da individualidade humana. Qualquer espécie
de sociedade é um meio, e não um fim em si mesma.” (28)
Toynbee e Bergson ainda não estavam presentes, para
serem ouvidos. E se estivessem, não adiantaria. Sören
Kierkegaard (1813-1855) estava; Miguel Reale o cita: “Dife-
rentemente de Hegel, que buscava o universal e a objetividade,
o escritor desenvolve uma reflexão introspectiva na procura do

70
“eu” e das componentes “singularidade e intimidade”, através
da estética, ética e religião.” (29)
O dinamarquês remetia ao valor da vida sobre as orga-
nizações, meras protetoras dos direitos individuais, mas quem
seria Kierkegaard para suplantar o “filósofo oficial”?

2. A perna mecânica

E que maneira a estratégia de Hegel pode ser acolhida,


D ainda mais como manifestação científica, embora repleta
de carências e absurdos? Como a dialética recebeu tão
cobiçado galardão? De que modo a simples lei positiva, essa
expressão de vontade unilateral e comumente paranóica brilha
tal qual pura expressão da ciência e até da democracia?
“A cisão é a fonte da exigência da filosofia”, diz Hegel
no Differenzschrift. (1)
O instrumento sectário platônico, já utilizado com êxito
por Maquiavel, Bacon, Hobbes, Newton, Rousseau e, prin-
cipalmente, Descartes, atingira o ariano: “O abandono da
universidade da Idade Média deve-se a uma iniciativa de um
pequeno país chamado Prússia, no começo do século XIX, que
criou uma universidade de maneira inovadora, dividida em
departamentos: de Ciências, de Química, de Matemática.” (2)
Dentre elas, a grande vedete era a última: “Na matemá-
tica não há fatos fora do seu próprio campo que exijam com-
paração. Por causa dessa certeza, os filósofos de todos os
tempos sempre admitiram que a matemática propicia um
conhecimento superior e mais confiável do que o reunido em
qualquer outro campo do saber.” (3)
Só enganchando suas elucubrações na locomotiva
científico-filosófico-mecanicista é que Hegel poderia alcan-

71
çar o status almejado. Na má temática mistificada, o veneran-
do caia bem: “Hegel tem Descartes na conta de um herói.” (4)
Hegel não titubeou homenagear o ídolo: “Como ele
cruzamos propriamente o umbral de nossa filosofia indepen-
dente. Aqui, podemos dizer, estamos em casa e podemos, como
o navegante após longo périplo por mar proceloso, exclamar
‘terra’” (5)
Sinceramente, era preferido ter ficado no mar.
O olvidado Newton emprestara ainda maior certeza. No
começo da terceira parte dos Principia, a demonstração cabal
de fenômenos de ação e reação, fenômenos mensuráveis, por
isso com carga científica, vinha bem a calhar: “Na natureza,
nenhuma coisa muda senão pelo encontro das outras.” (6)
“Agora demonstrarei a estrutura do Sistema do Mundo:
todo o corpo continua no próprio estado de repouso ou de
movimento uniforme numa reta, a não ser que seja impelido a
mudar esse estado por forças que lhe forem aplicadas. A
mudança de movimento é proporcional à força motriz aplicada
e ocorre na direção da reta em que a força foi aplicada. Para
toda ação existe sempre uma reação igual e oposta.” (7)
A medição de fenômenos físicos, de acordo com sua
intensidade variável, mas de regular constância sobre um eixo
epistemológico arbitrado, como se tudo pudesse ser resolvido
por aperfeiçoados medidores, passou a ser aplicada em todos os
temas relevantes, especialmente nas ciências humanas, e por
Hegel. Jean T. Desanti analisa os esforços, tentativa de
“emendar os encadeamentos operatórios da matemática com
seus encadeamentos conceituais.” (8)
A operação redunda em trazer à tona o dark side, o
negativo subliminar da trajetória histórica conhecida, à luz de
uma virtualidade completamente fantasiada, na moda evolu-
cionista. Geólogos viam a Terra como produto de ação
contínua das forças naturais (só não sabiam quais) durante
enorme período, enquanto Lamarck apresentava uma coerência

72
evolutiva capaz de estabelecer até a Origem das Espécies, de
Darwin. A evolução detectada na “força maior” encaixava-se
no estudo das ciências humanas e Hegel buscou o sucesso pela
mesma escada, deixando-a estendida a Darwin. Na tentativa de
afastamento das antigas concepções rigorosamente determinis-
tas, tanto este como aquele caíram vítimas dos próprios
desígnios. Destarte, ao invés de se aproximarem da moderna
concepção de natureza (que dezenas de anos após seria
cabalmente demonstrada por Einstein), Hegel, alguns antepas-
sados, contemporâneos e sucessores reforçavam o equívoco
mecanicista com outro, embora pensado biológico, porém mais
nefasto e mais baconiano, porque no sentido da dominação pela
força. O absurdo pairou preconizado por esta biologia meca-
nicista, uma psicologia behaviorista, uma história empírica,
uma sociologia descritiva, coisificante, e um direito que lhes
corresponde, totalmente opressor.

3. A forja dialética

A filosofia de Platão, que outrora re-


clamara ser senhora no Estado, tor-
na-se com Hegel o seu mais servil
lacaio.
Karl Popper (1)

que propõem os grandes arquitetos dialéticos? Qual seria


O a raiz etimológica deste signo tão encantador? Ou, como
indaga Bobbio, “o termo dialética tem significado unívoco? Se
tem muitos significados, que relação existe entre uns e ou-
tros?” (2)

73
O enigma consagra a chicana. Tudo de Hegel e Platão
suscita dúvidas e polêmicas: “Os escritos de Hegel estão entre
as obras mais difíceis de toda a literatura filosófica, devido não
só à natureza dos tópicos discutidos, mas também ao estilo
canhestro do autor.” (3)
Vejamos pelo descendente Antônio Gramsci:
“Quanto ao uso do termo ‘dialética’ podem-se encon-
trar – nas páginas de Gramsci – os diversos significados que o
termo assumiu na linguagem marxista. Podem-se distinguir,
pelo menos, dois significados fundamentais: o significado de
‘ação recíproca’ e o de ‘processo por tese, antítese e síntese’. O
primeiro significado aparece quando o adjetivo ‘dialético’ vem
unido à ‘relação’, ‘conexão’, talvez mesmo ‘unidade’. O segun-
do, quando vem unido a ‘movimento’, ‘processo’, ‘desen-
volvimento’.” (4)
Neste caso, Gramsci teria que concordar com seu detra-
tor: Mussolini usou justamente a unidade fascista e sumário
processo para jogá-lo ao calabouço. Tentemos pelos camara-
das, seus maiores cultores:
“Tem-se a impressão de que, na linguagem cotidiana do
marxismo, o termo ‘dialética’ apresenta uma fluidez excessiva,
escondendo em suas dobras significados variados, dificilmente
articuláveis entre si, e que são, de resto, a maior fonte de
confusão e de polêmicas inúteis.” (5)
Historiadores oferecem certeira pista: “Na Idade Média,
a dialética torna-se disputatio, isto é, um confronto de opi-
niões.” (6)
Talvez seja a designação mais precisa. Tentemos disse-
cá-la de outro modo. Alguns pesquisadores enxergam-na for-
mado pelo prefixo dia - correspondente a intercâmbio - e pelo
verbo legein, ou substantivo logos, significando diálogo. O
sentido, todavia, por dialético, continua dúbio. Busquemos ou-
tro ângulo: Rohden nos fala em soma de dia = através e

74
lelo = pensar, jogo de palavras que envolve duas (dial) éticas
(7)
Pela semiótica, na sintaxe e na semântica do prefixo dial
percebe-se o pragmatismo do adjetivo dual, ou seja, duplo,
anunciante das duas éticas - uma, real, legítima; outra a que
interessa, dissimulada. Chama-se dial o eixo por onde se
identifica as posições de cada emissora de rádio. Continuamos
na mesma. Que tal buscarmos decifrar o nebuloso significado
diretamente pelo maior adepto? Logo, para Hegel, é o sufixo
que denota a própria lógica proveniente de uma escolha
arbitrária sobre um dos dois vértices chamados “intercam-
biáveis” (na verdade contraditórios) que produzem o confronto
das forças, daí restando os despojos cognominados síntese: “A
lógica de Hegel, no entanto, contém três termos: a afirmação (a
tese), a negação (a antítese) e a síntese, que resulta da negação
da negação. O último termo, uma dupla negação, é também
outra afirmação, mas engendrada pelo confronto dos dois
termos anteriores. Hegel chama essa estrutura lógica de dialé -
tica.” (8)
Considerando o mundo em equilíbrio permanente, por
causa da dialética das forças físicas, Hegel enxergava a dinâmi-
ca da História como produto também do princípio decorrente,
quando a oposição e situação teriam cada um sua razão e seu
equívoco, resultando a providencial síntese que eliminaria os
erros de cada uma, voz da maioria, imediatamente totalitária.
Descamps não o perdoou: “Praticar a história é, então, se
colocar à escuta de mecanismos de poderes, de interesses e de
paixões que forjam um real que só aparece como racional tarde
demais para o filósofo hegeliano acompanhado de sua coruja
de Minerva.” (9)
Teses antagônicas, o positivo versus negativo, atração e
repulsão gerariam a síntese, daí outra tese, outra antítese e nova
síntese, assim por diante, em movimentos supostamente
regulares, numa mágica depurativa para um produto preten-

75
samente mais fortalecido e cientificamente correto. Cada povo
daria sua peculiar e oportuna contribuição ao mundo, ganhando
ou perdendo importância, e a propositura coincidia com um
dirigido exame aos fatos da acidentada vida européia. Granger
descobre sua principal deficiência: “Sejam quais forem os
atrativos das descrições dialéticas de certos períodos da
história, não podemos deixar de pensar que a diversidade dos
acontecimentos e dos homens não se ajusta assim tanto a este
esquema. O salto da antítese para a síntese aparece muitas
vezes como arbitrária.” (10)
Contrapõe-se tese e antítese no eixo determinista. Para
alcançar a realidade (aleatória) captada na síntese, mister o
antagonismo mais unilateral possível, o choque frontal, o con-
fronto direto. O resultado é esta pretensa sintética-expressão, a
qual já nasce deformada e até traumatizada pelo próprio
choque, e completamente distanciada da harmonia natural por
que regem todos os corpos, esquecidos tanto na produção
quanto em sua apuração. Se paixões não são metais que se
fundem, tampouco são campos magnéticos repelentes. Burns
assim desqualificou o método: “Nunca acontecia de o novo
substituir inteiramente o antigo, pois o padrão da mudança era
“dialético.” (11)
Pedro Demo assinala prosaicas constâncias nas formu-
lações dialéticas. Vale a pena trazê-lo completo: “Todavia é
mister modestamente reconhecer que a dialética padece de
crônica inefetividade, por várias razões: na maioria das vezes,
apresenta-se como mera disposição teórica, verve crítica, fúria
verbal; esta incongruência é ainda mais gritante quando a
dialética se diz materialista histórica, porquanto nada seria mais
a esta postura do que o distanciamento acintoso para com a
prática; por outra, no campo formal, a dialética comporta-se
como qualquer outra metodologia e não deveria mostrar pudor,
retração, constrangimento no bom uso das instrumentações
científicas e metodologias; trata-se simplesmente do patrimônio

76
comum científico; a diferenciação vem após ele, não pro-
priamente dentro dele; é quase marca do dialético o azedume
compulsivo, que em tudo põe defeito, muitas vezes sem sequer
tomar conhecimento devido do que critica, sem apresentar
alternativa convincente; esta vocação para “detergente” apenas
esconde fraquezas crônicas e a falta concreta de contrapro-
posta; forçoso é reconhecer a ainda baixa produtividade nos
campos ditos alternativos, aqui resumidos na qualidade política
- sabemos melhor dizer o que falta, o que se deturpa, mas
estamos longe de garantir caminhos outros criativos; a dialética
ainda não apresentou qual seria a alternativa, por exemplo, ao
“idiota especializado”; é por demais comum a confusão
simplória entre horizontes formais e horizontes políticos,
sobretudo a “politização” fora de lugar; vai por conta disso, por
exemplo, a leviandade dos que acham a dialética a falta de
capanorância em matéria de estatística e computação, ou
decantam como dialética a despreocupação ingênua com o
método é estereótipo freqüente o vôo macro-histórico, que
pretende explicar a história toda em duas patadas, com ar
profético simplório, dando a entender que a dialética vagueia
lá, onde não mora ninguém; tudo que é estranho ao homem
comum foi inventado por pessoas que não se acham comuns e
produzem uma dialética esnobe e particular; sobretudo, são
escassas as experiências alternativas, nas quais se trata de
conferir a qualidade política concreta, donde jorra a conclusão
inevitável de que a fala insistente sobre mudança é tendencial-
mente estratégia para camuflar o desinteresse e o distancia -
mento para com compromissos históricos concretos; porquanto,
nada é mais conservador do que a crítica radical sem prática.”
(12)
“Hegel vê em Platão uma dialética positivo-espe-
culativa, uma dialética tal que não conhece contradições objeti-
vas somente por abolir sua pressuposição, mas que compreende
ademais a contradição antitética do ser e do não-ser, da dife-

77
rença e da indiferença. Para esta interpretação da dia lética
platônica Hegel se inspira, sobretudo, no Parmênides de Pla -
tão.” (13)
Kant se reportava à dialética como “ciência das ilusões”
(14); Nietzsche, como fórmula do oportunismo (15); e Scho-
penhauer advertiu: “Se alguma vez quiseres embotar o engenho
de um jovem e incapacitar-lhe o cérebro para qualquer espécie
de pensamento, o melhor que podes fazer é dar-lhe a ler Hegel.
Pois estas monstruosas acumulações de palavras, que se
amontoam e se contradizem mutuamente, impelem o espírito a
atormentar-se com vãs tentativas para pensar qualquer coisa em
relação a elas, até cair em colapso de plena exaustão. Assim,
qualquer capacidade de pensar fica tão inteiramente destruída
que o jovem acabara por confundir a verbosidade vazia e oca
com o pensamento real.” (16)
Sir Popper rechaçava completamente a dialética: “A
nova geração, pelo menos, devia ser ajudada a libertar-se dessa
fraude intelectual, a maior talvez da história de nossa civiliza-
ção.” (17)
Norberto Bobbio concorda: “Tem-se a impressão de que,
na linguagem cotidiana do marxismo, o termo “dialética”
apresenta uma fluidez excessiva, escondendo em suas dobras
significados variados, dificilmente articuláveis entre si, e que
são, de resto, a maior fonte de confusão e polêmicas inúteis.”
(18)
Niels Bohr, o extraordinário físico de nosso século,
igualmente fulmina a pretensão científica calcada no choque
dos contrários, demonstrando como uma premissa mal apanha-
da enseja o prejuízo duplicado. Vale o replay: “Uma verdade
superficial é um enunciado cujo contrário é falso enquanto que
uma verdade profunda é um enunciado cujo contrário tam-bém
é uma verdade profunda.” (19)
Destarte, como admitir científica síntese calcada em
tantos dados prejudicados?

78
Essa idéia da oposição de forças atuando em equilíbrio
ordenado por um fenômeno progressivamente lógico, todavia,
desde Platão mostrava-se capaz de fornecer a nova “chave” do
entendimento sobre a natureza e sobre a História. Estava ao
alcance dos germânicos, pois, a realização pela Pátria, já
experimentadas pelos vizinhos. As forças impessoais inerentes
à sociedade consumariam o destino de cada um. Só o produto
da força reunida era capaz de produzir hegemonia. Apenas esta
força seria capaz de barrar futuras invasões. Hegel clamava
pela união em torno do estandarte e eleição de adversários,
primeiro mostrando pela história um mundo hostil, daí
requerendo a chamada “reação” veiculada por Newton, o vetor
contrário, a dialética do nacionalismo pan-germânico contra
outras nacionalidades, especialmente aquela assaltante.
A dialética disseminada no campo político professava
autenticidade racional. Foi para ascender à autenticidade,
merecer crédito e reconhecimento, que Hegel peregrinou pelos
atalhos da física conhecida, propondo o uso e controle da
intensidade das forças por cálculos precisos fornecidos pelas
ciências matemáticas, único método consentido desde Galileu e
que serviu como padrão ideal à condução das massas. Seu
primórdio exige a reunião da força. Só o Estado poderia
perfazer a força concentrada, positivamente guardada na
Constituição - “a organização das várias partes num todo
compacto e coerente, que seja mais forte que as partes e, por
isto mesmo, sua desagregação interna afaste a ameaça de
destruição proveniente de fora” (20).
Bertrand Russell execra a possibilidade tantas vezes
tornada realidade: “Surge um grave perigo quando esse hábito
de manipulação com base em leis matemáticas é estendido ao
nosso trato com seres humanos, uma vez que estes, dife-
rentemente do cabo telefônico, são suscetíveis de felicidade e
infortúnio, de desejo e aversão. Seria, portanto, lamentável que
se permitisse que hábitos mentais apropriados e corretos para o

79
trato com mecanismos materiais dominassem os esforços do
administrador no plano da construção social.” (21)
O indivíduo (exceto o Príncipe e seus asseclas) era
descartado. Ele perdia sua identidade, tomada por um Estado
condutor, na justificada totalidade ética. O molde, (sempre o
mesmo, aplicado desde a Renascença), ordenava a todos
buscarem o abrigo comum, o grande toldo do Estado. Ao
conceder proteção ao povo, recaia ao protetor o direito de
subjugá-lo. O Príncipe e seus amigos mostram-se único guia,
fim de todo o desenvolvimento e de toda sucumbência: “O
Direito do Estado é algo mais alto que o direito do indivíduo a
sua propriedade e a sua pessoa.” (22)
Neste propósito, trazemos a crítica e o apelo de Haber-
mas:
“Por certo Hegel, do mesmo modo que Aristóteles, ainda
está convencido de que a sociedade encontra sua unidade na
vida política e na organização do Estado; a filosofia prática dos
tempos modernos parte, como antes, do princípio de que os
indivíduos pertencem à sociedade como membros a uma
coletividade ou as partes do todo - mesmo quando o todo deva
ser constituído somente através do vínculo entre suas partes. As
sociedades modernas, todavia, tornaram-se tão complexas que
não se pode mais aplicar sem problemas ambas as figuras de
pensamento - uma sociedade centrada no Estado, outra no
indivíduo. A teoria do discurso do direito - e do Estado de
Direito - tem de romper a bitola convencional imposta pela
filosofia do direito e do estado, ainda que acolha sua temática.”
(23)
Felizmente não são poucos os que reconhecem, até se
penitenciam. Sir James Lightill foi dos mais célebres: “Hoje em
dia todos nós estamos profundamente cônscios de que o
entusiasmo que nossos precursores tinham em relação aos
feitos maravilhosos da mecânica newtoniana levou-os a fazer
generalizações nesta área de previsibilidade, na qual de modo

80
geral talvez tenhamos tendido a acreditar, antes de 1960, mas
que hoje reconhecemos que era falsa. Queremos nos desculpar
coletivamente por haver confundido o público instruído em
geral, fazendo-os acreditar em idéias sobre o determinismo de
sistemas que satisfazem as leis de movimento de Newton, as
quais, a partir de 1960, foi provado serem incorretas.” (24)
A natureza não conhece justiça, que é um conceito
inventado por Platão. Nada é igual a nada, portanto não há
compensação. Mas a natureza conhece a ética, embora Hobbes,
Darwin, Marx e Freud assim não acreditassem. Ela conhece
cooperação, respeito e diversidade, na multiplicidade dos cor-
pos em movimento, em ambiente de energia a todos comum.

4. A perversão do Direito

De facto, as ideias filosóficas não agem


sobre as mentalidades senão quando for-
ças sociais se apoderam delas. Dão a es-
tas a legitimação e um acréscimo de po-
der.
François Châtelet (1)

obra de John Locke preocupou o jovem Hegel. A Tábula


A Rasa explica como o ser nasce livre de pecado, num
sistema que admite três formas de poder do homem sobre o
homem: o poder familiar, o poder despótico e o poder civil. O
primeiro deriva da natureza mas está limitado no tempo,
perdurando apenas com filhos imberbes. O segundo deriva de
circunstância excepcional, isto é, de uma falta cometida cujo
ato redentor vem pela submissão (ex delito) e, portanto, só pode
ser confundido com o poder civil por quem considera os

81
homens pecadores ao nascerem, incapazes de se redimirem per
si (o Estado como remedium peccati). “Despótico”, em grego
despotes, designa a ação que o senhor exerce sobre os escravos.
O último sobressai-se como poder político, mas derivado de
consenso; pressupõe que homens sejam dotados de razão,
limitando voluntariamente sua liberdade natural para poderem
viver em paz e segurança. Pois bem; Hegel começou sua
“missão” justamente despejando enorme arsenal no endereço
de Locke. A ojeriza completa à Grã-Bretanha compunha a
personalidade do intrépido Wilhelm, também neste aspecto
assemelhado a Rousseau: “ele se desagradava da Inglaterra e de
tudo o que a ela se referia, sempre a expressar um juízo
negativo sobre governos aristocráticos, buscando macular o
exemplo histórico mais relevante - a Inglaterra - junto com a
República Romana.” (2)
Eis a primaz preocupação: “A política lhe aparece como
luta pela unidade contra a desunião, não luta pela liberdade
contra o despotismo.” (3)
O “direito hegeliano” não percebe a razão humana como
libertadora espiritual, mas arsenal de violência e opressão, o
lamentável estado de natureza preconizado por Hobbes, Jeremy
Bentham, John Austin nas ciências políticas, e por Bacon e
Newton nas ciências exatas e naturais. Coberto pelo quarteto
inglês e pela artilharia francesa de Descartes e Rousseau, Hegel
*
atacou, exitosamente, o direito consuetudinário, taxando o
direito natural como estéril e fonte de “enorme confusão”. Não
poderia existir outro direito além do positivo, do codificado, do
decretado, do ditado à vontade do rei: “O conceito positivo que
Hegel tem da Constituição está estritamente ligado com a
concepção orgânica do Estado, insistentemente contraposta à
teoria atomista predominante, típica dos jusnaturalistas não

*
Espécie de contrato social, não expresso mas conhecido e respeitado por todos,
através de consenso e tradição. O País que mais o adota em maior escala é a Inglaterra

82
existe para Hegel outro direito, no sentido palavra, além do
direito positivo.” (4)
Tampouco existiria outra filosofia que não fosse a de
Platão: “A filosofia platônica é um exemplo notável de teoria
orgânica da sociedade – isto é, da teoria que concebe a
sociedade (ou o Estado) como um verdadeiro organismo, à
imagem e semelhança do corpo humano.” (5)
O racionalismo jurídico introjetado pelo domínio da
“moralidade positiva” colocava-se acima da disputa entre a
*
tradição e a moral individual. A própria Common Law sofria
duros ataques, até reveses. Os costumes deveriam ser consa-
grados nestas elevadas manifestações, expressadas pelos
códigos, tarefa inescapável do Estado: “Tudo o que o homem
é, ele deve ao Estado: só nele o homem tem sua essência; no
Estado o universal está nas leis.” (6)
Para os africanos Hegel também tinha bala: “para ele o
negro é ‘o homem no estado bruto’, o ‘homem natural na sua
total barbárie e ausência de freios.’” (7)
Hitler e Gobineau só podiam agradecer.
Jusfilósofos germânicos, como Friederich Karl von
**
Savigny (1779-1861), Rudolf von Ihering (1818-1892), de
certa maneira Nietszche, e depois, já no nosso século, mas
antes da 2ª Grande Guerra, Hans Kelsen (1881-1973), logo
vieram para reafirmar: a lei era justa e racional só pelo fato de
ser lei expressa.

*
“Common laws, ou leis costumeiras ou consuetudinárias são as que revelam mediante
o costume e a tradição, usualmente sendo registradas pela iniciativa dos juízes: daí a
importância delas no sistema anglo -saxão. Statute laws são as leis baixadas por um rei
ou assembléia, e que devem sua eficácia legal a essa edição. Na tradição inglêsa, eram
repudiados inferiores, arbitrárias, contrastando com as primeiras, que seriam mais
capazes de respeitar a natureza das coisas. (N.do R.T.)” Locke, J., Dois Tratados Sobre
o Governo, p. 211.
**
Savigny foi transformado em ministro logo após a revolta reacionária de Frederico
Guilherme IV.

83
O último arrependeu-se; o primeiro, compreende-se:
além de jurista, objetivava as mordomias palacianas. Buscava
legislar em causa própria e, principalmente, ser obedecido.
Comparemo-los com Montesquieu: “Dizer que não há nada de
justo nem de injusto senão o que as leis positivas ordenam ou
proíbem é dizer que antes de ser traçado o círculo todos os seus
raios não eram iguais.” (8)
Hegel demonstrou algum conhecimento de Direito
Romano através dos filósofos do Direito Natural, que ele
próprio rejeitava. Aliás, Hegel não possuía conhecimento de
Corpo Iuris e detestava advogados, “profissionais que agem
exclusivamente em causa própria, de maneira egoísta.” Ouça-
mos a palavra do “mestre”: “A categoria dos advogados, que,
entre outros grupos sociais restantes, é aquela em que mais se
pode pensar, está ligada, em sua mentalidade e em seus
negócios, aos princípios do Direito Privado e, além disso, ao
Direito Positivo, que são antípodas do Direito Público - vale
dizer, aquele direito racional, o único que se pensar numa
Constituição fundada na razão.” (9)
H.O. Ziegler descreve a introdução da idéia hegeliana tal
qual “espíritos coletivos concebidos como Personalidades”,
como a “Revolução Copérnica na Filosofia da Nação”. (10)
Hegel abriu a enorme vereda por onde escorreram todas
as ideologias. Mediante a alavanca, o Direito tornou-se cada
vez mais positivo; e invariavelmente parcial, arbitrário. O
radicalismo metodológico, envolvente e indiscriminado, per-
mitiu que se imiscuísse pela economia, o Moral e a Política,
não mais se distinguindo o Direito do Moral. Valendo-se da
dialética, os positivismos, utilitarismos e tantos “ismos”, até
opostos entre si, miravam apenas um alvo:
“no que concerne a teoria propriamente dita, temo que tenha
morrido no fim do século XVIII, quando todas as novas
correntes filosóficas - o utilitarismo na Inglaterra, o positivismo

84
na França, o historicismo na Alemanha - convergiram, sem o
saber, na crítica ao direito natural.” (11)
As linhas de pensamento foram riscadas em pares opos-
tos: a anti-liberalidade, através dessa valoração extremada do
Estado em detrimento do cidadão e a filosofia científica,
montada a escorar sua argumentação. Ambos elementos liga-
vam-se como as pernas do corpo. Para a libertação do determi-
nismo metafísico, se sobrepõe a dialética, mas a platônica
interpretação manifesta o vício romântico-idealista, portanto
aprimorando o que condena: “Deve-se ter em mente que ló -
gica, para Hegel, é realmente sinônimo de metafísica.” (12)
Foi este o ponto delatado por Marx, o qual utilizou a
mesma mentalização dialética para pregar a luta - agora não
mais de nações, como apregoava Hegel, mas de classes, envol-
vendo-as num programa de conflito com proporções mundiais:
“A dialética hegeliana é idealista, pela primazia concedida ao
espiritual sobre o material. Feuerbach, na própria escola de
Hegel, iniciou a conversão do idealismo para o materialismo,
obra esta completada por Karl Marx.” (13)
Marx, então, escolheu de Hegel e de Darwin a dialética
chamada científica, refutou a perna mecânica do Estado Nacio-
nal e partiu para a formulação teórica da “ditadura do
proletariado”. Eis cabal razão do filósofo-mor do materialismo:
“Em Hegel a dialética está de cabeça para baixo. É preciso
recolocá-la sobre seus próprios pés para descobrir-lhe o núcleo
racional, sob o invólucro místico.” (14)
Enquanto na interpretação histórica hegeliana, a Nação, e
não o indivíduo, forma a unidade realmente importante, de
“cabeça para baixo” o indivíduo permaneceria ao rés do chão.
Cambiava-se, apenas, o comando da impostura - da observada
burguesia para uma classe predeterminada, a tal classe operária,
independentemente de sua genealogia. O modo de existir do
mundo dependeria da ação dos agentes, o mudar por nossa
intervenção, nítido conselho de Bacon. (15)

85
Marx apreciou esta originalidade baconiana: “Os filó -
sofos tem se limitado a interpretar o mundo de maneiras
diversas; trata-se de transformá-lo.” (16)
“O ser que já iniciou a apropriação da natureza por meio
do trabalho de suas mãos, do intelecto e da fantasia, jamais
deixará de fazê-lo e, após cada conquista, vislumbra já seu
próximo passo.” (17)
Engels, Marx, Lenin, Sorel, Hitler e Mussolini adora-
vam essas vantagens proporcionadas pela dialética: “ Ela nos
serve apenas para mudar de um sistema para outro.” (18)
O excepcional Bachelard compreende as circuns-
tâncias:
“Quando Hegel estudava o destino do sujeito racional
sobre a linha do saber, ele não dispunha mais do que de um
racionalismo linear, de um racionalismo que se temporalizava
sobre a linha histórica de sua cultura, realizando movimentos
sucessivos de diversas dialéticas e sínteses.” (19)
A formulação marxiana, exclusivista porque dialética, é
tosca, parcial, inexata, sem deixar de ser “bem bolada”:
“Temos assim, fundamentalmente, duas e somente duas
classes: a dos proprietários ou capitalistas e a dos que nada
possuem e são compelidos a vender seu trabalho, a classe
trabalhadora ou proletariado. A existência de grupos
intermediários, tais como os formados por agricultores e
artesãos, que empregam trabalhadores mas também executam
trabalho manual, pelos empregados no comércio e pelos
profissionais liberais não é naturalmente negada. Mas tais
grupos são tratados como anomalias, que tendem a desaparecer
no decorrer do processo capitalista. As duas classes
fundamentais são, em virtude da lógica de suas posições e
inteiramente fora da vontade dos indivíduos, essencialmente
antagônicas. A própria natureza das relações da classe
capitalista e do proletariado é de luta, isto é, de guerra de
classes.” (20)

86
A Nomenklatura nunca lutou nesta guerra; porém, dela
sempre se valeu. Hegel subverteu os ensinamentos também de
Kant, seu maior vizinho: “Kant nos demonstrou que um
conhecimento metafísico esbarra nas antinomias da razão pura
e Hegel tomou este resultado como uma demonstração de que é
por meio da contradição que a razão se desenvolve.” (21)
Foi o que invariavelmente aconteceu: “A dialética de
Hegel, assevero, foi concebida em ampla medida com o fito de
perverter a idéias de 1789. Hegel estava perfeitamente cons-
ciente do fato de que o método dialético pode ser utilizado para
retorcer uma idéia em seu oposto.” (22)
Não por coincidência, começavam os preparativos para
as aberrações do século XX: “Sob influência dos filósofos
absolutistas e autoritários, Hegel, Marx, Comte e uma pletora
de epígonos contaminados por esta magia negra da política que
é Ideologia - o Liberalismo recuou a partir da segunda metade
do século XIX.” (23)
*
Perversão : eis o caráter pertinente. Bobbio ressalta a
espécie de morbidez: “O tema de guerra inspirou a Hegel
algumas de suas páginas mais famosas: desde as primeiras
obras tinha proclamado que a guerra é necessária e mantém a
saúde dos povos: como o vento sobre o pântano, a guerra é o
momento de igualdade absoluta.” (24)
“A gangrena - dizia aquele filósofo amargamente
[naqueles tempos realmente havia muita gangrena] - não é
curada com água de lavanda. É na guerra e não na paz que o
Estado mostrava seu ânimo e ascendia às alturas de sua
potencialidades.” (25)

*
Tema retomado por Hegel em Fenomenologia , num célebre passo que indica aos
governos, no que diz respeito a seus povos, "não deixá-los lançar raízes e enrijecerem-
se em tal isolamento, para não deixar desagregar o todo e envaidecer o espírito", devem
"sacudi-los de quando em quando, em seu íntimo, com as guerras"; quanto aos
indivíduos, os governos devem "fazê-lo sentir, com aquele trabalho imposto, o seu
senhor: a morte. " (Fenomenologia dello spirito; Florenca, La Nuova Italia, 1936, v.II,
p. 15; cit. Bobbio, N., Estudos sobre Hegel direito, sociedade civil e Estado, p. 48

87
Hegel dispensava um programa para o futuro, o fazendo
como um reconhecimento à importância do presente. O pre-
sente (grego) viera recém-passado por Napoleão. Todavia,
mesmo “dispensando” o programa para o futuro, a Hegel
cabem as honras de Bismarck, Lenin, Mussolini e Hitler. O
“Espírito” de cada nação a diferenciava das outras. Quem
desejasse constar na geopolítica mundial deveria afirmar sua
individualidade ou alma, penetrando una e forte no palco da
História na qualidade de combatente. A isso se dava o nome de
“progresso”: “Hegel, como Heráclito, acredita ser a guerra o
pai e a mãe de todas as coisas.” (26)
Max Scheler aprimorou a definição de Hegel, não de He-
ráclito:
“A guerra significa o Estado no seu mais efetivo
crescimento e elevação; significa política.” 27)
O ano de 1931, centenário da morte de Hegel e véspera
do descalabro mundial, um grupo internacional se congregou
aos seus estudos, em Haia. Publicaram-se vários ensaios, todos
sem originalidade, exceto a exaltação do fascismo. A Rivista di
Filosofia foi dedicada a Hegel; Antônio Barfi clamou por um
Renascimento Hegeliano, destacando que Hegel não perecera;
mister o retorno do sistema orgânico com leis de continuidade e
desenvolvimento. E Appunti di filosofia del diritto (ad uso
degli studenti), Turim, Giappichelli, 1932, definiu-se como
filosofia jurídica neo-hegeliana. (28)
Solari aproveitava o embalo: “é preciso retomar o fio
interrompido da tradição hegeliana, para desenvolvê-lo e dele
extrair elementos para uma reconstrução idealista do direito e
do Estado em seu sentido social” (29)
Sabine comenta: “Na Itália o hegelianismo atuou no
fascismo principalmente nas primeiras fases. O hegelianismo
fascista foi reconhecidamente quase uma racionalização ad
hoc..” (30)

88
Os devotados franceses caíram de pleno no conto da
dialética aplicada à política: “Antes da II Grande Guerra,
durante mais de vinte anos, Hegel ocupou na França um lugar
central. Se a maioria dos pensamentos se afastam dele, também
é por terem sofrido a influência determinante daquele que se
quis o ‘último filósofo’ e que continua a colocar para todos a
questão da mudança do mundo.” (31)
Quatro anos antes da catástrofe, manifestou-se o famoso
General Ludendorff: “Durante os anos da chamada paz, a
política só tem sentido, enquanto se prepara para a guerra
total.” (32)
O historiador prussiano Treitschke os “compreende”:
“A guerra não é só uma necessidade prática; é também
uma necessidade teórica, uma exigência da lógica. O conceito
do Estado implica o conceito de guerra, pois a essência do
Estado é o Poder. O Estado é Povo organizado em Poder
soberano.” (33)
Em que pese a excelência dos mitos criados, Hegel foi
por demais ignorante. Engels foi claro em sua análise: “Seu
horizonte achava-se circunscrito, em primeiro lugar, pela
limitação inevitável dos seus próprios conhecimentos e, em
segundo lugar, pelos conhecimentos e concepções de sua
época, limitados também em extensão e profundidade. E, por
mais exatas e mesmo geniais que fossem várias conexões
concretas concebidas por Hegel, era inevitável, pelos motivos
que acabamos de apontar, que muitos de seus detalhes tivessem
um caráter amaneirado, artificial, construído, numa palavra,
falso.” (34)
O desenvolvimento do saber percorre incontáveis
labirintos, alguns caminhos ao nada. Muitos dos que se dedi-
caram ao estudo da natureza se enganaram radicalmente;
entretanto, quiçá nenhum tenha propiciado tão má conseqüên-
cia, tanto perigo e tanta catástrofe à humanidade quanto este
débil mental: “Em nossos próprios tempos, o historicismo his-

89
térico de Hegel é ainda o fertilizante a que o totalitarismo
moderno deve seu rápido crescimento. Seu uso preparou o
terreno e educou os meios cultos da desonestidade intelec-
tual.” (35)
Rohden confirma: “Hegel foi o filósofo clássico de todos
os totalitarismos estatais e políticos, tanto os da direita (nazis-
mo) como os da esquerda (comunismo).” (36)

5. A versatilidade do Volk e a codificação

NQUANTO a Inglaterra incrementava sua peculiar de-


E mocracia, ou aristocracia liberal, e a França se livrava do
barbarismo napoleônico para experimentar o laissez-faire, a
Alemanha abraçava a estratégia abandonada:
“Quando a Prússia e os outros estados germânicos
ingressaram no século XIX, encontraram a onda de naciona-
lismo e as demandas por participação popular estimuladas pela
Revolução Francesa.” (1)
As posturas antinacionalistas e pacifistas dos notáveis
Kant e Goethe não redimiam a confusa realidade, efervescente
desde o Renascimento. A recente invasão exigia reação, só
viável em alinhamento nacionalista-belicista. Antes, o respaldo
legalista: “O movimento ideológico tem, enfim, uma importân-
cia notável junto aos juspositivistas alemães da segunda metade
do século transcorrido, que sofreram a influência hegeliana do
Estado” (2)
Abundavam justificativas:
“A convicção de que a Alemanha esteve até agora
enferma de muitas moléstias graves, de que pode e deve melho-
rar, é universal. O precedente domínio francês muito contribuiu

90
para isso. Ninguém que queira ser imparcial pode negar que
nas instituições francesas estão encerradas muitas coisas boas e
que o Código e as discussões e os discursos a respeito dele,
assim como o código prussiano e o austríaco, trouxeram para
nossa filosofia mais vitalidade e arte civilista que as acaloradas
discussões dos nossos tratados sobre direito natural.” (3)
A frenética busca por justiça, entendida como resposta à
injustiça, foi o ícone que juntou os bosches:
“O organicismo ético e idealista cultivou-o a escola
histórica, sobretudo a concepção de Savigny acerca do espírito
popular - o Volksgeist - tomado como fonte histórica, costu-
meira, tradicional, geradora de regras e valores sociais e jurí-
dicos” (4)
As pacíficas e liberais fundamentações político-jurídicas
foram neutralizadas pelos projetos, positiva e paulatinamente
combinados pela prestigiada escola, torrente de inspiração a
Herder, Fichte, Hegel, Schelling, Ihering, Kelsen, ele, Karl
Savigny, Thibaut, Dilthey, Wundt, Gobineau, Nietzsche, En-
gels, Marx, Freud, mesmo o dissidente Jung, Max Weber,
Franz Oppenheimer, Friederich Wieser e Carl Schmitt. Russell
traz as fichas:
“Shelling (1775-1854), assim como Hegel e o poeta
romântico Hölderlin, era de origem suábia e os três se tornaram
amigos quando Schelling entrou para a Universidade de
Tübingen, aos quinze anos. Kant e Fichte foram as principais
influências filosóficas que absorveu. Tanto em Fichte como em
Schelling, encontramos formas que Hegel mais tarde utilizou
como método dialético. Com Hegel, a filosofia idealista alemã
recebeu a sua forma final e sistemática.” (5)
O resultado não poderia ser mais nefasto: “A filosofia do
direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do
Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente
por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Ber-
lim,’ diz Karl Rosenkranz” (6)

91
Os germânicos até conheceram a centelha de Leibniz e
sua doutrina dos nômades - todas as substâncias possuiriam
mesma natureza - mas Newton os derrotou em todos os cam-
pos, em todos os séculos: “No decorrer do século XIX, a
orientação mecanicista tomou raízes mais profundas - na física,
química, biologia, psicologia e nas ciências sociais.” (7)
“O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência,
e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transfor-
mada na base conceitual de todas as áreas de atividade
intelectual, não só científica, como também política, histórica,
social e até moral.” (8)
A novel e vistosa Psicologia almejava obter a carteira de
identidade da comunidade científica. O rigorismo quantificado
passou a ter a única importância à aferição da inteligência. A
geometria analítica poderia traduzir as operações de pensamen-
to. E as ciências humanas, agora “mentais”, ficavam mais uma
vez privadas de seu sujeito e de seu objeto. Em nome do
racionalismo, apelos simétricos. Explica-nos Japiassu, em tre-
cho que corresponde ao mote de sua obra:
“A passagem do reino da opinião (doxa) ao domínio do
conhecimento científico (episteme) exigia a adoção de uma
inteligibilidade racional. E a formularização matemática esta-
belecia o limite desta ambição. As ciências humanas nascentes
passaram a adotar uma exigência de rigor e de precisão, de
busca das estruturas e das normas. Para tanto, adotaram em
suas investigações os métodos quantitativos e a linguagem
cifrada. A análise estatística passa a ser um dos meios
fundamentais de ação dos cientistas humanos. As ciências se
convertem em uma língua bem feita. Por isso, submete todo o
seu domínio à ordem matemática, a língua mais bem feita exis-
tente. A perfeição do saber parece ser atingida desde que se re-
duza os fenômenos a um esquema tipo algébrico. Pouco a pou-
co, a ordem dos comportamentos e das idéias humanas fica
submetida à inteligência matemática.” (9)

92
De biológica por necessidade, a psicologia virou “polí-
tica positivista-sociológica”: “A influência de Comte no desen-
volvimento posterior da psicologia é indiscutível. Ela se revela
na própria obra de Wundt, obviamente enfatizado aqui o caráter
científico da psicologia.” (10)
Bobbio levanta as coincidências:
“Minha opinião é a seguinte: com respeito à exigência, o
jusnaturalismo não pode renascer, pela simples razão de que
nunca morreu; no que concerne à teoria propriamente dita,
temo que tenha morrido no fim do século XVIII, quando todas
as novas correntes filosóficas – o utilitarismo na Inglaterra, o
positivismo na França, o historicismo na Alemanha – conver-
giram, sem o saber, na crítica ao direito natural.” (11)
O Direito passou envergado; e a ciência, desvirtuada:
“Nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava
Durkheim, aplicar o método cartesiano, por em dúvida verda-
des adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois o pes-
quisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-
noções implícitas e não conscientes que lhe fecham, de ante-
mão, o caminho da compreensão objetiva.” (12)
Relembra Bobbio: “As primeiras histórias das institui-
ções foram histórias do direito, escrita por juristas que com
freqüência tiveram um envolvimento prático direto nos negó-
cios do Estado.” (13)
Assim fora com Platão, na temporada entre Roma e
Cartago; com Maquiavel, em Florença; com Hobbes e Bacon,
em Londres; com Rousseau, em Paris; com Hegel e Savigny,
em Berlim.
A Fichte, Hegel, Savigny, somar-se-ia o brilhantismo
jurídico de Rudolf von Ihering, este discípulo do último. Para
todos, ao direito cabia sintetizar o Volksgeist - o tal espírito do
povo - (14) psicologia de Herder, Dilthey e Wundt. O gênio da
nação comandaria os indivíduos, sobrepujando suas próprias

93
vontades e intenções conscientes. Nazistas e comunistas sabe-
riam incutir, com todo relevo, a basila r alienação.
Johan Gottlieb Fichte (1762-1814) merece destaque
pelo pioneirismo da conclamação. Como todos os passageiros
do trem dos infortúnios, defendia a Revolução Francesa e
glorificava a obra de Rousseau. Pela adesão, tomou fama de
democrata, já moldada por ser aluno e até meio discípulo de
Kant. Fichte, todavia, modificara seu entendimento a partir da
invasão napoleônica, quando então perverteu a base teórica
kantiana, criando chicanas no trabalho do desafeto. Obteve
amplo sucesso. Fichte foi precisamente descrito como “pai da
unidade alemã, filho da Revolução e de Napoleão.” (15)
O direito pautava a política da força, do determinismo
vetorial, da lei do mais forte, do controlador, do ideológico em
sua versão mais apurada:
“Fichte estabeleceu que a educação deveria ter por
objetivo destruir o livre arbítrio, de modo que as crianças,
depois de deixarem a escola, fossem incapazes, pelo resto de
suas vidas, de pensar e agir de maneira diversa daquela que
seus mestres teriam desejado. Mas este era, em sua época, um
ideal atingível. O que ele considerava o melhor sistema, Karl
Marx produziu.” (16)
A teoria político-maquiavélica, pela qüinquagésima vez,
se aproximava repetida. Mister o reforço da nacionalidade para
fazer frente as intempéries. Gaetano Mosca reforça: “Em
“Discursos a Nação Alemã”, publicado em 1808, o fortale -
cimento nacional passava de novo como única receita capaz de
brecar ou mesmo reiniciar contendas e barbarismo.” (17)
A unificação prussiana, além de defender a área, ense-
jaria coroar o objetivo hegemônico. O heróico brado retum-
bava:
“Só a Alemanha, doravante, e não mais qualquer Estado
e principalmente a França, se acha qualificada para realizar a
humanidade. O problema presente, a primeira tarefa é sim-

94
plesmente o de preservar a existência e a continuação de tudo o
que é alemão.” (18)
Quem poderia implementar o rumo dessa força concen-
trada? Quem realizaria o Volksgeist ? Qual spin poderia cata-
lizar e satifazer o anseio de Hegel e Fichte?
Bismarck realizaria a primeira tentativa: “o regime de
ferro de Bismarck atrofiava a capacidade de cidadania do povo
alemão, deixando-a destruída para o Kaiser Guilherme II, “o
diletante coroado”. (19) A Hitler tocou a segunda.

6. O pequeno falsário

Nós,os macacos, somos mais com-


pletos do que os homens, pois te-
*
mos rabos, que eles não têm!
De um desenho animado de TV.

RA uma vez um grande navegante, não da Internet,


E tampouco da famosa escola de Sagres. Criança, gostava
da trapaça: “Também posso confessar aqui que, quando pe-
queno, era muito dado a inventar histórias falsas e o fazia
sempre para causar admiração.” (1)
Crescido falsário confesso, saiu ele e um contrariado co-
mandante à bordo do barco superequipado, velame perfeito, a
bisbilhotar o mundo, especialmente praias tropicais, invadindo
reinos de animais ilhéus e litorâneos. Até o Brasil recebeu sua

*
Na constatação dos macaquinhos, pode -se esperar que eles tenham sua origem no
homem, sendo, pois, nossa "evolução" ? Estaria correto, então, aquele seriado?

95
visita. No retorno, o privilegiado passageiro justificou o belo
tour:
“Tanto quanto possível apreciar-me a mim próprio
[o que será que ele queria dizer com isto?] trabalhei ao máximo
ao longo da viagem pelo mero prazer de investigar e pelo meu
forte desejo de juntar alguns fatos das ciências naturais. Mas
também tinha a ambição de ocupar um lugar suficientemente
importante entre os homens da ciência - se essa ambição era
maior ou menor do que a da maioria dos meus colegas de
trabalho, não sei dizer.” (2)
Era melhor não ter dito nada. Na ausência da modéstia,
ardia a vocação turística:
“No princípio de minha etapa escolar, um colega tinha
um exemplar de Wonders of the World (Maravilhas do Mundo),
que o lia com freqüência creio que este livro me inspirou o
desejo de viajar por países remotos.” (3)
O comodoro, designado para tarefa essencialmente
cartográfica, (Terra do Fogo, Chile, Ilhas Galápagos, etc.),
antipatizava claramente com o estranho viandante, tipo “pau-
de-arara” a recolher tudo quanto é quinquilharia, “enchendo o
saco”, o aposento e até a cabine de comando com folhas,
insetos, vidros e caixas de todos os tamanhos: “Nunca voltei
dessas expedições de mãos vazias.” (4)
Em cinco anos de circunavegações não foram poucas as
lembrancinhas recolhidas. Ao comandante Robert Fitz-Roy,
restava tolerar o luxuoso iate transformado em arca-de-noé. O
intruso não receava resmungar: “Fitz-Roy tinha muito mau
gênio. Geralmente era pior pela manhã cedo.”
Ao final do extenso passeio, exausto e enfastiado, o
comodoro desejou-lhe “boa sorte”, augurando nunca mais revê-
lo nesta ou noutra belonave.
A luxuosa embarcação, de propriedade da Majestade
Real da Grã-Bretanha, fora batizada com o sugestivo nome de

96
Beagle.* O “cruzeiro” passou no Brasil em 1832. O ilustre,
porém, inconveniente turista ficou mundialmente conhecido
por publicar, em 1859, portanto quase trinta anos depois, o que
nele se passou, o que pode observar, algumas coisas que a
partir daí projetou e, certamente, outras que inventou, com o
fito de causar a tão sonhada admiração. Vendeu toda a edição
no dia. Em seguida, a estória foi traduzida para trinta línguas.
O nome desse autor-ator quase ninguém desconhece,
porém mister designá-lo: Darwin. Por completo, Charles
Robert Darwin (1809-1882), autor de Sobre a origem das
espécies graças à seleção natural, ou, a preservação de raças
favorecidas na luta pela vida.
Não chegou Darwin a ser nada original. Seu avô,
Erasmus Darwin, já havia escrito: “A causa final da confron-
tação entre machos parece ser esta: o animal mais forte e mais
ativo deve propagar a espécie, que desta maneira é melho-
rada.” (5)
O notável expoente Jean-Baptiste de Monet, cavaleiro de
Lamarck (1744-1829) encantara os Darwin: “De todos os pen-
sadores que o haviam precedido no estudo da origem das
espécies, o que mais interessava era Lamarck. Foi na obra de
Lyell sobre geologia que Darwin encontrou a doutrina de
Lamarck, minuciosamente exposta.” (6)
Darwin tomou, de cara, o bonde errado. Erwin Shrödin-
ger (1887-1961) um dos fundadores da quântica, foi categórico:
“Infelizmente, o lamarckismo é insustentável. A suposi-
ção fundamental sobre a qual se apóia, a saber, que as proprie-
dades adquiridas podem ser herdadas está errada. Até onde as-
bemos elas não podem.” (7)
Adolphe Quètelet, formulador da estatística social, “ser-
viu-lhe de modelo.” (8) Pela confessa cronologia, pelas comu-

*
Beagle: do inglês, “caçador”.

