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ESCOLA SUPERIOR DE GEOPOLÍTICA E ESTRATÉGIA

Reunião Mensal de Atualização e Debate – 25/07/2002


TUDO É RELATIVO: Uma falácia
.

TUDO É RELATIVO: UMA FALÁCIA


O problema da organização do trabalho intelectual

1. Estamos observando que, numa redução dogmática, produto de falta de


conhecimentos adequados, Einstein está sendo utilizado de forma completamente
errônea, no que deve ser um debate inteligente de idéias.
Assim, quando um opositor não dispõe de argumentação, sobre o seu ponto de
vista, político – ideológico – econômico – administrativo, simplesmente sai pela
tangente: “Einstein já dizia que tudo é relativo”.
Alguns, mais afoitos até acrescentam: “tudo é relativo; emc 2”...
Queremos, nesta palestra, deixar claro que o trabalho de Einstein se refere ao
campo das ciências exatas e não pode ser extrapolado para nenhum outro campo, seja
nas chamadas ciências sociais seja para as humanidades.

2. O método que vamos adotar é o clássico, ou seja, vamos identificar o


significado das palavras, das expressões, das teorias ou hipóteses, dar suas origens e
posições no campo do conhecimento humano e, posteriormente, fornecer algumas
indicações, que julgamos válida, para a problemática da organização do trabalho
intelectual.

3. Dito isto, o primeiro ponto que devemos abordar é, naturalmente, a definição


de falácia.
O que significa a palavra e o que queremos, portanto, dizer no título deste
trabalho? Falaz, do latim fallace quer dizer enganador, ardiloso ou, ainda, fraudulento.
Assim, é um engano, por vezes um ardil e, muitas vezes, completa fraude, a
invocação da Relatividade de Einstein no discurso vulgar.

4. Além disto, a utilização desta expressão denota completa ausência de


capacidade crítica e lógica.
Senão, vejamos:
O que é relativo?
Do latim “relativu”, quer dizer, precisamente, o que indica relação, ou seja, algo
que se julga por comparação.
Assim sendo, não pode existir lógica na expressão “tudo é relativo” (e nem
Einstein jamais disse ou insinuou uma estultice desta ordem), por uma simples razão:

Para algo ser relativo tem que existir o ponto de comparação, ao qual, tomado
como padrão, podemos afirmar: isto é assim em relação àquilo.

Mas, simplesmente tudo é relativo não faz sentido, pois tudo é relativo em
relação a que?

5. Assim, observamos que os que usam tal artifício falacioso, estão tentando, na
verdade, fugir ao problema da comparação ou, pior ainda, ao problema de uma escala de
valores. Em última análise ao que é bom ou o que é mal. Vemos-nos, assim, que a
questão é muito profunda e de ordem filosófica.

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6. Antes de entrarmos, porém, nesta questão, extremamente delicada, convém
esclarecer que existem vários ângulos para examinar a questão da Relatividade, a saber:
a) O relativismo filosófico
b) A Relatividade de Einstein
c) O relativismo cultural
d) O Multiculturalismo

7. Como é sabido, Einstein trabalhava com ciências exatas, isto é, aquelas que
formulam hipóteses de trabalho que, sendo testadas na prática (em laboratório ou na
natureza) se revelam (ou não) verdadeiras.
Quando isto se dá, a hipótese passa ao nível da teoria, sendo a teoria uma forma
válida e aceita para a explicação da natureza (ou de fenômenos da natureza).
Einstein, quando lançou seu trabalho, foi muito modesto e, também, muito claro.
Em 1936, a revista “New Democracy” encomendou um artigo a Einstein para divulgar
suas idéias. Na época, várias observações em laboratório e na natureza, já haviam
demonstrado que as idéias de Einstein (suas hipóteses) eram corretas.
Ainda assim ele escreveu: “9. O principal atrativo da (minha) teoria é que
constitui um todo lógico. Se uma só de suas conseqüências mostrar-se inexata, deverá
ser abandonada. Qualquer modificação parece impossível sem comover todo o edifício.”
(reproduzido por Rômulo Argentiére em “Espaço, Tempo e Matéria”, Edições Pinçar,
SP, 1958, apêndice).
Einstein deixou claro que só se reconhece o movimento de um corpo pela
mudança de posição em relação a outro corpo. O movimento é, assim, um estado
relativo a um referencial. Falar do movimento de um corpo isolado só faz sentido
quando existe algum sistema de referência com o qual se possa fazer uma comparação.
(Einstein escreveu, precisamente, o seguinte: “todo corpo que sirva de referência, ou
todo o sistema de coordenadas, tem o seu tempo particular; a não ser que nos digam
qual o sistema de referência a que se relaciona o tempo de que falamos, carecerá de
sentido a expressão do tempo de um acontecimento.”).
Portanto, o que Einstein nos diz é que o tempo e o espaço são grandezas inter-
relativas, uma não podendo existir sem a outra e o seu propósito é estabelecer, na
natureza, leis que sejam invariantes, em relação ao sistema de referência adotado ou
seja, leis que não variam, pelo contrário são as mesmas, em relação a qualquer
referencial que tomemos como ponto de comparação ou de partida ou de chegada.
Ou seja, o espaço, para ser percorrido, demanda tempo, pois os objetivos estão
separados (neste espaço) uns dos outros. Ao sairmos de um ponto para o outro, temos os
referenciais e só então é que faz sentido dizer que nos movemos a tal velocidade e
chegamos a tal distância do ponto (ou pontos) que tomamos como referência.
Sendo a luz a velocidade máxima conhecida e sendo as leis da física as mesmas
(em princípio) em qualquer do Universo, o princípio de Einstein, batizado de
Relatividade, na verdade deveria ser chamado de Teoria da Invariância.
Aliás, Einstein se arrependia da popularização da palavra “relatividade” para os
seus trabalhos.
Como é sabido, a expressão “Teoria da Relatividade” foi colocada no subtítulo
da comunicação de Einstein por Max Planck afamado físico alemão (1858-1947) que
desenvolveu a Teoria Quântica e por Abraham, outro revisor de seu trabalho publicado
no Annalem der Physik, em 1906.
Einstein nunca simpatizou com isto e sempre se referia à invariância. Vejam
bem: o oposto – quase podemos dizer – de relativo! É que ele visava, como vimos,

