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Theodor Viehweg – Law, Reason and Justice: Essays in Legal Philosophy – Intr. ao Estudo do Direito – Prof.

Thiago Motta 1

Direito Racional. Após a Declaração de Independência Americana e a Revolução


Francesa, uma boa parte desta foi incorporada ao Direito Positivo. O Código Civil
Introdução ao Estudo do Direito
Francês de 1804 foi visto como sua codificação exemplar. O “Preussische
Prof. Thiago Motta
Allgemeine Landrecht” de 1794, e em maior extensão o “Osterreichische
Allgemeine Bürgerliche Gesetzbruch” de 1811, codificaram parte do Direito
VIEHWEG, Theodor. Law, Reason and Justice: Essays in Legal Racional. Os pandectistas alemães do século XIX prepararam as
comparativamente tardias codificações alemãs, de uma maneira
Philosophy - Organizado por Graham Hughes. Nova York: New York University extraordinariamente completa, enfatizando sua atitude histórica. Na verdade, é
Press e Londres: University of London Press, 1969 - Texto traduzido por Carolina de difícil imaginar estes pandectistas, sem o “pano de fundo” do Direito Racional.
Campos Melo, bolsista do PET-JUR Tudo isto é bastante conhecido, e não me estenderei sobre o assunto.
Uma observação deve ser enfatizada, pois parece relevante para o

A
s numerosas e valiosas investigações que atualmente se realizam sobre o futuro exame do raciocínio jurídico. É notório que por volta do fim do século
raciocínio jurídico partem de posições muito diversas. Estes pontos de partida XVIII, a função do Direito Racional mudou. Havia sido, até o momento,
têm grande relevância, pois determinam a perspectiva da discussão posterior e predominantemente um ponto de vista filosófico e crítico; a partir de então,
atraem nossa atenção para certos conceitos fundamentais implicados na perspectiva transformou-se em uma posição dogmática como uma doutrina básica do direito.
escolhida1. Isto resultou na procura e na descoberta de um diferente ponto de vista crítico.
Ademais, obteve-se uma melhor compreensão da complexidade do chamado
As considerações seguintes têm como propósito apresentar, como um raciocínio jurídico.
possível ponto de partida para a análise do raciocínio jurídico, a distinção entre
raciocínio “dogmático” e “zetético”. Começaremos por uma perspectiva histórica, a fim Deveríamos acrescentar algumas poucas observações sobre este
de mostrar que esta distinção tem um precedente na jurisprudência alemã do século assunto. A expressão alemã “Rechtsphilosophie” (Filosofia do Direito) é
XVIII, e concluirei com uma ilustração do que poderia ser entendido pela expressão suficientemente conhecida, mas deve-se assinalar que não é muito antiga. Somente
"sistema jurídico”. a partir do século XVIII, tem sido amplamente utilizada. Apareceu como uma
abreviatura da Filosofia do Direito Positivo e foi usada, ao menos no início, para
Naturalmente, este trabalho não pretende ser exaustivo. Deseja caracterizar um novo enfoque filosófico do Direito.
meramente contribuir com alguns pontos de vista para a discussão que, em conexão
com outros, pode mostrar-se proveitoso. Este enfoque pode ser percebido na obra de Gustavo Hugo,
reconhecido como pioneiro da Escola Histórica alemã, sendo com freqüência
mencionado como imediato predecessor de Savigny2. Hugo aceitou a opinião,
I - O ponto de partida comum após Montesquieu e Herder, mas anterior a Savigny, que reduziu as
origens do Direito Positivo, não tanto ao uso imediato da razão, mas aos fatos
É bem sabido que uma época significativa na história do raciocínio sobre o mundo, particularmente à História. Por detrás da pergunta “o que é o
jurídico completou-se no fim do século XVIII, quando a versão moderna da teoria do Direito Positivo neste caso”? Hugo sempre indagava como teria o Direito Positivo
Direito Natural triunfou. Formulada no século XVII, principalmente por Grócio, se tornado Direito. Esta é a famosa perspectiva histórica. Entretanto, Hugo não se
Hobbes e Pufendorf, serviu à Ilustração (“Enlightnement”) no então “Vernunftrecht” -
2
ver Franz Wieacker, Privatrechtsgeschichte der Neuzeit (2a. ed., 1967), p. 378 e
1
ver G. Gottlieb, The Logic of Choice, 1968 ss.
