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Reflection & Reaction

Uma base neurológica para a gagueira?

E
xistem muitas teorias acerca das ve-se provavelmente a defeitos no loop das à gagueira, tais como comportamen-
bases fisiológicas da gagueira. subcortical interno da fala, uma via que tos de evitação, esforço exagerado e ansi-
Durante séculos, acreditou-se que inclui o estriado.4 edade no convívio social. Um tratamento
ela nascia de anormalidades que afeta- Alguns estudos têm relatado que o abrangente para a gagueira deve ter em
vam a língua e a laringe e, até recente- hemisfério direito de pessoas que gague- vista duas frentes de combate: o hemisfé-
mente, terapeutas vinham tentando tratá- jam é anormalmente hiperativo, compa- rio esquerdo hipofuncionante (combatido
la com base nesta hipótese, através da rado ao hemisfério esquerdo. Sommer e através de intervenções farmacológicas) e
manipulação dos músculos periféricos da sua equipe chamam atenção para a possi- o hemisfério direito hiperativo (combati-
fala, apesar dos benefícios limitados des- bilidade de este aumento na atividade do do através de terapias de fala, comporta-
te método. Atualmente, contudo, um hemisfério direito representar simples- mentais ou cognitivas).
grande número de evidências vem suge- mente uma supercompensação do baixo Foi iniciada uma nova era na com-
rindo que a disfunção subjacente à ga- funcionamento do hemisfério esquerdo, preensão e tratamento da gagueira. Som-
gueira reside de fato no cérebro e não na que pode ter falhado em se desenvolver mer e outros mostraram que a gagueira
língua ou laringe. de forma apropriada para as funções de está associada a um funcionamento anor-
O estudo recente conduzido por Som- fala. Este e outros estudos, porém, falha- mal do cérebro, e, como tal, ela deve ser
mer e sua equipe1 veio somar-se ao traba- ram em identificar com precisão uma es- vista como uma desordem neurológica
lho de outros no sentido de fortalecer a trutura cerebral específica envolvida na com implicações psicológicas, e não o
idéia de que a gagueira deve ser vista gagueira. Provavelmente, isso se deve ao contrário. O desafio que agora se impõe a
como uma desordem do cérebro. Embora uso de técnicas diferentes de neuroima- médicos e neurocientistas é entender co-
seu artigo amplie nossa compreensão e gem. mo a gagueira se desenvolve, por que ela
forneça insights para a pesquisa futura e O baixo nível de funcionamento do se resolve espontaneamente em alguns
novas direções terapêuticas, a base neuro- hemisfério esquerdo pode estar relacio- casos e que tratamentos afinal poderiam
lógica da gagueira ainda permanece sem nado a uma inibição dopaminérgica anor- auxiliar as pessoas que sofrem com esse
um entendimento completo. Entretanto, o malmente elevada.5,6 A gagueira compar- distúrbio.
trabalho da equipe de Sommer encoraja a tilha muitas similaridades com a síndro-
adoção de duas formas principais de abor- me de Tourette, um distúrbio causado por
Gerald A Maguire, Glyndon D Riley, and
dagem a serem utilizadas na compreen- anormalidades relacionadas à dopamina.
Benjamin P Yu
são da base fisiológica da gagueira: a Ambos os distúrbios têm seu surgimento
“bottom-up” e a “top-down” – i.e., estu- na infância, seguem um curso que alterna Correspondence: Gerald A Maguire, University
dos de tratamentos farmacológicos (bot- momentos paroxísticos com momentos of California, Irvine Medical Center, Department
tom up) que dão suporte à base neuroló- de suavização dos sintomas, apresentam- of Psychiatry, Route 88, 101 City Drive, Orange
CA 92868 USA. Email gamaguir@uci.edu
gica do distúrbio evidenciada em estudos se com tiques e respondem, ao menos
de neuroimagística funcional (top dowm). parcialmente, a tratamento com antago-
Estudos anteriores de neuroimagística nistas dopaminérgicos. Estudos de neuro-
funcional mostraram que a gagueira está imagem mostraram que o funcionamento
