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Ainda sobre a unificação do direito privado no Brasil

Marco Aurélio Gumieri Valério


advogado, mestrando em Direito na Unesp de Franca (SP)

Sumário: Introdução; 1. O histórico da união do direito privado no Brasil: O


pioneirismo de TEIXEIRA DE FREITAS; as experiências européias; o Código Civil
italiano; o Código de Obrigações suíço; os projetos malogrados de união do direito
privado no Brasil; o anteprojeto de Código Civil de 1975; 2. As diferenças entre o
direito civil e o comercial: o nacionalismo, a gratuidade, a formalidade e a rigidez
legislativa do Direito Civil versus o universalismo, a onerosidade, a pretensão de boa-fé
e a simplicidade do Direito Mercantil; pontos de imbricamento dos dois sistemas; 3. Os
motivos apregoados para a união do direito privado: a preleção de CESARE VIVANTE,
a união fática dos dois ramos do Direito Privado; 4. A relevância da autonomia privada:
as diferentes correntes, a retratação de VIVANTE; 5. Os problemas que enseja a
unificação: os problemas relacionados à unificação do Direito Privado Brasileiro, as
críticas ao projeto de Código Civil de 1975, a moderna tendência de fragmentação do
direito em micro-sistemas; Conclusão; Referências Bibliográficas.

Introdução

A finalidade do presente trabalho é o estudo e a análise do secular duelo jurídico


sobre a autonomia do Direito Comercial face ao Direito Civil, dando-se primazia, nesta
oportunidade, aos fatores nacionais e hodiernos.

Com a aprovação do projeto de Código Civil no Senado Federal, está


novamente, na ordem do dia, o debate sobre a viabilidade e a conveniência dessa
reforma, levando-se as discussões para além da dicotomia que orienta o Direito Privado,
pensando-se, inclusive, na real possibilidade de um sistema estável de direito escrito nos
dias correntes.

Na abordagem do tema, procura-se atentar, para as suas novas cores e mais


recentes tons, dando-se predomínio aos problemas atuais e às modernas questões que
margeiam este assunto.

Adentrando ao estudo, primeiramente procede-se com a apresentação de um


sucinto histórico nacional, citando-se os trabalhos dos principais protagonistas desta
questão.

Segue-se então, por uma apreciação dos motivos impeditivos à união dos
Códigos Civil e Comercial, bem como, ainda, se aludirá os pontos doutrinários que
justificam essa união, exaustivamente defendida pela corrente unionista. Tais teorias não
serão aqui discutidas, evitando enfadar o eventual leitor, de vez que a doutrina, já ha
muito se manifesta a respeito.

Por fim, a discussão será concluída mediante uma síntese deste assunto,
apontando um caminho alternativo para a resolução deste embate.
1. O histórico da união do direito privado no Brasil

A tentativa de unificar o direito privado no Brasil remonta os idos do séc. XIX


época em que o jurista AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS recebe a incumbência de
apresentar um projeto de Código Civil. FREITAS, então, inova e surpreende os juristas
de seu tempo, quando em 20 de setembro de 1867, defende junto ao governo a
necessidade de unir os Códigos Civil e Comercial, a fim de resolver o que ele mesmo
denominava de "uma calamitosa duplicação das leis civis".

Para tanto, planejava a produção de dois códigos, um geral, contendo definições


e princípios, e o outro, civil, abrangendo toda matéria civil e comercial. Para ele, "não
há tipo para essa arbitrária separação de leis, a que se deu o nome de direito comercial
ou Código Comercial, pois que, todos os atos da vida jurídica, excetuados os benéficos,
podem ser comerciais ou não comerciais, isto é, tanto podem ter por fim o lucro
pecuniário, como outra satisfação da existência". (BORGES: 1959, p. 50)

A esta tendência reformadora, adveio a verificação do fenômeno da


comercialização do direito civil, ou da generalização do direito comercial, que consistiu,
basicamente, numa utilização indistinta e progressiva de institutos de direito mercantil,
por agentes civis, abalando-se assim, dicotomias tradicionais e históricas. Exemplo
característico deste fenômeno é a difusão dos títulos de crédito, como o cheque, a nota
promissória e o aparecimento de sociedades para relações civis. (BORGES: 1959, p. 52)

É importante salientar que esse fenômeno não aconteceu apenas no Brasil,


verificando-se sua existência em âmbito mundial, ocorrendo reformas legislativas em
países europeus, decorrentes desse progressivo processo de absorção de entes jurídicos
que, de início, eram essencial e exclusivamente de direito comercial. (BULGARELLI:
1986, p. 55)

Na Suíça, em 1881, teve-se o estabelecimento do Código Federal de Obrigações


e, na Itália, em 1942, do Código Civil que, indo além do seu antecessor suíço, unificou
não apenas a matéria obrigacional, mas também, toda a matéria civil, comercial e
trabalhista.

