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«Mais vale a ignorância do que uma falsa noção: a ignorância a todo o tempo

se corrige, enquanto que o erro falseia o conhecimento».


Calvet Magalhães
Introdução:

Muito do que nós somos vem do passado. Segundo Ortega Y Gasset, «Negar o
passado é absurdo e ilusório, porque o passado é “o natural do homem que volta a
galope”. O passado não está aí e não se deu ao trabalho de passar para que o neguemos,
mas para que o integremos» (p.20).
Desta forma, defendemos a tese de que a disciplina de Educação Visual e
Tecnológica tal qual é apresentada e entendida no tempo presente, não é mais do que
resultado de um contínuo processo histórico. Nele estão implícitas as políticas e
reformas educativas, concepções filosóficas, estéticas, sociais, pedagógicas, culturais,
tecnológicas e económicas. Importante e urgente torna-se o entendimento e
conhecimento de todo esse processo histórico, de forma a que o presente e as suas
práticas lectivas, sejam reflexo de uma atitude consciente e clara.
Como recorda o relatório (da Comissão da Unesco_ «A Educação para o séc.
XXI), cabe ao mestre transmitir ao aluno o que a humanidade aprendeu sobre ela
mesma e sobre a natureza e tudo o que ela criou e inventou de essencial. O rigor do
método, as ideias claras e distintas, o ensino das diferenças, a entreajuda, o apelo à
responsabilidade e à autonomia_ eis o que encontramos no pensamento de grandes
pedagogos, como S. Filipe de Néri (1515-1595), Coménio (1592-1670) ou Friedrich
Froebel (1782-1852) .
Um currículo apresentado tal qual o da disciplina que mencionamos, nem sempre
orienta o professor para o caminho mais fácil e directivo. Questionamo-nos sobre
diversos conceitos que se alteraram ao longo do tempo e que nos levam também a
hipoteticamente perguntar se eventualmente mudaram as práticas pedagógicas. Na
verdade, no documento «Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências
Essenciais», editado pelo Ministério da Educação no ano de 2001, não são apresentadas
de forma explicita as competências essenciais da disciplina de Educação Visual e
Tecnológica. Ao longo dos anos o ensino do desenho foi tomando outras designações e
estrutura curricular, surgindo recentemente uma nova disciplina, como que «um
casamento» entre a Educação Visual e a Educação Tecnológica. Não nos esquecemos
também de lembrar os antigos trabalhos manuais (femininos, masculinos e
posteriormente num sistema de coeducação). Relembramos que, no momento presente,
aquando dos concursos nacionais de colocação de professores, a disciplina de Educação
Visual, ainda se entende por três grupos distintos ( 05; 07 e 08). Situação que
confirma a ambiguidade instalada. O conceito de «currículo aberto e flexivel» será
também entendido da forma clara?
Com este trabalho não pretendemos dar respostas ou confrontar ideias, achamos
simplesmente importante, lembrar que muito ainda deve ser feito, planeado, gerido,
questionado e mudado, de forma a que seja notória e real uma verdadeira mudança.
Conscientes do universo complexo em causa, limitamo-nos a apresentar aqui
algumas práticas lectivas, actividades, projectos e formas de gerir o ensino no dia a dia,
na sala de aula, que foram realizadas com sucesso.
Estabelecemos um fio condutor no nosso trabalho, começando nesse campo por
querer transmitir a ideia de que uma simples história ou imagem nos podem levar onde
nós queremos. Conscientes de que muito do que se faz de bom, eficiente e eficaz nas
nossas escolas por vezes é esquecido e não se partilha, fazemos uma abordagem ao
passado e ao presente recente.
A história «Gustavo Azul» , é o bilhete para essa viagem.
«Numa sociedade onde informação, espírito científico e educação permanente se
encontram revela-se indispensável, contudo, preparar as pessoas para as mudanças e
para as inovações que emergem e se sucedem a um ritmo inédito. As novas tecnologias
de informação e comunicação introduziram, de facto, um novo ritmo e novas exigências
no contacto com o conhecimento. À mobilidade física sucede-se também a mobilidade
virtual, e a nossa relação com o tempo e o espaço altera-se profundamente. A sociedade
torna-se educativa ou de aprendizagem_ e a educação tem de dar respostas permanentes
e ao longo de toda a vida, redefinindo objectivos na formação inicial adequados às
novas circunstâncias» ( MARTINS, Guilherme d’Oliveira (1998), p.37).
Defendemos a tese de que na preparação para a mudança é necessário antes de
mais, que cada um tenha noção do que deve ser mudado, do que pode ser mudado, e do
que cada um pode mudar. Desta forma há que ter um maior envolvimento face a
determinadas questões levantadas por nós e por todos aqueles que têm contribuído de
uma forma dedicada para as questões das Ciências da Educação e do Sistema de Ensino
no nosso país.
Há que sentarmo-nos para conversar... querem beber um café?
Reflexões sobre o ensino do desenho:

