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Antes de falecer em Outubro de 2003, Marc Schindler preparou esta revisão

crítica do artigo de J.P. Holding do Tectonic Ministries, uma organização


evangélica fundamentalista nos USA. Em tributo a sua memória o mínimo que
posso fazer é traduzir seu extenso artigo e disponibilizá-lo na Internet para que sua
obra possa beneficiar um número ainda maior de pessoas que ainda estão deste
lado do véu.(Marcelo M. Silva)

Não deixem de Ler também:

Catherine Thomas: Visões de Cristo no Mundo Espiritual e a Redenção dos


Mortos

John Tvedtnes: Salvação dos Mortos (traduzido e enviado pelo irmão Evandro
Faustino)

Batismo pelos Mortos[1]


Por Marc A. Schindler

Introdução:

Primeiramente dispensaremos rapidamente o sardônico título da versão on-line


do artigo onde J.P. Holding critica a prática dos antigos Cristãos e dos Santos dos
Últimos Dias, “E Não Esqueçam o Sabão: Um Exame do ‘Batismo pelos Mortos.’” Isto
é bastante comum em seus escritos, e não deveria estar no caminho de um sério exame
dos seus criticismos, os quais pelo menos têm algo mais de novo, novidades estas que
usualmente sentimos falta na produção de fábrica da literatura antimórmon.[2]

A atitude assumida, não obstante, é bem menos crítica. Holding é um dos mais
respeitáveis críticos do Evangelho Restaurado, e acredito que esteja tentando seguir os
padrões estabelecidos pelo famoso desafio lançado por Owen e Mosser em seu chamado
para acordarem os Protestantes Evangélicos a não subestimarem os apologistas SUD
[3]. Desta forma eu concordaria com a maioria dos outros revisores cujos ensaios
acompanham este aqui, de que Holdings realmente toma noções e argumentos
seriamente, ele realmente parece tentar se manter atualizado com a apologia SUD, e a
aborda com seriedade. Ele também sabiamente evita o erro de tentar ser um perito em
todas as coisas.[4]

Minha abordagem seguirá mais ou menos a própria abordagem de Holding em


seu artigo, com a exceção de alguns pontos adicionais que gostaria de fazer em relação
aos batismos vicários.

Por que o batismo vicário é um problema considerável para os Biblicistas?

Em seguida, trataremos por que a mera menção do batismo vicário em I


Coríntios 15:29 é problemática para Cristãos Biblicistas [5]. Um Biblicista é um tipo de
Protestante, usualmente fundamentalista ou evangélico em natureza, e freqüentemente
tomador literal das passagens Bíblicas, o qual acredita em uma forma ou outra na
extensão da inerrância Bíblica.[6]. A inerrância Bíblica é basicamente a crença de que a
Escritura (e neste caso, especificamente a Bíblia, é claro) não é apenas o registro das
revelações de Deus à humanidade, mas realmente é (existencialmente ou pela sua
própria natureza – e “und für sich” como os teólogos Alemães colocariam) a própria
revelação de Deus. Isto pode soar como uma mera partição do cabelo em nosso
penteado, mas é uma abordagem fundamentalmente diferente da Escritura do que
Santos dos Últimos Dias e muitos outros Cristãos tomam. Isto implica, entre outras
coisas, de que não apenas a Bíblia é suficiente para definir o Cristianismo, mas que o
Cristianismo está também contido em sua totalidade na Bíblia.

Para Cristãos não-Biblicistas tais como Católicos, correntes tradicionais


Protestantes e igrejas Orientais, isto não é de maneira alguma problemático – isto
aparentemente é apenas alguma coisa que os Corintianos faziam a qual Paulo usa no
capítulo 15 como ainda um outro argumento para a ressurreição. Todavia para Cristãos
Biblicistas isto representa um problema real. Porque eles acreditam que a Bíblia – em
particular o Novo Testamento – é tanto uma fonte necessária como suficiente para sua
doutrina, a referência de uma passagem para algo que não é mais mencionado em parte
alguma da Bíblia é uma dificuldade para eles, e muitas explicações foram colocadas
(tudo menos a óbvia e plena leitura: de que o batismo vicário fazia parte do
Cristianismo, ponto). De fato, consultei um respeitado e erudito comentário Biblicista
por Thiselton. A entrada era típica: após admitir que o “versículo 29 é uma cruz
notoriamente difícil: a mais ‘ardentemente disputada’ na epístola (Conselmen); ‘não está
claro precisamente que prática era essa’ (Dale Martin); ‘qualquer idéia deveria ser
compreendida como tentativa especulativa’ (Fee),” et. Al., ele apresenta então não
menos do que dezesseis possíveis explicações a fim de evitar o significado pleno e
simples (tanto nas linguagens modernas e no Koiné grego.[7])