97
nicações e fatos encadeados, entretanto, percebe-se que o traba-
lho de Darwin é plágio descarado de Wallace:
“Meu trabalho está agora (1859) quase terminado; mas,
como serão necessários ainda alguns anos para completá-lo
[(?!)] e como minha saúde não é muito boa, convenceram-me a
publicar este resumo. Fui induzido a isto especialmente porque
o Sr Wallace, que atualmente estuda a história do arquipélago
malaio, chegou exatamente as mesmas conclusões que eu sobre
a origem das espécies. Em 1858 ele me enviou um ensaio sobre
o assunto, pedindo-me que o entregasse a Sir Charles Lyell, o
qual o enviou à Sociedade Linneana. Sir C. Liell julgou
conveniente publicar, juntamente com o excelente ensaio do Sr.
Wallace, alguns breves trechos do meu manuscrito. Este
Resumo, que publico agora, é naturalmente imperfeito. Não
posso dar referências e citar autoridades para reforço de minhas
afirmações.” (9) [sic]
Várias questões afloram deste depoimento pessoal: por
que demorou trinta anos para apresentar a teoria e vinte para
discriminar provas forçadas, parcos relatórios e escassos dados
baseados nos princípios que propunha, na faina influenciando,
diretamente, seus resultados? Depois do “resumo”, porque não
apresentou toda a pesquisa? Porque não anexou bibliografia,
nem na hora, nem depois, exceção de um ou outro? Porque não
“podia dar referências, nem citar autoridades”? Que má saúde
esperaria quarto de século para fulminá-lo? Porque preferia se
isolar em refúgios, rodeado apenas de familiares?
Uma resposta explica todas: o trabalho foi furtado de
*
quem lhe confiara guarda. Nesta data a má saúde não
atrapalhou:

*
Constam inúmeras “suspeitas” quanto ao plágio a Alfred Russell Wallace. Diz a nota:
“Para evitar que Alfred Russell Wallace tivesse a “prioridade” que podia pretender,
Darwin e seus amigos realizaram manobras que os historiadores nem sempre
consideram muito “honestas”. Além disso, parece que Darwin utilizou as idéias de
certos autores (em particular de Blyth) sem reconhecer sua dívida. O debate permanece

98
“Em junho de 1858, contudo, aconteceu um fato que
produziu em Darwin um efeito muito mais vivo que o conselho
dos seus amigos íntimos. Nessa memorável manhã recebeu ele
uma carta, vinda do outro lado do mundo. Era a carta mais
importante que lhe foi escrita em toda a sua vida. Trazia o
carimbo de Ternate, uma ilha do arquipélago Malaio. No
volumoso sobrescrito vinha o nome do remetente: Alfred
Russell Wallace. Darwin abriu-o. Continha uma carta e um
manuscrito. Antes de folhear o manuscrito, Darwin apanhou a
carta. Pedia -se-lhe nela que lesse o esboço incluso e, se lhe
parecesse bem, que o passasse a outros naturalistas – com
vistas na publicação próxima. Darwin lembrou-se da última
memória escrita, três anos atrás, por Wallace, e para a qual
Lyell lhe tinha chamado a atenção.” (10)
Wallace acabou não recebendo o beneplácido oficial,
quiçá porque o Iate de sua Majestade não lhe tivesse hospe-
dado. Foi eclipsado pela esperteza de Darwin, com a ajuda de
Lyell.
Haeckel logo enxergou em Darwin “der Kopernikus der
organishen Welt, (11) o Copérnico da ciência biológica, falso
marketing. Copérnico era um completo revolucionário; sua teo-
ria não se apoiava em prenúncios e foi completamente original.
Já Darwin foi copiador compulsivo, “contumaz colador”, como
se diz no primário. Um predecessor, o filósofo carrasco da
natureza Bacon já sentenciara - a variedade dos indivíduos
seria produto de obstáculos e desvios promovidos pela natureza
- ao que ele se perfilou: “Trabalhei sobre verdadeiros princípios
baconianos e, sem nenhuma teoria, comecei a registrar dados
em grandes quantidades.” (12)
A atenção, centrada em si próprio, só produzia autoe-
logios: “Quando vejo a lista dos livros de todo o gênero que li

em aberto”. Autores que estabeleceram obras que contêm fortes críticas: H.L.
McKinney, A C. Brackman, L. Eiseley, J. Novicow, R. Hofstadter, R.C. Banniester,
G.E. Simpson, J.A Rogers, J.E. Greene, L.L. Clark; cits. Thuillier, P., p. 223.

99
e resumi, inclusive coleções inteiras de Revistas e Atas, fico
surpreso com a minha diligência.” (13)
Mesmo com a “diligência”, o conteúdo era pigmentado
de preconceitos, principalmente aqueles oriundos das “ciências
exatas”, que mal arrastava: “Um professor particular me expli-
cou Euclides, e recordo claramente a intensa satisfação que me
proporcionaram as claras demonstrações geométricas.” (14)
Charles era cuidadoso colecionador de selos de lacre,
timbres, conchas e minerais. Quanto aos estudos formais, não
mostrava o mesmo pendor: levado à Universidade de Edimburg
em 1825 para fazer medicina, sua experiência fora um fracasso:
“achava monótonas as palestras e sentia repulsa em ver as
operações feitas sem anestésicos.” (15)
A notável negligência estudantil foi apontada até por seu
pai, Robert Darwin, para quem Charles era “a vergonha da fa-
mília”! (16)
Voltado à ciência natural, Darwin não se detinha em
examinar a formação da Terra, provavelmente sequer sua evo-
lução histórica, como se fosse possível ou mesmo desejável a
dissociação. Da mínima referência não restava sequer pudor:
“incrivelmente sem graça... o único efeito que produziam em
mim era a determinação de jamais ler um livro de geologia
enquanto vivesse.” (17)
Tampouco agradava Charles conhecer qualquer idioma:
“Durante toda minha vida tenho sido regularmente incapaz de
dominar nenhum idioma.” (18)
Com relação ao sexo oposto, em que pese posterior ten-
tativa de correção desta parte de sua personalidade, foi claro:
“o casamento acarreta uma terrível perda de tempo!” (19)
O jornalista José Reis comenta:
“A vida de Darwin, como se sabe, foi um contínuo sofri-
mento, excluído talvez o tempo que passou em sua excursão.
Onze meses após o casamento e três dias antes do nascimento
do primeiro filho, entrou em depressão, sem ânimo para traba-

100
lhar a prematura morte da mãe aos cinco anos, fato que Darwin
nunca lamentou e as más relações que ele tinha com o pai na
infância e na juventude.” (20)
Outros historiadores o qualificam como hipocondríaco,
com doenças psicossomáticas advindas principalmente pelo uso
excessivo de arsênico, durante toda a vida, para curar um mal
de juventude.
Algumas de suas práticas, como a caça indiscriminada,
desmanche de ninhos e surrupio de ovos, na época eram perfei-
tamente aceitos; Darwin não receou mostrar esta outra faceta,
pouco recomendável, de indisfarçável sadismo, incompatível
com quem se arvora capaz de interpretar a natureza:
“Era muito aficcionado em colecionar ovos, mas nunca
colhia mais de um de cada ninho de pássaros, exceto em uma
só ocasião em que os colhi todos, não por seu valor, mas por
uma espécie de bravata. Uma vez, quando pequeno, na época
da escola diurna, ou antes, atuei cruelmente: golpeei um
cãozinho, creio que simplesmente por desfrutar a sensação de
força.” (21)
Será que ele não poderia ter tido a sensação simplesmen-
te indo aos pés?
Ainda na juventude, o forçudo Charles ingressou no
sacerdócio, em Cambridge, mas voltou a não se empenhar, ao
contrário: investiu contrariamente aos ditames católicos dos
quais se aproximara e, diante dos desígnios mecanicistas que já
haviam implodido dogmas eclesiásticos, adotou o refrão:
“Darwin repetiu muitas vezes: seu objetivo era demolir a teoria
das “criações especiais”, segundo a qual diversas espécies
haviam sido criadas separadamente.” (22)
Para enriquecer seu intelecto, ou quiçá para torná-lo um
pouco mais humilde, ofereceram-lhe Shakespeare, mas o ma-
rujo recusou: “Tentei ultimamente ler Shakespeare, mas achei
tão intoleravelmente enfadonho que tive náuseas.” (23)

101
Foi uma lástima, à ciência e à humanidade, que tanto ele
como Newton não tivessem, em alguma noite enluarada, assi-
milado a mais popular frase de Shakespeare - “Há mais coisas
entre o céu e a terra, Horácio, (ou Darwin, ou Newton, ou
Marx, ou tantos) do que pode conceber a nossa vã filosofia.”
Por peça dessa vã filosofia, um economista daquele rei-
no, que também não gastara seu tempo com leituras eruditas,
havia alarmado o povo usando mirabolantes mas escassos cál-
culos. Thomas Malthus assim demonstrava: as populações
cresciam geometricamente, enquanto a produção de alimentos
poderiam aumentar apenas aritmeticamente. Só restrições,
como guerras, epidemias, etc, evitariam a extinção da humani-
*
dade pela fome. Ou seja, preferiu-se morrer de uma só vez. A
formulação econômica de David Ricardo considerou o mesmo
dilema, mas ressaltou que a equação valia apenas às limitações
da Grã Bretanha. Por Darwin, que tomou conhecimento do
assunto, só “o mais apto”, doravante, poderia sobreviver: “Foi
o Ensaio de Malthus que o eletrizou. Eis aí o mecanismo que
procurava - a luta pela sobrevivência.” (24)
A palavra é do “profeta” do passado: “Enquanto pensava
vagamente em como isto poderia afetar qualquer espécie, de re-
pente me surgiu a idéia da sobrevivência dos mais aptos.” (25)
“Tive a imediata revelação [sic] que, em tais circuns-
tâncias, as variáveis favoráveis tenderiam a conservar-se, e as
desfavoráveis a ser destruídas! Resultaria daí a formação de
uma nova espécie. [sic] Tinha eu encontrado afinal uma teoria
com que trabalhar.” (26)
Colocando o fenômeno como único cientificamente
lógico, o empenhado convenceu-se de que os mecanismos de

*
Malthus, Thomas Robert, An essay on the principle of population, as it affects the
future improvement of society, with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and others writers; London J. Johnson, 1798. ( Um ensaio sobre o
princípio da população e seus efeitos no futuro desenvolvimento da sociedade, com
contestação às especulações do senhor Godwin, senhor Condorcet e outros autores.)

102
evolução seriam tão acessíveis e precisos quanto tinham sido as
descobertas de Galileu, Kepler, Bacon, Descartes e Newton.
Fazendo parcas contas, Darwin foi capaz de descarregar
risíveis projeções: “Se todos os elefantes alcançassem a
maturidade e se reproduzissem naturalmente, após um período
de 740 a 750 anos, haveria cerca de dezenove milhões de
elefantes vivos, descendentes do primeiro casal.” (27)
Darwin não possuia noção do que propunha; ou quiçá o
soubesse muito bem: “Todas as etapas e estruturas anatômicas
que Darwin julgou tão simples implicam, na verdade, processos
biológicos imensamente complicados que não podem ser dis-
farçados por retórica.” (28)
À despeito das impropriedades, apresentava tamanha
convicção que não titubeou em desenhar a horripilante trans-
formação do urso preto: “Não consigo ver nenhuma dificuldade
no fato de que uma raça de ursos, graças à seleção natural, se
torne cada vez mais aquática em sua estrutura e hábitos, com
uma goela cada vez maior, até que se produza uma criatura tão
monstruosa como a baleia.” (29)
Quanto às girafas, é bem possível que seu pescoço e suas
longas pernas se expliquem pelo uso prolongado, mas que
mecanismo poderia ter interferido? Qual o peso do hábito, per
si ? E porque as zebras ou os gnus, ou qualquer outro colega de
habitat, não desenvolveram estes membros? Ou como fulmina
Thuillier, “em termos mais explícitos, como acreditar que a
seleção possa “perceber” e conservar inovações que, em seu
“começo” só podem ser mínimas e pouco vantajosas para o
organismo”? (30)
Darwin e seus seguidores redirecionavam e adaptavam a
teoria na medida das objeções, mesmo ardil aplicado por Freud
logo em seguida:
“Quando a seleção natural não funcionava, era só referir-
se à ação direta das condições; quando esta não dava conta, ele
podia ainda evocar o uso e o não-uso das partes; e assim por

103
diante. Em outras palavras, a teoria darwiniana era irrefutável
(ou quase irrefutável).” (31)
“Quanto a Darwin, ele se arranjou por meio de labo-
riosas ‘negociações’ teóricas, manipulando como podia as
definições e os conceitos. O essencial é ver essas manobras
como elas eram, em seu contexto, com seus lados bons e seus
lados maus; e, depois disso, não procurar dissimulá -las com
elogios superficiais ao “gênio” darwineano.” (32)
Cabem, por último, as questões adicionais:
“Qual a relação exata entre a noção de “luta pela vida” e
a noção de “seleção natural”? Ou, ainda: a “persistência do
mais apto” não constituirá um círculo vicioso? De fato, um
indivíduo adaptado é um indivíduo que consegue sobreviver
nas condições dadas. Mas, então, afirmar que “os indivíduos
adaptados sobrevivem” é o mesmo que proferir uma tautologia:
“os indivíduos que sobrevivem, sobrevivem”!. Fórmula abso-
lutamente irrefutável, mas de poder explicativo duvidoso.”
(33)
Stuart Kaffman, do Santa Fé Institute, vai ao fulcro:
“Darwin e a evolução nos dominam, quaisquer que se-
jam as queixas dos cientistas criacionistas. Mas será correta
essa tese? Melhor, ainda, será adequada? Acredito que não.
Não é que Darwin tenha errado, mas sim, compreendido apenas
parte da verdade.” (34)
Servindo-se da parcial verdade tomada de Wallace e da
preconceituosa teoria mecanicista, intelectuais subseqüentes
redirecionaram os trilhos, sutilmente, a seus particularismos:
“Da Origem das Espécies apresenta uma modalidade de pensa-
mento que, no fim das contas, estava destinada a transformar a
lógica do conhecimento e, posteriormente, o tratamento da
moral, da política e da religião.” (35)
As primogênitas doutrinas dialético-evolucionistas ex-
trapolaram seu campo de abrangência, tornando-se ainda
maiores do que a matriz da física exatamente por carregarem

104
explicação às condutas humanas, com isso atingindo os cumes
da Psicologia, Psicanálise, Sociologia, Economia, do Direito,
da Ciência Política, da ética, do moral, enfim, tornadas oficinas
de mitos científico-filosóficos por tratarem-se de premissas
impossíveis de verificações; ou, como lembra Lucáks, “porque
a natureza da CONSCIÊNCIA humana envolve vontade e
escolha.” (36)

7. O macaco peralta

Se me perguntarem qual é a minha con-


vicção mais íntima sobre o nome que
será dado a este século, se será o
“século de ferro”, “do vapor” ou da
“eletricidade”, responderei sem hesitar
que será chamado o século da visão
mecanica da natureza, o século de
Darwin.
Ludwig Boltzmann (1)

A especificidade das ciências humanas, especialmente


N na política, o falso sentido dialético baconiano-dar-
wineano se prestou a extenso aplicativo. A cada avanço
científico, correspondia o atraso ao homem, reduzido e assu-
mido primata. As constatações político-científicas, colocados
no fogo antagônico de Hegel, diante da escassez de recursos
anunciada por David Ricardo, tendo a teoria da superpopulação
alardeada por Malthus, bem como suas predições para salvar
(?) a humanidade e o arsenal teórico justificante dos embates

105
pela sobrevivência, de Darwin e Marx, compuseram generosa
munição a todos os sentimentos bélicos, de Bismarck a Lênin,
de Mussolini a Hitler.
Herbert Spencer (1820-1903) e Albert Schäffle (2)
enriqueceram o comboio. Principles of Sociology (1. vol, 1876)
desenvolve um paralelo entre a organização e a evolução dos
organismos vivos e das sociedades; Social Statics fora publica-
do nove anos antes da Origem das Espécies, e The Man versus
State veio em 1884. Spencer mesclava a tradição racionalista
dos economistas clássicos com a versão moderna da natureza -
a evolução - (3) e, tal como Mill e Hegel, carreou ao libera-
lismo uma “inteligível confusão.” (4)
O extraordinário professor polonês Ludwig von Gumplo-
vicz, para completar, utilizou esses conceitos em Die Sociolo-
gische Staatsidee (1892). O próprio Estado seria um produto
social da evolução, aperfeiçoado pela competição e pela luta
nos embates tribais, firmando a hegemonia dos mais aptos, na
forma de evolução social também apregoada por Schäffle, (5)
ou seja, pela luta direta, clara consagração a Hegel.
As relações sociais passaram a ser observadas pela “tal”
lei de sobrevivência, entendida “lei do mais forte”. O pântano
teórico engolfou a sociologia:
“Depois de ter sido incorporada por Charles Darwin
como uma metáfora para ilustrar o mecanismo evolutivo das
espécies biológicas, foi reincorporada por sociólogos como
uma confirmação oferecida pela história natural dos processos
que atravessam a história humana.” (6)
R.Wallace denuncia e, com R.Young, demonstra a “cu-
riosa” simultaneidade, para não dizer vício de origem do traba-
lho de Darwin. Criticam o aspecto “sociológico” oferecida pela
armação: “Toda a teoria darwineana da luta pela existência é
simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da
teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da

106
teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da
teoria da população de Malthus.” (7)
O entendimento de que “da guerra da natureza, da fome,
da morte, forma-se o mais nobre objeto que somos capazes de
conceber: a produção de animais superiores” (8) o menos
avisado pensaria ser discurso nazista; porém, assim não o é.
Esta eloqüente frase foi proferida pelo parente símio, nosso
Charles. Acima dos conflitos, além do “bem” e do “mal”, pois,
a teoria darwineana incitou a presença decisiva e protetora do
paladino despótico. Paul Johnson descreve-nos a meritosa
contribuição sócio-política da nova ciência: “A noção de
Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento
chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto
para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo.” (9)
Robert Downs confirma: “Consciente ou inconscien-
temente o Mein Kampf, de Hitler, deve muito a Maquiavel,
Darwin, Marx, Mahan, Mackinder e Freud.” (10)
Deve também a Nietszche. Downs ainda esqueceu de
Mussolini, mentor da hipócrita Carta del Lavoro disseminada
na metade do globo. Em Os erros do socialismo - arrogância
fatal, F. Hayek condena a corruptela :
“O darwinismo social está errado, mas a intensa aversão
que provoca hoje é também devida em parte a seu conflito com
a arrogância fatal de que o homem seria capaz de moldar o
mundo ao seu redor de acordo com seus desejos.” (11)
Ken Wilber corrobora: “A teoria científica ortodoxa da
evolução parece correta quanto ao “quê” da evolução, mas é
profundamente reducionista e/ou contraditória quanto ao
“como” (e porquê) da evolução.” (12)
As palavras de Dorion Sagan poderiam ser a rebatida de
Locke:
“A seguir, a visão da evolução como uma crônica com-
petição sangrenta entre indivíduos e as espécies, um desvir-
tuamento popular da noção de Darwin da “sobrevivência dos

107
mais aptos”, dissolve-se diante de uma nova visão de co-
operação contínua, forte interação e dependência mútua entre
as formas de vida. A vida não conquistou o globo pelo com-
bate, mas por um entrelaçamento. As formas de vida mul-
tiplicaram-se e tornaram-se complexas cooptando outras, e não
apenas matando-as.” (13)
A idéia cerne de Darwin, Lamarck e Malthus é furada.
Que dirá seu transplante à sociologia:
“Não é a adaptação bem sucedida a um dado ambiente
que constitui o mais notável formador da vida, mas a teia de
processos ecológicos em um sistema ambiental que forma os
padrões psicológicos e comportamentais, os quais podem
apoiar-se na genética. A evolução acontece não como resposta
às exigências da sobrevivência, mas como um jogo criativo e
necessidade cooperativa de um universo todo ele evolutivo.”
(14)
O cientista russo Príncipe Peter Alexeyeevich Kropotkin
(1842-1912), ex-integrante do seleto Corpo de Pagens do Czar
Nicolau I, não foi ao paraíso tropical de Galápagos; foi na
Sibéria que ele viu as espécies bem sucedidas preferirem a
cooperação e, por isso, provavelmente foi o primeiro a “fal-
sear” a popular teoria. Longe de ser desenvolvida através da
competição, a seleção natural procura um meio de evitá-la. O
livro Auxílio Mútuo, contudo, não continha serventia praxe-
ológica.
Andrew Smith interpôs outras nuances de falseabi-
lidade à presunção darwinista:
“A teoria de Darwin foi falha. Não há evidência direta
para a seleção natural como um processo evolucionário. Nin-
guém jamais observou um organismo evoluir, sob condiç ões
naturais, para outra forma de organismo. Que formas inter-
mediárias concebíveis poderiam ter levado à aparição do olho?
Como poderia a Seleção Natural ter dado origem à aparição de
pássaros? Quando um animal arrisca sua vida para salvar um

108
companheiro, suas possibilidades de sobrevivência não são
aumentadas.” (15)
A questão da genealogia é por demais intrincada para ser
afetada ou explicada completamente pelo darwinismo e seus
satélites:
“A pergunta sobre como a vida funciona não era do tipo
que podia ser respondida por Darwin, ou seus contempo-
râneaos. Eles sabiam que os olhos são feitos para ver – mas
como, exatamente, eles vêem? De que modo o sangue coagula?
De que maneira o corpo combate a doença?” (16)
“Nenhum dos dois pontos de partida de Darwin – a
origem da vida e a origem da visão – foi explicado por sua
teoria. Darwin nunca imaginou a complexidade estranhamente
profunda que existe até nos pontos mais básicos da vida” (17)
Para Thomas Nagel, o que resta não oferece a menor
segurança:
“Se pudéssemos aplicar as idéias de Darwin para expli-
car a nossa racionalidade, teríamos de admitir que essas nada
mais seriam do que um produto efêmero da história e da
evolução biológica, o que solaparia sua confiabilidade como
instrumento de explicação.” (18)
Gonzaguè de Reynold cita o episódio do descobrimento
do homo faber de Neandertal, quando ficou constatado não ser
este o antepassado do homo sapiens:
“Estes descobrimentos tiveram a virtude de romper o
bonito encadeamento da evolução progressiva. O neander-
talense é, pois, início de um fim, não um começo; foi um tipo
humano em regressão ou - como diz Marcelliun Boule - um
ramo murcho. Com isto nos achamos com duas hipóteses equi-
valentes: a do animal em progresso e a do homem em
regressão. Dito de outra maneira: ou os homens fósseis des-
cendem de um primeiro antepassado animalóide, com respeito
ao qual progridem, ou descendem de um homem parecido com
o atual, com respeito ao qual retrocedem.” (19)

109
Neste caso poderiam estar certos os macaquinhos do
seriado? Nem assim. Em julho de 2002, no deserto do Chade,
na África, foi encontrado o fóssil Sahelanthropus tchadensis. O
francês Michel Brunet, da Universidade de Poitiers foi taxa-
tivo: “Este é o mais antigo hominídio. Como ele tem sete
milhões de anos, a divergência entre humanos e chipanzés deve
ser ainda mais antiga do que nós achávamos.” (20)
O mais novo achado fóssil, um crânio de 7 milhões de
anos, sugere ao sul-africano Philip Vallentine Tobias, 76 acom-
panhar o alemão Max Westnhofer e o britânico Alister Hardy.
(21) Nossos ancestrais podem ter vindo da água, não das
árvores, através da rara espécie de acquamacaco.
O ex-positivista Pontes de Miranda abandonou a teoria
porque ela “não se preocupou com a questão de saber de onde
vêm as variações individuais que produzem a seleção natural.
A mentalidade contemporânea já o deixou atrás, no meio da
grande estrada. Tem novas exigências; e possui dados para
criticar a teoria darwínica e engastá-la no conjunto das leis
universais.” (22)
Abundam questionamentos: “A teoria da evolução, de
Darwin, de mutação acidental e de sobrevivência dos mais
capazes, inevitavelmente tem se mostrado inadequada para res-
ponder a um grande número de observações biológicas.” (23)
Evoluções não são apenas conseqüências de grosseiras
dialéticas ou antagonismos, mas de interações externas, inter-
nas, longínquas, encostadas, mais ou menos oblíquas, de pas-
sadas, presentes e futuras:
“Por causa de suas interações, dentro dos campos de suas
recíprocas influências, as micropartículas se organizam em
grupos, com constituições definidas, e que se chamam átomos.
Por causa de suas interações, dentro dos campos de suas recí-
procas influências, os átomos, também, se organizam em
grupos, com constituições definidas, e que se chamam molé-
culas. Um corpo é uma associação de moléculas. A infinita

110
variedade de moléculas é o que explica a infinita variedade de
corpos. Combinados de diversas maneiras, os elementos quí-
micos produzem a variedade infinita do Universo. Os corpos
são associações de uma enorme multidão de átomos. Cada
corpo tem suas propriedades. A causa dessas propriedades está
nas propriedades dos átomos e das moléculas que os cons-
tituem e nas propriedades resultantes das combinações de tais
átomos e moléculas. As próprias faculdades da vida têm sua
causa em complexas combinações atômicas. Pois todo o ser
vivo é composto de átomos, dos mesmos átomos que cons-
tituem o mundo mineral. Por causa de suas interações, dentro
dos campos de suas recíprocas influências, moléculas de ácidos
nucléicos e de aminoácidos se organizam em grupos, com
constituições definidas. Estes grupos se chamam células.
Dentro do núcleo de cada célula, nucleotídios se dispõem em
filamentos. Estes filamentos foram organizados ao sabor de
bilhões de anos de experiência. Constituem o ácido doso-
xirribonucléico, o DNA, que é, ao mesmo tempo, o patrimônio
genético da célula (a memória celular) e o centro de seu
sistema cibernético governante. O primeiro fundamento das
tábuas morais, dos sistemas axiológicos de referência, dos usos
e costumes, das ordenações jurídicas se encontra nos elementos
quânticos, de que se compõem as moléculas do ácido nucleico,
no núcleo das células humanas.” (24)
O homem faz-se a partir das informações transportadas
pelo DNA; todavia , no componente, jamais há informação
sobre o futuro, pelas óbvias razões: o futuro faz-se somente a
partir da transmissão. E acontece pela interferência de tantas
variáveis quantas são as estrelas. O passado também faz-se por
conjeturas não assimiladas. Vejamos a possibilidade da clássica
predisposição passado/futuro em se tratando de genes:
“A própria genética solapou com severidade o neodar-
winismo, que depende do DNA como o mais importante
mecanismo para estabilidade e transformação evolucionárias.

111
Descobertas recentes mostram que os próprios genes tem uma
natureza fluida ou mutável. Na bactéria, o DNA pula para
frente e para trás dos cromossomos, expandindo-se e
contraindo-se, de modo que ( o próprio conceito de gen agora
exige revisão) o Prêmio Nobel e descobridor da Vitamina C,
Albert Szent-Gyorgi argumenta que a célula na verdade
realimenta o DNA com informações e muda suas instruções.
Em outras palavras, o DNA parece ser afetado por algumas
próprias coisas que se supunha que ele controlasse. Isso levou
Waddington e outros biólogos a sugerirem que os genes na
verdade interagem com o ambiente.” (25)
Como pinçar a lógica necessária neste universo tão
amplo e atemporal para sedimentar tão ousada e predeter-
minada teoria? A sorte, de todo modo, fora lançada. Na rota
riscada por Bacon, Descartes, Newton, Hobbes, Rousseau,
Bentham, Hegel, Mill, Ricardo, Comte, Sorel, Lamarck, Dar-
win e em seguida Engels e Marx, criativas equações socio-
lógicas, econômicas e legislativas passaram a “ordenar”, cada
vez com maior ênfase e precisão, os fatos sociais. A maioria
dos liberais já tinha claramente identificado que a manobra de
transferência de um poder (real) para outro (do povo), como
queriam Rousseau, Bentham e seus cometas, não buscava a
liberdade, mas sim a novo absolutismo. De fato, as formulações
tecno-políticas embasadas no “utilitarismo” passaram a sobre-
pujar, até mesmo na Inglaterra, o “utópico” e “primitivo”
liberalismo, enquanto líderes comunitários exibiam ceticismo a
caminhos particulares. O trem da alienação desceu a ribanceira,
desenfreada carreira. Com a detectada “força-maior” biológico-
determinista encaixada no estudo de todas as ciências humanas.
No parâmetro da nova moda, o universo social passou a ser
descrito em ordem uniformemente acelerada. A esquerda “fes-
tiva”, por seu maior porta-voz, dedicou a edição inglesa de O
Capital ao autor da Origem das espécies: “O livro de Darwin é

112
muito importante e me convém como base da luta histórica das
classes.” (26)
Darwin recusou a homenagem, simplesmente por não
entender o que teria a Seleção Natural a ver com o Socialismo.
Na verdade era uma falsa modéstia. A expressão “pode-mos
lançar um olhar profético ao futuro e ver que as espécies
pertencentes aos grupos maiores e dominantes dentro de cada
classe é que finalmente prevalecerão e darão origens a novas
espécies dominantes” traduz a que se opõe o discurso dialé -
tico-comunista, mas é de Darwin a autoria. (27)
Ambas teorias renegam a estória de Adão e Eva; e, com
a estória interpretada pelos dois na “sobrevivência do mais
forte”, entendida a “força” na forma mais bruta, mais tosca,
mais primata da ciência física, Marx montou a sua. Reafirma
Miguel Reale: “Alguns postulados fundamentais caracterizam a
filosofia marxista: o primado do real sobre o ideal, a admissão
da teoria evolucionista de Darwin, a concepção materialista da
história, a dialética hegeliana revisada.” (28)
(Marx tanto se valeu do antropofágico curso que Turati e
Kautsky o identificaram como o “Darwin da ciência social”.)
(29)
A partir da direção do patrono comunista, nova leva
embarcou no trem. Joseph Needham, em 1943, foi um dos
arrastados:
“A nova ordem mundial de justiça social e da cama-
radagem, o estado racional e sem classes, não é um desvairado
sonho idealista, mas uma extrapolação lógica a partir de todo o
curso da evolução, que não tem menos autoridade do que
aquela que o precedeu é portanto de todas as crenças a mais
racional.” (30)
Needham cometeu redondo engano, teórico e prático.
Não se trata de programação ordenativa, de tática, de imposi-
ção: “Em resumo, a evolução é um desdobrar-se de uma ordem
interna existente. Mas, por ser ela inteligente e não um pro-

113
cesso mecânico, há espaço aberto para variações criativas e
respostas individuais às circunstâncias ambientais.” (31)
Testemunhos são constantes:
“Apesar de bastante atraente, a teoria de Lamarck foi
praticamente abandonada pela ciência atual. Como demonstrou
August Weismann (1834-1914), os caracteres adquiridos não
podem ser transmitidos hereditariamente, porquanto não afetam
o material genético. As mudanças surgem como conseqüência
de variações de plasma genético. Elas podem ocorrer por acaso,
espontaneamente, ou devido a influências físicas (exemplo, as
radiações) e químicas, mas apenas quando atuando diretamente
sobre a estrutura do material genético.” (32)
Hayek ainda assegura:
“A evolução cultural não é determinada nem genetica-
mente, nem de qualquer outra forma e sua conseqüência é a
diversidade e não a uniformidade. Filósofos como Marx e Au-
gusto Comte que afirmaram que nossos estudos podem levar a
leis de evolução que permitem prever desdobramentos futuros
inevitáveis estão errados.” (33)
Ainda bem. Se tivéssemos mesmo uma evolução a partir
do marxismo ou do fascismo, poderíamos ter o bizarro:
“Aprisionado por um sistema totalitário em que o Estado
regularia sua vida e atividade dia por dia, o ser humano iria
perdendo pouco a pouco o gosto pelo risco, o espírito de inicia -
tiva, o sentido e a necessidade de independência pessoal. Ao
perpetuar-se este sistema, produziria por força dos aconte-
cimentos uma atrofia do cérebro que, por sua vez, atuaria sobre
a anatomia; e, ao cabo desta evolução regressiva, chegar-se-ia a
obter um tipo humano degenerado: de tipo bestial.” (34)
Sempre há quem reverencie a certeza darwineana, o
mito, até porque, evidentemente, todos sofremos processos
evolutivos e adaptativos. É mesmo verossímel que não sejamos
frutos da concepção simplista, ingênua, romântica, talvez
metafórica, de Adão e Eva. É certo que nossos antepassados,

114
por serem silvícolas, possuiam características compatíveis com
símios. Também é correta a percepção da adaptabilidade, em-
bora este fenômeno seja integrativo. Por fim, mister lembrar
que ainda não surgiu outra teoria mais consistente, para
substituí-la. Não é de se admirar, pois, que as coincidências
elucubradas tenham atraído tantos pesquisadores, até de van-
guarda: “É irônico que, em nome da defesa da ciência, uma
crítica científica incisiva da seleção natural tenha sido posta de
lado.” (35)
O notável contemporâneo S. Hawking, por exemplo, ex-
pressa divagação que excede sua astrofísica para aventurar sua
metafísica, arriscando um conceito de cunhagem filosófica e
futurológica, embora ele próprio não o repute científico. Sua
especulação talvez se origine mais na admiração da perso-
nalidade citada, certamente desconhecendo aquele curriculum,
ou pela facilidade de assimilação de uma teoria tão proliferada,
do que pela consistência teórica da produção:
“E se de fato há uma teoria completa e unificada, ela pro-
vavelmente determinará também nossas ações. Assim, a pró-
pria teoria determinaria o resultado de nossa busca neste
sentido! E por que determinaria que chegássemos às conclusões
certas a partir da evidência? Ela não poderia igualmente deter-
minar que esboçássemos as conclusões erradas? Ou que não
atingíssemos quaisquer conclusões? A única resposta que posso
dar a esse problema é baseada no princípio da seleção natural
de Darwin.” (36)
Sem querermos estabelecer polêmica, que não é o caso,
até pela discrepância de status, ousamos a discordância. Como
o notável cientista físico é pródigo em afirmar, não existem
verdades absolutas, muito menos previsíveis, como lastimou
seu colega Richard Feynman:
“Incomoda-me sempre que, segundo as leis tal como as
conhecemos hoje, seja necessário a uma máquina de calcular
um número infinito de operações lógicas para descobrir o que é

115
que se passa numa região arbitrariamente pequena do espaço,
ao longo de um intervalo de tempo arbitrariamente curto. Como
é que tudo isso pode acontecer num espaço tão pequeno?
Porque é que é preciso uma quantidade infinita de lógica para
descobrir o que é que vai acontecer a determinada zona de
espaço/tempo?” (37)
A hipótese darwineana, ao postular para si tão exclu-
dente caminho, mostra desconsiderar sutis influências, porque
permanece a girar, tão somente, no eixo dialético que propõe,
onde adversidades se digladiam e nunca se completam. Jamais
dever-se-ia levar a presunção da vitória do mais apto como
conquista científica:
“Nem a física de Newton nem a biologia de Darwin
disseram muito que possa contribuir para um quadro coerente
de nós mesmos dentro do Universo. A biologia darwinista, quer
em sua versão original bruta é determinista (a sobrevivência do
mais forte), quer na versão neodarwinista com ênfase na
evolução aleatória tem pouco a nos dizer acerca do porque de
estarmos aqui, de como nos relacionamos com o surgimento da
realidade material e muito menos a cerca do propósito e signi-
ficado de qualquer evolução da consciê ncia além da conclusão
muito simples e utilitária de que a consciência parece “conferir
alguma vantagem evolutiva”. (38)
Hopkins preferiu ser absolutamente enfático: “A teoria
do senhor Darwin não consegue explicar nada, pois fica na
impossibilidade de atribuir uma relação necessária entre os fe-
nômenos e as causas às quais ela os submete.” (39)
Samuel Haughton recorreu a ironia: “Se um químico ou
um mineralogista qualquer se permitisse levar adiante uma
teoria geológica (tão medíocre) sobre a origem do salitre e da
cal, seus colegas o tomariam por um alienado.” (40)
Lord Kelvin (1824-1907), também físico, refutou-a dire-
tamente, como “completa futilidade da filosofia de Darwin.”
(41)

116
Por fim, o próprio colega “quântico” Erwin Schrödinger
se fez enfático:
“Hoje sabemos em definitivo que Darwin estava errado
ao considerar as variações pequenas, contínuas e acidentais que
ocorrem necessariamente mesmo nas populações mais ho-
mogêneas como o material sobre o qual atua sua seleção
natural.” (42)
Não seria a primeira vez que Hawking viria a público
equivocadamente. Em 91, Kip Thorne, do Instituto de Tec-
nologia da Califórnia, provou, ao cético e agora devedor de
cem dólares proveniente da aposta perdida: um fenômeno
chamado “singularidade nua” ocorre dentro dos buracos ne-
gros. (43) Nosso astrofísico negava a possibilidade, o que lhe
custou a nota. Por fim, convém lembrar: o renomado autor do
best-seller Uma Breve História do Tempo, é portador de sérias
deficiências físicas. Pelas leis darwineanas, na selva da vida ele
próprio já teria sucumbido. Vejamos, pois, uma hipótese
diversa, a da luminosa russa Madame Blavatsky:
“Há três vertentes de evolução, separadas mas entrela -
çadas, no esquema terrestre das coisas: a espiritual, a intelec-
tual e a física, cada qual com suas próprias regras ou leis
internas. As três vertentes são representadas na constituição do
homem, no microcosmo e no macrocosmo (a própria natureza)
e é isso que faz de nos os seres complexos que somos.” (44)
O professor Ernest B. Trattner Einstein, um estudo - A
Teoria da Relatividade, foi categórico: “Meia dúzia de símios,
postos a martelar numa máquina de escrever durante milhões
de anos, não seriam capazes de reproduzir uma só frase dos
livros de Einstein.” (45)
No homem, felizmente, reside essa notável diferença.
Algumas são explicitadas em frases desses livros de Einstein,
coisa que nem chimpanzé evoluído pode entender:
“A memória, a capacidade de fazer novas combinações e
o dom da comunicação oral permitiram, entre os seres

117
humanos, avanços que não são ditados por necessidades
biológicas. Tais avanços manifestam-se em tradições, institui-
ções e organizações; na literatura; nas realizações científicas e
de engenharia; em obras de arte. Isso explica como é possível
que, em certo sentido, o homem possa influenciar sua vida
através de sua própria conduta, e que o pensamento consciente
e a vontade possa desempenhar um papel nesse processo.” (46)
Hoje a própria cátedra está em cheque: “Há uma grande
lacuna na teoria neodarwiniana da evolução, e acreditamos que
deva ser de tal natureza que não possa ser conciliada com a
concepção corrente da biologia.” (47)
“Concluímos – inesperadamente – que há poucas provas
que sustentem a teoria neodarwineada; seus alicerces teóricos
são fracos, assim como as evidências experimentais que a a-
poiam.” (48)
Talvez porque só se preocupassem com a “origem”,
portanto atendo-se exclusivamente a um passado presumido,
fragmentado, predisposto por fatos e objetos parcialmente
identificados, mal coletados, pior interpretados e jamais resol-
vidos, é que Spencer, Darwin, Malthus, Ricardo, Rousseau,
Hegel, Comte, Mill, Bentham, Marx, Sorel e Freud não
conjeturaram a espetacular reversão científica que adviria com
a quântica e com a relatividade.
A ciência e a sociedade de ponta evoluem por “somalé -
ticas”, em vez das necessariamente preconceituosas, bitoladas,
obsoletas e destrutivas “dialéticas”, sejam elas de caráter
histórico, físico, biológico, econômico, político, ético ou social.
Quanto aos macaquinhos, que se calem. Embora goste-
mos de bananas, não precisamos disputar cipós!

118
8. O ardil materialista

O marxismo introduziu dois axiomas:


o de que a sociedade está dividida em
classes cujos interesses estão em eter-
no conflito; e o de que os interesses
do proletariado – só realizáveis atra-
vés da luta de classes – exigem a
nacionalização dos meios de produ-
ção, de acordo com seus próprios
interesses e em oposição aos interes-
ses de outras classes.
Ludwig von Mises (1)

IANTE de tantos “padrinhos” intelectuais, e da con-


D turbação instalada, Karl Henrich Marx (1818-1883) e
Friederich Engels (1820-1895) foram acolhidos com hospita-
lidade ou indiferença, jamais com hostilidade. O Reino Unido,
no respeito ao direito de expressão, permite até que estran-
geiros se arvorem em palpites, mesmo sendo eles incisivos na
conclamação à luta de classes, à aniquilação da propriedade, a
transformar o anfitrião num “reboliço”.
Filho de advogado e conselheiro da justiça, o descen-
dente judeu nasceu em Treves, capital da província alemã da
Renânia; o companheiro, em Bermen, também na Renânia.
Manchester hospedou a família deste e ali, já na juventude, ele
pôde testemunhar o sofrimento operário nas ações do pai,
capitão de indústria. Algoz, tirano, o velho Engels influenciou
diretamente a obsessão; e o pequenino Friederich saiu a
condenar, de plano, o sistema. Em 1845 publicou o que
entendia como A situação da classe Operária na Inglaterra e,
já abraçado em Marx, fundava uma associação “internacional”
de operários, a Primeira Internacional Comunista. A parceria

119
gerou A sagrada família, também de 1845, A ideologia alemã
(1845-46) e o Manifesto do Partido Comunista (1848), tudo
embalado na Internacional.
Na década posterior, trabalhando desligado de Marx, En-
gels aprimorou sua percepção. Destacam-se Contribuição à
Crítica da Economia Política (1859), A Origem da família, da
propriedade privada e do Estado (1884), o trabalho de maior
sucesso, e Anti-Dühring (1878), onde desenvolveu um “estudo”
sobre o papel da violência na história. Esta menção forjou,
curiosamente, o ideal do artífice da brutalidade, Georges Sorel
e seu protagonista maior, o fascista Mussolini, arquinimigo
marxista.
O comunismo ideal de Engels, por bizarro, beirava o li-
beral-anárquico, autogovernado, administrado sem centro nem
hierarquia, no respeito à ética e ao direito natural, nada mais
nada menos do que o “abominável” laissez-faire:
“Sem soldados, gendarmes e policiais; sem nobres, rei,
governadores, prefeitos ou juízes; sem prisões, processos, tudo
segue seu curso normal. Todos os litígios e disputas são
decididos pela coletividade dos que tem interesse no problema,
pela genes ou pela tribo, ou então gentes singulares entre si.
Embora os assuntos comuns fossem bem mais numerosos do
que hoje (a administração comum a uma série de famílias, é
comunal; o solo é propriedade da tribo - só as pequenas hortas
são confiadas provisoriamente às administrações domésticas),
não era necessário manter nem à sombra do nosso vasto e
complicado aparelho administrativo. Os interessados decidem
e, na maior parte dos casos, o costume secular já regulamentou
tudo. Não pode haver pobres e necessitados: a administração
comunal e a genes conhecem suas obrigações para com os
idosos, os doentes e os órfãos de guerra.Todos são livres e
iguais, inclusive as mulheres.” (2)
Quanto a Marx, tolerou por muito tempo a Grã-
Bretanha sua presença, corrido que já fora da Alemanha, da

120
França por duas vezes e da Bélgica. Na ilha, ele pode bisbi-
lhotar à vontade: “Foi isso que Marx fez quando passou de-
zessete anos estudando nos arquivos ingleses: examinou todos
os “materiais” disponíveis para montar seu “método de inves-
tigação”. (3)
Dos materiais disponíveis, os de Adam Smith, Mal-
thus, Ricardo e até Darwin arrebatar-lhe-iam a atenção. As
provas trazidas pelo turista do Beagle foram incorporadas para
emprestar respeitabilidade à sua elucubração, embora nem
mesmo o viajante entendesse e até advertisse - sua tese “nada
tinha a ver com Economia”. (E muito menos com o Direito)
Engels se encarregou de elucidar: “assim como Darwin
descobriu a lei da evolução na natureza orgânica, do mesmo
modo Marx descobriu a lei da evolução na história humana.”
(4)
Parafraseando Kepler no estudo das mecanicistas leis
interplanetárias e percorrendo a picada de Newton, Comte e
Darwin, Karl transplantou-os a seu tempo e lugar, já no
prefácio de O capital: “O alvo final desta obra é expor clara-
mente a lei do movimento na sociedade moderna.” (5)
Agarrado na obsessão de ver o mundo “justamente
dividido” pela interveniência não se sabe de quem, pois o
Estado era execrado, e Deus desconsiderado, o “utilitarismo”
britânico de Bentham e Mill foi “totalmente útil”, até porque
cúmulo do pensamento desde Maquiavel e Rousseau. Contrato
social vinha sendo difundido pela Europa inteira, “com mais de
meio milhão de cópias espalhadas a partir de 1820. A obra se
punha científica, aprimoramento das constatações de Hobbes,
mas atingia o povo pelo seu romantismo, pela idéia de
libertação dos grilhões das dinastias.” (6)
Comprometida esta promessa e robustecido pelo primo
soro darwiniano, o marxismo nasceu e cresceu considerado
“cientificamente democrático”, “avanço da ciência política”,
pretensão expressada pela famosa frase que abre o 18 Brumá-

121
rio: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem a
partir de elementos livremente escolhidos, em circunstâncias
escolhidas por eles, mas em circunstâncias que eles encontram
imediatamente diante de si dadas e herdadas do passado.” (7)
A teoria marxista lateja em falsa base científic a,
denunciada desde a década de 1920, nas pioneiras, mas atualís-
*
simas acusações de Rosseli e Hayek:
“Toda a previsão, sendo uma mera projeção das condi-
ções atuais, que certamente se alterarão, é em princípio errada.
No melhor dos casos o leitor fiel da “bússula” do materialismo
histórico conseguirá traçar uma rota virtual, não uma rota real”
(8)
“Quando o próprio mundo físico ainda não foi comple -
tamente sistematizado, pressupor ou “descobrir” um sistema na
História, sem os meios e a liberdade que a vida toma e não
pensar nem como cientista nem como historiador. É de fato
uma tentativa de remover dificuldade da história ao preço da
destruição do seu único mérito e interesse.” (9)
À base popular, contudo, não cabia questionar tamanho
edifício; além do mais, o interior da maquete mostrava a
fartura. Os trabalhadores se prestaram ao orquestrado intento.
Alexis de Tocqueville pode ser cientista e profeta. Os infor-
tunados passageiros, de todas as estações do globo, portadores
das fichas de embarque vermelhas, cunhadas de foice e
martelo, embarcaram, com suas valises repletas de ideais e
interesses, com destino ao além, em trágicos destinos, nefastos
desígnios, insanos, medíocres e cruéis momentos propor-
cionados pelo maior e mais caro ardil, para não dizer crime, da
história da civilização, até pelo número de envolvidos e
vitimados.

*
Carlo Rosseli viveu apenas 38 anos, assassinado em Bagnoles sur Ome, França,
pelos asseclas de Mussolini, não de Stalin, em 1937.

122
A calda letal arrastou os povos para o protetorado social,
para baixo da asa da grande galinha. De um lado, a galinha de
proveta, temida adversária da Nação - a Internacional Socia-
lista - bomba de efeito mundial: os estados deveriam ser domi-
nados por “elites de trabalhadores” que controlariam todos os
meios de produção, independentemente de quaisquer fronteiras
nacionais, ao tempo em que preparariam o suicídio ou as-
sassinato dele, Estado, para a obrigatória universalidade
comunista. De outro, o prenúncio terrorista servia a que falsos
ou verdadeiros heróis nacionalistas assaltassem o comando
escudados de razão. Políticos totalitários sabiam que o trem do
romantismo histórico atraia imprescindíveis seguidores na
categoria de defensores da Pátria. Exigiam que seu povo, ao
invés de sofrer convulsões internas advindas de choques de
empregados contra patrões, contribuísse para as lutas externas,
Nação contra Nação. Ambas ideologias eram propaladas como
necessárias e, principalmente, interessantes; e aos olhos da
ingênua população se mostravam democráticas, justas, sociais.
Para atingir essas inatingíveis virtudes, tome lutas, agora
pela Europa inteira - alternâncias de ditaduras entremeadas com
escassas democracias de variada índole, despotismos e arre-
medos, predispondo antagonismos domésticos e internacionais,
os últimos também comprometendo os movimentos internos -
tudo ainda mais lamentável pelas comparações:
“A Europa viu, durante séculos, muitos princípios ideo-
lógicos opostos na sua disputa pelo governo dos povos e viu,
por algumas vezes, recusarem-se estes a toda a organização
social. Tal espetáculo não se encontra, nem na Grécia, nem na
Itália antigas; a sua história não começou por conflitos e as
revelações só mais tarde ali surgiram. Entre estas populações, a
sociedade formou-se pouco a pouco, lenta e gradualmente,
passando da família à tribo e da tribo à cidade, mas sempre sem
lutas nem convulsões. A realeza estabeleceu-se, muito natu-
ralmente, primeiro na família e só depois mais tarde na cidade.