Segundo Calvet Magalhães, «evitemos atribuir às crianças todas as


possibilidades que nós próprios temos, mas não rebaixemos o valor do poder do
dinamismo mental infantil, que se encontra em perpétuo estado de desenvolvimento
interior e contínuo. Os cérebros dos nossos alunos não são todos vazados do mesmo
molde. Se tratarmos os alunos em série, nunca os conhecerão. Dêem a cada um deles a
possibilidade de se exprimir e de revelar as suas características individuais» (p.8).
Na última parte do nosso trabalho, apresentamos actividades em que tomamos
em atenção precisamente este carácter único inerente a cada aluno e a valorização das
suas capacidades e aprendizagens.
«As várias correntes não constituem ciclos fechados, que se ignoram e destroem
uns aos outros. Os sábios de uma época não renegam os trabalhos dos seus
predecessores e, pelo contrário, apoiam-se neles, e assim aparece esse admirável esforço
colectivo que liga o presente ao passado. Seria dar prova de estreiteza de espírito e de
falta de compreensão considerar apenas as correntes modernas e tudo ignorar quanto às
tendências que as precederam (Idem, p.9-10).
No nosso trabalho, temos em atenção esta relação temporal, pretendemos
também valorizar a importância do trabalho e estudo de diversos filósofos e pedagogos
que muito contribuiram para a mudança de mentalidades, práticas e métodos de ensino.
Numa actividade realizada no momento, pode estar reunida a abrangência de muitas
ideologias já professadas. Torna-se interessante aplicar determinados métodos e práticas
pedagógicas «do passado», consoante o contexto e objectivos ou finalidades definidas.
Também é verdade que embora «as várias correntes não constituam ciclos fechados»,
por vezes, estão condicionadas pelo efémero e pelas «modas». Ao serem postas em
prática ou tidas em consideração, determinadas correntes poderão constituir uma das
partes do fio condutor que nos leva a um futuro mais consciente.
«Como meio de expressão incomparável, o desenho devia estar sempre presente
no ciclo preparatório. É com o auxílio do desenho que a imaginação da criança toma
corpo e se concretiza. É pela ilustração que um exercício alcança todo o seu valor e
significado.
Além disso, o desenho é um poderoso instrumento de cultura geral e de cultura
estética, forma o espírito e o coração e desperta o pensamento do ideal. É, sem dúvida
alguma, o meio mais poderoso, mais original, mais vivo e agradável de a criança se
exprimir, de exteriorizar os seus pensamentos e traduzir a própria personalidade, pois é
inteiramente uma linguagem.
Língua e representação gráfica são linguagem, expressão: não há entre ambas
uma diferença essencial, mas antes uma diferença extrínseca. Poderíamos dizer que se
«reproduz a imagem» com palavras, e que se «fala» com representações gráficas; quer
através das palavras ou do desenho temos a intuição daquilo que ocorre na consciência
daquele que nos falou com palavras ou com figuras. E às vezes pode bastar apenas a
palavra, ou pode bastar apenas o desenho, ou então pode a primeira necessitar do
segundo, e este ter de complementar-se com a primeira.
Como meio de aquisição de conhecimentos o desenho é uma escola de atenção
que exige constantemente o confronto do modelo com a sua interpretação ou
reprodução. Os desenhos de crianças de diferentes anos do ciclo mostram bem os
conhecimentos adquiridos sucessivamente. Quando um aluno do 2.º ano desenha uma
rosa vermelha do natural ou um besouro, adquire mais conhecimentos sobre flores ou os
insectos do que num livro(Idem,p.10).
Mais à frente, ao apresentarmos alguns desenhos de alunos do 6º ano,
verificamos que os mesmos transmitem precisamente a falta desse conhecimento
científico face aos insectos.
O desenho reflecte determinados conhecimentos ou a falta deles. Um aluno que
nunca viu uma térmita, facilmente fantasia sobre a mesma, ou então recusar-se-à até
mesmo a desenhá-la. Defendemos portanto a observação e o contacto com o meio
envolvente. Esse contacto é sem dúvida uma fonte de conhecimento.
«O desenho introduz ainda na aula um elemento de prazer. Todas as crianças
gostam de desenhar e é grande prazer para elas pintar a cores e realizar objectos e
grande satisfação para o professor sentir uma classe entusiasmada e activa e verificar os
seus progressos.
Quanto ao objecto do ensino de desenho no ciclo preparatório não é formar artistas, mas
concorrer com as outras disciplinas para formar a inteligência e a personalidade da
criança. É um instrumento de cultura exactamente como o cálculo e a redacção. Para
desenhar é preciso observar com método e aplicação_ observação voluntária e
reflectida. É já um lugar-comum afirmar que o aprendizado do desenho
forma o gosto e desenvolve a habilidade visual e manual da criança, assim como
lhe activa a imaginação, a vontade e o espírito de iniciativa.
Além do seu valor educativo e do prazer que oferecem, esta disciplina apresenta
uma atracção prática evidente. O desenho assume na vida actual um lugar
preponderante. Cada vez existem menos profissões onde o desenho não seja útil, senão
indispensável, pois o desenho faz a criança adquirir conhecimentos práticos que lhe são
directamente proveitosos, qualquer que seja a sua profissão futura» (Idem, p.10-11).
«Acabou a época em que o desenho e a pintura eram considerados
compartimentos estanques dos programas escolares, e em que se procurava somente
desenvolver a segurança da mão e da vista, obrigando as crianças a reproduzir objectos
dados. Quantas gerações “aprenderam” assim a desenhar desinteressadamente coisas
sem interesse e, o que é mais grave, a exercer a matéria designada nos programas
escolares sob o nome de “arte”.
Aos olhos de certos professores essa aversão das crianças pelo desenho
apresentava determinadas vantagens, visto que permitia incutir o sentido da disciplina.
Havia mesmo os que preconizavam ensinar às crianças fosse o que fosse, contando que
fosse desagradável. É inútil dizer que este método era nefasto, porque, se visava
sobretudo desenvolver na criança a habilidade técnica e o sentido da disciplina,
desprezava totalmente as ideias originais e as sensações que nascem dos cérebros
infantis, abafando assim todos os germes do talento criador» (Idem, p.16).
«Quis-se revolucionar o ensino de desenho, substituir os antigos métodos por
uma completa liberdade de expressão. Apuraram-se, no entanto, métodos de ensino que,
concedendo à criança a necessária liberdade para se exprimir artisticamente,
mantinham, não obstante, o grau de disciplina indispensável» (Idem, Ibidem).
A título de conclusão, e referindo mais uma vez a relação temporal das diversas
correntes e práticas pedagógicas, defendemos que as novas ideologias e concepções
devem ser tomadas em condideração como fazendo parte de um todo. Achamos que
numa concepção de liberdade de expressão também devem estar presentes os
metodologias defendidas no passado que exigiam rigor e método, bem como a
preocupação e valorização do conhecimento adquirido pela observação e pelo desenho
do modelo, entre outras.
Introdução ao «Gustavo Azul»

A história que se segue e por nós criada é um exemplo de uma actividade que
desenvolve nos alunos uma «educação pela arte e através da arte». Não é nosso
objectivo vincular ou estabelecer limites de interpretação, pelo contrário, pretende-se
abrir portas para um universo ilimitado e inesgotável. Esta história é também «matéria
prima» para fundamentar a abordagem transdisciplinar e interdisciplinar defendida no
projecto curricular de turma. «O Gustavo Azul» pode ser explorado nas mais
diversas disciplinas, segundo os conteúdos a elas inerentes.
Esta história ao ter sido apresentada a alguns docentes de outras disciplinas, com
o objectivo de ver a sua aplicabilidade, por unanimidade, revelaram muito interesse e
sublinharam a riqueza de conhecimentos que poderiam ser desenvolvidos e actividades
possíveis de realizar. É do conhecimento geral de todos os professores que por vezes é
complicado manter os alunos em silêncio e atentos. Os alunos do 5º e 6º ano aos quais
foi lida a história, mostraram muito interesse pela mesma. Ouviram em silêncio, riram,
questionaram determinadas situações e, no final, resumiram e fizeram as conclusões das
aprendizagens realizadas. Com o decorrer do tempo, a história tornou-se mais complexa
e extensa. Passados alguns meses, ouviram a continuação da história, com o mesmo
interesse e motivação. Quando um dia a professora referiu: «Ficamos por aqui...», os
alunos insistiram que a história fosse lida até ao fim. Realizaram-se diversas
actividades, todas elas avaliadas de forma muito positiva.
Para além de diversas pistas e temas que vão surgindo ao longo da história
capazes de serem transformados em actividades, existe também uma abrangência de
diversos conteúdos da disciplina de Educação Visual e Tecnológica, como os materiais;
o estudo da cor; o património construído e natural; a energia; e tantos outros.
Gustavo Azul

