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Muito do que nós somos vem do passado. Segundo Ortega Y Gasset, «Negar o
passado é absurdo e ilusório, porque o passado é “o natural do homem que volta a
galope”. O passado não está aí e não se deu ao trabalho de passar para que o neguemos,
mas para que o integremos» (p.20).
Desta forma, defendemos a tese de que a disciplina de Educação Visual e
Tecnológica tal qual é apresentada e entendida no tempo presente, não é mais do que
resultado de um contínuo processo histórico. Nele estão implícitas as políticas e
reformas educativas, concepções filosóficas, estéticas, sociais, pedagógicas, culturais,
tecnológicas e económicas. Importante e urgente torna-se o entendimento e
conhecimento de todo esse processo histórico, de forma a que o presente e as suas
práticas lectivas, sejam reflexo de uma atitude consciente e clara.
Como recorda o relatório (da Comissão da Unesco_ «A Educação para o séc.
XXI), cabe ao mestre transmitir ao aluno o que a humanidade aprendeu sobre ela
mesma e sobre a natureza e tudo o que ela criou e inventou de essencial. O rigor do
método, as ideias claras e distintas, o ensino das diferenças, a entreajuda, o apelo à
responsabilidade e à autonomia_ eis o que encontramos no pensamento de grandes
pedagogos, como S. Filipe de Néri (1515-1595), Coménio (1592-1670) ou Friedrich
Froebel (1782-1852) .
Um currículo apresentado tal qual o da disciplina que mencionamos, nem sempre
orienta o professor para o caminho mais fácil e directivo. Questionamo-nos sobre
diversos conceitos que se alteraram ao longo do tempo e que nos levam também a
hipoteticamente perguntar se eventualmente mudaram as práticas pedagógicas. Na
verdade, no documento «Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências
Essenciais», editado pelo Ministério da Educação no ano de 2001, não são apresentadas
de forma explicita as competências essenciais da disciplina de Educação Visual e
Tecnológica. Ao longo dos anos o ensino do desenho foi tomando outras designações e
estrutura curricular, surgindo recentemente uma nova disciplina, como que «um
casamento» entre a Educação Visual e a Educação Tecnológica. Não nos esquecemos
também de lembrar os antigos trabalhos manuais (femininos, masculinos e
posteriormente num sistema de coeducação). Relembramos que, no momento presente,
aquando dos concursos nacionais de colocação de professores, a disciplina de Educação
Visual, ainda se entende por três grupos distintos ( 05; 07 e 08). Situação que
confirma a ambiguidade instalada. O conceito de «currículo aberto e flexivel» será
também entendido da forma clara?
Com este trabalho não pretendemos dar respostas ou confrontar ideias, achamos
simplesmente importante, lembrar que muito ainda deve ser feito, planeado, gerido,
questionado e mudado, de forma a que seja notória e real uma verdadeira mudança.
Conscientes do universo complexo em causa, limitamo-nos a apresentar aqui
algumas práticas lectivas, actividades, projectos e formas de gerir o ensino no dia a dia,
na sala de aula, que foram realizadas com sucesso.
Estabelecemos um fio condutor no nosso trabalho, começando nesse campo por
querer transmitir a ideia de que uma simples história ou imagem nos podem levar onde
nós queremos. Conscientes de que muito do que se faz de bom, eficiente e eficaz nas
nossas escolas por vezes é esquecido e não se partilha, fazemos uma abordagem ao
passado e ao presente recente.
A história «Gustavo Azul» , é o bilhete para essa viagem.
«Numa sociedade onde informação, espírito científico e educação permanente se
encontram revela-se indispensável, contudo, preparar as pessoas para as mudanças e
para as inovações que emergem e se sucedem a um ritmo inédito. As novas tecnologias
de informação e comunicação introduziram, de facto, um novo ritmo e novas exigências
no contacto com o conhecimento. À mobilidade física sucede-se também a mobilidade
virtual, e a nossa relação com o tempo e o espaço altera-se profundamente. A sociedade
torna-se educativa ou de aprendizagem_ e a educação tem de dar respostas permanentes
e ao longo de toda a vida, redefinindo objectivos na formação inicial adequados às
novas circunstâncias» ( MARTINS, Guilherme d’Oliveira (1998), p.37).