123
Não foi ideada pela ambição de alguns; nasceu de necessidade
manifestamente coletiva. Durante longos séculos, exerceu-se
pacífica, honrada e obedecida. Os reis não tinham precisão da
força material; não tinham exército nem finanças, mas a sua
autoridade, sustentada por crenças possantes e cultivadas no
comando da alma, mantinha-se santa e inviolável.” (10)
Ah, doce época! Nem Maquiavel, muito menos Marx se
esperava, mas já na confusão de Paris (1848) todos se reuniam
à memória do padrinho Rousseau: “ A palavra virtude significa
força; não há virtude sem combate, sem vitória.” (11)
Lá estava o astuto com Engels a oferecer ao mundo o
célebre Manifesto Comunista. O companheiro do Quartier
Latin, Bakunin, presta o testemunho:
“Eu e Marx éramos amigos naquela época e nos víamos
com frequência. Eu o respeitava pela sua sabedoria e pela
dedicação séria e apaixonada, ainda que misturada a uma certa
dose de vaidade, à causa do proletariado. Costumava ouvir
atentamente sua conversa inteligente e instrutiva, mas não
havia intimidade entre nós. Nossos temperamentos não se
adaptavam: ele me chamava de idealista sentimental - e estava
certo. Eu o chamava de vaidoso, traiçoeiro, e ardiloso - e
também estava certo!” (12)
Marx sabia mistificar: “A dialética de Hegel, revista e
corrigida por Marx, pretende impor uma perfeita transparência
no domínio humano, capaz de tudo explicar.” (13)
Japiassú critica a técnica empregada: “O gênio de Marx
e a lucidez de suas análises nada ganham com tais malabaris-
mos verbais.” (14)
No tempo de Ricardo as circunstâncias econômicas
giravam no domínio da terra. A preocupação recaia na eventual
escassez de alimentos, somada à necessidade de transportes,
posto a massificação das cidades pelas novas fábricas. David
Ricardo, todavia, enfatizou a peculiaridade de seu sistema de
averiguação, próprio apenas ao seu país, até pela restrita forma-

124
ção geográfica, não recomendando aplicar os mesmos métodos
a estádios diferentes, num brilho de prudência. Karl Marx, o
tomou como linha, juntou o que lhe interessava e deitou-se a
montar seu esquema:
“Tinha Marx um mestre, então? Sim. A verdadeira
compreensão de sua economia começa quando se reconhece
que, como teórico, Marx foi discípulo de Ricardo, mas também
no sentido muito mais significativo de que, com Ricardo,
aprendera a teorizar. Marx sempre usou os métodos de Ricardo
e cada problema teórico se lhe apresentava revestido das difi-
culdades que lhe ocorriam em seu profundo estudo de Ricardo
e de suas sugestões, para investigações posteriores, que encon-
trava nos escritos do mestre. O próprio Marx reconhecia isto,
em parte, embora, naturalmente, não admitisse que sua atitude
para falar, diversas vezes, em excesso de população e de
população excedente e, novamente, da mecanização que cria
excesso de populações e vai então para casa tentar resolver o
problema.” (15)
Bohm-Mawerk apontou a esperteza de Marx: “Marx
agravou o erro de Ricardo e sua falácia consiste numa seleção
tendenciosa de evidências.” (16)
Marx agravou o erro de muitos, começando pelo de
Bacon - “pai do materialismo inglês”. (17) Ele aprovou a
originalidade baconiana, ampliando-a na translação ao campo
social, pela dialética de Hegel. Numa das Teses sobre Feuer-
bach propôs:
“Os filósofos têm se limitado a interpretar o mundo de
maneiras diversas; trata-se de transformá-lo.”(18) “O ser que
já iniciou a apropriação da natureza por meio do trabalho de
suas mãos, do intelecto e da fantasia, jamais deixará de fazê-lo
e, após cada conquista, vislumbra já seu próximo passo.” (19)
O próximo passo é para trás, impulso de coice. O
leitmotiv marxista, nítido e pretensamente viável, requer a
quebra da tradição em todas as formas, notadamente as mani-

125
festações patrióticas com o conseqüente torpedeamento da his-
tória, para daí imporem-se as alterações patrimoniais. William
Henry Chamberlin o arrasa:
“O método do materialismo histórico de Marx não
consegue explicar as óbvias diferenças entre povos que se
encontram na mesma fase de desenvolvimento econômico. Não
toma em consideração fatores vitais como a raça, a religião e a
nacionalidade. Não leva em conta a imensa importância da
personalidade humana. É duvidoso que um único aconteci-
mento histórico possa ser corretamente interpretado de acordo
com essa teoria.” (20)
A égide exata chegava, pois, ao cúmulo filosófico, in-
sensatez materialista extremada na analogia do relógio dado
corda: “O socialismo científico abordou a sociedade da mesma
forma que Newton abordou o comportamento dos corpos
celestes, investigando suas imutáveis “leis de movimento”. (21)
A dimensão, dogmática, limitada, determinista porque
mecanicista, parcial e preconceituosa, trazia à esfera sócio-
política o código matemático absoluto, pretensão que fez tantos
naufragarem no mar das ilusões. Tal qual Galileu, Descartes,
Bacon, Copérnico e Newton, Marx examinou equi-vocados
princípios às “matemáticas” conclusões. Na tela, a medida
exata do capital representado pelo dinheiro e pelos contados
bens materiais:
“Marx, enquanto materialista, enquanto alguém que
advoga que toda a realidade é matéria, porém não apenas isto,
que toda a realidade e matéria obedece a leis que são absolu-
tamente determinadas não apenas é materialista, como também
determinista, isto é, crê ser possível compreender a realidade de
tal forma que, uma vez descoberta suas leis, poderíamos
antecipar seu futuro desenvolvimento e ‘O Capital’ tem a
pretensão de ser a obra que descreve o desenvolvimento das
leis econômicas da sociedade moderna.” (22)

126
A produção foi negligente com inúmeras outras impor-
tantes peculiaridades da vida. Sua montagem é exclusivamente
“ideológica”:
“Sintetizando, posso dizer que a conclusão fundamental
dos estudiosos do campo quântico é que a matéria -prima do
mundo não é material, as coisas essenciais do universo são não-
coisas. Toda a nossa tecnologia baseia -se nesse fato, que faz
cair por terra a atual superstição do materialismo.” (23)
Talvez por isso Marx tenha desistido de completar O
Capital, depois de dezessete anos de trabalho, fato de incomen-
surável importância, praticamente desconhecido: “Joachim
Reig (Introdução à tradução espanhola de E. von Bohm Bawerk
sobre a teoria da exploração de Marx,1976) afirma que Marx,
depois de tomar conhecimento das obras de Jevons e Menger,
abandonou “O Capital”. (24)
O Primeiro-Ministro da Espanha, Felipe Gonzalez,
comunga da idéia: “Hoje, vivo e pensador inteligente, Karl
Marx não seria marxista. As esquerdas tem de conviver com a
realidade de mercado e abandonar o radicalismo.” (25)
Nem hoje, nem quando vivia: “Talvez por isso Marx
tenha declarado, no fim da vida: “Eu não sou marxista”. (26)
No início da vida, ele e Engels tratavam O Capital como
“livro maldito”. (27) Marx o desenvolveu como um “verda-
deiro pesadelo”. (28) Os ingleses se livraram de conhecê-lo
ainda por vinte anos, até traduzi-lo.(29) Como qualificar um
trabalho que nasce maldito e termina negado pelo próprio
autor?
Para Durkheim, tudo era fruto do desespero: “O que de
propriamente científico existe no socialismo não é socialista e o
que é socialista não é científico. O socialismo é um grito de
dor, às vezes de cólera.” (30)
A famosa tese acabou sendo tomada como progressista
porque escapava dos métodos rigorosamente lineares que

127
imperavam incólumes até a presença mais enfática da dialética.
Descreve-nos ninguém menos que Trótski:
“Com base num profundo e abrangente estudo da
ciência, Lenin provou que os métodos do materialismo dia -
lético, tal qual formulados por Marx e Engels, eram inteira-
mente confirmados pelo desenvolvimento do pensamento
científico em geral e pela ciência natural em particular.” (31)
Na verdade sabemos o que Lenin provou. W. Lippmann
conheceu o tipo:
“Os coletivistas tem o empenho de progresso, a simpatia
pelos pobres, o ardente sentido do injusto, o impulso para os
grandes feitos, coisas que tanto vem faltando ao liberalismo nos
últimos tempos. Mas sua ciência se baseia num profundo mal-
entendido; e suas ações, portanto, são intensamente destrutivas
e reacionárias. Assim, os corações dos homens são destroçados,
suas mentes divididas e são apresentadas alternativas impos-
síveis.” (32)
Houve quem alertasse: “Uma comunidade de indivíduos
padronizados, sem originalidade pessoal e sem aspirações pes-
soais, seria uma comunidade inferior, sem possibilidade de
desenvolvimento.” (33)
A confirmação do pecado científico na confissão dos
próprios discípulos da “comunidade inferior de indivíduos pa-
dronizados” teimosamente implantada. A tapeação era incom-
patível com a verdade:
“A Teoria da Relatividade foi condenada, não porque
(como na Alemanha Nazista) Einstein fosse judeu, mas por
razões igualmente irrelevantes: Marx havia dito que o Universo
era infinito e Einstein havia tirado certas idéias de Mach,
proscrito por Lenin. Por trás de tudo estava a desconfiança de
Stálin de qualquer idéia remota associada a valores burgueses.
Ele estava levando adiante aquilo que os comunistas chineses
mais tarde chamariam de Revolução Cultural - uma tentativa de

128
mudar, por decreto e uso da polícia, as atitudes humanas funda-
mentais em relação a uma gama de conhecimentos.” (34)
As razões, todavia, não eram irrelevantes; pelo contrário:
“Moscou, o quartel-general do ateísmo, viu na Teoria da
Relatividade incompatibilidade entre ela e o materialismo so-
viético fundamentado no marxismo.” (35)
O cisco caia nos pés dos carrascos bolcheviques, era em-
purrado para baixo do tapete, mas a máscara científica se dis-
solvia como açúcar:
“Na União Soviética, do tempo de Lenine, se fez grande
silêncio sobre a teoria de Einstein, porque os pontífices do
Governo haviam declarado que o átomo não podia ser dividido,
por ser a base da matéria, e sem matéria não haveria materia -
lismo, um dos pilares do comunismo.” (36)
Nem o comunismo, tampouco as “leis” de movimento
descritas por Newton refletem a ciência. Embora as ambições,
ambos traduzem, apenas, pitorescas coincidências. Fala o mes-
tre Bertrand Russell: “Os corpos se movem como o fazem
porque esse é o mais fácil movimento possível na região de
espaço-tempo em que se encontram, não porque forças “agem”
sobre eles.” (37)
Vale a pena transcrevermos todo ensinamento:
“Os corpos se tornam, assim, muito mais independentes
uns dos outros do que eram na física newtoniana: há um
acréscimo de individualismo e uma diminuição de governo
central, se nos for permitido usar esta linguagem metafórica.
Isto pode, mais cedo ou mais tarde, modificar consideravel-
mente a visão que o homem culto tem do universo, possivel-
mente com resultados de grande alcance.” (38)
Desde há muito, pois, cogitava-se do fim da perfídia:
“Um segundo pilar na catedral da teoria socialista foi o
planejamento central. Em vez de permitir que o “caos” do
mercado determinasse as regras da economia, um planejamento
inteligente de cima para baixo possibilitou concentrar recursos

129
nos setores-chaves e acelerar o desenvolvimento tecnológico.
Mas planejamento central dependia de conhecimento e, já nos
anos 1920, o economista austríaco Ludwig von Mises iden-
tificou a falta de conhecimento, ou como a chamou, o seu “pro-
blema de cálculo”, como o calcanhar de aquiles do socialismo.”
(39)
O ser da matéria não se separa de sua atividade. A inte-
ração é total. O próprio Einstein afirmou: “A massa de um
corpo é a medida de seu conteúdo de energia.” (40)
Heisenberg já detetava: “a física atômica fez a ciência
afastar-se da tendência materialista que ela tivera durante o
século XIX.” (41)
E o que relembra Rohden? “O materialismo do século
XIX morreu por falta de matéria - que ironia!- pois a ciência do
século vinte reduziu a tal matéria a energia, E=mc 2 . Energia é
massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz.” (42)
A doutrina faz água por todos os cantos:
“Para Marx, a ciência trazia a certeza. Hoje sabemos que
as ciências trazem certezas locais, mas que as teorias são
científicas na medida em que são refutáveis, isto é, incertas.
Para Marx, a filosofia devia ser necessariamente superada.
Hoje, todos os avanços das ciências reanimam as interrogações
filosóficas primeiras. Marx acreditava que a matéria era a
realidade essencial do universo. Hoje, a matéria é apenas um
dos aspectos de uma realidade física polimorfa, aparecendo
como energia, matéria, organização. Para Marx, o mundo
obedecia a uma dialética soberana e ele acreditou haver
aprendido as leis do devir histórico. Hoje, aprendemos que,
cada qual a seu modo, os mundos físico, biológico, humano, e-
voluem segundo dialéticas ordem/desordem/organização, com-
portando acasos e bifurcações e, no limite, ameaçadas todas
pela gradual destruição. As idéias de autonomia e de liberdade
eram inconcebíveis na concepção materialista/determinista.
Hoje, podemos conceber de forma científica a auto-organização

130
e a autoprodução, e podemos compreender que o indivíduo e a
sociedade humana são máquinas não triviais, capazes de atos
inesperados e criativos. A concepção antropológica de Marx
era unidimensional.” (43)
A ciência agora se ocupa em desfazer seus nós: “Assim,
o estudo da microenergética parece-nos conduzir a uma desma-
terialização do materialismo.” (44)
“Hoje a Antropologia não pode abster-se de uma refle -
xão sobre: o princípio da relatividade einsteniano; o princípio
de indeterminação de Heisenberg; a descoberta da ‘anti-
matéria’ desde o anti-elétron (1932) até o anti-nêutron (1956);
a cibernética, a teoria da informação; a química biológica; o
conceito de realidade. Seria preciso mostrar que há menos
materialidade no real do que parece, mais realidade no ima-
ginário do que acreditamos e, através desta aproximação tentar
considerar seu estofo comum: a realidade humana.” (45)
Como cientificamente falsas são as conjeturas marxistas,
o que se deve gravar à lembrança do famoso sociólogo-eco-
nomista é o fato dele ter sido um dos principais, senão o
principal responsável pela morte e pelo saque a milhões de
inocentes pelo mundo afora, além de tolher de cada cidadão, de
cada sobrevivente, de cada habitante do rincão alcançado pela
sua preconceituosa idéia, o usufruto de uma vida de realização
pessoal, trágica lista que começou em sua própria casa: “De
seus seis filhos apenas três chegaram a idade adulta, e desses
três, dois vieram a suicidar-se.” (46)
Livraram-se de presenciar mais atrocidades: “Em nome
do progresso humano, Marx provavelmente causou mais
mortes, miséria, degradação e desespero que qualquer outro
homem que já tenha vivido.” (47)
Karl pecou por miopia, vigarice, ou talvez tenha sido
vítima de uma precipitação, provavelmente de origem juvenil,
na melhor das hipóteses; mas conseguiu embrulhar, carregar
populações do mundo inteiro arrastadas por uma corrente cada

131
vez mais volumosa, transformando-se num rio arrasador.
Empregou metade da população a defendê-lo e outra metade a
defender-se, antes de ser enterrado, com grande festa e muita
champagne, com as pedras do muro que propiciou construir,
onde ainda hesitam alguns suspiros. Como disse James
Buchanan, “o socialismo está morto, mas Leviathan ainda
vive.” (48)
E gosta do Brasil.

9. A fantasia de Freud

O palco baconiano-cartesiano-newtoniano-darwineano,
N ou simplesmente dialétic o, o valor recai ao domador:
“Não havia simpatia para com a Natureza não regulada
ou primordial. Esta era uma selvajaria agressiva, uma recor-
dação horrível e absoluta da Queda, da expulsão do homem do
Jardim do Éden, para todo o sempre. Mesmo as ciências
naturais se mantiveram essencialmente hostis à Natureza selva-
gem, encarando-a apenas como algo a ser domado, classi-
ficado, utilizado, explorado.” (1)
No rendoso cenário, cérebro e mente assumem estranhos
papéis. Ela se reduz a mero artefato, subdividida nos diferentes
compartimentos dele, fértil engenharia à manipulações: “Uma
tradição demasiado persistente tem feito de Descartes o filósofo
da acção da alma sobre o corpo e, com isso, o fundador da
psicologia contemporânea.” (2)
Ferguson aponta um detalhe totalmente neglicenciado:
“O conhecimento do cérebro na sua totalidade é muito mais do
que a soma de suas partes, é diferente de ambas.” (3)
Fracionado o objeto ad lib, dividido o ser nas duas
substâncias básicas, depois pela mente e assim de modo

132
sucessivo, como poderiam Platão, Descartes e seus encantados
reintegrá-lo à configuração real?
Neste campo de consagração (ou “campo de concen-
tração”, pelo que tem de sujo e cruel) desfilou o tcheco que
*
passa por austríaco , de origem judaica, Sigmund Freud (1856-
1939), ao arrepio de David Bohm: “É urgente que compre-
endamos o perigo de continuar com o processo de fragmen-
tação do pensamento. Seria como procurar sempre o caminho
mais difícil e doloroso para se chegar ao mesmo destino.” (4)
Karl Jaspers explicita:
“A ênfase excessiva na análise (na parte) conduz ao
reducionismo escotomizante, enquanto a focalização unilateral
na síntese conduz ao globarismo obscurecedor. Existe uma
polaridade onde a totalidade é vista pelos elementos, e vice-
versa, formando um círculo que determina a reciprocidade da
parte e da totalidade.” (5)
Psi é a vigésima terceira letra do alfabeto grego e psikhe
significa alma. Ao estudo, dificultado pela abstração, o velho
estribilho fragmentador ecoava como primeiro passo ao
aprimoramento da nova ciência. Era cada vez mais simples (ou
simplório) desvendar os segredos mundanos, bastava a esta-
tística. No número de acertos, a verdade; quanto mais fre-
qüente, mais provada a cientificidade. Entre sensações e estí-
mulos poder-se-ia comprovar, para cada ação, a intensidade da
reação correspondente.
Os padrões de comportamento pode-riam e deveriam ser
reduzidos a equações. O latim do precursor batera nos ouvidos
**
do velho sizudo: “larvatus prodeo scaenam mundi”. (6)
A Renascença pertencia aos artistas:
“O mundo barroco pode ser descrito também como um
grande teatro, onde cada homem deve ocupar o seu lugar. O

*
Nasceu a 6 de maio em Freiber, Morávia, cidadela integrante da República Tcheca.
**
É mascarado que adentro ao mundo.

133
mais belo dos teatros é o centro do mundo católico romano: a
praça de São Pedro em Roma. A literatura, as artes, a filosofia
giram em torno de Deus, de suas exigências e da salvação. Os
filósofos e os sábios da época, em sua compreensão do mundo,
privilegiam o caráter de abstração e de esquematização. Por
isso dão a máxima importância à física matemática. Assim o
problema do método constitui o problema número 1 de todos os
filósofos. Trata-se de descobrir um método universal de
conhecimento. E o modelo é o conhecimento matemático
(geométrico).” (7)
A aquarela coloria os centros acadêmicos: “Afinal, a
psicanálise não seria o primeiro sistema a extorquir fidelidade
de modernos intelectuais seculares sem ser nem metodolo-
gicamente escrupulosa, escorada em fatos, nem livre de conse-
qüências daninhas.” (8)
Mesmo com toda arte, nem Descartes tampouco Freud
jamais poderiam recompor este ser tão esfacelado, ao contrário
– o sabujo acabou afirmando que a histeria/esquizofrenia insta-
lada não poderia ser “extirpada”, o doente jamais teria cura
total; mas propunha seus “trabalhos” para amenizá-la, pronto-
socorro ao estado febril: “A necessidade de dualidade do ego
gerou um mundo de bem e mal, certo e errado, luz e sombra.”
(9)
A Freud era conveniente mistificar seus afazeres; e,
jamais curando, arrumava proventos regulares, pelo menos até
a falência ou morte do paciente: “Os psiquia tras lutaram
durante gerações para definir e classificar os esquizofrênicos,
mas a doença tinha sido quase tão difícil de descrever quanto
de curar.” (10)
Pobre do ser analisado; infeliz dele, correndo de novo
adoidado, para a frente e para trás, na corda bamba da dialética
estendida: “Os analistas não podem repudiar sua descendência
da ciência exata nem sua ligação com representantes dela. Os

134
analistas são, no fundo, mecanicistas e materialistas incorri-
gíveis.” (11)
Se matéria é apenas energia estática (E=mc 2 ), o que lhes
resta de útil?
Os trabalhos inaugurais vieram promovidos por Breuer e
Freud, “curandeiros” capazes de juntar a parafernália mecani-
cista com as pressuposições platônicas, e outras mirabolantes
capacidades: “Em outras ocasiões, porém, Freud reconheceu a
ajuda que recebeu de Jean Martin Charcot, Josef Breuer,
Wilhelm Fliess, além de Schopenhauer e Platão, para abrir
caminho por essa selva emaranhada.” (12)
Com R. D. Laing percebemos que esses gurus só o
tornaram mais confuso:
“Ele possuía seu aparato mental, suas estruturas psí-
quicas, seus objetos internos, suas forças - mas não tinha a
menor idéia de como dois desses aparatos mentais, cada um
com sua própria constelação de objetos internos, poderiam se
relacionar. Para Freud, eles interagiam de maneira meramente
mecânica, como duas bolas de bilhar. Ele não concebia a
experiência partilhada pelos seres humanos.” (13)
Para atingir o mercado despida do rótulo de ciência
abstrata, a psiquiatria, como a esmagadora maioria dos ramos
científicos, buscou o sucesso através do interminável cabo
cartesiano-newtoniano: “As imutáveis leis da História descritas
por Marx, a luta desesperada pela sobrevivência de Darwin e as
tempestuosas forças da sombria psique de Freud devem, em
alguma medida, sua inspiração à teoria física de Newton.” (14)
Capra reforça:
“A psicologia freudiana é basicamente uma psicologia de
conflito. Em sua luta existencial, Freud foi indubitavelmente
influenciado por Darwin e os darwinistas sociais, mas para a
dinâmica detalhada de “colisões” psicológicas ele recorreu a
Newton. No sistema freudiano, todos os mecanismos da mente

135
são impulsionados por forças semelhantes às do modelo da
mecânica clássica.” (15)
Darwin fora competente, não se discute: “Em seus pri-
meiros anos, (Freud) achou-se fortemente atraído pelas teorias
de Darwin, pois sentia que “elas ofereciam esperanças de um
avanço extraordinário em nosso conhecimento do mundo.” (16)
Kelsen confirma o rastro e complementa a idéia cerne,
onde sobressai o caráter nitidamente hobbesiano: “A partir da
conjetura de Darwin, Freud supõe que a forma primitiva da
sociedade humana era a horda submetida ao domínio absoluto
de macho poderoso.” (17)
Ficamos todos embotados. E o crime, justificado: “Freud
nota que matar o inimigo é uma tendência compulsiva. Mesmo
no reino animal os conflitos de interesse são decididos pela
força.” (18)
Só mesmo um animal para comparar-se a tal.
A luta entre corpo e alma, espírito e matéria dava ori-
gem à “confrontação” dos elementos no interior do organismo
entendido sempre doente, incurável, apenas “amenizável”, “do-
mesticável”. O “homem-porco”, às vezes só homem, às vezes
só porco, tornava-se fadado a correr enlouquecido, de um a
outro extremo da meia -verdade, ingênua ou maquiavelicamente
estendida aos grandes combates dos bons costumes contra os
bárbaros animalescos. O ser simplesmente aliena sua existên-
cia, mas a subversão pelo viés dialético-positivista garantia a
“procedência científica”. Os princípios cartesianos poderiam
calibrar a dinâmica ação/reação:
“O behaviorismo nasceu da tentativa de psicólogos
influenciados pelo positivismo lógico de transformar a psico-
logia em ciência empírica. Em seu artigo de 1913, ‘Psychology
as the Behaviorist Views It’, quase sempre chamado de
manifesto behaviorista, John B. Watson anunciou “um ramo
das ciências naturais puramente objetivo e experimental”, inde-

136
pendente de juízos subjetivos, “cuja meta é a previsão e contro-
le do comportamento.” (19)
“Cientistas comportamentais (behavioristas) se mostra-
ram altamente contagiados pela obsessão de fazer de sua ciên-
cia uma “física humana” ao proclamarem que uma psicologia
só seria confiável se fosse erguida sobre os critérios de estí-
mulos e respostas, as forças de ação e reação da dinâmica
newtoniana, sendo que era pura fantasia tentar erguer uma
ciência calcada em relatos individuais de experiências subje -
tivas internas. (Harman, 1989; Capra, 1986; Grof, 1988).
Assim sendo, a ciência têm estimulado e influenciado uma
visão de mundo em que tudo o que existe, existe de forma for-
tuita e se relaciona com as demais coisas de uma maneira me-
cânica, previsível, controlável e mensurável. A mesma maneira
pela qual deve seguir e agir o mercado financeiro.” (20)
Depois de Malthus, “os estímulos aumentam em pro-
gressão geométrica; as sensações, em progressões aritméti-
cas.” Na linguagem técnica que lhe é própria, “a sensação
variava com o logaritmo do estímulo.” (21)
A amplitude onírico-cartesiana valorizava os estudos de
anatomia, entusiasmando os que se dedic avam a decifrar os
enigmas mentais através dos movimentos fisiológicos do corpo.
Misturou-se a psicologia com a biologia para descartar a
filosofia.:“O homem não é mais uma inteligência, mas uma
vontade servida por órgãos.” (22)
Colocados os fenômenos como elementos de um sistema
unido, coerente, lógico, fomentava-se a unidade imprescindível
aos propósitos totalitaristas - o domínio da psicologia das
massas - cada vez mais justificado: “A ciência política opera
com material humano e os fundamentos do poder e da obe-
diência são de natureza psicológica.” (23)
Lacan protestou: “Os programas que se esboçam como
devendo ser das ciências humanas não têm outra função senão
a de ser um ramo acessório a serviço dos poderes.” (24)

137
O projeto ideológico-psicológico não detinha segredos.
O Estado (o eventual governante) punha-se como criador da
arte, da lei, do moral, da religião, etc. Cabia ao cidadão ser seu
produto, subliminar confirmação da perfídia roussoniana dou-
rada por Hegel. Com a observação do der Gang der Sache
selbst, a dinâmica interna dos fatos (de novo as concepções
dialéticas em cima do universo-relógio a ser esmiuçado, peça
por peça e função, até acertarem-se os ponteiros) acreditava-se
na lógica seguinte ou no destino manifesto a partir desse
determinado estado de coisas e isto já provara Comte. Wundt e
Dilthey utilizaram a mesma mecânica para construir o versátil
modelo Volk , veículo que conduziu a massa mercê de sua
hermenêutica, fantasiado trajeto. A psicologia, biológica por
essência, virou “política positivista-sociológica”: “A influência
de Comte no desenvolvimento posterior da psicologia é
indiscutível. Ela se revela na própria obra de Wundt,
obviamente enfatizado aqui o caráter científico da psicologia.”
(25)
Bachelard desmonta o Volk : “Termo inoportuno porque
evoca muito mais a sociologia do que a genética - designa o
patrimônio psíquico hereditário.” (26)
O termo, contudo, apareceu bem oportuno. Wundt atraiu
os incautos passageiros tocando essa flauta, a Volkerpsy-
*
chologie , não sem antes enfatizar os prejuízos da mentalidade
gregária nebulosa, difusa, do pacífico povo. Assim reuniu a
manada. O Estado (que em si não existe, mas sim o eventual
governante) punha-se como criador da arte, da lei, do moral, da
religião, etc. Cabia ao cidadão ser seu produto, subliminar
confirmação da propositura roussoniana. Peões são fáceis de
serem movimentados:
“A massa se rege por sentimentos, emoções, preconceitos,
como a psicologia social já demonstrou exaustivamente. A

*
Psicologia de massa, de aplicação em massa.

138
opinião das massas formando a opinião pública será por
conseqüência irracional. Não se iluda o publicista democrático
a esse respeito, cunhando a expressão agora uso corrente no
vocabulário político da propaganda: o ‘estereótipo’, ou seja o
‘clichê’, a ‘frase feita’, a idéia pré-fabric ada, que se apodera
das massas e elas, numa economia de esforço mental, como diz
Prelot, aceitam e incorporam ao seu ‘pensamento’, entrando
assim a constituir a chamada opinião pública.” (27)
Hitler sabia dessas possibilidades instrumentais: “A fim
de melhor compreender a arte da propaganda, Hitler estudou as
técnicas propagandistas dos marxistas, a organização e os
métodos da Igreja Católica, a propaganda britânica da Primeira
Guerra Mundial, a publicidade norte-americana e a psicologia
freudiana.” (28)
Como o paranóico, o inspirador fez do encadeamento
dialético o ringue do seu show: “Só em 1919 é que Freud
escreverá uma das suas obras mais importantes: Além do
Princípio do Prazer, onde demonstra a existência de dois
intintos opostos existentes no homem: um, de preservação,
ligado ao prazer (Eros) e outro de destruição, de ausência de
energia, de morte (Tanatos).” (29)
A construção teórica da psicanálise, montada por ele,
Bauer, discípulos e derivados, de franca cunhagem cartesiana
para objetivo dialético, exige a separação do objeto a ser
esmiuçado - o corpo da consciência e esta dividida em vários
departamentos hierarquicamente sobrepostos - egos, superegos,
“tataraegos”, inconscientes, planos, teses e antíteses - no
mecanicista e reduzido universo cerebral transformado em
eterno campo de combate. Reações, reflexos infantis apurados
de um contexto sexual preconcebido, a “força” psicológica,
denotam, pela poeira, que sua viagem foi mesmo realizada pela
velha estrada. Como Newton, Freud descreve efeitos que
impulsionam e defendem; e, como Hegel, usa a contradição
destas forças para explicar e justificar ação e reação, excitações

139
exteriores que se chocam com o sistema nervoso, o vetor
interno que exige a satisfação das necessidades para seu apazi-
guamento, constância do jogo maniqueísta do prazer/desprazer,
mostrado por Nietzsche como “princípio ativo e consciência
reativa”. (30)
Pierre Janet, em 1925, já não confiava: “A meu ver,
parece que o método psicanalítico é, antes de tudo, um método
de construção simbólica e arbitrária; mostra como os fatos
“poderiam ser” explicados se a causação sexual das neuroses
tivesse sido definitivamente aceita; mas a sua aplicação não
pode ser adotada enquanto essa teoria ainda não estiver
provada.” (31)
Carl Jung preferiu a rota alternativa, mas não escapuliu
da armadilha racionalista: “Em seu lugar, como Freud já fizera
antes dele, Jung usou a estrutura da física clássica, muito
menos apropriada para descrever o funcionamento de órgãos
vivos.” (32)
Nesta época, a Teoria da Relatividade já passara a fato
percebido, e a Teoria Quântica comemorava bodas de prata.
Jung bem que delas se aproximou, pelo menos conceitual-
mente. Todavia, além de demorar um quarto de século para
supor que algo de errado havia na teoria cartesiana, ainda assim
emitiu, tão somente, um juízo de futurologia, um sentido de
norte, embora não lhe fosse claro quais caminhos poderia
dispor:
“Mais cedo ou mais tarde a física nuclear e a psicologia
do inconsciente se aproximarão cada vez mais, já que ambas,
independentemente uma da outra e a partir de direções opostas,
avançam para território transcendente. A psique não pode ser
totalmente diferente da matéria, pois como poderia, de outro
modo, movimentar a matéria? E a matéria não pode ser alheia
a psique, pois de que outro modo poderia a matéria produzir a
psique? Psique e matéria existem no mesmo mundo e cada uma
compartilha da outra, pois do contrário qualquer ação recíproca

140
seria impossível. Portanto, se a pesquisa pudesse avançar o
suficiente, chegaríamos a um acordo final entre os conceitos
físicos e psicológicos. Nossas tentativas atuais podem ser
arrojadas, mas acredito que estejam no rumo certo.” (33)
O rumo estava certo, a freeway à frente: a psique é
energia, ou virtual matéria. Essa constatação já tinha avançado
o suficiente. Quiçá por permanecer a talhar a ferramenta
ideológica dos tiranos, o tal “inconsciente coletivo”, Jung não
olhou para quem lhe rodeava; só viu o grandioso abstrato
social. Cabe a pergunta: o que significa, mesmo, o tão decan-
tado espírito? Pois, se não dá para defini-lo, deu para expe-
rimentá-lo: foi mesmo o versátil e robusto veículo, o tal Volk ,
convenientemente preparado nas oficinas de Georges Sorel
(34), o qual o adornou com palavras para utilizá-lo como
elemento coletivo-mobilizador, “o mito” que carregou as tro-
pas de Mussolini, Hiroíto, Hitler e Stálin.
O movimento da libido deveria ser o único elemento
capaz de gerar (ou gerir) nossas construções. A imaginativa
argumentação, até hoje por muitos tomada como científica, é
do próprio criador do mito: “Os animais, incluindo os seres
humanos, têm seu comportamento movido pelos inseparáveis
instintos do sexo e da agressão. Nos humanos, estes instintos
controlam as forças escuras e hidráulicas do id e são a causa
subjacente, inconsciente de tudo o que fazemos” (35)
Freud, certamente, julgava seus pares depois de olhar
para si, mas onde estariam as forças claras? Donde vêm? Será
que sabia Freud a composição etimológica de “hidráulico”?
Será que ele sabia o que estava dizendo? Retrucamos na carona
do genial Bachelard:
“A imagem poética não está submetida a um impulso,
não é o eco do passado. É antes o inverso: pela explosão de
uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos a imagem
poética existe sob o signo de um ser novo. Esse ser novo é o
homem feliz. Feliz na palavra, portanto infeliz no fato, objetará

141
imediatamente o psicanalista. Para ele a sublimação não passa
de uma compensação vertical, de uma fuga para o alto,
exatamente como a compensação é uma fuga lateral. E logo o
psicanalista deixa o estudo ontológico da imagem; aprofunda a
história de um homem; vê, mostra os sofrimentos secretos do
poeta. Explica a flor pelo estrume.” (36)
Na esteira de Bacon, o austríaco esqueceu (ou despre-
zou), qualquer compromisso com a natureza, ou com valores
espirituais:
“Sua ‘psicologia científica’ procura uma compreensão do
ser como entidade biológica semelhante a plantas e animais,
mas sua interpretação mecanicista da própria biologia empresta
um aspecto determinista e algo brutal, tanto para nós mesmos
quanto para nossos camaradas biológicos.” (37)
O prof. Beneval Oliveira corrobora: como Freud, Hegel
e Darwin, também o campeão da filosofia mecanicista
Nietzsche partiu do princípio do “universo humano ser cons-
tituído de forças conflitantes”. (38)
“Ao mesmo tempo, as teorias de Darwin, que eram então
de interesse atual, atraíram-se fortemente, pois ofereciam espe-
ranças de extraordinário progresso em nossa compreensão do
mundo” (39)
Compreensão do mundo, todavia, é que não estavam
bem nos seus planos:
“Não sou realmente um homem de ciência, não sou um
observador, não sou um experimentador, não sou um pen-
sador. Nada sou senão um conquistador por temperamento –
um aventureiro, se quiser traduzir a palavra – com a
curiosidade, a rudeza e a tenacidade que compõem essa espécie
de ser.” (40)
Carlos Lacerda estabelece outros comparativos:
“A visão de Freud, da qual necessariamente participam
seus descendentes espirituais, é essencialmente uma visão
pessimista da natureza humana. A concepção de Sigmund

142
Freud é aparentada a de Nietzsche, do homem naturalmente
agressivo, inexoravelmente condenado a viver sob o aguilhão
*
de instintos básicos da caça à presa e da competição, aí está
para documentar o que ninguém pode negar, a saber, o
pessimismo existencial da vida freudiana. Entre Rousseau e
Nietzsche, Freud ficou com o mais neurótico - tão neurótico
que morreu psicótico. Como Rousseau era neurótico (ler
Confissões) e Nietzsche psicótico, a visão que Freud tinha do
homem, sendo essencialmente nietzschiana, é psicótica. É uma
visão negativa e até niilista. Em, suma, o homem freudiano é
uma porcaria. Mas não se reconhece como tal. É uma porcaria
porque, no fundo, a vida para ele é uma porcaria; e o mundo
considerado uma pocilga. Eis a essência, caricaturada mas real,
da visão freudiana do mundo.” (41)
O pessimismo e a morbidez de Rousseau vinham a
calhar. O famoso discípulo Jung, ao rebelar-se, saiu atirando:
“Caro professor Freud, eu mostraria, contudo, que a sua
técnica de tratar os discípulos como pacientes é uma asneira.
Desse modo o senhor produz ou filhos servis ou fedelhos
impudentes. Sou objetivo o bastante para perceber o seu
pequeno ardil. O senhor anda por aí farejando todas as ações
sintomáticas que ocorrem em sua vizinhança, reduzindo, assim,
cada uma ao nível de filhos e filhas, que admitem,
envergonhados, a existência de seus erros. Enquanto isso, o
senhor permanece no alto, como o pai, em situação
privilegiada. Por puro servilismo, ninguém se atreve a puxar o
profeta pela barba e a perguntar de uma vez o que o senhor
diria a um paciente com tendência a analisar o analista em
lugar de si mesmo. Certamente o senhor perguntar-lhe-ia: quem
tem a neurose? Se o senhor se livrasse completamente de seus
complexos e parasse de bancar o pai para seus filhos, e, ao

*
Neste caso também como Darwin.

143
invés de visar continuamente os pontos fracos destes, exa-
minasse bem a si próprio, para variar, eu então me corrigiria e
erradicaria de um só golpe o vício de hesitar em relação ao
senhor” (42)
O professor da UFPr, Dr. Jacob Bettoni, informa:
“Existem relatos históricos escabrosos sobre violência
sexual contra crianças. Sigmund Freud não apenas tinha amplo
conhecimento dos fatos, como sabia que seu próprio pai, Jacob,
violentava regularmente seu irmão e sua irmã.” (43)
No nascimento da psicanálise, Einstein conjeturava rela -
tividade. Freud não o aguardou. Nem precisava. Einstein não
tinha a mesma potência, e a senhora Pauline nada previra sobre
o pequeno Albert: “Nem mesmo Einstein impressionou a
imaginação e afetou a vida de seus contemporâneos como
Freud.” (44)
Uma das piores conseqüências anunciou Paul Roazen,
autor de O irmão animal e Freud: pensamento político e social:
“É dificil imaginar-se qualquer sociólogo contemporâneo, com
interesses verdadeiramente construtivos, que não tenha sido
influenciado por Freud.” (45)
“Irmãos animais” formamos às pilhas, especialmente lo-
bos.

11. Argh!

REUD soube ser expressão fulgurante da sordidez,


F mesmo bem apessoado e melhor rodeado. E tal qual
Maquiavel, Hobbes, Rousseau e Descartes, granjeou o desprezo
e o repúdio social:

144
“Para os leigos, a medida que se difundiam as teorias de
Freud, ele se revelava o maior desmancha-prazeres da história
do pensamento humano, transformando as piadas e as pequenas
satisfações do homem em sombrias e misteriosas repressões,
descobrindo ódios na raiz do amor, maldade no âmago da
ternura, incesto nos afetos filiais, culpa na generosidade, e o
ódio reprimido pelo próprio pai como herança humana normal.”
(1)
Quem não o levasse a sério, logo era taxado demente,
debilóide. Sequer pesquisadores correlatos poderiam questionar
este campeão da arrogância: “Minha inclinação é tratar aqueles
colegas que oferecem resistência exatamente como tratamos os
pacientes na mesma situação.” (2)
Johnson confirma: Freud atuava “como um ideólogo
messiânico da pior maneira, com uma tendência persistente de
considerar aqueles que divergiam dele como desequilibrados e
necessitados de tratamento.” (3)
Destacando que a multiabrangência da psicanálise dis-
pensava comprovações, Freud a vetava a profanos, quiçá por
lembrar-se da própria esposa, a qual manifestara a mais
completa aversão à teoria do marido. Em 1895, Estudos sobre a
histeria recebeu de Martha a adjetivação: “pura pornografia!”
(4)
Neste bas-fond, só mesmo iniciados ou entendidos pode-
riam acessar. Freud podia não ser o querido da esposa,
tampouco do povo, mas o era da mamãe:
“A mãe de Freud viveu até os noventa e cinco anos, uma
personalidade ardente e vigorosa. Sigmund foi seu primogênito
e o filho predileto. Mais tarde ele escreveu: ‘Um homem que foi
o favorito indiscutível de sua mãe conserva por toda a vida o
sentimento de um vencedor, aquela confiança no sucesso que
muitas vezes provoca o verdadeiro sucesso.”’ (5)
O sentido do vencedor exige perdedores. É a lei do mais
forte, do mais apto, do mais capaz darwineano. Pai e irmãos que

145
se danem. Macacos não possuem sentimentos maiores. A
interpretação dos sonhos, publicada em 1900, identifica, no
meio dos cipós, a disputa pela banana: “Os sonhos são inva-
riavelmente o produto de um conflito.” (6)
Pesadelos seriam produto da harmonia? Ou ela não con-
vinha a Freud ?
“Foi durante esses anos, além disso, que a psicanálise,
ainda que bastante discutida, conquistou seu lugar no universo
intelectual da geração que sai da adolescência logo após a
guerra. Hábeis em captar o clima da época, os responsáveis pela
empresa cinematográfica U.F.A. propõem mesmo ao Instituto
de Psicanálise de Berlim popularizar o ensino de Freud. Após
negociações com um de seus colaboradores, o Dr. Hanns Sachs,
um filme é rodado em 1926: Os mistérios de uma alma. Pabst,
seu realizador, conseguiu misturar admiravelmente ficção e
documentação. A partir da descrição de um caso, ele mostra o
benefício de um tratamento psicanalítico, e especialmente a
relação entre o analista e o analisado, muito pouco conhecida
ainda do grande público. O inconsciente, o superego e a libido
ornamentam, não sem grande esnobismo, muitas conversas
cotidianas de então!” (7)
Por conta da interminável dialética Hermann Hesse tam-
bém se consagrou. O romance O Lobo da Estepe tem no
personagem principal a patologia ínsita de personalidades
divididas entre pressões sociais e anseios pessoais. Quem não
apreciaria abiscoitar um pedaço de uma fórmula de tanto
sucesso, ainda que de péssimo gosto e pior exemplo à confusa
juventude?
O conjunto de crenças freudianas é sujeito a contínuas
operações de expansão e osmose, meia-solas. Quando esvazia -
das suas provas, Freud modificava o modo de explicar a teoria,
sem repensar sua base.
Popper não poupou críticas à ilusão vendida:

146
“A psicanálise é uma metafísica psicológica interessante,
mas jamais foi uma ciência o que impede suas teorias de serem
científicas é que não excluem qualquer comportamento físico
possível. Mas qual era seu método de argumentar? Freud dava
exemplos: analisava-os e mostrava que se encaixavam em sua
teoria, ou que sua teoria podia ser descrita como sendo uma
generalização dos casos analisados. Por vezes apelava aos seus
leitores para que suspendessem suas críticas, e indicava que iria
responder a todas as críticas sensatas em ocasiões posteriores.”
(8)
A manobra é antiga. Aristóteles alertara: “Longe de
procurarem regular sobre os fenômenos, seus raciocínios e suas
explicações pelas causas, eles obrigam os fenômenos a entrarem
no quadro de certos raciocínios e de certas opiniões recebidas,
aos quais tentam fazer corresponder sua organização do
mundo.” (9)
Para Frank Cioffi, “a teoria freudiana não é um conjunto
de proposições adequadamente limitadas, operacionalmente sig-
nificativas, mas sim amplamente não testadas, simplesmente
defendidas por seus partidários contra a avaliação rigorosa.”
(10)
Argolando a tese no “inconsciente”, por isto não pal-
pável, não “falseável”, para usarmos a terminologia de Popper,
o artista exclui qualquer possibilidade de verificações fáticas.
Sua tese, literalmente por isto, é improvável, ainda que para ele
isso não viesse ao caso. Evangelista critica o paradoxo: “Se
usualmente o conhecimento científico apresenta-se como luz,
clareza, distinção e precisão, numa palavra, como consciência
cada vez mais perfeita, como entender uma ciência que possa
ter como objeto algo que não pode ser consciente?” (11)
Até entidades submicroscópicas são passíveis de testes.
Na teoria freudiana, esta capacidade é irrisória: “Bem pode ser
verdade, como pretende Horgan, que nenhuma das diversas
razões da psicanálise e psicoterapia tenha sido convincente na

147
busca de confirmação empírica para sua eficácia terapêutica.”
(12)
Charles Rycroft informa: não só realizações alucinató-
rias de desejos provém dos sonhos, mas também reavaliações
pessoais do nosso cotidiano biológico comum. (13)
Luckács também depõe: “Experimentei outra negação do
dogma freudiano segundo o qual os sonhos são sempre produto
do subconsciente; na verdade são reaparições da consciência.”
(14)
F. Crews ainda descreve:
“Como Lancelot, Law Whyte e Henri F. Ellenberg
mostraram há tempos, Freud não merece nenhum crédito por
nos ter introduzido ao “inconsciente”, um lugar-comum român-
tico como uma linha de montagem que remonta a Platão.
Nietzsche, em particular, antecipou muito do que soa profundo
em Freud e o fez com vivaz sagacidade, não com diagramas e
com falsas e cabotinas histórias de cura (Anzieu; Lehrer;
Gellner). Tampouco devemos confundir o inconsciente psico-
dinâmico de Freud, uma insubstancial porção da mente que
supostamente conspira e converte, expia, rememora, simboliza,
joga com palavras, cifra seus pensamentos em sintomas e briga
consigo mesma enquanto o sujeito permanece deslembrado com
o funcionamento mental inconsciente, cuja existência é incon-
troversa e pode ser prontamente demonstrada (Kihlstrom).” (15)
É fácil e producente criar polêmica num contexto social
ignorante, mas vejamos se é possível alguma comprovação
científica no exemplo trazido por Lacerda:
“De um contorno arbitrário que traçou no manto da Vir-
gem Maria, num quadro de Leonardo da Vinci, extraiu Freud, a
quatro séculos de distância, uma explicação sexual do com-
portamento e das intenções do pintor.” (16)
Não se pode negar a sexualidade. Aliás, é mesmo um dos
maiores motivadores para fazer alguém andar. Considerada no
fato cultural, entretanto, seu cientificismo romântico menos-

148
preza todos os outros valores intelectuais e motivacionais, em
prol do excludente mito, porque entendido como único vital.
Isso não era sequer negado. Em 32 Freud teve a coragem de
enviar uma carta a Einstein com a sugestão: “Não será verdade
que cada ciência, no fim, se reduz a um certo tipo de mito-
logia?” (17)
Frederick Crews, dedicado há mais de vinte anos, não
teme taxar: “Freud não era grande coisa como pessoa e também
não era grande coisa como cientista.” (18)
Para Havelock , “Freud não era um cientista, mas um ar-
tista!” (19)
Yerushalmi questiona qual a razão da ênfase total no
complexo de Édipo e não em outro, que poderia ser o
“Complexo de Caim”, uma vez que a narrativa bíblica trata de
um fratricídio e não de um parricídio. (20)
O professor Renato Janine Ribeiro ajuda a desmistificar o
principal argumento da estória: “Ao contrário do que pensou
Freud, o problema de Édipo não é o draminha da família (matar
o pai, esposar a mãe) - até porque ele ignorava ser filho de
Laios e Jocasta.” (21)
Continua o gabaritado professor:
“Édipo é um herói civilizador: pela razão venceu a
esfinge e libertou Tebas, tornando-se seu rei. Está no auge do
poder e da felicidade quando a peste assola seu reino.
Planejador, homem da razão e da ação, quer apurar a culpa que
os deuses punem. Vezes sem conta, os que tem acesso às
sombras, como o cego adivinho Tirésias, o incitam a desistir de
investigar. Édipo se recusa, até ser tragado pela descoberta de
que ele mesmo é o culpado.” (22)
Bachelard não o perdoa:
“Seu superego é um juiz malévolo, como seu incons-
ciente é um carcereiro obtuso: velando sempre tão zelosamente
sobre seu segredo, ele acaba por designar o local onde se

149
esconde. Sob o pretexto de liberar os complexos, as pessoas se
enredam cada vez mais nos assuntos sociais, familiares.” (23)
O famoso complexo não tem a menor possibilidade de
existir, na observação de Malinowski, trazida por Merquior,
sobre os costumes nativos das ilhas Tobriand: ali o triângulo
envolve o filho, a mãe e, em vez do pai, um tio materno, o qual
sequer coabita com sua irmã. (24)
O escasso número de “curas” psicanalíticas pode
informar. Hospitais psiquiátricos detêm pacientes por dezenas
de anos. Aos que conseguem se safar, oriundos de um
tratamento via de regra de longa duração, nada assegura que o
próprio passar do tempo e a maturidade correspondente tenham
conduzido à estabilidade. Fisher e Greenberg de certa forma
admitem: “A psicanálise não se mostrou significativamente
mais eficaz que outras formas de psicoterapia, com nenhum tipo
de paciente.” (25)
Os métodos terapêuticos, numa análise de Lyoard,
evidenciaram-se mais apropriados em “afagar o carente do que
cuidar de doente”. O autor reprova a modelagem freudiana “por
construir sua cena representativa sobre modelo de teatro à
italiana”. (26)
Zohar aponta como a peça continua fazendo vítimas:
“Grande parte da moderna sociologia, da pedagogia e
toda a psicologia da pessoa derivam desta linha de pensamento,
assim como nossa violência característica do século XX, uma
reação natural diante de tamanha impotência. Foi igualmente
afetada nossa atitude em relação à natureza e ao mundo
material. Se nossa mente, nosso consciente é totalmente dife-
rente de nosso ser material, como argumentou Descartes, e se a
consciência não tem nenhum papel a desempenhar no Universo,
como sugere a física de Newton, que relacionamento podemos
ter com a natureza ou com a matéria? Somos alienígenas num
mundo alienígena, situados à parte dele e em oposição a ele,
nosso ambiente material.” (27)

150
Granger também toca no roteiro melodramático que
entrelaça a política com as teses psiquiátricas:
“Quanto à vida política deste meio-século, desenrolou-se
num universo de mitos poderosos. Até as próprias ciências, nas
suas aplicações e conceitos gerais, casam suas águas racionais
demasiado límpidas com ondas mais consistentes das mito-
logias. A prática médica e especialmente a psiquiátrica não
conserva ela necessariamente algo de taumatúrgico?” (28)
Dado a popularidade, até poetas, como o inesquecível
gaúcho Mário Quintana, puderam oferecer excelentes apanha-
dos: “A psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades de
gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime
que o próprio criminoso ignora.” (29)
O professor Jacob Bettoni extrapola:
“O complexo de Édipo é mais do que saber falsificado.
Nasceu da tentativa de encobrir criminosos e estupradores. Sua
difusão atual, depois de comprovado como embuste, deve ser
encarada não só academicamente como mais uma fraude
científica, mas também enfrentada judicialmente como propa-
ganda enganosa, pois ludibria a sociedade e jovens acadêmicos
e incentiva a impunidade.” (30)
A fina ironia de Lacerda desvenda o “truque freqüente
em psicanálise - o de tomar ao pé da letra as velhas recomen-
dações de Freud, segundo as quais o analisando tem de pagar o
analista - e pagar em dia - sob pena do seu tratamento ir para o
brejo; o que faz do analista, talvez, o único profissional que
inventou um ritual de defesa contra o calote. Não pagou, não
trata. Fiado, nunca.” (31)
Forte conceito emitiu o Prêmio Nobel de Medicina
(1980) Sir Peter Medawar: “A psicanálise é aparentada com o
mesmerismo e a frenologia: contém núcleos isolados de ver-
dade, mas é falsa na teoria geral.”
Ele detona o edifício: “É o mais estupendo embuste
intelectual do século XX.” (32)

151
A performance juvenil de um ser nascido naquele lar tão
promíscuo, tomado virgem até trinta anos, só configura encena-
ção, típica “falsidade ideológica”:
“A propalada virgindade sexual de Freud durante toda
sua adolescência é um dos pontos colocados em xeque.
Dificilmente um homem bonito, enxuto, olhos pretos brilhantes,
sem falar na cocaína e no seu interesse pelo sexual perma-
neceria virgem até os 30 anos, idade em que se casou.” (33)
Rodriguè narra vários casos de relações entre Freud,
mulheres e familiares, (34) as quais comprovam a dubie dade do
caráter. Num de seus textos mais atraentes, Freud pinta o
quadro negro, não o escolar, mas por certo de sua alma, e com
ele tudo se justifica: “Nós seres humanos somos infelizes.
Nossos corpos adoecem e decaem, a natureza exterior nos
ameaça com a destruição, nossas relações com os outros são
fonte de infelicidade.” (35)
Freud confirmava Hobbes, embora não saibamos se
chegou a conhecer a obra pioneira da moderna ditadura. Éramos
infelizes, porque continuávamos lobos do homem. A psiquiatria
buscava lugar ao lado da mais moderna ciência social: “Tento
introduzir no discurso socialista alguns elementos realistas
sobre a natureza humana. Você tem que levar em conta a
propensão a odiar e a invejar quando elabora um programa de
desenvolvimento social.” (36)
Tanto o marxismo como o fascismo souberam utilizá-lo
como ponto de referência, e por isso tanto nos ocupamos:
“De Rousseau a Freud, o homem rolou todos os abismos
e, rolando, incapaz de se reter, convencido aos poucos de toda
sua negrura interior, perverteu todos os caminhos, comprometeu
todos seus atos, justificou todas as acusações futuras e pas-
sadas.” (37)
Convém sempre lembrar a coincidência do desprestígio
da religião comparada à ciência, apartadas desde o advento de
Copérnico, Galileu, Bacon e Descartes. Naquela, a poesia;