Em cima do estirador branco, do escritório ao lado da sala, o lápis n.º2 HB


estava deitado a pensar:
_Que maçada não ter nada para fazer. Talvez possa realizar um desenho. Mas
não sei desenhar. Talvez se fizer um risco possa abandonar esta ideia de não ter nada
para fazer. Os lápis servem para escrever, não é? Mas também não sei escrever. Não sei
escrever e não sei desenhar. Acho que só sei fazer riscos. Gosto dos meus riscos, das
minhas garatujas, de me mexer rapidamente na folha de papel. Vou fazer um rabisco.
Depois vou fazer outro, e outro, e outro. Tantos riscos que vou ficar tonto de
tanto riscar. Posso rodopiar e imaginar que a folha branca é uma pista de gelo. Vou
dançar na folha branca até gastar o bico e ter de pedir ajuda à minha fiel amiga afia.
_E eu? Nunca me tens em consideração. Disse a borracha branca.
_Sabes que nunca me engano a fazer rabiscos. Um rabisco é uma dança livre no
papel. Talvez quando fizer um desenho...Certamente que um dia saberei desenhar.
A borracha ficou mais tranquila. No entanto ainda respondeu: _ Porque não
fazes um desenho agora? Fazes um rabisco, depois olhas para o rabisco e imaginas uma
coisa qualquer.
_É assim que se desenha? Perguntou o lápis.
_Bem, acho que também pode ser assim. Respondeu a borracha.
O lápis número dois HB saltitou sobre a folha de papel e mesmo ali respirou
fundo e zás! Disse feliz: _ Fiz um rabisco. Mas não se parece com nada!
_Então tenta outro! Pode ser que tenhas mais sorte desta vez.
O lápis deitou-se ligeiramente sobre o papel e desenhou uma linha sinuosa; uma
linha curva fechada. _Já está? Lembra-te alguma coisa?Perguntou a borracha. _Parece
uma sombra... _Pois é. Também concordo, parece uma sombra. Agora podes imaginar o
que está à frente da sombra. Eu acho que à frente da sombra está um rapaz. _Eu também
vejo um rapaz. Vou continuar a rabiscar. Disse o lápis n.º2 HB.
Durante algum tempo o lápis n.º2 HB e a borracha branca divertiram-se a
imaginar e a desenhar um rapaz. Depois de muitos rabiscos, nasceu um desenho.
_Que nome lhe vamos dar? Diz uma letra. Pediu o lápis.
_G!
_Gosto do G. Com o G escreve-se gelo. Sabes o quanto gosto de rabiscar na
folha branca que parece uma pista de gelo! G também vem de gato. Os gatos têm
bigodes. Com o G também se escreve gelado. Pois é...e os gelados são doces. Ah! Ah! E
sabes que com o G também se escreve Gaspar. E Guilherme. Com o G também podes
escrever Gonçalo, Gaivoto, Gustavo! Disse o lápis n.º2 HB.
_Gosto de Gustavo, faz-me lembrar o gosto, o paladar, tudo do que gosto e tem
cheiro. Gosto de Gustavo. Então fica assim, o teu desenho chama-se Gustavo.
O Gustavo nasceu de um rabisco feito num papel.
Depois do rabisco veio o esboço de onde se podia ver um rosto de um rapaz.
Depois do esboço veio a caneta preta que o contornou e o vestiu.
_Já acabaram? Posso ver como fiquei? Perguntou o Gustavo.

_Não. Disse o lápis n.º 2 HB:_ Ainda não estás terminado. Gostava de te ver
mais alegre, mais colorido. Precisas das cores.
_Onde posso ir encontrar cores?Perguntou o Gustavo. _Podes ser pintado com
as canetas de feltro, os lápis de cera, os lápis de cor ou os guaches. Quais é que
preferes? Perguntou a lápis n.º 2 HB.
_Acho que prefiro os lápis de cor. O Gustavo chamou os lápis de cor que
reunidos atribuíram funções uns aos outros: _Tu pintas os calções. _Eu? Perguntou o
verde.
_Sim, acho que os calções verdes têm piada!
_E eu? Perguntou o amarelo.
_Tu podes pintar o cabelo. O cabelo parecerá raios de sol, com uma certa ideia
de energia. Um cabelo eléctrico! O vermelho fica para os sapatos...
__Não posso pintar outra coisa? _Não. Disse o verde. Ficam-te bem os sapatos
vermelhos. O boné será violeta.
_E eu? Perguntou o azul.
_Tu, bem...Tu não sei. Só sobras tu. Acho que só falta a cor de pele do rapaz.
Respondeu o amarelo. Tu bem que podias pintar o corpo ou a pele do Gustavo.
_Nunca vi um rapaz azul. _Eu também não.. disse o verde. Talvez seja uma ideia
diferente, um rapaz azul, pinta-o de azul!
Colorido o Gustavo espreguiçou-se, soltou um bocejo e perguntou: _Já
terminaram?

_Sim. Ninguém se opôs.


_Posso sair da folha?
_Podes. Concordaram todos.
_Vais para onde?
_Gostava de ir voar, lentamente ao sabor do vento, depois pousar num sítio
diferente. Um sítio novo.
_Rasga-me uma folha de papel. Disse o bloco de desenho. Dobra a folha e
transforma-a num avião de papel.
O Gustavo subiu para o avião, disse adeus ao lápis de grafitti, à borracha, ao
bloco de desenho e aos lápis de cor. Ajeitou o pião no bolso e disse obrigado.
_Que tenham uma boa viagem! Disseram todos.
_Adeus! Disse o avião de papel.
Dito isto todos sopraram um bocadinho, até o avião sair da mesa ou do estirador
a voar pela sala em direcção à janela. Ao longe o avião de papel tornava-se pequenino
até se perder de vista.
_Achas que ele vai voltar? Perguntou o lápis amarelo que era muito dado ao
medo e ao perigo.
_ Claro que vai. Respondeu o verde cheio de esperança.
_ Olhem que para mim ele vai seguir a sua aventura que é infinita! Respondeu o
azul que pensava na imensidão do mar e do céu.
_ Ele vai encontrar um outro desenho ou rabisco, talvez encontre um sítio novo e
conheça o amor. Não volta. Disse o vermelho apaixonado e atrevido.
_ E tu roxo, qual é a tua opinião? Estás a ficar muito estranho! Disse o verde.
_ Tenho de ir fazer chichi, já volto!
Os lápis de cor entraram devagarinho na embalagem de papel. A borracha
arrumou-se no estojo e o bloco de desenho fechou-se. CRRRRRRR! Fez o fecho eclair
do estojo que disse imperativamente: _ Por hoje já chega de desenhos!
_ Vuuuuu! Vuuuu! Fez o vento no avião de papel.
_ Para onde queres ir? Perguntou o avião.
_ Para lá daquela linha que separa o azul do azul. Respondeu o Gustavo.
_ Hum... Mostrou-se o vento admirado.
O avião sobrevoou o mar, a terra, os rios, as serras, as planícies, as grandes e
pequenas cidades. Sempre para a frente, em direcção à linha.
_ Ufa que já estou farto! Nunca mais chegamos lá! O avião de papel já cansado
disse: _ Não queres escolher outro sítio, esse parece-me ser muito longe!
Veio uma nuvem, depois outra, e outra ainda maior. O vento tentou afastá-las, e
soprou-as devagarinho.
_ Vamos confundi-los. Disse a nuvem pequenina com o seu ar de estouvada.
_ Vamo-nos disfarçar de outra coisa qualquer! E dito isto as nuvens brancas
começaram a tomar outras formas.
_ Olha um urso a voar! Disse o avião.
_ Olha um castelo! Disse o Gustavo.
Mas como o vento não estava para brincadeiras, soprou mais um pouquinho,
depois com mais força, e por fim muito chateado disse imperativamente: _ Importam-se
de ir embora? Dito isto a nuvem estouvada ficou muito irritada e começou a ficar
cinzenta. E todas as outras também. Depois ficou ainda mais escura. E as outras
também. Depois ficou triste, soltou um soluço e começou a choramingar. As outras
também. E como gostavam de ficar assim em sintonia, começaram a chorar com mais
intensidade. Soltaram gotas que caíram em direcção à terra.
_ Está a chover! Disse o Gustavo.
_Não devias ter dito aquilo. Agora vamos ficar molhados.
Dito isto o avião de papel começou a ficar molhado e macio, pronto a desfazer-
se, e disse assustado: _Ui, que isto está a acabar mal. O avião aterrou na calçada de uma
rua de pedra. Perto do capitel de um edifício muito grande.
_Atchiiiiiiiim! Espirrou o avião de papel agora amachucado.