Defendemos a tese de que na preparação para a mudança é necessário antes de
mais, que cada um tenha noção do que deve ser mudado, do que pode ser mudado, e do
que cada um pode mudar. Desta forma há que ter um maior envolvimento face a
determinadas questões levantadas por nós e por todos aqueles que têm contribuído de
uma forma dedicada para as questões das Ciências da Educação e do Sistema de Ensino
no nosso país.
Há que sentarmo-nos para conversar... querem beber um café?
Reflexões sobre o ensino do desenho:
A história que se segue e por nós criada é um exemplo de uma actividade que
desenvolve nos alunos uma «educação pela arte e através da arte». Não é nosso
objectivo vincular ou estabelecer limites de interpretação, pelo contrário, pretende-se
abrir portas para um universo ilimitado e inesgotável. Esta história é também «matéria
prima» para fundamentar a abordagem transdisciplinar e interdisciplinar defendida no
projecto curricular de turma. «O Gustavo Azul» pode ser explorado nas mais
diversas disciplinas, segundo os conteúdos a elas inerentes.
Esta história ao ter sido apresentada a alguns docentes de outras disciplinas, com
o objectivo de ver a sua aplicabilidade, por unanimidade, revelaram muito interesse e
sublinharam a riqueza de conhecimentos que poderiam ser desenvolvidos e actividades
possíveis de realizar. É do conhecimento geral de todos os professores que por vezes é
complicado manter os alunos em silêncio e atentos. Os alunos do 5º e 6º ano aos quais
foi lida a história, mostraram muito interesse pela mesma. Ouviram em silêncio, riram,
questionaram determinadas situações e, no final, resumiram e fizeram as conclusões das
aprendizagens realizadas. Com o decorrer do tempo, a história tornou-se mais complexa
e extensa. Passados alguns meses, ouviram a continuação da história, com o mesmo
interesse e motivação. Quando um dia a professora referiu: «Ficamos por aqui...», os
alunos insistiram que a história fosse lida até ao fim. Realizaram-se diversas
actividades, todas elas avaliadas de forma muito positiva.
Para além de diversas pistas e temas que vão surgindo ao longo da história
capazes de serem transformados em actividades, existe também uma abrangência de
diversos conteúdos da disciplina de Educação Visual e Tecnológica, como os materiais;
o estudo da cor; o património construído e natural; a energia; e tantos outros.
Gustavo Azul
_Não. Disse o lápis n.º 2 HB:_ Ainda não estás terminado. Gostava de te ver
mais alegre, mais colorido. Precisas das cores.
_Onde posso ir encontrar cores?Perguntou o Gustavo. _Podes ser pintado com
as canetas de feltro, os lápis de cera, os lápis de cor ou os guaches. Quais é que
preferes? Perguntou a lápis n.º 2 HB.
_Acho que prefiro os lápis de cor. O Gustavo chamou os lápis de cor que
reunidos atribuíram funções uns aos outros: _Tu pintas os calções. _Eu? Perguntou o
verde.
_Sim, acho que os calções verdes têm piada!
_E eu? Perguntou o amarelo.
_Tu podes pintar o cabelo. O cabelo parecerá raios de sol, com uma certa ideia
de energia. Um cabelo eléctrico! O vermelho fica para os sapatos...
__Não posso pintar outra coisa? _Não. Disse o verde. Ficam-te bem os sapatos
vermelhos. O boné será violeta.
_E eu? Perguntou o azul.
_Tu, bem...Tu não sei. Só sobras tu. Acho que só falta a cor de pele do rapaz.