152
nesta, a dura realidade. No romantismo espiritual (ou na sua
falta), a presença do padre; na esquizofrenia real e geral, a
presença do cientista e do governo.
Nietzsche em Zaratustra, Marx o tempo todo e Engels
em A sagrada família (38), já haviam condenado a religião,
reputando-a responsável pelo status quo da classe oprimida, por
infundir a resignação pelo aceno de compensações futuras, na
vida supra-terrena. Durante a década de 1920, quando o mundo
experimentava o grande impacto do materialismo e sua prática
avassaladora, as fortes palavras de Freud contra a base religiosa
fortaleceram o estandarte socialista revolucionário:
“Além disso, a análise marxista e freudiana se juntaram
para minar, cada um à sua maneira, o sentimento de respon-
sabilidade pessoal e de dever para com o código da verdadeira
moral, que era o centro da civilização européia do século XIX.”
(39)
Na U.R.S.S., qualquer recalcitrante político poderia ser
tomado como esquizofrênico e enviado, nas poltronas da KGB,
rumo à longa temporada de hibernação na “acolhedora” Sibéria.
Por incrível, 2001 ainda assiste:
“Militantes pró-democracia e membros da seita Fa Lun
Gong são tratados com choques e confinamento – China interna
dissidentes como loucos. Eles recebem terapia com choques
elétricos, aplicações de acupuntura com eletricidade, são força-
dos a tomar pesados remédios, que provocam tremedeiras e
problemas motores. Há entre os presos um sentimento de medo
e completa impotência. é a psiquiatria política.” (40)
Tudo começou com Freud:
“A indignação dos familiares no pós-guerra com relação
às crueldades infligidas em hospitais militares, especialmente na
divisão psiquiátrica do Hospital Geral de Viena, levou o gover-
no austríaco a criar em 1920 uma comissão de inquérito que
acabou por convocar Freud. A controvérsia resultante, embora

153
inconcludente, deu a Freud a publicidade internacional que lhe
faltava.” (41)
Publicidade, todavia, nada prova; e não constitui preocu-
pação de cientistas:
“As descobertas da teoria quântica em 1900 e da teoria da
relatividade restrita em 1905 tem em comum o fato de nenhuma
delas ter sido celebrada com declarações à imprensa, dança nas
ruas ou proclamações imediatas sobre o despertar de uma nova
era.” (42)
Apesar de não acreditar na psicanálise, muito menos na
trilha dialético-newtoniana, Einstein foi tragado pelo embuste.
Pagou com seu filho Eduardo, paciente dos horrores de tal
tratamento, vida desperdiçada dentro das sombrias paredes de
vários hospitais: “Hans Albert atribuía a doença mental de
Eduard ao tratamento de choque a que estava submetido, no
hospital psiquiátrico de Zurique, para tirá-lo da depressão cau-
sada por uma paixão não correspondida três anos antes.” (43)
Evelyn Einstein, inquieta adolescente filha adotiva de
Hans Albert, foi visitá-lo. Ficou horrorizada:
“Ele tinha uma cela particular, um quartinho sem janela
no porão. A porta dava para um corredor. Tinha mobília e luz
elétrica, mas era escuro e úmido. No entanto, ele estava
acostumado. Acostumava-se com tudo. Era um ser humano
institucionalizado quando o conheci. Não poderia viver do lado
de fora. Acho que quanto menos informado mais fácil era
controlá-lo. Ele me contou que trabalhava no jardim, mas não
gostava. Disse que era muito importante, porque quando os
russos invadissem a Suíça, matariam todos os que não
trabalhassem. Eu perguntei porque ele dizia isso e ele explicou
que o [pessoal do] hospital tinha lhe contado para convencê-lo a
trabalhar no jardim.” Brian completa: “Disseram a Evelyn que
Eduard ouvia vozes imaginárias e ficava violento, mas nada
disso aconteceu em sua presença.” (44)

154
10. A solidariedade dos lobos

anúncio maquiavélico-hobbesiano do “homem feito lobo


O do homem” a todos assombra: “Porque partimos do
pressuposto de que o animal homem deve ser domesticado.”
(1)
Freud usou o princípio para justificar sua tarefa, embora
ele é que necessitasse ser domesticado, cerceado em seu viés
animalesco e muito esfomeado, ainda que esbelto. A conso-
nância das torpezas freudiana e hobbesiana é tão flagrante que
poderíamos supor que o “fundador dos complexos” tinha no
Leviathan sua inspiração. Pista direta não encontramos, mas O
mal-estar na civilização sustenta que “a sociedade teve de
impor de fora regras destinadas a conter as ondas de excesso
emocional que surgem demasiado livres de dentro.” (2)
História da loucura demonstra como a solidariedade dos
lobos embreta a presa: “a definição e o tratamento da ‘de-
mência’ constitui uma forma de controle social.” (3)
O bolchevismo e o nazifascismo contavam com o vistoso
galhardete:
“Poucos e, para além de algumas variações, de pequena
importância, os sistemas de explicação do mundo elaborados
na segunda metade so século XIX, como o marxismo, o
freudismo ou o funcionalismo, baseiam-se numa visão positi-
vista, teleológica e material da evolução humana.” (4)
Hegel, como Descartes, havia declarado que a consciên-
cia do homem determinava seu ser. Para Marx, ela era efeito:
“O último elemento presente no materialismo histórico é
a afirmação de que o homem não é dotado de consciência
autônoma e liberdade de escolha, já que “não é a consciência
que determina o ser, mas, ao contrário, o ser social que de-
termina sua consciência.” (5)

155
As oposições, esses dark-sides, só Descartes, Hegel,
Freud e especialmente Marx seriam capazes de discernir: “O
padrão final das relações econômicas como vistas na super-
fície. é muito diferente, para não dizer o oposto, do seu padrão
essencialmente interno e oculto.” (6)
No caso mental, basta substituir a “oculta” causa eco-
nômica do “ser-social” marxista (pai), pela “causa-mãe”, de
Freud. Ambas teorias e todos seus efeitos dialéticos primam
pelo duelo no eixo correspondente, às vezes comum. O ex-
deputado-psiquiatra Eduardo Mascarenhas, recentemente fale -
cido, as misturava incluindo a idéia de Hobbes e Rousseau:
“Freud preferia uma resposta mais psicológica: a luta de
classes, a exploração do homem pelo homem, a desigualdade
de riquezas, prerrogativas e poderes são a expressão da vontade
narcísica de poder, do deleite da dominação, do gozo da
superioridade. A civilização seria um pacto social para mini-
mizar a luta selvagem pela supremacia.” (7)
Bateson, na implícita alusão a Darwin e explícita ao
professor judeu-tcheco-austríaco, não deixou por menos:
“A lógica é um instrumento muito elegante e fizemos
bom uso dela nesses dois mil anos. O problema é que quando a
aplicamos aos caranguejos e às tartarugas, às borboletas e à
formação do hábito. Bem, para todas essas coisas lindas a
lógica simplesmente não serve.” (8)
Autômato não é gente, mas esta é a que menos interessa:
“Nos sistemas compactos da ordem totalitária, o homem, pe-
rante as esferas políticas, deixa de ser politicamente “sujeito”
ou “pessoa”, para ser “objeto, que fica sendo, da organização
social” (9)
A pseudociência estende o manto à volúpia agregada:
“Os domínios mais explorados serão aqueles em que os
dados quantitativos ou quantificáveis são mais abundantes. Daí
todos os estudos compreendidos em matéria de voto, de par-
ticipação eleitoral e de opinião pública. Daí a amplidão das

156
pesquisas sobre os partidos políticos, os grupos de interesse e
os processos de tomadas de decisões (decision-marketing).
Essa ‘tirania de instrumento’ explica, em boa parte, a ‘desigual
penetração behaviorista’. Na ciência política a voga do beha-
viorismo alcança seu apogeu nos anos de 1950. Mas a idade de
ouro behaviorista está prestes a encerrar-se.” (10)
Alberto Oliva enquadra, numa única frase, a teoria freu-
diana e a teoria marxista, ambas capengas por semelhantes de-
feitos:
“Suas estruturas explicativas basilares se apoiariam dis-
simuladamente em estratagemas para debilitar a ação da crítica.
A conseqüência disso seria a dogmatização de conteúdos
interpretativos cuja encenação social levaria, em última análise,
à oclusão política.” (11)
Walter Evangelista coloca a precisa questão: “Marxismo
e Psicanálise como ciências não seria o casamento da violência
com o charlatanismo?” (12)
Soros também os qualifica:
“É significativo que tanto Marx como Freud tenham sido
altissonantes ao enfatizar o cunho científico das suas teorias,
baseando muitas das suas conclusões na autoridade emanante
do ‘cientificismo’. Aceito esse ponto, a própria expressão
“ciências sociais” se torna suspeita. Ela é em geral uma frase
mágica, empregada pelos alquimistas sociais no esforço de im-
por sua vontade ao objeto, por encantamento.” (13)
A Paul Ricoer e também para Jürgen Habermas, a
psicanálise não pode ser considerada ciência, mas “uma ativi-
dade hermenêutica (interpretativa), caso no qual deveria ser
julgada somente em bases intuitivas e empáticas, não empí-
ricas.” (14)
Danah Zohar observa:
“Nossa atual psicologia da pessoa, tanto como com-
preendida pelas pessoas comuns como pelos acadêmicos,
advogados e juízes é uma curiosa mistura de idéia s deter-

157
ministas tiradas diretamente da ciência em si ou de um bolo
mal digerido dos usos em que Marx e Freud quiseram colocar a
ciência.” (15)
No que tange a Marx, sua base foi por água abaixo, tra-
gado no curso dos fatos:
“Assim sendo, contrariamente às previsões implícitas
nas teorias da mais-valia e da exploração do homem pelo
homem, considerado o sistema econômico como um todo, ao
maior ganho do patrão não corresponderá o menor ganho do
empregado, corresponderá ao maior. E ao maior ganho do
empregado não corresponderá o menor e sim o maior ganho do
patrão. Tudo ao contrário do que afirmara Marx.” (16)
O conceituado filósofo contemporâneo Gilles Deleuze e o
psicanalista Felix Guattari sintetizaram os ataques a Marx e
Freud em Anti-Édipo, “no qual realizam uma crítica do conceito
freudiano e lacaniano de inconsciente a partir da categoria
marxista de produção.” (17)
Descamps conheceu a consistente obra:
“‘O anti-Édipo pode ser lido como um paralelo entre as
vontades singulares e as máquinas sociais que cortam, recortam
e segmentam. Porém este livro é, além disso, um ataque frontal
às casualidades redutoras que confinam o desejo em um
triângulo (pai, mãe, castração) ou, em última instância, na
economia.’ E complementa: ‘Não existe um “bom” desejo e seu
contrário. O desejo está em toda a parte, inscrito nas atividades
livres ou opressivas.’” (18)
Mascarenhas elenca os apropriados denominadores:
“Tanto o psicanalista quanto o economista proclamam o
poder de influência desse inconsciente coletivo composto de
mitos, lendas, crenças, ideologias, valores e ideais - o imagi-
nário social - sobre as subjetividades individuais. Ou seja,
ambos, psicanalista e economista, sublinham a importância dos
investimentos efetuados por cada uma destas subjetividades nas
suas circunstâncias. Entre o psicanalista e economista existe

158
uma poderosa convergência: ambos estudam as reações e as
expectativas das pessoas (agentes econômicos) quando imersa
no espaço social. Até porque desse formigueiro intersubjetivo
ninguém escapa.” (19)
Entre o psicanalista freudiano, o filósofo marxista e o
economista keynesiano existe um primordial fator comum: dada
à volúpia de poder, todos superestimam seus intrumentos e
subestimam a capacidade do paciente, tomando-o por tolo.

12. Lenta agonia

EVEMOS, pois, considerar Freud um libertador de


D traumas, ou rasteiro opressor? Crew não o poupa:
“Somente Freud, tão obstinado, versátil e cínico quanto
ambicioso, poderia transformar o fracasso em sucesso autopro-
mocional numa escala tão grandiosa.” (1)
Foucault comenta sobre algumas drásticas conseqüências:
“A grande família indefinida e confusa dos “anormais”,
cujo medo obcecou o final do século XIX, não marca apenas
uma fase de incerteza ou um episódio pouco feliz na história da
psicopatologia; ela se formou em correlação com um conjunto
de instituições de controle, com uma série de mecanismos de
vigilância e de distribuição; e, ao ter sido quase inteiramente
recoberta pela categoria de “degenerência” deu lugar a elabora-
ções teóricas irrisórias, porém a efeitos duramente reais.” (2)
Quando Sir Arthur Stanley Eddington comprovou a teoria
de Einstein, o Dr. Sigmund já estava com seus avançados 50
anos. Em 1932, já passadas três décadas da desenvoltura de
Planck, Marie Bonaparte lhe enviou uma carta, preocupada com
as sensacionais possibilidades da física quântica:

159
“Fiquei conhecendo aqui (Copenhagen) Niels Bohr que,
como o senhor deve saber, é um dos mais proeminentes físicos
de nosso tempo. Contudo, não posso aceitar um dos pontos de
suas teorias sobre o ‘livre arbítrio’ do átomo. O átomo deve,
agora, ser excluído do determinismo”. (3)
Respondeu Freud: “O que a senhora me diz sobre os
físicos modernos é realmente notável. É aqui onde a cosmo-
visão de nossos dias efetivamente está se realizando. Cabe-nos
apenas esperar para ver.” (4)
Bohr desmontava seu cerne:
“Além disso, o problema do livre-arbítrio, muito
pertinente na filosofia das religiões, recebeu nova fundamen-
tação, através do reconhecimento, na psicologia moderna, da
frustração das tentativas de olhar a experiência, no que diz
respeito a nossa consciência, como uma cadeia causal de acon-
tecimentos, tal como originalmente sugerido pela concepção
mecanicista da natureza.” (5)
Em 32 a nova Física já alcançara a maioridade. Nada
mais havia a esperar, mas a reformular.
Alfred Adler enalteceu a importância do estudo ser vol-
tado à individualidade, à pessoa, tentativa relativista que rejei-
tava a exclusividade sexual da disciplina. Seguiram-no Reich,
Rank, até Erich Fromm, embora este permanecesse no pêndulo
com a célebre questão Ter ou ser. Superamos sua dialética de
modo simples: nem ter, nem ser, mas conhecer.
Irving Gottesman, da Univ. Virgínia, após estudar o com-
portamento de gêmeos, também dispensou a bitola freudiana:
“Já não há mais fronteira distinta entre doenças somáticas e
psíquicas, neurológicas e psiquiátricas”. (6)
O prof. Esper Carvalho, do Departamento de Neurologia
e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina, lembra que
importantes descobertas sugerem uma base biológica para
distúrbios psíquicos, entre eles o alargamento dos ventrículos
cerebrais, produção e armazenamento de líquido cefalorraquea-

160
no e a diminuição do fluxo sangüíneo da região frontal do
cérebro. (7)
Explica-nos Danah Zohar:
“Os campos elé tricos entre as membranas de células
nervosas estão em constante mudança por causa das flutuações
da quantidade de energia bombeada para o sistema. Tais flu-
tuações são devidas a alterações químicas no sangue, como
maior ou menor taxa de açúcar, ou a estimulação externa. Por
isso, a força da consciência também sofreria variação, com
maior ou menor número de moléculas (de gordura ou de
proteína) entrando e saindo da fase condensada.” (8)
Na França dos anos sessenta, tempo de frenética busca
por mudanças estruturais, ainda se discutia o modelo dialético-
freudiano com alguma esperança, mas a Inglaterra praticamente
desconhece as teorias do Dr. Sigmund, tanto quanto despreza as
de Maquiavel, Descartes, Hobbes e Rousseau.
Nos EUA, J.B. Priestley, em Literature and western
*
man lembrava:
“A esquizofrênica cultura ocidental estava procurando
desesperadamente pelo seu centro, por algum ponto de equilí-
brio entre a vida interior e a vida exterior. O mundo interior de
toda a época busca uma compreensão para algumas falhas de
consciência, uma restauração do equilíbrio rompido pela
unilateralidade, uma reconciliação de opostos gritantes.” (9)
Edward Shorter repete: “As idéias de Freud, que domina-
ram a história da psiquiatria pelos últimos 50 anos, estão agora
desaparecendo como as últimas neves de inverno.” (12)
Atualmente os pesquisadores trabalham considerando a
maior quantidade possível de fatores virtualmente incidentais,
desde genes de agressividade até a sutil química esquizofrênica.
Em 1995, ao descobrir um gene no braço superior do cromos-
somo 6 associado à esquizofrenia, David Curtis confessou: “A

*
A literatura e o homem ocidental, 1960.

161
psiquiatria ainda está nas trevas. Não temos idéia sobre a base
bioquímica das alterações que ocorrem ao longo do desenvol-
vimento da doença e o ângulo genético pode oferecer novas
formas de entender as causas.” (10)
Em 2000 alteraram-se os medicamentos:
“As empresas farmacêuticas suíça Roche e a islandesa
Code Genetics identificaram um gene vinculado à esquizofre-
nia, informou esta sexta-feira a Roche na Basiléia (noroeste da
Suíça). ‘Estes estudos supõem um passo crucial na identificação
de genes e a compreensão de sua função na enfermidade’, disse
em um comunicado. A descoberta é o resultado de testes
genéticos efetuados em 400 pacientes esquizofrênicos na
Islândia que foram comparados com os de 400 parentes não-
afetados pela doença.” (11)
O Brasil, extenso leito freudiano, redireciona as pesqui-
sas. A Teoria dos campos investiga pensamentos em redes e
rupturas regenerativas. O dedicado e bem-sucedido autor, o
paulista Fábio Herrmann, trabalha com “questões culturais e
sentimentos que em geral escapam à teoria analítica, como
saudades, teimosia e bondade.” (13)
Ao início de novo ciclo, pois, desaparecem resistências.
O método psicanalítico é visto como “um grande embuste no
qual somente ingênuos ou fanáticos praticam, por respeito
religioso ao seu fundador, ou por interesses materiais pouco
dignos.” (14)
Desavisados que se submetem aos procedimentos, tão
caros e tão aleatórios vão paulatinamente rareando, “propostos
por um número cada vez menor de profissionais tapeadores, até
que xeque-mate, Dr. Freud!” (15)
Ao comentar a nebulosa, Renato Mezan usa as palavras
famosas: “não se pode enganar a todos durante todo o tempo”.
(16)
A cabeça, afinal, faz parte do corpo, que por sua vez é
ligado no todo universal; por isto, ela, em sua essência atômica,

162
é capaz de sofrer e produzir uma incomensurável variedade de
influências, sem delimitações de externidade ou internidade, na
eternidade do EspaçoTempo. Observa Edgar Faure, da UNES-
CO:
“Num salto qualitativo de apreensão da realidade, a holís-
tica mostra o caminho para o novo homem em equilíbrio, em
harmonia com suas capacidades desenvolvidas de compreensão
e de poder e com a sua contrapartida de ordem temperamental
afetiva e moral - homo concours.” (17)
Mister transcender da simples análise para uma apre-
ciação mais abrangente, também de certo modo sintética, mas
que tenha por ethos preservar a complementariedade essencial
que liga objetos e efeitos, seres e realizações. “Extremos”, como
muito bem diz Haridas Chaudhuri, “são polaridades insepa-
ráveis, mutuamente necessárias e mutuamente definidas.” (18)
Por último, convém notar - embora Freud não tivesse
tomado conhecimento da obra de Einstein, conquanto tentasse
estreitar relação, este pode conhecer o lastro da obssessão:
“Em 1928 Einstein recusou-se por duas vezes a co-
assinar a indicação de Freud para um prêmio Nobel em
psicologia ou medicina. Em 1949 ele escreveu o seguinte sobre
Freud a um conhecido: ‘O velho tinha uma visão aguçada;
nenhuma ilusão o ajudava a dormir, exceto uma fé muitas vezes
exagerada nas suas próprias idéias’.” (19)
Ulisses Capozoli os compara e questiona: “Ao contrário
dos trabalhos de Einstein, no entanto, que ganham consistência
com o tempo, as perspectivas da psicanálise não parecem tão
evidentes. No seu centenário, a psicanálise divisa seu próprio
fim?” (20)
Muito significativos foram os prêmios Goethe e Nobel de
Literatura abiscoitados pelo Dr. Sigmund, mercê de suas excep-
cionais qualidades imaginativas. A plêiade de notáveis soube
valorizar o caráter literário dos seus slogans e neologismos.
Embora ainda subsista algum apreço a tão fantasiosa compo-

163
sição, principalmente por antigos profissionais que por ele tiram
seu pão, a ni ternacional revista Time radicaliza e questiona,
diretamente, a sucumbência do ídolo, na manchete de capa: “Is
*
Freud Dead?” (21)
Não há mais dúvida, nem desconhecimento:
“O cérebro e o corpo encontram-se indissociavelmente
integrados por circuitos bioquímicos e neurais recíprocos
dirigidos um para o outro. Existem duas vias principais de
interconexão. A via em que normalmente se pensa primeiro é a
constituída por nervos motores e sensoriais periféricos que
transportam sinais de todas as partes do corpo para o cérebro, e
do cérebro para todas as partes do corpo. A outra via, que vem
menos facilmente à mente, embora seja bastante mais antiga
em termos evolutivos, é a corrente sangüínea; ela transporta
sinais químicos, como os hormônios, os neurotransmissores e
os neuromoduladores.” (22)
Hegel, Platão, Hobbes, Descartes, Rousseau, Marx e
Freud abordaram a ciência por ângulos de aproximação e
desenvolvimento invertidos: quanto mais acreditavam em suas
verdades, mais longe delas ficaram. Foram à Marte por não
amar-te, acompanhados de milhões que ainda embarcam, por
ingenuidade, imitação, interesse, justificativa, quiçá por neces-
sidade, desespero ou comodidade, na nave onírica programada
à perfídia sideral.

*
Freud está morto?

164
III. FASCIAMO LA GUERRA

A Guerra certamente há de servir co-


mo uma peneira e levará as pessoas
certas para o alto. Temos gente boa
em Londres, mas nada que se com-
pare com a quantidade produzida
aqui.
Lord Keynes (1)

doutrina política se resumia em estratégia de conquista e


A defesa de domínios. Além desse apelo milenar, a revo-
lução industrial também necessitava da formação da massa,
engrossada pelo êxodo rural sem precedentes. O desenvolvi-
mento das linhas produtivas alavancava bruscas alterações,
oportunidade para novas leis. Toffler examinou a transição do
modelo agrário ao parque fabril:
“As origens da civilização da Segunda Onda são con-
trovertidas. Mas a vida não mudou fundamentalmente para um
grande número de pessoas até aproximadamente trezentos anos.
Foi quando surgiu a ciência newtoniana. É quando a máquina a
vapor vem a ser utilizada pela primeira vez para fins
econômicos e as primeiras fábricas começaram a proliferar pela
Grã-Bretanha, França e Itália. Os camponeses começaram a se

165
mudar para as cidades. Idéias arrojadas passaram a circular:
idéia de progresso; a estranha doutrina de direitos individuais; a
noção roussoniana de um contrato social; o secularismo; a
separação da Igreja do estado; e a nova idéia de que os líderes
deveriam ser escolhidos pela vontade popular, não por direito
divino.” (2)
O contrato social triturava o indivíduo. O dedicado
pesquisador e psicólogo Erich Fromm traduz algumas fatali-
dades das drásticas mudanças, independentemente de sexo,
como batia Freud, ou de raça como prescrevera Nietzsche:
“O administrador, como o trabalhador, como todo o
mundo, lida com gigantes impessoais: com a gigantesca em-
presa competitiva; com os gigantescos mercados nacional e
internacional; com o gigantesco consumidor, que precisa ser
coagido e manipulado; com os gigantescos sindicatos; e com o
gigantesco governo. Todos estes gigantes têm suas próprias
vidas. Eles determinam a atividade do trabalhador e do funcio-
nário.” (3)
Para tudo fazer, para todos atender, mister que o poder
tudo possa. E o cidadão, que nada possa: “O chefe deve mos-
trar constantemente o caminho ao povo, que não conhece sua
verdadeira vontade; deve fazê-lo ver as coisas como elas são –
ou como devem lhe parecer.” (4)
A humanidade “deveria ser protegida de suas próprias
besteiras”. Necessitava “guias, leis, grade e guilhotina”, velha
técnica autoalimentadora aplicada, não passada em branco
por Tocqueville:
“Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros,
quase todos os preconceitos funestos que acabo de pintar deve-
ram seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento
à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para
governá-los mais absolutamente!” (5)
Os homens dividiam-se em multiformas: bons e maus,
ricos e pobres, nacionalistas ou socialistas, patriotas ou separa-

166
tistas, brancos ou negros, católicos ou não. O Estado, além de
fazer frente às catástrofes bélicas, internamente se apresentava
capaz de incumbir-se da proteção de todos, especialmente da
“defesa do menos apto”, podendo e devendo usar uma corre-
lação autoritária evolutiva.
Na selva capitalista, na dialética vital, por Darwin e
Marx, venceria o mais forte. A luta decisiva deve ser travada na
arena política, pelas conquistas sociais, na certeza de que uma
sociedade mais próspera e mais justa deve ser construída por
meio de leis e por meio de vontade política para fazer valerem
tais leis, uma tese de meia -verdade. É inequívoco que não só a
sociedade, porém tudo no universo prospera “leis” chamadas
“naturais” não só porque não artificiais, mas também porque o
homem não consegue alcançá-las. (E, caso alcance, não
necessitará alterá-las. Caso haja um louco que entenda o com-
trário, será incapaz de modificá-las.) Mas o sentido da meia -
verdade exposta, sempre ideológica, apresenta-se flagran-
temente falso, embora de praticidade real, de alta objetividade.
Tocqueville, cem anos antes de George Orwell, prognosticou a
presença do Grande Irmão, o Estado:
“É o único agente de felicidade; ele lhes proporciona
segurança, prevê e supre suas necessidades, facilita-lhes os
prazeres, manipula suas principais preocupações, dirige as
indústrias, regula a transmissão de propriedades e subdivide as
heranças - o que resta senão poupar-lhes todo o cuidado de
pensar e a preocupação de viver? Assim, cada dia se torna o
exercício da livre ação menos útil circunscreve a vontade em
um âmbito mais reduzido. Ele cobre a superfície da sociedade
com uma trama de pequenas regras complicadas, minuciosas e
uniformes, através das quais as mentes mais originais e as
personalidades mais dinâmicas não conseguem passar. A
vontade do homem não é esfacelada, mas amaciada, dobrada e
guiada. Um tal poder não tiraniza, mas oprime, enerva,
extingue e entorpece um povo. A nação nada mais é do que um

167
rebanho de animais trabalhadores e tímidos, dos quais o gover-
no é o pastor.” (6)
As revoluções liberais assim foram abortadas; no enten-
der do historiador, por “prematuras”. (7) A Suíça a tinha ma-
dura; quiçá por isso, pôde formar o mais fulgurante e admirável
exemplo liberal-democrático, causa elementar do progresso de
seus cidadãos. Korontai se reporta:
“Com o fim da guerra civil de 1847, os suíços decidiram-
se por uma unidade econômica e por um estado federativo mais
estruturado, que reconhece a autoridade dos cantões e municí-
pios. Na Suíça existe uma unidade voluntária e inteligente que
produziu uma das democracias mais avançadas do mundo. O
resultado é a estabilidade econômica e uma renda per capita
muito elevada, graças ao respeito à individualidade e ao
controle constante das possíveis tendências centralizadoras.”
(8)

1. Fasciamo na Alemanha

As grandes questões atuais não serão


resolvidas por discursos ou por deci-
sões majoritárias - esse foi o erro de
1848 e 1849 - mas por sangue e fer-
ro!
Bismarck (1)

cético escocês David Hume (1711-1776) expressara um


O hino, um incentivo, vaticínio da unidade à supremacia do
povo alemão, algo que custaria muito caro aos próprios britâ-
nicos, quando as V1 e V2 caíram sobre Londres: “A Alemanha
é um País excelente, sem dúvida, cheia de gente honesta e

168
trabalhadora; se unida, seria a maior potência já vista no mun-
do.” (2)
Foi. Antes, porém, das voadoras, o país legara lições de
paz, de civilidade, de cidadania, de liberdade: “Quem ler a ad-
mirável obra de Tácito sobre os costumes dos Germanos verá
que é deles que os ingleses extraíram a idéia do governo
político. Este belo sistema foi encontrado na floresta.” (3)
Maquiavel ainda pôde testemunhar: “As cidades da
Alemanha são absolutamente livres: cercadas por pequenas
campanhas, elas obedecem ao Imperador quando bom lhes
parece, não o temem, como não temem nenhum de seus pode-
rosos vizinhos.” (4)
O vandalismo napoleônico, a incidência dos apelos de
Hegel, o Volk e por fim a ameaça de Marx jogariam a nação
germânica aos pés do Príncipe.
Antes da centralização, a Alemanha espraiava-se por 18
estados. Embora as emergentes estrelas políticas propugnassem
pela imediata reunião estratégica, o liberalismo sustentou o
Parlamento de Frankfurt. No fatídico 1848, todavia, alguns par-
lamentares tomavam a seu cargo a articulação dos interesses
das classes trabalhadoras, mas não pelos humildes, claro. Al-
mond e Powell, da Universidade Stanford, os enquadram: “Eles
não estavam respondendo a pressões e demandas encaminhadas
de baixo, e sim agindo como guardiões independentes e vo-
luntários desses interesses.” (5)
Como tudo evolui, depois de um quarto de século o
proselitismo trabalhista, através do Manifesto de Eisenach e da
Liga de Política Social, apresentaria os entendidos da econo-
mia e sociologia: G. Schmoller, Wagner, Shaeffle, Brentano,
Cohn, Conrad, Engel, Held, Hildebrand, Knies, Knapp, Rosher,
até von Neumann, von Scheel, Schonberg, time completo.
Foram exitosos, proporcionando os argumentos definitivos para
que o mundo tomasse conhecimento da existência do bravo
povo do norte, mas também arranca o capuz humano que

169
encobria seu oportunista líder, uma das maiores raposas da
política mundial de todos os tempos - Otto von Bismarck
(1815-1898):
“Bismarck compreendeu muito bem o partido que pode-
ria tirar das idéias do socialismo de cátedra: usou-as como um
instrumento de luta contra o socialismo e como meio de
expandir o poderio do Estado.” (6)
O jovem Einstein chegou a conhecê-lo: “Mas quando o
assunto das palestras se desviava para a política, e as pessoas
começavam a falar em Bismarck e na ascensão do Império
Alemão, Albert se assustava e saía da sala.” (7)
Bakunin conheceu Marx e Bismarck. Podemos chamá-lo
BisMarx:
“Na verdade, essa assim chamada ‘vontade popular’ não
é outra coisa senão o sacrifício e a negação de todas as
verdadeiras aspirações individuais. Da mesma forma que o
assim chamado ‘bem comum’ é simplesmente o sacrifício dos
interesses individuais. Haverá uma nova classe, uma nova
hirerarquia de verdadeiros e pretensos sábios e o mundo ficará
dividido entre uma minoria que governará em nome da ciência
e uma enorme maioria ignorante. Então essa massa ignorante
que tome cuidado! Podemos ver como sob todas as fases
democráticas e socialistas do programa do sr. Marx sobre-
viveriam no estado por ele criado e as características cruéis e
despóticas de todos os Estados, seja qual for a forma de
governo que se utilizam e que, em última análise, O Estado do
Povo tão entusiasticamente recomendado pelo sr. Marx e o
Estado aristocrático-monárquico mantido com tanta habilidade
pelo sr. Bismarck são completamente idênticos tanto nas suas
metas internas quanto nas externas.” (8)
O ímpeto de Bismarck foi produto das indicações de
Fichte, Schelling e Hegel à formação do superestado germâ-
nico. O líder militar reencetava a idéia da união prussiana
sugerida por Hume, pelos ideólogos positivistas e pelos discí-

170
pulos hegelianos, ainda mais conclamada sua realização pelo
atraso de cinqüenta anos do alerta de Hegel. A chaga não
cicatrizara. As regiões, até então separadas, deveriam, ime-
diatamente, abraçar o Estado Pan-Germânico, realização orgâ-
nica do super-(conduzido)-homem ariano. Os direitos de
liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto,
com o objetivo de limitar o poder. Os direitos sociais exigem,
para sua realização prática, justamente o contrário, isto é, a
ampliação dos poderes do Estado. Mister o fortalecimento do
comando central e o cerceamento da liberdade do cidadão. A
força do Estado e isto já ensinara até Napoleão, deveria
prevalecer sobre a vida dos concidadãos. Foi o que aconteceu.
As hostilidades do professor da covardia e oportunismo
cresceram até o século XX, algo que encontra ressonância na
sinistra previsão de Nietzsche:
“A Napoleão (não à Revolução Francesa que procura
fraternidade entre os povos e as universais efusões coloridas) é
que nós devemos poder pressentir agora uma seqüência de
séculos guerreiros inigualável na história, em suma, de termos
entrado na idade clássica da guerra, da guerra científica e ao
mesmo tempo popular. Todos os séculos futuros lançarão sobre
esta idade perfeita um olhar cheio de inveja e de respeito; pois
o movimento nacional de onde surgirá essa glória guerreira é
apenas um contragolpe a Napoleão e não existiria sem ele.” (9)
Bismarck, como Cavour, sufocou os regionalismos
convocando seus quadros. Montando um teatro no Poder
Legislativo, convocou cada um dos governantes dos estados
membros à Câmara Alta; o resto do povo ficava na Câmara
Baixa, representados por voto universal. O novo Estado retinha
a força unificadora étnico-lingüística, pré-requisito ao
racionalismo jurídico. O “novo” direito vinha como contra-
posição e substituição do prenúncio marxista. Os fins de
sobrevivência justificavam, como no tempo de Cesar Bórgia, a
pronta e enfeixada ação do unificador. Imperioso o agir

171
condensadamente. Nada melhor do que as táticas maquia -
vélicas e napoleônicas. As lutas de classe opunham opressores
e oprimidos, mas todas as forças deveriam servir a um só
corpo, ao gigante organismo, o Estado Nacional, leitmotiv que
levara Hegel “a propor o problema político por excelência
como problema de recomposição de uma unidade perdida ou
ameaçada. Não sem motivos, Saint-Simon, seu contemporâneo,
havia definido a própria época como uma “idade orgânica”.
(10)
Max Nordau anunciava Degeneration (1895) para fazer
sucesso justamente entre os alemães, que já conheciam as
teorias degenerativas do criminologista italiano Cesare Lom-
broso, enquanto sorrateiro crescia Freud. Mister a ordem, o
enquadramento, a educação autoritarista, o adestramento, en-
fim. O Estado passou a ameaçar os cidadãos e amealhar as
riquezas regionais de modo justificado, positivamente orga-
nizado. O comando alemão, como o francês e o italiano, sufo-
cou as naturais vocações regionalistas, mesclas e relações
aproximadas em nome do centrismo e do determinismo racista,
ingredientes fundamentais à estupidez do Reich, especialmente
o III. Unido o povo, guerra de novo. Hegel, como Maquiavel,
legara recomendações para o “êxito” dos governos junto a seus
povos: “Para não deixá-los lançar raízes e enrijecerem-se em
tal isolamento, para não deixar desagregar o todo e envaidecer
o espírito, devem sacudi-los de quando em quando, em seu
íntimo, com as guerras; devem fazê-los sentir, com aquele
trabalho imposto, o seu senhor: a morte.” (11)
O Mal. Möltke e o historiador Heinrich von Treitschke
misturaram o darwinismo com a religião, festejando todo
conflito como necessário e “divino”.(12) É do Marechal,
também Conde Möltke, o tolo ataque ao pleito de Kant: “A paz
perpétua é um sonho e nem sequer um belo sonho. A guerra é,
no mundo, um elemento da ordem preestabelecida por Deus.

172
Sem a guerra, o mundo se estagnaria e se perderia no mate-
rialismo.” (13)
O Gen. Von Bernhardi (1849-1930), do comboio Ri-
cardo-Malthus-Darwin-Nietzsche, assim justificou as ações
bélicas de Bismarck: “A guerra é uma necessidade biológica de
suma importância, o elemento regulador da vida da humani-
dade, a qual não a pode dispensar. Não é, contudo, apenas uma
obrigação moral; e é, como tal, um fator indispensável da
civilização.” (14)
Espichado pois, nas estações de Platão, Maquiavel, Hob-
bes, Descartes, Rousseau, Hegel, Comte e Darwin, o imenso
trem romântico-nacionalista com destino ao infortúnio, pilota-
do no trecho por Bismarck, abriu o compartimento de carga
para receber, embalada em grandioso container, a massa ger-
mânica.
Hoover, constatou o óbvio: “Os homens idosos declaram
as guerras, mas são os jovens que tem que lutar e morrer.” (15)
A juventude, atraída pela eticidade, bajulada, convencida
e agradecida, embarcou cantarolante. As naturais crises de
adolescência eram canalizadas às revoltas cívicas, no conto do
“progresso por antagonismo”. E, “patrioticamente”, milhões
tombaram nas trincheiras dos fronts.
Em 1870 a Prússia arrumara uma guerra de fácil arre-
gimentação, e de estrondosa repercussão porque contra a gente
que descendia do invasor Bonaparte. Retomando os senti-
mentos de vingança, Bismarck unira rapidamente a Nação
contra o antigo inimigo. Bem marcando a histórica lembrança,
o Marechal de Ferro optou por vestir semelhante uniforme de
general de cavalaria, primeira caricatura germânica de Napo-
leão - não tão egocêntrica, porém de assemelhado maquia -
velismo. Chamou a Áustria para apoiá -lo, ampliando, com o
próprio reforço, a possibilidade de absorver mais terra e
riqueza. A guerra contra a Dinamarca trouxe-lhe favorável
acordo e, na divisão desses despojos, Bismarck aniquilou com

173
os austríacos, dominando-os completamente na famosa Guerra
das Sete Semanas. Entregou os frutos de seu “serviço” a
Guilherme, o Kaiser, enquanto grande parcela do agora
desiludido povo emigrava para a América do Sul, em busca da
paz e amor. As ações de Bismarck tiveram as mais graves
conseqüências, assim apanhadas por Einstein: “Se a Alemanha
não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça
humana teria sido evitada!” (16)
Lamentava Bismarck as mortes, as mutilações, a fuga de
seu povo? Ele próprio respondeu: “Se sentes pena, não és um
homem político. Na política não há lugar para piedade.” (17)
Toda essa dureza dependia das circunstâncias. Bismarck
era muito hábil para tentar abolir o socialismo emergente só
com repressão ou choque frontal. A idéia era “roubar” parte da
bandeira - os planos de bem-estar social inseridos em seu
programa legislativo. Burns resume a tarefa do militar: “es-
sencialmente anti-socialista, ainda que não necessariamente
antagônica a planos de bem-estar social; protecionista e assim
solidária aos interesses dos industriais alemães; e, em assuntos
externos, antifrancesa, firme contra qualquer ameaça prove-
niente daquele antigo antagonista.” (18)
Rosselli conheceu o script da cena:
“É o catastrofismo – o fenômeno da proletarização uni-
versal, do empobrecimento progressivo, da concentração do
capital em poucas mãos, das crises cada vez mais difíceis de
conter – que provoca, excita e exaspera a rebelião proletária e
permite ao profeta uma segurança messiânica.” (19)
Sempre de olho nas guerras e, como no período da
Renascença, objetivando soldados leais e fortes, Bismarck se
colocava “a favor” do trabalhador (!?) contra a doença, a
velhice e outras atenções, de modo que “estes senhores
(socialistas)” fizessem soar em vão o canto das sereias. Anga-
riou enorme e leal contingente.

174
Nietzsche sempre desconfiou, não se conteve e chegou a
denunciar a esperteza, “o maquiavelismo de Bismarck, aquilo
que ele chamava de sua política realista” (20) Mas Nietzsche
*
ainda não era Zaratustra.
O programa de embretamento social de Bismarck foi
incrementado a partir de 1883, através de completa legislação,
textos enxertados com disposições a inspeções fabris, limites
de emprego de mulheres e crianças, fixações de jornadas
máximas de trabalho, agências de emprego públicas, etc.,
estendendo o trilho por onde chegaram ao poder ditadores e
demagogos pelo mundo afora, os quais se valeram do pioneiro
exemplar de Estado Previdenciário.(21) Com saúde, definiti-
vamente, o trabalhador sempre foi melhor guerreiro:
“Afinal, um povo sadio trabalha melhor, produz mais
riquezas para o Estado e sua Corte, além de que, se reproduz
mais, aumentando a população disponível para o alistamento
militar. Povo bem cuidado, mais carne para canhão.” (22)
Cidadãos eram guindados de seus postos de trabalho, de
seus lares, de sua paz, para caírem nas trincheiras, a mando do
Estado. Aos sobreviventes e seus familiares recaia o “direito” a
receber, pois, a devida proteção contra a invalidez, o
desemprego, a doença e a velhice, enfim:

*
Até setembro de 1888, Friederich Nietzsche permanecia praticamente desconhecido;
logo em seguida, três meses após, depois de mergulhar nas trevas do enlouquecimento,
sua obra veio à tona. Multiplicaram-se os trabalhos a respeito de suas idéias. Com o
tempo, caiu a cortina. Por trás dela, em Weimar, jaziam os ovos da serpente, cuidados
pela irmã Elizabeth. Foi ela a mola propulsora, não só do nazismo, como, por início, do
fascismo. Tanto Mussolini como Hitler a conheceram e a reverenciaram. Hitler sempre
necessitou uma guarida intelectual. O Arquivo Nietzsche, em Weimar, lugar do ninho,
recebeu várias visitas do demente. Lá estava Elizabeth Nietzsche, detentora do espólio,
a consagrá-lo como feitor da obra intelectual do irmão. Hitler foi presenteado com a
significativa bengala de Nietzsche. A morte de Elizabeth, em 1935, teve honras de
chefe de estado. Hitler lá estava empunhando o caixão. Em 1971, a International
Nietzsche Bibliografy registrava cerca de 5.300 títulos, entre livros e ensaios, em
diversas línguas: alemão, inglês, francês, italiano, espanhol e português, além de
japonês e grego.

175
“Além disso, a guerra deixa ao Estado o encargo dos
créditos das vítimas de guerra. Os governos adotam o princípio
de que as vítimas de guerra fazem jus à solidariedade da na-
ção. Direitos logo materializados pela carta de ex-combatente,
pelo estabelecimento de pensões. Todos os anos parte apre-
ciável do orçamento público se destina ao pagamento das
pensões de guerra.” (23)
Ai do governante que assim não procedesse; teria que se
confrontar com a adversidade aglutinada dos que nada tinham a
perder, o grande receio dos chamados elitistas, prenunciado por
Engels na década de 1890: “São atraídos pelos partidos
trabalhistas, em todos os países, os que nada tem a esperar do
mundo oficial, ou chegaram ao fim de seus vínculos imbecis
honestos ou velhacos desonestos.” (24)
Além do “honroso serviço militar”, muitos imbecis
honestos saiam de perto da natureza por entenderem-na de
difícil “doma”. De fato, as dificuldades operacionais advindas
da chuva, do frio, do vento, acessos precários, falta de veículos,
de roupas, escassez de recursos médicos a picadas de toda sorte
(ou azar) e, principalmente, inclinações próprias de jovens,
levaram-nos a experimentar alternativas na aventura da vida
nas cidades. E os “burgueses filantrópicos”, ao tratarem com
pequenos favores lideranças operárias, inocentes úteis, ou
velhacos de quadrilha, solidificavam a fabricada representação,
evitavam a revolta contra si e mais - arranjavam, com isto,
ativos parceiros, ao mesmo tempo anulando formações adver-
sárias e ações desestabilizadoras. Era conveniente que pedidos
e concessões político-sindicais assumissem a relevância, senha
para a manutenção e ampliação do poder concedente e trava ao
algoz socialismo revolucionário universalista. Donde provi-
nham os recursos? O sofista e obsessivo Hegel já havia cuidado
de tudo ensinar : “Os impostos não são, em absoluto, lesões do
direito de propriedade. O direito do Estado é algo mais que o
direito do indivíduo a sua propriedade e a sua pessoa.” (25)

176
Bastava lançá-los. Cada um que pagasse a conta por este
“algo mais” tão difícil de qualificar quanto de mensurar.
Hume mencionara. Nietzsche mostraria a razão. Deus
havia morrido; vivia o super-homem, a super-raça, a germâ-
nica, de conduta única, sob única batuta. O Império Romano do
século XX chamar-se-ia Prussiano. E fim. Foi mesmo o fim:
“A construção do Estado da Prússia envolveu a absorção
da nobreza feudal pela burocracia central e o exército, ao
contrário da Grã-Bretanha. Além disso, a penetração da
autoridade central foi conduzida sob os auspícios militares,
numa época em que a Prússia engajava-se ativa e fre-
qüentemente em guerras. Os agentes da centralização foram os
oficiais militares, que deram ao autoritarismo prussiano uma
qualidade militar. O padrão de autoridade e subordinação no
processo de construção do Estado na Prússia, conseqüen-
temente, parece ter sido mais completo, mais destrutivo da
liberdade individual e da independência, tanto das elites quanto
das massas, do que em outros países europeus.” (26)
Eis o desígnio: regular todos os mecanismos sociais
segundo a razão objetiva da ciência em voga e a razão subjetiva
do Príncipe: “O desencanto do mundo e o progresso da ciência
calculista, levando à perda total não somente do mistério, mas
do desejo de revelar o mistério, provocaram o irracionalismo da
dominação.” (27)
Refere-se Ph Roqueplo:
“Na medida em que o poderio da ciência e da técnica é
não somente poderio do homem, mas poderio sobre o homem,
a ciência é mediadora da dominação do homem pelo homem; e
talvez por isso que vivemos numa agressão e numa agres-
sividade permanentes: porque o nosso meio ambiente é
considerado como imputável.” (28)
Até os intelectuais optavam pelo pragmatismo, urgente e
calculável:

177
“A partir do último terço do século XIX, sob a influência
dos grandes trabalhos sociológicos de Augusto Comte, H.
Spencer (1820-1903), Fouillèe (1858-1912), Tarde (1843-
1904), Durkheim (1858-1917) e da escola sociológica de-
senvolve-se e organiza-se a orientação sociológico-econômica:
certos economistas admitem, então, dever a economia política
integrar-se na sociologia, a fim de prosseguir na sua linha de
progresso.” (29)
Ao invés de extinguir o Estado, preservá-lo a qualquer
custo, freqüente ideal de escritores, economistas, juristas e
intelectuais políticos:
“É preciso que o Estado governe em acordo com as
regras de ordem essencial”, diz Mercier de la Rivière, ‘e então
deve ser todo-poderoso’ Segundo os economistas, o Estado não
deve unicamente comandar a nação, também deve formá-la de
uma certa maneira; cabe-lhe moldar o próprio espírito dos
cidadãos, enchê-lo com certas idéias e fornecer ao seu coração
certos sentimentos que julga necessário. Na realidade, não
existem limites aos seus direitos nem ao que pode fazer; não
reforma simplesmente os homens, quer transformá-los; talvez,
se o quisesse, poderia fabricar outros! ‘O Estado faz dos
homens tudo o que quer’, diz Bodeau. Esta frase resume todas
suas teorias.” (30)
Albert Sorel pode demonstrar como este determinismo
reanimou intelectuais e governantes, convencendo governados:
“Toda a política dos filósofos se resume em pôr a onipotência
do Estado a serviço da infalibilidade da razão, a fazer da razão
pura uma nova razão de Estado.” (31)
A razão só provinha da força, para o magnífico equívoco
de Tolstói, ainda em 1893. Acreditava o notável russo, talvez
até por ser fim de século, que, pela dor já suportada, o homem
estaria prestes a se libertar:
“Em outros tempos, se dissessem a um homem que, ao
recusar-se a reconhecer a autoridade do Estado ele ficaria à

178
mercê dos ataques de homens perversos - inimigos internos e
externos - e que teria que lutar sozinho sujeitando-se a ser
morto em combate, sendo portanto vantajoso suportar algumas
dificuldades em troca de proteção, ele poderia acreditar, já que
os sacrifícios que viesse a fazer pelo Estado seriam apenas
pessoais e lhe garantiriam pelo menos a esperança de uma vida
tranqüila numa Nação estável. Mas no momento em que não
apenas os sacrifícios parecem ter se tornado mil vezes mais
penosos, mas os benefícios parecem ter desaparecido, é natural
que os homens tenham chegado à conclusão de que a
submissão à autoridade é algo totalmente inútil.” (32)
Porque vivemos agora, sabemos que apenas ele e alguns
poucos russos entendiam ser a submissão inútil. Sete anos
depois, na Suíça nasciam as novas razões à tragédia: “Por volta
de 1900, Zurique era um imenso clube permanente. Recor-
demos alguns nomes significativos: Rosa Luxemburgo, George
Plekhanov, Mussolini, Karl Radek, Lenine.” (33)
Einstein também andava por lá; esquivou-se alegando
ser “herético.” (34)
Nesta virada de século, as quatro grandes potências
européias – Prússia, França, Rússia, Itália - competiam acir-
radamente por poder, segurança e vantagens econômicas. Cada
uma delas tinha objetivos de assentar as convulsões internas e
todas buscavam a hegemonia internacional. O “centralismo
orgânico” de Charles Maurras recomendava aos franceses a
cooptação ao governante todo poderoso do organismo nacional,
coisa que em L’lami des hommes, do Marquês de Mirabeau já
prenunciara, estabelecendo como seria este grande organismo:
“O Estado é uma árvore, cujas raízes são a agricultura, o tronco
a população, os ramos a indústria, as folhas o comércio
propriamente dito e as artes e os ofícios.” (35)
No mundo dos arautos da engenharia social, Júlio Verne
(1828-1905) projetava uma máquina perfeitamente engrenada,

179
entusiasmando americanos, como Thorstein Veblen e ingleses,
como Keynes.
Com o orquestrado levante operário, o nacionalismo
prussiano se agigantou. O apelo nacional mostrava-se convin-
cente arregimentador de forças na defesa da Pátria, vetor
blocante da revolução universal do proletariado, ensaiada,
predita e pedida por Marx. O reforço do Estado passava a
objetivo geral e único. As propagandas impulsionaram os
sentimentos. Fosse por jogo ou por vingança, os jovens
ansiavam pelas glórias da guerra. A maioria dos russos,
alemães ou franceses nunca tinha viajado de trem, nem
conhecia as grandes cidades. O êxodo rural tomava impulso
diferente e a corrida às cidades cada vez mais se acelerou, para
o desencanto de Franz Kafka (1883-1924), na “sátira contra a
burocracia e uma representação filosófica do isolamento do
indivíduo no universo.” (36)
Os contornos dos cenários, enredo, atores e torcidas
organizadas designavam o roteiro do espetáculo a ser levado
por quase cem anos de pavor, para o lamento do “herético” e
quebra do sonho de Tolstói: a guerra generalizada, desenfreada,
cada vez mais difundida como “momento de crescimento moral
e produtivo da Nação”, “condição de progresso”, mas,
principalmente, “ferroada que não deixa um país adormecer”.
(37) A narrativa do jornalista Gilles Lapouge mostra como o
ingênuo romantismo se apossou da gente participante da I
Guerra Mundial:
“Os estudantes alemães agitavam seus chapéus mos-
trando alegria. Os camponeses franceses chegavam à estação
ferroviária Gare Du Nord com uma flor no fuzil. Essas
imagens dizem que 14 de agosto foi uma alegria, uma festa.
Fizeram-nos sonhar que a guerra iria lhes permitir sair da
rotina, cobrir-se de glórias e retornar a seu vilarejo com a
auréola da vitória.” (38)

180
Agosto vem em seguida de julho, daquele 14 heróico, da
Marselhese.
A ciência política contemplava o auge positivista em
cálculos cartesianos e confronto de vetores, rede pela qual
intrincaram-se cada vez mais percepções mecanicistas, fata-
listas e preconceituosas disposições jurídicas, econômicas,
sociais. Oportunistas e demagogos que jamais chegaram perto
de alguma batalha, pregavam a síntese do pensamento de Hegel
e Sorel. Pierre Drieu chamava a guerra de “surpresa magnífi-
ca”; outros a entendiam como elemento catártico, depurador,
entusiasmante, um privilégio. Grenfel conclamava: “Estará
morto aquele que não combate - e aquele que morre se
engrandece.” (39)
O aperfeiçoamento dos transportes e comunicações
ensejou que as líricas mensagens atingissem confins massi-
ficados, aliciando incautos. No front, o desapego à vida
excedeu razão e emoção. Erich-Marie Remarque registrou as
atrocidades, mas Nada de novo no front ocidental foi proibido
na Alemanha. Ernst Hemingway fez-se no próprio sofrimento
que gerou o Adeus às Armas, apenas um até logo: cerca de 9
milhões de pessoas deram adeus às armas e à vida, neste
primeiro grande conflito mundial: no segundo, foram 77. Para
atender essa demanda, aprontaram-se para entrar pelo túnel
dialético recém construído, respectivamente, pela esquerda,
puxando uma composição de quase o tamanho da metade da
Terra, a “científica” locomotiva marxista, aditivada pelas
constatações evolucionistas-darwinianas aferidas em monitores
dialético-cartesianos, magnificamente pilotada pelo “ás” de
Zurich, Lênin; e pela direita, também autodenominada “cien-
tífica”, a ainda mais obsoleta, mas tão pesada e até mais longa
que sua composição rival, a locomotiva da história sem fim, a
plêiade “raça e tradição” do “Expresso Nacional-positivista” de
Maquiavel, Rousseau, Hegel, Comte, Cavour e Bismarck, o
famoso trem “Fascista”, para ser magnificamente pilotada no

181
trecho pelo outro “ás” de Zurich, Mussolini, logo repartindo a
demência com Hitler. Para a glória da dialética, ambos se
alinharam ao confronto. Cientes e decididos ao combate desde
o raiar do século, eles arrancavam rumo ao colossal estrondo.
Einstein, daquela Zurich de 1900, assim lamentou: “De tudo
isso, não restará nada além de uma poucas páginas deploráveis
nos livros de história, que retratarão sucintamente para a
juventude de gerações futuras os desatinos de seus ances-
trais.” (40)
O “herético” pode ser profeta e testemunha:
“Enquanto no início do século muitos acreditavam que o
progresso e o desenvolvimento dentro da sociedade deveriam
ser obtidos à custa de estrita e opressiva arregimentação
política, o colapso do fascismo, seguido mais tarde pelo desa-
parecimento da chamada Cortina de Ferro, revelou que o
projeto era inviável. Foi mais uma lição da história provando
que a ordem imposta pela força tem vida curta.” (41)
Dalai Lama colhe o ensejo para lembrar: “Muito mais
importante do que as leis é o nosso respeito pelos sentimentos
dos outros de um simples ponto de vista humano. (42)
Mais de meio século da tragédia provocada por fascistas
e comunistas, e muito mais de Napoleão e Bismarck, ainda nos
resta limpar o terreno dos entulhos físicos, sociais, econômicos,
jurídicos e intelectuais impregnados, para livrarmos as gera-
ções, atuais e futuras, das traiçoeiras minas, espalhadas de
modo incalculável. Mister permanecermos vigilantes, atentos
em identificá-las para desativá-las, realizando, ainda que de
modo metafórico, o último pedido da admirável Princesa.

