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INTRODUÇÃO
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A indisciplina na escola é caracterizada como falta de controle de impulsos e baixa
tolerância a frustrações; comportamentos inadequados, como agressões a colegas e professores,
desrespeito e dificuldades de aceitação e cumprimento das normas e regras disciplinares, muitas
vezes, desacato à autoridade dos professores e destruição do patrimônio escolar (BÖCK,1996;
REGO,1996).
As regras que implicam valores e formas de conduta estão relacionadas aos limites. Estes
devem ser interpretados como o que não pode ser feito ou ultrapassado e também como no
sentido de situar, dar consciência da posição ocupada dentro de um espaço social : a família, a
escola, a sociedade como um todo (LA TAILLE,1998). Assim, a indisciplina seria característica
daquele que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que apresenta
dificuldades em entender o ponto de vista do outro, que não consegue dialogar e conviver de
modo cooperativo com seus pares (REGO, 1996).
As relações familiares são muito importantes no desenvolvimento humano e
conseqüentemente, os estilos educativos tem grande influencia na formação educacional
(OLIVEIRA, 1995). Baumrind (apud PREDEBON, 2005), desenvolveu pesquisas sobre os
estilos educativos parentais e nomeou uma tipologia de estilos parentais, classificando-os em:
autoritário, autorizante e permissivo. O estilo autoritário caracteriza-se pela obediência, pelo
respeito à autoridade, pelo trabalho, pela tradição dos pais e pela preservação da ordem. Não há
estímulo à comunicação aberta e bidirecional entre pais e filhos. Os padrões são rígidos, utiliza-se
a punição e, muitas vezes, a força física para disciplinar os filhos. Já o estilo educativo
autorizante caracteriza-se pelo estabelecimento de limites e regras claras, com explicação sobre
estas regras, suporte emocional, autonomia, comunicação clara, aberta e bidirecional, onde os
pais estimulam os filhos à independência e individualidade. Por fim, o estilo educativo
permissivo inclui pais muito tolerantes, pouco autoritários, que utilizam o mínimo de punição
possível, fazem poucas exigências por comportamentos maduros e permitem uma considerável
auto-regulação por parte dos filhos. Diante de situações de conflitos, não estabelecem limites e
parâmetros.
Moreno e Cubero (apud Rego, 1996) se reportam às conseqüências de cada um destes
estilos educativos. O estilo de uma educação familiar autoritária manifesta aspectos como a
obediência e organização, timidez, apreensão, baixa autonomia e auto-estima. Como são
privadas de entender as justificativas para as normas impostas, tendem a orientar suas ações de
forma a receber gratificações e evitar o castigo, demonstrando valores morais pobremente
interiorizados. O estilo autorizante, mais democrático, proporciona aos filhos significativo auto-
controle, melhor auto-estima, capacidade de iniciativa, autonomia e facilidade nos
relacionamentos. Demonstram a interiorização dos valores morais difundidos nas famílias e
parecem ser capazes de assumir posturas mais por seus valores intrínsecos que por temor a
sanções externas. Já o estilo permissivo, devido às poucas exigências e controle dos pais
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proporciona mais alegria e disposição às crianças, mas estas mostram-se mais impulsivas e
imaturas, e apresentam dificuldades para assumir responsabilidades.
A escola completa a função educacional da família. Como agente de socialização,
transmite conhecimentos, habilidades e atitudes necessários ao desenvolvimento e ajustamento do
indivíduo à sociedade (OLIVEIRA, 1995). Para isso, precisa de normas e regras que orientem o
seu funcionamento e a convivência entre seus membros. São compreendidas como condições
necessárias ao convívio social, e sua internalização e obediência podem levar o indivíduo a uma
atitude autônoma e libertadora, pois orienta e limita suas relações sociais (AQUINO, 2000).
A maneira de interpretar a indisciplina ou a disciplina acarreta implicações na prática
pedagógica, pois fornece elementos que podem interferir nas interações estabelecidas com os
alunos, na definição de critérios de avaliação de desempenho na escola e no estabelecimento de
objetivos a alcançar. Também, a visão de professores, técnicos, pais e alunos, sobre as causas da
indisciplina é um aspecto capaz de influenciar o processo educativo desenvolvido na escola
(REGO,1996).