_ Estamos todos molhados. Agora sou um desenho esborratado! O azul


misturou-se com o amarelo e tenho umas manchas verdes. Devíamos procurar um sítio
seco para nos abrigar._ Boa ideia...Aaaatchiiiiimm! Disse o avião de papel.
_ Se quizerem entrar posso arranjar-vos um local próximo do ar condicionado.
Têm é de se disfarçar de panfleto ou mapa, ou de cartaz ou preçário, caso contrário vão
para o lixo! Ninguém aqui gosta de ver papéis no chão.
_ Quem és tu? Perguntou o Gustavo.
_ Sou um bilhete da Galeria de Arte e do Museu.
_ És engraçado. Estás bem feito e pareces ser chique. _ Bem, sou um bilhete de
cinco euros!
_Hum! Por isso és importante? _ Bem, já fui, agora estou rasgado e quem quiser
entrar tem de comprar um novo. Respondeu o bilhete.
_ Nós gostávamos de entrar. Disse o Gustavo.
_ Então venham. Sigam atrás de mim. Disse o bilhete. Pararam em frente a umas
íngremes escadas de pedra. Olharam para cima, assustados e respiraram fundo.
_ Nunca chegaremos lá! Ainda tentaram fazer uma escalada, mas nada havia a
fazer.
_ PssssT! PssssT! Fez o elevador.
_ Sim, o que é que queres?
_ Vou subir para o 2º andar querem vir? Sem hesitarem, colocaram-se os três a
um cantinho, com uma expressão discreta e um certo ar de alívio. Após as pessoas
saírem, o Gustavo espreitou e disse: _ Vamos, podemos seguir em segurança!
_ Quando entraram no espaço amplo e iluminado exclamaram em coro: _
Aaaaaa!
_ Que lindo! Tenho a sensação que esta é a minha casa! Disse o
Gustavo de boca aberta.
_ Desculpa interromper, mas esta não é a tua casa. É a primeira
vez que te vejo por aqui.
O Gustavo olhou espantado para aquela rapariga que tinha um ar
triste. Ou pensativo, ou um bocadinho chateada, ou outra coisa qualquer
de que não me lembro a palavra certa, e perguntou-lhe: _ Quem és tu?
_ Sou o desenho de uma rapariga. Chamo-me Lola. Fui
desenhada por Picasso. E tu, o que és?
_ Sou um desenho, feito a partir de um rabisco do lápis n.º 2 HB.
Estás bem desenhada. O teu lápis sabia bem o que estava a fazer. Pois
olha, eu sou o primeiro desenho a sério do lápis n.º 2 HB que estava
sempre a rabiscar.
_ E o que é que estão a fazer neste sítio? Não me parece que tenham a pretensão
de serem emoldurados na parede para exposição.
_ Estamos de passagem. É a minha primeira viagem. Não tivemos muita sorte
com o tempo. Começou a chover quando o vento irritou as nuvens e não lhes deu a
importância devida. Uma história de amor mal resolvida, entendes?
_ Não. Nunca vi uma nuvem. Embora saiba o que é o amor, nada também sei em
relação ao vento. Mas começo a gostar de ti. Tens coisas engraçadas para contar.
Após alguns minutos, o Gustavo falou da sua viagem com o seu avião de papel.
_ Se quizeres, também te posso contar coisas sobre a minha primeira viagem. Ou
melhor, queres fazer uma viagem?
_ Qual o destino? Achas que podemos ir para onde? Perguntou o Gustavo.
_ Podes ir até ao Expressionismo, ao Cubismo, à Pop Art, ao Barroco, ao
Impressionismo, não sei, onde tu quizeres!
_ Digo-te que é a escolha mais difícil da minha vida! O único sítio que conheço
bem é o meu estirador branco, que fica numa casa em Trofa.
_ Então tenho uma ideia, podes fazer uma viagem sem destino. Segues a tua
intuição e se não gostares, vais para outro lado, que te levará
a outro diferente e assim, será uma grande surpresa!
_ Acho muito engraçada a ideia. Por onde e quando
posso começar? Perguntou o Gustavo.
_ Agora. Primeiro encontras a ponta do fio. Trata-se
do fio condutor de toda a tua viagem. Voltarei a encontrar-te
em breve. Boa aventura! Disse Lola.
_ Aaatchiiiiiimmmm! Eu acho que vou ficar por aqui.
Disse o avião de papel.
O Gustavo espreitou para aquele emaranhado de caminhos e, num plof
escorregou num túnel. Assustado gritou: _AAAAAAiiiiiiiiii!
Subiu, desceu e seguiu viagem até encontrar outro
desenho, uma mulher de perfil e sentada:_ Acho que esfolei o
joelho! Disse o Gustavo que tinha medo de rasgar o seu papel.
_ Todos os que fazem esta viagem dizem que não é muito
fácil, mas é apaixonante. Estou a pensar que estava a pensar que
alguém estava a pensar em ti. E pensando bem, não consigo
pensar noutra coisa. Disse a mulher.
_ Claro, segues para onde quiseres, para qualquer sítio, é lá! Mas primeiro tens de entrar
no espelho mágico e tornares-te num menino que saiba pensar a sério. Tens de querer
aprender para descobrir um mundo mágico e maravilhoso. Estou a pensar que_ A mim
nunca me aconteceu isso! Respondeu o Gustavo.
_ Estou a pensar que a mim também não!
Dito isto o Gustavo perguntou: _ Sabes onde fica a
aldeia mais próxima ontem pensei que o pensamento é um
lugar. Nesse lugar tu é que pensas.
_ Hum! O Gustavo estava baralhado e um pouco
confuso de tanto pensar no que o desenho estava sempre a
pensar.
_ Entra no espelho. Do outro lado existe o mundo
que procuras. Tenho a certeza que voltarás. Até breve!
Disse a mulher.
_ Opssss!!!! Aaaiiiiiiii !!!! Que engraçado é este
lugar. Um espelho, uma porta, uma bola ou uma argola! Azul e redondo, como a forma
do mundo. Ou mais ou menos, porque um círculo não é igual a uma esfera, e também
não é igual a uma circunferência! Hum, que estranho, estou a
pensar que consigo pensar, mas pensar a sério! Ufa, que estou
farto de andar e ainda não vi nada.Dito isto, o Gustavo avistou
ao longe uma pintura.
O Gustavo caminhou naquela paisagem de Outono e
sentiu o cheiro da terra molhada. As folhas dançavam com o
vento até adormecerem na manta que cobria o chão. No ar
sentia-se o perfume e a música das cores. Ao longe avistou
uma aldeia.
_Que sítio mais engraçado, mas não se vê ninguém com quem possa falar.
_ Cócórócócó! Respondeu a galinha.
_ Que flores tão coloridas. Estamos na Primavera? Perguntou o Gustavo.
_ Cócórócócó! Respondeu a galinha da frente que era mais comunicativa.
_ Quem é que mora nesta casa? Achas que posso entrar? Perguntou o Gustavo.
_ Cócórócócó! Não sei. Se fores uma galinha não podes.
_ Não sou uma galinha. Sou um desenho feito a partir de um rabisco do lápis nº. 2 HB.
_ Cócórócócó. Disse a outra galinha, que na sua linguagem queria ir procurar minhocas
e não lhe apetecia estar sózinha.
_ Gostava muito de ir procurar minhocas contigo. Mas não sei muito do assunto.Disse o
Gustavo.
_ Deixa estar. Afinal vou pôr um ovo! Cócórócócó! A galinha corou, fez um bocadinho
de força e num plof, libertou um ovo verde.
_Nunca tinha visto um ovo verde! Parece de pedra. Disse o Gustavo espantado.
_ Podes ficar com ele! E dito isto as galinhas foram embora.
_ Obrigado... Disse o Gustavo com o ovo na mão, que afinal era mesmo de pedra.
Talvez seja um ovo que nunca se quebre. Como a verdadeira amizade. Pensava ele.