A partir de Teixeira de Freitas, esta influência européia se consubstanciou no


Brasil, embasado na defesa da união das matérias civis e comerciais, buscando-se o
intuito de concretizar o que se convencionou chamar de um "Código de Direito
Privado".

A meta de unificação também foi o lema de INGLÊS DE SOUZA, autorizado


pelo Dec. n. 2379, de 04 de janeiro de 1911 a executar a reforma do Código Comercial
de 1850.

Para este jurista, havia uma necessidade de união entre o Direito Civil e
Comercial, devido à absorção daquele por este último, pois, aos seus olhos, "é o direito
civil que se funde, por assim dizer, no comercial, influenciado, por sua vez, pelo
interesse social que prima ao individual". (FRAN MARTINS: 1991, p. 36)

Foi dele o estabelecimento da tradicional tendência unionista, no entanto, sem


produzir efeitos legislativos, já que seu intento fora prejudicado com o advento do
Código Civil de 1916, pelas mãos do saudoso CLÓVIS BEVILAQUA. (FRAN
MARTINS: 1991, p. 36)

Em 1941, o processo de unificação é novamente impulsionado com o


estabelecimento de uma comissão formada pelos nomes de PHILADELPHO
AZEVEDO, OROZIMBO NONATO e HAHNEMANN GUIMARÃES, concedendo-se,
a eles, a incumbência de proceder á revisão do Código Civil.

Como assevera RUBENS REQUIÃO, "esta revisão foi executada com o escopo
de atender às modificações operadas por leis posteriores, seguir as modernas tendências
do direito, mitigar os excessos do individualismo, incompatíveis coma ordem jurídica
dos tempos que correm, e reduzir a dualidade de princípios aplicáveis aos negócios civis
e mercantis, em prol da unificação de preceitos que devem reger todas as relações de
ordem privada". (1976, p. 19)

Este projeto, entretanto, da mesma forma que os anteriores, não obteve o sucesso
almejado.

Em 1961, fundou-se uma comissão de estudos legislativos e, no ano seguinte,


em 1962, formou-se novamente um grupo para reformar a matéria de direito privado,
composta, dentre outros eminentes juristas, por OROZIMBO NONATO e CAIO MÁRIO
DA SILVA PEREIRA, que propugnavam a criação de um Código de Obrigações e um
Civil. (CRUZ: 1994, p. 12)

Não obstante, essa solução ser uma das mais prudentes dentre as que
apresentaram os defensores da unificação, igualmente às posteriores, não vingou.

Por fim, teve-se a formação do anteprojeto de Código Civil, publicado no Diário


Oficial, em 07 de agosto de 1972, fruto e resultado dos esforços de juristas como
MIGUEL REALE, JOSÉ CARLOS MOREIRA ALVES, AGOSTINHO DE ARRUDA
ALVIM, SÍLVIO MARCONDES, EBERTI CHAMOUM, CLÓVIS DO COUTO E
SILVA, TORQUATO CASTRO. Estes juristas se preocupavam precipuamente em dar
ao país uma legislação comercial e civil moderna que compactuasse com as evoluções
jurídicas e históricas da sociedade brasileira, embasando-a em princípios informadores
de socialização, afastando, em certa medida, as posições radicalmente individualistas,
que eivavam tanto a codificação civil de 1916, quanto a mercantil, que remonta a 1850,
expressões do todo conservador liberalismo burguês. (FRAN MARTINS: 1991, p. 38)

Esse projeto, a despeito de louváveis inovações doutrinárias, não merece igual


lisonja no que tange à proposta que almeja, haja vista que seus cultores defendem a
adesão, num mesmo código, da matéria civil e comercial, concebendo-se uma imensa
obra sui generis pelo agrupamento de artigos.

Todavia, esse intuito ressente-se, até o momento, de uma harmonia de


princípios, posto que a distinção científica dos ramos civis e mercantis se mantém, a
despeito da perda da autonomia formal de ambos.