Os professores podem ver a indisciplina como um sinal dos tempos modernos, revelando
saudosismo das práticas escolares e sociais que não davam margem à desobediência e inquietação
por parte das crianças e adolescentes; ou como o reflexo da pobreza e da violência presente no
contexto social, fomentada pelos meios de comunicação; ou como reflexo da educação recebida
na família, assim como da dissolução do modelo nuclear familiar; ou ainda, como traços de
personalidade dos alunos. Os alunos costumam dirigir suas críticas ao sistema escolar, e a
indisciplina seria causada pelo autoritarismo nas relações escolares, a qualidade das aulas, a
organização dos espaços e horários, o pouco tempo de recreio, a quantidade de matérias
incompreensíveis, pouco significativas e desinteressantes, a aspereza de determinados
professores, a falta de clareza dos educadores, as aulas monótonas, ausência de regras claras, etc.
(REGO, 1996). Já outros profissionais da comunidade escolar, como diretores, coordenadores,
etc., e muitos pais atribuem a responsabilidade pela indisciplina ao professor em sua falta de
autoridade, ou poder de controle e aplicação de sanções. A disciplina estaria ligada à ordem,
submissão e respeito à hierarquia, e a idéia de autoridade se confunde com autoritarismo (DAVIS
e LUNA apud REGO,1996).
Para Aquino (2000) a indisciplina escolar deve ser analisada sob um prisma histórico
baseado em condicionantes culturais ou sob uma matiz psicológica, em relação à influência das
relações familiares. Do ponto de vista histórico, a disciplina desenvolvia-se basicamente na
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alunos, cobrança excessiva da posição sentados, inadequação da organização dos espaços em sala
de aula e tempos disponibilizados, excessiva centralização na figura do professor, pouco
incentivo à autonomia e às interações entre os alunos, constante uso de ameaças e sanções
visando o silêncio, pouco diálogo, etc.
Longarezi (2003) afirma que a indisciplina, apontada pelos professores como principal
obstáculo do trabalho pedagógico, denota uma ausência de estrutura psicológica moral que torna
o jovem despreparado para o convívio em ambientes regrados. Os adolescentes que apresentam
falhas no seu desenvolvimento moral, geralmente, manifestam comportamentos inadequados,
julgados, muitas vezes, como comportamento indisciplinado, o que indica uma correlação entre
disciplina e desenvolvimento moral. Também para Araújo (1996) a indisciplina em sala de aula
estaria relacionada com o desenvolvimento moral infantil. Baseia-se na teoria do
desenvolvimento moral elaborada por Piaget, publicada em 1932 em seu livro “O juízo moral na
criança”. Para ele, Piaget (1977) “toda a moral consiste num sistema de regras, e a essência de
toda a moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por elas”(p.11). Deste
modo, verifica-se a vinculação entre regra e moral e a importância que o respeito às regras exerce
no desenvolvimento da moralidade.
Piaget (apud ARAUJO, 1996) constatou que em relação às regras as crianças passam por
três fases: a anomia, a heteronomia e a autonomia. A anomia é um estado de ausência de regras, a
partir do nascimento da criança. O sujeito age de acordo com o que considera certo, pelos seus
interesses pessoais, desconsiderando as regras sociais. A heteronomia é a fase em que as crianças
percebem a existência de regras, que são impostas por outros que exercem autoridade. Elas
agem de acordo com os outros, que sabem o que é certo ou errado. São os pais, professores,
pessoas mais velhas, a religião. A autonomia em que as crianças sabem que existem regras para
se viver em sociedade, e que a fonte destas regras está nelas mesmas. O sujeito tem a capacidade
racional de discernir entre o certo e o errado, levando em consideração os outros e seus direitos,
baseando suas ações em princípios de universalidade e justiça.