Aproximou-se da casa.
Conta-me uma história! Pediu a criança ao colo da mãe «Era uma vez um mundo onde
existiam pessoas que passavam os dias a sonhar. Viviam no mundo da criatividade e da
expressão. Sempre que tinham uma ideia, transformavam-na em pontos, linhas, formas,
texturas e cores. Algumas tinham volume, luz e sombras. Esses homens criavam um
mundo novo a partir do seu mundo interior e davam-no a conhecer aos outros homens
de forma a que também eles experimentassem essa descoberta de se poder ser outra
coisa para além do que por diversas razões temos de ser. Num desses mundos existia
um céu azul onde as cabras se alimentavam dos cheiros fumantes das
chaminés, em que se descobriam os odores do amor que as mães
confeccionavam nas pequenas cozinhas. As cabras pousavam sobre as nuvens de forma
a ouvirem o violinista que tocava para os noivos que sentiam um imenso amor pelo
outro e estavam felizes por partirem numa viagem a dois para o resto das suas vidas.
Nesse mundo existiam muitas cores, muitas flores e todos eram felizes».
_ H__ Gostava tanto de conhecer esse mundo! E pensando nisso, o
Gustavo voltou ao seu novelo de caminhos e avistou uma pequena
aldeia. Aquele sítio era muito bonito, mas como entretanto
anoitecia, tinha de procurar um sítio para dormir. Ou ir para outro
lugar, onde as cores não estivessem ainda a dormir. Ao longe as
cores quentes transmitiam uma sensação aconchegante de conforto.
Tão agradáveis como as pessoas, os anjos e a noiva que feliz voava
no ar, ao som da música, com as suas cabras e galinhas, com o
violinista e as cores, o amor e a alegria.
_Está noite, mas não está frio! Disse o Gustavo.
_ Então, podes ficar para a festa, ouvir a música e dançar.
_Dançar? Perguntou o Gustavo ao rapaz que
acompanhava o pai.
_ Sim, dançar. Hoje é dia de festa e estamos todos
convidados para dançar. Dito isto o rapaz fez três acrobacias
no ar e riu muito feliz: _ Anda. Disse ele. O Gustavo seguiu-
os até ao outro lado da aldeia.
_ Gostas do que vês?
_ Sim, estou a gostar, sinto-me muito feliz aqui. _
Então podes ficar! Devemos ficar nos sítios e com as pessoas
que nos fazem realmente muito felizes.
_ Tenho de seguir viagem. Disse o Gustavo ao rapaz, explicando-lhe de seguida
a sua história.
_ Gostei muito de te conhecer. Talvez um dia possa ver o teu lápis n.º 2 HB e
esse sítio de onde vieste.
_ Leite com chocolate! Apregoou o
animal.
_ Leite com chocolate! Hum! Apetecia-me
tanto! Disse o Gustavo.
_ Então podes beber.
_ Também quero. Disse a Galinha que já
estava na fila. O Gustavo limpou os seus bigodes
de leite e a sorrir disse obrigado a todos e partiu.
_ Queres comprar um jornal, para leres na viagem?
_ Não tenho dinheiro. Disse o Gustavo
_ Então, posso oferecer-te o da semana passada. As
notícias são muito actuais porque falam de sonhos, de
sentimentos e do amor.
Assim, não se
desperdiça papel e, depois, poderás passar a
informação a outra pessoa que conheças na tua
viagem. Parecia-lhe uma boa ideia. O Gustavo
agradeceu e partiu.

_Que sítio tão bonito, tão verde e fresco!


Olhou à volta e como não viu ninguém, rodopiou de
felicidade até ficar tonto e cair para o lado. Ao longe
avistou uma casa, mesmo ao lado de uma linha
férrea ao pôr do sol, onde circulava um comboio
muito veloz. Era uma passagem de nível. Anoitecia.
O Gustavo permanecia sentado a ver os comboios a passar:
_Talvez devesse ir para outro sítio! Pensava ele.
E assim fez. Sentado numa carruagem muito
confortável, olhava para uma bela senhora que lia um
livro. O Gustavo aproveitava também para ler o jornal
da aldeia de Chagall. Que chapéu tão elegante. E,
pensando nisso reparou que tinha perdido o seu boné: _ Sou mesmo distraído! Onde o
terei deixado?
_ Eu também estou sempre a perder coisas. Já perdi sonhos, o amor, a alegria e
os momentos mais importantes da minha vida. Perco tudo, por engano ou
distracção.Disse aquela senhora que estava muito triste. Quando estamos tristes
devemos falar com os outros, ou ouvir. Sentou-se ao seu lado.
_ Estamos a chegar. Podes ficar com o meu chapéu porque gosto de ti e acho
que vais ficar muito engraçado.Disse a senhora Hopper.
O Gustavo ofereceu-lhe o jornal, que falava dos sonhos
e do amor. Saiu na estação seguinte e disse adeus acenando com
o braço até deixar de ver o comboio.
_ Hum! Que cheiro! Que sítio tão porco. As pessoas aqui
não tomam banho? Pensou ele.
_Olha só aquele senhor! Ele não sabe que não se faz
chichi na rua e para o chão? Eu já fiz uma vez, mas estava muito
aflito e procurei um sítio muito discreto.
_ Ouve lá, já te disse para vires arranjar o telhado da
Estalagem. Arranja a palha ó idiota! Disse a mulher à janela. Aquelas pessoas eram
muito mal educadas. Não se dizem asneiras ou disparates. O Gustavo decidiu sair dali.
_ Dizes que está aqui escrito, Sacerdote Demoníaco? És
mesmo imbecil. Diz-me a página ou corto-te os bigodes!
_ Estou a pensar, com o chapéu de pensador. Mas deve
estar estragado, porque as ideias não me ocorrem. Latim, Latim,
estaschiops, oks, oks, pilimtruztruz! Acho que está no outro livro!
Disse o monstro. Aqueles seres eram muito estranhos, e também
não pareciam muito simpáticos.
O Gustavo decidiu sair daquele lugar e ir para outro;
menos complicado para a sua compreensão de
desenho.
_ Gosto deste lugar, cheio de pontos e
linhas de manchas e de cores alegres. As
cores primárias: o amarelo, o azul ciano
e o magenta. As cores
neutras: o preto e o branco. Gosto deste lugar, cheio de formas geométricas.
Na varanda do Celeiro Vermelho estava sentada uma rapariga loira e muito
bonita. Estava a ter uma conversa muito importante com o namorado. Que comovente
aquele amor! Parecia um romance ao estilo americano. Os dois
terminavam a sua breve conversa com um longo beijo romântico.
Comovido, o Gustavo corou e foi para outro lugar. Seguiu viagem no seu
novelo de caminhos. Mas decidiu não ir para muito longe.
_ Iupiii! Queres jogar? Perguntou-lhe a Rapariga com Bola que
nunca se cansava de jogar.
_ Sim. Disse o Gustavo que de imediato se apresentou.
_ Tenho um presente para ti. Toma! Disse o Gustavo.
E dito isto ofereceu-lhe o ovo de pedra.
_ Não é uma bola, mas também não tem arestas e é muito bonito. Obrigado. A
sorrir o Gustavo retomou viagem. Ao longe avistou uma rapariga que brincava com o
seu arco.
_ Onde vais? Perguntou-lhe o Gustavo. _Espera, quero ir
contigo! O Gustavo seguiu a rapariga até à sua casa. Sempre a
correr, num jogo em que não se podia pisar as sombras.
_ Quem pisar perde! Podes entrar, o pai já fez o jantar. Ele
adora cozinhar. Gostas de puré de batata? _Sim. Respondeu o
Gustavo.
_ Andas na escola?
_ Não. Nunca estive na escola. E tu? Perguntou-lhe o
Gustavo.
_ Eu ando no 6º ano. Gosto muito de todas as disciplinas,
mas em especial das aulas de Educação Visual e Tecnológica.
_ E o que é que aprendes nessa disciplina? Perguntou
o Gustavo.