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conformava com ela. Além da questão dogmática e da questão histórica, Hugo Muitas teorias têm sido aventadas para caracterizar os enfoques do
formulou uma pergunta crítica e filosófica: É razoável que apenas o Direito Positivo raciocínio jurídico acima mencionados. Estas teorias, em particular, examinam os
seja Direito? Esta última pergunta foi discutida na Filosofia do Direito Positivo usos apropriados dos diferentes enfoques e gozaram de alguma popularidade na
(“Rechtsphilosophie”) no início do século XIX3. Sua função como um novo ponto de Alemanha. Distinções são feitas entre as ciências naturais e as humanas, as
vista crítico é evidente. Foi preservada nos anos seguintes, e apareceu sob várias formas ciências reais e as ideais, as ciências do ser e do dever ser (“Seins und Sollens-
até o desenvolvimento posterior do Positivismo jurídico. Wissenshcaften”) e outras classificações similares. Não discutiremos aqui estas
teorias mas retornaremos ao nosso ponto de partida, oferecendo algumas opiniões
Este, no entanto, não é nosso tema aqui. Estamos meramente procurando
próprias.
um ponto de partida para um exame do pensamento jurídico, e o descobrimos: está
caracterizado pelas três perguntas de Gustavo Hugo, perguntas que mostram a Inicialmente, parece aconselhável vislumbrar cada campo do
complexidade do raciocínio jurídico. Em última instância, este pode ser dividido, pelo conhecimento que seja de algum interesse aqui (ou em qualquer lugar) como fez
menos, em raciocínio concernente à Dogmática do Direito, à História do Direito e à Collingwood: como uma “estrutura de perguntas e respostas6”. Para estruturar um
Filosofia do Direito. A Jurisprudência alemã, que ganhou um certo renome no século certo campo do conhecimento ou da chamada “ciência”, descrevemos um campo
XIX, aderiu a esta divisão como um ponto de partida. Não a encontramos somente em de perguntas, oferecemos certos pontos de vista como respostas, e destacamos o
Hugo, que a desenvolveu quase pedantemente, e teve assim uma grande influência na método de exame de acordo com o qual as respostas oferecidas possam ser aceitas
formação dos juristas; está também presente na obra de Savigny, que não quis ignorar ou rejeitadas. Isto é o que deve ser entendido por "estrutura de perguntas e
completamente o modo filosófico de pensar a favor do enfoque histórico4. A mesma respostas".
divisão pode ser encontrada nos sucessores e partidários de Savigny, entre os quais o
altamente estimado L. A. Wainkönig pode ser tido como exemplo5. O enfoque histórico
do raciocínio jurídico terminou por incluir também a perspectiva sociológica. Obviamente, no decorrer de desenvolvimento ulterior, é possível dar
ênfase tanto à parte da pergunta quanto à da resposta da estrutura dada. Quando a
Este ponto de partida, que estabelece uma distinção entre Dogmática,
ênfase reside nas perguntas, mesmo os mais importantes pontos de vista que são
História e Sociologia do Direito, e Filosofia do Direito, esteve presente na
adotados como resposta são postos em dúvida. São sugestões vulneráveis, já que
jurisprudência alemã também na época do auge do Positivismo jurídico, quando se
são consideradas como mera tentativa. Permanecem preliminares e incertas. Sua
restringiu o pensamento filosófico e crítico. É claro que deve ser feita distinção entre
formulação deve facilitar a discussão, o desafio e mesmo a refutação. Não devem
estes diferentes enfoques do raciocínio jurídico, sendo igualmente claro que estes
ser tomadas por definitivas, e sua verdadeira função é caracterizar o horizonte das
devem ser finalmente combinados. O verdadeiro problema da teoria do Direito é
perguntas no campo eleito.
delinear como isto é possível. Até mesmo Hans Kelsen levantou esta questão, o que
significa dizer que até ele adotou o ponto de partida que acaba de ser apresentado. Quando a ênfase recai sobre as respostas, certos pontos de vista,
adotados como respostas, ficam explicitamente excluídos de toda discussão. Não
são postos em dúvida. São considerados como atemporais, como absolutos.