Uma rápida pesquisa em fontes mais tradicionais mostra que o ritual era
aceitável como alguma coisa única tanto para Corinto em particular ou para a Igreja
primitiva em geral, mas certamente era Cristão:

1. Companheiro Oxford da Bíblia. “Em 1 coríntios 15, Paulo está usando todo
argumento possível para convencer seus leitores de que uma ressurreição dos mortos
aconteceria. Ao fazer isso ele pergunta por que as pessoas se batizariam a favor dos
mortos se não haveria ressurreição (15.29). Esta breve alusão indica que dentro das
antigas igrejas era possível receber batismo a fim de incluir no corpo de Cristo um
amigo ou parente que já estivesse morto. Paulo não especificamente condena a prática
aqui, mas ela não se tornou uma parte aceitável do ritual Cristão” [8]

2. A Bíblia Anchor toma várias citações: “15:29 Doutra maneira”. Sobre este uso de
“epei”, cf. BDF, §§360 (2) e 456(3). Batizado em favor dos mortos. Raeder
(“Vikariastaufe in I Cor 15:29?” ZNW 46 [1955], 258-260) argumenta que estes são
pessoas que estavam entrando na irmandade da igreja pelo batismo a fim de
compartilhar a ressurreição com a família e associados que houveram morrido como
Cristãos. (Cf. também J. K. Howard em EvQ 37 (1965), 137-141, que argumenta pela
mesma linha e aprova Raeder.) É bastante questionável, entretanto, se “hyper”
sustentará esta interpretação. Uma prática que parece ter crescido a partir desta
referência é atribuída aos Marcionitas, Montanistas e Cerintianos no segundo e terceiro
séculos. Crisóstomo comenta que os Marcionitas: ‘Quando qualquer um que foi
instruído partia desta vida, eles escondiam uma pessoa viva embaixo do leito do
falecido e abordavam o cadáver indagando se ele desejava receber o batismo. Então
como esse não respondia, aquele que estava escondido embaixo dizia em favor do
morto que desejava ser batizado. Então o batizam este em lugar daquele que havia
partido (Catenaei 310; citado por Weiss, 363). (para um exemplo moderno, cf. A prática
Mórmon.) Sobre o uso de “hiper” com o sentido de “anti”, cf. Zerwick, Biblical Greek,
§§ 91, 94.”[9]”.

Para uma visão idiossincrática – de um Evangélico com estilo todo particular,


aqui está um comentário do controvertido David W. Bercot, excertos tirados da
enciclopédia dos Patriarcas da Igreja – neste caso específico Tertuliano (sobre quem,
veremos mais no restante do artigo).

3. Bercot. BATISMO PELOS MORTOS

“Doutra maneira, o que farão aqueles que se batizam pelos mortos se


absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam então pelos mortos? I
Cor. 15:29”.

“Ele pergunta, ‘O que farão aqueles que se batizam pelos mortos se


absolutamente os mortos não ressuscitam?’…Não suponha aqui que o apóstolo indique
que algum novo deus é o autor e advogado desta prática. Em vez disso, era desta forma
tal que ele poderia ainda mais firmemente insistir sobre a ressurreição do corpo, na
medida em que aqueles que eram batizados pelos mortos resguardavam a prática a partir
de sua crença em tal ressurreição. Temos o apóstolo em outra passagem definindo
‘apenas um batismo.’ Portanto, ser ‘batizado pelos mortos’ significa, de fato, ser
batizado pelo corpo. Pois, como já demonstramos, é o corpo que fica morto. O que,
então, se farão aqueles que são batizados pelo corpo, se o corpo não se levantará
novamente? Tertuliano (c. 207, W), 3.449, 450.

“A medida que ‘alguns são batizados pelos mortos,’ veremos se há uma boa
razão para isso. Agora é certo que eles adotaram esta [prática] com a pressuposição de
que lhe fizeram supor que o batismo vicário seria benéfico para a carne de outrem em
antecipação à ressurreição. Pois a menos que esta seja uma ressurreição corporal, não
haveria nenhuma petição segura por este processo de batismo corporal. Tertuliano (c.
210, W), 3.581,582.”[10]

Isto não era para ser uma pesquisa extensa, apenas uma rápida visão sobre
comentários de conservadores não-SUD sobre esta questão, embora seja interessante ver
até onde os evangélicos irão a fim de refutar o sentido mais óbvio (as citações de Bercot
a partir dos Patriarcas da Igreja estão fora de contexto e são seletivas). Daremos uma
olhada em alguns comentários mais tarde.