Assim, o sujeito, que nasce em anomia só construiria uma capacidade autônoma,
passando por estados de heteronomia. Ao nascer, a criança encontra-se em um estado de
egocentrismo radical. É a partir de sua interação com o mundo, basicamente com a família, e com
a descentração cognitiva, originada desta interação, que pode começar a perceber a si e aos
outros e a existência de regras que regulam as relações interindividuais. A criança então, passa
para a heteronomia, que normalmente se dá pela coação exercida pelas pessoas mais velhas, que a
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obriga a agir de acordo com as regras que estabelece, por meio de ameaça de punição, tanto física
quanto psicológica (ARAÚJO,1996).
Na heteronomia, as relações interindividuais, baseadas na coação e o respeito unilateral,
não levam o sujeito a ter consciência de suas ações. O egocentrismo infantil vai dando lugar a
uma socialização mais ampla, em que a criança conhece um mundo mais complexo e convive
com outras de sua idade. Junto com transformações cognitivas, pode ocorrer o processo de
cooperação, em que a criança confronta seus pontos de vista com os de outros sujeitos. Deste
processo de cooperação surge o respeito mútuo e gradualmente as relações da criança podem
deixar de se basear somente na obediência para basear-se também na reciprocidade. Assim, do
ponto de vista moral, a cooperação pode conduzir a uma “ética de solidariedade e de
reciprocidade” nas relações que resultará numa autonomia progressiva de consciência na qual
poderá prevalecer a heteronomia. As relações de cooperação, de reciprocidade e respeito mútuo
são as fontes da autonomia e a passagem dos estados de heteronomia para autonomia existe
como possibilidade, e não necessariamente como realidade. O sujeito poderá ou não se tornar
autônomo. Não há uma idade determinada para que isto ocorra, pois como processo construtivo
pode haver diferentes estados de autonomia que se situarão em níveis diferentes de juízo moral.
Então, a autonomia ideal é uma possibilidade do ser humano e, do ponto de vista prático,
pouquíssimas pessoas parecem conseguir construí-la. São as relações com base no respeito
mútuo que permitirão construir estados de heteronomia mais elaborados em direção à autonomia.
Se o indivíduo viver constantemente em ambientes de coação e respeito unilateral, dificilmente
poderá alcançar um desenvolvimento ideal e autonomia (ARAÚJO, 1996).
Com base na teoria de Piaget, Araújo (1996) relaciona a indisciplina à moralidade.
Refere ele que a indisciplina na escola se reporta ao desrespeito às regras estabelecidas. Se o
princípio que norteia a regra não for o de justiça, a regra será imoral, e a indisciplina será sinal de
autonomia. Se não é estabelecida com base em princípios democráticos e imposta de maneira
autoritária, o sujeito pode não se sentir obrigado a cumpri-la, e a indisciplina será um protesto
contra a autoridade. Observando a natureza e a forma com que as regras são estabelecidas, o
aluno indisciplinado pode ser ou não imoral, assim como o professor, supervisor ou diretor. Para
lidar com a indisciplina, tradicionalmente, é utilizada a repressão, por meio de instrumentos de
coação que a sociedade coloca à disposição dos profissionais da educação, que só funcionam com
sujeitos que temem a autoridade. Esta forma de lidar com a indisciplina reforça os estados de
heteronomia e não traz os resultados esperados. Para romper com esta postura autoritária, as
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2 RELATO DA PRÁTICA
Este relato refere-se a uma turma de sexta série do Ensino Fundamental, com queixa de
indisciplina, rotulada como a pior turma da Escola, com supressão de recreios e impedimentos de
passeios pelo mau comportamento. Como indisciplina citou-se: dificuldade de manterem-se em
silêncio enquanto o professor explicava o conteúdo, conversas paralelas, agressividade entre eles
mesmos, falta de atenção, brincadeiras em sala de aula, “bagunça”, passeio pela sala,
dificuldade de trabalho em grupo, descompromisso com o material escolar e com os temas,
desrespeito para com professores, dificuldades de respeitar as normas da escola.