II - Dogmática e Zetética do Direito Conseqüentemente, dominam todas as respostas que se seguem. Estas últimas
devem demonstrar que, de alguma maneira aceitável, são compatíveis com as
intangíveis respostas básicas.
3
Gustavo Hugo, Lehrbuch eines civilistischen Cursus (2a. ed., 1799), Seção 16.
4
ver Erik Wolf, Grosse Rechtsdenker der deutschen Geistesgeschichte (3a. ed., 1951),
p. 487.
5 6
ver Gisela Wild, Leopold August Warnkönig 1794 - 1866 (1961). R. G. Collingwood, An Autobiography (3a. ed., 1951), Chap. V.
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Em outras palavras, o primeiro modelo é uma questão de investigação: é Direito Positivo têm sido sempre tidas como possíveis, e o direito positivo é assim
construído um campo de investigação em que as opiniões (proposições) são duvidosas visto a partir de uma distância crítica e analítica.
e examinadas repetidamente. Como a palavra grega para designar isto é zetein, estas
As questões essenciais do raciocínio jurídico que estão envolvidas
tentativas intelectuais podem ser chamadas zetéticas. O segundo modelo é uma questão
nas discussões atuais acerca da reforma do ensino jurídico podem ser formuladas
de fixar certas opiniões: constrói-se um firme campo de opinião, cuja validade é
nos termos do esquema esboçado acima8. Como estes diferentes modos de
intangível e com o qual se prova a validade de novas opiniões. Como "formar uma
pensamento sobre o direito se relacionam entre si? Podem ser conectados
opinião" é dokein em grego e "opinião" é dogma, nos referimos aqui à dogmática7.
adequadamente, e, se possível, como podem ser conectados? São todos relevantes?
Se aplicamos estes termos ao nosso raciocínio jurídico constataremos que Por exemplo, a visão de que apenas um modo de pensamento sobre o Direito era
ele consiste ao mesmo tempo em dogmática e em zetética. Para ser mais exato, de um relevante foi favorecida depois que a Sociologia do Direito teve seus postulados
lado há um raciocínio jurídico com uma função zetética e uma estrutura aceitos no último século. Não somente Eugen Ehrlich (falecido em 1923) na
correspondente; no outro, há um raciocínio jurídico com uma função dogmática e uma Áustria, mas também Emile Durkheim (falecido em 1917) na França esperavam
estrutura correspondente. É obvio que ambos os modos de pensamento são com que a Sociologia do Direito substituísse a dogmática do Direito. Hans Kelsen se
freqüência intimamente combinados in praxi, mas devem ser mantidos separados in opõe a isto a partir de um posicionamento neokantiano, defendendo a
thesi. Ademais, é importante notar que um modo de pensamento pode ser facilmente independência da dogmática do Direito, introduzindo a categoria da
transformado no outro. Para fazê-lo, temos somente que colocar em dúvida uma normatividade.
proposição que era intangível até então, ou declarar inquestionável uma proposição que
Naturalmente, é impossível examinar completamente estes
até agora era problemática. Mais ainda devemos lembrar que transições inconscientes
problemas aqui. No entanto, espero ter esclarecido as linhas que esta discussão
deste tipo freqüentemente acontecem no pensamento cotidiano, que está muito próximo
tomará. Devemos estar satisfeitos em segui-la em poucos passos numa única
do jurídico. Estas dogmatizações e desdogmatizações são bem comuns.
direção, observando atentamente o raciocínio dogmático.