Quando um Biblicista não pode encontrar na Bíblia, ele improvisa.

Conforme mencionado acima, há algumas inconsistências básicas no


Biblicismo. A maioria dos Biblicistas acredita no trinitarismo, por exemplo, ainda que a
palavra “trindade” não seja mencionada em nenhum lugar na Bíblia. Eles poderiam
responder que a Bíblia “descreve” isto, mas uma descrição é uma sombra, uma
referência em direção a alguma coisa, mas se a Bíblia é existencialmente tudo que é
necessário para definir Cristianismo, então nenhuma referência externa deveria ser
requerida, como elas de fato o são, para serem retroprojetadas de volta no texto a fim de
entregar um significado mais atualizado e freqüentemente anacronístico. Um Cristão
não-Biblicista/não-SUD (como um Católico, ou um Protestante tradicional, por
exemplo) não teria problema algum com isto. Embora eles também não necessariamente
concordariam com a visão SUD, eles simplesmente apontariam que o Cristianismo
continuou a se desenvolver por vários séculos após os livros da Bíblia terem sido
escritos. Mas um Biblicista deve confinar-se ao que realmente está na Bíblia, ou assim
pensar, embora de fato ele possa confiar em comentários pós-Bíblicos dos Pais da
Igreja, credos, e é claro, na influência dos Reformadores da Renascença e em
comentaristas mais modernos (fim do século XIX e início do século XX).

Mas para biblicistas, esta referência de passagem sobre batismos vicários como
a única indicação desta prática na Bíblia, com nenhuma explicação adicional (está claro
que Paulo assume que os Santos de Corinto já soubessem sobre o que estivesse
falando), significa que possuem um problema nas mãos. Conforme demonstrado
brevemente pelas pequenas referências na introdução, várias tentativas têm sido feitas
para interpretar este 1 Cor. 15:29. A abordagem de Holding é mais ou menos como se
quisesse dizer, “esqueça o literalismo por um momento, apenas usemos o bom senso”.
Em outras palavras, esta questão não vai ser resolvida dentro do sistema de crença
Biblicista, então ele tenta outros meios para convencer o leitor de que qualquer que seja
o que a escritura queira dizer, com certeza não é o que Santos dos Últimos Dias pensam
que seja. Que isto roga por uma definição sobre o que esta passagem realmente quer
dizer ele simplesmente ignora, confiando de que ninguém perceberá o imperador do
Biblicismo nu, tremendo de frio em sua teologia.

O jeito com que ele argúi sobre isto acaba fazendo voltar o argumento sobre sua
cabeça: ele escreve “Apologistas mórmons usarão como assertiva que batismo pelos
mortos está autorizado por passagens em suas próprias escrituras…” (como se isto
justificasse a “parte” Bíblica) e chama batismo vicário conforme presentemente
praticado, “uma superestrutura interpretativa [SUD] [que entra em colapso].”

Conforme já temos apontado, entretanto, o Evangelho Restaurado não é em sua


natureza Biblicista, nem mesmo quando isto vem do Livro de Mórmon ou de Doutrina e
Convênios. D&C 128:16, a qual Holdings acha seja de onde derivamos nossa
autoridade para a crença, não é em absoluto isso, é um registro da revelação que Deus
nos concedeu através do profeta Joseph Smith – nos não “biblicizamos” o Livro de
Mórmon nem D&C. Muito menos baseamos nossa crença em I Cor. 15:29 – não há
nenhuma “superestrutura interpretativa” uma vez que não acreditamos que todas
doutrinas do Cristianismo primitivo foram necessariamente preservadas, ou mesmo que
tenhamos todo o Evangelho agora [11], pelo menos em termos de revelação. Para
enfatizar este ponto, a escritura que Holding reconhece como sendo a “justificação”
para nossa prática, D&C 128:16, é meramente uma citação de I Cor. 15:29 no corpo do
registro da revelação concernente às ordenanças do templo. É esta revelação que é nossa
justificação, não o registro dela em D&C 128:16 ou I Cor. 15:29. Assim também,
existem um grande número de referências no Novo Testamento a outros ensinamentos
não determinados (cf. o fim de João, referências aos ensinamentos dos apóstolos
durante 40 dias entre a ressurreição e a ascensão – nada daquilo foi escrito – a referência
de Judas, e o fato de que até a formação do cânon do Novo Testamento, outros livros
eram considerados autoritativos, tais como o Pastor de Hermas entre outros.)
Desta forma, sendo que a abordagem Biblicista não está aberta para ele, ele se
volta para outras táticas.