182
2. Fasciamo nell’ Itália

A ética dominante na História da Hu-


manidade foi uma variante da dou-
trina altruísta-coletivista, que subor-
dinava o indivíduo a alguma auto-
ridade superior, mística ou social.
Conseqüentemente, a maioria dos sis-
temas politicos era uma variante da
mesma tirania estatista, diferindo ape-
nas em grau, não em princípio básico,
limitada apenas pelos acidentes da
tradição, do caos, da disputa sangren-
ta e colapso periódico.
Ayn Rand (1)

velha bota, passados os vendavais de Maquiavel e


A Napoleão, pulsava liberada em comunidades autônomas.
Diante do despertar da indústria, porém agravara-se a
dicotomia: enquanto a miséria e a ignorância sulista clamavam
pelas prometidas dádivas antes divinas, agora governamentais,
o radicalismo proletário do norte padecia influenciado pela
moda socialista pangermânica. Qual o remédio? Ora, para
minimizar ou retardar ao máximo a “inexorável luta de classes”,
gotas de paliativos previdenciários, panis et circenses e
qualquer coisa suficiente para desviar a atenção operária. Neste
caso, as guerras, temporárias ou não, com muitas ou com
“poucas” vítimas, constituíam a melhor solução. À unidade
positivista, solidez da tropa, mister o sufoco ao federalismo.
Mazzini e Cavour, em que pese tenaz resistência, lograram
*
êxito, mercê do slogan do Risorgimento :

*
Risorgimento: Movimento romano do início do Século XIX, tendo seu ápice
acontecido por volta de 1870, quando se completou o processo de formação do Estado
unitário italiano.

183
“O Estado-nação italiano nasce em um tempo em que os
anjos exterminadores anunciam que a morte já ronda os nasci-
turnos Estados nacionais liberais. A proximidade dos anjos da
morte adensa ainda mais um horizonte carregado de nuvens
pressagiadoras de ruidosas tormentas.” (2)
E tome guerra, agora pela Europa inteira: primeiro contra
as milícias federalistas de Garibaldi; depois, contra os Habs-
burgos; a Criméia; a Áustria e até o Papado.
Em que pese todas conquistas, o povo continuava
aguardando seu quinhão. Boa parte desistiu e imigrou à
Mérica* . Os que ficaram receberam, não o quinhão, mas muita
bala de canhão.
A saga romano-renascentista, sonho de patriotas e
românticos, prevalecia, quanto mais não fosse, para eximir a
região da já propalada e por isso temida avalanche socialista,
livrando a região das invasões dos novos bárbaros, marketing à
auto-estima perdida desde o século dos descobrimentos. Para
feliz epílogo, o velho enredo requeria a aglutinação do povo em
torno do Estado; junto, a esperança da família italiana em rever
Clero e Governo de mãos dadas, configurando o exemplo e
segurança à famiglia. A desconhecida explosão industrial e o
anticlerical materialismo soprado pelo nordeste europeu
empurravam a população ao único ditame, a uma só voz, a um
maestro, o condutor, o novo Príncipe.
Mazzini e Camilo Benso, Conde di Cavour (1810-1861)
reeditavam as duplas Maquiavel-Cesar Bórgia e Rousseau-
Napoleão. O povo, desde a lat(d)ina catilina, julga que o poder
de si emanado pode em seu nome ser exercido; tal qual se
gabava o Contrato Social e sua versão inglesa, o “utilitarismo”
italiano também haveria de sobrepujar o “egoísmo” do Direito
Natural:

*
Como os imigrantes colonizadores italianos cantavam a América.

184
“Um dos primeiros autores que o jovem Cavour absorve
certos princípios desde então jamais abandonados, além de
Constant, Bentham. Dele Cavour extraiu a idéia da insus-
tentabilidade das teorias jusnaturalistas e uma forte convicção a
respeito da bondade do utilitarismo, ao ponto mesmo de se
considerar com visível prazer um benthamiano endurci* . Num
de seus escritos doutrinários mais completos, Os sistemas e a
democracia, Pensamentos, 1850, Mazzini faz de Bentham o
maior responsável pelo materialismo imperante nas doutrinas
democráticas e socialistas, de Saint-Simon (1760-1825) aos
comunistas; além do mais, chama Bentham de ‘chefe e
legislador da escola’, que compreende todos os adoradores do
útil. (3)
O “astuto nobre sardo”, (4) investido nas funções, logo
tratou de limitar o crescimento eclesiástico com um ardil,
rotulado Lei de Garantias Pontifícias, aparente salvaguarda à
instituição, mas que, por si só, anunciava o verdadeiro dono do
poder, o ditador da norma e seu garantidor. Diante da
sensibilidade e da perspicácia do Papa Pio IX a discórdia
Estado/Igreja permaneceu ainda por longo tempo – até ser
eliminada em 1929, quando o ainda mais esperto Mussolini
conseguiu refazer as pontas com o papado.
Em 1891, o exército eclesiástico pressionava pela extin-
ção completa do reduzido grupo protestante-liberal, ao mesmo
tempo em que insistia junto aos governantes a montagem de
uma retranca ao materialismo emergente. Abrigando-se na capa
da “Justiça Sócia”, a Igreja cerrava fileiras com o Governo, para
liquidar com o arquiinimigo, o liberalismo. Leão XIII
promulgou a Rerum Novarum, nada menos do que ponte
fascista. Gaetan Pirou soube observar: “O catolicismo considera
a corporação um meio de assegurar a ordem sem matar a
liberdade, escapando, a um tempo, da anarquia liberal e da

*
Do francês, intransigente, coração endurecido, amante do útil.

185
coerção socialista.” (5)
A mistificação inebriava o povo, tornando-o maleável.
“A sociedade italiana chega à era moderna esmagada
pelo clericalismo, tendo como referência de poder universal a
potência do papado e seu séqüito de arbitrariedades. Os
métodos políticos clericais cristalizaram-se naquele país em
hábitos e costumes sócio-culturais poderosos, legitimando
fortemente as mais abjetas formas de dominação.” (6)
Gobetti se debateu em vão:
“Ao contrário disso tudo, a nova economia italiana do
Norte surge como indústria protegida, com isso renegando todo
o senso de dignidade empresarial. Entretanto, é hora de
enfrentar os argumentos protecionistas no seu campo predileto,
demonstrando os danos políticos ao seu próprio sistema. Este
inaugurou na Itália uma época de corrupção e de decadência nos
costumes tanto da própria burguesia como do proletariado. A
burguesia, para salvar-se dos erros de suas premissas, procura
cúmplices e paga com uma política de concessões a sua tática
de pilhagem do erário público”.
O exuberante mentecapto montou o teatro solicitado, mas
o comparsa Hitler acabou arrependido em tê-lo como “sócio”:
“Devo reconhecer que me deixei enganar. No fundo, Mussolini
não passa de um homenzinho.” (8)
A ação fascista foi mesmo tragicômica, cômica no início,
mas bastante trágica no fim, quando o “homenzinho” foi
alcançado e morto em Milão, na Piazza Loreto, pela manhã de
29 de abril de 1945. Antes disso, ele tentara, por duas ocasiões,
o suicídio. Os compatriotas, sobreviventes dilacerados, puderam
atendê-lo: “o pão” foi devolvido “amassado pelo diabo”.
Depois, ele próprio foi abatido “a pau”, trucidado na piazza; e
“o circo”, montado no interior do posto de gasolina, apresentou
ao mundo o desenrolar do último número: pendurado de cabeça
para baixo, numa viga metálica, o palhaço espirrava sangue,
feito “carneiro à gaúcha”. Ao seu lado, também esbugalhada,

186
Clareta Petacci, a fiel ragazza. Diferentemente do romantismo
de Romeu e Julieta e do desejo covarde, não houve suicídio;
foram os tapeados conterrâneos quem os trucidaram, ho-
menageando-os com as mesmas pedras, pontapés e escarros
recebidos em vinte anos de truculência e simulação.

187
3. Fasciamo na França

OTALITARISTAS costumam capturar facilmente a car-


T tesiana Paris, “também capital da astrologia, medicina
marginal e religiosidade pseudo-científica.” (1)
Tocqueville ressaltou as conseqüências da Revolução:
“Entre os homens que ocuparam o poder na França nos
últimos quarenta anos, vários foram acusados de ter feito for-
tuna à custa do Estado e de seus aliados, crítica que raramente
foi dirigida aos homens públicos da antiga monarquia.” (2)
Malgrado o alerta, a grata e bairrista Nação preferia
trilhar a lógica fartamente demonstrada pelos compatriotas
Descartes, Rousseau, Saint-Simon e Comte, o suficiente para
desprezar, mais uma vez, o largo farol do Iluminismo. A
maioria dos intelectuais franceses considerava a solução
britânica nociva, enfraquecedora do Estado e prejudicial à
segurança dos cidadãos. Gusdorf confirma o hábito:
“O reino da França foi um dos raros Estados europeus
que se recusaram, de modo obstinado, a reformar-se segundo as
exigências do novo espírito iluminista. Houve soberanos
esclarecidos nas Alemanhas, Áustria, Rússia, Itália, na própria
Espanha e em Portugal, mas não em Versalhes.” (3)
Marx e Engels haviam destilado veneno em Londres,
mas era nesta obscura Paris que os morcegos se alimentavam.
O segundo postulava a (re)quebra da ordem econômica
francesa. Meteu-se o confuso camarada no vizinho país mais
pela força do título do que pelo conteúdo ou originalidade do
trabalho - As lutas de classe na França - onde incitava o povo à
guerra civil. Mais uma vez a Place de La Concorde seria
tingida com sangue:
“Já é passado o tempo de ataques surpresa, de revo-
luções realizadas por pequenas minorias conscientes à testa de

188
massas inconscientes. Quando a questão é uma completa
transformação da organização social, as próprias massas tem de
participar, tem de haver compreendido o que está em jogo, pelo
que estão lutando, de corpo e alma.” (4)
Para melhor compreensão do que estava em jogo (como
podem vidas serem tratadas como peças de jogo?) os primeiros
jornais de trabalhadores prepararam as manifestações. O
Journal des Ouvriers, o Artisan e Le Peuple datam de setembro
de 1830; as primeiras insurreições, novembro de 1831. O lema
*
Vivre en travaillant ou mourir en combattant (5) tornava épico
e justo os sacrifícios por oportunidade de trabalho.
Louis Blanc (1811-1882) e J. Pierre Proudhon (1809-1865)
destacaram-se condenando a revolução industrial. Quase sem-
pre utilizando o velho estratagema da meia -verdade, Blanc
denunciava a exploração da classe operária. No aparente
espírito democrático, os trabalhadores deveriam votar e eleger
representantes que viriam colocar o Estado a serviço de todos,
um “banqueiro dos pobres”, instituição recomendada até por
Tocqueville (6) aos carentes reunidos em “associações de
produção”. Mas a organização se assentou num autoritarismo
estático colocando o Estado-banqueiro à serviço de alguns
empreendedores, mercantilismo que resgatava os senhores do
capital e da produção, enquanto os carentes trabalhadores
continuavam suas reivindicações às portas do Palácio de
Luxemburgo. Blanc tratou de instalar o “Parlamento dos
Trabalhadores” e, como Platão recomendara, tentava conduzi-
lo. Proudhon emprestou-lhe parcial apoio, mas em Contra-
dições econômicas (1846), (7) predisse dois episódios
confirmados em nosso século: a possibilidade ou do comu-
nismo obterem sucesso e o abuso que lhe sucederia.
Graças ao reconhecido talento e à sua brilhante dialética,
ele também formulou uma exitosa teoria da exploração,

*
Viver trabalhando ou morrer combatendo.

189
bombástica por classificar a propriedade como “um roubo” (a
mesma que Marx reencetaria, em seguida, com algumas
alterações), liame que o colocou em sintonia com o eco popu-
lista.
O engatinhante parlamento democrático dissolveu-se
nas mãos dos trabalhadores aglutinados pelos profissionais do
pensamento roussoniano-cartesiano-darwiniano. Os líderes, co-
mo sempre, dicidiam visando seu universo de atuação. Carlos
X tinha que ser deposto. Vencidas as barreiras da tradição
institucional, o campo ficou raso à gigantesca onda socialista,
em cronograma de ações bastante lógico e premeditado, na
verdade repetido.
A designação “socialismo” foi usada pela vez primeira
por Pierre Leroux; e, juntada aos princípios de Descartes,
Rousseau, Saint-Simon e Comte, instrumentava os excluídos.
Os planos ordenavam medidas reformistas moderadas, até a
guerra de classe e insurreição popular, como Engels pregava.
Augusto Blanchi foi seu porta-voz e Guizot sugeria recon-
fortante receita para os males sociais: enrichissez-vous! (8)
Simples, porém confuso; mas George Loveless estava conven-
cido: “Nada será feito para minorar o sofrimento da classe
trabalhadora, a menos que esta o faça por suas próprias mãos.”
(9)
Os interesses amedrontados pelas incertezas, a razão
chocada pela desordem, os sentimentos revoltados pela miséria,
a imaginação estimulada por promessas de inversões, a força
pela união, a junção para a defesa, tudo reclamava, de novo,
ordenadores, condottieres, justiceiros de moderna versão. Os
fins continuavam justificando os meios.
As sentinelas nacionalistas encontravam no lago positi-
vista o espelho da certeza sociológica, o “ver para prever”,
“prever para prevenir” e isto já mencionamos sobejamente.
Então, prevendo o adversário ideológico da Internacional
Socialista, a inversora do sentido, o negativo do positivo, a

190
ampulheta do tempo histórico virada pela perspectiva dialética
e equilibrada no eixo linear de disputa, a exterminadora de
crenças e tradições, da propriedade e até da família, repete-se a
máxima de Maquiavel: “para tudo fazer, é necessário que o
poder tudo possa.” E o marketing encerrava apregoando que só
o poder total poderia combater em todas as frentes e regular os
mecanismos sociais porque pautado na razão objetiva, quando
se sabe que ele, o poder, sempre foi movido por vontades
subjetivas.
O Estado nacional unitário, “monstro concebido na
Renascença, dado à luz por Frederico e Robespierre, evoluído
em Napoleonismo.”, concentração enfeixada de poderes,
obrigava o aceite de todos, sob pena de torturas, prisões,
extradições e todo o descalabro humano. Nada deveria refrear o
poder, muito menos concepções relativistas ou parlamentares,
como as do iluminado Tocqueville, na Câmara dos Deputados.
A contumaz praticante nostálgica, mais uma vez, preferia
trilhar o velho caminho da floresta, buscando nas glórias
passadas a solução de seu futuro. O mito napoleônico, a
glorificação do herói romântico, magistral e triunfante,
entusiasmou a apaixonada gente. O novo rei Luís Felipe I
manda buscar as cinzas de Bonaparte e as deposita, com toda a
glória, debaixo da cúpula do já tradicional Inválidos, na base do
“olha o que eu trouxe para vingar vocês”. A lenda retornava
completa: passadas somente quatro décadas e de novo, através
de revolução, pode refastelar-se o despotismo aclamado Cesa-
rismo, evidente alusão ao famoso romano, claro demonstrativo
de que a França regredia, cada vez mais, no tempo, no espaço
e nos costumes concernentes. E tome Napoleão, agora em dose
dupla, um de cada vez, é claro, nem tão plenipotenciários, sem
ornatos ou grandezas, porque submissos à supervisão real,
quanto mais não seja, para que o próprio Rei não sentisse a
guilhotina da antevéspera do original. O povo francês tudo
aceitou. Mais uma vez, se demitia do poder. O novo proprie -

191
tário do Estado não hesitou em enterrar a liberdade em nome da
segurança e da distribuição de “felicidade”: nada de eleições
políticas, de assembléias parlamentares, de partidos: “o Rei da
França não pode ser rei de um partido; é inimigo das facções.”
e amigo das guerras: “O socialismo nasceu da dissolução do
Ancien Régime, da mesma forma que o conservadorismo foi
criado a partir da tentativa de protegê-lo.” (10)
O “conservadorismo” obedecia aos inconfundíveis pre-
ceitos:
1) Liberdade individual, alvo prioritário, suprimida em
troca de leis de segurança nacional.
2) Liberdade de imprensa negada em nome da disciplina,
mas a fim de impedir o conhecimento da corrupção.
3) Liberdade eleitoral extinta pela tutela processual de
candidatura única.
4) “Liberdade” aos representantes parlamentares, perfei-
tamente dispensáveis até por falta de matéria.
Reportou-se Tocqueville, em dezembro de 1851:
“O que acaba de acontecer em Paris é abominável, no
fundo e na forma e quando se conhecerem os detalhes, pare-
cerão ainda mais cruéis que todo o acontecimento. Quanto a
este, já se encontra em germe desde a revolução de fevereiro,
como o pintinho no ovo; para fazê-lo sair, não falta mais do
que o tempo necessário de incubação. A partir do momento em
que se viu aparecer o socialismo, devia se ter previsto o reino
dos militares. Um geraria o outro. Eu esperava isso há algum
tempo e, embora sinta muita pena e dor pelo nosso país, e uma
grande indignação contra certas violências ou baixarias, que
vão além do inaceitável, estou pouco surpreendido ou pertur-
bado interiormente. Neste momento a nação está com medo
louco dos socialistas e deseja ardentemente voltar a encontrar o
bem-estar. É necessário que a nação, que nos últimos 34 anos
tem esquecido o que é o despotismo burocrático e militar o

192
prove de novo e, desta vez, sem o ornato da grandeza e da
glória.” (11)
Como o determinismo nunca tem fim, posto que las-
treado em ideal, capturada uma posição, ao poente se divisa a
próxima.
A Nação logo seria novamente desviada à completa des-
graça: primeiro, contra a Rússia, na Criméia; depois, contra a
Itália; no além-mar, contra o México. Por fim, por iniciativa do
clone ou não, na retomada das hostilidades aos germânicos,
desta feita atirando os compatriotas no desastre contra
Bismarck. Tanto sacrifício seria em vão? Difícil mensurar, mas
seus efeitos foram os piores possíveis: as duas grandes guerras
nas quais se viu envolta se devem, em primeiro lugar, a
Napoleão e imitações mais ou menos fiéis.

4. Vaca Leiteira

guerra civil espanhola se prestou ao macabro ensaio


A internacional. Os franceses aproveitaram a ocasião e
mobilizaram enorme contingente, além de apoio técnico e
armamentista. Vitoriosa com Franco, a ditadura popular do
Marechal Henri Philippe Pètain abriu as porteiras aos futuros
detratores: “A França rapidamente tornou-se simpatizante dos
nazistas.” (1)
Desde Bismarck os germânicos praticavam estratégias
políticas de sucesso; e permaneciam incólumes ao perigo
vermelho, suplantando-o. Isso incentivava a “macaquice” geral:
“A política do governo prussiano de reprimir ao invés de
cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um
poderoso partido social-democrata revolucionário, que se
tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O
PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os

193
movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e ame-
ricano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores
eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em
toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos
operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a
segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reco-
nhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1
milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões.” (2)
Sob os aplausos da Igreja (3) e com a orientação de Jean
Coudrot, fundador do famoso Centro Politécnico de Estudos
Econômicos, uma nova geração de tecnocratas tomou conta do
regime de Vichy: “A independência do setor privado no
Ocidente foi gananciosamente engolida pelo Estado. O espírito
corporativista, sempre presente na França, assumiu a indústria e
houve um ressurgimento da intolerância patriótica de espírito
jacobino.” (4)
O Estado logo instituiu a pensão familiar (1932), uma
remuneração extra a quem tivesse filhos, na idéia do demógrafo
Adolphe Landry. O incentivo atendia duas finalidades anta-
gônicas: no caráter humanístico da solidariedade, imiscuía-se o
interesse em criar um maior número de combatentes. O
corporativismo assistia, orgulhoso, o esbulho da Etiópia por
Mussolini; tal qual fascistas, bolcheviques e nazistas, os
fanáticos eram implicados ao repúdio da ciência e do paci-
fismo: “Einstein também recebeu ameaças, principalmente em
Paris, antes de lá chegar. Barricadas foram erguidas na frente
do College de France, onde daria sua primeira palestra. Paul
Langevin e o astrônomo Charles Nordmam foram recebê-lo na
fronteira da Bélgica e viajaram quatro horas para voltar a
Paris.” (5)
Os dedicados parisienses gostavam do conto dialético:
“Antes da II Grande Guerra, durante mais de vinte anos,
Hegel ocupou na França um lugar central. Se a maioria dos
pensamentos se afastam dele, também é por terem sofrido a

194
influência determinante daquele que se quis o ‘último filósofo’
e que continua a colocar para todos a questão da mudança do
mundo.” (6)
Johnson confirma: “Até a derrocada na Argélia, a polí-
tica francesa fora um labirinto de contradições: paternalismo no
velho estilo, na selva e no sertão, com colonos incendiários e
nacionalistas negros de alto nível de instrução sentados, lado a
lado, na Assembléia de Paris.” (7)
Das exigências alemãs, nenhuma novidade, tudo foi tolerado.
Metade da produção francesa subsidiou a máquina de guerra
*
nazista. A “Vaca Leiteira” optava dar coice na Grã Bretanha, a
mesma que, caprichosamente, iria invadi-la pela Normandia,
não por vingança, nem para saqueá-la, mas para livrá-la da
radicalidade por ela alimentada. A proximidade com Hitler fora
tão acentuada que os próprios cidadãos franceses, além de
destinarem cerca de 40% de sua produção para a economia de
guerra alemã, colaboraram na caça aos perseguidos judeus,
deportando-os às garras daquele debilóide, fato que chegou ao
conhecimento geral revivido pela voz demagógica e “arre-
pendida” do Presidente da França, sr. Jacques Chirac. (8)
O ideal exterminador emanado concomitantemente da
“esquerda” e da “direita” envolveu os franceses muito além das
guerras mundiais: na Argélia, uma matança de quinze anos,
promoção do Partido Comunista em prol da “libertação”. Ali o
barbarismo tinha outro objetivo: liquidar com terroristas
simpáticos a causa muçulmana pelo espírito de “vendetta”
nacionalista. Em 55, esta Frente de Libertação Nacional,
conforme a sapiência de Hegel, Marx, Darwin, Sorel e de suas
torcidas, passaram a eliminar qualquer que não fosse “tão
francês”. O genocídio foi acompanhado da recomendação de a
ninguém poupar, nem mesmo crianças inocentes e milhares de

*
Como Hitler apelidou a França. (The new order and the French Economy, p. 272 a
288; Johnson, P., p. 306.)

195
mulheres argelinas foram seviciadas, como sempre, antes da
tragédia final.
Para eleições tratadas democráticas, desde a Revolução a
França suporta um método de aferição de sucesso. Obedece aos
talhes racionalistas, matemáticos, por assim dizer: como no
futebol, primeiro há a classificação de dois candidatos, entre
vários; na final, no segundo turno, digladiam-se um e outro, um
à esquerda, outro à direita, polarizando todas as discussões e
alternando-se no poder:
“Tanto no caso do predomínio da Direita sobre a Es-
querda, quanto no caso contrário, as duas partes continuam a
existir simultaneamente e a extrair cada uma delas a própria
razão de ser da existência da outra, mesmo quando uma
ascende na cena política e a outra desce.”(10)
Um pouco para cada um, fica tudo em paz. Até a geo-
grafia parisiense é dividida entre esquerda e direita do Sena.
Por uma ou outra parede o tradicional país bate a cabeça. O
Brasil, das bananas e do futebol, importou a sutile za deste
gran-finale sem ao menos saber por quê, ou será justamente
por isso: “A lógica dualista gera uma atitude exclusiva,
agressiva e militante, enquanto o não dualismo produz uma
atitude abrangente, harmonizadora, amante da paz.” (11)
De Gaulle manteve a IV República em frangalhos, só até
62. A V coroou-lhe “monarca republicano”. (12) François Mit-
terrand, o último socialista, afogou a economia com a
estatização bancária. O “arrependido” demagogo Jacques Chi-
rac, a atual reação nacionalista, presenteia a ecologia mundial
com sete (7) bombas nucleares detonadas numa das regiões
mais ricas e belas do planeta - a Polinésia - enquanto seus
déficits na previdência somam a impressionante cifra de $60
bilhões. (13)
Salvo por um juízo que não alcançamos, a França não
tem nada que ver nem com Brasil, muito menos com a
Polinésia. Talvez exatamente por isso não vacile em conta-

196
minar, à revelia do protesto mundial, a fauna e a flora subma-
rina daquele deslumbrante arquipélago. Sob o título “País não
sabe como preparar o futuro sem pisotear o presente”, o
comentarista internacional desce a crítica: “Autoridades não
tentam explicar reformas à opinião pública e dão munição aos
sindicatos. A História mostra que muitas vezes os franceses não
podem pensar no futuro sem escangalhar o presente” (14)
Com todos esses continuados desmandos, os franceses
ainda se põem como diapasão:
“França é termômetro de mudanças mundiais. Agitação
no país costuma indicar que humanidade está pisando novos
territórios. A França tem um alto conceito de si mesma. Ela se
considera um modelo para a humanidade. Os outros países riem
de suas pretensões: os franceses são vaidosos, dizem. Agitam-
se por uma coisa de nada, derramam sangue a toda hora,
desgastam seus nervos ao primeiro perigo e, no entanto, se
crêem a bússola ou o Pólo Norte da modernidade ” (15)
O resultado da pretensa “política” francesa, não por
acaso semelhante ao atual drama brasileiro, é um só, espelhado
pelos jornais de 1996:
“Alto desemprego francês agrava a inquietação social.
Paris - O espetacular aumento de desemprego registrado em
agosto na França eleva o exército de desempregados a
3.085.100 mas, aplicando-se os cálculos tradicionais - que
incluem as pessoas que trabalham menos de 20 horas semanais
- a realidade é mais assustadora: 3.418.000” (16)
De que adianta, pois, todo ardor, educação, cultura,
riqueza, e história escrita por este povo? De que valem per-
fumes num mar de lama alastrada?

197
5. No ritmo das castanholas, tiros de canhão

Revolução Bolc hevique completava a maioridade, a-


A meaçando se expandir, mas os formadores de opinião
acreditavam que o fascismo predominaria na Europa, e no
mundo todo. Havia regimes totalitários na Alemanha, na Itália,
em Portugal, na Polônia, na Hungria, na Áustria, na Turquia, na
Grécia, na Romênia, no Japão, no Brasil, todos convivendo
com a dramática dicotomia.
Stálin, Hitler e Mussolini marcaram seu primeiro
combate direto no reduto espanhol, campo neutro, onde não
perigavam seus lares, enquanto “heróis” nacionalistas coman-
davam “torcidas organizadas” - Confederação Española de
Derechas Autonomas (CEDA) e Juventudes de Accion Popular
(JAP) - no escopo de matar ou morrer: “Ou a Accion Popular
esmaga o marxismo, ou o marxismo destruirá a Espanha.” (1)
As atuações foram “exitosas”. A trágica guerra civil,
iniciada em 17 de julho de 1936, foi a primeira grande
conseqüência do acirramento entre as duas bestiais loco-
motivas. Os espanhóis se prestaram, mais uma vez, a bucha de
canhão. Garcia Lorca e milhões pagaram a discórdia com a
vida:
“As gangues da ‘Frente Popular’ geravam assassinos sá-
dicos, que mais tarde se tornaram os piores agentes do terror
stalinista durante a Guerra Civil. Em maio, a invasão de fá-
bricas e ocupação de grandes propriedades. Em junho, a
violência piorou - 160 Igrejas queimadas; 269 assassinatos;
1287 casos de agressões; 69 escritórios destruídos; 113
“greves gerais”; 228 “greves parciais”; 10 sedes de jornais
saqueadas.” (2)
Centenas de livros foram escritos a respeito. Por quem
os sinos dobram, de Ernest Hemingway, A guerra acabou, de
Alain Resnais, Terra e liberdade, de Ken Loach, retratam com

198
lirismo, mas também com realismo, o triste desenrolar das
batalhas na Pátria do “papai” Generalíssimo Franco, e dos
“padrinhos” italianos e alemães. Primo de Rivera já havia
deixado um rastro de corrupção e desencanto; com Mussolini e
Hitler, Franco encontrou seu maior argumento. Para quê
instituições democráticas? “Os espanhóis estão cansados de
política e de políticos. Só os que vivem de política deveriam
temer nosso movimento.”(3)
Franco solicitou e os alemães contribuíram, de imediato,
com dez mil homens; Mussolini enviou cinqüenta mil soldados,
cento e cinqüenta tanques, quase mil aviões, canhões anti-
aéreos, metralhadoras. Daí chegaram bombardeiros; da Alema-
nha, suplementos e aviões de caça. A sirene do debutante Stuka
estremeceu os acuados corações espanhóis.
Envolveram-se ainda os franceses com nove mil homens,
somando-se aos portugueses de Salazar, escandinavos, ameri-
canos, britânicos, belgas, etc. (4):
“No princípio de agosto Franco transportou pelo ar 600
mil cargas de munição e conseguiu atravessar três mil homens
pelo estreito só num dia.” (5)
O fratricismo espanhol liquidou com 40 mil voluntários,
de 50 países. (6)
Em 1939 os republicanos se renderam. Franco pôde
entrar em Madrid, depois de fuziladas mais de cem mil pessoas.
E calcula -se que morreram um milhão, durante os três anos de
embates. (7)
Com tamanha devastação impune, e inequívoca demons-
tração de força, Hitler se animou. O ensaio em território espa-
nhol acabou em março. Em setembro, a peça correu noutro
cenário: Hitler invadiu diretamente a Polônia, mas a Espanha
não lhe acompanhou: o povo, prostrado, exaurido, assistia
Franco lamentar que o país fora usado só para treinamento das
milícias e experiências de armas de Hitler, Mussolini, Stálin,
mas a neutralidade se deu porque o Generalíssimo exigira

199
pesado armamento para atacar Gibraltar e defender as Canárias,
requerendo ainda o espólio dos territórios de Oran, Marrocos e
alguns da África. O III Reich lhe dispensou, para alívio das
famílias espanholas sobreviventes.

6. O mundo em contradição

Ofenda pela razão e se defenda pela


força.
Chiang Ching (1)

frota de Hegel, Hobbes, Rousseau e Platão haveria de


A encontrar as costas asiáticas. O Japão substituia seu di-
reito consuetudinário por uma “amarelação” hegeliana, bem
encadeada pelo Ministro Sadão Araki, ideólogo espelho de
Hitler, em cena já no inicío da década fatídica. Nascido e
mantido por um Estado cuja educação evidenciava alguns
princípios históricos de raça, família e religião, o japonês agora
se submetia ao “papai de araque” terreno. Ao esquecer Confú-
cio, o Oriente relegava o cidadão a mero produto do sistema
preestabelecido, oprimido no ordenamento positivista, linear,
pretenso defensor do todo, usufruto de um. O ser depende do
todo, deveria ser controlado pelo todo, em prol do todo,
timoneado por um. Indivíduos serviam apenas como elos da
grande cadeia, carrapatos do Leviathan.
As decisões não continham responsabilidade individual.
Cada ordem, por mais absurda, diluia -se no coletivismo
exacerbado, anônimo e irresponsável, todos acobertados por
hipocrisias. Utilizando-se do Código dos Samurais, o positi-
vismo japonês exigia lealdade e obediência à honra nacional,

200
acima de quaisquer outros interesses, mesmo a vida do próprio
indivíduo.
A degeneração do assalto à China, em 1937, levou o hor-
ror e devastação ao reduto dos humildes campesinos vizinhos.
A estupidez foi levada ao extremo poucos anos depois.
*
Os Kamikases , inocentes úteis recrutados pela estória do
**
Xintó , envolveram-se numa história que não se sabia onde
acabaria. Em 45, os japoneses tiveram a resposta, no espetáculo
de Hiroshima. Na cruel realidade, findou o xintoísmo e o fas-
cismo: “A primeira bomba atômica destruiu mais que a cidade
de Hiroshima. Ela também explodiu nossas idéias políticas
herdadas e ultrapassadas.” (2)
Talvez nem tanto quanto necessário, a constituição japo-
nesa confeccionada no pós-guerra, ainda que montada no
quartel-general do ultradireita Gen. McArthur, expressa os
princípios democráticos-liberais extraídos das constituições
britânica e norte-americana; e ensina aos japoneses que o
Estado pode existir para o cidadão, sem ser fraco, ao contrário:
ele garante os direitos individuais e liberdades civis, direitos
naturais inalienáveis até então solapados pelo ente coletivo. No
mastro fundamental, o País do Sol Nascente fixa a grande vela
que aproveita todo vento, favorável e até desfavorável, para
assumir a velocidade indiscutível de seu desenvolvimento.
A Austrália, até então sem parceiros na região, pôde participar
do intercâmbio de oportunidades, junto com Coréia do Sul,
Taiwan, Hong-Kong, Tailândia, Malásia, Filipinas, até Fiji etc.
alargando as potencialidades da região, até que a temerária
onipotência gerencial-financeira de alguns teimosos governos

*
Famosos pilotos suicidas da II Grande Guerra. Atiravam seus aviões de encontro aos
navios adversários, crendo serem reconhecidos como mártires da religião nacional.
**
Caminho dos Deuses. Culto mistificador da raça e império japonês. O Xintoísmo
fez-se religião oficial até 1945 como culto aos antepassados e exaltação ao imperador;
seu nascimento antecede a Buda. A exaltação comprovava-se no suicídio.

201
fascistas-keynesianos retornassem ao poder a tempo de colocar
a economia em risco:
“Há muitas deficiências no modelo asiático de desen-
volvimento econômico: fraquezas estruturais no sistema bancá-
rio e na propriedade das empresas, relações incestuosas entre
empresas e políticos, a falta de transparência e a ausência de
liberdade política.” (3)
De qualquer sorte, pelas constituições liberais todos
elevaram suas rendas a patamares muito acima da Muralha:
“O modelo asiático de desenvolvimento proporcionou o
aumento acentuado do padrão de vida, com os países exibindo
o crescimento médio anual de 5,5 por cento na renda per
capita, durante um longo período - ritmo mais acelerado do que
praticamente todas as economias de mercado emergentes.” (4)
Na Indonésia a Terra recebera a maldição Sukarno,
escopo da mais infeliz idéia hegeliana. “Delenda Cartago” rea-
parecia como “Esmague a Malásia”, com a idéia: “Uma Nação
precisa de inimigos”. (5)
Destruídos foram a própria Indonésia e seus filhos. Por
volta de 65, o massacre correu solto; na tradição local, coleti-
vamente. O “igualitarismo” condenou à morte um milhão de
pessoas. Famílias inteiras foram carregadas ao holocausto. Nas
covas comuns, o igualitarismo fora atingido - todos jazem em
igual condição. Sukarno morreu de moléstia em 70, abando-
nado e sem poder falar; mas a Nação ainda teve que amargar
um clone, em nome e atitudes - Suharto.
Nas Filipinas, os americanos, após a luta contra os
kamikazes, doavam àquele povo uma base militar de
excepcional capricho e extensão, inúmeras áreas residenciais,
loteamentos, clubes, patrimônios construídos e intactos. Tenta-
ram conduzir uma certa consciência cultural; havia, contudo,
coincidentemente ou não, a presença antecipada da Igreja
Católica, através do anterior domínio espanhol, a dificultar e
frustrar a colonização cultural protestante. Na evacuação ame-

202
ricana, ocupou-se do poder o corrupto Ferdinand Marcos, o
qual foi desmascarado pela brava Coraçón Aquino.
Na Grécia o Gen. Metaxas aplicou o golpe em 1936, na
“incumbência” de “disciplinar” o povo grego. O individualismo
natural, próprio do arquipélago, deveria se integrar no ernst, “o
sério espírito alemão”. A nova guerra civil matou oitenta mil
gregos; vinte mil apodreceram em prisões, cinco mil execu-
ções; e condenou milhares de refugiados a reencetarem as
memoráveis viagens de colonização ao longo da costa do
Mediterrâneo.
*
A Iugoslávia elevou Tito , “Chapeuzinho Vermelho
diante do lobo Stálin”. (6) O Kremlin o recebeu no interesse de
cerrar fileira contra o avanço nazista, bem como de anexar as
várias pequenas nações que compõem aquele reduto. Em
seguida, todavia, o “Chapeuzinho Vermelho” bloqueou a
crescente interferência do marxismo em seus domínios: “Não
importa o quanto cada um de nós ame a terra do socialismo, a
URSS; o que não se pode de maneira alguma é amar menos o
seu próprio país.” (7)
Com esta conversinha Tito manteve o peculiar nacional-
socialismo por mais de quarenta anos, fazendo de seu cargo
uma atividade vitalícia e definitiva. Depois de tantas cabeças
cortadas, a Iugoslávia, dilacerada, esfarelou-se nas guerras
étnicas.
Recém completados os dezoito anos da Proclamação da
República, nossos irmãos lusitanos ainda caminhavam pela
mão do “papai”. Antônio de Oliveira Salazar, responsável pelas
finanças do erário desde 1928, adotava os métodos maqui-
avélico-keynesianos, designado 1º. Ministro “vitalício”. Já em
maio de 1930, implantou o Estado Novo, na designação que
seria copiada, após sete anos, por Getúlio, no Brasil. A
Constituição portuguesa de 33, tal como o fascismo, moldou

*
Marechal Josip Broz.

203
um poder de Estado forte, corporativo, anti-parlamentar e
positivista. Salazar tratou logo de publicar o Decálogo do
Estado Novo, justificativa que tolhia o espaço do indivíduo,
permitindo sua existência apenas como membro de grupo
natural, isto é, da família; de grupo territorial, isto é, do
município; e do grupos profissional, leia -se por corporações e
sindicatos. Os arreios fascistas e os chicotes “corretivos”
açoitaram a dócil população portuguesa, como a iugoslava, por
quarenta anos. Em setembro de 1968, o cavaleiro (sem “h”
mesmo) caiu da montaria; da residência de verão, Forte de São
João do Estoril, veio a notícia: o ditador sofrera uma queda de
cavalo, daí resultando um coágulo no cérebro, seguido de
trombose. Salazar ficou cego de um olho e semi-paralítico.
Marcelo Caetano assumiu, pouco variando, mantendo inclusive
o sistema de informação. A população se revoltava cada vez
com mais intensidade. O socialismo recebia contingente extra
pelos descontentes e revoltados. Em 74, veio o epílogo, na
Revolução dos Cravos. Marcelo Caetano conseguiu se evadir
para o Brasil.
Na confusa Indochina, os comunistas açambarcaram o
poder a partir de abril de 75; à tiracolo, programas de
engenharia social da escola de Stálin.
Na Índia foram os escritos de Thoreau e não os de Marx
ou de algum dos Roosevelt, que influenciaram Mohandas
Karamachand Gandhi (1869-1947), mais tarde cognominado
Mahatma - Grande Alma. Gandhi colheu seu intento jus-
tamente pela pregação da “desobediência civil”. Einstein o
reverenciou:
“O trabalho da vida de Mahatma Gandhi é único na
história política. Ele elaborou um método totalmente novo e
humano para promover a luta pela libertação do seu povo
oprimido e o implementou com uma enorme energia e de-
voção. Acredito que Gandhi teve as idéias mais iluminadas de
todos os políticos de nosso tempo.” (8)

204
Informa o biógrafo: “Percorrendo os escritos de Einstein,
encontrei expressões de sua admiração por Gandhi já em 1929
e até 1954. O Mahatma claramente causou uma impressão
muito mais profunda em Einstein do que Tagore.” (9)
A propósito, nada consta que Einstein conhecesse a
obra do inspirador Thoreau. O excepcional físico, embora
filósofo nato, não teve oportunidade de mergulhar em
importantes obras das ciências humanas, entre as quais a
(des)articulação da “Desobediência Civil”; tampouco acessou
as concepções de John Locke, Montesquieu, Shaftesbury,
Adam Smith. Suas observações filosóficas se restringiram,
afora algum mais remoto, a David Hume, Kant, Stuart Mill e
Spinoza, com o qual afinava. (10)
A lei e a nascitura democracia liberal, todavia, foram
exterminadas na vontade de Nathuram Godse. O assassinato do
Mahatma perverteu a harmonia, perdendo-se, na poeira
vermelha da luta pela sobrevivência, os ideais tão ardorosa e
sofridamente defendidos pelo líder maior, e pela multidão. O
poder legislativo se transformou numa arena de lutas de
conotações religiosas, políticas, econômicas, estratégicas,
poder do mais forte. Eles venceram. O Congresso, virado
partido, não encontrou dificuldade em aceitar e até justificar o
regime do terror implementado. Nehru montou o cavalo
fascista durante 17 anos, com os arreios do partido do Con-
gresso (único) tomando o nome de sindical.
A Revolução Francesa e Napoleão tinham mais uma
versão, não tão drástica, mas com outros danos irreparáveis.
Executando uma reforma agrária que alienava a terra a um
pequeno círculo sem produtividade, até hoje a Índia permanece
estática, num eterno mar de lamentos.
Nehru preferia discursar sobre moral entre relações
internacionais, promovendo especialmente os blocos socialistas
asiáticos. As performances criminosas de Mao, Ho Chi Minh e

205
a bandoleira invasão soviética na Hungria de 56 eram saudadas
como prenúncios de justiça.
Para completar, a Índia suportou a senhora Gandhi, nada
de Mahatma. A dama “calculista e inescrupulosa” (11) radi-
calizou as atenções internacionais pisoteando o vizinho Paquis-
tão. Com a hostilidade chinesa, ela optou pelo alinhamento
soviético, jogando o país, de qualquer forma, para a esquerda,
para inglês ver.
O Egito arrumou seu maquinista na figura carismática e
corrupta do Coronel Gamal Abdul Nasser. Como os colegas, o
impostor árabe não inventava nenhuma estratégia, apenas o
trabalho de copiar os desempenhos dos ditadores europeus
precedentes. Uma vez no poder, abraçou-o todo, não hesitando
em extinguir, de imediato, as instituições democráticas e braços
partidários, assim dissolvendo as resistências. De novo, como
Hegel e Sorel prescreveram e como Sukarno, Bismarck,
Mussolini, Hitler implementaram, o aspirante precisava de
amigos para criar inimigos; e vice-versa. Às hospedagens
penais, Nasser montou a farsa das “Cortes do Povo”, não
esquecendo de aplicar intermitentes doses terroristas. O ex-
Primeiro Ministro Anthony Eden não se enganava: “Nunca
achei que Nasser fosse um Hitler, mas o paralelo com
Mussolini é perfeito.” (12)
Em 54, Nasser conseguiu a expulsão inglesa de Suez, e
o inimigo comum israelita foi a desculpa para coroar seu
noivado com a Rússia, auferindo, no joguete, um extraordinário
suprimento de armas.
No Irã, em 53, caíra o 1º. Ministro que lutava pela
nacionalização do petróleo, desde a 2ª. guerra. O xá Reza
Pahlevi voltou do exílio e iniciou um governo semi-fascista,
com forte presença americana.
Os poderes enfeixados numa só corrente “positivista”
para fazer frente ao fantasma vermelho avançou por inúmeros
países da África. Líderes da Costa do Marfim, Niger, Came-

206
roon, Senegal, Gabão, Mauritânia tiveram a intimidade dos
palácios parisienses na época do General dos generais, o
mitológico De Gaulle e sua 5ª. República. A conta das recí-
procas trocas de presentes foi paga pelos respectivos súditos.
No Togo, o golpe veio em 63 com o assassinato do
Presidente. Depois foi a vez de Cotonou, Zaire, Tanzânia,
Uganda, Quênia. Por volta de 75 vinte países eram “ordenados”
ao progresso por juntas militares, gáudio dos “positivistas”. Em
Gana, foi a vez do “conscientismo”; Nkrumah tomou o país
almejando todo o continente para si: “Todos os africanos
sabem que eu represento a África e falo em nome dela. Por
conseguinte, nenhum africano pode ter opinião diversa.” (13)
Ninguém teve até 66, quando um golpe militar o des-
terrou, morrendo poucos anos depois.
No Senegal, a moda era a negritude.
Na Zâmbia, a capa “humanista” tinha o corte de Platão,
Rousseau, Hobbes e Marx:
“O humanismo visava erradicar todas as más tendências
do homem, livrando a sociedade do Presidente Joseph Kavasu,
do Primeiro Ministro Patrick Lumumba e de inclinações
negativas, tais como o egoísmo, ganância, hipocrisia, indi-
vidualismo, preguiça, racismo, pobreza, doença, ignorância e
exploração do homem pelo homem.” (14)
Com Mobuto o Congo viajou no botuísmo, sistema
político pelo qual o “general” se digladiava com o premier de
Katanga. Lumumba tentava criar um Estado para si, mas caiu
nas garras de Mobuto; o exército congolês, já por este domina-
do, o entregou de bandeja aos catangueses para ser assassinado
em 61.
No Zaire, há trinta anos há o massacre de rebeldes tutsis.
Mas há também boas notícias: finalmente, conquistaram
Kisangani, “aproximando o fim de um dos governos mais
corruptos e ineficazes da África, golpeia a diplomacia da
França e abre novas perspectivas estratégicas ao fragilizar as

207
fronteiras impostas pela colonização européia. Depois do
fracasso francês da última quinta-feira, que queria enviar uma
força multinacional “humanitária” ao Zaire, a derrubada do
governo do ditador militar Mobutu parece inevitável.” (15)
Na Nigéria, mister escolher amigos e inimigos, a dialé -
tica para o progresso. Sobre um rastro de cadáveres, Biafra,
Tanzânia, Gabão, Zâmbia e Costa do Marfim se prostraram à
mercê de companhias multinacionais de petróleo, as quais não
titubearam dizimar fauna, flora, florestas, remunerando o dono
da propriedade e seus vizinhos com doenças, fome e desgraças.
Na África Central, Jean-Bedel Bokassa trouxe distante
cópia de Napoleão. O auto-proclamado Imperador subiu ao
trono promovendo inesquecível festa, caríssima aos esquálidos
contribuintes, mas aproximava a Nação ao beneplácito da
França. Enquanto isso, seus asseclas torturavam, matavam,
“devoravam” seus adversários. Numa chacina (Bangui) Bokas-
sa ordenou o fuzilamento de centena de estudantes. Acabou ele
mesmo condenado à morte por incontáveis assassinatos,
conluios com a Líbia e fraudes com ouro e diamante, mas não
morreu nesta ocasião: passou os últimos sete anos exilado na
França, com 15 de seus 54 filhos, onde possuía quatro castelos,
um hotel, uma vila e um avião. Em outubro de 95 sofreu um
derrame, para morrer no início de novembro de 1996.
Falando em Líbia, basta mencionar o mundialmente
afamado Kadhafi.
Uganda ganhou seu “presente” no “stalinista-napo-
leônico” Idi Amin Dada, um criminoso oficial que ceifou a
vida de milhares de seus irmãos, deixando outros tantos
aleijados pelas torturas, porém jamais perdendo seu sádico
sorriso.
Na Etiópia, de Mussolini, o envio de tropas cubanas e
russas culminou com o velho Imperador Haile Selassié asfixia -
do no travesseiro. A partir daí, o regime massacrou livremente
oponentes e inocentes.