Podemos dizer que todo o campo do raciocínio pode ser dividido em
A finalidade do raciocínio dogmático é fixar certas opiniões; isto é,
dogmática do Direito e zetética do Direito (investigação acerca do direito). Como
isentá-las de qualquer questionamento posterior. (No Direito, opiniões são postas
exemplos de dogmática do Direito, podemos apontar áreas particulares de sistemas
fora de questão com o propósito de minimizar distúrbios num grupo social maior
jurídicos específicos, por exemplo, Direito Público francês, Direito Criminal inglês,
ou menor e de fornecer um mecanismo capaz de responder adequadamente a
Direito Privado alemão, etc. É obvio que o matiz nacional da dogmática é de
qualquer distúrbio que ocorra). Este é o objetivo do pensamento legal dogmático.
considerável importância e é provável que se mantenha em amplas áreas do direito por
É performático. Sua função social deve estar sempre em mente. Esta função o
um longo tempo, mesmo e particularmente no Direito Comparado. A zetética do direito
estrutura e determina seu progresso. Demanda a estabilização de um corpo central
pode ser subdividida em zetética especial (disciplina de investigação sobre o Direito) e
de princípios que por um lado deve ser mantido como básico dogma
zetética filosófica geral (investigação filosófica). As seguintes disciplinas são exemplos
fundamentalmente imutável e, pelo outro, deve possuir certa flexibilidade. Isto
de zetética do Direito (“Rechtsforschung”): História do Direito, Sociologia do Direito,
significa que o corpo central de princípios deve ser suscetível de interpretação, e,
Psicologia do Direito, Criminologia, etc. Estamos, portanto, envolvidos com disciplinas
sob o ponto de vista lingüístico, suficientemente elástico para ser preservado,
que podem ser melhor praticadas internacionalmente. É evidente que na Filosofia do
apesar de tomar diversas formas em resposta a situações diferentes.
Direito, a Filosofia zetética se manifesta como investigação básica. Alternativas ao

7 8
ver Theodor Viehweg, “Systemprobleme in Rechtsdogmatik und Rechtsforschung” in A famosa “Teoria Tridimensional do Direito” de Miguel Reale, Filosofia do
Studien zur Wissenschaftstheorie, BK, 2 (1968), p. 96 e ss. Direito (1965), Titulo X, p. 433 e ss. é colocada de forma diversa.
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O pensamento legal dogmático tem um efeito social através da forma Direito francês. Geralmente, estas doutrinas podem ser inferidas com exatidão
conceitual e lingüística na qual estabelece certas opiniões. Estas opiniões comunicam suficiente a partir de constituições políticas e leis sobre a matéria na jurisdição
uma convicção9, elas influenciam pessoas10, e, finalmente, são explicitamente relevante. É verdade que contêm elementos cognitivos, pois freqüentemente
formuladas como instruções11. Em contraste com o raciocínio zetético, o raciocínio emergem de uma teoria zetética, mas não são decididamente teorias com uma
dogmático não tem função propriamente cognitiva. Este aspecto do pensamento função primariamente cognitiva, isto é, não são teorias zetéticas ou teorias de
dogmático é notável, e várias análises que seguem outras linhas de argumentação investigação. Ao contrário, uma teoria deste tipo tem, precipuamente, uma função
caracterizaram o raciocínio jurídico, isto é, o raciocínio jurídico dogmático ou social, devendo preencher todos os requisitos de uma tal teoria. Não necessita,
“jurisprudencial12” como não cognitivo e extraíram daqui conclusões de maior ou todavia, preencher os requisitos de uma teoria de investigação. Só pode, por
menor alcance13. Inicialmente, muitos pensadores se alinharam ao ponto de vista exemplo, regular comportamentos, quando não se recusa a dar respostas essenciais
segundo o qual faltava racionalidade ao raciocínio jurídico dogmático e que ele deveria, nos seus campos de problemas. Conseqüentemente, deve tornar disponível uma
assim, ser caracterizado como um campo de racionalidade, o qual poderia, na totalidade satisfatória de respostas para um certo tipo de questões sociais. Desta
melhor das hipóteses, ser esclarecido pela Psicologia ou Psicanálise. Mais tarde, foi maneira, alguma intenção holística deve ser-lhe inerente.