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determinar que no espaço-tempo, tomado um referencial, as leis da física sempre se
aplicarão da mesma forma.
Um correspondente de Einstein (e ele tinha muitos, em todo o mundo), lhe
escreveu em 1921, para indagar sobre este ponto e Einstein respondeu:

“Agora no que diz respeito à expressão “teoria da relatividade” admitivo que é


(uma expressão) infeliz e tem dado azo a erros de natureza filosófica. A
descrição que propõe seria talvez melhor, mas penso que iria provocar confusões
mudar agora o nome que já está aceito há tanto tempo” (carta a E. Zschimmer,
30 de setembro de 1921, citado em Gerald Holton, na parte “O legado de
Einstein” em “A ciência e seus inimigos”, Gradiva, Lisboa, 1998).

8. Sabemos que Planck e Abraham teriam empregado esta expressão porque a


relatividade já era conhecida pelas experiências de Galileu e pelas leis newtonianas. E,
de ato, Einstein, detestava ser chamado de “revolucionário”. Ele afirmava que, apenas
(sic!) aperfeiçoara os conhecimentos da física, com suas contribuições...

9. Não iremos entrar em detalhes sobre os diversos aspectos da relatividade, por


ser uma questão de física e, em última análise, de cosmologia, entre outros pontos, mas
é bom lembrar que existem:
a) Teoria da Relatividade Especial ou Restrita (1905)
b) Teoria da Relatividade Geral (ou generalizada, de 1915).
c) Relatividade Galileana (duas experiências idênticas, resultados
idênticos).
d) Relativístico (o que se aproxima da velocidade da luz)

10. Einstein, portanto, tinha pleno conhecimento que a Teoria da Relatividade


podia ser explorada, inclusive inescrupulosamente, em outras áreas do conhecimento e,
inclusive, podia provocar erros filosóficos.
Isto porque existe, em filosofia, desde a antiguidade, a idéia do Relativismo, que
faz parte do Idealismo, tudo parte da Metafísica.
Como diz a palavra, a Metafísica é aquilo que está além do mundo físico, ou
seja, do mundo material. Portanto, não pode ser medido ou pesado ou objeto de leis da
ciência, já que não tem existência objetiva. Neste domínio, a opinião pessoal é
perfeitamente possível e aceitável.
Já Protágoras, da Escola Sofista (458-411 ANE), dito de Abdera, onde nasceu,
dizia que o homem é a medida de todas as coisas, isto é, o homem reduz tudo ou mede
tudo à sua medida e assim, elas são para cada um aquilo que lhe parecem.
É possível que isto tenha sido escrito ao tempo de Sócrates, de quem foi
contemporâneo e, como se verifica, é uma afirmação negativista ou, até, nihilista.
Seja como for, foi incorporada aos princípios do Idealismo, que é a doutrina que
nega a realidade das coisas, tal como nós a concebemos, já que sustenta a relatividade
do conhecimento quanto ao sujeito.
Esta relatividade é dividida, dentro do Relativismo Filosófico em:
1. Relativismo subjetivo
2. Relativismo objetivo ou positivismo.
No primeiro caso, nega-se a possibilidade de atingir o Absoluto, por parte do
sujeito, já que se diz que ele nada pode conhecer absolutamente. A Escola Kantiana e
seu chamado Criticismo fazem parte desta visão do mundo.

