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Mas a decisão já fora tomada. Miki e sua equipe projetariam agora uma bomba
voadora. Um longo caminho de desespero havia finalmente chegado a um ponto
sem retorno. O alto comando das forças militares japonesas havia resistido
bravamente à idéia dos “ataques especiais” por causa das medonhas
conseqüências que a realização dessas operações teria na disciplina da tropa,
mas agora eles não tinham mais como resistir às demandas que sofriam para
fazerem algo de modo a parar os aliados. Mesmo a contra gosto, eles
autorizaram a criação do Corpo dos Deuses do Trovão, ao mesmo tempo em que
davam ordens para o desenvolvimento de uma aeronave especialmente
projetada para a missão. A primeira unidade japonesa Kamikaze com os Deuses
do Trovão, logo tornar-se-ia uma realidade, e pela primeira vez desde 1941, os
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pilotos japoneses dariam mais do que receberiam, a um custo agora, muito mais
elevado. A ofensiva Kamikaze japonesa realizada no final da 2ª Guerra Mundial
seria conhecida como uma lenda de determinação e ineficiência.
Os primeiros estrondos
A idéia de utilização dos Kamikazes não surgiu no Alto Comando das Forças
Armadas Imperiais, mas sim junto aos oficiais de baixa patente, quando
começaram a relatar atos espontâneos de pilotos que jogaram seus aviões
contra alvos aliados. O primeiro relatório oficial sobre o assunto, foi feito pelo
Captain Motoharu Okamura. Ele e seus superiores realizaram um inquérito e
chegaram a conclusão que era plausível o projeto de se atacar alvos aliados,
lançando as aeronaves contra os mesmos. Os investigadores, entretanto,
tinham certeza de que precisavam de apoio político de alto nível, para
prosseguirem com seus planos, e logo, conseguiram apoio de influentes
personalidades japonesas. Assim, o Programa Deuses do Trovão prosseguiu,
apesar de existir ainda, um baixo apoio. Em outubro de 1944, quando o Corpo
dos Deuses do Trovão foi oficialmente criado, o Vice-Admiral Takijiro Onishi,
novo comandante nas Filipinas, solicitou permissão para utilizar os foguetes-
bomba numa ofensiva Kamikaze. Recebeu permissão, com a ressalva de que
todos os participantes deveriam ser voluntários. Estavam criados agora, dois
programas de ataques suicidas: os Deuses do Trovão e os Kamikazes.
O programa de ataque especial foi um terrível divisor criado dentro das Forças
Armadas Japonesas. Muitos comandantes veteranos acreditavam que a idéia
era algo obsceno e que levaria a uma enorme quantidade de perdas de vidas
humanas por nada, embora não fossem contra o sacrifício da vida em combates
genuínos. O Lieutenant-Commander Goro Nonaka, foi um dos duros críticos do
projeto desde seu início. Ele era comandante de um grupo de bombardeiros
Betty, que atuariam como nave mãe dos foguetes, e do mesmo modo que Miki,
antecipou os problemas que encontrariam: o curto raio de ação do foguete-
bomba e a baixa velocidade da nave mãe. Esses dois fatores obrigavam aos
Betty, aproximar-se lentamente, dentro do campo visual dos navios americanos,
de modo a poderem lançar o Ohka que estava preso à sua fuselagem. Ele não via
como suas aeronaves poderiam realizar tais missões, e estava convencido de
que suas tripulações estavam tão sentenciadas quanto os pilotos dos Ohka.
Infelizmente, ele estava correto.
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As Filipinas
O Ohka
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Enquanto isso acontecia, os primeiros 100 voluntários do Corpo dos Deuses do
Trovão continuavam seu treinamento ao mesmo tempo em que os 150 foguetes-
bomba Ohka estavam terminando de serem construídos. O plano japonês era o
de enviar os Deuses do Trovão para as Filipinas e Formosa, mas a ação dos
porta-aviões americanos e dos submarinos impediu o movimento de navios nos
portos ao sul do Japão. A magnitude da ação americana era muito grande,
culminando com o afundamento do novo super porta-aviões japonês Shinano, no
dia 27 de novembro de 1944, que fez sepultar as últimas esperanças da aviação
naval nipônica como também os primeiros 50 Ohkas. Algumas semanas depois, o
porta-aviões Unryu também foi afundado, quando rumava para as Filipinas com
outros 30 foguetes-bomba, fazendo com que a ofensiva dos Deuses do Trovão
fosse adiada.