Ademais, falta ao projeto termos e conceitos de direito comercial em face dos


similares civis, além disso, privilegiou-se as sociedades anônimas, permitindo a sua
retirada do anteprojeto, que mantém, contudo, em seu corpo, as demais sociedades, o
que parece incoerente com o processo de codificação aquilatado. (FRAN MARTINS:
1991, p. 38)

É necessário, enfim, ponderar pacientemente sobre a conveniência, viabilidade e


necessidade da formação de um código de tal largura, pois, como viremos a demonstrar,
talvez o momento histórico atual não seja propício a codificações.

2. As diferenças entre o direito civil e o comercial

Faz-se oportuno abordar algumas das mais relevantes distinções que contribuem
para a cristalização da dicotomia entre o direito civil e o direito comercial.

O Direito Civil, Ius Civile, tem, como características fundamentais: o


nacionalismo, pois têm por alvo as leis civis, o cidadão pátrio, e suas relações jurídicas
em território nacional; a gratuidade, posto que é possível e até correntio a difusão, neste
ramo do direito, dos atos gratuitos, tais como a doação, depósitos e a gestão de negócios
fundados na satisfação moral e na solidariedade humana; a complexidade e a
formalidade, preceitos que servem como meio a evitar que atos de saliente reflexo sobre
o estado da pessoa ou ainda seus bens venham a ser executados validamente por
incapaz, ou por pessoa engodada, caso em que se enseja a nulidade do ato; a rigidez
legislativa, que flui do tradicionalismo originário do Direito Romano, como
evidenciado no Corpus Iuris Civile, que amiúde informa o atual modelo dogmático
civilista.

O Direito Mercantil, Ius Mercatorum, por sua vez, porta certas virtudes que o
identificam, tais como: o universalismo, que viabiliza as negociações de exportação e
importação de serviços e de recursos entre países; a onerosidade, pois não se concebe
em qualquer relação comercial que seja, atos meramente benéficos ou exclusivamente
altruístas, uma vez que à atividade comercial acede a ambição pelo lucro, o desejo pelo
proveito; a pretensão de boa-fé tornando possível a transferência instantânea de títulos
ao portador ou por endosso, facilitando e agilizando as relações; a simplicidade, a
informalidade e a elasticidade legislativa, atributos que decorrem da imperiosa
necessidade de celeridade e solução dos conflitos comerciais que não podem suportar
longas demandas, que suspendam os direitos e, por conseqüência, desacelerem a
dinâmica das atividades econômicas. (AZEREDO: 1972, p.15)

O Direito Civil identifica-se pela ação direta, o acordo de interesses individuais,


a abrangência a todos os homens de uma nacionalidade indistintamente, a estabilidade
da propriedade, os bens como objeto de aquisição, a originalidade, e a absorção
individual dos riscos.

O Direito Comercial sofre a influência da mediação, da especulação, da


especialização técnica, da dinamicidade, da propriedade, da circulação dos bens, da
padronização, da uniformização e da internacionalização das técnicas e leis aplicáveis
aos casos.
Contudo, é inegável o imbricamento, em certa medida, dos dois ramos do
direito, que se intersecionam em diversos institutos, por exemplo, na abertura de conta-
corrente, contrato de crédito, fundo de aplicação, duplicata, cheque, etc. A generalização
destes institutos de uso correntio dos setores comerciais, empresariais e, atualmente, por
qualquer cidadão, indistintamente, são efeitos da generalização do direito mercantil.

Todavia, como alerta o jurista WALDÍRIO BULGARELLI, "o Direito


Comercial não se confunde com o Civil, não obstante os inúmeros pontos de contato
existentes entre ambos, sendo o Direito Comercial um direito que se apresenta como
tendência profissional enquanto que, o civil, é de tendências individualistas". (1986, p.
55)

Com sobriedade, portanto, há que se propender pela manutenção da


independência do Direito Mercantil como vertente diversa do Direito Civil, pois como
assevera FRAN MARTINS, "não é evidentemente o direito comercial um ramo do
direito civil, mas uma parte especializada do direito Privado que regula os atos
necessários aos comerciantes para o exercício de sua profissão e os atos por lei
considerados como mercantis". (1991, p. 33 e ss)

3. Os motivos apregoados para a união do direito privado

AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS, em 20 de setembro de 1867, fez ao


governo, como já citado em momento anterior, inovadora proposta para a criação de um
Código de Direito Privado, sendo pioneiro na abordagem do assunto.

Apesar disso, a corrente unionista tem em CESARE VIVANTE, jurisconsulto


italiano, seu maior nome que, no dia 15 de dezembro de 1888 procedeu, sua famosa
preleção, com que prefaciou seu curso na Universidade de Bolonha e defendeu com
tenacidade singular a unificação do Direito Privado.