argüido convincentemente que o termo "racionalidade" deveria ser submetido a nova
Se dificuldades surgirem ao lidar com os problemas sociais acima
análise14. Viu-se então claramente que o pensamento jurídico dogmático, a prudentia
mencionados, tal teoria não deve, de forma alguma, abandonar seus dogmas
juris enquanto tal, torna-se o objeto do raciocínio jurídico zetético; podemos criar
básicos, porém eles só podem ser tranformados por alterações constitucionais ou
jurisprudência por um lado, e metajurisprudência por outro.
revolucionárias da Constituição. Assim, como regra, os dogmas básicos têm que
Há um risco de que estes dois modos de pensamento possam ser ser mantidos. Para isto, uma nova interpretação precisa, se necessário, ser-lhe
confundidos. Este risco está sempre presente e pode ser demonstrado em vários dada; elas precisam ser suplementadas tanto em um sentido restritivo, como em
momentos: por exemplo, se falamos sobre a “teoria do direito”, deve estar claro se se um extensivo. Tais novas interpretações e retoques (“arrondements”) são
trata da teoria dogmática ou da zetética, pois suas características são inteiramente característicos do pensamento jurídico dogmático. Estas interpretações são
diferentes. Uma teoria jurídica dogmática é uma doutrina básica da dogmática do condicionadas por sua função. Isto significa que elas desejam manter a estrutura
Direito. Foi mencionado acima que, neste sentido, a teoria do direito racional tornou-se social de comportamento em uma certa ordem, ou (talvez) emendar esta estrutura
finalmente a doutrina básica dos sistemas jurídicos do Ocidente. Dentro deste marco, dentro do significado desta ordem, e, certamente, induzir uma predisposição e
doutrinas jurídicas foram desenvolvidas: por exemplo, aquela relativa à indenização no prontidão em consentir esta estrutura de ordem. O jurista prático diariamente
aplica a teoria dogmática do Direito neste sentido. Esta teoria do Direito pode ser
9 também chamada de uma ideologia do Direito, se ideologia for entendida como
ver A. J. Ayer, “On the Analysis of Moral Judgements” in Philosophical Essays
uma mera teoria com uma função social15.
(1959), p. 231 e ss.
10
C. L. Stevenson, Ethics and Language (1960). Não é necessário apontar explicitamente que um cientista usa sua
11
ver R. M. Hare, The Language of Morals (1961); Freedom and Reason (1965). teoria zetética, por exemplo, uma teoria sociológica ou normativa do Direito, de
12
Ottmar Ballweg, “Quelques progrés de recherches dans le domaine: Science, qualquer forma que não esta. Ele não adere a sua teoria com intuito de estruturar
Prudence et Philosophie du Droit.” 52 Archiv für Rechts - und Sozialphilosophie um comportamento social, como faz o jurista. De preferência, para adquirir novo
(1966), p. 221 e ss. conhecimento, ele examina sua teoria no seu campo de investigação e está sempre
13
ver Hans Albert, “Ethik und Metaethik. Das Dilemma der analytischen disposto a modificá-la.
Moralphilosophie” in 11 Archiv für Philosophie (1961), p. 28 e ss., especialmente p.
34.
14 15
ver G. Gottlieb, op.cit. supra nota 1. ver Leszek Kolakowski, Der Mensch ohne Alternative (1960) p. 24 e ss.
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Algumas vezes, as correntes intelectuais enfatizaram a zetética, outras diferentes, uma diferenciação estrutural é possível entre os sistemas seriais,
vezes, a dogmática do Direito. Estes modelos de pensamento são opostos entre si, dedutivos, cibernéticos, dialéticos modernos e dialéticos clássicos17.
