INDEPENDÊNCIA DO KOSOVO CRIA AMEAÇA DE DESMORONAMENTO DE MUITOS ESTADOS
O ex-secretário-geral das Nações Unidas, Boutros-Ghali, famoso
especialista em Direito Internacional e autor de mais de uma centena de obras nessa área, disse estar seriamente preocupado com a autoproclamada independência do Kosovo. É um precedente muito perigoso, porque ameaça desencadear uma onda separatista não somente na Europa, mas também no mundo inteiro. A situação criada é comentada pelo nosso observador Anatoli Potapov. O problema da independência do Kosovo tornou-se uma constante nas páginas da mídia européia. O jornal alemão “Dresdner Neueste Nachrichten” chamou o Kosovo de “um barril de pólvora”. E o “Munchen Merkur”, também alemão, qualifica as ações dos Estados Unidos no Kosovo como “unipessoais e fatídicas”. Conforme recomendado pelos Estados Unidos, o Governo albanês do Kosovo procedeu à elaboração dos documentos necessários para a entrada nas Nações Unidas, União Européia, OTAN e Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa. Vale notar que a Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa, que reúne os legisladores de 47 Estados, não reconheceu a independência do Kosovo qualificada como um atentado ao Direito Internacional. Idêntica opinião foi manifestada pela Rússia cujo representante permanente junto às Nações Unidas, Vitali Tchurkin, presidde que a Rússia e a China, ambas membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas com direito de veto, não permitirão que esse órgão onusiano recomende a admissão do Kosovo nas Nações Unidas. Mas na ausência de tal recomendação nenhum Estado pode aspirar à entrada nessa organização. Moscou está também disposta Ignatief 01.03.yyyy
a levantar o problema do Kosovo perante o Conselho para Cooperação na
Área da Segurança russo-francês, o qual se reunirá em Paris em 11 do corrente. Embora a França reconhecesse a independência do Kosovo, o diálogo a realizar em Paris promete ser muito sério. Convém indicar que a própria França enfrenta o sério problema da Córsega, seu departamento que está exigindo a independência. Na Grã-Bretanha, a Irlanda do Norte, ou Úlster, está reivindicando a independência já há muito. Ultimamente, umas exigências no mesmo sentido foram formuladas por alguns políticos escoceses. Ou, digamos, a Turquia, que após o reconhecimento da independência do Kosovo lançou uma operação militar contra os separatistas curdos no Norte do Iraque. A situação é comentada por Aleksandr Konovalov, do Instituto Nacional de Avaliações Estratégicas: O precedente criado no Kosovo – diz Aleksandr Konovalov – consiste em que pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial fronteiras européias são alteradas através de uma força militar externa. Isso cria um precedente para remodelação das fronteiras atuais. Pode ser a Bélgica, por causa das discordâncias entre os Flamencos e os Valões; pode ser a Espanha, por causa do espírito independentista no País Basco e na Catalunha. Se é que se pode no Kosovo, o mesmo poder-se-ia em toda a parte. Mas isso implicaria uma revisão do mapa europeu – resume Aleksandr Konovalov. Segundo estimativas de analistas russos, as reivindicações feitas pelas minorias étnicas no mundo inteiro poderiam trazer como resultado mais de 2 mil guerras pela independência. Uma perspetiva bonita, não é? Mas tal perspetiva não está de todo excluída, na verdade, diante da política militar unilateral conduzida pelos Estados Unidos a despeito das normas do Direito Internacional.