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Patrícia, Wanderson...
Portanto, é dever também das igrejas, como parte da sociedade, antes mesmo que
do poder público, assegurar a efetivação dos direitos das crianças e dos
adolescentes quando a família não consegue fazê-lo.
Este pequeno artigo tentará demonstrar como a igreja pode assegurar a efetivação
dos direitos das crianças e dos adolescentes a partir da realidade do Rio de Janeiro
atual em uma perspectiva de missão integral.
Não é possível amar alguém sem conhecê-lo. Não é possível conhecer alguém sem
relacionar-se com ele. João conhecia e relacionava-se com as pessoas que lhe
perguntaram o que fazer para serem batizadas. Por isso, pôde responder a cada um
de uma forma diferente para que todos pudessem chegar ao mesmo lugar.
Conhecer as pessoas para saber como testemunhar o evangelho a cada uma delas
não é a estratégia mais utilizada pela maioria das igrejas. O propósito do paradigma
de missão ainda dominante2 nas igrejas do Rio de Janeiro atualmente é salvar
almas.3 Este paradigma tradicional de missão resulta em algumas dicotomias que
têem um efeito negativo sobre a igreja. Dentre eles, a pouca importância dada aos
leigos da igreja e assim à sua atuação na igreja local. De acordo com este
paradigma cabe à igreja local sustentar os missionários, especialmente em missões
transculturais. Desta forma a igreja local não dispensa os mesmos esforços para
conhecer a realidade de sua própria comunidade.
1 Fundación Kairós. Iglesia, comunidad y cambio – Manual de Atividades. Buenos Aires: Kairós
Ediciones, 2002, p. 33.
2 Ainda que esta predominância venha perdendo força atualmente, esta ainda têm sido a prática
das igrejas, especialmente aquelas instaladas no Brasil a partir da intervenção das sociedades
missionárias da Europa e Estados Unidos.
3 Padilla, René. What is integral mission? In: http://integral-mission.org, 15/02/2007, p. 2.
O paradigma da missão integral privilegiará testemunhar o Reino de Deus a partir da
realidade daqueles para os quais está sendo dado o testemunho.4 De acordo com
este paradigma, a missão da igreja é testemunhar o evangelho para um homem ou
mulher que vive em um dado lugar, em um dado contexto histórico e social.
Nas últimas semanas o principal assunto da cidade, e talvez do Brasil, foi a morte
brutal do menino João Hélio. Estamos todos discutindo como evitar outras mortes
como esta. Melhora da polícia e da justiça, endurecimento da lei, etc. É verdade que
o poder público (executivo, judiciário e legislativo) precisa reformar-se para ter maior
efetividade no enfrentamento desta questão. Mas a sociedade também precisa fazer
a sua parte, não apenas reinvidicando melhorias por parte do poder público ou
formulando soluções para serem executadas pelo próprio poder público, mas
desenvolvendo ações que promovam uma cultura de paz e diminua a violência.
O título deste artigo apresenta alguns nomes de crianças e adolescentes que vivem
ou viveram nas ruas, com exceção do João Hélio. São meninos e meninas que eu
tive a oportunidade de atender algum dia e que precisam ter garantidos os seus
direitos ao respeito, à saúde, à educação, à convivência familiar e comunitária e a
tantos outros. São meninos e meninas iguais aos seus filhos e filhas, iguais a João
Hélio, mas que pelas circunstâncias que vivem podem algum dia tornarem-se como
os assassinos de João.
Como fazer para que entendam o evangelho? João Batista conhecia os soldados e
por isso pôde dizer o que eles precisavam fazer para serem salvos. Jesus conhecia
o coração do jovem rico que também procurava a salvação, mas não estava
disposto a se desfazer dos seus muitos bens (Lucas 18). O que conhecemos da vida
das crianças e dos adolescentes que vivem na rua para que lhes demos testemunho
do evangelho? O que conhecemos da vida dos assassinos de João Hélio para que
Claro, para conhecermos esses meninos e meninas precisamos ir até eles. Não
apenas para dizer o que têm que fazer, mas verdadeiramente para entendermos
suas angústias e prazeres, para que possamos amá-los de modo que esse amor – o
amor de Deus – possa transformá-los.
Precisamos ir até as ruas para nos aproximarmos deles. Precisamos recebê-los com
amor, respeito e carinho nas igrejas (casa de Deus e não nossa). Precisamos ajudá-
los a terem um lar.
Quando uma criança ou adolescente vive na rua é porque seus pais não tiveram
condições de lhes prover tudo o que é necessário ao seu desenvolvimento. Assim,
garantir seu direito à convivência familiar e comunitária passa necessariamente pelo
atendimento à sua família. Acontece que em algumas situações a incapacidade da
família em garantir o desenvolvimento de seus filhos representa um risco para essas
crianças e adolescentes. Nesses casos não é prudente manter sob a guarda desta
família seus próprios filhos. O Projeto Família Acolhedora prevê que uma outra
família – chamada família acolhedora – acolha estas crianças e adolescentes por um
certo período, enquanto que um(a) assistente social e um(a) psicólogo(a) trabalham
com a família de origem, os filhos e a família acolhedora de modo a garantir que as
crianças e adolescentes possam voltar à família de origem.
Esse projeto costuma ser desenvolvido pelo poder público, que normalmente paga
uma ajuda de custo às famílias acolhedoras. Isto é um limitador para que haja mais
vagas para as crianças e adolescentes que vivem nas ruas; ainda que o custo do
projeto seja inferior ao custo de manutenção de um abrigo. É certo que muitas
famílias que congregam nas igrejas do Rio de Janeiro poderiam acolher essas
crianças e adolescentes sem precisar receber qualquer ajuda de custo. As igrejas
poderiam contratar profissionais (assistente social e psicólogo) devidamente
capacitados para esse trabalho e ajudar a retirar dezenas de crianças e
adolescentes das ruas de nosso estado.
Meu objetivo aqui não é detalhar como funciona o projeto, mas simplemente
encorajar as igrejas a conhecê-lo melhor6 e refletir sobre a possibilidade de adotá-lo
5 Para conhecer melhor o projeto Família Acolhedora, acesse o site
http://www.terradoshomens.org.br
6 Qualquer iniciativa para implantar este projeto ou qualquer outro que envolva a guarda de crianças
e adolescentes precisará passar por uma articulação com o juizado da infância e juventude de sua
cidade.
como uma ferramenta importante no cumprimento de sua missão. Outros projetos
têm sido desenvolvidos por igrejas e organizações evangélicas para atenderem
crianças e adolescentes em situação de rua com bons resultados. Aproveito para
destacar o Projeto Calçada da Lifewords Brasil7. Contudo, preferi apresentar o
Projeto Família Acolhedora em razão da sua efetividade, da capacidade que as
igrejas têm de popularizá-lo, do seu potencial para aproximar as igrejas das crianças
e adolescentes que vivem nas ruas e por ainda ser desconhecido da maioria das
igrejas.
Que a igreja no estado do Rio de Janeiro reflita sobre a realidade das pessoas em
seu redor e encontre formas criativas de testemunhar o evangelho todo, para todo o
homem, mulher, criança e adolescente, integralmente. Para que o mundo e, em
especial o Rio de Janeiro ouça a voz de Deus.
Referências bibliográficas
Associação Brasileira Terra dos Homens. Trabalho social com Família. Booklink,
2002.