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Lição 5

O professor cientista
João Monlevade

Já vimos que nos colégios jesuíticos, onde se ministrava o ensino


secundário, havia bibliotecas e laboratórios. Para que servem bibliotecas
e laboratórios? Acertou quem pensou em pesquisa. A educação não é
somente transmissão, mas também indução de cultura. A transmissão
se dá principalmente pelas aulas expositivas, pelas leituras de textos
didáticos. Já a indução de novos conhecimentos se faz através da
pesquisa em bibliotecas e laboratórios, onde os alunos são expostos e
induzidos a combinar, misturar, relacionar fatos e conhecimentos,
oportunizando o espírito inventivo.
Talvez a cozinha seja o melhor exemplo de um laboratório de
pesquisa. Um cozinheiro pode passar a vida inteira fazendo feijão, arroz,
salada e bife. Mas, se ele tiver espírito criativo e científico, ele poderá
imaginar novos cardápios a partir da combinação dos alimentos
tradicionais e da procura de novos ingredientes.
No Brasil, agitou-se pela primeira vez esse assunto no final do
século XVII, no Seminário de Olinda, em Pernambuco. E aqui é bom a
gente registrar que a educação escolar no Brasil Colonial não se limitou
aos jesuítas, embora eles representassem o ensino oficial do Rei e
estivessem presentes em todas as Capitanias. Outras ordens religiosas,
como os Beneditinos em seus mosteiros, os Franciscanos, Capuchinhos
e Carmelitas em seus conventos mantinham também escolas de
primeiras letras e aulas de estudos mais avançados. Também os padres
“seculares” ou diocesanos, organizaram as dioceses que foram sendo
criadas, os Seminários Episcopais, ou seja, institutos de formação de
novos sacerdotes: ali se ensinaram letras, filosofia e teologia. Não só
nas cidades do litoral, mas em Mariana, nas Minas Gerais, e em Cuiabá,
no Mato Grosso, se fundaram os Seminários Episcopais. O prédio do
antigo Seminário de Cuiabá existe até hoje, com suas paredes vetustas,
seus quatro metros de “pé direito”, suas salas amplas e corredores que
convidam ao estudo e à meditação.
Mas, o que aconteceu no Seminário de Olinda?
Foi uma revolução metodológica. Como já foi dito, os jesuítas
tinham uma proposta curricular chamada Ratio Studiorum, de onde
provinham os textos para serem estudados e decorados pelos alunos. A
verdade já estava estabelecida. Bastava estudá-la, penetrar em seu
sentido, e... decorá-la como um dogma infalível. Ora, a Europa estava
sendo sacudida pelas novas idéias dos iluministas franceses, dos
experimentalistas ingleses, dos racionalistas alemães, que começaram a
duvidar, duvidar, duvidar. Duvidar de tudo. E não era mudança só nas
idéias. As cabeças estavam rolando nas guilhotinas da Revolução
Francesa, que substituiu a nobreza feudal pela burguesia comercial e
industrial no comando da sociedade. Ora, os filhos da elite brasileira,
inclusive do clero, iam para a Europa estudar e voltavam agitados,
querendo revolucionar as idéias e a sociedade. Foi o tempo da
Inconfidência Mineira, e mais tarde, da Confederação do Equador, em
Pernambuco.
Assim, o Seminário de Olinda, começou uma revolução
pedagógica, introduzindo-se ali não somente bibliotecas e laboratórios
mas centrando-se os estudos na investigação científica. Vejam a
diferença: os jesuítas, com raras exceções, usavam os livros e as
experiências de laboratório para confirmar as verdades do Ratio
Studiorum: já no Seminário de Olinda se dizia que era preciso observar
a natureza, as reações de seus elementos, pesquisar os textos
contraditórios para fazer avançar a ciência e as letras. Daí que os
professores não fossem meros transmissores de verdades conhecidas,
mas pesquisadores e instigadores de pesquisa junto a seus alunos. O
que hoje parece reservado aos pesquisadores universitários, aos
“mestres” e “doutores”, em Olinda era fundamento e princípio da
pedagogia, desde os estudos “menores”. Pesquisar não era privilégio
de quem tivesse chegado à filosofia e à teologia, mas método de estudo
desde as primeiras letras e as primeiras contas. Parece até o
construtivismo moderno, não é verdade?
Mas não, era simplesmente o “cientificismo olindense”, que poucos
de nós conhecemos, porque infelizmente não temos oportunidade ou
não somos instigados a pesquisar, a ler, em nossas escolas.
Pena que este movimento de Olinda não se tenha propagado
pelos outros Seminários e pelas outras escolas. Lembremo-nos que
naquela época, até 1834, não havia “estabelecimentos” escolares, mas
professores régios dispersos. Seminário significa sementeira. Não só em
Olinda, como em outros seminários, se cultivaram futuros sacerdotes,
mas vingaram pouquíssimos cientistas. É que a indústria era proibida na
Colônia. E a ciência só progride se ela ganha a prática e se insere na
cadeia econômica da produção. De qualquer forma, é fundamental que
registremos este acontecimento singular: o professor não é somente o
que instrui, que transmite conhecimentos já aprendidos, mas o que
ensina o aluno a aprender, a pesquisar, a construir coletivamente o
conhecimento.

MONLEVADE, João. Lição 5 - O professor cientista. In: _______.


Treze lições sobre fazer-se educador no Brasil. Brasília: Idéa, 2001.
p. 27-29.

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