_ Aprendo a valorizar as minhas ideias e as dos outros,


a criar projectos, a saber olhar para o mundo à minha volta de
forma a descobrir sempre coisas novas e a conhecê-las
melhor. Aprendo a descobrir o belo do mundo que me rodeia
e a intervir nele de forma consciente, através de muitos
recursos e meios técnicos. Aprendi que o mundo ao longo
do tempo tem mudado e que podíamos ter um
uma vida melhor se todos os homens
procurassem o amor e a beleza nas pequenas
coisas. O Gustavo estava encantado com
aquela rapariga que era tão bonita quanto
inteligente e sensível.
_ Este é o meu pai e esta é a minha
mãe. Disse a «Rapariga de Tranças». _O meu pai chama-se Leopold Zborovski, e a
minha mãe Lunia Czechovska.
O jantar estava muito saboroso, e todos juntos ouviram atentamente a história da
viagem do Gustavo. _ Talvez um dia conheça o teu lápis n.º 2 HB. Disse a rapariga a
sorrir . O Gustavo despediu-se de todos e muito feliz voltou ao seu novelo de caminhos.
_ Queres boleia? Perguntou-lhe o rapaz .
Sem hesitar, o Gustavo voou sobre aquela terra de um novo
mundo do fantástico, em cima de um ganso. «Indo eu, indo
eu a caminho de Viseu, encontrei o meu amor, ai Jesus que lá
vou eu. Ora zus truz truz, ora zás trás trás, ora chega, chega,
chega, ora arreda lá para
trás!»
Assim cantavam as
crianças em roda, que
interromperam a brincadeira
para nos dizerem adeus.
_ Querem mais sopa
de feijão?
_Não. Já comi três sopas de feijão. Respondeu o
soldado. _Ai! Ai! Ai! Disse a mulher muito zangada: _ Vais voltar para a mesa porque é
falta de educação levantares-te sem pedires licença! Se queres ser um homem grande,
tens de comer muita sopa!
A mulher agarrou no homem e truz, colou-o à mesa com fita cola. Abriu-lhe a boca e
obrigou-o a comer a sopa toda.
_ Queres sopa? Perguntou o rapaz ao Gustavo.
_ Quantas sopas tenho de comer?
_ Muitas, até ficares grande.
_ Não, obrigado! Prefiro uma maçã.
_ Deixa-me ali naquele lugar. Disse o Gustavo
ao rapaz do Ganso.
Já cansado, adormeceu debaixo da árvore.
_ Aiiiiii! Aiiiiii ! Chorava o rapaz.
_ Sabes o que acontece aos meninos que têm
demasiada imaginação? Ficam de castigo. _ Prometo
que nunca mais conto histórias inventadas.Disse o
menino.
Naquele momento todas as pessoas paravam de ouvir ou contar histórias. O
menino mágico das histórias fantásticas não podia sonhar porque levava uns grandes
açoites no rabo. _Aiiii! Aiiii! Chorava o rapaz.
_ Quem é aquela mulher malvada que está a bater no miúdo? Perguntou o
Gustavo à rapariga que estava sentada na cama e que não conseguia adormecer por não
ter uma história.
_ É a mãe do «Papão do Telhado». Sem histórias ninguém vai conseguir
adormecer! Dito isto começaram todos a fazer uma cara triste, depois ouviu-se um
soluço, depois veio o choro. «Queremos ouvir uma história!». Disseram em coro todas
as pessoas que queriam dormir. Ouviu-se um soluço tão grande que o telhado voou. O
papão foi-se embora, e a mãe do papão foi atrás dele: _ Anda cá! Tens ainda muitas
criancinhas para assustar. Preguiçoso. Ai que vais levar um açoite nessa cabeça de
cebola!
_Finalmente podemos ouvir uma história! Disse a rapariga. Como o rapaz estava
triste, o Gustavo contou a todos a sua história e falou-lhes do
seu amigo lápis n.º 2 HB.
_Que sonho! Pensou o Gustavo ao acordar! Lá fora o
sol sorria.
Seguiu viagem numa bela seara.
_O que é o amor? Perguntou o Gustavo à mulher.
_ O amor é tudo o que de bom e belo existe. _ E o que é
a beleza e a bondade? Perguntou o Gustavo._ Não sei responder a isso, só sei sentir. Por
vezes é difícil encontrar as palavras certas para um sentimento. Queres uma maçã?
_Sim, obrigado. Respondeu o Gustavo que a saboreou com prazer. O Gustavo
sentia-se com saudades de casa e decidiu voltar.
_ Toma, trouxe-te uma maçã! É de Cézanne! Disse o Gustavo ao seu avião. Ao
longe, o Gustavo voava sobre o seu avião de papel, que por sua vez sobrevoava o mar.
_Estamos quase a chegar! Mas dito isto apareceu o vento, atrás do vento vieram
as chatas das nuvens e atrás das nuvens veio a chuva.
_ Despacha-te ,disse o Gustavo para o avião de papel. Vai voltar a chover. O
avião esticou-se para a frente, endireitou o seu bico de papel e Záááássss! Entrou na
janela da casa, e pousou levemente sobre o estirador branco.
_ Chegámos a casa! Disse o Gustavo.
_Já tínhamos saudades vossas! Disseram os lápis de cor.
_ Eu não disse que ele voltava?
_ Sim verde, disseste.
_ Queres ver o que fiz para ti?
_Hum! Hum! Disse o Gustavo afirmativamente e acenando com a cabeça.
_ Então anda, os lápis de cor estão a terminar. Disse o lápis HB n.º2.
_Olha, fizemos um desenho! Disse a borracha branca.

_ Como te chamas? Perguntou-lhe o Gustavo.


_Maria.
Dito isto olharam um para o outro, coraram um pouquinho e sorriram.
_ Querem fazer um desenho? Perguntou a borracha.
E dito isto começaram todos a pensar. Primeiro era preciso ter uma ideia, depois
era necessário fazer o primeiro rabisco, depois... Bem, depois já sabem! Já vos contei a
história!
_És verde.Disse o Gustavo à Maria.
_ E, tu és azul.
_ Gostas do azul? Perguntou o Gustavo.
_ É muito engraçado.
_ O teu verde também. Gosto do teu peixe.
_ É do mar. Disse a Maria a sorrir.
_ Gostavas de ver o mar? Perguntou o Gustavo.
_ Sim.
_ Então um dia levo-te lá!
_ Hum, rasguem-me uma folha! Disse o bloco A3. _ Dobrem uma folha, e façam
um barco de papel!
_ Boa ideia. Disseram todos: «Vamos fazer uma viagem!».

