Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Em outras palavras, a substituio da moral tradicional ou religiosa pela medicina, em geral, produz uma nova tolerncia das diferenas: elas no so punidas, so diagnosticadas. Mais um exemplo. Obviamente, para nossa proteo, no deixamos de prender os criminosos, mas j "sabemos" que muitos deles no so "ruins", eles s tm um problema de crtex pr-frontal -por causa dessa malformao, continuam impulsivos que nem adolescentes. O neurocientista David Eagleman ("Incgnito", ed. Rocco) chegou a propor que a gente treine nossos criminosos de modo que eles gozem de uma "normalidade" cerebral parecida com a da gente. A, sim, poderamos conden-los com toda justia. Sem isso, puniramos "doentes", no ? Perdoamos facilmente, mas no por misericrdia ou compreenso, porque respeitamos e desculpamos doentes e vtimas de anomalias genticas. um progresso? Acima de seu sistema jurdico, cada sociedade produz e alimenta um sistema de crenas, regras e expectativas que facilita a coexistncia mais ou menos harmoniosa de seus cidados. Para essa funo, a modernidade escolheu a medicina (do corpo e das almas). Com isso, o controle sobre nossas vidas seria aparentemente mais suave, mais "liberal". Mas s uma aparncia. Pense bem. Certo, se toda exceo ou anormalidade for doena ou malformao, os diferentes no sero propriamente punidos. No entanto, a sociedade esperar que eles sejam "curados". Outro "problema": se os desvios da norma forem tolerados por serem efeitos de doena ou malformao, o que aconteceria com quem pratica desvios, mas no apresenta as "malformaes" que o desculpariam? O que acontece se eu quero me drogar, ser "cross-dresser" ou, mais geralmente, infrator s porque estou a fim de uma "farra" e sem poder alegar nenhuma das predisposies genticas para essas "condies"? A vai ser o qu? Voltamos s punies corporais? Em suma, gostaria que fosse possvel ser anormal sem ser "doente". E, se fosse o caso, me sentiria mais livre sendo punido do que sendo "curado".