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AUTOMOBILÍSTICA NO BRASIL
Silvio Hamacher
Departamento de Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica
Rua Marquês de São Vicente 225 – 9º Andar – Gávea – Rio de Janeiro – RJ - CEP 22453-900
RESUMO
O artigo analisa as diferentes configurações da cadeia de suprimentos da indústria
automobilística no Brasil. O estudo da evolução dessas configurações é dividida em três
períodos: o primeiro foi caracterizado pela introdução desta indústria em território nacional,
através da importação direta de veículos, da montagem de veículos com componentes
importados e do início da indústria de autopeças nacional. O período seguinte, compreendido
entre as décadas de 50 e 80, foi caracterizado pela substituição das importações e pela
nacionalização dos fornecedores de autopeças. O atual período é marcado pelo processo de
globalização que levou à reestruturação da cadeia de suprimentos. Novas formas de
relacionamento entre os membros da cadeia surgiram na década de 90, favorecendo as
condições de emergência para a introdução do conceito da Gestão da Cadeia de Suprimentos
(SCM) na indústria automobilística brasileira.
1– INTRODUÇÃO
A década de 90 está provocando uma profunda reflexão nos paradigmas sobre o
desenvolvimento dos sistemas produtivos. A lógica de produção industrial, comercialização e
de relacionamento entre empresas e pessoas está sendo revista, acarretando em mudanças
substanciais da cadeia de suprimentos das indústrias. Para fazer face a essas alterações, torna-
se necessária e viável a implementação da Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM - Supply
Chain Management).
O presente artigo tem como objetivo analisar as formas de adaptação da indústria
automobilística no Brasil em relação aos diferentes fatores internos e externos que afetaram
sua cadeia de suprimentos. Esta análise engloba desde a importação de veículos no Brasil,
durante o início do século, até a inserção do país na SCM global das montadoras de veículos,
através do desenvolvimento e aplicação de novas técnicas de gestão e do uso de estratégias
como global sourcing, follow sourcing e carry over. Verificar-se-á que em determinados
momentos a industria automobilística apresentou um índice de nacionalização quase total de
todos os seus produtos, enquanto que em outros momentos este índice foi apenas parcial. Para
atingir o seu objetivo, o artigo apresenta inicialmente os conceitos de cadeia de suprimentos e
SCM e descreve a evolução da cadeia de suprimentos da indústria automobilística no Brasil
focalizando a sua integração com os mercados externos. Em seguida verifica-se as condições
de emergência da SCM nesta indústria. Na última seção são expostas as considerações finais
dos autores.
2– CONSIDERAÇÕES SOBRE CADEIAS DE SUPRIMENTOS
2.1– O CONCEITO DE CADEIA DE SUPRIMENTOS
A cadeia de suprimentos é uma rede que engloba todas as empresas que participam das etapas
de formação e comercialização de um determinado produto ou serviço que será entregue a um
cliente final. Essas empresas podem ser de diferentes tipos desempenhando diferentes
responsabilidades na cadeia, desde a extração de um minério ou a manufatura de um
componente até uma prestação de um serviço logístico ou de vendas. Dependendo do seu
produto, a companhia pode participar de diferentes cadeias, como é o caso das siderúrgicas.
Essas indústrias são produtoras de aços planos e de aços especiais para a cadeia da indústria
automobilística, como também de vergaduras e barras, usadas pela cadeia da indústria de
construção civil.
De acordo com Slack (1993), a cadeia de suprimentos pode ser classificada em três níveis:
Rede Total, Rede Imediata de relações cliente - fornecedor e Rede Interna, conforme
apresentada na Figura 1.
Rede Total
Fornecimento Distribuição
Rede Imediata
Rede Interna
Cliente Final
Indústria de autopeças
• Motores e complementos
• Peças para câmbio
• Peças para suspensão
• Peças para sistema elétrico
• Peças para carroceria
• Peças de acabamento e acessórios
Fluxo de Materiais
CLIENTE FINAL Fluxo da Demanda
Fluxo de Informação
Figura 3: A estrutura da cadeia de suprimentos da indústria automobilística com os principais
produtos e componentes de cada membro
Fonte: baseado em Bedê (1996)
2500
2000
1500
1000
500
0
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
Figura 10: A cadeia de suprimentos com a importação de veículos para o Brasil nos anos 90
É interessante mencionar que os fabricantes de veículos localizadas no Brasil estão
utilizando-se de diferentes configurações para cada um de seus produtos. A subsidiária da
Citroen no Brasil pode ser usada como exemplo. Ela utiliza a sua planta uruguaia (Mercosul)
para montar algumas versões do Xsara via CKD, conforme a configuração da Figura 6, como
também importa outras versões deste mesmo modelo da França, conforme a configuração
apresentada na Figura 8. Esta mesma montadora também está construindo uma fábrica no
Brasil, em Porto Real (RJ), atraindo diversos fornecedores de autopeças para região,
consolidando assim a sua estratégia de penetração, e definindo uma configuração híbrida para
a sua cadeia de suprimentos no Brasil.