Respondeu o amarelo. Tu bem que podias pintar o corpo ou a pele do Gustavo.
_Nunca vi um rapaz azul. _Eu também não.. disse o verde. Talvez seja uma ideia
diferente, um rapaz azul, pinta-o de azul!
Colorido o Gustavo espreguiçou-se, soltou um bocejo e perguntou: _Já
terminaram?
Aproximou-se da casa.
Conta-me uma história! Pediu a criança ao colo da mãe «Era uma vez um mundo onde
existiam pessoas que passavam os dias a sonhar. Viviam no mundo da criatividade e da
expressão. Sempre que tinham uma ideia, transformavam-na em pontos, linhas, formas,
texturas e cores. Algumas tinham volume, luz e sombras. Esses homens criavam um
mundo novo a partir do seu mundo interior e davam-no a conhecer aos outros homens
de forma a que também eles experimentassem essa descoberta de se poder ser outra
coisa para além do que por diversas razões temos de ser. Num desses mundos existia
um céu azul onde as cabras se alimentavam dos cheiros fumantes das
chaminés, em que se descobriam os odores do amor que as mães
confeccionavam nas pequenas cozinhas. As cabras pousavam sobre as nuvens de forma
a ouvirem o violinista que tocava para os noivos que sentiam um imenso amor pelo
outro e estavam felizes por partirem numa viagem a dois para o resto das suas vidas.
Nesse mundo existiam muitas cores, muitas flores e todos eram felizes».
_ H__ Gostava tanto de conhecer esse mundo! E pensando nisso, o
Gustavo voltou ao seu novelo de caminhos e avistou uma pequena
aldeia. Aquele sítio era muito bonito, mas como entretanto
anoitecia, tinha de procurar um sítio para dormir. Ou ir para outro
lugar, onde as cores não estivessem ainda a dormir. Ao longe as
cores quentes transmitiam uma sensação aconchegante de conforto.
Tão agradáveis como as pessoas, os anjos e a noiva que feliz voava
no ar, ao som da música, com as suas cabras e galinhas, com o
violinista e as cores, o amor e a alegria.
_Está noite, mas não está frio! Disse o Gustavo.
_ Então, podes ficar para a festa, ouvir a música e dançar.
_Dançar? Perguntou o Gustavo ao rapaz que
acompanhava o pai.
_ Sim, dançar. Hoje é dia de festa e estamos todos
convidados para dançar. Dito isto o rapaz fez três acrobacias
no ar e riu muito feliz: _ Anda. Disse ele. O Gustavo seguiu-
os até ao outro lado da aldeia.
_ Gostas do que vês?
_ Sim, estou a gostar, sinto-me muito feliz aqui. _
Então podes ficar! Devemos ficar nos sítios e com as pessoas
que nos fazem realmente muito felizes.
_ Tenho de seguir viagem. Disse o Gustavo ao rapaz, explicando-lhe de seguida
a sua história.
_ Gostei muito de te conhecer. Talvez um dia possa ver o teu lápis n.º 2 HB e
esse sítio de onde vieste.
_ Leite com chocolate! Apregoou o
animal.
_ Leite com chocolate! Hum! Apetecia-me
tanto! Disse o Gustavo.
_ Então podes beber.
_ Também quero. Disse a Galinha que já
estava na fila. O Gustavo limpou os seus bigodes
de leite e a sorrir disse obrigado a todos e partiu.
_ Queres comprar um jornal, para leres na viagem?
_ Não tenho dinheiro. Disse o Gustavo
_ Então, posso oferecer-te o da semana passada. As
notícias são muito actuais porque falam de sonhos, de
sentimentos e do amor.
Assim, não se
desperdiça papel e, depois, poderás passar a
informação a outra pessoa que conheças na tua
viagem. Parecia-lhe uma boa ideia. O Gustavo
agradeceu e partiu.
2005
Paula frade
http://paulafrade.deviantart.com/gallery/