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Já o Relativismo subjetivo afirma a impossibilidade de atingir o Absoluto, por
parte do objeto (do material), que seria, por sua natureza incognoscível.
Kant, em resumo, dizia o seguinte: “o mundo exterior só produz a matéria da
sensação, mas o nosso espelho mental ordena está matéria no espaço e no tempo e
proporciona os conceitos por meio dos quais compreendemos a experiência. As coisas
em si mesmas, que são as causas de nossas sensações, são incognoscíveis; não estão no
espaço nem no tempo, não são substâncias, nem podem ser descritas por nenhum dos
conceitos gerais que Kant chama “categorias”.” (cf. Bertrand Russel, História da
Filosofia Ocidental, vol. 3º, p. 264, Com. Ed. Nacional, SP, 1957).
Augusto Comte renuncia de antemão a qualquer tentativa de atingir o Absoluto
ou as “causas primeiras”. Em seu “positivismo” sustenta que o conhecimento humano é
limitado exclusivamente aos fenômenos e que mesmo este conhecimento é relativo. É
neste sentido que ele entra no relativismo, dito “objetivo”.
Na verdade, Comte, que parecia pender para a ciência, caiu num cientificismo e
terminou fundando uma Igreja, chamada, precisamente de Positivista, onde prenunciava
um futuro idealista em que reinariam os “sábios”, que seriam os sacerdotes desta sua
Igreja. Nesta doutrina, que seria também Trinaria (a religião da Humanidade) haveria o
seguinte esquema/culto:
1º - O Grande Ser (a humanidade)
2º - O Grande Fetiche (o planeta Terra)
3º - O Grande Meio (o Espaço Exterior)
Quando tudo tiver amadurecido, o mundo seria unificado em um só Estado
(Governo Mundial) e estas “nações unidas” teriam uma Igreja, cujo Papa residiria em
Paris. Comte criou templos por todo o mundo e ainda existe e funciona esta Igreja no
Brasil, um dos únicos países do mundo que ainda possui remanescentes de suas idéias
extravagantes, sendo o dístico de nossa bandeira, uma das frases sintetizadas de Comte
(a ordem por base e o progresso por fim).

11. Existe, portanto, anteriormente ao trabalho de Einstein uma corrente em


filosofia que afirma que o conhecimento é relativo. Mas isto vem do tempo em que a
Filosofia era a maneira de pensar o Universo e tentar explicá-lo. Anterior, portanto, ao
método científico e ao desenvolvimento tecnológico que permitiu a construção de
aparelhagens sofisticadas e poderosas, com as quais os cientistas conseguem, cada vez
mais, penetrar nos segredos da natureza, explicá-los, produzir leis que prevem o
funcionamento desta mesma natureza.
Ou seja, hoje, o relativismo só pode ser aplicado, realmente, aos problemas de
Metafísica, no sentido religioso desta palavra, isto é, sobre a existência de deuses,
demônios ou outros seres ou entidades imateriais, como a alma, por exemplo.
Assim, o relativismo não pode nem deve ser confundido com a Teoria da
Relatividade e nem deve ser empregado em debates ou argumentações quando estamos
tratando do mundo real, aí incluídas as relações políticas e econômicas.
Ou existe conhecimento nestes campos ou não existe, por parte do
argumentador. Não se pode é fugir ao debate informado pelo simples expediente de
afirmar “está é minha opinião”.

12. Está questão de “opiniática”, da prevalência da “opinião” ou de formar juízo


sem conhecimento suficiente é uma característica muito popular e deu origem ao
problema nacional do “achismo”, em que todo o conhecimento objetivo é substituído
pelo simples “eu acho que”.

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Observe-se o uso do “eu”. É importante, para fins de análise: recorda-nos a velha
posição de Protágoras (as coisas são, para cada um, aquilo que lhe parecem).
É evidente que tal maneira de pensar ou se pronunciar exprime um imenso
desprezo pelo conhecimento e isto está completamente em desacordo com os tempos
atuais, que são definidos como a Era da Informação e do Conhecimento.
Por definição: opinião é uma idéia sem fundamento, a presunção e opiniático
vem de opinioso, quer dizer aferrado “a sua opinião ou, ainda, obstinado, caprichoso e
teimoso ou, até mesmo, no extremo: vaidoso, presunçoso, orgulhoso. (Novo Dicionário
Aurélio).
Assim, aquele que, num debate utiliza o recurso do “tudo é relativo” nada mais
faz do que manifestar insuficiência de conhecimento de causa, além de invocar Einstein,
de forma direta ou indireta, para se cobrir de um pseudo manto de “saber científico, para
está posição.".

13. Em parte essas idéias foram retomadas num campo do conhecimento


científico, no sentido de conhecimento sistematizado, que é a Antropologia, com o
surgimento da Escola dita do “Relativismo Cultural”.
O relativismo cultural é uma corrente recente na Antropologia Cultural que
afirma que não devemos falar em “sociedades inferiores” ou “superiores”, pois cada
sociedade é caracterizada por seus próprios elementos culturais, ou seja, ela possui sua
própria ordem de valores. Assim, a ordem de valores de uma não poderia ser comparada
com outra em termos de superioridade ou inferioridade. Em última análise, todos seriam
“iguais”, quanto ao valor de seus elementos culturais. Esta doutrina, que surgiu
fortemente entre a escola antropológica francesa, depois inglesa e, finalmente, foi
absorvida pela norte-americana é, no entanto, não tanto Antropologia mas mais uma
doutrina ética, ou seja, uma questão, em última análise, de filosofia. Os autores
americanos, como Victor F. Ayoub, do Antioch College, no capítulo sobre estudos de
valores, no importante manual sobre antropologia cultural de Clifton, embora coloque
está questão do relativismo com toda a simpatia, não deixa de frisar que “cultural
relativism does not, then, resolve the problem of making comparatative judgments of
value between cultures. It promotes the inclination to ignore it. Only a few years ago
the phrase cultural relativism was popular in the literature.... It was a topic much
discussed… comparative judgments are inevitable… (Introduction to Cultural
Antropology, James A. Clifton, org., H. Mifflin, NY, 1968, p. 268/269).
Na verdade esta questão está dentro do contexto de uma “crítica da
antropologia” que se corporifica ao final dos anos 60, depois dos movimentos de revolta
estudantil e ganha seus primeiros textos na França. Em especial, marca época o livro de
Gerard Lecler, “Antropologia e Colonialismo”, resultado de sua tese de doutorado sob
a direção do professor Georges Balandier, onde o autor começa com uma nota onde
afirma: “os objetivos do presente trabalho ressentem-se do fato de não levar em conta
todos os trabalhos que envolvem o campo de sua problemática, bem como dos
aperfeiçoamentos ideológicos e políticos que frequentemente ultrapassaram os seus
conteúdos crítico.” Portanto, não estamos diante de uma tese verdadeiramente de
antropologia, mas de posição político-ideológica contra o colonialismo, sob o manto de
“antropologia cultural”. O tradutor da edição portuguesa, Dr. Fernando Bello Pinheiro,
colocou, por sinal, a seguinte nota: “aceitemos ou não a mitologia que Leclerc
empregou, merece certamente... ser considerado um acontecimento importante no
mundo da antropoogia...” (Crítica da Antropologia: ensaio acerca da história do
africanismo, Editorial Estampa, Lisboa, 1973.)