4– PERSPECTIVAS DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NO BRASIL
Para Miranda e Oliveira (1996), o presente momento de inovação tecnológica e
organizacional, combinado à crescente integração aos mercados externos e à necessidade de
competição com produtos importados, descritos na Seção 3, fez com que as empresas
buscassem uma série de novas características como as relacionadas a seguir:
• Diversificação dos modelos de produtos;
• Redução de tempo de lançamento de novos produtos;
• Redução dos tempos de projeto e fabricação;
• Redução dos estoques;
• Retomada/ampliação do controle gerencial sobre a produção;
• Aumento da qualidade dos produtos e processo;
• Aumento da produtividade.
Para obter as características acima listadas, além do processo de automação ocorrido nas
fábricas brasileiras, as empresas investiram e investem na informatização de suas atividades
administrativas e nos seus sistemas de informação. Estes últimos vêm sendo usado como
elemento de apoio na condução dos negócios, na integração de áreas produtivas e na relação
com fornecedores e clientes. No caso dos fornecedores, várias montadoras usam o Electronic
Data Interchange (EDI) como um dos meios para viabilizar o fornecimento nos moldes do
sistema just-in-time (JIT).
4.1– INTRODUÇÃO DA SCM
Para adequar-se a nova realidade dos anos 90, a indústria automobilística necessitou
desenvolver mecanismos de contínua reestruturação de toda a sua cadeia de suprimentos. O
mecanismo mais eficiente, que talvez englobe todos os demais, foi o de rever todos
relacionamentos dentro da cadeia, inclusive com o reforço das parcerias entre os seus
membros (ou seja, com a divisão de responsabilidades), o que constitui o cerne da SCM. Em
uma sociedade informatizada, o primeiro passo para reforçar parcerias e desenvolver o
pensamento estratégico, inclusive gerando transparência no processo decisório, é a
disseminação da informação. Para isso, os sistemas de informação passaram a ser vitais e
parte integrante do ambiente de inovação.
De acordo com Miranda e Corrêa (1996), as empresas deste setor estão passando a analisar
com maior cuidado a dinâmica e complexidade da cadeia de suprimentos da qual fazem parte.
Estas empresas continuam a trabalhar intensamente em sua rede de suprimentos imediata,
porém já começam a conhecer e participar da operação da rede total, possibilitando, assim,
uma administração mais efetiva de seus membros imediatos. Em sua pesquisa, realizada com
a participação de empresas atuantes no mercado automobilístico brasileiro, foi possível
perceber que ainda existem vários problemas a serem superados e que muitos deles dependem
da ajuda dos elos mais fortes da cadeia. Cabe aos membros mais fortes a iniciativa do
estabelecimento de uma SCM, uma vez que a essência desta gestão é a de detectar a fraqueza
da cadeia e encontrar formas de diminuí-la. Um exemplo disto é o uso do maior poder de
compra de um cliente para comprar materiais e peças, com menor custo, para o seu
fornecedor.
No caso da indústria automobilística, o elo mais forte é composto pelas montadoras de
veículos, porém a sua atenção e influência ainda é basicamente voltada para a sua rede
imediata e não para a rede total de suprimentos. Apesar disto, mudanças no sentido de
integrar a rede total estão ocorrendo em todos os membros da indústria automobilística,
lideradas principalmente pelas montadoras. Como exemplo pode-se citar a participação da
Volkswagen no processo de compra de muitos de seus fornecedores em sua nova fábrica de
Resende (RJ). Esta participação ocorre quando a possibilidade de se fazer uma economia de
escala neste processo pela montadora é maior que a do fornecedor, como acontece no caso da
compra de amortecedores. Um outro motivo para esta interferência da montadora é a falta
experiência no processo de compras de determinados componentes como o que ocorre no
módulo de tapeçaria desta fábrica, que tem como responsável a VDO. Esta empresa é
especializada no fornecimento de instrumentos de medidas para veículos. Para que pudesse
transformar-se em um modulista da Volkswagen, teve que adquirir novas competências na
área de tapeçaria. Para isto ela está contando com o apoio e o know how da montadora alemã.
Neste caso, a interferência desta montadora não se limita apenas à rede imediata, obtendo
neste caso específico uma redução no custo ao longo da rede total de suprimentos, podendo
com isso obter uma redução no preço de seu produto final.
4.2– NOVA INTERFACE ENTRE MONTADORAS E FORNECEDORES DE
AUTOPEÇAS
Segundo Miranda e Oliveira (1996), a maior mudança que tem ocorrido na relação entre os
membros da cadeia de suprimentos tem se dado entre as indústrias montadoras de veículos e
os fornecedores de autopeças. De acordo com Arbix e Zibovinicius (1997), estas mudanças já
começam a ser vistas no desenvolvimento cooperativo de componentes, no aumento crescente
da demanda por sub-sistemas completos de componentes para veículos, no fornecimento com
parâmetros de qualidade mais intensos, na rigorosa seleção de fornecedores e na diminuição
de seu número. Essas mudanças estão formando novas relações inter-firmas e dando origem a
novas estratégias competitivas dos produtores de autopeças.