Na observação, foram identificadas as dificuldades relatadas pela diretora e supervisora
da Escola. Embora alguns alunos procurassem atender ao professor e se esforçassem para fazer o
tema, eram interrompidos por estes outros que faziam muito barulho. Havia ainda, alunos
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nomeados como “líderes negativos”. Eram ídolos para os demais, que não se comportavam como
eles, mas os acobertavam e protegiam em visível conivência. O professor que estava em sala de
aula não tinha autoridade, por diversas vezes pedia silêncio e não era ouvido. Tratava-os
infantilmente. Mesmo dando as explicações necessárias, os alunos voltavam a perguntar como se
nada tivesse sido explicado. Muitos alunos não trazem o material necessário para trabalhar em
sala de aula e algumas meninas trazem bonecas para brincar.
Foi elaborado um projeto de trabalho que incluía os alunos, os professores, e os pais,
que pretendia conscientizar os alunos para o que estava ocorrendo em sala de aula, resgatar os
valores éticos e morais nas relações interpessoais entre alunos e professores, para um ensino
mais qualificado e produtivo. Este projeto previa reuniões com professores, entrevistas com os
pais dos alunos mais problemáticos, reuniões com os alunos para reflexões e aplicações de
dinâmicas sobre elaboração de regras, direitos e deveres na família e na escola e escolha de
líderes. Os resultados esperados eram a conscientização dos alunos das suas responsabilidades em
sala de aula quanto a limites, normas e regras e ao uso da sua liberdade.
A elaboração de regras de convivência em sala de aula foi bastante difícil. Foi necessária
uma reflexão sobre a situação que a turma enfrentava e uma retomada da elaboração das regras,
que pode então ser concluído. Tendo em vista a dificuldade de trabalhar com toda a turma, um
grupo de 10 alunos interessados em continuar o trabalho, em reunião, manifestaram-se
insatisfeitos com as injustiças, quando todos pagam pelos erros de alguns, a indisciplina de uns
que impedem que outros trabalhem, os professores “bonzinhos” que deixam a turma fazer
“bagunça”. Disseram preferir os professores mais rígidos que cobram disciplina e trabalhos,
porque aprendem mais, e chegaram a conclusão que poderiam ajudar os alunos indisciplinados
cobrando a disciplina a observação das regras instituídas em sala de aula, e ajudando nos
deveres que não conseguiam fazer.
As reuniões com os professores revelaram problemas com a turma, como a agressividade
e indisciplina que dificulta o trabalho pedagógico e com a equipe diretiva, em relação à
comunicação e dificuldades nos relacionamentos interpessoais e o mau clima organizacional.
Também se referiram às confusões geradas pelo Estatuto da Criança e do Adolescentes.
Foi feita uma palestra por funcionário da Promotoria da Criança e do Adolescente que
abordou esclarecimentos sobre os temas Estatuto da Criança e do Adolescente, autoridade do
professor em sala de aula, procedimentos e aspectos legais em relação à indisciplina e em casos
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mais graves como o desacato a autoridade, lesões corporais, danos morais e danos ao
patrimônio, bem como porte de armas e uso e distribuição de drogas.
As entrevistas com os pais revelaram desorientação na percepção e desempenho do papel
de pais e direitos e deveres dos filhos. Não sabiam como agir para estabelecer limites e controlar
a indisciplina. Também citaram problemas familiares graves. Houve um trabalho de
esclarecimentos sobre educação familiar. Constatou-se que nesta turma os dois principais
“alunos-problema” em relação à indisciplina, têm desajustes familiares, e que os problemas de
indisciplina na escola começaram quando instalaram-se os problemas familiares .
À medida que o tempo ia passando, íamos tendo o retorno dos professores e direção de
que a turma apresentava melhoras gradativas no comportamento em sala de aula.
3 ANÁLISE CRÍTICO-REFLEXIVA
A indisciplina aparece como um problema real e de difícil solução. Possivelmente esta
dificuldade esteja ligada às suas múltiplas causas, nem sempre diagnosticada de maneira correta,
ou negadas por uma questão de conveniência. A queixa principal da Escola cuja experiência foi
relatada é a indisciplina das turmas de sextas-séries que estaria dificultando o trabalho
pedagógico e favorecendo o fracasso escolar. É descrita como falta de limites dos alunos, um não
saber ouvir, dificuldade de manterem-se em silêncio enquanto o professor explicava o conteúdo,
conversas paralelas, agressividade entre eles mesmos, falta de atenção, brincadeiras em sala de
aula, “bagunça”, passeio pela sala, dificuldade de trabalho em grupo, descompromisso com o
material escolar e com os temas, desrespeito para com professores, colegas, desrespeito às
normas da escola.