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Este trabalho vai na linha do modismo cultural que foi a questão do chamado
“estruturalismo”, na linha de Claude Levy-Strauss e muitos outros e se trata, antes de
mais nada, de combate política, que extravasou e negou o conceito que até então existia
de um progresso social ou evolução social, como dizia Vincent Gordon Childe.
Como todos sabem, autores antigos, em especial Lewis Henri Morgan e, depois,
Friedrich Engels, trataram da questão da evolução das sociedades, como um conjunto,
partindo de estágios mais atrasados para outros mais evoluídos, seja em organização
social seja em domínio do meio-ambiente.
As principais classificações em arqueologia, como é sabido, datam de 1816,
quando Christian Thomsem introduziu as três idades, a da Pedra, do Bronze e do Ferro,
mais tarde aperfeiçoada para Idade da Pedra Lascada e Pedra Polida. Isto foi transposto
por Morgan para um esquema mais geral, que ele transpôs para Selvageria, Barbárie e
Civilização, criando subdivisões para os dois primeiros períodos em inferior, média e
superior.
O esquema geral é o seguinte:

QUADRO 1
Fases de Evolução de Morgan
(para ser lido de baixo para cima)

Fases Exemplo Cultural Características Marcantes


Civilização Europeus, americanos Começa depois da invenção
do alfabeto

Barbárie superior Gregos antigos Começa com o uso do ferro.


Barbárie média Índios Zuni e Hopi Começa com a
domesticação dos animais e
plantas
Barbárie inferior Índios iroqueses Começa com a invenção da
cerâmica.
Selvajaria superior polinésios Começa com o uso do arco
e flecha.
Selvajaria média Aborígines australianos Começa com a dieta de
peixe, uso do fogo e da fala.
Selvajaria inferior Não há exemplos Antes da invenção do fogo e
conhecidos. da fala.

Tomamos este quadro de “Iniciação ao estudo da antropologia”, de Pertti J.


Pelto, Zahar, Rio, 1967, p. 32, por ser mais facilmente reproduzível que os do trabalho
de Morgan (A Sociedade Primitiva, Editorial Presença, Lisboa, 2 volumes, 1973, 1974.
Gordon Childe: “até que ponto esse esquema observável realmente proporciona
uma base para um esquema lógico? Comparemos as culturas homotaxiais – isto é,
culturas que ocupam as mesmas posições relativas nas diversas seqüências observadas –
para verificarmos se as semelhanças entre elas podem ser generalizadas como fases da
evolução cultural da sociedade...” e, responde, mais adiante: “a arqueologia pode
estabelecer as seqüências das culturas nas diversas regiões naturais. E essas culturas
representam sociedades, ou fases, no desenvolvimento das sociedades. Potencialmente,
portanto, as seqüências arqueológicas revelam a ordem cronológica na qual as formas
de sociedades surgiram historicamente.” E diz, nas conclusões, depois de

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exemplificações e análises: “ o conceito da evolução cultural como processo racional e
inteligível foi comprovado...” (p. 164 in Evolução Social, em especial “teoria
evolucionária em etnografia”. Zahar, RJ, 1961.).
Negar que existia uma evolução social e que, portanto, haja validade científica
em dizer que todas as sociedades tem o mesmo valor, é negar a própria noção de
progresso. E isto, para a sociedade ocidental, que retira sua força precisamente da
noção de avanço científico progressivo é um grande erro.
Isto não quer dizer que se deva desprezar as sociedades que, em seus nichos
ecológicos específicos, não tiveram oportunidade de evoluir. Elas apresentam a melhor
capacidade de adaptação ao meio que o homem pode encontrar, naquelas determinadas
condições.
Entretanto, é fora de qualquer dúvida, nos parece, que existe uma complexidade,
produto de uma evolução, no tecido social e que esta complexidade é a resultante de
uma evolução social e de um progresso técnico.
O que ocorre nas sociedades mais simples ( ou “primitivas”) é que este sentido
para o avanço, a modificação é travado, geralmente, porque a luta pela sobrevivência
cotidiana não lhes permite ir além do ponto onde se encontram. Louvar isto como ideal,
entretanto, é atacar a nossa própria Civilização e seus fundamentos e não sei se isto é
prudente. Ao contrário, parece-me muito perigoso.
Como poderíamos negar, por exemplo, o esquema clássico de hierarquias
funcionais, base da própria organização, como um todo, muito bem expresso no
seguinte esquema:

Comunidad
de naciones

Confederación Federación Império

Mitad
Tribu o nación

Fratría Distrito

Clan Banda

Campamento o aldea
(Grupo local)

Linaje Casa
Principio genealógico Principio territorial Principio assocional

Fig. 28-1. Jerarquía de las unidades de la organización político-social


según los princípios dominantes.