embora se completem um ao outro. Algumas dogmatizações são aparentemente
"Sistema" pode não significar nada além de uma combinação que
indispensáveis na vida social; particularmente no Direito. Se, no entanto, elas alcançam
constitui um todo em certo sentido. Mesmo uma mera combinação enumerativa
graus de proliferação perturbadores (“Luxerrieren”), do que lhering, entre outros,
(por exemplo: alfabética) de pontos de vista adequados a um certo campo constitui
ridicularizou16, ou se são claramente ultrapassadas pelos desenvolvimentos sociais,
um sistema, aqui um sistema serial. Tais sistemas não são irrelevantes no âmbito
então, regularmente, elas causam reações zetéticas. Tanto nas sociedades não
do Direito. São úteis onde o conhecimento serve para obter informação. Sabemos
socialistas quanto nas socialistas, a aversão é geralmente a resposta à ideologização,
também que antigas doutrinas de princípios, numa ordem jurídica, são
dogmatização, institucionalização e à consolidação do "establishment".
freqüentemente colecionadas e preservadas com auxílio de uma simples técnica
mnemônica. Etnólogos afirmam que entre povos primitivos, o puro cálculo
enumerativo de aspectos jurídicos relativos a um problema de Direito assume
III - O Sistema Jurídico
papel decisivo em julgamentos. Em muitos casos, tais catálogos enumerativos de
A teoria do Direito Racional, que discutimos anteriormente, tentou dar possíveis respostas a questões jurídicas têm chegado até nós: D50, 17 no Corpus
uma solução fácil para o recorrente problema da natureza do sistema jurídico. Elegendo Juris é um exemplo muito conhecido. Catálogos jurídicos posteriores de topoi
a estrutura dedutiva da matemática como seu modelo e pretendendo ser hábil a fornecer (pontos de vista), especialmente aqueles da Renascença, serviram para estimular
um completo sistema de demonstrações com a ajuda de poucos conceitos básicos sistematizações em níveis mais elevados.
irrefutáveis, o raciocínio jurídico significou, assim, pensar em termos de um sistema
Após um adequado reagrupamento dos conteúdos de tais catálogos,
legal dedutivo, e solucionar casos por uma correspondente classificação sistemática. No
um sistema dedutivo poderia facilmente ser desenvolvido. Tal sistema já foi acima
entanto, o entendimento histórico e o mutante mundo social do século XIX causaram
mencionado. Os pontos mais importantes neste conceito de “sistema” são a
dúvida nas presumidas irrefutabilidade e fertilidade dos axiomas legais. O caráter
incontestável validade dos princípios usados como premissas do sistema e o
multifacetado do raciocínio jurídico foi reconhecido. O conceito de sistema jurídico
desenvolvimento de um todo multiforme mediante a dedução a partir destes
torna-se novamente problemático, e outros conceitos, como a racionalidade e a ciência,
princípios. Na jurisprudência européia, este conceito de sistema encontra-se tão
afetados. Atualmente, é possível dizer que a revisão de nossos conceitos básicos
difundido que muitas vezes é considerado como o único possível, levando ao
encontra-se em total oscilação.
esquecimento dos outros.
Vejamos então o problema do conceito de sistema jurídico, usando os
Todavia, o sistema dedutivo pode ter apenas um significado parcial
conceitos já apresentados. Parece aconselhável examinar os sistemas jurídicos com
no campo da pesquisa sobre o Direito. Parece mais bem adequado à dogmática do
referência a suas funções, como também com suas estruturas; e indagar a respeito da
Direito. Seus princípios são estabelecidos dogmaticamente, e o restante é
conexão entre ambas. Deve ser sensato diferenciar entre sistemas com funções
deduzido. De fato, entretanto, o sistema dogmático dedutivo poderia ser mantido
dogmáticas e zetéticas e notar uma função didática freqüentemente adicionada. Uma
como tal somente se qualquer um pudesse rejeitar casos nele não solucionáveis.
vez que os sistemas, separados de acordo com a função, apresentam estruturas
Isto, entretanto, não é permitido, como é melhor ilustrado pelo art. 4° do Code
Civile. Uma decisão é absolutamente necessária. Conseqüentemente, o jurista
precisa constantemente alternar seu sistema para um grau maior ou menor de
acordo com as interpretações necessárias. O que persiste não é certamente um
16
ver Rudolf Von Ihering, Scherz und Ernst in der Jurisprudenz (1884) especialmente
17
“Dritte Abteilung: Im juristischen Begriffshimmel.” ver Theodor Viehweg, op. cit. supra nota 7.