Apenas como se o “inimigo de meu inimigo é meu amigo”, desta forma também,
Holding parece argumentar que caso pudesse ele demonstrar que os argumentos feitos
por apologistas SUD estão errados, então deveria estar também nossa doutrina. Mesmo
que fosse ele bem sucedido nisto (e como veremos, eu não acredito que tenha sido), isto
não seria suficiente para provar que nossa doutrina estivesse errada. Em última análise,
há apenas uma única maneira de provar que nosso argumento esteja errado e isto seria
nos persuadir de que a revelação dada através de Joseph Smith estivesse errada. Dado
que Holding não adere a nossas premissas de fé, isto é improvável.

Objetivo No. 1 é Richard Hopkins, embora para ser sincero, ele pareça usar a
explicação de Hopkins sobre batismos vicários como meramente sua introdução a nossa
doutrina, uma vez que ele simplesmente diz que isto explica porque nós somos
“campeões em pesquisas genealógicas.” Há um outro tópico que ele critica de
passagem, que é a necessidade de batismo, mas isto é um tópico para uma outra revisão,
uma vez que isto não parece ser o centro de seu argumento em lugar nenhum de sua
dissertação.

Ele realmente diz, entretanto que há duas questões em destaque: “O que Paulo
quis dizer com ‘batismo pelos mortos’?” e “Era o batismo pelos mortos uma prática
aprovada da igreja, ou uma divergência a partir da prática oficial aprovada?” Estas são
questões relevantes – se de alguma maneira puder ser demonstrado que o que Paulo
estava se referindo não era em sentido algum o mesmo que hoje praticamos, isto
enfraqueceria os alicerces da doutrina aos olhos de pessoas que simplesmente aceitam
isto como fé. E a segunda questão é ainda mais importante, e uma óbvia para um
Biblicista levantar: se a Bíblia é a palavra de Deus em cada sentença, então por que
cargas d’água está essa referência passageira fazendo aí? Talvez Paulo esteja apenas
também tolerando-a, ou talvez seja um idiossincrasia local dos Corintianos, ou talvez
seja mesmo um comportamento idólatra. A Bíblia nada diz, então um Biblicista tem de
pisar fora de suas próprias premissas de fé até mesmo para indagar sobre estas questões.
Ele acrescenta duas petições para cada uma de suas questões; 1. “A diversidade de
opinião entre eruditos Cristãos (não SUD) para [I Cor. 15:29]… é vista por apologistas
SUD como uma justificativa para sua própria interpretação”. Em outras palavras,
existem tantas interpretações lá fora, o que estaria errado se tivéssemos a nossa própria
também? 2. “Apologistas SUD argúem que Paulo apresenta batismo pelos mortos de
uma maneira tal que deve ter sido um ritual que a Igreja estava acostumada a realizar”.
Até onde os Santos-dos-Últimos-Dias estão cientes, ambos são argumentos do
espantalho – especialmente o primeiro ponto – para tentar por no papel a doutrina SUD
de tal forma que ele a possa derrubar. Algumas vezes quando você debate um oponente,
é muito difícil tratar a questão como um oponente a declara, então você “arma um
espantalho” que é muito mais fácil para você atacar, assim como falar. Mais fácil porque
você pode insinuar suas próprias premissas dentro da questão. Isto freqüentemente
funciona quando você está “falando a sua própria platéia” mas está cheio de ciladas
silógicas e falaciosas.

Desta forma vamos dar uma olhada em cada uma destas questões conforme
Holding as traz à tona:
É o batismo vicário condenado?

Holding então indaga sobre uma questão sensível: apenas porque Paulo usou
batismo vicário como um argumento para a ressurreição, significa isto que ele o aprove?
Mas, atrelado como ele está às premissas do Biblicismo, Holding não pode realmente
responder esta questão, a não ser para dizer que uma vez que isto é mencionado de
passagem, isto não pode ser tomado como um texto-prova sobre o qual possa se basear
uma doutrina. E ele está absolutamente certo. Mas desde que não somos Biblicistas, não
estamos limitados pelas mesmas fronteiras que ele está, para nós I Cor. 15:29 não é a
razão pela qual praticamos batismos vicários; nós o praticamos porque fomos ordenados
para tal; I Cor. 15:29 apenas acontece de ser uma referência suporte, não uma base para
isto.