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Tomamos este esquema de “El hombre em el mundo primitivo”, de E. Adanson
Hoebel, Omega, Barcelona, 1961, p.534.
Como se sabe, nos últimos quarenta anos, tem se desenvolvido congressos de
estudos sobre as estruturas hierárquicas, em que se discute a questão de a natureza
evoluir do simples para o complexo e, muitos estudiosos, são de opinião que esta
mesma escalada se dá no plano social.
Não podemos, hoje e aqui, analisar as estruturas hierárquicas, mas o esquema
acima, de Adanson, nos dá uma idéia disto.
O relativismo cultural, portanto, é um modismo e uma doutrina de cunho
político-ideológico, que acabou levando ao problema do Multiculturalismo.

14. O Multiculturalismo é uma tendência muito norte-americana, que extravasou


para o mundo sub-desenvolvido, que tenta rejeitar os valores da sociedade ocidental e,
mais especificamente, da própria sociedade americana.
Ele se baseia num conceito de identidade de grupo que é oposto ao de identidade
nacional, afirmando que os não-brancos, os homossexuais e, no extremo, as mulheres
são grupos discriminados não reconhecidos na cultura corrente. Ele tem o seu que de
relativismo, ao afirmar que, por exemplo, a minoria homossexual tem tanto valor
cultural, antropológico, como a maioria heterossexual ( sociologicamente falando, isto
é, a norma prevalecente dentro das sociedades) e terminou por pretender reescrever a
história. A motivação político-ideológica do multiculturalismo é a seguinte:

“A história como diversidade, então, vem a significar uma exclusão inversa:


tirando brancos anglo-saxões do sexo masculino e sua instituições e memória...
construímos a multiculturalidade...” “as pessoas precisam aprender a optar por uma
cidadania cultural, na qual prevalece uma identidade de subgrupo... cidadania cultural
significa uma comunidade de oprimidos e de que os Estados Unidos é um símbolo de
repressão “ é necessário participar da “solidariedade internacional das mulheres” ()...
enfim, se criam entidades ditas contra-hegemônicas... basta ser reconhecido como um
oprimido para gerar um ego anti-ocidental e genocídio cultural é o processo de
integração de minorias e migrantes na nova sociedade que se criou (no caso os Estados
Unidos e sua identidade americana, aqui, o Brasil e a identidade brasileira, que seria
negada, como já se faz, por um afro-brasileiro, os índios como verdadeiros brasileiros
originais, etc, etc).

Em “A idéia da decadência na História Ocidental”, o professor Arthur Herman


analisa estas e outras idéias (Record, RJ, 1999) e na parte do multiculturalismo ele nos
remete para a seguinte conclusão, depois das partes que citamos anteriormente:

“a visão profético-apocalípticada história também mina qualquer noção de que o


progresso material indica o caminho para o progresso social; ou de que a liberdade
econômica poderia ser uma condição prévia para outros tipos de liberdade; ou de que o
progresso humano genuíno envolve homens e mulheres que assumem responsabilidade
pelo seu próprio destino.”

15. Não vamos nos deter mais nestas questões do Multiculturalismo, pois a
temática é bem conhecida de todos, já que chegou ao Brasil, nos últimos anos como
“processo afirmativo das minorias” e culminou nos ataques contra as comemorações
dos 500 Anos de Descoberta do Brasil.

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Isto é, o ideal não é ser brasileiro, mas outras coisas, atomizadas, fragmentadas,
em que o ideal de nacionalidade desaparece para ser substituído por um ideal grupal,
por vezes tribal, que é colocado acima dos valores da sociedade natural soberana como
um todo. De certa forma, isto se expressou, no auge da desordem monetária (a
hiperinflação), na busca das identidades regionais (até locais), que conduziu aos
movimentos separatistas, de que o Rio Grande do Sul foi palco. Se pararmos para
refletir sobre isto, veremos o perigo que o relativismo representa para o Brasil, num
momento em que se tenta trabalhar a política de Blocos Econômicos (Mercosul, união
sul-americana, ALCA, etc), para a busca de uma melhor inserção no Mundo
Globalizado.