Esta interface vem se caracterizando pela redução do número dos fornecedores diretos, pela
transferência de atividades das montadoras para os fornecedores e pela definição de um novo
conjunto de necessidades a serem atendidas pelos fornecedores. Estes fatores incentivam o
desenvolvimento de novas formas de gestão, como o Condomínio Industrial e o Consórcio
Modular, na busca de uma maior integração entre as montadoras e seus fornecedores. Outro
fator que caracteriza esta interface é o desenvolvimento de estratégias globais pelas
montadoras na busca de uma redução de custos através da ampliação do uso de economias de
escala. Estas estratégias têm provocado um processo de concentração e internacionalização da
indústria de autopeças brasileira e mundial. Isto vem ocorrendo com a globalização dos
processos de compras, o global sourcing, e com a de padronização dos projetos
automobilísticos, o carry over.
O global sourcing baseia-se na busca de fornecedores no âmbito global sem levar em
consideração a sua localização geográfica. É de se esperar com o global sourcing uma
redução ainda maior dos índices de nacionalização dos veículos com um aumento contínuo da
participação dos componentes importados para a fabricação do veículo em um dada região. Já
o carry over, de acordo com Salerno et al. (1998), vincula o mesmo projeto de produto de
uma montadora a todos as suas plantas produtores em todo o mundo, ou seja, exige-se que as
partes a serem produzidas pelos fornecedores sigam as mesmas características e atributos do
projeto original, não se aceitando adaptações ou modificações. Em suma, as novas formas de
relacionamento e de parcerias entre as montadoras de veículos e os seus fornecedores estão
sendo desenvolvidas em paralelo a novas formas de gestão, de modo a aumentar a eficiência e
a eficácia da rede total de suprimentos.
Com as novas formas de gestão desenvolvidas na rede imediata das montadoras, os
fornecedores diretos estão ganhando uma maior importância na rede total de suprimentos com
a aquisição de novas habilidades e o fornecimento de produtos e serviços de maior valor
agregado. Já as montadoras estão obtendo mais tempo para se dedicar a área de vendas, além
de estarem reduzindo custos fixos relativos a gastos como os associados a maquinarias, infra-
estrutura e desenvolvimento de projetos, aumentando assim, sua rentabilidade financeira.
5– CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com as mudanças ocorridas nos anos noventa, a indústria automobilística brasileira passou a
desenvolver diversas configurações para a sua cadeias de suprimentos, de forma a tirar
melhor proveito das importações e exportações de veículos e autopeças. Isto está implicando
em uma inserção cada vez maior do Brasil na cadeia de suprimentos internacional desta
indústria. Apesar do ganho de importância do país no cenário mundial, a nova estrutura da
indústria automobilística brasileira está implicando no fim dos projetos nacionais substituídos
por projetos mundiais. As estratégias de follow e global sourcing e carry over, adicionadas à
ampliação do horizonte geográfico de atuação das cadeias colaboram com a padronização dos
veículos de todas as plantas de uma determinada montadora, decretando o fim de projetos
regionais, como o da família Gol no Brasil. Isto vem possibilitando a inclusão das subsidiárias
localizadas em países emergentes às estratégias globais de gestão da cadeia de suprimentos de
suas respectivas matrizes. As montadoras e os fornecedores de autopeças brasileiros estão se
concentrando na ampliação do volume de produção e no desenvolvimento de novos processos
produtivos, ao mesmo tempo que estão delegando a elaboração dos projetos para as suas
respectivas matrizes. A exceção para esta tendência é o caso da fábrica de caminhões da
Volkswagen em Resende, onde o projeto do produto tem participação ativa da filial brasileira.
O Brasil está entrando definitivamente nas estratégias globais de SCM das empresas ligadas à
indústria automobilística. As montadoras de veículos que estão investindo no país visam
alargar seu mercado comprador e a base de sua cadeia de suprimentos de forma a satisfazer
principalmente as necessidades locais e as de outros países da América do Sul, principalmente
os oriundos da região do Mercosul. A vinda destes novos investimentos está sendo
acompanhada principalmente pelos fornecedores de autopeças globais, que são atraídos pelas
potencialidades de crescimento do mercado brasileiro de forma direta, ou então de forma
indireta, através do follow sourcing. Uma maior interação com o resto do mundo também esta
nos planos das plantas brasileira do setor devido ao uso de técnicas globais de gerenciamento
da cadeia pelas subsidiárias da região, visando complementar as cadeias produtivas de suas
respectivas matrizes, o global sourcing.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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produção?” em Arbix G. e Zilbovicius M., “De JK a FHC: A Reinvenção dos Carros”, Scritta,
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“Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira”;
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São Paulo;
Cooper, M.C. (1994), “Logistics in the Decade of the 1990” in Robeson J.F. e Copacino
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