208
Por volta de 1970 foram contabilizados, pela ONU, mais
de um milhão de refugiados africanos. Em 78, 5 milhões. (16)
Johnson listou a geração de tumulto:
Sudão: tentativa de golpe.
Marrocos: guerra do Saara contra guerrilheiros polisá-
rios.
Etiópia: 20.000 cubanos, além das tropas etíopes, luta-
vam contra a Somália, e Eritréia.
Tanzânia: 40.000 soldados invadiam Uganda; Amin,
apoiado por 2.500 líbios, foi derrubado.
Gana: golpe e execuções em massa.
Nigéria: revoluções por alimentos.
Mauritânia: golpe.
Mali: eleições de um único partido.
Togo: idem.
Benin: idem.
Chade: guerra civil.
Congo: golpe.
República Central Africana: derrubada de Bokassa.
Burundi: subversões.
Moçambique: terrorismos e milhares de execuções.
Angola: guerra civil.
Zâmbia: milhares de prisões políticas.
Zimbabwe: guerra civil. 20.000 mortos.
Naníbia: guerrilhas.
Lesoto: idem.
África do Sul: idem.
Sudão: partido único.
Tunísia: tentativa de golpe frustrada.
Argélia: domínio militar soviético.
Etiópia: idem, contra somalis, oromos, etc.
Somália: 1,5 milhões de refugiados.
Zanzibar: tentativa de golpe.
Nigéria: tentativa de golpe com mil mortos.

209
Gâmbia: milhares de prisões.
Libéria: golpe e execuções por fuzilamento.
Mauritânia: golpe.
Costa do Marfim: eleições unipartidárias.
Alto Volta: golpe.
Níger: invasão financiada pela Líbia.
Benin: convertida à Líbia. (17)
Vargas Llosa, Montaner e Mendoza relembram outros
episódios:
“As façanhas de Pol Pot e de Mao na Ásia, ou de Men-
gistu e do Movimento Popular para a Libertação de Angola na
África, apenas para dar quatro exemplos, mataram de ódio,
medo e fome os supostos beneficiários de tais revoluções. Mao,
o Grande Timoneiro, conduziu 60 milhões de chineses para a
morte com sua coletivização de terra. Para eles, o ‘grande salto
para frente’ foi um salto para o túmulo, não propriamente
ornado com flores. Haile Mariam Mengistu superou essa
proeza ao arrasar 1,2 milhão de etíopes, ocultando e acelerando
uma tragédia que poderia ter sido evitada a tempo, condenando
seus compatriotas à fome para ferir a consciência do Ocidente e
pedir ajuda econômica. Os revolucionários angolanos requere-
ram a ajuda de 50 mil soldados cubanos e 5 mil assessores
soviéticos para manter no poder a sangue e fogo, uma vez eli-
minada qualquer possibilidade de eleições livres, o Movimento
para Libertação de Angola.” (18)
Foi longe demais a tal dialética. Quase ninguém escapou.
Não seríamos a exceção.

210
7. Índio também quer apito

mar traz as ondas, mas também a poluição, para o


O desencanto de Gabriel García Marques:
“Acabamos por nos tornar um laboratório de ilusões fa-
lidas. Nossa maior virtude é a criatividade; no entanto, não
temos feito muito mais do que viver doutrinas requentadas e
guerras alheias, herdeiros de um Cristóvão Colombo desven-
turado, que nos encontrou casualmente quando estava à procura
das Índias.” (1)
O método dialético-autoritarista foi requentado em todos
os países de nosso continente. Em meio século houve oitenta
(80) vitoriosos golpes militares, em dezoito diferentes países
latino-americanos: “A história recente da América Latina está
cheia de revoluções justiceiras, como a mexicana, a do
Movimento Nacional Revolucionário na Bolívia, a de Juan
Velasco no Perú, a de Fidel Castro em Cuba, todas insurgidas
contra o entreguismo e o imperialismo econômico.” (2)
Enquanto o mundo prestava atenção na II Grande
Guerra, Cuba se transformou numa sociedade de quadrilhas.
Em 1947, a disputada ilha caia na aventura de seu filho mais
criminoso, sanguinário travestido de líder político, o interna-
cionalmente conhecido Fidel Castro. A trajetória do assassino
de massa começara pela República Dominicana, dominada pelo
famigerado ladrão e ditador Rafael Trujillo desde os anos 30.
Fidel tinha vinte anos. No ano seguinte, os atos de violência se
deslocaram com ele a Bogotá, na “conferência” Pan-Ameri-
cana, onde as conturbações resultaram em milhares de assassi-
natos. O objetivo de Fidel, sempre claro, visava atingir, com o
colega oferecido Che Guevara, a hegemonia por toda a Amé-
rica Latina, de certo modo realizando o sonho de Bolivar.

211
Nosso Brasil foi “honrado” com sua lembrança nas “convida-
tivas” palavras:
“A via que escolhi é a guerrilha que devemos desen-
cadear nos campos e através da qual me integrarei defini-
tivamente à Revolução Latino-americana. A guerrilha é, para
mim, a única maneira de unir revolucionários brasileiros e de
levar nosso povo ao poder. Como comunista, estou convencido
de que meu gesto servirá ao menos para mostrar que compor-
tamento revolucionário deve ter.” (3)
Cuba vivia um período de turbulências, depois de apenas
doze anos de governos democráticos. Carlos Prio Socarras, o
último presidente, fora golpeado pelo General Fulgêncio
Batista, em março de 1952. Por seis anos o gen. Batista fez o
que quis; até chegar o barbudo de Serra Maestra, acompanhado
pelo charmoso rebelde oferecido, dr. Ernesto Che Guevara.
Retornava a revolução francesa, mas a guilhotina, que só
matava um de cada vez, em Cuba, como na Rússia de 1917, foi
substituída pelas balas dos fuzis, mais próprias para a matança
à granel. Em janeiro de 59, Castro assumiu com as mesmas
justificativas de Batista, causa de sacrifício ainda maior a todo
aquele dócil povo e estragos consideráveis à política externa
norte-americana no simples estratagema de aliar-se aos ini-
migos da democracia: “Fidel teria se declarado fascista. Era
“comunista” porque era anti-americano. Era um grande admira-
dor do General Franco e em 75, na morte do ditador espanhol,
decretou uma semana de luto oficial em Cuba.” (4)
O implacável carniceiro conseguiu reunir os atributos de
Lênin e Hitler. Na teoria, Hegel e Sorel sugeriam o “positivo
versus negativo”, o entrechoque, a violência, estilo proto-
fascista do espanhol Primo de Rivera. Fidel adotou, inclusive,
os mesmos clichês. A obrigatoriedade de rapidamente abraçar o
regime marxista não lhe causou nenhum transtorno, eis que seu
tipo de autocracia fascista poderia ser melhor desempenhada
sob a ótica e proteção soviética, e nisso o tempo lhe deu razão;

212
porém, mais nefasta do que a implantação dos mísseis
nucleares russos apontados contra as sentinelas da liberdade,
que significou apenas uma distinção e uma ameaça, foi a
aniquilação de sua própria gente, saqueada e massacrada nos
fuzilamentos do paredón. O boliviano Che Guevara, depois de
comandar inúmeros “julgamentos” de apenas uma sentença,
assumiu a chefia do “Banco Central”. (!) Completamente
despreparado ao cargo, acabou “brigando” com os padrinhos
soviéticos. Resolveu trocar a mordomia pelo plano de reedição
da revolução na Bolívia. Acabou virando ícone da juventude de
68 por representar a discordância ao autoritarismo capitalista,
na verdade fascista e morrer por seus ideais. Seu ex-colega de
“açougue” continua, todavia, na porta do terceiro milênio, a
comandar uma Cuba dilacerada em todo contorno, desde os
fatos econômicos que justificaram as torpes atitudes, aos
morais, jurídicos, éticos e sociais. A própria filha de Fidel,
Alina Fernandez Revuelta, de 39 anos, pode prestar o
depoimento: “Não estou nada orgulhosa de ser sua filha, ele é
um assassino, uma tragédia humana fracassou como líder,
como político e como ser humano.”(5)
A personalidade deste que lavrou a história como um dos
maiores ditadores de todos os tempos ainda é admirada por
muitos políticos e intelectuais tupiniquins, alguns até com
avançada idade, desde tempos de estudante cortejando João
*
Bafo de Onça .
**
Cuba ainda possui vistosas esquadrilhas de Migs e
equipes esportivas muito bem treinadas, aptas a medalhas em
todas Olimpíadas. Podemos assistir, na TV, o perpétuo
“general” saborear vitórias (e algumas derrotas) de seu time de
voleyball feminino, deliciando-se com as palmas, flores,

*
João Bafo de Onça: Famoso personagem mau-caráter, do tipo gordo, alto e
barbudo, criminoso fugitivo da Disneyland.
**
Migs: Aviões de caça doados pela ex-União Soviética.

213
incentivos e muitos tapinhas nas costas. Até membros de
equipes adversárias, inclusive as do Brasil, prestam-lhe
reverências, como se matar por ideal (e às pencas) pudesse ser
esquecido, louvado ou desculpado. As mesmas câmeras,
todavia, mostram uma ilha à deriva; e seus habitantes, a se
atirarem mar afora:
“Dois milhões de exilados cubanos é o saldo de três
décadas e meia de revolução que proíbe a saída de seus
habitantes. O que ocorreria se a saída fosse permitida? Tivemos
um vislumbre disso em agosto de 1994, quando o governo,
num desafio à política de braços abertos dos Estado Unidos
com relação aos “balseiros” cubanos, começou a relaxar essa
proibição: dezenas de milhares de pessoas se lançaram na água
em qualquer coisa que flutuasse, mais dispostos a enfrentar os
seláceos do mar do Caribe do que seguir os preceitos da
vanguarda em La Habana.” (6)
Não fossem os dentes dos famintos tubarões caribenhos
se realizaria, claramente, o vaticínio de Cataneo, cantor do
conjunto Taicuba, no prognóstico de 8 de janeiro de 59: só se
salvariam de Cuba “aqueles que soubessem nadar”. (7)
A América Central, mesmo antes da ascensão de Fidel
em Cuba, tinha na Guatemala escaramuças ditas socialistas.
Enquanto recomeçava a guerra fria com a eclosão da guerra
quente coreana, o presidente eleito Arbenz timbrou seu tempo
com o traço comunista. Sua “reforma agrária” levou à
expropriação da United Fruit Co.. Em 54, o chefe dos exilados
Castillo Armas, auxiliado por Somoza, da Nicarágua, invade a
Guatemala através de Honduras. Depois, todos liquidaram a
Nicarágua.
México e Brasil tentaram implementar a doutrina fede-
ralista. Tocqueville, analisa um, retratando o outro:
“Os habitantes do México, querendo adotar o sistema
federativo, tomaram por modelo e copiaram quase inteiramente
a constituição federal dos anglo-americanos, seus vizinhos.

214
Mas, ao transportarem para seu país a letra da lei, não puderam
transportar ao mesmo tempo o espírito que a vivifica. Vimo-
los, então, se embaraçar o tempo todo entre as engrenagens de
seu duplo governo. A soberania dos Estados e da União, saindo
do círculo que a constituição traçara, penetraram cada dia uma
na outra. Atualmente ainda, o México se vê incessantemente
arrastado da anarquia ao despotismo militar e do despotismo
militar à anarquia.” (8)
Os fatos consagram Montesquieu, para quem as leis
devem ser exclusivas do povo que as cria, porque é produto
deste povo, não do governante.
A linha de vida do Haiti veio bastante trágica. Papa Doc
e seu filho Baby a espoliaram sem resquício de piedade. Ali o
subdesenvolvimento é um dos mais acentuados do mundo,
muito devendo-se a esses criminosos totalitarismos impostos
sob o pretexto de serem anticomunistas. (9)
A Venezuela se viu saqueada, rasgada, vilipendiada e
corrompida quando o sistema político foi colocado a serviço do
tarado general Perez Gimenez, permitindo que os detentores se
locupletassem na procura, extração e manipulação do ouro
negro, espalhando a peste indígena e colhendo a falência :
“Acabo de voltar da Venezuela. Lá o grosso da economia
é dirigida pelo governo. Nacionalizou as companhias de
petróleo. O maior banco é dirigido pelos sindicatos e
subsidiado pelo governo. Numerosas outras indústrias são
empresas públicas. E o que foi que aconteceu? Depois de
ajudar a OPEP e de ganhar bilhões de dólares, a Venezuela está
atolada em dívidas.” (10)
Na América do Sul, Equador e Bolívia destacaram-se
com nove golpes cada um; Paraguai e Argentina em sete
ocasiões substituíram o estado democrátic o por ordenamentos
jurídico-centralizadores capazes de suportar seus príncipes. Na
Colômbia, o generalarápio Rojas Pinilla se refastelou à
vontade. No Perú, um de seus artífices, de novo General,

215
chamava-se Velasco Alvarado. A orquestra peruana saiu a to-
car os crimes marciais:
“Com um agudo sentido de dignidade nacional, estabele -
ceram uma ditadura que expropriou jornais, amordaçou sindi-
catos, reduziu o poder judiciário a uma farsa, encarcerou e
exilou opositores e levou a cabo uma política econômica socia-
lista bem lubrificada por uma retórica populista e castrense.
Alguns gestos de sublime sabor patriótico distinguem esse
período particularmente comovedor da cruzada vernacular: a
abolição oficial do Natal e o desterro do inimigo mais temível
da Pátria: o pato Donald.” (11)
Há pouco ainda vimos, agarrado no Perú, a figura
“heróica” do “asiático de coração americano” fraudando
eleições e demolindo qualquer manifestação democrática ou
determinação jurídico-legislativa que não lhe atenda.
O Paraguai, sempre atrasado, quando Getúlio Vargas se
suicidava, recebia seu General, Stroessner. Tornou-se um dos
ditadores de maior período da América, quiçá perdendo apenas
para Castro. Acabou vindo morar conosco, recebido em
Brasília.
Muito antes da experiência paraguaia, o barco positivista
aportara em Buenos Aires: “A vigência do positivismo evolu-
cionista aparece ainda forte em 1925, irritando Ortega Y
Gasset, que constata a presença “dessa momia de Spencer” nas
cátedras de filosofia da Universidade de Buenos Aires.” (12)
Hugo Lovisolo narra o motivo para implicar Einstein à
visita:
“Na Argentina, como no Brasil, na década de 20, há um
esforço poderoso de definir a identidade nacional: estamos no
momento da criação dos nacionalismos. Em ambos os países
critica-se o modelo liberal conservador adotado no século
anterior. O liberalismo e o democratismo são postos em xeque.
Os fantasmas vermelhos do democratismo e do bolchevismo
são agitados para reivindicar a ordem autoritária e disci-

216
plinadora, formadora de um povo uniforme que, no caso
argentino, identifica-se como não nacional, estrangeiro e
freqüentemente judeu. Em ambos os países se afirma que a
fórmula, inautêntica, inexpressiva, é cópia de instituições
alienígenas que não correspondem ao país real. Foi nesta
mesma época da visita de Einstein que se publicou a obra
organizada por Licínio Cardoso, ‘À Margem da História da Re-
pública’, na qual essas críticas são formuladas por O. Vianna e
outros. Dez anos antes essa linha de argumentação tinha seu
expoente em Korn na Argentina e Torres no Brasil. Na
construção do nacionalismo autoritário argentino prevalece
uma perspectiva “romântica” que procura na história nacional e
ibérica, na sua continuidade, os fundamentos de uma identidade
cultural e política que apela ao autoritarismo. No Brasil, a
descrição sociológica, de raiz positivista e especialmente
comtiana, é um fundamento importante de sua construção que,
por certo, coexiste com outras fontes de fundamentos.” (13)
Continua Lovisolo:
“O emérito filósofo e professor argentino Cariolano Al-
berini, interessado nas conseqüências epistemológicas da teoria
da relatividade e no combate ao positivismo evolucionista
dominante também em seu país, foi talvez quem mais
influenciou para que, em reunião do Conselho Superior da
Universidade de Buenos Aires, no dia 30 de outubro de 22,
fosse aprovada a moção de convidar Albert Einstein para
ministrar uma série de conferências sobre o tema por ele
mesmo escolhido.”(14)
A visita do incomparável professor, tanto na Argentina
como no Brasil, não foi levada em consideração. Tão caudaloso
rio, já bem formado, acabou mesmo desembocando no oceano
conhecido, no interesse dos políticos governantes e de suas
“generosas” empresas satélites.
Em 1943, Argentina e Guatemala protagonizaram,
simultaneamente, graves atos de discórdia. O mundo conhecia

217
o famoso, o cleptomaníaco Perón. Após tentativa frustrada de
destruir a força sindical emergente, uma Junta Militar nomeava
para o recém-criado Ministério do Trabalho, o simples Coronel
de Exército, de nome Juan Domingo, curioso de sociologia,
campeão de esgrima e esqui, profissional do exibicionismo. O
apaixonado povo argentino foi presa fácil ao esquema nacional-
absolutista vivido pelo herói popular. Amedrontados, os mili-
tares (que o haviam “criado”) decidiam não só pelo afasta-
mento, como também pela prisão daquele agora visto como
incendiário; foi quando fulgurou a orientada partner Eva
Duarte, em seguida Perón. Usando a dialética fascista, a musa
portenha jogou as classes populares, os “descamisados”, às
portas da cadeia clamando pela soltura do Pater. Em 46, o mito
saía consagrado, ungido por eleição suspeita, de fato fraudada.
Antes da guerra, o adido militar argentino em território
italiano admirava o prestígio do Duce e derivados:
“Suas referências européias eram a Itália de Mussolini, a
Alemanha nazista e a Espanha de Franco, países que visitou
oportunamente e seu exercício de poder demonstrou que sua
espantosa frase – ‘Mussolini é o maior homem do século’ -
devesse ser levada a sério.” (15)
A imitação se estendeu à moda militar, nos uniformes
confeccionados nos moldes nazi; os capacetes, caprichosa-
mente, obedeciam o inconfundível contorno das orelhas. Sua
rainha, a glória cognominava-se Evita, a Embaixatriz, “alta
atriz” do totalitarismo demagógico. A Espanha, do colega
Franco, rendeu-lhe tantas homenagens quantas foram suas
promessas em nome do povo argentino para com os ricos
ancestrais. Ficou famosa a viagem do navio lotado de trigo que
partiu do celeiro do Novo Mundo como dádiva e homenagem
dos filhos à Pátria -mãe. Os filhos nem viram o surrupio,
tampouco foram reconhecidos, mas a dadivosa não parou mais
de receber todo o tipo de benesses. Sua visita subseqüente à
Suíça denota onde costumava guardar seus pertences. A

218
produção argentina desperdiçou-se na leviandade da poderosa.
Evita fazia da Argentina entidade de beneficência, marketing
da tal “justiça social”. Milhares de casas foram construídas “de
graça” para quem delas usufruiu, oferta da combalida
produção. Gastaram-se bilhões de dóla res em roupas, móveis,
medicamentos, utensílios domésticos, e até dentaduras postiças.
A dupla consumiu, do modo mais irresponsável possível, o
tesouro a ela confiada.A feira das ilusões terminou na
corrupção desenfreada, na bancarrota econômica, na inflação
acelerada, na quebra da ordem jurídico-social. Perón, o
cleptomaníaco, metia a mão sem cerimônia:
“O nacionalismo de Perón era tal que sua política
agrária fez a carne esfumar-se do cardápio nacional durante 52
dias, deixou o campo exaurido e acabou com todas as reservas
acumuladas durante o agitado comércio dos tempos de guerra.
Como conseqüência, o general apossou-se do gás, da
eletricidade, dos telefones, do Banco Central, das estradas de
ferro e de tudo que tivesse pegadas forasteiras.” (16)
Estrangeiro sempre foi alvo de rapinagem, mas tudo
custou muito caro a los hermanos. Desarranjada a economia
com elevação de impostos e extorsões empresariais, o colapso
foi inevitável. Trabalhadores passaram a exigir melhores
salários, não no endereço de quem lhes empregava, mas nos
camarins matreiros dos promulgadores legislativos, os novos
“promotores da riqueza”. Exigências, acordos sindicais e
governamentais por um lado cresciam; por outro, o próprio
governo os desvalorizava. A macroeconomia argentina (na
verdade macrogasto) aplicava a receita das faculdades
keynesianas, as quais indicavam a emissão de dinheiro, ainda
que sem lastro, ou seja, falso. Vendido em qualquer boteco, o
remédio inflacionário empurrado goela abaixo diminuía a
febre, aumentava a resistência, mas prolongava o sofrimento:
“A desordem monetária, produzida pelas intrépidas teses
keynesianas, teve como conseqüências a inflação, a desor-

219
ganização institucional, a diminuição real do lucro e, por
conseguinte, o empobrecimento dos assalariados. O investi-
mento social, concebido como uma partilha autoritária da
riqueza no nível microeconômico ou como programa estatal
financiado com emissões monetárias, só provoca a depressão
social. Neste caso, a raposa no galinheiro não é o empresário,
mas o Estado, que depena as galinhas sem misericórdia.” (17)
No lugar das galinhas, os poleiros agora hospedavam a
gama:
“Quando o governo não se subordina a normas gerais de
conduta, ele passa a ter uma interferência intensa na economia,
ou através de medidas indiretas; em conseqüência, perde o
indivíduo segurança na condução de seus afazeres, diminui o
ritmo de progresso da sociedade como um todo, cresce a
incerteza no dia a dia da vida das pessoas e intensificam-se o
fascismo e toda a espécie de totalitarismo leva o hábito dos
grandes negócios entre o abuso, os desmandos, a corrupção e o
arbítrio por parte dos homens de mau caráter que fatalmente
acabam empoleirando-se em todos os galhos do poder
governamental desregrado.”(18)
Ao cabo, Evita tinha a propriedade de 4 emissoras de
rádio e dois grandes jornais, todos de B.Aires. O “Peronismo”
envolvia completamente a outrora livre, culta, educada e rica
Argentina, tingindo-a com um fanatismo nacionalista impor-
tado das circunstâncias européias, por ali jamais presenciadas:
“No poder, Perón promulgou extensa legislação que au-
mentou o padrão de vida, salários, regalias, férias e segurança
social dos trabalhadores. Também promulgou o ‘Estatuto del
Peón’, para beneficiar trabalhadores rurais. Esse conjunto de
leis tratava dos dias de descanso, alojamento, salário-mínimo,
assistência médica e demissões não justificadas. A principal
base institucional do peronismo eram os sindicatos, completa-
mente dominados por seus adeptos, alcançando grandes propor-
ções e funcionando como verdadeiras agências da contratação

220
coletiva de trabalho apoiadas pelo Estado. Todas estas medidas
foram acompanhadas de um nacionalismo extremado, forte
ênfase no papel dominante do líder, ideologia corporativa,
demagogia populista e falta de respeito pelo constitucionalismo
e tradição.” (19)
O francês Guy Sorman comenta o desempenho, palavra
que poderia ser usada para descrever a Itália Fascista ou o
Brasil do Estado Novo:
“Perón será o modelo de muitos caudilhos da América
Latina e seu fascismo para uso do Terceiro Mundo fará mais
escola. O peronismo não pretende ser somente uma estratégia
do desenvolvimento; ele é, também, me explica Taccone, um
projeto social, uma tentativa original de associar os trabalha-
dores a industrialização, sem cair na luta de classes e sem
romper a tradição católica: uma reconciliação entre os valores
tradicionais e o mundo moderno. O peronismo iria salvar a
Argentina do comunismo! Aliás, acrescenta Juan José Taccone,
essa filosofia está tão intimamente ligada ao destino nacional,
que todos os governos depois de Perón continuaram a fazer o
peronismo, com ou sem ele.” (20)
“O Nacional-industrialismo parece-me responsável não
só pelo declínio econômico, mas também pela violência na
Argentina. Os primeiros a explodirem bombas em Buenos
Aires foram os peronistas de esquerda, que pretendiam
purificar a sociedade: foi com Perón que o país enveredou pelo
ciclo do terrorismo e da repressão, do qual não saiu mais. A
retórica peronista, chamando as multidões urbanas de “pro-
gressistas” e definindo os camponeses como “reacionários”,
levantou uma contra a outra as duas tradições argentinas - a
diversidade contra a da unidade a qualquer preço: a estratégia
econômica nacionalista é indissociável da brutalidade social
que provocou.” (21)
Depois de liquidar reservas, descapitalizar o país, abalar
o balanço e o ritmo de pagamentos, comprometer a moeda, o

221
sistema financeiro, fabril, pecuário, estudantil, previdenciário,
Perón se mandou: “Em 1951, em pleno governo, boatos de
golpe de Estado fizeram Perón sair correndo da Casa Rosada
para refugiar-se na embaixada do Brasil, de onde sua mulher
teve de tirá-lo pelas orelhas para ele voltar a seu lugar.” (22)
Em 52, com uma Evita cancerosa apelando para o
coração argentino, a novela retornava aos lares platinos. Em
seguida, morria a mártir, servindo de marketing até no post-
mortem. O velório estendeu-se por dez dias; no cortejo,
milhões. Seus restos mortais peregrinaram pelo Velho Mundo,
retornando ao Prata por desejo de Isabellita, novo blefe, pre-
tensa clone.
Depois de comer na mesa farta do colega Getúlio, Perón
voltou reforçado, ainda mais radical: sentindo lhe faltar a base
porque a perna curta da mentira lhe impedia de alcançar o rés
do chão, Perón tocou a demagogia econômica keynesiana
diretamente para a tirânica política fascista: dissolveu a
Suprema Corte e se alçou nos controles de comunicação de
massa - rádios e até mesmo jornais, como o La Prensa, o maior
periódico da América Latina. Não ficaria só aí. As univer-
sidades foram corrompidas; o Jockey Club, incendiado por suas
gangues em 53, teve destruída a biblioteca e a rara coleção de
arte. No ano seguinte, Perón voltou-se contra o catolicismo. Em
55, duas belíssimas igrejas - S. Francisco e Santo Domingo,
foram demolidas por arruaceiros, tudo em nome do social. Foi
a gota d’água. Ataques aéreos desentocaram-no do palácio.
Perón acabou fugindo de novo, desta feita no rumo paraguaio.
Seus sucessores, como no Brasil, nunca mais restauraram o
governo de democracia; apenas arremedos. A redundância pre-
valeceu. Trinta anos de governos militares culminaram no
desafio inócuo e estéril, porém trágico, da tomada das dimi-
nutas e distantes ilhas Falklands. O combate contra a Inglaterra
foi encarado como se os platinos, recém proclamados cam-
peões mundiais de futebol, cotejassem apenas mais uma porfia

222
esportiva. Não se tratando apenas de uma partida de onze
contra onze, amargou a Argentina uma acachapante e
previsível derrota, mas nada de esportiva, com muitas lágrimas
de mães desesperadas pela perda de seus filhos, muitos
adolescentes, colocados numa frente de batalha absolutamente
fútil. Hoje amarga o vizinho uma crise jamais experimentada,
levada a cabo por “peronistas keynesianos-invertidos”, algo
*
que nosotros, “macaquitos brasileños” , também adotamos.
Sob o titulo “La salida para la crisis es otra: alentar el
crecimiento”, o economista argentino J. Schvarzer comentava a
teimosia:
“Treinta anos después un Presidente de los Estados
Unidos afirmaba que ‘todos somos keynesianos’ en el preciso
instante en que se iniciaba el regresso de la ortodoxia, el
propio exito del modelo keynesiano llevo a la desmesura. El
discurso argentino actual es muy semejante al repetido a
comienzos de la decada del treinta. La experiencia muestra que
la crisis se autoalimenta.” (23)
Todos conhecemos seus descalabros, alastrados.

*
Do espanhol, significando macaquinhos. Termo usado por periódicos esportivos e
torcidas argentinas referindo -se a atletas brasileiros.

223
8. Avança no Brasil

O Brasil a “silvilização” tem macacos, tucanos, cobras e


N jacarés. Rafael Correia de Oliveira, ex-político e jorna-
lista, depois secretário-geral da Polícia , exibe a face de Getúlio
Vargas:
“Em todo o período da influência que o caudilho missio-
neiro exerceu sobre o nosso povo, não há um traço nobre, um
laivo de idealismo, uma sincera atitude de humanidade. Há,
simplesmente, mentira, mistificação e o ópio de um pater-
nalismo apodrecido na manipulação das negociatas e das
facilidades corruptoras.” (24)
Como pode um elemento tão malsinado sensibilizar um
povo tão pacífico, ordeiro e virtuoso? Simples:
“Aos bolchevistas e socialistas se contrapunham, entre os
inimigos da Velha República, as idéias fascistas, principal-
mente depois da Marcha sobre Roma e da ascensão de Musso-
lini ao poder na Itália. A partir daí, comunistas e socialistas de
um lado, e fascistas e nazistas de outro, iriam disputar espaço
na vida conturbada da República brasileira.” (25)
Eis a dialética, na forma mais candente, alerta de
Tocqueville ainda em 1852: “O medo insano do socialismo
atira a burguesia de cabeça nos braços do despotismo.” (27)
Não deu outra:
“O totalitarismo de esquerda criou o totalitarismo de
direita, o comunismo e o fascismo eram o martelo e a bigorna
pelos quais o liberalismo foi despedaçado.
Se o leninismo gerou o fascismo de Mussolini, foi o
stalinismo que tornou possível o leviatã nazista.” (28)
Para justificar a presença salvadora do fascismo, na base
“dos males o menor”, os movimentos comunistas recebiam es-
tímulo, e muita divulgação. Os partidos Socialista, Unionista

224
dos Empregados no Comércio, etc. se opunham ao “imperia -
lismo inglês e americano”, reconhecendo a justiça (!?) soviética
e cerrando fileira para a promulgação da Carta di Lavoro
tupiniquim. Os anos 20 já tinham sido pródigos nas leis traba-
lhistas. Em 22 nascera o Partido Comunista Brasileiro. Em 23,
a Lei Elói Chaves, de caráter previdenciário.
Incidia outro elemento no complexo causal: a pressão
dos países dito capitalistas centrais sobre os periféricos para
que, em bloco, enfrentassem a problemática social e trabalhista
dentro dos parâmetros capitalistas. Oliveira e Teixeira infor-
mam a razão do serviço: “O determinante básico desta orien-
tação era a emergência, no plano internacional, de uma expe-
riência socialista concreta, a qual era necessário responder no
plano ideológico e no plano das realizações “sociais”. (29)
Depois de tanto desastre, Guido Beck manifestou sua
esperança: “E um dia a ciência cessará de ser instrumento ma-
nipulado pela repressão para se tornar um veículo de transfor-
mação do mundo em prol da libertação do homem.” (30)
O Iluminismo tinha justamente este escopo. A Nova Era
apenas o resgata:
“Está em jogo o exercício de poder e este está mudando
do estado para o indivíduo. De vertical para horizontal. Da
hierarquia para as redes. Os políticos tornam-se cada vez me-
nos importantes nas vidas das pessoas, à medida que elas
aumentam o controle sobre suas vidas.” (31)
É o que veremos, encerrando o cruzeiro.

225
IV. A REVERSÃO

1. Dialética x Somalética

Afinal, parece ter-se cristalizado, na


opinião pública e em muitos círculos
intelectuais, a idéia de que o socialis-
mo, se ainda tiver algo a dizer, só o
fará se embebido das grandes e boas
tradições do liberalismo.
Walquiria Domingues Leão do Rêgo
(1)

Iluminismo resplandeceu pelas torres de Locke e Spino-


O za:
“Não é para manter o homem no receio e o fazer pro-
priedade de um outro que instituiu o Estado; pelo contrário, é
para libertar o indivíduo, para que ele viva tanto quanto
possível em segurança, ou seja, para que preserve, tanto quanto
possa e sem prejuízo de terceiros, o seu direito natural de
existir e de agir” (2)

227
A propriedade privada garante ao aspirante o produto de
sua participação social, na medida em que esta é exercitada na
extensão da personalidade aos objetos produzidos, ou até con-
sumidos, usados. Para Locke, neles dispendendo energia, ou
mesmo captando, o homem os transforma em partes de si
mesmo, portanto, de seu pertence: “O homem tem direito natu-
ral às coisas com as quais “misturou” o trabalho do seu corpo,
tais como, por exemplo, cercar e lavrar a terra.” (3)
Locke formulou “a teoria atomística da sociedade huma-
na” (4) muito antes do fenômeno ser consagrado na física, por
Planck e Rutherford.
Adam Smith o completou, mas “o trabalho como origem
e fundamento de toda a propriedade” foi negado justamente
pelos patronos das chamadas causas “sociais” e “trabalhistas”
que atravessaram os séculos XVIII, XIX e XX. Subvertida a
teoria pelas parcialidades histórico-econômicas catadas e ofe-
recidas pelos competentes sofistas, somadas às drásticas altera-
ções desses últimos dois séculos, a moda trabalhista, parado-
xalmente, afastou a propriedade do próprio trabalhador.
Teriam sido Spinoza, John Locke e Adam Smith, os
pioneiros e mais autênticos socialistas? A resposta é afirmativa
e não somos os primeiros em levantar a (para muitos) bizarra
hipótese:
“Adam Smith só não se qualificou como anticapitalista
porque o século XVII era basicamente capitalista, mas sua
posição a respeito da ideologia e da prática capitalista era mar-
cada por boa dose de ceticismo. As idéias de Von Humbolt e de
Smith se relacionavam com a tradição socialista-anarquista - a
crítica libertária de esquerda ao capitalismo. Tudo isso foi
pervertido de forma grosseira, ou simplesmente esquecido, na
vida intelectual moderna; no entanto, penso que todas essas
idéias derivam diretamente do liberalismo clássico do século
XVIII.” (5)
Benedetto Croce retomou a linha paradigmática:

228
“poder-se-á, com a mais sincera e viva consciência
liberal, sustentar providências e ordenamentos que os teóricos
de uma abstrata economia classificam como socialistas e, com
paradoxo de expressão, falar de socialismo liberal.” (6)
Gobetti aderiu a Gaetano Mosca, Carlo Rosselli e B.
Croce: “O socialismo é a mais ativa das idéias com as quais
temos operado na realidade com o impulso da autonomia; e
também um dos maiores fatores de liberdade e liberalismo no
mundo moderno.” (7)
Para nosso conforto, ninguém menos do que o Prêmio
Nobel de Economia 1998 concorda: “Eu acho que o Adam
Smith é um economista de esquerda; os líderes da Revolução
Francesa eram grandes discípulos de Adam Smith.” (8)
Mais conhecida pelo toque de Hegel que embalou o
marxismo, a relação dialética no prisma de Locke e Smith
jamais é paradoxal, contraditória ou hierárquica. Salientando o
caráter integrativo dos dois pólos, Locke exibe rito mais
complexo, por isso também mais completo do que a sim-
ploriedade da segmentação do objeto e da platônica contra-
posição dos vetores. Relembremos a citação: “Foi igualmente
pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação
e da análise contra o espírito sistemático, que Locke se impôs
como “mestre da sabedoria” aos filósofos franceses do século
XVIII.” (9)
Dos raros precursores da ciência política, praticamente
nenhum lhe serviu. Não havia governo civil. Não usou Platão, a
não ser para lembrar das trinta tiranias de Atenas e as de
Siracusa, as quais tiveram como conselheiro o próprio Platão;
muito menos Maquiavel. Tampouco parou em Hobbes, exceto
para rapidamente contestá-lo; dos franceses, nenhum foi consi-
derado – nem Bousset, ou Bodin, muito menos Descartes. O
universo destes artífices se fazia totalitário, mecanicista e
determinista. Locke quebraria uma perna do tripé; as outras
deveriam cair na conseqüência, mas o mundo tinha que esperar

229
mais provas. O físico nuclear Max Born, se presente, concor-
daria: “Max Born também escreveu, para dizer que não enten-
dia como era possível conciliar um universo totalmente
mecanicista com a liberdade da ética individual. Um mundo
determinista é, para mim, um mundo muito aborrecido.” (10)
Locke, como Born, não permitiu ao mundo se aborrecer.
Sua personalidade somada à consistência dos Ensaios sobre a
lei da natureza propiciavam um bálsamo intelectual ao elevado
círculo. Na abordagem científico-filosófica do sensato inglês
não cabia o ordenamento numeral do já consagrado conterrâneo
e contemporâneo Newton, embora este detivesse sua admira-
ção. Desconfiava seu íntimo, no entanto, de que boa parte da
matemática utilizada não passava de um disfarce. Era preferível
trilhar uma incerta verdade do que a certeza do equívoco. E
assim falou John Locke:
“1) Enquanto as idéias matemáticas podem ser expressas
por meio de sinais sensíveis, imediatamente claros aos nossos
sentidos, as idéias morais só podem ser expressas por meio de
palavras, que são signos menos estáveis e exigem interpre-
tação;
2) as idéias morais são mais complexas do que as
matemáticas, daí a maior incerteza dos nomes com que são
designadas e a dificuldade em aceitá-las todas de uma vez.”
(11)
Pois é o matemático Albert Einstein quem lhe dá toda
razão. Preconceitos, pressupostos marcadamente deterministas,
absolutistas e calculistas são tão impróprios quanto a utopia, a
ilusão, a impossibilidade: “O princípio criador reside na mate-
mática; sua certeza é absoluta, enquanto se trata de matemática
abstrata, mas diminui na razão direta de sua concretização.”
(12)
Apesar da magnitude de vida e obra, o modesto Locke se
apresentava como simples operário “encarregado de limpar um
pouco o terreno, de afastar uma parte das velhas ruínas que

230
obstruem o caminho do conhecimento, que sustam ou retardam
o progresso.” (13)
Grande parte das velhas ruínas acabaram mesmo ruindo,
e de imediato, no Reino Unido, mas algumas outras resistem,
mesmo com a ainda mais espetacular implosão científica
causada na história da civilização pelo torpedo daquele outro
gigante notavelmente modesto, A. Einstein.
O caráter da relação polar vista por John Locke voga no
esteio requerido por Planck, Edgar Morin e por todos os
modernos físicos, um leitmotiv solidário-integrativo, expressão
somada, centelha de Rosseli e Guido Calogero, algo chamado
por Morin de dialógica, a somalética, em vez da dialética:
“Preferíamos falar de liberal-socialismo que de socialismo
liberal, para sublinhar também nos termos o fato de que a nova
síntese representava o reconhecimento da complementariedade
indissolúvel de dois aspectos da mesma idéia.” (14)
Manifesta-se Miguel Reale sobre a peculiaridade metó-
dica de Locke, embora este, é bom que se corrija, não pudesse
conhecer a dialética de Hegel, pela impossibilidade cronoló -
gica, apenas a de Hobbes e Platão, o último de modo indireto,
o que vem a dar na mesma:
“A dialética que desenvolveu é a da complementariedade
que implica uma pluralidade de perspectivas, que conduzem a
sínteses abertas, onde os elementos sociais alcançam sentido
quando se relacionam e se complementam. Com ressalva,
continua admitindo a dialética hegeliana sob a condição de que
os opostos, em lugar de integrarem um processo de síntese
superadora, fossem considerados componentes da dialética de
complementariedade.” (15)
Jacques Rueef, em Les dieux et les rois, traduzido com o
título de A visão quântica do Universo, depõe:
“O determinado, o movimento da história, a lei do
progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a
estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os

231
novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem
justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos
caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.” (16)
Chopra realça a capital importância e a gratificação na
captura desta ação natural:
“Quando você compreende a requintada coexistência de
opostos, entra em alinhamento com o mundo da energia, o
caldo quântico, a substância imaterial, que é a fonte do mundo
material. O mundo da energia é fluente, dinâmico, elástico,
mutável, eterno movimento. Ao mesmo tempo é imutável,
quieto, tranqüilo, silencioso, eterno repouso.” (17)
O notável jurista Hans Kelsen, no segundo estágio de sua
obra, alcançou nosso objeto, ligando a democracia com a
relatividade: “A concepção metafísico-absolutista está associa -
da a uma atitude autocrática, enquanto a concepção crítico-
relativista do mundo associa -se uma atitude democrática.” (18)

2. O fim da dialética

título pensamos à obra, mas ela recém claudica. É teimo-


O sa, persistente, convincente, tradicional. Desde a mais
tenra educação, distingue bem e mal, na faina de encontrar o
melhor, da superação. Pretensa expressão científica, a síntese
da dialética requer, todavia, ad infinitum, o choque dos vetores,
na esperança de fatalmente encontrar a verdade buscada.
Cometem seus adeptos vários equívocos, não obstante sinali-
zarem como prudente apuração. A síntese não escapa do
determinismo porque restringe o foco apenas ao objeto eleito,
percepção falha porque parcial, mutilada. A regra exige imple -
mentar força literalmente oposta. O que é estranho ao eixo não

232
possui acesso. Quaisquer influências, entendidas menores, são
simplesmente ignoradas. Querendo apurar o meio-termo que
dissipa o radicalismo de tese e antítese, ao mesmo tempo extrai
mútuos problemas, agora duplicados pelas derivações dos
extremos. Predeterminados e predestinados, para não dizer
hipnotizados no combate à situação que elegem para anular,
seus arautos, ao buscar os contrários, obtém o dobro dos
preconceitos. Neste instante a magia se desnuda. Trata-se, pois,
a síntese, não de uma terceira-via, mas, freqüentemente, apenas
da primeira e da segunda duplicadas! Ou, se quisermos,
duplamente esterelizadas. O choque da água quente com água
fria produz uma água morna, o meio-termo que não serve nem
para beber pura, tampouco com chá, embora indicado à
imersão. Chocar correntes entre si jamais assegurou que do
grosseiro procedimento surja correto resultado.
A milenar orientação taoísta do I Ching transcende a
dialética. Nela, a interação dos pólos yin e yang, apesar de
aparentemente opostos, complementam -se. Sua representação
gráfica corresponde a um círculo dividido em duas partes em
“S”, onde os dois lados se contornam e se fundem. Na (o)
*
Ioga , o ethos é união, comunhão do corpo com a natureza.
A moderna física só opera por unificações - energia e
matéria, tempo e espaço. Sob diferentes condições experi-
mentais, a matéria pode se comportar mais como onda ou mais
como partícula, mas sempre como ambas. A complemen-
taridade é aceita como conceito essencial da física quântica:
“A teoria do quantum revela assim a unicidade básica do
universo. Mostra que não podemos decompor o mundo em
unidades menores de existência independente. Quando penetra-
mos na matéria, a natureza não nos mostra “tijolos básicos”,
mas aparece como uma complicada teia de relações entre várias
partes do todo. O observador humano constitui o elo final na

*
Ioga: literalmente, significa união. Estas relações incluem também o observador.

233
cadeia de processos de observação e as propriedades de
quaisquer objetos atômicos só podem ser compreendidas em
termos de interação do objeto com o observador. Significa isto
que o ideal clássico da descrição objetiva da natureza não é
mais válido. Em física atômica, nunca podemos falar sobre a
natureza sem, ao mesmo tempo, falar sobre nós próprios.” (1)
Enquanto as ciências despencavam pelas coordenadas
cartesianas, alguns pesquisadores preferiam averiguar as exor-
bitâncias eletromagnéticas, para chegar na Teoria de Campo.
Michael Faraday (1791-1867) introduzia e James Clerk Max-
well (1831-1879) aperfeiçoava os cálculos com fatores até
então desconsiderados, porque desconhecidos. O conceito de
força diretamente aplicada, o princípio da bola de bilhar, era
substituído pelo sutil “campo de força”, onde não há atrito,
muito menos colisão. Faraday e Maxwell ultrapassavam a
mecânica desenvolvida por Descartes e Newton, de modo a
propiciar a nova chance: havia mesmo algo mais entre o céu e a
Terra, não alcançados por nossos olhos, tampouco por nossa
*
tosca filosofia. Paul Adrien Maurice Dirac , “dos maiores
físicos deste século ou de qualquer outro”, tributa sua
homenagem talhando a centelha invisível como “ a ‘força da
vida’ (assim chamada porque toda a ligação química é de
origem eletromagnética, o que se aplica a todos os fenômenos
de impulsos nervosos).” (2)
O fenômeno não se relacionava com a ciência, teimosa
na única linha que supunha dispor, ignorando e/ou negando
qualquer outra “verdade” que não fosse aquela edificada,
empilhada, nada que não fosse concreto, objetivo, manipulável.
Einstein explica:

*
“Em três anos decisivos, 1925, 1926 e 1927, com três artigos, ele lançou os
fundamentos, em primeiro lugar da Mecânica Quântica, em segundo da Teoria Quântica
de Campos e em terceiro – com sua famosa equação do elétron – da Teoria das
Partículas Elementares.” Salam, A.; Heisenberg, W. e Dirac, P., p. 11.

234
“O que levou finalmente os fisicos, após longa hesitação,
a abandonar a crença na possibilidade de toda a física ter como
base a mecânica de Newton foi a eletrodinâmica de Faraday e
Maxwell. Essa teoria, confirmada pelas experiências de Hertz,
provou a existência de fenômenos eletromagnéticos que por sua
própria natureza são separados de toda a matéria ponderável - a
saber, as ondas no espaço vazio, que consistem em campos
eletromagnéticos. Para que a mecânica fosse mantida como
base fundamental da física, a equação de Maxwell precisaria
ser interpretada mecanicamente. Isto foi tentado arduamente,
mas sem resultado, ao passo que as equações em si mesmas
tornaram-se cada vez mais frutíferas” (3)
O estudo sem referência a corpos materiais despedaçava
a idéia de que as coisas só se movem por impulso aplicado.
Cada carga cria uma “perturbação”, uma “condição” no espaço
à sua volta, de modo que a outra carga “sente” sua força. Várias
forças convergem à interação. Desde Newton a Hegel, pólos se
repulsavam. Com Faraday e Maxwell, eles se comunicam, e se
misturam. O Universo pode ser medido repleto de “força”, não
antagonicamente postadas, antes complementares.

3. Entropia

mútua interação aferida nos fenômenos de eletromag-


A netismo é flagrante na entropia, e suplanta a dialética do
mundo contraditório.
Os pesquisadores, ao observarem a “termodinâmica”,
evoluíram à “ciência da complexidade”, porque o movimento
atômico é no sentido da desordem, manifestamente contrária à
“ordem crescente” darwineana, ou comteana.