16. Somos de opinião que estamos diante de fenômenos complexos e


desestruturadores e vamos retomar, agora, a um dos pontos iniciais desta palestra.
Dizíamos que os que usam e abusam da expressão “tudo é relativo”, procuram
fugir ao problema central de definir o que é o Mal e o que é o Bom ( ou o Bem), Isto
parece metafísica ou religião. Mas, para a visão Materialista da História não é. Trata-se
de aplicar o conceito dentro de uma visão que nos parece bem simples, embora envolva
algo, central, muito complexo.
Vejamos a questão pelo seguinte esquema:

O MAL O BEM

passado presente futuro

o problema central
(complexo)
O problema central, portanto, consiste em ler os sinais dos tempos com clareza
para poder seguir as linhas evolutivas (ou de progresso), que se apresentam (ou se
abrem). Não podemos esquecer que a mutação constitui uma das características mais
profundas, persistentes e essenciais da vida social em toda a parte. Aquelas sociedades
que não tiveram possibilidade (ou capacidade) para a mutação, estagnaram, regrediram
ou até desapareceram. Se tivermos um conceito histórico bem fundamento e não
deficiente, poderemos encarar a complexidade do momento atual e, pela análise do
problema central, que é o presente, optar pelo bem, isto é, construir um Futuro. Isto
significa abandonar muita coisa, adaptar outras. É doloroso. Se não quisermos,
entretanto, enfrentar estes desafios, seguiremos o caminho que leva ao passado. (Será a
escolha do MAL.).
Como o esquema deixa claro, temos duas circularidades possíveis dentro do
processo histórico: uma que do passado nos leva ao presente que procura, ativamente,
voltar ao passado ( por exemplo: re-estatizar, reviver e luta de classes, reviver a utopia
do comunismo, etc.). Outra circularidade nos conduz do presente para o Futuro, o que
nos conduzirá a um outro Presente que remete para outro Futuro e, assim por diante.
Seria uma circularidade, digamos assim, aberta ( se podemos apelar para um algo
paradoxal...).

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O Mal e o Bem deixam de ser, assim, conceitos metafísicos e se apresentam
como conceitos pragmáticos, em que a sociedade poderá produzir mais e melhor ou
tenderá a produzir menos e pior.
É claro que isto nos leva aos problemas de organização política, atividade
regulatória, inibição à formação de cartéis e trustes, delimitação das funções das
multinacionais, melhoria da questão dos acionistas minoritários nas empresas,
qualificação, produtividade, etc. etc. Ou seja, é um caminho de reformas, legislação,
consciência política muito árduo, muito trabalhoso e que requer uma grande capacidade
de estudo e reflexão.
Lembro, entretanto, que é o caminho que permite a melhoria social e
exemplifico pelo esquema clássico do desenvolvimento das forças produtivas ao longo
do Tempo Histórico;

Quantidade de bens
Quantidade em horas e em bens

Horas de trabalho

Valor unitário

Tempo Histórico: desenvolvimento de forças produtivas

Este esquema, de matriz marxista clássica, foi tomado do excelente ensaio de


Theotonio dos Santos “Revolução Científica e acumulação do capital”, Vozes, RJ,
1987, p. 253 e expressa, muito bem, igualmente, o que queremos dizer com a opção
pelo Bem ou seja a construção do Futuro, naturalmente que dentro da Sociedade
Industrial Capitalista, sob ordem Democrática.
Quanto melhores e mais eficazes forem as formas de produção de bens, o que é
possível pela aplicação de capitais no desenvolvimento científico-tecnológico, maior
será a diminuição das horas de trabalho e menor o valor unitário dos bens produzidos, o
que leva, como colorário, ao aumento do tempo disponível, na sociedade, para o lazer.
Talvez, aqui, radique um dos pontos da angústia de nosso tempo e de sua
rejeição: o que fazer com o aumento do lazer? O que fazer com o aumento da força
desqualificada que é dispensada pela evolução dos meios técnicos de produção e
administração (gerenciamento da produção)? Tais questões devem ser enfrentadas e não
escamoteadas pelo simples processo de se voltar para o passado.
Estamos diante de processos históricos que são irreversíveis, na medida em que
optamos por seguir as linhas de nosso tempo.
O professor Jean Fourastie já tinha colocado este problema da modificação da
estrutura do trabalho em termos claros no início dos anos 60, no ensaio “Idéias para o
Progresso Social e Científico” (Livros do Brasil, Lisboa, sem data (mas
aproximadamente 1967/1968));

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“ o reconhecimento da verdadeira causa do progresso social, o progresso técnico,
dá a ação de cada um de nos uma base material: é pela melhoria de nosso próprio
trabalho de produtor que melhoramos nossa sorte de consumidor. O reconhecimento do
progresso técnico como causa do progresso do poder de compra é uma base essencial
para o progresso social de um povo.” (p. 92).

É Fourastie que coloca, também a questão da educação continuada, da melhoria


do padrão cultural, para que o homem moderno possa enfrentar o aumento das horas de
lazer.
Para fins de esclarecimento aplicáveis aos nossos presentes problemas
estratégicos, é útil reproduzir dois esquemas do livro de Fourastie:

Gráfico 1 – A produtividade, o consumo e o emprego


Para um produto primário tipo

300

200

100

1800 1900 Tempo

Produtividade
Consumo por cabeça
Emprego (com população constante ou fracamente
crescente)

