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Tolerância: os limites entre a teoria e a prática

26/05 - 12:05 - Ricardo Kotscho

Passamos os três dias do feriadão em retiro espiritual, trancados num belo hotel em São
Lourenço, no sul de Minas, rezando e refletindo sobre um único tema: a tolerância. Éramos cerca
de 60 amigos das mais diferentes profissões, religiões e experiências de vida, vindos de São
Paulo, Rio e Minas, que formam os Grupos de Oração criados em torno de Frei Betto.

O tempo corre mais depressa do que a gente: já vamos comemorar 30 anos dos nossos grupos no
próximo ano. Continuamos aprendendo e tentando entender os mistérios da vida.

Durante um ano, os integrantes de cada grupo leram centenas de textos sobre o tema do retiro e
apresentaram suas conclusões sob as mais diferentes formas: danças, representações teatrais,
interpretações bíblicas, filmes, desenhos, qualquer forma de expressão humana valia. A minha conclusão
foi que o nosso grande desafio é estabelecer os limites da tolerância, navegando entre a teoria das
virtudes e a prática das iniqüidades.

Até onde devemos ser tolerantes? A melhor resposta que ouvi foi dada em poucas palavras num texto de
José Saramago, o escritor português premiado com o Nobel: “a tolerância pára no limiar do crime. Não se
pode ser tolerante com o criminoso. Educa-se ou pune-se”. Para o filósofo Vladimir Jankélévich, se a
tolerância for levada a extremos, acaba por negar a si mesma: “a tolerância só vale, pois, em certos
limites, que são os de sua própria salvaguarda e da preservação de suas condições de possibilidade”.

Pego o jornal no café da manhã desta segunda-feira, dia 26, e encontro um caminhão de exemplos sobre
o que gostaria de dizer logo no alto da capa colorida e na página dois da “Folha”, a que abriga seus
principais colunistas.

Na primeira página, uma foto da grande festa da 12ª Parada Gay de São Paulo é a prova viva de como
um dos maiores focos de intolerância na nossa sociedade acabou sendo vencido com o passar do
tempo - e o que era chamado de minoria periga daqui a pouco virar maioria... Eram milhões de pessoas
se divertindo na avenida Paulista - tanta gente que ninguém conseguiu calcular o tamanho da multidão -
sem sofrer qualquer hostilidade. (veja como foi a Parada Gay)

Em compensação, dois colunistas, Fernando de Barros e Silva, de São Paulo, e Ruy Castro, do Rio de
Janeiro, trataram de um mesmo assunto na direção oposta: a crescente intolerância no trânsito. Barros e
Silva citou o episódio de um homem, no Rio, que teve a cabeça destruída por uma barra de ferro porque
reclamou do motorista sobre a invasão da faixa de pedestres. Seu colega Ruy Castro comentou o caso da
mulher de 58 anos que dirigiu por oito quilômetros da contramão, em São Paulo, e só parou no posto da
polícia rodoviária depois de apavorar os outros motoristas.

Não dá, é claro, para ser tolerante com os personagens destas duas histórias, mesmo vivendo num país
de muita tolerância com grandes crimes federais e pequenas contravenções municipais, enquanto o
convívio no dia-a-dia das grandes cidades se torna cada vez difícil, com as pessoas disputando cada
pedaço de rua cheios de razão, algumas de armas na mão.

Com mil novos carros por dia entrando nas ruas de São Paulo, os motoristas cada vez mais estressados
com o trânsito que não anda, a guerra urbana só tende a se agravar, multiplicando casos de intolerância
que muitas vezes acabam explodindo dentro de casa, no local de trabalho ou no bar.

Mata-se por bobagem, por qualquer coisa, briga-se por nada numa competição cada vez mais acirrada de
todos com todos numa guerra em que nós só temos a perder.

O que fazer para não ceder ao primeiro impulso e ser tolerante até o limite do bom senso e do amor
próprio? Durante os três dias do retiro, fiquei me fazendo esta pergunta e, de tudo que vi e ouvi, levei
comigo um texto de autor anônimo - os textos de autores anônimos costumam sempre ser os melhores...
-, garimpado pelo grupo do meu amigo Tião Santos, comunicador popular do Rio, que eu deveria reler
todos os dias para fazer e falar menos bobagens.

Partilho-o com os caros leitores: “É muito fácil reclamar, queixar-se da vida, levar tudo muito a sério. Você
já experimentou rir de si mesmo, em alguma circunstância considerada séria, e descobrir o ridículo de
tomar as coisas como verdadeiras e concretas? É impressionante como levamos a sério tantas coisas
durante o dia.
Os anjos conseguem transformar nossa alma, e trazer um pouco de lucidez e humor para nossas vidas.
Basta ler os jornais ou ver o noticiário na televisão, você logo vai estar preocupado com a sua segurança,
sua saúde, seu futuro. Sempre que estiver no meio de um problema que precisa de uma solução, sinta-se
levantando vôo nas asas do seu anjo, medindo e observando a situação de uma perspectiva bem
distante.

Olhe como se não fosse com você, olhe com os olhos do seu anjo. Veja o que é melhor, o que é justo, o
que traz mais benefícios para todos. Imagine aquela situação dentro de alguns anos, ou apenas alguns
meses. Veja o tempo passando, observe se está diante de um problema tão insolúvel assim.

O que o retorno dos anjos significa é a possibilidade de encararmos o mundo com mais leveza, com mais
pureza, com mais alegria. Mas, para isso, devemos ser capazes de rir de nós mesmos, da nossa
seriedade, do peso que atribuímos às coisas. Não é ser irresponsável, mas é pisar com mais leveza nesta
nossa vida”.

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