«A arte é uma fonte de conhecimento, não só na medida em que dá continuidade


imediata à obra das ciências e complementa as suas descobertas, como nomeadamente
as da psicologia, mas também na medida em que chama a atenção para as fronteiras
onde a ciência falha, e entra em cena, quando se considera capaz de adquirir novos
conhecimentos, inviáveis fora do campo da arte. É através dela que chegamos a
conhecimentos que alargam o nosso saber, embora não tenham um carácter abstrato-
científico» (HAUSER, Arnold, 1973, p.9).
A actividade aqui apresentada foi realizada no âmbito da disciplina de Educação
Visual e Tecnológica, no ano lectivo de 2000/2001, inserida no projecto «Como estão o
ar, a terra e o mar?», que participou no concurso de projectos temáticos APEVT_
LIPOR 2000/2001, subordinados aos temas «O Ambiente e «Que fim para os lixos?»,
para a Área Metropolitana do Porto. Este projecto, vencedor do segundo lugar a nível
nacional, foi desenvolvido com algumas turmas da Escola Básica do 2º e 3º ciclos
António Bento Franco, na Ericeira.

A personagem realizada, facilmente nos remete para a Maria que surge na


história «Gustavo Azul». É de salientar o uso de materiais de desperdício e que a
estrutura é feita tendo em atenção a concretização de uma «marioneta de grandes
dimensões».
Gustavo Azul II:
Pequenos animais