Alegava, como motivação à sua dogmática que "os usos e costumes mercantis
abarcam indistintamente a todos, inclusive os civis, salvo quando legislados ou
positivados; a dificuldade de dirimir a obscura questão relativa á natureza da causa,
defluente da incoerência de uma definição clara dos lindes do Direito Civil e Comercial;
a arbitrariedade discricionária na definição da lei aplicável, a comercialidade duvidosa
do ato e a categoria obscura do agente, sendo considerada, esta faculdade, contra o
princípio de segurança jurídica; a coexistência de dois códigos tratando de um mesmo
instituto gera óbices evidentes à exegese legal, dificultando a conciliação e ensejando
contradições, expõem o estudante de Direito Comercial ao perigo de olvidar a teoria
geral das obrigações, visto que está na legislação, na doutrina e no ensino dividida por
uma perniciosa e espúria muralha que obsta, ou ao menos dificulta, um estudo
imbricado destas matérias, como seria natural e proficiente". (FRAN MARTINS: 1991,
p. 51-2)

Assim, tem-se á vista os mais fortes argumentos pela unificação, ideal este que
tem sido acariciado por muitos doutrinadores nacionais e estrangeiros, favoráveis pela
unificação.
No Brasil, mais do que em outros países, como a França e a Bélgica, que
conservaram a dualidade da jurisdição e do processo, podemos afirmar que a unificação,
em grande parte já se efetuou.

As bolsas, os armazéns gerais e os bancos, os contratos de conta-corrente, e a


abertura de crédito, etc., são institutos cujo uso se faz indistintamente pelos cidadãos, e
não mais, como antigamente, apenas por comerciantes, fato este que historicamente
justificava a autonomia e atualmente, porém não se justifica. (BORGES: 1964, p. 132
ss)

São sobremaneira sedutores tais argumentos, tanto que seus reflexos são
sensíveis em nossa era. Os próprios responsáveis pelo anteprojeto de Código Civil
Brasileiro de 1975 foram seduzidos pela doutrina unionista.

4. A relevância da autonomia privada

Em meio a tais argumentos, encontram-se outros no sentido de cristalizar a


dualidade entre o Direito Civil e o Direito Mercantil ou Empresarial, como desejam os
italianos.

Esta corrente encontrou abrigo na pessoa de ALFREDO ROCCO, que postula


como prementes motivos que justificam a mantença da dicotomia, "as exigências da
classe mercantil, setor especial da sociedade, demanda a geração de um ramo distinto
que possa atender eficientemente as ingentes necessidades para a sobrevivência e
desenvolvimento do setor; a necessidade de simplicidade, de celeridade e de
informalidade das atividades mercantis; proficiente tutela jurídica do crédito, como
elemento fomentador da atividade negocial". (FRAN MARTINS, 1991: p. 53)

O próprio mentor da unificação, CESARE VIVANTE, em 1919, abdicou do


unionismo que tanto defendera em anos anteriores, e se retratou, convertendo-se à tese
dicotômica. Declara o jurista italiano que, "por minha freqüente participação nas
reformas legislativas e especialmente na do Código de comércio, durante os numerosos
anos transcorridos desde a iniciativa a que me venho referindo, me convenceram que a
fusão dos dois códigos em um acarretaria prejuízo para o direito mercantil". (FRAN
MARTINS, 1991: p. 54-5)

Após esta nobre retratação, publicada na introdução da quinta edição de seu


clássico Trattado, abalou-se a tradicional doutrina unionista, que encontrava neste autor
seu ponto de apoio.

VIVANTE alega ser necessária a manutenção da dicotomia entre o direito


comercial e o civil e, como motivos de sua asserção, ostenta evidentes diversidades de
método, de área e de atividade e perspectiva, os quais dividem estas vertentes jurídicas.