235
Água fria e água quente juntas produzem água morna e
os dois líquidos já não mais se separam. A areia branca,
misturada com a preta, quanto mais se tenta distingui-las, mais
se misturam. Entropia é o casamento da energia com o grego
tropos, a significar transformação ou capacidade de modifi-
cação. A. Eddington adiciona-lhe “a beleza e a melodia, porque
estas três coisas englobam ordenação e organização.” (4)
O jurista Goffredo Telles Júnior pode explicar o proces-
so físico:
“Sendo geradora de energia, a partícula cria, em torno de
si, um campo em que essa energia se manifesta. Aliás, todos os
corpos geram campos de energia. A Terra, por exemplo, tem
seu campo de energia magnética, que claramente se manifesta
no comportamento da agulha da bússula.” (5)
O próprio espaço gravitacional é o campo de energia
mais latente. O acurado professor complementa:
“Os campos não devem ser considerados como espaços
vazios. Os campos são objetos físicos, pois é por meio deles
que as partículas agem umas sobre as outras. É por meio deles,
que os corpos, enorme multidão de partículas, se influenciam
reciprocamente. Embora físicos, os campos não são objetos
mecânicos. Um campo é imperceptível pelos sentidos. É im-
ponderável. Não pode ser utilizado como sistema de referência.
Mas é observável nos seus efeitos. É identificável nas pertur-
bações que causa no comportamento das partículas ou dos
corpos nele situados. Não somos capazes de ver a força de
gravidade, mas a observamos na queda da maçã.” (6)
Marilyn Ferguson relembra: “A ciência moderna confir-
mou a qualidade da integridade, a característica da natureza de
unir as coisas em um padrão cada vez mais sinérgico e
significativo.” (7) Ela apresenta a palavra de Prigogine:
“Agora estamos passando de um mundo de quantidades
na ciência para um mundo de qualidades - um mundo onde
podemos nos reconhecer, ‘uma física humana’. Essa visão geral

236
ultrapassa a dualidade e as opções tradicionais, chegando a uma
perspectiva cultural rica e pluralista, um reconhecimento de
que a vida em uma ordem mais elevada não está subordinada a
‘leis’, sendo capaz de inovações ilimitadas e realidades alter-
nativas.” (8)
A “física humana” recoloca os pés do homem na terra:
“Nos dias atuais, quando as fronteiras do conhecimento
tangenciam os limites da capacidade humana, a ciência e a
filosofia se reencontram nesse limiar onde a inteligência parece
hesitar em ir além de sua própria e aparentemente limitada
capacidade. O reencontro da ciência e da filosofia parece
querer indicar o retorno da ciência ao seu tronco originário.”
(9)
No movimento da “onda”, seus agentes “não saem do
lugar”, mas “trabalham” em consonância: “Onda é a pertur-
bação que se propaga através do meio, sem levar o meio
consigo. É energia que se propaga pelos corpos. E tudo leva a
crer que energia é sempre onda. Ou, com mais precisão, a onda
é uma forma da energia. (10)
Então estamos na onda!
Vernon Rowland, da Case Western Reserve University,
revela: “A diferença que faz o todo maior do que a soma de
suas partes. A cooperação parece ser uma chave; quanto mais
complexo um sistema, maior seu potencial de autotransce-
dência.” (11)
Não há, pois, a menor racionalidade na divisão cartesia -
na:
“Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa
fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da maté-
ria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria
como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas inte-
rações.” (12)
Acompanhemos o inigualável Einstein:

237
“Sou por natureza inimigo das dualidades. Dois fenôme-
nos ou dois conceitos que parecem opostos ou diversos me
ofendem. Minha mente tem um objetivo supremo: suprimir as
diferenças. Assim agindo permaneço fiel ao espírito da ciência
que, desde o tempo dos gregos, sempre aspirou a unidade. Na
vida, como na arte, assim é também. O amor tende a fazer de
duas pessoas um único ser. A poesia, com o uso perpétuo de
metáfora que assimila objetos diversos, pressupõe a identidade
de todas as coisas.” (13)
Gaston Bachelard seguiu o caminho dos magos:
“Um alquimista, citado por Silberer, lembra que só fez
progressos importantes em sua arte no dia em que percebeu que
a Natureza age de forma mágica. Mas é uma descoberta
morosa: é preciso merecê-la moralmente para que ela ilumine,
depois do espírito, a experiência. A alquimia reina num tempo
em que o homem mais ama do que utiliza a Natureza. A
palavra Amor traz tudo. É a senha entre a obra e o operário.”
(14)
Alquimia, para Hegel, talvez fosse all = tudo + que mia.
E, tudo indica, mia porque carente de amor.
Coincidem incontáveis fatos, ocasionados por inúmeras
verdades, vontades e desejos impregnados pelas energias vitais
que passam pelo globo. Sabe-se que qualquer fato, diverso do
sempre propugnado, não precisa ser rigorosamente oriundo do
passado e/ou separado do futuro. Há o real acontecido, o real
acontecendo, a a realidade virtual do circuito universal que,
como bola, não possui lado, nem fim, e independe da passagem
do tempo, por retroalimentação. Ôpa, saímos da dialética.
Poderíamos, quem sabe, extrair uma síntese dos três “reais”?
Obteríamos uma “trialética”? Que tal direto à “somalética”,
denotada na física de ponta e na concepção humanista de John
Locke?
Dr. Chopra garante:

238
“Quando você compreende a requintada coexistência dos
opostos, entra em alinhamento com o mundo da energia, o
caldo quântico, a substância imaterial, que é a fonte do mundo
material. O mundo da energia é fluente, dinâmico, elástico,
mutável, eterno movimento. Ao mesmo tempo é imutável,
quieto, tranqüilo, silencioso, eterno repouso.” (15)
“De fato, no nível quântico, não há nada além da energia
e informação. Campo quântico é apenas outro nome do campo
da consciência pura ou da potencialidade pura. E esse campo
quântico é influenciado pela intenção e pelo desejo.” (16)
Urge impedir o desatino da ardilosa alienação:
“O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu
aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida,
predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários
em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova
antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também
pela genética. É precisamente uma interação - que já existe nos
níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o
aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza.
Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que
explicou Louis de Broglie, síntese genial que tornou possível,
como diz Rueff, uma filosofia quântica do universo, aplicável
não somente às ciência s físicas, senão também a todas as ciên-
cias humanas.” (17)
Para ficar mais claro, Lair Ribeiro oferece exemplo de
pura dialética:
“O tubarão consegue ver a curto prazo, mas ignora as
conseqüências a longo prazo. Está sempre procurando levar
vantagem sobre os outros. Joga o jogo do ganha/perde. Não
tem autoconfiança, nem confiança no outro, nem confiabili-
dade. No seu dia -a-dia pensa como a carpa: ‘O Universo é um
lugar escasso, não tem o bastante para todos. Portanto, eu vou
conseguir o meu a qualquer custo.’” (18)

239
Ele o confronta com a postura mais “civilizada” do
golfinho: “O Universo é potencialmente um lugar abundante,
tem para todo o mundo. Para eu ganhar, você não precisa
perder, a não ser que você insista - aí o problema é seu.” (19)
En passant, convém mencionar que o simpático mamí-
fero ainda é protagonista do liame entre a prática e a ciência do
caos. Em A estratégia do golfinho: a conquista de vitórias num
mundo caótico, Dudley Linch e Paul L. Kordis analisam a
eficácia metodológica e sugerem dezenas de questões onde há
ganho sem nenhuma perda, coabitando ética e desejo sem
nenhum ferimento.
A dialética só se constituiria viável se mudasse de pro-
pósito, e se possível calcular todas as variáveis universais. Ela
deixaria de ser dialética para tornar-se talvez uma “varialética”,
ou quiçá “multiética”, podendo dispor todos os dados em
paradoxos. Diante desta notória impossibilidade e estéril pos-
sibilidade, é salutar e científico que se cole, na testa, prejuízos,
deficiências e limitações que sua adoção impinge a todos nós.
A ciência quântica e a teoria da relatividade afastaram a
possibilidade do conhecimento exato, absoluto, demonstrada
nossa incapacidade à coleta das incidentais sobre sujeito e
objeto, participantes e tabuleiros. Sociólogos agora se dão
conta: “Beck acredita que estejamos vivendo num mundo cada
vez menos previsível, no qual as conseqüências das decisões –
econômicas ou outras – dos governos, das empresas e dos
indivíduos são cada vez mais difíceis de calcular.” (20)
Qualquer movimento influencia todo conjunto, que
retroage à parte, e Soros garante: “Longe de serem desprovidas
de sentido, sustento que as proposições cujo valor de verdade é
indeterminado são ainda mais significativas do que aquelas
cujo valor de verdade é conhecido.” (21)
Ele confessa:
“Quando cheguei a essa conclusão, considerei-a um
grande insight. Agora que as ciências naturais não mais

240
insistem numa interpretação determinística de todos os
fenômenos e o positivismo lógico se desvaneceu nos basti-
dores, sinto-me como se estivesse açoitando um cavalo morto.”
(22)
Antes de morrer, todavia, o cavalo alado de Platão,
Descartes, Rousseau, Hegel, Comte e seguidores carregou
enorme contingente. Suas asas prometiam confortável, seguro e
rápido deslocamento, portanto induzindo e produzindo peças
fora da realidade, presente ou virtual. Bachelard compreende o
script: “A dialética serve apenas para cercar uma organização
racional por uma organização surracional muito precisa. Ela
nos serve apenas para mudar de um sistema para outro.” (23)
Oremos à memória do falecido, porque os sistemas
foram desbaratados: “A ciência contemporânea a Hegel está tão
profundamente prescrita que quase não se pode imaginar que
sua lógica não exija ser repensada.” (24)
Existem inexplorados, nem por isso inseguros caminhos
para pesquisas e práticas, hipóteses não necessariamente opos-
tas umas às outras:
“Considerando-se que os organismos contêm milhares de
genes; que cada gen origina sua própria linha genealógica; e
que genes existem há bilhões de anos, conclui-se que imenso é
o número das mutações já acontecidas sobre a face da Terra.”
(25)
A velha concepção humana e relativista de John Locke,
comparada à de seus detratores, evidencia -se mais atual do que
nunca, entendimento mais rasante, mais próximo da entrada do
homem no terceiro milênio, prestes a alcançar, até na contagem
dos séculos, a maioridade civil.
O valor engloba sempre o fato; mas o fato de cada um
jamais terá igual valor para todos e ainda para o Estado,
mesmo que este se arvore depositário do anseio geral. O indiví-
duo soberano, de Wiliam Rees-Moog e James Dale Davidson
(26), destaca o colapso do Estado nacional, substituído por

241
“associações de mercadores e indivíduos plenos de faculdades
semi-soberanas”, praticamente o mesmo diagnóstico de Nais-
bitt: “Quanto mais as economias mundiais se integram, menos
importantes são as economias dos países e mais importantes
são as contribuições econômicas dos indivíduos e das empresas
particulares.” (27)
O Estado-depósito, o Estado-computador com seus in-
puts e outputs, sofisma travestido de única verdade capaz de
realizar a felicidade geral da Nação, a bandeira da Vontade
Geral, alinhavada por Platão, costurada por Maquiavel, Hob-
bes, Rousseau, Comte, Hegel, Marx, Keynes e portada por
Napoleão, Bismarck, Hitler, Mussolini e Lenin, está fadado ao
ostracismo: “Estruturas e sistemas políticos e empresariais que
impossibilitem o florescimento de diferenças entre as pessoas,
ou que impeçam uma tensão criativa, bloqueiam a capacidade
de inovação e adaptação.” (28)
O Estado-mandão, ordenado para o progresso de alguns,
vem sofrendo o processo constante e irreversível da entropia:
“O exercício do poder está mudando do estado para o
indivíduo. De vertical para horizontal. Da hierarquia para as
redes.” (29)
“As cidades hoje não são mais que redes, terminais de
linha de metrô, auto-estradas, lugares onde o espaço é ampla -
mente abstrato. A proliferação das imagens à distância leva ao
desaparecimento de qualquer centralização.” (30)
Lawrence Harrison exercita o diagnóstico: “Acredito que
a globalização da democracia e da economia liberal terminará
por levar todos os países à modernidade.” (31)
Facilitaremos esta tendência natural, e por isso inexorá-
vel, promovendo a descentralização espacial, política e econô-
mica do poder instituído:
“O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa
a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a
que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remane-

242
jamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. ‘É o
que chamamos de “divisão de decisão”. (32)
O “Cavalo de Tróia” não engana mais:
“Entre nós, o sintoma mais típico e persistente desse
atraso é a confusa expectativa de que há uma espécie de “força
superior”, o “Estado”, capaz de distribuir a todos os bens
desejáveis deste mundo: emprego, salários altos, bem-estar -
em suma - “felicidade geral da nação.” Qualquer jornal que se
pegue ao acaso revelará, enxertadas, notas de fundo populista,
“progressista” e nacional-corporativista que não mudaram nes-
tes 30 anos passados, exceto que agora a encarnação do Satã a
ser exorcizada não é mais o “neocolonialismo” e sim o “neo-
liberalismo”. Só quando o público impuser ao Estado um
profundo respeito pelos contribuintes e quando as fantasias de
onipotência da burocracia forem contidas (e punidas) é que
alcançaremos afinal o liberalismo.” (33)
Não por acaso o diplomata francês Jean-Marie Guèhenno
anuncia O fim da democracia na sucumbência do acordo geral
de vontades, como pregava Rousseau:
“Guèhenno argumenta que o enfraquecimento dos pode-
res nacionais em proveito de aglomerados supranacionais
coloca em risco os contratos sociais que estão baseados na
homogeneidade territorial e cultural. Para evitar a dissolução da
democracia, o autor propõe a reformulação global do conceito
de comunidade e prevê o surgimento de um império unificado e
sem centro.” (34)
Com H. G. Wells, lembrado por Aldous Huxley, no fim
da II Guerra, esperamos também o fim da mediocridade:
“O cérebro do Universo é capaz de contar acima de dois.
Os dilemas do intelectual-artista e do teórico -político tem mais
de dois chifres. Entre a torre de marfim, de um lado, e a ação
política direta, de outro, existe a alternativa da espiritualidade.
Do mesmo modo, entre o fascismo totalitário e o socialismo
totalitário existe a alternativa da descentralização e do empre-

243
endimento cooperativo - o sistema político-econômico mais
natural à espiritualidade.” (35)
Como ainda disse Guido Beck: “E um dia a ciência ces-
sará de ser instrumento manipulado pela repressão para se
tornar um veículo de transformação do mundo em prol da
libertação do homem.” (36)
Aos pesquisadores Francis Fukuyama e J. C. Pereira não
ocorrem dúvidas: “A atividade científica, enquanto referência
inescapável de uma História que não pode ser mais cíclica,
aponta para a desestruturação de sociedades que se pretendem
hierarquizadas essencialmente.” (37)
Expressões brotam de inúmeros recantos, cada vez com
maior densidade em pluralidade de reversões. Uma das mais
espetaculares foi a encetada pela mente privilegiada do notável
formalista jurídico Hans Kelsen, depois da tempestade nazista:
“A democracia moderna não pode estar desvinculada do
liberalismo político.” (38)
Tampouco do liberalismo econômico. Já é tempo, pois,
de interrompermos a marcha ao abismo do pesadelo tecnocrata,
e levantarmo-nos do berço esplêndido!
Encerramos o ataque com trecho de carta recebido por
Marcuse, de Brown:
“Na visão dialética, a desmistificação torna-se a des-
coberta de um novo mistério. É preciso dizer à próxima
geração que a luta verdadeira não é a luta política, e sim por
termo à política. Da política para a poesia. Poesia, arte,
imaginação, o espírito criador é a própria vida; a verdadeira
força revolucionária para reformar o mundo.” (39)
O pedido de Brown a Marcuse pode ser assimilado. A
*
beatlamania, Woodstock , as internacionais bandeiras Hippie e

*
Woodstock - Festival de música organizado e desempenhado por dezenas de
renomados artistas, compositores, milhares de jovens de todo o mundo, reunidos numa
fazenda no Estado de Nova York, em agosto de 1969, com o fito de promover Paz e
Amor e protestar contra a insensata guerra do Vietnam.

244
Ecológica, a queda do muro de Berlim e a Revolução de Velu-
do Tcheca se constituíram exitosos movimentos políticos, sem
jamais abdicarem da poesia.

4. 2001, a odisséia recém começa

A liberdade é uma necessidade


fundamental para o desenvolvimento
dos verdadeiros valores.
Albert Einstein (1)

Á um quarto de século, Daniel Bell se deu conta e


H avisou o mundo que estava prestes O fim da ideologia;
Capra viu o Ponto de mutação; na década passada, Fukuyama
*
anunciou O fim da história; e Peter Ward, O fim da evolução .
Em 1989 ruiu o muro, enquanto Toffler relatava uma Power-
shift: a mudança de poder generalizada. Emir Sade o
**
procura , mas Bill Gates informa: “o poder não vem do
conhecimento acumulado, mas do conhecimento comparti-
lhado.” (2)
Ninguém mais o detém. Don Tapscott destaca a
mudança de paradigma a partir do intercâmbio cultural em
***
Paradigm shift: the new promise of information technology.

*
Ward, P., O fim da evolução; São Paulo : Campus, 1997.
**
Sader, Emir, O poder, cadê o poder? ensaios para uma nova esquerda. - São Pau-
lo : Bontempo, 1997.
***
Tapscott, D., Paradigm shift : the new promise of information technology; N.
York: Mc Graw Hill, 1993. (Mudança de paradigma : a nova promessa da tecnologia de
informação.)

245
*
Maurice Bertrand aprecia La fin de l´ordre militaire , no
**
entendimento supranacional. (3) Em La fin des militants,
Jacques Ion (4) alinha-se a Bell. Cada vez mais aparecem obras
sobre vários “fins”, entre os quais da própria Física, por
Hawking, mas Einstein já acabara com ela. Nas ciências
econômicas, Ormerod propõe, direto, A morte da economia,
exaurida por excesso de “economês”, enquanto seu colega
David Simpson apregoa o Fim da macroeconomia louvando-se
na escola austríaca, em F. Hayek:
“(A macroeconomia) nos dá uma útil aproximação dos
fatos, mas é insatisfatória como explicação teórica de conexões
causais, além de às vezes ser enganadora porque faz afirmações
sobre correlações empiricamente observadas, sem justificativa
para a crença de que elas sempre ocorrerão.” (5)
A exaustão do antagonismo na relação de produção
também é fartamente promulgada e anunciada. Disso, de certa
***
forma, trata O fim dos empregos de Rifkin. A tanto,
contribui a grande rede:
“Com a Web, a possibilidade de tornar-se um agente
autônomo não está limitada a atletas, artistas, atores e outros
grandes nomes profissionais ou criativos; agora, quase todos os
tipos de profissionais do conhecimento podem fazer isso. O
mercado de trabalho de ‘agentes autônomos’, inclusive pro-
fissionais por conta própria, empreiteiros independentes e
trabalhadores em agências temporárias já abrange 25 milhões
de americanos. A vantagem de trabalhar por conta própria é a
diversificação: você tem menos probabilidades de ficar sem
trabalho se tiver muitos empregadores, em vez de um só.” (6)

*
O fim dos exércitos.
**
O fim dos cabos eleitorais.
***
O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da
força global de trabalho

246
Ninguém mais quer ser empregado. Tampouco patrões
tentam recrutá-lo. Agora, preferem parceiros; em outras pala -
vras, sócios. Pois então não é, justamente, o sonho marxista
concretizado por efeitos liberais?
Naisbitt reforça: “De fato, a vida no espaço cibernético
parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson
gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no
compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comuni-
dade.” (7)
Foucault não temeu ser enfático:
“Não se pode, portanto, dizer que o liberalismo seja uma
utopia nunca realizada - a não ser que se tomem como núcleo
do liberalismo as projeções que ele foi levado a formular a
partir de suas análises e críticas. Não é um sonho que se choca
com uma realidade e nela deixa de se inscrever. Ele constitui -
e nisso está a razão de seu poliformismo e de suas recorrências
- um instrumento crítico da realidade: de uma governabilidade
à qual se opõe e de que se quer limitar os abusos.” (8)
Livres do velho maniqueísmo, podemos mirar os hori-
zontes com A. Cícero:
“Do preconceito, ou mesmo da franca hostilidade,
características dos cientistas do final do século passado,
estamos evoluindo para uma crescente busca de compreensão e
diálogo. Nessa nova postura, por certo restará cada vez menos
espaço para a lamentável figura do intelectual egocêntrico,
confinado no estreito mundo da razão, fascinado pelo poder
hipnótico das palavras, ansioso por prestígio e poder, sem
escrúpulos morais ou lastro espiritual, completamente alienado
das mensagens do corpo, da dinâmica das emoções e das
realidades mais profundas da psique.” (9)
Os Toffler reforçam:
“Significa que estamos criando novas redes de conheci-
mento interligando conceitos de maneiras surpreendentes,
construindo espantosas hierarquias de inferência, gerando no-

247
vas teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposi-
ções, novas linguagens, códigos e lógicas.” (10)
As ciências jurídicas, sociais e econômicas, perdidas nas
complicadas equações sem reflexões, congeladas sobre a mes-
ma base ilusória, pretensamente exata, mas essencialmente
empírica, por isso anticientífica e, conforme demonstramos ao
longo da obra, pautadas a favorecer, em primeiro plano, seus
articuladores, requerem a mais completa revisão, verdadeira
reversão. Na nova sociedade, a ética precede o direito, afirma
Paul Forier:
“o direito e todas as instituições por ele implicadas são
desprezados e sempre reduzidos a sua mais simples expressão.
A sociedade utópica, pela razão mesma de seu sucesso, ignora
conflitos e tribunais; nela todos conhecem seu papel e seu
dever e fazem espontaneamente o que deles se espera.” (11)
A sabedoria exige descartar o próprio Descartes: “A
filosofia se viu levada – isto é essencial - a pensar o social
como o inventor de si próprio, como um sistema não progra-
mado. Por outro lado, nossa época se desligou do fantasma de
retorno aos grandes ancestrais.” (12)
Parodiando Lao-tsè, “pela não-ação tudo pode ser feito”.
O espontâneo aflora num favo de mel; na química; na física; e
em qualquer ciência:
“A teoria do caos, esse nome espetacular que foi
desenvolvido a partir da antiga teoria das instabilidades dinâ-
micas, representou um genuíno avanço intelectual ao romper
com os limites do determinismo mecânico de Newton.” (13)
Na Internet, a descentralização e o caos são os ingredi-
entes essenciais.
Anna Lemkow relembra-nos das constatações de James
Gleick, de 1988:
“A ciência do caos explica em sua cativante intro-
dução a essa nova disciplina, descobre as leis universais que
governam o caos ou desordem. É uma ciência que exige certas

248
sensibilidades, como um olho para o padrão e outro para o
todo. Ela traz um novo entendimento dos conceitos de
totalidade, caos e mudança (cf. também Brigss e Peat, 1989).
Foi dito, reporta Gleick, que a nova teoria do caos representa
a terceira grande revolução na ciência moderna, após a
mecânica quântica e a relatividade. Já que a noção particular de
ordem num dado domínio do entendimento é de importância
fundamental, podemos bem entender porque a Ciência do Caos,
descobrindo uma nova noção de ordem, deveria ter um caráter
revolucionário. Relembre, por exemplo, a profunda mudança
societal já descrita que ocorreu quando a ciência moderna
apareceu e introduziu uma idéia de ordem que diferia radi-
calmente daquela sustentada pela sociedade medieval.” (14)
“A futuróloga Hazel Henderson assim descreveu a
situação: a complexidade e interdependência das sociedades
industriais amadurecidas, sua escala e centralização e os ines-
perados efeitos colaterais da tecnologia aplicada tornaram-se
não planejáveis e, portanto, não administráveis.” (15)
A expansão é simplificadora: “O fato significativo é que
estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas
de processamento de conhecimento que são profundamente
antiburocráticos.” (16)
“Como o próprio conhecimento é organizado relacio-
nalmente ou na forma de hipermeios- significando que pode ser
constantemente reconfigurado - a organização tem de se tornar
hiperflexível. É por isso que uma economia de firmas
pequenas, que interagem, reunindo-se em mosaicos temporá-
rios, é mais adaptável e, em última análise, mais produtiva do
que uma outra construída em torno de uns poucos monolitos
rígidos.” (17)
O notável Anatoly Gromiko singra no mesmo embalo:
“A humanidade está emergindo de uma reação em cadeia
de causa e efeito que se estende por bilhões de anos no
passado. Agora a espécie tem o poder de afetar sua própria

249
evolução através da escolha consciente. As pessoas hoje sabem
mais do que nunca. Rádios, televisores, computadores, telefo-
nes, copiadoras se espalharam pelo globo em um século.
Nenhuma geração pode acrescentar essas coisas aos jornais,
revistas e as artes. O nosso é um tempo de possibilidades
ilimitadas para intercâmbio, interação entre culturas, viagens e
aprendizado.” (18)
“Pensar globalmente exige a descoberta da relação certa
entre indivíduo e a comunidade global. Nenhum deles é insig-
nificante. Deve haver uma relação saudável entre comunidade,
ordem social, o todo e o indivíduo.” (19)
“Novas regras de conduta para as condições do paradoxo
global estão começando a surgir. Essas regras novas se baseiam
em nossas expectativas de conduta e comportamento indivi-
duais. Novamente partimos dos protagonistas menores do
mundo a fim de criar as novas regras para a ordem econômica
global em expansão.” (20)
Mastodontes já não tem mais vez: “Quanto maior a
economia mundial, mais poderosos são seus protagonistas
menores e todos os grandes protagonistas estão diminuindo de
porte.” (21)
Bruce West, do Instituto de La Jolla e Jonas Salk, do
Instituto Salk , Califórnia, orientam colegas às novas vias de
acesso científico, na verdade há muito utilizadas, na tradição de
Locke e Smith: “Chegaremos a reconhecer que existem leis da
natureza que determinam a conduta e evolução humanas.
Quando fizermos isso, teremos desenvolvido a capacidade de
entender melhor a natureza humana.” (22)
Encontramos indícios em modernas conceituações bioló -
gicas: “O mesmo DNA existente em todas as células expressa-
se de formas diferentes para cumprir as exigências singulares
de uma célula em particular.” (23)
“Para o biólogo Stuart Kauffmann, um dos criadores da
Ciência da Complexidade, a vida é um fenômeno que emerge

250
devido à junção de órgãos individuais. Através do uso de
simulações por computador, Kauffmann demonstrou que existe
'ordem de graça', uma cristalização espontânea de ordem nos
sistemas dinâmicos complexos, sem a interferência do processo
de seleção natural ou qualquer outra força externa.” (24)
Tudo consagra o autoalimentado caráter científico e
social do liberalismo: “A conectividade possibilita que você
conquiste mais independência, ao mesmo tempo em que a
independência o motiva a ficar cada vez mais conectado.” (25)
Antônio Cícero mostra-se inquieto pelo novo tempo,
curiosamente oxigenado pela antiga planta:
“O que nos falta é radicalizar a ideologia iluminista, que
os Estados Unidos deixaram para trás. A concepção moderna
de mundo não admite que haja um universal positivo. É por
isso que a concepção moderna de mundo é não-religiosa. Hoje
temos cada vez mais medo da diversidade. O Estado brasileiro
nos dá freqüentes provas disso. Montesquieu já dizia que as leis
ruins prejudicam as boas. Mas no Brasil de hoje, tudo tem de
ser regulamentado. Isso é um perigo. Temos de ter um mínimo
de lei absoluta para ter um máximo de experimentação. Mas o
que se dá no Brasil é o contrário, temos o máximo de lei e um
espaço cada vez menor para experimentar.” (26)
O Iluminismo não determinou o fim do Estado. Por certo
não há mesmo a imperiosidade dele, Estado, acompanhar o fim
de tudo, de Fukuyama a Ormerod, pois poderia significar o fim
do próprio homem, perdido nas galáxias. O Estado pode e
deve mesmo agir como uma racionalidade à serviço da gente.
Mister se faz, contudo, alterarem-se funções e, por conseguinte,
responsabilidades. Não há porque continuarmos com o
excessivo culto. Vivemos em tempos reais e virtuais. A
humanidade respira mais liberta, mais perto da gente:
“A consciência humana está transpondo um limiar tão
importante como o que transpôs da Idade Média para a Renas-
cença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho

251
fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico
começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que
necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual,
oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento
com os símbolos de autoridade do passado está se modificando,
porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada
qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e
status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão
surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro
de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes
previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir
estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.” (27)
Por isso o físico nuclear Richard Feynman abria suas
palestras: “Não há praticamente nada do que vou dizer esta
noite que não pudesse ter já sido dito pelos filósofos do século
XVII.” (28)
Para encerrá-las, o pesquisador de Los Alamos trocava o
“vou dizer” por “eu disse”; e praticamente repetia as concep-
ções de Locke e Smith:
“Nenhum governo tem o direito de decidir sobre a
verdade dos princípios científicos nem de prescrever de algum
modo o carácter das questões a investigar. Também nenhum
governo pode determinar o valor estético da criação artística
nem limitar as formas de expressão artística ou literária. Nem
deve pronunciar-se sobre a validade de doutrinas econômicas,
históricas, religiosas ou filosóficas. Em vez disso, tem para
com os cidadãos o dever de manter a liberdade, de deixar os
cidadãos contribuírem para a continuação da aventura e do
desenvolvimento da raça humana. Obrigado.” (29)
Cientistas jurídicos contemporâneos reconhecem:
“Podemos dizer, portanto, que cada homem é seu
primeiro legislador. Repetimos: a pessoa humana é o critério, o
sistema de referência, a medida para a determinação de todos

252
os valores. O ser humano, o ‘eu’ é razão do dever-se. Esta é a
norma fundamental da ordem ética.” (30)
Cientistas da economia, também:
“Existe uma acentuada complementariedade entre a
condição de agente individual e as disposições sociais: é
importante o reconhecimento simultâneo da centralidade da
liberdade individual e da força das influências sociais sobre o
grau e o alcance da liberdade individual. Para combater os
problemas que enfrentamos, temos que considerar a liberdade
individual um compromisso social. Essa é a abordagem básica
que este livro procura explorar e examinar. A expansão da
liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o
principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento con-
siste na eliminação de privações de liberdade que limitam as
escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponde-
radamente sua condição de agente.” (31)
A moderna ciência, além de muito mais humana, mais
sensível, “existencial”, também é liberal, natural, produtiva,
ética e democrática:
“A civilização emergente estabelece um novo código de
comportamento para nós e nos transporta para além da padro-
nização, da sincronização e da centralização, para além da
concentração de energia, dinheiro e poder. Essa nova civiliza-
ção tem sua própria e distinta concepção de mundo, maneiras
próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica, e a relação
de causa e efeito.” (32)
“Os positivistas modernos tem condição de ver mais
claramente que a ciência não é um sistema de conceitos mas,
antes de tudo, um sistema de enunciados.” (33)
A ordem é multiforme: “Há infinitos universos paralelos
formando ramificações. Em cada um se atualiza uma reali-
dade.” (34)
Antigos também podiam ver. Pontes de Miranda, o
jurista brasileiro mais citado no século passado, deparou-se

253
com o dilema, tormentoso enigma para alguém formado fer-
renho positivista, mormente considerando que a sentença exige
o abandono da própria formação, da crença de poder “ver para
prever”, da ação estipulada (delito) à reação calibrada (puni-
ção) que sustentam toda a atividade normativa e, de resto,
jurisdicional:
“Onde quer que haja organismos, o que mais importa
conhecer é o complexo “organismo x meio”. Os próprios
elementos dos organismos estão sempre e necessariamente em
relação mediata ou imediata com o conjunto de outros
elementos. A interação é o fato perene do mundo. Como, pois,
limitar a aplicação do relativismo?” (35)
F. Capra certamente não conheceu a obra do mestre
brasileiro. A coincidência é rara: “Onde quer que vejamos
vida, de bactérias a ecossistemas de grande escala, observamos
redes com componentes que interagem uns com os outros de
maneira tal que toda a rede regula e organiza a si mesma” (36)
Na precoce consciência de John Muir (1838-1914),
“cada vez que tocamos algo na Natureza, causamos rever-
berações no resto do universo.” (37)
O futuro faz-se a cada instante, por cada um, na unidade
cósmica. As reverberações são apenas efeitos, já detectados na
economia pelo iluminista Adam Smith. Finalmente a disciplina
pode assumir a velocidade multiplicada que requer nosso mo-
mento:
“No livro Bionomics, Michael Rothschild propõe que a
economia deveria ser vista como um ecossistema. Seu argu-
mento principal é que a economia, assim como um ecossistema
não possui uma direção central, um plano; elas se
desenvolvem, ou evoluem espontaneamente com o passar do
tempo. A principal diferença entre a economia e um ecos-
sistema é que a economia evolui mais rapidamente do que o
ecossistema, mas suas propriedades fundamentais seriam
similares.” (38)

254
Cada cidadão que se realiza, seja por vocação, amor ou
sacrifício opcional, irradia sua realização à gravidade que lhe
corresponde, conetando tudo o mais. É da física nuclear, con-
tudo, o exemplo mais claro da “multiplicação dos pães”, no
efeito atômico da inóspida bomba. Cada núcleo que se rompe
faz com que outro também se rompa; imediatamente há uma
epidemia de átomos e liberação instantânea de energia.
A solução liberal é a única capacitada a atender,
simultaneamente, exigências científicas, filosóficas, metafísi-
cas, ecológicas, jurídicas, econômicas, sociais e até medicinais:
“Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para
cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo, questões cen-
trais para o processo do desenvolvimento..” (39)
Mecanicistas, dialéticos, racionalistas, deterministas e
positivistas perderam o rumo e a força; embora a relutância,
restam-lhes apearem de suas engenhocas para que possamos
desmontar, sem ferimentos, peça por peça, os cenários
institucionais criados para acomodá-los, trocando-os por outros
eticamente mais louváveis e espiritualmente mais reconfortan-
tes, na liberdade conjugada com a cooperação espontânea, ade-
quada às responsabilidades de quem as exerce:
“A repentina popularidade do slogan ‘faça você mesmo
as suas coisas’ é o reflexo desse movimento histórico, porque,
quanto mais fragmentada ou mais diferenciada for a sociedade,
tanto maior será o número de estilos de vida variados que ela
própria promove. As pessoas do futuro haverão de usufruir de
maiores oportunidades de auto-realização do que quaisquer
outros grupos já surgidos no decorrer da história.” (40)
A radicalidade da liberdade humana, como se revela nas
obras de Karl Jaspers, Ortega Y Gasset, Nicola Abbagnano ou
Merleu-Ponty, bem como nas de Heidegger e de Sartre, entre
tantos elencados, apesar de sua aparente categoria absoluta,
reduz-se, em última análise, à consciência axiológica de uma

255
necessidade, a inexorável necessidade de sermos nós mesmos,
e não outros:
“‘A nossa vontade’, escreve Ortega, ‘é livre para reali-
zar ou não este projeto vital que afinal de contas nós somos,
porém ninguém poderá mudá-lo, corrigi-lo, dele prescindir ou
substituí-lo. Somos indeclinavelmente este único personagem
programático que não pode deixar de ser o que é’.” (41)
Há mais de meio século o lúcido Bertrand Russell
pronunciou:
“Os corpos se tornam, assim, muito mais independen-
tes uns dos outros do que o eram na física newtoniana: há um
acréscimo de individualismo e uma diminuição de governo
central, se nos for permitido usar essa linguagem metafórica.
Isto pode, mais cedo ou mais tarde, modificar consideravel-
mente a visão que o homem culto tem do universo, possivel-
mente com resultados de grande alcance.” (42)
O Iluminismo nunca esteve tão cercado de verdades, e
Maquiavel, Descartes, Hobbes, Rousseau, Hegel, Comte, Dar-
win, Marx e Freud nunca foram tão desmascarados. Desabas-
tecido seu trem, não vão a lugar nenhum. Já podemos e
devemos escolher o destino e a função que melhor aprouver,
em grupo, com par, ou individualmente.
Utópico? Exagero? Talvez nem tanto; por isso concorda-
mos com Feynman: o primeiro ensaio aconteceu, de verdade,
por fatos, há três séculos, na geração inglesa que fincou os
básicos preceitos de respeito ao indivíduo, ao cidadão, para
louvor da democracia; e, por teoria, além daquela que
impulsionou estes fatos, as de Kant, Einstein e Planck, - corpos
são livres, mas se respeitam e cooperam uns com outros. A
aridez científica não projeta mais miragens; por ela resplandece
a real silhueta do paraíso sempre lembrado, que pode ser
diferente a cada um, mas é esperado por todos. É possível e
necessário abrir os olhos para ver e viver, conhecer, trabalhar,
criar, amar, ser feliz, solidário, cada qual a seu modo, mas

256
responsável pela atitude. O big-bang do nascimento e a
expansão pessoal que lhe corresponde não podem e não devem
ser abafados, truncados ou alterados por nenhum sistema ou
interesse alienígena. O ser tem direito, pelo menos, à
sobrevivência. Queiram volver, ou melhor, dispersarem-se,
esquerda e direita, dialéticas inventadas, teimosos remanes-
centes, enferrujados dinossauros! Rebentou por podridão a
corda que movia o pêndulo dos estúpidos combates, usado à
hipnose coletiva. Além e afinal, seja para cima, para frente,
para dentro ou para fora, para um ou para vários lados, ou até
no mesmo lugar, nosso alcance e vontade transcendem
qualquer ideologia. A cada dia mais gente sabe disso. Cada vez
menor é a resistência.
Aos excelentíssimos senhores John Locke, Alexis Toc-
queville, Adam Smith, Friederich von Hayek, Max Planck e
Albert Einstein, sinceras homenagens, ainda que póstumas. Ao
companheiro do século XXI, o rejubilo. Eles foram exitosos,
seus frutos estão maduros; cabe-nos tão somente descascá-los e
saboreá-los.

Porto Alegre, primavera de 1992.


Caxias do Sul, primavera de 2002.

257
A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA
NOTAS
INTRODUÇÃO

1. Kuhn, T.S., p. 126/7


2. Bachelard, G., 1991, p. 21.
3. Jose Ortega y, Rebelião das massas; cit. Rohmann, C., p. 298.
4. Popper, K., 1998, Tomo I, p. 1.
5. Einstein, A., 1994, p. 178

I. A MÁ TEMÁTICA

1. O embuste de Platão
1. Mosca, G., Scritti politici (Teorica dei governi-elementi di scienza
política) vol.II, 633; cit. Rêgo, W.D.L., p. 88/9.
2. Tocqueville, A ., 1997, cap. XII, p. 139.
3. Cunha, F., especial ao jornal Zero Hora , P.Alegre, 27 de novem-
bro de 1992.
4. Genesis
5. Barros, Manoel, Retrato do artista quando coisa ; cit. Ferraz,
M.C., p. 3.
6. Eurípedes; Platão; cits. Burke, Peter, A propriedade das idéias,
tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves, in jornal Folha de São
Paulo - São Paulo, 24 de junho de 2001, caderno Mais! p. 16.
7. Bobbio, N. in Bobbio, N. e Viroli, M., p. 79.
8. Tocqueville, A., cit. Morin, E. e Le Moigne, J.-L., p. 136.
9. Platão, Fedro, 273e, cit. Perelman, C., p. 536
10. Châtelet, F., p. 43.
11. Ferraz, M. C. F., p. 28.
12. Russell, B., 2001, p. 74.
13. Platão, cit. Feyrabend, P., p. 135.
14. Platão, A República, cit. Popper, K., 1998, T.I, p. 169.
15. Platão, cit. Whitehead, A. N., p. 31.
16. Platão, cit. Popper, K., 1998, T. I, p. 139.
17. Platão, A República cit. idem, p. 123
18. Nietzsche, F., Assim falava Zaratustra , p. 38/9.
19. Platão, cit. Pereira, J. C. R., p. 116/17.

259
20. Platão, cit. Popper, K., 1998, p. 155.

2. Pacto com Belzebú


1. Einstein, A. cit. Brian, D., p. 305.
2. Time-Life, Viagens do Descobrimento, p. 113.
3. Gutemberg, cit. revista Veja , ano 31/ número 51, Especial do
milênio.
4. Ronan, C.A., Vol. III, p. 61.
5. Platão, cit. Ben-Dov, Y., p. 19.
6. Ronan, C.A., Vol. III p. 59.
7. Aristóteles, cit. Koyré, A., p. 25.
8. Toffler, A. e Toffler, H., p.41.
9. Morin, E., 2000, p. 128.
10. Schwartz, J. p. 18.
11. Beyssade, Jean-Marie, Descartes; cit. Châtelet, F., 1995, p.
80/1.
12. Platão, cit. Feyrabend, P., 1991, p. 135.
13. Platão, cit. Geymonat, L., Galileu Galilei, p. 145.
14. Magno, C., cit. Abrão, B.S., p. 105.
15. Lakatos, I., cit. Giorello, G., O conflito e a mudança,
Geymonet, L. e Giorello, G., p. 53.
16. Platão, cit. Abrão, B., p. 47.
17. Platão, cit. Granger, G.-G., p. 112.
18. Platão, cit. Feyrabend, P., 1991, p. 135.
19. Arão, B., p. 78,
20. Alighieri, D., A geografia do inferno de Dante tratada
matematicamente, 1588; in Geymonat, L., Galileu Galilei, p. 10;
Galileu, cit. Schwartz, J, p. 28.
21. Mandelbrot, B., cit. Capra, F., 1996, p. 118.
22. Riemann, B., cit. Geymonet, L., Matematica ed esperienza; cit.
Minazzi, F., in Geymonet, L. e Giorello, G., p. 147.
23. Einstein, A., cit. Schwartz, J., p. 58.
24. Idem, p. 104.

3. Rateando a cabeça
1. Copérnico, N., De revolutionibus orbium coelestium; cit. Ronan,
C.A., vol. III, p. 68.
2. Copérnico, N., cit. Châtelet, F., p. 48.
3. Baxandall, Michael, cit. Thuillier, P., p. 76.

260
4. Foucault, M., Resumo dos cursos do Collège de France, p. 83.
5. Henry, J., p. 99.
6. Descartes, R. e Maquiavel, N., Corte, M., cits. Goytisolo, J. V.
de, p.128.
7. Gusdorf, G., p. 163.
8. Koselleck, R., p. 24.
9. Pascal, cit. Granger, G. -G., p. 9
10. Poeta Crítias, tio de Platão e líder dos Trinta Tiranos de Atenas,
após a guerra do Peloponeso, cit. Popper, Karl M., 1998, p. 160.
11. Sententiae, II, 47; cit. Bobbio, N., A teoria das formas de
governo, p. 78
12. Agostinho, cit. Rohden, H., 1993, p. 28.
13. Gleiser, M., O fim da terra e do céu ; cit. jornal Folha de São
Paulo, caderno Mais! São Paulo, 29 de julho de 2001.
14. Schilling, V., Apresentação.
15. Reale, M., 1998, p. 22.
16. Feyerabend, P., 1991, p. 27.
17. Ferguson, M. p. 210

4. A astúcia de Maquiavel
1. Kuhn, T. , p. 126-7
2. Cassirer, Ernst, cit. Costa, V.M.R., p. 27
3. Maquiavel, N., cit. Popper, K., 1998, p. 81.
4. Meleto, Frá Francesco de, cit. Gruzinski, S., p.45
5. Maquiavel, N., cit. Gusdorf, G., p. 163.
6. Maquiavel, N., cit. Bacon, F., Advencement of learning,
publicação póstuma, 1629, II, XXXI.
7. Pividal, Rafaël, Leibniz ou o racionalismo levado até o paradoxo,
in Châtelet, F., p. 147.
8. Gleiser, M., 2001, p. 32.
9. Théologie platonicienne, p. 36; cit. Châtelet, F., p. 44.
10. Maquiavel, cit. Bobbio, N. in Bobbio, N. e Viroli, M., p. 59.
11. Platão, cit. Abrão, B., p. 136.
12. Russell, B., 2001, p. 247.
13. Larivaille, P., p. 161.
14. Colombo, E., p. 57.
15. Maquiavel, N., cit. Viroli, Maurizio, in Bobbio, N. e Viroli, M.,
p. 130.
16. Platão, Estadista, cit. Popper, K. M., 1998, Tomo I, p. 184.
17. Platão; Aristóteles; cits idem, p. 116.
18. Alquié, F., p. 85.

261
19. Da Vinci, Leonardo, Carta à Ludovico Sforza, cit. White, Mi-
chael, O primeiro cientista, Record, 2002; cit. Gutkoski, Cris, O
homem que fez a Renascença; especial para o jornal Zero Hora,
caderno Cultura , Porto Alegre, 13 de abril de 2002.

5. O espião Galileu

1. Platão, cit. Japiassú, H., 1997, p. 81.


2. Galilei, G.; Platão; cits. Alquié, F., p. 7.
3. Geymonet, L. , p. 42.
4. Koyré, A. , cit. Thuillier, P., p. 128.
5. Galileu, cit. Geymonat, L., p. 319.
6. Koestler, A. e Feyrabend, P., cits. Japiassú, H., 1997, p. 110.
7. Hawking, S.W., 1992, p. 19/20.
8. Japiassú, H., 1997, p. 58
9. Aristóteles, cit. Ben-Dov, Y., p. 15.
10. Galileu, cit. Capra, F. 1991, p. 50.
11. Galilei, G., cit. Morris, R., p. 146.
12. Brennan, R., p. 20.
13. Gleick, J., p. 83.
14. Bunge, M., p. 60.

6. Bacon à moda chefe

1. Bacon, F., cit. Gleiser, M., 1997, p. 41.


2. Huai-nan-tseu, cit. Capra, F., 1991, p. 51.
3. Bacon, F., p. 97.
4. Bacon, F., cit. Goytisolo, J. V. de, p. 32.
5. Idem, ibidem.
6. Henry, J., p. 101.
7. Capra, F., 1991, p. 51/52.

7. A tolice de Descartes

1. Descartes, R., “Regulae ad directionem ingenii”, (Regras para


direção do espírito) obra incompleta escrita provavelmente antes
de 1628, impressa apenas em 1701.
2. Descartes, R., cit. Russell, B., 2001, p. 277.
3. Platão, cit. Whitehead, A. N., p. 31.
4. Koyré, A., p. 81.

262
5. Russell, B., 2001, p. 96.
6. Descartes, R., cit. Koyré, A., p. 18.
7. Idem, ibidem.
8. Granger, G.-G., Método-Teoria/Modelo (Enciclopédia Einaudi,
vol. 21) Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992, p. 58;
cit. Silva, P., p. 302.
9. Descartes, R., cit. Koyré, A., p. 38/39.
10. Idem, p. 40.
11. Rohden, H., Einstein, o enigma do Universo , p. 136.
12. Descartes, R., cit. Beyssade, Jean-Marie, in Châtelet, F., p. 82/3.
13. Serres, Michel, cit. Descamps, C., p.98
14. Descartes, R., cit. Lemkow, A. F., p. 84.
15. Descartes, R., (1952) Les principes de la philosophie; in:
Ouevres de Descartes, Paris, Librarie Joseph Gilbert; cit. Oliva, A.,
1999, p. 84/5.
16. Beyssade, Jean-Marie, Descartes, in Châtelet, F., p. 102.
17. Mettrie, J.O., cit. Abrão, B., p. 266.
18. PH Roqueplo, Oito teses sobre o significado da ciência, in
Deus, J.D., p. 154.
19. Weber, M., A ética protestante e o espírito do capitalismo; cit.
Amorim, A. B., p. 128.
20. Gleick, J., p. 92.
21. PH Roqueplo, cit. Deus, J.D., p. 151.
22. Henry, J., p. 101
23. Dewey, J., p. 87
24. Fowles, J., cit. Gleick, J., p. 158/9
25. Descartes, R., cit. Lemkow, A. F., p . 84.
26. Vesálio, André (1514-1564), cit. Henry, J., p. 38.
27. Canguilhem, G. Ètudes d'histoire et de philosophie des
sciences, p. 221 e 222; cit. Descamps, C., p. 91.
28. Descartes, R., O homem, cit. Alquié, F., p. 66.
29. Brennan, R., p. 141.
30. Chopra, D., 1997, p. 97.

8. A dialética cartesiana
1. Beyssade, Jean-Marie , Descartes, in Châtelet, F., p. 95.
2. Idem, p. 88.
3. Descartes, R., cit. Capra, F., 1991, p. 56.
4. Descartes, R., cit. Alquié, F., p. 29.
5. Deus, J. D., p. 24.
6. Bacon, F., p. 67.

263
7. Descartes, R., cit. Japiassú, H., 1997, p. 173/4.
8. Roszac, T., p. 226.
9. Descartes, R., cit. Capra, F., 1991, p. 55.
10. Einstein A. e Infeld, L., p. 36.
11. Johnson, George, cit. Nobrega, C., 1998, p. 195.
12. Graner, F.; Dubralle, B.; cits. Reis, José, A lei dos planetas,
especial para jornal Folha de São Paulo, caderno Mais!, S. Paulo,
7/4/ 2002, p. 22.
13. Prigogine, I., cit. Ferguson, M., p. 164.
14. Descartes, R., cit. Japiassú, H., 1997, p. 173/4.
15. Damásio, A., p. 279.
16. Russell, B., 2001, p. 281
17. Damásio, A, p. 279.
18. Villey, Michel, cit. Goytisolo, J. V., p. 51.
19. Descartes, cit. Lemkow, A. F., p. 82/3.
20. Smith, A., Teoria dos sentimentos morais, p. 388/9
21. Nobrega, C., Em busca da empresa quântica, p. 242/243.
22. Damásio, A, p. 279.
23. Descartes, R., cit. Capra, F., 1991, p. 55.
24. Hegel, G.W , cit. Bobbio, N., 1991, p. 42.
25. Brodsky, Joseph, cit. Paz, Octávio, O mal começou em Des-
cartes, jornal La Nación , Buenos Aires, transcrito pelo jornal Zero
Hora , Porto Alegre, 30 de março de 1996, caderno Cultura, p. 2.
26. Sousa, W., p. 24.
27. Serres, Michel, cit. Descamps, C., p. 103.
28. Fowler, Dean R., Einstein´s cosmic religion, 1979; cit.
Jammer, M., p. 103.
29. Kuhn, T.S. p. 156.
30. Heisenberg, W., cit . Capra, F., 1995, p. 16
31. Goldman, L., p. 72
32. Coveney, P. e Highfield, R., p. 96.
33. Lemkow, A. F., p. 15.
34. Idem, p. 82/8
35. Deus, J. D. p. 2

9. O incomparável Newton

1. Galilei, G., cit. Gaarder, J., p. 221.


2. Brennan, M., p. 29.
3. Newton, I., cit. Brennan, R., p. 27.
4. Idem, p. 55.
5. Idem, p. 32/3.

264
6. Newton, I., cit. Granger, G. -G., p. 73.
7. Newton. I., cit. por B.J. Dobbs, The foundation of Newton´s
alchemy, Cambridge University Press, 1975, p. 13-4; Thuillier, P.,
p. 148.
8. Newton, I., cit. Schwartz, J., p. 45.
9. Bacon, F., p. 67.
10. Genesis 1:28
11. Marcuse, Herbert, One-dimensional man; Beacon Press, 1964;
cit. Deus, J. p. 20.
12. Célebre frase de Newton: “Se fui tão longe foi porque estava
apoiado no ombro de gigantes.”Arthur Koestler analisa os
“gigantes”: primeiro, Johannes Kepler: “...uma mente para a qual
toda a realidade última, a essência da religião, da verdade e da
beleza estava contida na linguagem dos números.” Depois, Galileu
Galilei e René Descartes: “...prometeu reconstruir o universo inteiro
a partir apenas de matéria e extensão e que inventou a mais bela
ferramenta de raciocínio matemático, a geometria analítica”.
Koestler, Arthur, The sleepwalkers, 1978, cit. Lemkow, A. F., p.
84.
13. Newton, I., cit. Thuillier, P., p. 169.
14. Newton, I.; Descartes, R.; cits. Brennan, R., p. 36.
15. Whitehead, Alfred North, Matemática, in Fadiman, C., p. 333.
16. Brennann, B.A., p. 43.
17. Idem, ibidem.
18. Prigogine, Ilya, cit. Ferguson, M. , p 164.
19. Newton, I., cit. Brennan, R., p. 54.
20. Newton, I., cit. Lentin, Jean-Pierre, Penso, logo me engano:
gra ndes gênios, pequenas trapaças; revista Veja, editora Abril,
S.Paulo, 20 de março de 1996, p. 108.
21. Newton, I., cit. Brennan, R., p. 28.
22. Hooke, Robert; Newton, I.; cits. idem, p. 42.
23. Owen, John, cit. Ormerod, P., p. 107.
24. Comte, Augusto, cit. Lacerda, A.V., p. 33. Pelo último: “O na-
seio de tratar a ciência social como um ramo da matemática,
encontra sua origem na convicção de que fora dela inexiste certeza,
em verdade preconceito gerado na época em que o domínio do
positivo limitava-se à esfera matemática e que tornou-se
inescusável quando passou a haver certeza também em química e
sobretudo em fisiologia, ciências das quais o cálculo não participa
senão instrumentalmente.”
25. Nietzsche, F. , A gaia ciência, p. 130.
26. Nietzsche, F., 1961, p. 8.

265
27. Einstein, A., Como vejo o mundo, p. 198.
28. Newton, I., cit. Capra, F., 1991, p. 60.
29. Einstein, A., 1981, p. 149/50.

II. A DOILÉTICA DE HEGEL

1. Hegel, o absoluto

1. Maquiavel, N., cit. Popper, K., 1998, p. 81.


2. Hegel, G.W., The philosophy of history; Introdução; Bohn Libra-
ry, p. 34, cit. Sabine, G. p. 62.
3. Sabine, G., p. 848.
4. Hegel, G.W., Princípios de filosofia do direito, parágrafo 258;
cit. Pereira, J.C.R., p. 124.
5. Hegel, G.W. , cit. Bobbio, N., Estudos sobre Hegel : direito,
sociedade civil e Estado, p. 119.
6. Hegel, G.W., cit. idem, p. 647.
7. Hegel, G.W., cit. Abrão, B., p. 347.
8. Hegel, G.W., cit. Penna, J. O. M., p. 94.
9. Hegel, G.W., cit. Bobbio, N., Estudos sobre Hegel : direito, so-
ciedade civil e Estado, p. 135.
10. Hegel, G.W., Ed. Lasson, Vol. II, p. 484; cit. Heidegger, M., A
constituição onto-teológica da metafísica, p. 190.
11. Hegel, G.W., cit. Russell, B., p. 357.
12. Hegel, G.W., cit. Rohmann, C., p. 188.
13. Mises, L., Ação humana - Um tratado de economia, p. 72.
14. Schopenhauer, A., cit. Popper, K., 1998, p. 255.
15. Bobbio, N., 1995, p. 81.
16. Rousseau, J.-J.e Hegel, G.W., cit. Rohden, H., 1993, p. 160.
17. Hobbes, T., cit. Bobbio, N. Estudos sobre Hegel: direito, socie-
dade civil e Estado, p. 41.
18. Hobbes, T ., De cive, cit. Bobbio, N., idem, p. 50.
19. Hegel G W. , cit. Bobbio, N., idem, p. 40.
20. Hegel, G.W., cit. Goytisolo, J. V., p. 154.
21. Hegel, G.W., cit. Bobbio, N., Estudos sobre Hegel: direito, so-
ciedade civil e Estado , p. 86.
22. Russell, B., 2001, p. 158.
23. Hegel, G.W. e Rousseau, J. J. , cits. Bobbio, N., Estudos sobre
Hegel: direito, sociedade civil e Estado , p. 86. .
24. Idem, ibidem.
25. Dewey, J., p. 144.