Evidenciou-se a indisciplina como falta de limites, conforme cita Rego (1996), que
estaria relacionada aquele que não respeita a opinião e sentimentos alheios e dificuldade em
entender o ponto e vista do outro, não dialoga e não sabe conviver de modo cooperativo.
Aquino (2000) identifica o aluno-problema “sem limites”, que obstrui o trabalho
pedagógico e tem como conseqüência o fracasso-escolar, o que é confirmado pelo último
conselho de classe, em que a turma foi mal nas avaliações. Este aluno não reconhece a
autoridade, não respeita regras e teria como causa a permissividade dos pais.
Rêgo (1996), baseado referencial teórico de Vygotsky, em sua abordagem sócio-
interacionista ou sócio-histórica, em que os processos psicológicos complexos se originam nas
relações entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de
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nascer em estado de anomia, possa se desenvolver para uma heteronomia, através da imposição
de regras, pela moral de coação, que é aceita em função do respeito unilateral, para
posteriormente desenvolver o respeito mútuo e em relação de cooperação e reciprocidade com
seus iguais, ou percebidos como iguais, chegar a autonomia moral. Também postula que é
impossível chegar a uma autonomia moral sem passar pela heteronomia, em que a fonte das
regras emana de fora do sujeito, no caso, de seus pais, educadores e pessoas mais velhas. Isto faz
supor, que aqueles pais que são permissivos, não impões regras, ou impõe poucas regras,
impedem que seus filhos possam se desenvolver moralmente, não desenvolvem o sentimento de
obrigatoriedade de agir pelo dever do bem, cultivando o egocentrismo exacerbado para a idade
em que se encontram, e impedindo a descentração, e conseqüentemente o desenvolvimento do
respeito mútuo, Assim, impedirão relações de cooperação e reciprocidade, fundamentais para
uma autonomia moral. Isto posto, pode-se inferir que alguns destes alunos de sexta serie não
desenvolveram-se moralmente, a ponto de não se adequarem às regras da escola ou da sala de
aula, permanecendo numa anomia relativa, com posturas egocêntricas em que a descentração
ainda não aconteceu de maneira a permitir relações de cooperação e reciprocidade.
Por outro lado, observou-se também que o professor não fazia o exercício da sua
autoridade. Araújo(1996) refere que Piaget, na década de 1930, já afirmava que autonomia seria
possível e até provável se a educação abandonasse sua posição autoritária. Nessa idéia, as escolas
confundiram autoritário com autoridade e passaram a abdicar de sua autoridade com medo de
serem autoritários. Para romper com a postura autoritária, muitas escolas adotaram o método da
liberdade, que pode ser confundido com permissividade. E se reporta à idéia confusa adotada nas
escolas de estímulo a autonomia, em que consideram que as regras estão dentro do próprio
sujeito, interpretando autônomo como quem faz o que acha certo, de acordo com suas próprias
idéias, e que a busca do desenvolvimento dos alunos deve ser feita deixando-os livres para
decidir as regras de acordo com suas idéias. Mas, deixando os alunos “livres” para decidir de
acordo com as suas idéias, como se não vivessem em sociedade eles ficam mais próximos da
anomia, de ausência de regras, em que o sujeito quer fazer o que deseja, sem levar em
consideração os outros ou a sociedade. Assim, este professor parece estar abdicando de sua
autoridade, também deixando seus alunos sem orientação e regras, incentivando o seu
egocentrismo.
Nestas perspectivas, foi utilizada a dinâmica em que se procurou estabelecer regras de
convivência social, em sala de aula, para o grupo, procurando desenvolver neles um movimento
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, J.G. Do cotidiano escolar: Ensaios sobre a ética e seus avessos. São Paulo: Summus,
2000.
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LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ed. Ática,1998.
OLIVEIRA, P.S. Introdução a sociologia da educação. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.
REGO, T.C.R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygotskiana. In:
AQUINO, J.G. (org). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas 11 ed. São
Paulo: Summus, 1996.