Na esfera civil, prevalece a dedução, tendo por parâmetros, a nação e observação


de atos isolados, enquanto que, o método predominante no direito comercial é o
indutivo, sua área de atividade é o mundo e, sua perspectiva, os negócios em massa.
Ademais, há que avultar a conveniência didática e coerência à pragmática das
codificações modernas nacionais. Estes fatores induzem cada código a ocupar um
diploma legislativo, assim, então, seus especialistas poderão dedicar exclusiva e
especial atenção ao objeto de seus estudos, publicando anotações, comentários e
dissertações capazes de exaurir a matéria, consistindo em uma exegese quase completa
do código. (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5)

Essa tendência parece contrária ao progresso científico e à pragmática jurídica,


pois se atravessa no mundo científico, por um processo inexorável de constante
fragmentação e especialização em todas as esferas do conhecimento, inclusive nas
jurídicas, formando-se micro-sistemas como no direito cambiário, no direito falimentar,
no direito do consumidor, no direito agrário, etc. (FRAN MARTINS, 1991: p. 54-5)

Isso ocorre para que se possa conquistar celeremente, maiores descobertas, em


menores períodos assim, mister se faz a difusão de especialistas que hão de compulsar,
estes ingentes assuntos jurídicos, congregados em sem número de obras nacionais e
estrangeiras, conforme sua área de concentração científica.

A questão da reunião não pode, por conseguinte, se pautar em fatores


respeitantes a política legislativa, pois, deve-se integrar a este relevante problema
motivos de ordem científica, pedagógica, didática que o oriente. (FRAN MARTINS,
1991: p. 54-5)

5. Os problemas que enseja a unificação

Neste capítulo, passa-se a tecer considerações críticas pertinentes ao intuito de


unificar os Códigos Comercial e Civil, assunto que suscita inúmeros problemas.

Inicialmente, o Código Civil de 1975 traz uma união meramente formal,


consistindo numa superposição de projetos, o que, para a ciência jurídica, é de
relevância nula, portanto, é preciso que se atente aos parâmetros de conveniência,
oportunidade e necessidade, sobretudo científica e didática. Com efeito, este ponto
amiúde de sido desconsiderado ou ao menos não tem atingido, nos debates e discussões,
o status proporcional e a relevância que lhes é própria.

O tratamento sui generis e injustificado das sociedades anônimas, que foi


retirada da estrutura do projeto de Código Civil, tendo esta remoção ensejado fortes
críticas suscitando a questão do porquê se obstara autonomia das demais sociedades,
gerando apenas àquela espécie este privilégio, e não a todo o gênero societário, como
teria sido coerente. Este parcialismo parece refletir a preponderância dos interesses
políticos suprimindo a indispensável harmonia científica.

A frágil regulação dos títulos de crédito, que necessita de uma regulação


minuciosa, tal qual se faz para o tratamento das sociedades, dando-se fim, assim, à
duplicidade de legislações sobre o assunto, que estorva o tratamento da matéria. Essa
situação sustenta a inquirição de qual motivo justifica a manutenção da incoerência no
tratamento dos títulos de crédito, deixando uns modelados pela Lei Cambiária e pela Lei
Uniforme de Genebra e outros por normas desnecessariamente diferentes, regidas pela
lei civil, estabelecendo-se, para este instituto, ironicamente, outra dicotomia.

Ademais, segundo RUBENS REQUIÃO, "o anteprojeto, na configuração


presente, se prosperar, poderá ensejar confusão terminológica entre os títulos de crédito
propriamente ditos, títulos comprovantes de legitimação e impróprios". (1972: p. 71)

Também a falta de um entrosamento entre o livro dedicado à atividade negocial


e o corpo do código projetado, problema este decorrente da carência de princípios que
harmonizem as legislações civis e comerciais, demonstra que, a rigor, pouco se produziu
no intuito de comprovar a harmonia entre as matérias eminentemente civis e comerciais,
sendo antes, inescondíveis as dissonâncias entre ambas.

Sem sombra de dúvidas, a dinamicidade da matéria comercial suscitará uma


série inexorável de legislações aditivas, pois, a mobilidade econômica não se sujeitará,
por longo tempo, às contingências e tradicionalismos das doutrinas civilistas. Nas
palavras de MARCIO ANTÔNIO INACARATO, "a prática virá a demonstrar-lhes,
contudo, num curto espaço de tempo que o direito comercial tenderá a alhear-se à
disciplina legal civilista e um sem número de legislações extravagantes surgirão para
contrariar a regra geral estabelecida". (1973: p. 99)

Em derradeiro, aponta-se o problema das debilidades terminológicas e


conceituais, além do número expressivo de emendas no legislativo que concorrem para
a imperfeição da operação e difusão de lacunas no texto legislativo. Tal fenômeno, não
obstante censura, se observa na elaboração do Código Civil Unificado.