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sistema estrito de dedução. Atualmente, entretanto, o ponto seguinte não precisa ser estruturalmente conectado com a retórica19 e se restringe a um sistema
supervisionado: num clima econômico suficientemente estruturado e estabelecido, argumentativo. Está integralmente orientado para problemas. Para resolvê-los,
zonas relevantes do Direito são programadas para um âmbito onde as decisões tanto no campo da investigação como no da dogmática, oferece uma combinação
necessárias em casos litigiosos geralmente resultam de simples deduções. A regulação de pontos de vista (topoi), os quais são discutidos. O agrupamento dos topoi
de negócios esquematizada por lei ou contrato assegura este sucesso nas sociedades não correspondentes aos problemas pode ser entendido como um sistema clássico no
socialistas, tanto quanto nas socialistas. O juiz parece dispensável nestes casos; uma campo do Direito no sentido de que os outros sistemas podem ser desenvolvidos a
automatização adequada pode facilmente substituí-lo. Porém, isto significa que partir dele. O sistema tópico está em permanente modificação. Suas respectivas
sistemáticas dedutivas são utilizadas em seções dogmaticamente simplificadas que formulações indicam, meramente, progressivas etapas da argumentação lidando
formam vastos segmentos da sociedade industrial. com problemas particulares. O sistema pode ser razoavelmente chamado de um
sistema aberto, já que a discussão, isto é, seu enfoque de um problema particular,
Na automatização, as sistemáticas dedutivas são combinadas com o
está aberto a novos pontos de vista. Em relação ao seu conteúdo, este renuncia à
sistema cibernético. O princípio fundamental deste sistema - a auto-regulação – já é de
noção de um argumento final ou decisivo, porém recomenda um método de
definitiva importância para a dogmática do Direito, tanto como para a investigação
argumentação que proceda não dedutivamente mas dialogicamente. Sua ultima
acerca do Direito, particularmente a Sociologia do Direito.
ratio é o discurso razoável (“Verenunftiges Reden”)20.
Após alguma hesitação, o mundo socialista adotou entusiasticamente o
sistema cibernético. Além dos requisitos práticos, motivos ideológicos foram o fator
decisivo nesta etapa. A cibernética ajusta-se bem ao sistema omnicompreensivo do
materialismo dialético. Mais ainda, servem para invalidar conceitos teleológicos de
conveniência ideológica que, sem dúvida, influenciaram a teoria não socialista do
Direito18.
É reconhecido que o sistema dialético moderno – o sistema de cunho
hegeliano tanto à direita como à esquerda – participou de forma efetiva da
jurisprudência dos séculos XIX e XX. Este é um tema amplo, igualmente com
elementos ideológicos e críticos da ideologia. É suficiente perceber que este sistema
provavelmente deve seu sucesso primariamente a sua unidade única de dogmática do
Direito. Esta unidade tem sido concluída apresentando-se um compreensivo ponto de
vista histórico e filosófico e mantendo-o como seu dogma básico. Se este preço parece
muito alto – se este dogma não é adotado, ou se finalmente perde sua validade com o
fim do capitalismo de acordo com as previsões marxistas – a dialética clássica ou
sistema tópico tornar-se-á novamente interessante.
Espero concluir minhas breves considerações com umas poucas
19
observações sobre o sistema tópico. Este sistema é extraído da retórica. Mantém-se ver Ch. Perelman e L. Olbrechts - Tyteca, Traité de l’Argumentation (La
nouvelle Rhéthorique) (1958); Theodor Viehweg, Topik und Jurisprudenz (3a. ed.,
1965).
18 20
ver em Georg Klaus, Manfred Buhr, Philosophisches Wörterbuch (4a. ed., 1966), o ver Wilhem Kamlah, Paul Lorenzen, Logische Propädeutik (1967),
artigo “Kybernetik”. especialmente Capítulo VI.

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