Ele então cita o apologista SUD Barry Bickmore, “Mas por que Paulo usaria
alguma prática herética em seus argumentos a favor da ressurreição? Não poderia ele
encontrar algum alicerce mais firme para esta tão importante doutrina Cristã”.[12]
Holding contra-ataca que isto não era uma prática muito difundida e, portanto não
poderia ter sido um ritual verdadeiro da igreja, e que nós alegamos que revelações têm
confirmado que a perda desta prática foi perdida como parte da apostasia, e
enigmaticamente acrescenta que “O paradigma [SUD] assume que batismo pelos mortos
não era largamente difundido”.

A primeira alegação é verdadeira, nós realmente alegamos que isto foi perdido
com a apostasia. Mas é consistente com nossas premissas de fé (de que não limitamos
Deus às páginas de um livro) de tal forma de que não é um argumento válido para
observadores neutros, apenas para Holding e co-religionários que rejeitam nossas
premissas de fé e princípio. Pior ainda, Holding ignora o argumento de Bickmore: por
que Paulo usaria um ritual não-Cristão como uma evidência para uma crença central do
Cristianismo? Isto simplesmente não faz sentido quando lemos o texto em seu sentido
pleno. Então a questão permanece sem respostas: Por que Paulo usaria um ritual não-
Cristão como justificativa para a ressurreição? Não há nenhum outro exemplo no Novo
Testamento de Paulo usando este tipo de tática. Holding na verdade lista umas poucas
escrituras que ele acha que seguem esta tática:

Nota do tradutor:

Paulo em suas argumentações no Novo Testamento usa sempre de uma


dicotomia lógica:

(a) Se acreditam ou fazem p (verdadeiro), então porque acreditam ou fazem ~q (falso)?

Ou então a inversa desta dicotomia, onde ler-se-ia:

(b) Se acreditam ou fazem ~p (falso), então porque acreditam ou fazem q (verdadeiro)?

O caso de I Cor. 15:29 segue o segundo padrão (b)

Tendo isto em mente, analisemos junto com Marc Schindler os exemplos de


Holding.
Fim da Nota

I Cor. 15:12: Agora se é pregado de Cristo que ele se levantou dos mortos, como
dizeis alguns de vós de que não há ressurreição dos mortos? (exemplo (a) da nota
acima)

Mas isto não é de maneira alguma o mesmo argumento. Aqui Paulo está dizendo
que existe uma ressurreição, pois Cristo ensinou sobre isso; ele está mostrando uma
clara contradição entre aquilo que tem sido ensinado e aquilo que alguns Corintianos
acreditam. I Cor. 15:29 não segue em absoluto esta linha de argumentação; se segue
qualquer coisa é exatamente na direção oposta – ele está dizendo que uma vez que
batismo pelos mortos é praticado, não haveria muita lógica nisto se não houvesse
ressurreição.

Gal 2:14 Mas quando vi que caminhavam não retamente segundo a verdade do
evangelho, disse a Pedro diante de todos eles, Se tu, sendo um Judeu, vives segundo a
maneira dos Gentios, e não como fazem os Judeus, por que compeles tu os Gentios a
viverem como vivem os Judeus? (Novamente exemplo (a) da nota acima)

Mais uma vez, este não é em absoluto o mesmo argumento procurado. Paulo
está dizendo que se Pedro vive como um Gentio, então ele tem de permitir este mesmo
privilégio a outros Judeus e aos próprios Gentios. Ser um Judeu ou Gentio era
simplesmente uma diferença de etnias, não de valores espirituais.

Gál 5:11 E quanto a mim, irmãos, se ainda pregasse eu a circuncisão, acaso


sofreria ainda de perseguição? (exemplo (b) acima) Então está cessada a ofensa da cruz.

Eu francamente estou totalmente perdido em ver como Holding ver isto como
relevante ao argumento em questão, Infelizmente ele não explica todos os seus textos
usados como prova.

Col. 2:20-22 Portanto se vós estais mortos com Cristo dos rudimentos do
mundo, por que, embora vivendo no mundo, sois vós sujeitos às ordenanças (Não
toqueis; não experimenteis nem manuseais; pois tudo está a perigo como o usar)
segundo os mandamentos e doutrinas de homens? (Exemplo (a) da nota acima. A
primeira frase é verdadeira, forma então uma incoerência lógica com a segunda frase
que é supostamente falsa por Paulo)

Novamente, isto não tem absolutamente nada a haver com batismo vicários. Eu
suspeito (mas não posso saber, pois Holding não explica sua escolha das escrituras) de
que ele estivesse tentando dizer que as ordenanças não fossem necessárias. Se assim é,
ele escolheu um estranho capítulo para sustentar sua causa, uma vez que este também é
o capítulo que contém uma referência a circuncisão Cristã como sendo ‘Sepultados com
ele no batismo, de onde também levantai com ele através da fé da operação de Deus,
quem tem se levantado dos mortos.”