Para SÍLVIO RODRIGUES, "não haveria mister de uma reforma integral da


legislação vigente. Mas seria útil adotar-se, desde logo, aquelas inovações que são
aceitas por todos, que poderiam ser inseridas no Código Civil, sem sacrifícios de sua
estrutura. O legislador já fez isso no passado em muitos casos e poderia faze-lo no
futuro, aproveitando ainda que parcialmente, o magnífico trabalho dos autores do
Projeto de 1975". (1995: p. 07)

Conclusão

Lembra ORLANDO GOMES que, "um código é, em sua noção histórica, um


sistema de regras jurídicas formuladas para reger, durável e plenamente a conduta
setorial de sujeitos de direito". (1983, p. 42)

A necessidade de se racionalizar as leis, de torná-las sistematizadas, de faze-las


simples, fosse para uni-las, ou para entrosar leis promulgadas em épocas distintas tornou
a codificação um fenômeno histórico que, nos dias de hoje, é bastante questionável.

Estudiosos têm se preocupado com a legislação caótica somada nestas últimas


décadas, mas, conscientes da deterioração da idéia de codificar as leis de direito
privado, pela construção de um sistema estável e completo, reconhecendo, que a
reunião, num só estatuto, de toda a disciplina da relação entre particulares, se possível
fosse, careceria atualmente de real importância.
A quantidade de leis extravagantes atesta o paradoxo da inutilidade de
recodificação, já que elas não podem ser reduzidas a um sistema construído com outro
método, outra lógica e outra filosofia, como seriam caso fossem integradas a um texto
codificado.

Afirmar que a proliferação das leis especiais se deve ao atraso histórico do


Código Civil, bastando atualizá-lo para demonstrar essa fuga seria demonstrar o
desconhecimento das leis que o estão esvaziando, pois, como lembra Orlando Gomes,
"é somente por uma questão de comodidade que se continua a chamá-las de
extravagantes". (GOMES, 1983: p. 45)

Algumas leis especiais poderiam ser enxertadas no corpo de um novo Código


Civil, mas, de duas uma: ou seriam alteradas para ajustamento ao sistema,
provavelmente com retrocesso, ou seriam transplantadas na íntegra, reduzindo o novo
código a uma simples e inútil consolidação com outro nome e com a mesma função de
antes.

Esta índole maleável se certifica, pela atualização recente da matéria societária


ocorrida há poucas décadas na Alemanha (1965), França (1966), bem como na
Inglaterra (1967).

Estas leis especiais constituem, com efeito, distintos universos legislativos de


menor porte denominados de micro-sistemas, tal como sucede, por exemplo, com o
Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Terra, a Lei Anti-Truste, a Lei de
Falências, dentre outros. Estes micro-sistemas são refratários à unidade sistemática do
código porque tem sua própria filosofia e outros critérios e métodos distintos.

A cristalização de um código não coaduna com a hora de transformação das


instituições econômicas porque atravessa o Brasil, em ritmo até mais acelerado do que
em outros países.

Conclui-se que teria acertado a comissão do projeto de Código Civil se


reformasse, apenas, a matéria obrigacional, em um código autônomo como fora
proposto anteriormente por CAIO MÁRIO, em 1964, ou tal qual se procedeu na Suíça,
em 1888.

Solução na parte em que os fatos e os costumes tornaram inolvidável a união de


matéria mercantil com o direito civil, como no trato a títulos creditícios, quais o cheque,
a nota promissória, duplicata, e no cuidado das sociedades, institutos, aos nossos dias de
uso indistinto, servindo a comerciantes, empresários e a cidadãos, devem, no presente,
ser regidas por Leis Gerais, como ocorrera na Argentina e no México.

A reunião artificial, meramente formal do Direito Civil com o Direito Mercantil,


carece, até o presente, de uma conexão de princípios e homogeneidade lógico-
sistemática, óbices que demandam imprescindível superação para uma união coerente
de um código de direito privado e recepcione matéria civil e comercial.

O progresso científico jurídico será prejudicado, pois, este demanda divisões a


fim de acelerar o seu desenvolvimento, posto que os conhecimentos que porta são
infindos, mas as capacidades humanas, limitadas. (REQUIÃO, 1972: p. 71)

Quando se participa do entendimento de que ainda não chegou a hora nem a vez
de rejeitar a idéia da codificação das leis civis, o que não se tolera é a mitificação de
uma recodificação que não renova nem avança. "Se reforma se consente, é para que
pelo menos sirva como fermento de novos critérios de disciplina, de novas lógicas e de
novas categorias interpretativas, jamais para recauchutar tradições esterilizantes e
opressivas, já superadas pela história". (GOMES, 1983: p. 45)

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