266
26. Montesquieu, p. 44.
27. Toynbee, A.J., Estudos de História Contemporânea: a civiliza-
ção posta à prova, p. 217.
28. Bergson, Henri, cit. Rohden, H., A 1993, Vol II, p. 206.
29. Kiekegaard, Sören, cit. Reale, M., 1998, p. 234.

2. A perna mecânica
1. Hegel G.W., cit. Cicero, A., p. 73.
2. “Em seminário internacional do MEC, pensador Edgar Morin
fala na educação do futuro: ‘Ensino sem espírito não funciona’”;
jornal Folha do Sul, Porto Alegre, 23/24 de setembro de 2000, p.
17.
3. Russell, B., 2001, p. 137.
4. Hegel, G.W.; Descartes, R., cits. Alquié, F., p. 17
5. Descartes, R., cit. Hegel, G. W., Conferências e escritos filosó-
ficos de Martin Heidegger; Hegel e os gregos, p. 20
6. Newton, Isaac, cit. Capra, F., 1991, p. 60.
7. Newton, I., cit. Rohden, H., 1993, p. 169.
8. Desanti, Jean T.; G.W. Hegel, Des idealites mathematiques. -
Seuil, 1968; cits. Descamps, C., p. 93.

3. A forja dialética
1. Hegel, G.W.; Platão, cits. Popper, K., 1998, p. 269.
2. Bobbio, N., Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade
civil, p. 27.
3. Russell, B., 2001, p. 354.
4. Gramsci, Antônio, cit. Bobbio, N, Ensaios sobre Gramsci e o
conceito de sociedade civil, p. 31.
5. Idem, p. 27.
6. Abrão, B., p. 353.
7. Rohden, H., 1993, p. 169.
8. Hegel, G.W., cit. Abrão, B., p. 353.
9. Descamps, C., p. 52.
10. Granger, G.-G., p. 99.
11. Burns, E.M., Lerner, R.E. e Standish, M., vol.2, p. 575.
12. Demo, P., in Haguette, T.M.F., p. 135/6
13. Hegel, G.W., cit. Gadamer, Hans George, in Luft, E., p. 68
14. Kant, I., cit. Haguette, T.M.F. org., Dialética hoje, p. 12.
15. Nietzsche, cit. Sabine, G., p. 633.

267
16. Schopenhauer, A., cit. Popper, K., 1998, p. 85.
17. Popper, K., 1998, p. 85.
18. Bobbio, N., Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade
civil, p. 27.
19. Bohr, N., cit. Descamps, C., p. 103.
20. Hegel, F.W., cit. Bobbio, N., 1991, p. 67.
21. Russell, Bertrand, cit. Fadiman, C., p. 266.
22. Hegel, F.W., cit. Bobbio, N., 1991, p. 119.
23. Hegel, F.W., cit. Habermas, Jörgen, especial para O Estado de
São Paulo, S.Paulo, de 6 de novembro de 1993.
24. Lightill, Sir James, cit. Coveney, P. e Highfield, R., p. 242.

4. A perversão do Direito
1. Châtelet, F., p. 313.
2. Hegel F.W., cit. Bobbio, N., 1992, p. 59.
3. Hegel, F.W., cit. Bobbio, N., 1991, p. 86.
4. Hegel, F.W., cit. idem, p. 84.
5. Hegel, F. W., cit. Bobbio, N., idem, p. 135.
6. Idem, p. 86.
7. Idem, p. 152. É bem verdade que Bobbio também declara que
nesta “agressão” aos africanos Hegel acompanhava-se de ninguém
menos do que Montesquieu: “ Não nos podemos convencer de que
Deus, um ser de grande sabedoria, pôs uma alma e s obretudo uma
boa alma num corpo tão negro... É impossível supormos que se
trate de homens porque, se admitíssemos isso, poderíamos começar
a crer que nós próprios não somos cristãos.”
8. Montesquieu, cit. Nader, P., p.140.
9. Hegel, F.W. cit. Bobbio, N., 1991, p. 150.
10. Ziegler, H. O., cit. Popper, K., 1998, p. 87.
11. Bobbio, N., 1997, p. 24.
12. Russell, B., 2001, p. 355
13. Goldman, L., p. 15/16.
14. Coelho, L.F., p. 42.
15. Bacon, Francis, cit. Konder, L., idem, p . 4.
16. Marx, K., O que Marx realmente disse; décima-primeira das
Teses sobre Feuerbach, p. 22.
17. Marx, Karl, posfácio à segunda edição alemã do primeiro
volume de O Capital, cit. Konder, L., p. 10.
18. Quillet, P., p. 46
19. Bachelard, G., idem, p. 57. .
20. Schumpeter, J., p. 24.

268
21. Kant, Immanuel, cit. Popper, K., 1998, p. 122
22. Hegel, F. W., cit. Popper, K., idem, p. 48.
23. Penna, J. O. de Meira, p. 179.
24. Hegel, F.W., cit. Bobbio, N., 1997, p. 24.
25. Hegel, F.W., cit. Sabine, G., p. 620.
26. Hegel, F.W.; Heráclito; cits. Popper, K., 1998, p. 44.
27. Scheler, Max, cit. idem, p. 78.
28. Barfi, Antônio, cit. Bobbio, N., 1991, p. 182.
29. Solari, cit. idem, ibidem.
30. Sabine, G.p. 650.
31. Hegel, G. W., cit. Descamps, C., p. 132
32. General Ludendorff, Comandante das tropas alemãs na I Grande
Guerra, cit. Popper, K., 1998, p. 78.
33. Treitschke, cit. idem, p. 73.
34. Engels, F. p. 50.
35. Popper, K., 1998, p. 282.
36. Rohden, H. 1993 , p. 157.

5. A versatilidade do Volk e a codificação

1. Almond, G. e Powell Jr., G., p. 197.


2. Bobbio, N., 1997, p. 24.
3. Thibaut, Antonio Frederico Justo (1772-1840), cit. Bobbio, N.,
1995, p. 57-8
4. Savigny, cit. Bonavides, P., p. 57.
5. Russell, B., 2001, p. 352/3
6. Rosenkranz , Karl; Hegel, G.W., cits. Cicero, A., p. 134.
7. Lemkow, A., p. 86.
8. Gleiser, M., p. 164.
9. Japiassú, H., 1978, p. 97.
10. Bobbio, N., 1995, p. 224.
11. Comte, Augusto, cit. Penna, A.G., p. 118.
12. Durkheim, E., cit. Goldman, L., p. 33.
13. Bobbio, N., 1987, p. 54.
14. Bastos, W. de L., p. 197.
15. Fichte, J.G., cit. Jouvenel, Bertrand de, por Chevallier, J.J.,
p. 232.
16. Fichte, J.G.; Marx, Karl; cits. Russell, B., 2000, p. 94.
17. Mosca, Gaetano, cit. Bastos, W. L. p. 140.
18. Fichte, J.G., Discursos à Nação Alemã: nacionalismo e
formação nacional; cit. Lerner, R.E. e Standish, M.. p. 573.
19. Bismarck, cit. Diggins, J.P., p. 115

269
6. O pequeno falsário
1. Darwin, C., Autobiografia, p. 7.
2. Idem, ibidem.
3. Darwin, C., Autobiografia, p. 12.
4. Darwin, Charles, cit. Carvalho, E.M.M. p. 108.
5. Darwin, Erasmus, cit. Thuillier, P., p. 198.
6. Darwin, C., cit. . Carvalho, E.M.M., p. 33.
7. Schrödinger, E., p. 121.
8. Quètelet, A, cit. Thuillier, P., p. 220.
9. Lyell, Charles; Wallace, Sir Alfred; cits. Darwin, C., in
Carvalho, E.M.M., p. 14/15.
10. Haeckel, cit. Miranda, P.,p. 188.
11. Idem, p. 40/41.
12. Darwin, C., Autobiografia, p. 7.
13. Idem, ibidem.
14. Darwin, C., idem, p. 12.
15. Darwin, C., cit. Ronan, C. A., Volume IV, p. 12.
16. Darwin, C. e Darwin, Robert, cit. Thuillier, P., p. 194.
17. Darwin, C., cit. Coveney, P. e Highfield, R., p. 221.
18. Darwin, C., Autobiografia, p. 11.
19. Darwin, C., cit. Thuillier, P. p. 199.
20. Darwin, C. cit. Reis, José, A doença de Darwin, especial para
jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 12 de março de 2000,
caderno Mais!, p. 33
21. Darwin, C., p. 8/9.
22. Darwin, C., cit. Thuillier, P., p. 191.
23. Darwin, C., cit. Challita, M., p. 156.
24. Malthus, T., Ensaio sobre o princípio da população .
Darwin, C., cit. Croft, L. The life and death of Charles Darwin, p.
65; Darwin, Charles, cit. Coveney, P. e Highfield, p. 222. Darwin,
C.; Malthus T., cits. Carvalho, E. M., p. 34.
25. Idem, ibidem.
26. Idem, p. 35.
27. Behe, M., P. 31.
28. Darwin, C., cit. Downs, R. B., p. 200.
29. Darwin, C., cit. Thuillier, P., p. 210.
30. dem, p. 214.
31. Idem, p. 216.
32. Idem, p. 196.
33. Darwin, C.; Kauffman, S.; cits. Behe, M., p. 38.

270
34. Dewey, John, The influence of Darwin on Philosophy, 1910; cit.
35. Rohmann, C., p. 149.
36. Lucáks, Georg (1885-1971) cit. idem, p. 251.

7. O macaco peralta
1. Boltzmann, Ludwig, Populare Schriften Essay 1, theorethical
physics and philosophical problems, p. 15; cit. Coveney, P. e
Highfield, R., p. 135. Boltzmann defendeu este mesmo ponto de
vista na palestra sobre a segunda lei, proferida em 1886, num
festival da Academia Austríaca de Ciências.
2. Spencer, Herbert e Schäffle, Albert, cits. Carvalho, E.M.M.,
p. 63.
3. Spencer, Herbert, cit. Schwartzenberg, R.-G., p. 143.
4. Spencer, Herbert, cit. Sabine, G., p. 699.
5. Schäffle, Albert, Bau und Leben des sozialen Körpers (1875-
1878), cit. Miranda, P., p. 200.
6. Schwartz, J., p. 57.
7. Wallace, A.R. e Young, R., Sciences studies, 1971, p. 184; cit.
Japiassú, H. 1978, p. 56.
8. Darwin, C., cit. Carvalho, E.M.M., p. 21.
9. Johnson, P., p. 4.
10. Downs, R. B., p. 8.
11. Hayek, F. A., p. 46/47.
12. Wilber, Ken, Up From Eden: A transpersonal view of human
evolution, p. 304/305; cit. Lemkow, A., p. 178.
13. Sagan, D., cit. Dawkins, R., p. 288.
14. Lemkow, A. F., p. 183/185.
15. Smith, A., cit. Beher, M., p. 20.
16. Beher, M., p. 177.
17. Smith, Andrew P., Mutiny on The Beagle; cit. Lemkow, A. F.,
p. 167.
18. Darwin, C.; Nagel, Thomas, cits. Teixeira, João Fernandes,
Assombrações da pós-modernidade, jornal Folha de São Paulo,
caderno Mais! S. Paulo, 10 de junho de 2001, p. 20. Nagel tem
duas obras traduzidas: A última palavra , trad. Carlos Felipe Moisés,
São Paulo: ed. UNESP 2001, com 176 págs. e Uma breve
introdução à filosofia, trad. Silvana Vieira - São Paulo: Martins
Fontes, 2001, com 108 págs.
19. Reynold, Gonzaguè de, cit. Goytisolo, J.V., p. 210.
20. Brunet, M., jornal Folha de São Paulo, S.P., 13 de julho de
2002, p. 2.

271
21. Tobias, P.; Westenhofer, M.; Hardy, A., cit. Bonalume Neto,
Ricardo, jornal Folha de SãoPaulo, S.P., 24 de julho de 2002,
FolhaCiência, p. A16.
22. Miranda, P. , p. 198.
23. Ferguson, M., , p. 149.
24. Telles Jr., G., p. 244/246.
25. Lemkow, A., p. 169.
26. Marx, K., cit. Japiassú, H., 1978, p. 60.
27. Darwin, C., cit. Carvalho, Eide M. M., p. 21
28. Reale, M., p. 223
29. Turati e Kautsi, cit. Hayek, F.A., p. 83.
30. Needham, Joseph, cit. idem., p. 84.
31. Lemkow, A., F., p. 174.
32. Andrade, H. G., p. 181.
33. Hayek, F. A. , p. 45.
34. Fourner, Pierre, cit. Goytisolo, J. V., p. 211.
35. Beher, M., p. 39.
36. Hawking, S.W., p. 32.
37. Feynman, Richard P., cit. Gleick, J., p. 182.
38. Zohar, D. e Marshall I.N., p. 270.
39. Hopkins, W., cit. Thuillier, P., p. 215.
40. Haughton, S., cit. idem, ibidem.
Lord Kelvin , cit. Revista Isto É, S. Paulo, 19 de fevereiro de 1997,
p. 19.
41. Schrödinger, E., p. 43/4.
42. Thorne, K; Hawking, S.; cits. Thuillier, P., p. 217.
43. Blavatsky, H.P., The secret doctrine 1888; Escritos
selecionados p. 181; cit. Lemkow, A., p. 176.
44. Trattner, E. B., Einstein, um estudo: a teoria da relatividade, in
Einstein por ele mesmo, p. 18.
45. Einstein, A., Escritos da maturidade: artigos sobre c iência,
educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais, p.
132.
47. Behe, M. p. 38.
48. Coyne, Jerry, do Departamento de Ecologia e Evolução da
Universidade de Chicago, cit. idem, p. 37.

8. O ardil materialista
1. Mises, L., 1987, p. 139.
2. Engels, F., cit. Bobbio, N., 1992, p. 169.
3. Marx, K., cit. Haguette, T.M.F., p. 173.

272
4. Engels, F. e Marx, K., A sagrada família, p. 126; cit. Bobbio, N.,
Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política,
p. 38
5. Marx, K., Das Kapital (O capital) prefácio.
6. Weber, Eugen, prof. Universidade da Califórnia, UCLA, especial
para TV.
7. Marx, Karl, Engels, F., cits. Althusser, L., Posições 1 , p. 70.
8. Rosselli, C., p. 101
9. Hayek, F., p. 76.
10. Coulanges, F., A cidade antiga, p. 219.
11. Bakunin, cit. Woodcock, G., p. 36
12. Marx, K., cit. Japiassú, H., 1978, p. 104.
13. Idem, ibidem.
14. Schumpeter, J.A ., p. 32.
15. Bohm-Bawerk, E., A teoria da exploração do socialismo -
somunismo , p. 3.
16. Definição de Engels F.; Do socialismo utópico ao socialismo
científico, p. 8.
17. Na décima-primeira.
18. Marx, K., O que Marx realmente disse; Teses sobre
Feuerbach, p. 22.
19. Marx, K.; Chamberlin, W.H., cit. Downs, R.B., p. 109.
20. Roszac, T., p. 108.
21. Marx, K., cit. Pereira, J.C.R., p. 134.
22. Chopra, D., 1993, p. 19.
23. Hayek, F.A., p. 199.
24. Gonzalez, Felipe, quando de sua visita ao Brasil, in Jornal do
Comércio, Porto Alegre, 9 de dezembro de 1996, p. 2.
25. Henderson, Hazel, cit. Capra, F., 1995, p. 206.
26. Engels, F.; Marx, Karl; cits. Downs, R.B., p. 100.
27. Idem, ibidem.
28. Idem, p. 101.
29. Durkeim, Emile, Revue de Metaphysique et de Morale, 1921,
cit. Hugon, P., p. 190.
30. Trotski, Leon, Vladimir Ilitch Lênin, cit. Fadiman, C., p. 318.
31. Lippmann, W., cit. Popper, K., T.I, p. 88.
32. Barzun, Jacques, Sobre a história; cit. Fadiman, C., p. 8.
33. Johnson, P., p. 381.
34. Monteiro, I.,p. 84.
35. Rohden, H., Einstein: o enigma do Universo , p. 56.
36. Russell, B., As consequências filosóficas da Relatividade, cit.
37. Fadiman, C., p. 265.

273
38. Idem, ibidem
39. Mises, L., cit. Toffler, A e Toffler, H., p. 86.
40. Einstein, A., cit. Jammer, M., p. 154.
41. Heisenberg, W. cit. idem p. 173.
42. Rohden, H., cit. Monteiro, I., p. 9.
43. Morin, E., 2002, p. 94.
44. Bachelard, G., 1995, p. 64.
45. Morin, E., 2002, p. 64.
46. Marx, K., cit. Downs, R.B., p. 100.
47. Idem, p. 111. O autor não cita quem é o autor da apreciação,
apenas informando tratar-se de um crítico hostil.
48. Buchanan, James, cit.Klaus, Václav, Min istro das Finanças da
Tcheco-Eslováquia de 1991, Presidente em seguida, in Demolindo
o socialismo, série Ensaios e Artigos - Inst. Liberal, R. Janeiro,
1992, p.10.

A fantasia de Freud

1. Fowles, John, cit. Gleick, J., p. 158/9.


2. Descartes, R., cit. Pividal, Rafëel, Leibniz ou o racionalismo
levado ao paradoxo, in Châtelet, F., p. 155.
3. Ferguson, M., p. 77.
4. Bohm, David, cit. Sousa, W., p. 45..
5. Jaspers, Karl, Psicopatologia Geral, Ed. Atheneu, 1987, Vol I,
p. 40; cit. Araújo, Bohmila, A voz da harmonia; especial para o
jornal A Tarde, Salvador, BA, 7 de outubro de 1995.
6. Descartes, R., cit. Cicero, A., p. 121.
7. Japiassú, H., 1997, p. 81.
8. Crews, Frederick, O gênio da retórica, jornal Folha de São
Paulo, caderno Mais! S.Paulo, 22 de outubro de 2000, p. 18.
9. Chopra, D , 1997, p. 181.
10. Gleick, J., p. 341.
11. Freud, S., cit. Levin, D.C., Physics and psychoanalysis: an
epistemológical study, 1977; cit. Capra, F., 1991, p. 171.
12. Downs, R.B., p. 209.
13. Laing, R.D., cit. Capra, F.,1995, p. 93.
14. Zohar, Danah, e Marshall, I. N., p. 16.
15. Freud, S., cit. Capra, F., 1991, p. 173.
16. Freud, S. e Darwin, C., cits. Downs, R.B., p. 211.
17. Kelsen, H., (1881-1973), p. 321.
18. Freud, S., cit. Pais, A., p. 222.
19.Watson, J., cit. Rohman, C., p. 45.

274
20. Carey, H.C., Principles of social science, I, p. 57; cit. Hugon,
P., p. 360.
21. Granger, G.-G., p. 82.
22. Gall, Biran, Main de, cit. Penna, A.G. , p. 90.
23. Heras, Jorge Xifra, Introdución à la política; Curso de Derecho
Constitucional, 2. ed., Barcelona; cit. Bonavides, P., p. 51.
24. Lacan, M., cit. Japiassú, H., Um desafio à filosofia : pensar-se
nos dias de hoje , p. 37.
25. Comte, A; Wundt, cits. Penna, A. G., p. 118.
26. Bachelard, G., cit. Quillet, P., p. 84.
27. Prelot. M., cit. Bonavides, P., p. 459.
28. Hitler, A., cit. Downs, R. B., p. 147.
29. Simões Jr. J.G., p. 32
30. Nietzsche, F.W., cit. Oliveira, B., p. 44.
31.Janet, Pierre, cit. Crews, Frederick, O gênio da retórica, jornal
Folha de São Paulo, Caderno Mais!, S. Paulo , 22 de outubro de
2000, p. 20.
32. Jung, C., G., cit. Capra, F., 1991, p. 353.
33. Jung, Carl Gustav, Aion, CW, Vol 9, 1951.
34. Sorel, G., p. 7.
35. Freud, S., cit. Zohar, D., p. 194.
36. Bachelard, G., La poétique de l´espace, cit. Pessanha, J.A.M., p.
XXIX.
37. Freud, Sigmund, cit. Zohar, D., p. 194.
38. Oliveira, B., p. 38/43.
39. Simões Jr., J.G., p. 25.
40. Idem, p. 68
41. Lacerda, C., p. 71.
42. Jung, C.G.; Freud, S.; cits. Simões Jr., J.G., p. 54
43. Freud, S., cit. Bettoni, Jacob, Pedofilia,:F reud explica?, in
jornal Kronika, P. Alegre, edição 24, p. 4.
44. Einstein, A.; Freud, S., cits Brian , D., p. 176.
45. Roazen, P.; Freud, S.; cits. Simões Jr., J.G., p. 52.

10. Argh!

1. Freud, Sigmund, cit. Downs, R.B., p. 210. O autor não informa


quem formulou a frase, limitando-se a caracteriza -lo como sendo
“um crítico um tanto jocoso”.
2. Idem, ibidem.
3. Freud, S.igmund, cit. em Johnson, P., p. 4.

275
4. Idem, ibidem.
5. Freud, Sigmund, Letter of december 1912, William McGuire ed.,
London, 1971, p. 534-535. Trata-se da carta enviada a Jung pouco
antes do rompimento.
6. Freud, Sigmund, cit. Downs, R.B., p. 218.
7. Richard, Lionel, A República de Weimar, (1919-1933), p. 261/2.
8. Popper, Karl, cit. Oliva, A., Popper: da atitude crítica a
sociedade aberta, in Pereira, J.C.R., Organizador, p. 92.
9. Aristóteles, Tratado do céu , II, 13, cit. Japiassú, H., Um desafio
à filosofia: pensar-se nos dias de hoje, p. 143.
10. Cioffi, Frank, cit. Crews, Frederick, O gênio da retórica, jornal
Folha de São Paulo, caderno Mais!, S. Paulo, 22 de outubro de
2000, p. 20.
11. Evangelista, Walter, cit. Oliva, A., p. 213.
12. Horgan, John., A mente desconhecida; Cia. da Letras, 2001; cit.
Wrigley, Michael, Mistérios da mente, jornal Folha de São Paulo,
caderno Especial de 13 de julho de 2002, p. 7
13. Rycroft, Charles, The innocence of dreams, cit. Lucáks, J.,
p. 52.
14. Idem, ibidem
15. Crews, Frederick, O gênio da retórica, jornal Folha de São
Paulo, caderno Mais!, S. Paulo, 22 de outubro de 2000, p. 20.
16. Lacerda, C., Em vez, p. 58.
17. Freud, S., cit. Alves, R., p. 110.
18. Crews, Frederick, cit. Scliar, Moacir, A psicanálise no banco
dos réus, jornal Zero Hora , P. Alegre, 25 de outubro de 1997,
caderno Vida, p. 23.
19. Havelock, Ellis, cit. Jones, Ernest, The life and world of
Sigmund Freud, ed. Lionel Trilling e Steven Marcus - N.York,
1961, p. 493.
20. Yerushalmi, Yosef Haym, O Moisés de Freud, cit. jornal Zero
Hora , P. Alegre, 14 de novembro de 1992.
21. Ribeiro, Renato Janine, depoimento para o jornal O Estado de
São Paulo, caderno Cultura , p. 2, S. Paulo, 7 de janeiro de 1995.
22. Idem, ibidem.
23. Bachelard, Gaston, cit. Quillet, P., p. 61.
24. Malinowski, cit. Merquior, J. G., p. 182.
25. Fisher e Greenberg, cits. idem,. p. 188.
26. Lyoard, Jean-François, A fenomenologia; cit. Descamps, C., p.
25.
27. Zohar, Danah, p. 191.
28. Granger, G.-G., p. 35.

276
29. Lacerda, C., p. 63.
30. Freud, S., cit. Bettoni, Jacob, Pedofilia : Freud explica?, in
jornal Kronika, P.Alegre, edição 24, p. 4.
31. Lacerda, C., p. 63.
32. Medawar, Peter B., The hope of progress, London, 1972, cit.
Johnson, P., p. 4. Também em Crews, Frederick, O gênio da
retórica, jornal Folha de São Paulo, caderno Mais!, S.Paulo, 22 de
outubro de 2000, p. 18. Crew diz que “Peter Medawar ficou famoso
ao condenar esse sistema como um estupendo conto-do-vigário
intelectual.”
33. Rodriguè, Emilio, entrevista para Lago Jr, jornal A Tarde,
Salvador, BA, 14 de outubro de 1995, p. 2.
34. Idem, ibidem.
35. Freud, Sigmund, O mal-estar da civilização ; cit. Goleman, PhD
D., p. 19.
36. Rustin, Michael, Do divã para a sociedade, jornal Folha de São
Paulo, caderno Mais! São Paulo, 22 de outubro de 2000, p. 15.
37. Faria, O., p. 186.
38. Marx, Karl e Engels, Friederich, A sagrada família, cit. Reale,
M., p. 225.
39. Johnson, P., p. 9.
40. Jornal Folha de São Paulo, S.Paulo, 18 de março de 2001, p.
A27.
41. Freud, S. cit. Johnson, P., p. 5.
42. Pais, A., p. 31.
43. Brian, D., p. 275.
44. Idem, p. 433/34.

11. A solidariedade dos lobos


1. Bobbio, N., 2002, p. 54.
2. Freud, S., cit. Lacerda, C., Em Vez, p. 242.
3. Foucault, Michel, História da loucura , cit. Rohmann, C., p. 168.
4. Maffesoli, Michel, Mediações simbólicas: a imagem como
vínculo social; in Para navegar no século XXI, p. 46.
5. Marx, K., 1974, p. 135.
6. Pereira, J. C. R., p. 128.
7. Mascarenhas, E., p. 201.
8. Bateson, Gregory, Steps to an ecology of mind, Nova York,
Ballantine, 1972;. Capra, F., Sabedoria incomum: conversas com
pessoas notáveis, p. 63.
9. Bonavides, P., p. 273.

277
10. Schwartzenberg, R.-G., Sociologia política: elementos de
ciência política p. 26/27.
11. Oliva, A., Organizador, texto de Evangelista, Walter José, A
questão da cientificidade em teorias de conflito: marxismo e
psicanálise, in Epistemologia : A cientificidade em questão , p. 213.
12. Idem, ibidem
13. Soros, G. p. 73.
14. Habermas, J. e Ricoer, P., cits. Crews, Frederick, O gênio da
retórica, jornal Folha de São Paulo, caderno Mais! São Paulo, 22
de outubro de 2000, p. 21.
15. Zohar, D., p. 18.
16. Marx, K., cit. Mascarenhas, E., p . 6.
17. Deleuze, Gilles e Guattari, Félix, cits. jornal Folha de São
Paulo, S.Paulo, 9/6/97, caderno Mais!.
18. Deleuze, Gilles e Guattari, Félix, cit. Descamps, C., p. 20/21.
19. Mascarenhas, E., p. 3.

12. Lenta agonia


1. Crews, Frederick, O gênio da retórica, jornal Folha de São
Paulo, caderno Mais!, S.Paulo, 22 de outubro de 2000, p. 21.
2. Foucault, M., Resumo dos Cursos do Collège de France, (
1970-1982), p. 61.
3. Bonaparte, Marie, cit. Rodriguè, Emilio, Somos bicéfalos,
especial para o jornal A Tarde, caderno Cultural, p. 5, Salvador, 14
de outubro de 1995.
4. Idem, ibidem.
5. Bohr, N., cit. Jammer, M., p. 173.
6. Gottesman, Prof. Irving, Como a neurologia vê os distúrbios
mentais, especial ao jornal Folha de São Paulo, S.Paulo, 21 de
novembro de 1993, caderno 6, p. 7.
7. Cavalheiro, Professor Esper, Genética desmonta dualidade,
especial para o jornal Folha de São Paulo, S. Paulo, 21 de
novembro de 1995, caderno 6, p. 6.
8. Zohar, Danah e Marshall, I. N. p. 103.
9. Priestley, J. B., cit. Ferguson, M. , p 51.
10. Curtis, David, especial para a revista Nature Genetics, cit. jornal
The New York Times e jornal O Estado de São Paulo, S. Paulo, 1 de
novembro de 1995, p. A15.
11. Internet - www.terra.com.br

278
12. Shorter, E., cit. Crews, Frederic k, O gênio da retórica, jornal
Folha de São Paulo, caderno Mais! S.Paulo, 22 de outubro de 2000,
p. 18.
13. Herrmann, Fábio, especial para jornal Folha de São Paulo,
S.Paulo, 29 de setembro de 2000.
14. Mezan, Renato, Cada disciplina com seu objeto, especial para o
jornal Folha de São Paulo, S.Paulo, 21 de novembro de 1993,
caderno 6, p. 5.
15. Idem, ibidem.
16. Idem, ibidem.
17. Faure, Edgar, (coord.) Aprender a ser, trabalho coletivo da
Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação da
UNESCO, p. 40; cit. Araújo, Bohmila, A voz da harmonia, especial
para o jornal A Tarde, Salvador, BA, 7 de outubro de 1995.
18. Chaudhuri, Haridas, The evolution of integral consciousness,
1977, Theosophical Publishing House, a Quest Book, Wheaton, p.
101; cit. Lemkow, A., p. 40/41.
19. Einstein, A.; Freud, S., cits Pais, A., p. 223.
20. Capozoli, Ulisses, Cem anos no divã do doutor Sigmund Freud,
especial para o jornal O Estado de São Paulo, caderno 2, S. Paulo,
29 de outubro de 1995.
21. Revista Time International, N. York, 29 de novembro de 1993.
22. Damásio, ª R., p. 280/81

III. FASCIAMO LA GUERRA


1. Keynes, John Maynard, carta a Walter Salant do Brookings
Institution, tributo à juventude americana; cit. Galbraith, J.K. p. 314.
2. Toffler, A. e Toffler, H., p. 31.
3. Fromm, E., Psicanálise da sociedade contemporânea; cit.
Clemens, J.K. e Mayer, D. F., p. 170.
4. Rousseau, J. J., Contrato social; cit. Koselleck, R., p. 142.
5. Tocqueville, A, 1997, p. 139.
6. Tocqueville, Alex, cit. Ferguson, M. , p 184.
7. Rèmond, R., O século XIX , p. 36.
8. Korontai, T., p . 46/49.

1. Fasciamo na Alemanha

1. Bismarck, Otto Von, discurso em 1862, cit. McNall, Lerner, e


Standish, M. p. 573.

279
2. Hume, David, cit. Lukács, J., p. 104
3. Montesquieu, Esprit des Lois, Livro XI, cap. 5.
4. Machiavelli, Nicoló, O Príncipe, Quomodo omniun principatuum
vires perpendi debeant, De que modo devemos medir as forças de
todos os principados, p. 61.
5. Almond, G.A. e Powell Jr, G.B., p. 60.
6. Bismarck, Otto cit. Hugon, P., p. 279.
7. Einstein, Albert, cit. Thomas, H. e Thomas, D. L, Einstein por ele
mesmo , p. 53.
8. Bakunin, Michael, Obras, 1910, cit. Woodcock, p. 128.
9. Nietzsche, F.W. A gaia ciência, p. 194
10. Hegel, G. W. e S. Simon, cit. Bobbio, N.,1991, p. 110.
11. Hegel, F. Wilhelm, Fenomenologia dello spirito, v. II, p. 15; cit.
idem, p. 48.
12. Von Treitschke, Heirich, cit. Burns, E. M., Lerner, e Standish,
p. 667.
13. Wells, H.G., terceiro tomo, p. 307.
14. Gen. Von Bernhardi, cit. Challita, M., 3. v ol., p. 94
15. Hoover, Herbert Clark, cit. idem, ibidem.
16. Einstein, Albert, New York Times, 23 de junho de 1946; cit.
Pais, A., p. 276.
17. Bismarck, Otto von, cit. Challita, M., 3 vol., p. 94.
18. Bismarck, Otto von, cit. Burns, E. M., Lerner, R.E. e Standish,
M., p. 646.
19. Rosselli, C., p. 50.
20. Burns, E. M., Lerner, R.E. e Standish, M., p. 648.
21. Nietzsche, F.W., A gaia ciência, p. 186.
22. Mascarenhas, E., p. 90.
23. Rèmond, R., O século XX: de 1914 aos nossos dias, p. 37.
24. Engels, F., On the history of early christianity; cit. Marx, K. e
Engels, F., On religion, p. 319.
25. Hegel, G. W., cit. Bobbio, N., 1991, p. 119.
26. Almond, G. A. e Powell Jr, G.B. , p 197.
27. Haguette, T.M.F., Dialética hoje , p. 26/7.
28. Ph Roqueplo, Oito teses sobre o significado da ciência, in Deus,
J.D., p. 151.
29. Hugon, P., p. 384.
30. Tocqueville, A, 1997, p. 157
31. Sorel, Alberto, L'Europe et la Revolution Française, T.I, cap. II,
cit. Prelot, M., Vol. II, p. 293.
32. Tolstói, Leon, O reino de Deus está dentro de vós, cit.
Woodcock, G., p. 189.

280
33. Thuillier, P., Ciência e subjetividade: o caso Einstein; cit.
Thomas, H. e Thomas, D.L., in Einstein por Ele Mesmo, p. 143.
34. Idem, ibidem.
35. Marques de Mirabeau, cit. em Hugon, P., p. 392.
36. Kafka, F., cit. Burns, Lerner, e Standish, p. 767.
37. Conforme o filósofo Ernest Renan, cit. idem, p. 667.
38. Lapouge, Gilles, jornal O Estado de São Paulo, SP, S.Paulo, 1
de agosto de 1994, p. A13.
39. Grenfel, Julian, Johnson, P., p. 15.
40. Einstein, Albert, Escritos da maturidade: artigos sobre ciência,
educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais
/Albert Einstein, p. 9.
41. Sua Santidade o Dalai Lama, p. 186.
42. Idem, p. 76.

2. Fasciamo na França

1. Johnson, P., p. 119.


2. Tocqueville, A, A democracia na América, p. 256.
3. Gusdorf, G., p. 38.
4. Burns, E. M., Lerner, R. E. e Standish, Meacham, p. 623.
5. Rudè, G., p. 180.
6. Tocqueville propugnava por uma espécie de “banco dos pobres”
uma entidade paraestatal com cerca de 27 mil beneficiados com
empréstimos de capital sem juros, tema muito oportuno diante da
lastimável economia e do estado miserável do cidadão
latinoamericano; cit. Rodriguez, R.V., p. 64
7. Proudhon, J., Memoire sur la proprietè, p. 204, cit. em Hugon,
P., p. 237.
8. Guizot, cit. Rudè, G. p. 182.
9. Loveless, George, cit. idem, p.241
10. Giddens, A., p. 64.
11. Tocqueville, A, cit. Rodríguez, R.V., p. 119/20.

3. Vaca Leiteira

1. Johnson, P., p. 305.


2. Schwartz, J. p. 130.
3. “Pétain rapidamente tornou-se o governante mais popular, desde
Napoleão. Era um mulherengo compulsivo: “sexo e comida são as
únicas coisas que importam”, dizia. Mas a Igreja o idolatrava. O

281
cardeal Gerlier, o primaz francês, anunciou: “La France, c´est
Pétain, et Pétain c´est la France”.
4. Johnson, P., p. 305.
5. Idem, p. 13.
6. Einstein, A , cit. Brian, D, p. 153.
7. Hegel, G. W., cit. Descamps, C., p. 132
8. Johnson. P., p. 428
9. Jornais de 16 de julho de 1995.
10. Johnson, P., p 502.
11. Chaudhuri, Haridas The evolution of integral consciousness;
Theosophical Publishing House, a Quest Book, Wheaton, 1977, p.
101; cit. Lemkow, A., p. 40.
12. Chevallier, Jean-Jacques, cit. Rodriguez, R.V. p. 160
13. Jornal O Estado de São Paulo, S.Paulo, 7 de dezembro de 1995,
p. A 14.
14. Lapouge, Gilles, especial para o jornal O Estado de São Paulo,
S.Paulo, 10 de dezembro de 1995, p. A22.
15. Whitney, Craig R., para The New York Times, cit. no jornal O
Estado de São Paulo, S. Paulo, 7 de dezembro de 1995, p. A 14.
16. Jornal Correio do Povo, P.Alegre, 29 de setembro de 1996, p. 8.

4. Fasciamo nell´Itália

1. Rand, A., p. 118.


2. Rêgo, W.D.L., p. 56.
3. Bobbio, N., Liberalismo e democracia, p. 76.
4. Burns, E., p. 592.
5. Pirou, Gaetan, Introduction a l'etude de economie
politique, Paris, p. 280, cit. Hugon, P., p. 352.
6. Rêgo, W.D.L., p. 39.
7. Idem, p. 69.
8. Hitler, Adolf, cit. Anfuso, F., Da Palazzo Venezie al Lago
di Garda (Cappeli, 1957) p. 326-37, cit. Toland, J., p. 913.

5. No ritmo das castanholas, tiros de canhão


1. Johnson, P., p. 277.
2. Idem, ibidem.
3. Idem, p. 275.
4. Revista Manchete, R.Janeiro, 12 de outubro de 1996, p. 55.

282
5. Johnson, P., p. 277.
6. Números registrados idem, 274/5
7. Revista Manchete, R. Janeiro, 12 de outubro de 1996, p. 55.

5 . O mundo em contradição
1. Chiang Ching era atriz de cinema, mulher de Mao Tsé Tung e
espécie de “ministra da cultura”; cit. Bridgham, Philip, Mao’s
Cultural Revolution in 1967, in Richard Baum and Louis Bennet
(eds.) China in Ferment (Yale, 1971) 134-5; Thomas Robinson,
Chou En-lai and the Cultural Revolution in China” in Baum and
Bennett (eds) The Cultural Revolution in China (Berkeley, 1971),
239-50; cit. Johnson, P., p. 473.
2. Correspondência recebida de leitor pelo jornal The New York
Times, cit. Pais, A., Einstein viveu aqui, p. 273.
3. Soro s, G., p. 195
4. Idem, ibidem.
5. Johnson, P., p. 405.
6. Salgado, P., Doutrina e tática comunistas, p. 32.
7. Johnson, P., p. 378.
8. Einstein, A.; Gandhi, M., cit. Pais, A., p. 128/9.
9. Hume, David; Einstein, Albert; Kant, Immanuel; Mill, John
Stuart, c its. Pais, A., p. 147.
10. Idem, p. 126.
11. Johnson, P., p. 478.
12. Idem, p. 412.
13. Idem., p. 432.
14. Idem, p. 447.
15. Jornal Correio do Povo de 23 de março de 1997, p. 12.
16. Jornal The New York Times, 11/maio/1980.
17. Johnson, P., p. 454.
18, Mendoza, P.A.; Montaner, C.A., Llosa, A.V., p. 141.

6. Índio também quer apito


1. Marques, G. G., Ilusões para o século 21, in Folha de São
Paulo, S.Paulo, 14 de março de 1999, p. 1/3.
2. Mendoza, P. A., Montaner, C. A., Llosa, A. V., p. 82
3. Castro, Fidel, cit. em Alves, M. M. , p. 30.
4. Castro, Fidel, cit. Lukács, J., p. 47.

283
5. The New York Post, cit. jornal Zero Hora , P. Alegre 20 de
outubro de 1995, p. 41.
6. Mendoza, P.A., Montaner, C. A., Llosa, A. V., p. 152.
7. Cataneo, C., cit. idem, p. 169
8. Tocqueville, A, A democracia na América, p. 187.
9. Depestre, R., Haiti, Encyclopédia Universalis, 1970, cit. Gusdorf,
G. p. 252.
10. Toffler, A., Previsões e premissa , p. 105.
11. Mendoza, P.A., Montaner, C.A., Llosa, A.V., p. 268/269
12. Ortega Y Gasset; Spencer, H., cits. Lovisolo, H., p. 240.
13. Lovisolo, H., Einstein: Uma viagem, duas visitas; publicado em
Estudos Históricos, p. 55-65; in Moreira, I.C. e Videira, A.A.P.,
Einstein e o Brasil, p. 238.
14. Idem, ibidem.
15. Mendoza, P.A., Montaner, C.A., Llosa, A.V., p. 265.
16. Perón, Juan Domingo, cit. Mendoza, P. A., Montaner, C.A.,
Llosa, A. V., p. 267.
17. Idem,p. 128.
18. Maksoud, H., p. 48.
19. Lipset, S. M., p.178.
20. Sorman, G. , A nova riqueza das nações, p. 41.
21. Idem, p. 47.
22. Mendoza, P. A. Montaner, C.A., Llosa, A.V., p. 264.
23. Schvarzer, Jorge, especial para jornal El Clarin, B.Aires, 25 de
outubro de 1995, p. 17.

Avança no Brasil
24. Oliveira, Rafael Correia de, cit. Jorge, F. p. 15.
25. Andrade, M. C.p. 8.
26. Entrevista à TV Senado, Brasília, 24 de outubro de 2000, 20 hrs
27. Tocqueville, A., cit. em Lukács, J., p. 53.
28. Johnson, P. p. 232/3
29. Oliveira, Jaime A. de Araújo e Teixeira, Sônia M. Fleury, (Im)
Previdência Social - 60 anos de história da Previdência no Brasil),
p. 49.
30. Beck, G., cit. Lopes, José Leite, Einstein: A paixão de um
cientista pelos problemas sociais, in Einstein, editado por J. Chela
Flores, tradução Antonio Augusto Passos Videira, Equinócio,
Caracas, Venezuela: Ed. Universidad Simo n Bolivar, 1979; cit.
Videira, A. A e Moreira, I.C., p. 39.
31. Naisbitt, J., p. 50.

284
IV. REVERSÃO:
fim da dialética, começo da Odisséia

1. Dialética x Somalética

1. Rêgo, W.D.L., p. 13.


2. Spinoza, B., Tractatus Theologio-Politicus, capítulo XX. c it.
Châtelet, F., p. 136
3. Locke, John, cit. Sabine, G. H., p. 521.
4. Locke, John, cit. Capra, F., 1991, p. 189.
5. Smith, Adam; Von Humbolt, cits. Bobbio, N., 1997, p. 197.
6. Rêgo, W.D.L., p. 80.
7. Gobetti, cit. idem, p. 73.
8. Smith, Adam, cit. Ama rty Sen, jornal O Estado de São Paulo,
S.Paulo, 23 de julho de 2000, caderno Economia, p. B9.
9. Locke, John, cit. Châtelet, F., p. 228.
10. Born, Max, cit. Brian, D., p. 374.
11. Locke, J., Ensaios sobre a lei da natureza , cit. Bobbio, N.,
1997, p. 138.
12. Einstein, A., cit. Monteiro I., p. 51.
13. Locke, John. cit. Chevallier, J.-J., p. 31.
14. Calogero, G., cit. Rêgo, Walquíria D.L., p. 110.
15. Reale, Miguel, cit. em Nader, P., p. 269.
16. Rueef, Jacques, Les dieux et les rois, Goytisolo, J.V., p. 56.
17. Chopra, D., As sete leis espirituais do sucesso , p. 23.
18. Kelsen, H., p. 105.

2. O fim da dialética
1. Capra, Fritjof, The tao of physics (Wildwood House, 1975); cit.
Gilchrist, C., p. 157
2. Salam, A.; Heisenberg, W. e Dirac, P., p. 11.
3. Einstein, A., Notas autobiográficas, p. 12.

3. Entropia

285
4. Eddington, Arthur Stanley, (1882-1944) cit. Coveney, P. e
Highfield, R., p. 133.
5. Telles Jr, G. p. 54.
6. Idem., p. 55.
7. Ferguson, M., , p. 148.
8. Prigogine, Ilya, cit. Ferguson, M., p. 158.
9. Bohm, David, Wholeness and the implicate order, p. 128., cit.
Lemkow, A., p. 95.
10. Telles Jr, G., p. 48.
11. Rowland, Vernon, cit. idem, ibidem.
12. Idem, p. 56.
13. Einstein, A., Notas autobibliográficas, p. 78.
14. Bachelard, G., A formação do espírito científico, p. 67.
15. Chopra, D., As sete leis espirituais do sucesso, p. 23.
16. Chopra, D., As sete leis espirituais do sucesso , p. 63.
17. Monod, J. cit. Goytisolo, J.V. p. 71. 18. Ribeiro, L.,
Comunicação global, p. 155.
19. Idem, ibidem.
20. Beck, Ulrich, professor de Sociologia na Universidade de
Munique e da London School of Economics, entrevista a Javier
Moreno, jornal El País , cit. jornal Folha de São Paulo, S.Paulo, 27
de outubro de 2002, p. A13.
21. Soros, G., p. 81.
22. Idem, ibidem.
23. Bachelard, G., cit. em Quillet, P., p. 57.
24. Idem, p. 46.
25. Telles Jr, G.T. p. 114.
26. Ferguson, M., p. 226.
27. Rees -Moog, Wiliam e Dale Davidson, James, O indivíduo
soberano; cit. Grunewaldt, Vitor, Novo Bretton Woods ou um novo
feudalismo , Jornal do Comércio, P.Alegre, 15 de maio de 1997, p. 4.
28. Parker e Stacey, p. 73.
29. Naisbitt, J., p. 264.
30. Baudrillard, Jean, Simulacro e real, cit. Descamps, C., p. 65.
31. Harrison, L.,The pan-american dream, cit. Toledo, José
Roberto, O pesadelo americano, jornal Folha de São Paulo,
caderno Mais!, S. Paulo, 10 de agosto de 1997.
32. Chardin, Teilhard, cit. Ferguson, M. p. 48.
33. Senador Roberto Campos, Do Estado gendarme ao Estado
babá... jornal Zero Hora , P. Alegre, 19 de janeiro de 1997, p. 24.
34. Guèhenno, Jean-Marie, O fim da democracia; Bertrand Brasil;
cit. jornal Folha de São Paulo, S. Paulo, 1 de maio de 1997, p. 5/X.

286
35. Fukuyama, F., O fim da história e último homem; cit. Pereira,
J.C.R., p 129.
36. Wells, H. G.; Huxley, Aldous, cits. Ferguson, M., p. 211.
37. Beck, G., cit. Lopes, José Leite, Einstein : a paixão de um
cientista pelos problemas sociais, in Einstein, editado por J. Chela
Flores, tradução Antonio Augusto Passos Videira, Equinócio,
Caracas, Venezuela: Ed. Universidad Simon Bolivar, 1979; cit.
Videira, A. A e Moreira, Ildeu de Castro, p. 39.
38. Kelsen, H., p. 183.
39. Marcuse, Herbert; Brow, Norman, Love's body, p. 132; cits.
Roszac, T., p. 125.

4. 2001, a Odisséia recém começa


1. 2Einstein, A., cit. Brian, D., pg 253.
2. Gates, B., p. 231
3. Bertrand, Maurice, La fin de l'ordre militaire, cit. jornal Folha de
São Paulo, São Paulo, 11 de maio de 1997, p. 5/10.
4. Ion, Jacques, La fin des militants, cit. idem, ibidem.
5. Hayek, F., The denationalisation of money. - London : Institute
of Economic Affairs, Hobart Paper no. 70, 3rd, p. 80, (n.3), 1990;
cit. Simpson, D. p 62.
6. Gates, B., p. 89.
7. Naisbitt, J., p. 96
8. Foucault , M., Resumo, p. 92.
9. Cícero, Antônio, O mundo desde o fim, entrevista jornal Folha de
São Paulo, 23 de julho de 1995, Caderno 5, p. 10.
10. Toffler, A. e Toffler, H., p. 42.
11. Descamps, C., p. 140.
12. Forier, Paul, L´utopie et le droit, in Actes du c olloque de l´Ins-
titut pour l´Étude de la Renaissance et de l´Humanisme; Les
utopies à la Renaissance; Bruxelas, 1961; cit. Perelman, C., p. 361.
13. Schwartz, J., p. 267.
14. Lemkow, A., p. 159.
15. Henderson H.l, cit. idem, p. 310.
16. Toffler, A.. 1992, p. 199.
17. Idem, p. 250.
18. Gromyko, Anatoly e Hellman, Martin, Breakthrough, p. 8.; cit.
Lemkow, A., p. 383.
19. Idem, p. Gromyko, p. 382.
20. Toffler, A., 1992, p.11.
21. Naisbitt, J., p. 48. .

287
22. West, Bruce e Salk, Jonas, cits. Coveney, P. e Highfield, R., p.
260
23. Chopra, D., As sete leis espirituais do sucesso , p. 93.
24. Kauffman, S., cit. Gleiser, I., p. 59/62.
25. Gates, B., p. 121
26. Cícero, Antônio, Antônio Cicero ensina o que é ser moderno;
jornal O Estado de São Paulo, S.Paulo, 18 d e agosto de 1995,
Caderno 2, p. D4.
27. Richards, M. C., The crossing point (O Cruzamento),1973; cit.
Ferguson, M., p 57/8.
28. Feynmann, R., p. 14.
29. Idem, p. 65.
30. Telles Jr., Goffredo, p. 213.
31. Sen, A., 2000, p. 10.
32. Ormerod, P., 1996, p. 194.
33. Popper, K., A lógica da pesquisa científica, p. 35.
34. Toffler, A. e Toffler, H., p. 20.
35. Miranda, P., p. 58.
36. Capra, F., A teia da vida, p. 176.
37. Muir, J., cit. Gleiser, M., 2001, p. 317.
38. Rothschild, M., cit. Gleiser, I., p. 77.
39. Dawkins, R., p. 369.
40. Toffler, A. e Toffler, H., p. 169; Toffler, A., O choque do fu-
turo, p. 266.
41. Jaspers Karl, Ortega Y Gasset, Nicola Abbagnano, Merleu-Pon-
ty; cits. Reale, M., 1998, p. 55.
42. Russell, Bertrand, As consequências filosóficas da Relatividade,
in Fadiman, C., p. 165.

288
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Outras obras do autor:

§ O Conto de Comte

§ A Perfídia Científica de Descartes, Hobbes e Rousseau

§ Os Paradigmas das Revoluções do Século XVIII.

§ A Má Temática de Keynes e a Solução Quântica.

§ Crítica Multidisciplinar à Democracia Brasileira.

§ O Conhecimento Interdisciplinar.

308

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