_ Não ouviram o que eu disse? Rasguem-me uma folha e façam um barco de


papel! Disse o Bloco A3.
Ao longe, a um canto do estirador, o avião de papel sentava-se em cima de um
livro gordo. Fazia um beicinho de tristeza e olhando para o chão pensava: _ Já não sou
importante! Sou mais um desses papéis que depois de usados ficam no esquecimento. E,
quando estava prestes a libertar uma pequena lágrima de tristeza, o livro respondeu:
_ Olha lá! Devias lutar pelos teus direitos! Não só pelos teus como por todos os
direitos das árvores do mundo! Quanto mais papel se desperdiçar, mais árvores são
abatidas todos os dias.
O avião de papel ficou impressionado com aquela verdade. Embora não fosse só por ele,
cabia-lhe a grande tarefa de pensar em todas as árvores do mundo. Olhou para os seus
amigos que terminavam de fazer as malas para a viagem e disse baixinho:
_Tenho uma ideia! Mas ninguém ouviu. E por tal voltou a repetir:
_ Tenho uma ideia! Voltaram a não o ouvir.
Então, o avião de papel gritou muito alto: _ Tenho uma ideia!
De imediato olharam todos admirados e perguntaram:
_Uma ideia?
_ Sim, uma ideia! Disse o avião de papel orgulhoso.
_ Se quizerem, podem transformar-me novamente numa folha A3, podem voltar
a dobrar-me e a realizar o barco de papel, assim, não será necessário outra folha de
desenho.
_ Boa ideia, disse o bloco.
_ Mas eu gosto de ti assim. Disse o Gustavo.
_ Estou habituado a olhar para ti com esse bico doido. Gosto de voar
contigo.Não sei se vou ser capaz de te imaginar como um barco de papel... Ainda por
cima não gostas de água e estiveste constipado...
_ A mim parece-me uma excelente ideia! Disse a Maria.
_ Nós também achamos. Disseram os lápis de cor em coro.
_ Hum. Vou ter saudades tuas...assim, com essa forma. Mas começo a gostar da
ideia.
Dito isto começaram todos a transformar o avião de papel num barco de papel.
_ Já terminaram? Ui! Não me façam cócegas!
_ Já estás terminado! Ficaste tão engraçado. Disse o Gustavo.
_ Agora podemos levá-lo para a rua. Não vai ser fácil! Tem de ser um trabalho
de equipa...
Depois de explicar o seu plano, o Gustavo deu a todos tarefas. Os lápis de cor
azul e o verde deitaram-se de forma a fazerem uma rampa. A Maria e o Gustavo e o
lápis n.2 HB e a borracha, entraram para dentro do barco de papel. O Bloco folheou-se
muitas vezes e muito rapidamente de forma a criar vento... o barco de papel voou pela
janela e, como não tinha asas, caiu numa poça de água, uma enorme poça de água.
_ Olha o mar! Disse a Maria. É tão engraçado!
_ Não toques na água senão esborratas as tuas cores de desenho! Disse o
Gustavo preocupado com a Maria. _ Não estamos no mar. Disse o Gustavo. Isto é só
uma pequena poça de água que se formou com a chuva que caiu.
_E o mar fica muito longe daqui?
_ Croach. Croach. Croach. Também és verde! Mas não és uma rã! Que espécie
de animal és tu? Perguntou a rã à Maria que ficou muito assustada.
_ Não. Não sou uma rã, sou um desenho e o gustavo também. Estamos aqui na
tua poça de água porque queremos ver o mar.
_ Sabes onde fica o mar? Perguntou o Gustavo à rã que estava sempre a olhar
para o céu.
_ Hum! Hum! Não sei onde fica o mar! Sou um pouco distraída...
Dito isto a Maria segredou ao ouvido do Gustavo: _ Porque é que ele está a olhar
para o céu?
_ Não sei respondeu o Gustavo que de seguida perguntou baixinho à borracha:
_ Sabes porque é que ele está a olhar para o céu?
_ Hum, não sei. Disse a borracha que perguntou baixinho ao lápis que se dobrou
para a ouvir:
_Sabes porque é que ela está a olhar para o céu?
_ Não. Não faço a mínima ideia. Disse o lápis n.º 2 HB que disse ainda mais
baixinho ao barco de papel:
_ Sabes porque é que a rã está sempre a olhar para o céu?
_ Acho que é maluca! Disse o barco com ar de desconfiado.
Enquanto todos olhavam para o céu, ouviu-se um
barulho....ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ! ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!
_Afinal, a rã estava a ver se via a mosca! Disse o Gustavo.
A rã era muito bonita, esguia e de pele lisa. Parecia no entanto muito chateada.
_ Acho que não lhe devias dar importância! Disse a Maria.
_As raparigas são assim, gostam muito de inventar brincadeiras. Acho que o
jogo da apanhada é engraçado. Porque é que não tentas apanhá-la?
A rã olhou para a Maria e disse-lhe muito chateada: _Porque aquela mosca é
muito tonta. Se a apanhar vou ter de a comer, tenho cá uma fome!
_ Argh! Que nojo! Gostas de moscas?
_Sim, adoro comer moscas ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar. Como
não tenho refeições às horas certas, como moscas sempre que posso.
_ Eu não sou uma mosca! Sou um vespão! Disse o insecto ofendido que partiu
amuado.
A rã ficou confusa. Precisaria de uns óculos?
_Vives aqui? Interrompeu o lápis n.º 2 HB.
_ Não, vivo no tanque de pedra. E por falar nisso tenho de voltar. Estão lá os
meus girinos.
_ O que é um girino? Perguntou o barco de papel.
_Um girino é uma rã bebé que se parece com um peixe. Não tem patas, tem
cauda, e respira por guelras. O girino transforma-se. Primeiro desenvolve patas traseiras
e, em seguida, patas dianteiras; as suas guelras transformam-se em pulmões para que
possa respirar o ar.
_Podemos ver os teus girinos? Perguntou a Maria entusiasmada com a ideia.
_Sim, podem.
Dito isto, a rã colocou o barco de papel na cabeça como se de um belo chapéu se
tratasse. No alto, todos gritavam de entusiasmo aquando os saltos da rã.
_Como é que te chamas? Perguntou-lhe a borracha.
_Chamo-me Caramela.
Quando chegaram ouviram:
_Buuuuuáááá! Vou dizer à mãe, isso é meu!
_ Então apanha-me!
_A última a chegar é burra!
_Buuuuááááá! Snif! Snif! És mesmo de sangue frio! Não sabes brincar! Vou
dizer à mãe!
Ficaram todos de boca aberta perante a algazarra do tanque de pedra.
_É sempre assim! Não se preocupem, daqui a pouco tempo estão todos ao meu
colo a ouvir histórias e a cantar. São crianças, e são tantas que é difícil colocar ordem
nisto.
Querem entrar na nossa casa?
_Não podemos. Somos de papel e vamos ficar molhados!
_Hum...pois é! Mas o lápis pode. Gostava muito que fizesses um desenho na
parede do tanque de pedra.
Enquanto todos permaneciam sentados nas margens do tanque, o lápis n.º 2 HB
mergulhava no fundo. A rã Caramela chamava todas as crianças girinas que em fila
faziam danças na água. Após alguma ordem, todos se sentaram de frente para a parede
e, aí, o lápis realizou um desenho: «A história da transformação de um girino em rã».
_Vamos ficar assim? Perguntou o girino leopardo.
_Sim. Disse a mãe. Não tarda terás uma cauda maior, vais parecer um lagarto!
_ Buuuuuáááá! Eu não quero parecer um lagarto!
Dito isto apareceu um lagarto verde num ramo de um arbusto.
_Qual é o problema? Ser lagarto é muito bom!
_Olha, que animal tão engraçado. Também é verde! Disse a Maria.
_ Sim, sou verde.
_Queres entrar no tanque? Perguntou a avó girina que era muito manhosa e
irónica.
_Não quero estragar as minhas escamas! Prefiro apanhar uns belos banhos de
sol. E, eu sou um réptil, não sou um anfíbio. Por tal, respiro por pulmões e vivo na terra.
Dito isto, o lagarto colocou um creme na sua cauda e muito vaidoso perguntou:
_Gostam da minha nova cauda?
_Hum! Hum! É bonita! Disse o lápis n.º 2 HB que se tentava secar ao sol perto
do ramo do lagarto.
_A minha primeira cauda partiu-se, a segunda ofereci-a, a terceira esqueci-me
dela e, esta cresceu ontem. Estou sempre a mudar de cauda! Por falar nisso...
Ao longe, o camaleão ao sair do ramo da árvore, deixa de ser castanho para tomar a cor
verde da folha onde deita a cabeça com uma expressão dorminhoca. Agarra numa folha
de papel e começa a redigir um postal para o seu primo Heloderme que vive no México.
«Tenho saudades das tuas receitas, das gulosices, dos chás. Continuas a ser um
comilão? Ainda és conhecido como o monstro-de-gila? Aposto que estás mais velho,
careca e gordo! Dá notícias e comprimentos à Joaninha. Um abraço, Zé».
_Chamo-me Luth como a minha avó antepassada Luth. E este é o caracol
Mobilizzz. Z com três zzz.
Enquanto o lápis olhava envergonhado para a tartaruga Luth, sentiu uma
mordidela no seu corpo de madeira.
_Ui! Estás parva ou quê? Mas quem és tu? Não me pareces ser uma afia, mas lá
que és muito agressiva és!
_ Sou uma térmita; uma formiga branca, tenho fome e apeteceu-me mordiscar a
tua madeira que por sinal é muito saborosa....
_Olha, térmita tonta, não voltes a fazer isso!
_Eu gostava de morar na tua madeira!
De viajar com vocês e de conhecer o mundo.
_Parece-me perigosa, não achas?
Perguntou baixinho a Maria ao ouvido do
Gustavo.
_Hum! Hum! Acho que é melhor
arranjar uma bela desculpa! Ouvi dizer que
também comem papel. Disse a borracha
baixinho.
_Sabes térmita atrevida, nós vamos para o mar. E, o nosso barco é de papel, não
aguenta muito peso...se vieres connosco, vamos ao fundo e afogamo-nos... tens de
construir a tua casa noutro pedaço de madeira porque o lápis n.º2 HB tem uma missão
muito importante a cumprir.
_Tenho? Perguntou o lápis que não tinha percebido a desculpa do Gustavo.
E dito isto, a Maria deu-lhe uma cotovelada e lá se foi novamente o lápis.
Pum! Trás!
_Aaaiiiiiiii!!!!! Mais uma e parto mesmo o bico. Disse o lápis depois de ter
caído.
_Chiu! Não faças barulho! És um pouquinho histérico não achas?
_Desculpa, quem és tu? Perguntou o lápis.
_ Sou um bicho da seda e estou a tecer o meu casulo. Preciso de me concentrar.
Não tardará muito, deixarei de ser uma larva e transformar-me.-ei numa
borboleta acinzentada. Já fiz um fio de seda com cem metros de comprimento. Estou
muito cansada.
Todos se esgueiravam na parede do tanque para ver a larva.
_Vai ficar muito bonita não achas?
_Hum! Hum! Acho que sim.
_É sempre a mesma coisa! Eu tenho carradas de trabalho! E a larva é que é
sempre a boazinha e a linda da história.
A aranha estava muito chateada. Fazia um beicinho e sentada na sua teia, trocava
as pernas numa pose muito elegante.
_Borboletas! Bah! São umas tontas! Eu também teço a teia com a seda que
fabrico do meu próprio corpo. Sai-me do corpinho de aranha, entendem?
_Sim.Disse o Gustavo.
_Ainda por cima faço sempre estas espirais maravilhosas e viscosas.
_É verdade, a tua teia está muito bem feita. É bonita e atrai a atenção. É a tua
casa?
_Não rabisca tonta! Uma teia é uma armadilha, quando as moscas e os outros
insectos são apanhados, eu transformo-os no meu almocinho!
Aquela aranha era pouco simpática, um tanto ou quanto ciumenta e não era lá de
muita confiança. Assim, todos decidiram sair dali e ir para outro lugar.
Anoitecia.
A Maria bocejava e abraçava-se ao Gustavo, encostando a cabeça no seu ombro.
_Sabes o que são as estrelas? Perguntava-lhe ela.
_Sim, sei. Conto-te um dia. Saberás toda a história do princípio do mundo. A
história dos planetas e das estrelas.
A borracha encostava a sua cabeça no colo do Gustavo que por sua vez estava
encostado ao seu barco de papel que tinha no seu interior o lápis n.º 2 HB que dormia
tranquilamente e sonhava com o mar.
_Finalmente que já é noite! Disse a salamandra com a sua pele húmida e lisa.
_Onde vais? Perguntou-lhe o Gustavo.
_Vou para a gruta, querem vir?
_Queres ir Maria?
_ Hum! Talvez esteja mais abrigado!
Assim, a Salamandra deu boleia a todos, deixando-nos num sítio muito
agradável e quentinho.
E, a história continua ...
Email ferreiramaria.paula@gmail.com

Trabalho realizado por: Paula Frade


e com a colaboração de José Lima

2005

Paula frade
http://paulafrade.deviantart.com/gallery/

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