Conforme acontece, a alegação de que isto não era uma doutrina Cristã, ou que fosse
idiossincrático a Corinto não pode ser provada. Tudo o que Holding pode dizer em
defesa do uso das escrituras acima é de que Paulo pode usar doutrinas falsas para provar
verdadeiras doutrinas, o que é realmente fraco; logicamente possível, mas totalmente
improvável por Paulo (ver como funcionava a lógica de Paulo na Nota acima), o qual
nunca via uma falsa doutrina contra a qual não a denunciasse e pregasse.

A Bíblia Anchor deixa isto mais claro ao traduzir a frase em questão como
sendo, “… o que estão a fazer aqueles que são batizados… por que então estão sendo
batizados…?” Isto deixa claro que a referência é genérica a respeito de pessoas,
conforme o comentário da Bíblia Anchor indica, “Uma inspeção mais cuidadosa da
linguagem de referência faz com que todas as tentativas de suavizar ou eliminar seu
significado literal tornem-se totalmente infrutíferas.’[13] Holding corretamente cita o
apologista SUD John Tvedtness [14] ao salientar o mesmo ponto: não há nenhum “eles”
aí para o qual Paulo possa apontar em distinção dos Corintianos do resto da Igreja.
Tecnicamente, a forma do verbo é um particípio passado – conforme a Bíblia Anchor
deixa claro. Mas, estranhamente, Holding não tem nenhuma resposta para isto exceto
uma irrelevante observação: “A linguagem de Paulo e o padrão de argumentação
demonstrado que ele associa ao batismo pelos mortos com o ensinamento falso da ‘não
ressurreição’.” Na verdade ele faz exatamente o oposto ao dizer efetivamente, “Se
acreditam ou fazem ~p (falso), então porque acreditam ou fazem q (verdadeiro)?”, onde
p é a ressurreição, ~p é a ‘não ressurreição’ e q é o batismo pelos mortos. A ‘associação’
que Holding faz é uma de oposição, indicando o que Paulo acredita seja uma ação
válida, de outra maneira por que usaria ele isto como argumento para uma doutrina
verdadeira?”.

Em qualquer caso, o destino do significado da frase está selado pelo fato que,
conforme Tvedtness indica, “aqueles sendo batizados pelos mortos” é a correta, palavra-
por-palavra da tradução de “hoi baptizomenoi”, uma vez que “baptozomenoi” é o
particípio passivo [15] e não indica a pessoa. Desta forma está claro que não temos
nenhum “eles” em lugar nenhum do versículo; Paulo simplesmente está se referindo a
uma prática geral sem restringi-la a Corinto ou a qualquer outro lugar mais para essa
questão.

Resumindo, o pleno significado permanece problemático para Biblicistas. Sem


revelação contínua este versículo permaneceria um enigma.

Provando uma não existente desaprovação

Holding conseguiu sacar exatamente a conclusão lógica oposta da comparação


de Paulo com o claro significado que ele intencionava. Conforme introduzindo acima,
Paulo usa uma ferramenta de retórica chamada argumentum ad absurdum; isto significa
se “q” é inconsistente com “~p” então uma das duas deve ser uma premissa falsa.
Entretanto, uma vez que “p” é a ressurreição, e ele usa “q” – batismo vicário – para
demonstrar “p”, isto significa que ele não pode acreditar que “p” e “q” sejam
contraditórios. Holding consegue sacar a conclusão exatamente oposta, e continua,
portanto, com uma irrelevante quantidade de argumentos em sua linha de pensamento.
Aqui está um sumário de suas conclusões:

Se batismo vicário é importante para a ressurreição, então também o é o batismo pelos


vivos. A razão é que ele acha que isto seja um argumento válido, conforme ele
aparentemente acredita – como também muitos Protestantes conservadores acreditam
que o batismo não seja uma ordenança necessária. Isto é realmente uma outra questão,
mas novamente, isto não pode ser endereçado à crença de um povo que realmente
acredite que isto seja requisitado para os vivos também (cf. João 3:5, “Jesus respondeu,
em verdade, em verdade vos digo, exceto que um homem nasça da água e do Espírito,
ele não pode entrar no reino de Deus”).