O primeiro ataque
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super-encouraçados Yamato e Musashi. Os Deuses do Trovão se uniram ao
Corpo de Ataque T, composto de pilotos kamikases que utilizavam caças e
caças-bombardeiros. Além das aeronaves convencionais, que realizavam a
maioria das missões, um total de 162 Ohkas, 108 Caças de Ataque T e diversos
bombardeiros médios, estavam disponíveis para realizarem o primeiro ataque
contra as forças americanas que se aproximavam de Okinawa.
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luz do dia. Essa informação era justificada pela interpretação errada do
resultado do ataque dos bombardeiros médios no dia anterior. Na realidade, a
frota americana e suas aeronaves haviam sofrido muito pouco e agora rumavam
para o sul, de modo a apoiar o desembarque em Okinawa.
Às 09:45 do dia 21 de março, o Almirante Ugaki deu ordens para que fosse
lançado o primeiro ataque dos Deuses do Trovão, mesmo que esse ataque não
fosse apoiado pelos ataques dos Kamikases. O Lieutenant-Commander Nonaka
ignorou as ordens recebidas para não participar do ataque, e após selecionar
sua tripulação, juntou-se as demais tripulações e participou da tradicional
cerimônia dos Deuses do Trovão. Os 18 bombardeiros Betty dispunham de
apenas 60 caças para escoltá-los, sendo metade desses tiveram que abortar a
missão por problemas de motores. Quando a formação desapareceu no
horizonte, nada mais se soube do ataque até a tarde daquele dia, quando dois
danificados caças Zeros retornaram e relataram o que havia acontecido. O
grupo principal foi interceptado por mais de 50 caças americanos, quando
estavam a mais de 60 milhas do alvo. A formação japonesa foi sub-julgada e em
menos de 10 minutos todos os bombardeiros foram derrubados ou tiveram que
ejetar seus Ohkas, numa tentativa de escapar. Nonaka foi visto pela última
vez, mergulhando junto com outros dois bombardeiros. Nunca mais se soube
coisa alguma da tripulação de Nonaka.
Houve muita celebração a bordo dos porta-aviões americanos, pois eles haviam
derrotado um grupo de bombardeiros especiais que carregavam algo estranho
sob suas fuselagens. Independente do que fossem, os americanos estavam
felizes pois haviam conseguido impedir que as aeronaves japonesas chegassem
próximas a seus porta-aviões.
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americana. A ofensiva iniciou-se no dia 6 de abril, com a Operação Kikusui Nº 1,
que pode ser considerada a maior, a mais bem coordenada e a com melhor
protegida missão suicida da guerra. Cedo pela manhã, quatro esquadrilhas de
caças sobrevoaram Okinawa, desafiando os americanos, enquanto outras
aeronaves lançavam tiras metálicas para bloquear os radares aliados. Logo em
seguida, 60 aeronaves convencionais da Marinha Japonesa juntamente com 18
caças-bombardeiros do Esquadrão de Kemmu atacaram. A cortina de fogo da
anti-aérea, agora freqüente na defasa da frota americana, conseguiu manter as
aeronaves à distância, com exceção de quatro, que conseguiram atacar os
navios. Logo após o meio dia, outras 210 aeronaves foram lançadas, sendo que
50% delas foram destruídas ou obrigadas a retornar, ação esta realizada pela
agora fatigada cobertura de caça americana. As demais aeronaves atacaram os
navios americanos que estavam ancorados, resultando no mais dramático e
intenso ataque aéreo jamais realizado. Cerca de duas dúzias de aeronaves do
Esquadrão dos Deuses do Travão de Kemmu, conseguiram atingir os destroiers,
os varredores de minas, os transportes e outros navios maiores. No dia
seguinte, enquanto que os porta-aviões americanos estavam preocupados com a
aproximação do encouraçado Yamato e de sua escolta, outras 110 aeronaves
juntamente com 12 bombardeiros de Kemmu, atacaram, causando mais danos.
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afundando-o e matando um terço da tripulação. Três outros Ohkas também
atingiram seus alvos, embora sem afundar seus alvos.