Índice: 1780-1800 = 100

A curva dos consumos nacionais totais têm, evidentemente, a mesma marcha que a
dos consumos por cabeça quando a população é constante ou fracamente crescente. É o que
dá à curva do emprego o seu aspecto decrescente na assimptota zero. A equação do
emprego em e-t opõe-se então à da produtividade em et.
Pelo contrário, se o fenômeno demográfico é poderoso, torna-se preponderante e
é ele que comanda o emprego, que no entanto, já não se pode elevar acima do seu valor
tradicional. Se o crescimento de produtividade é inferior ao da população, pode então haver
regressão do consumo por cabeça.
Observe-se aquela questão que sempre recordamos: a questão demográfica é o
que comanda o problema do emprego/desemprego.
Vejamos a evolução americana, quanto a esta questão:

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Gráfico 2. – Tendências Fundamentais do Emprego
Nos Três Sectores Tipos

60 a 90%
Estados Unidos 60 a 90%
1950

55

30
15
10 10
7
1800 1900

Primário
Secundário
Terciário

Este gráfico representa as tendências fundamentais da distribuição da


população activa segundo os três tipos de actividade.
Antes de 1800 e desde há séculos, de cada 100 pessoas activas 80 a 90
estavam na agricultura (primário), cerca de 7 em empregos do tipo secundário
(indústrias, manufacturas, artesanato), cerca de 10 em empregos do tipo terciário
(administração, cultos, comércio).
Estas proporções evoluíram fortemente sob a influência do progresso
técnico: desde 1950 os Estados Unidos já não tinham senão 15 homens na agricultura
e 30 nas atividades secundárias, para 55 no terciário.
A continuação dos caracteres actuais do progresso técnico e das necessidades dos
consumidores faz prever, para todos os países de natalidade equilibrada, uma
tendência análoga que tem por assimptotas valores tais como 5,10 e 85
No termo da evolução, os homens empregados no secundário não seriam
portanto muito mais numerosos do que em 1750, enquanto os terciários serão
substituídos pelos primários.

A alta capacidade de produção produz uma migração da mão de obra,


diminuindo o setor secundário, isto é, o operário tende a diminuir e voltar ao nº. do
início da Era Industrial, enquanto o campo se esvazia e os serviços assumem papel
central na ocupação da mão de obra.
Para que isto seja possível, entretanto, é necessário passar pela Revolução
Industrial. Ou seja é necessário implantar fábricas e mais fábricas, até que o conjunto
resultante da produção industrial termine por influenciar a distribuição da mão de obra
nos diversos setores da produção e, por fim vá se refletir no problema da taxa da
natalidade.
É uma questão de introdução de capitais, principalmente na feitura de um Estado
Industrial, para que se modifique o curso histórico.
Isto não é fácil para um país carente de capitais o que o atrela ao capital (hoje)
das multinacionais, que tem suas próprias estratégias.
A arte política consiste, aqui, em conciliar as necessidades do presente para
criar um futuro e não renunciar ao presente para criar um passado.

17. Já estamos nos estendendo demais. Vamos, portanto, ao final.

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Entendemos que existe um processo de progresso e que ele envolve o
conhecimento da ciência e sua aplicação prática, através da tecnologia.
Como é um processo de transformação, ele acarreta modificações, com perda de
“status” para uns e melhoria para outros. É, pois, um processo conflitivo. Mas tudo
sempre foi assim na História. O que renunciaram ao processo de conflito, trocas,
mediações, alianças e acordos, tenderam ao Totalitarismo (ao sistema ditatorial, em suas
variadas nuances) e, com isto, congelaram os conflitos, paralisando (aparentemente) o
Tempo Histórico ( que na verdade continuava a correr, em outras sociedades). Quando
estes processos de paralisia (congelamento) chegam ao ponto de saturação, tudo
desmorona, as ditaduras e as idéias fixas, imutáveis, ou sejam “as verdades” caem. Isto
cria uma enorme crise existencial e a procura de outra “verdade verdadeira”, por certos
tipos mentais, que são resistentes aos problemas do Tempo Histórico com seus avanços.

18. Por isto a tendência destes tipos ao Dogmatismo e à negação da verdade,


pelo uso da Relativação (tudo é relativo...).

“ O abandono da idéia de verdade leva aos piores abusos, pois, sob a capa do
relativismo, pode-se afirmar qualquer coisa... o relativismo intelectual pode servir de
álibi para o absolutismo político. Pretender que nada é verdadeiro permite que se
imponham pontos de vista pessoais. Desprovidos de critérios de verdade, os
interlocutores ficam impossibilitados de se defender.” (As mentiras na propaganda e na
publicidade, Guy Durandin, JSN Editores, SP, 1997, p. 23).

19. Robert A. Dahl, em seu “A moderna análise política” (Lidador, RJ, 1970, p.
148, já nos advertia):

“são necessários valores de alguma espécie para que se possa decidir o que é
mais importante... pretender uma análise objetiva da política pressupõe que se de valor à
verdade. È preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso.*

20. Para tanto é necessário guiar-se pela Razão e não por sistemas totalitários de
pensamento e por isto, chamamos a atenção para o problema da organização do trabalho
intelectual e para a busca, arquivo e comparação de dados. Eric Fromm já dizia:

“ A razão é uma faculdade que tem de ser exercitada para que se desenvolva, e é
indivisível. Quero com isto dizer que a faculdade objetividade se refere tanto ao
conhecimento do Homem como da Natureza, da sociedade e do próprio eu. Se uma
pessoa vive de ilusões a respeito de um setor da vida, sua capacidade para a Razão está
restrita ou danificada, e, dessa forma, o uso da Razão fica inibido em todos os demais
setores da vida. A esse respeito à razão é como o amor. Assim como o amor é uma
orientação que se refere a todos os objetos e é incompatível com as limitações de um
único objeto, a razão é uma faculdade humana que deve abarcar o conjunto do mundo
ante o qual o homem se encontra.” (Psicanálise da Sociedade Contemporânea, Zahar,
RJ, 1974, p. 74.