Se os Corintianos batizavam-se pelos mortos, por que não continuaram eles com
isto? Conforme nossa análise gramatical demonstrou, esta é uma questão irrelevante,
pois um particípio passivo é atemporal – isto, não tem tempo verbal passado, presente
ou futuro. A questão que indaga é sem sentido, ou pelo menos, impossível de ser
resolvida a partir apenas de uma análise lingüística. Mas em qualquer caso, existe uma
variedade de exemplos em que Paulo critica as igrejas Cristãs por um comportamento
que ele discorde (Para apenas um dos muitos exemplos, vamos dar uma olhada em
Efésios 5:1-7, Paulo critica os Efésios no imperativo presente: “Sede vós, portanto,
seguidores de Deus, como filhos queridos; e caminhai em amor, como Cristo também
vos amou, e entregou-se a si mesmo por nós como uma oferta e sacrifício a Deus para
um doce e saboroso aroma [incidentalmente, este é exatamente a forma de argumento
que Paulo usa em I Cor. 15:29, mas ninguém jamais alegaria que o fato de Cristo ter se
oferecido como um sacrifício fosse idiossincrático ou um exemplo negativo]. Mas
fornicação, e toda impureza, ou cobiça, não deixei isto ser nomeado entre vós, quando
vos tornais santos; nem imundícies, nem vãs conversas, nem gracejos indecentes, o que
não for conveniente: mas antes dai graças. Pois deveis saber, que nenhum adúltero, nem
impuro, nem alguém com cobiça, que seja um idólatra, tem qualquer herança no reino
de Cristo e de Deus.” linguagem bem dura e demonstra que Paulo não perde nenhuma
oportunidade em condenar um comportamento não Cristão. Compare esta conscienciosa
condenação com a que Holding e outros apologistas não-SUD tentam fazer de I Cor.
15:29 e é facilmente visto que seus argumentos sobre as técnicas de retórica de Paulo
estão totalmente longe do caráter de Paulo. O simples fato tem de ser que Paulo, quem
nunca perde uma chance para expor Cristãos por feitos errados, simplesmente não ache
nenhum problema com o batismo vicário”.

Holding então diz que “Paulo não está usando batismo pelos mortos como uma
prova evidencial para a ressurreição, conforme [o argumento SUD] requer; ele está
usando isto para expor uma inconsistência entre o que os Corintianos estão fazendo
(batismo pelos mortos) e sua alegação de que não há ressurreição (v. 12). Ele está
perguntando aos Corintianos como podem alegar que não acreditam em ressurreição
quando estão eles fazendo alguma coisa que simboliza a ressurreição”. [16]

Holding critica as citações SUD de DeMaris baseando-se no fato de que DeMaris não
concorda com a posição SUD. Isto é verdade, ela não concorda, mas ninguém alegou
que concordasse – apologistas SUD estão usando seus resultados de pesquisa para
salientar um ponto. O que DeMaris realmente declara é, “Enquanto sugeri que Paulo
possa ter ficado descontente com batismos pelos mortos, não temos nenhuma evidência
clara de que rejeitou a prática. Pelo contrário: Se ele a percebeu sem condená-la, sugere
que pelo menos ele tolerasse a prática entre os Cristãos de Corinto.” [17] Em outras
palavras, enquanto DeMaris não encontra provas de que a prática fosse universal, ele
realmente percebe que Paulo não a condena. Conforme estamos sempre enfatizando
aqui, se estivesse ele usando uma doutrina idiossincrática ou incorreta para defender seu
ponto de vista, teria sido extremamente não usual a Paulo, quem era rápido para
condenar toda maneira de práticas e crenças em suas cartas. Mais adiante DeMaris
escreveu, “Vocês estão bastante certos em perceber que minha posição sobre esta
questão não signifique que esteja eu me alinhando para uma fonte batismal SUD –
esteja isto bem claro. O que acho é que minha posição significa que: sabemos tão pouco
sobre esta prática e seu significado que o uso dos SUD de I Cor. 15:29 como uma
garantia Bíblica para o batismo pelos mortos não pode ser precluso nem fortemente
justificado. Eu gosto também do trabalho de John Tvedtnes (Apologista SUD, professor
da Brigham Young University), com quem tenho me correspondido extensivamente, o
qual procura documentar a antiga grande preocupação com os mortos e com o mundo
dos mortos no antigo mundo Mediterrâneo. Isto está bastante em linha com o ponto de
vista que estava tentando defender no meu artigo de 1995 no Journal of Biblical
Literature…”[18]

Em um argumento literário altamente complexo, Holding alega que a colocação da


referência a batismo vicário argúi para que seja uma prática irregular. Em geral, isto
funciona como pregando para a congregação, uma vez que não fazemos a “prova do
texto” a respeito da doutrina sobre esta referência admitidamente obscura, uma análise
literária fica sem sentido para aqueles que não compartilham das mesmas premissas de
fé de Holding. Ele começa de trás para frente, como fazem a maioria dos argumentos ad
hominen, ao reafirmar sua declaração sobre a natureza do argumento de Paulo, então
pensa ainda que ao mostrar uma inconsistência ao comparar a ressurreição com o
batismo vicário que ele está de alguma maneira demonstrando que batismo vicário
esteja errado; onde, por outro lado, a fim de demonstrar uma verdadeira inconsistência
de comportamento entre os Corintianos, Paulo teria de usar uma prática válida, de outra
forma o argumento estaria sem base.