References
associada a um nível de funcionamento das áreas da fala no hemisfério esquerdo 1 Sommer M, Koch MA, Paulus W, Weiller C,
anormalmente baixo nas áreas da fala no aumenta após administração de antago- Buchel C. Disconnection of speech-relevant brain
areas in persistent developmental stuttering. Lancet
hemisfério esquerdo – hemisfério nor- nistas dopaminérgicos,5,7 correlacionan- 2002; 360:380–83.
malmente dominante para essa função – do-se com melhoria na fluência. A des- 2 Wu JC, Maguire GA, Riley G, et al. A positron
emission tomography [18F] deoxyglucose study of
comparado a áreas análogas no hemisfé- coberta anterior de que a baixa atividade developmental stuttering. Neuroreport 1995;
rio direito.2,3 Um interessante achado clí- das áreas corticais da fala no hemisfério 6: 501–05.
3 Pool KD, Devous MD, Freeman FJ, Watson BC,
nico, que é freqüentemente usado por esquerdo pode também estar relacionada Finitzo T. Regional cerebral blood flow in devel-
neurorradiologistas para investigar a ga- a um funcionamento anormalmente baixo opmental stutterers. Arch Neurol 1991;
48: 509–12.
gueira, é que a fluência pode ser induzida do estriado esquerdo não é discutida no 4 Wu JC, Riley G, Maguire G, Najafi A, Tang C. PET
através de uma série de técnicas, como a estudo de Sommer. Antagonistas da do- scan evidence of parallel cerebral systems related to
treatment effects: FDG and FDOPA PET scan find-
leitura em coro. Durante a fluência indu- pamina têm se mostrado capazes de au- ings. In: Hulstijn W, Peters HFM, Van Lieshout
zida, a atividade nas áreas de fala do he- mentar a função estriatal, fornecendo as- PHHM eds. Speech production: motor control, brain
research and fluency disorders. Amsterdam: Elsevier
misfério esquerdo é elevada a níveis com- sim uma explicação plausível para seu Science, 1997: 329–39.
paráveis aos verificados em indivíduos mecanismo de ação terapêutica na ga- 5 Maguire GA, Riley GD, Franklin DL, et al. The do-
normais. Sommer sugere que técnicas gueira.8 Infelizmente, a geração mais an- pamine hypothesis of stuttering and its treatment im-
plications. Int J Neuropsychopharmacol 2000;
como a leitura em coro fornecem um me- tiga de medicamentos antagonistas da 3(suppl 1):S12.
canismo externo de sincronização que ate- dopamina (p.ex., haloperidol) não é bem 6 Wu JC, Maguire G, Riley G, et al. Increased
dopamine activity associated with stuttering.
nua a gagueira e consegue induzir fluên- tolerada a longo prazo, e tem, portanto, Neuroreport 1997: 8:767–70.
cia. Entretanto, uma explicação mais utilidade limitada. Pesquisas recentes, no 7 Wood F, Stump D. Patterns of regional cerebral
blood flow during attempted reading aloud by stut-
plausível para esse dado clínico pode ser entanto, têm mostrado que novos antago- terers both on and off haloperidol medication: evi-
o fato de as tarefas de indução de fluência nistas da dopamina podem oferecer uma dence for inadequate left frontal activation during
stuttering. Brain Lang 1980;
conseguirem contornar o estriado anor- opção de tratamento eficaz e tolerável pa- 9: 141–44.
malmente inativo por meio da ativação de ra indivíduos que gaguejam.9 8 Buchsbaum MS, Potkin SG, Siegel BV Jr, et al.
Striatal metabolic rate in clinical response to neuro-
um segundo loop cortical externo para o A supercompensação do hemisfério leptics in schizophrenia. Arch Gen Psychiatry 1992;
processamento da fala, uma via que está direito, conforme descrita por Sommer, 49:966–74.
9 Maguire GA, Riley GD, Franklin DL, Gottshalk LA.
preservada em indivíduos que gaguejam. começa a explicar algumas das possíveis Risperidone for the treatment of stuttering. J Clin
Assim, a gagueira na fala espontânea de- características comportamentais associa- Psychopharmacol 2000; 20:479–82.

THE LANCET Neurology Vol 1 November 2002 http://neurology.thelancet.com 407

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