A distinção entre o verdadeiro e o falso é de suprema importância, diz ainda,


Fromm.

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21. O que devemos ou podemos concluir de tudo isto? Estamos em meio a um
debate político-ideológico, que ou utiliza indevidamente os conceitos da Ciência, como
meio de luta, para – na verdade – desprezar a busca do verdadeiro conhecimento, pela
substituição por verdades dogmáticas. Para isto é criada uma série de elementos, que já
vimos:
1. apela-se para um “tudo é relativo”,
2. portanto, não existe conhecimento positivo,
3. assim, que papel tem a ciência para a Sociedade?

Noutra vertente, afirma-se:

1. as culturas tem o mesmo valor


2. logo, a cultura ocidental é tão boa quanto outra
3. assim, devem-se afirmar as minorias
4. para combater/ atacar/ destruir/ a Cultura Ocidental

porque:

1. esta cultura, por produzir ciência e tirar


2. poder desta ciência/ tecnologia
3. oprime o mundo, sendo válido destruí-la,
4. para construir outro mundo

que se infere:
1. é um Utopia político-ideológica,
2. sem projeto,
3. mas calcada no primitivismo, no pequeno é bom,
4. e também num Misticismo Neo-Pagão (ecologismo).

É uma confusão enorme, sobre a qual o professor Karl Popper já se pronunciou,


contundentemente, há muitos anos:

“ A força de atração do Utopismo resulta da falta de compreensão quanto ao fato


de não ser possível realizar o céu na terra... sou contra e duvido que haja quem saiba
como fazê-lo. Luto contra esta idéia de que haja uma receita para isso, de que haja um
meio político para fazê-lo. Deve-se lutar contra a ingênua crença em qualquer fórmula
geral, como, por exemplo, “Socialização” ou “Nacionalização”, ou fórmulas
semelhantes; sou contra a idéia de que a socialização é boa e de que a não-socialização é
má. Em geral sou contra a revolução, a não ser onde não houver Estado de Direito. Mas
somente aí. Revoltar-se contra uma sociedade apenas parcialmente aberta significa
provocar o perigo de que esta sociedade se transforme numa Ditadura, em uma
sociedade fechada. Considero a idéia de que se pode chegar, através da Ditadura, a uma
situação melhor que numa Democracia, completamente ilógica, e até mesmo pouco
inteligente. Pode-se ver isto pela História. Mas, mesmo que a História não nos ensinasse
isto, deve-se reconhecer o perigo, que consiste no estabelecimento de um Poder
Autoritário.”.

Citado conforme “O Racionalismo Crítico na Política”, K. Popper, Editora da


Universidade de Brasília, 1994, p. 54/55.

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22. Apesar dos ensinamentos da História, da lógica e do bom senso, a grande


verdade é que o mundo marcha de forma dissimétrica, digamos assim, com forças que
trabalham pelo atraso e forças que trabalham pelo progresso atuando de forma
simultânea. Disto resultam as tensões, os avanços e os retrocessos.
Só o espírito crítico preparado e que sabe que não existe o “tudo é relativo” e
que pode enfrentar os desafios de sua época. De qualquer época.
Por isto somos pela organização do trabalho intelectual baseado em regras
metodológicas, em raciocínio lógico, para um profícuo entendimento do Processo
Histórico; o passado é construído a partir do presente, como dizia Edgar Morin.
E o passado seleciona o que, a seus olhos, é histórico, ou seja, o que - no
passado – se desenvolveu para produzir o Presente. Os acontecimentos, diz Morin – o
acontecido – aniquila o possível que não foi e não pode ser realizado pela
inevitabilidade do já acontecido, do que verdadeiramente ocorreu no curso histórico.
Morin, cujo esquema que chamamos de Avanço Dissimétrico, reproduzimos a
seguir, nos lembra que: “ O Futuro nasce do Presente. Isso significa que a primeira
dificuldade de pensar o Futuro é a dificuldade de pensar o Presente. A cegueira quanto
ao Presente torna-nos ipso-facto, cegos para o futuro”. (Para sair do século XX, Edgar
Morin, Nova Fronteira, RJ, 1986, p. 308 e seguintes).
O esquema do Avanço Dissimétrico, como resolvemos chamá-lo, elucida, em
muito, o problema que é viver o Presente, em qualquer Tempo Histórico, pois sempre
existirão as crises, os processos evolutivos, as revoluções (ainda mais tecnológicas...) e
as forças que trabalham pela regressão.

Eis o esquema, p. 329, obra citada:

em crise em evolução

mundo ao mesmo tempo

em regressão em revolução

Vivemos tudo isto ao mesmo tempo. Isto causa incerteza e angústias. Cada um
deve escolher o caminho. Nós sempre optamos pela via da Ciência e do Progresso,
dentro de Sociedades Industriais cada vez mais aperfeiçoadas e Democráticas.

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