O Bunker Hill
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Quatro outros ataques especiais ocorreram no mês de maio e junho. Conforme
as tropas americanas cercavam os últimos japoneses na ilha de Okinawa, a
última Operação Kikusui foi realizada, a de nº 7, mas que foi um completo
fracasso. Os japoneses dispunham de poucas aeronaves e as que se
aproximaram da frota americana foram derrubadas ou forçadas a dar meia
volta. Esta foi a última operação oficial dos Deuses do Trovão. Quando os
japoneses perceberam que Okinawa estava perdida, todos os ataques cessaram,
pois os esforços iriam ser concentrados na defesa do território pátrio.
Em agosto, o Corpo dos Deuses do Trovão foi espalhado por outras unidades,
enquanto era esperada a produção de uma nova bomba foguete, que entre
outras melhorias, teria um alcance maior, evitando que os bombardeiros que a
carregavam, tivessem que se aproximar muito da frota americana. Muitos
homens estavam agora a beira de um enorme stress emocional, pois haviam
voado diversas missões, estiveram próximos a morte mas tiveram que retornar
por problemas mecânicos ou dano de combate dos Betty que os carregava.
Alguns pilotos, como por exemplo, Keisuke Yamamura, realizaram três missões,
todas as três abortadas, e agora ele utilizava uma faixa declarendo sua
determinação de morrer pela pátria, como parte de seu uniforme.
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começou-se a pensar numa forma de negociação com os aliados, mas a maioria
queria lutar até o último homem, sem qualquer outra alternativa sendo
considerada.
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Na noite do dia 19 de agosto, o Vice-Almirante Kusaka, chamou todos os
comandantes do 5º Coprpo para uma reunião. Ao entrar na sala, percebeu que
todos os presentes encontravam-se vestidos com seus uniformes de gala e com
suas espadas de samurai. Ele acreditou que seria morto imediatamente. Seu
Chefe de Estado maior anunciou que oficialmente o Imperador, por decisão
própria, havia decidido por fim a guerra. O burburinho entre os presentes foi
total. Kusaka subiu ao púpito e falou a todos: Como seu comandante, vim até
Kyushu com o firme propósito de morrer junto com vocês. Entretanto,
continuar a lutar ou parar, é objeto do mandato imperial. Se o Imperador falou
para pararmos de lutar, eu devo fazer de tudo para fazer com que a guerra
termina. Espero que vocês entendam e cooperem. Ao mesmo tempo, sei que
alguns de vocês pensam de modo diferente, mas eu não vou mudar de posição.
Se algum de vocês não concorda com esse posicionamento, mate-me. Eu estou
pronto para morrer. Faça-o imediatamente. Ele então, sentou-se e fechou os
olhos.
O Vice-almirante Kusaka foi poupado por seus oficiais naquela noite, e nos dias
e semanas seguintes, a 5ª Força Aérea foi sendo desmobilizada lentamente. Os
homens de Kusaka receberam algum dinheiro, e então voaram para as bases
aéreas mais próximas de suas cidades de origem. Ironicamente, os métodos
pelos quais a guerra terminou eram os já previstos por ambos os lados. A
maioria dos oficiais japonêses considerou que eles tinham sido traídos, e que a
real batalha teria acontecido em terra japonesa. Mais recentemente, os
Estados Unidos questionaram a utilização de armas nucleares e acreditando 50
anos depois que a guerra teria acabado de qualquer maneira. Entretanto, lendo
os relatórios dos oficiais da Marinha Imperial, está claro que mesmo com o a
utilização das bombas atômicas e com a declaração de guerra soviética, o
Imperador só teve algum sucesso desmobilizando seus próprios oficiais. Se a
situação tivesse estado menos desesperadora, as ordens para cessar as
hostilidades poderiam ter sido sumariamente ignorados por grandes segmentos
dos oficiais do corpo de exército e assim poderia ter sido ativada uma
desconhecida, mas provavelmente trágica série de eventos.
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famílias. Eles podem não ter aprovado a situação na ocasião, mas os milhares de
jovens americanos que achavam iminente a invasão do Japão, consideraram o
fim da guerra como a maior ação que poupou muitas vidas, de ambos os lados.
Os antigos Deuses de Trovão ainda se encontram anualmente, no Santuário de
Yasukuni, todo dia 21 de março, a data da morte do Comandante Nonaka.
Surpreendentemente, até mesmo um Ohka sobrevive. Ele agora está suspenso
no teto do Memorial da Marinha de Estados Unidos em Washington D.C.
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