No começo desta análise crítica indiquei que há uma inconsistência interna no


Biblicismo; nomeadamente onde seus partidários acreditam que a escritura é
existencialmente e completamente a palavra de Deus, eles ainda precisam se referir a
aparatos externos de naturezas variadas, quer seja aos credos, ao criticismo histórico ou
a qualquer coisa que possa fazer com que todas as outras coisas se encaixem. Se a
Bíblia fosse “suficiente” no sentido em que os Inerrantistas ensinam, então todo este
material adicional não deveria ser necessário. Isto nos leva até este ponto, pois um dos
argumentos de Holding é uma referência a retórica “Greco-Romana”. Então agora
estamos fora do reino da Bíblia e adentrando um reino não-Bíblico, pagão da cultura
Greco-Romana. Nenhum comentário adicional é necessário para demonstrar que
qualquer que seja a conclusão que Holding venha a levantar por esta tática é em sua
natureza ultra vires (fora de suas próprias regras), mas mesmo assumindo isto como
uma técnica válida, temos apenas a palavra de alguém que Holding cita que I Cor. 15
seja ‘um exemplo perfeito de argumentação retórica,’[19] de um tipo chamado retórica
deliberativa, a qual era escrita ‘para aconselhar e dissuadir os membros da audiência
concernente a um particular curso de ação.’[20]

De qualquer forma, Holding devota um bom espaço para delinear esta “Exordium-
narratio-refutatio-probatio-peroratio” forma de argumento, e eu lhe dou crédito onde o
crédito lhe for devido – Aprendi alguma coisa nova sobre a cultura não-Cristã em que
Paulo vivia (ignoraríamos aqui se, para os Inerrantistas de Chicago e Lausane, Deus,
também usaria um estilo literário Greco-Romano quando ele “ditou” a Bíblia, tendo em
mente uma audiência moderna que nada saberia sobre estes antigos aparatos literários
antigos). Mas tudo isso é irrelevante de qualquer forma, pois o ponto do argumento
onde ele acha que estamos com problemas é o mesmo fulcro de cabeça para baixo sobre
os quais jazem seus outros argumentos: a má compreensão do argumentum ad
absurdum que Paulo emprega. Mais uma vez, se você está tentando provar a validade da
ressurreição demonstrando que isto é inconsistente com o batismo vicário, então
batismo vicário tem de ser verdadeiro para que este contraste funcione. Para um
exemplo grosseiro, se você estivesse tentando provar que o casamento é honorável,
você não usaria o sexo pré-marital como um exemplo negativo de inconsistência; você
usaria isto como um exemplo positivo de inconsistência, ou como um exemplo negativo
de consistência. Ainda melhor, você usaria a castidade pré-marital como um exemplo
contrastante (se vocês guardam a castidade para se resguardarem para o casamento,
então como pode o casamento não ser válido?) (Talvez existam apenas muitas negativas
no argumento de Paulo para que Holding possa persegui-los). Em qualquer caso, a
retórica alegada para Paulo não é completamente aceita por todos os eruditos.[21]

De qualquer forma, Watson parece ser o único erudito que acredita que Paulo
usou este complexo sistema de retórica o qual é único para Paulo e/ou Corinto. A
respeito da sua universalidade no tempo do mundo Greco-Romano, ver Kennedy, [22]
Kinneavy se utiliza de um exemplo específico (a palavra pistis, que significa “fé” em
um contexto religioso, mas “persuasão” num contexto singular;[23] Black discorda
peremptoriamente;[24] Lim diz que isto é uma questão bem complexa não facilmente
solucionada pelo argumento de Watson;[25] Lutfin demonstra que o pano de fundo da
retórica na Corinto do primeiro século é incongruente com os ensinamentos retóricos de
Paulo;[26]

Um ponto final. Watson não diz exatamente o que Holding está pensando. De
uma análise crítica por J. D. H. Amador:

“Um dos mais ‘óbvios’ exemplos de direcionar para a unicidade pode ser
encontrado em tentativas de, através do apelo a arranjos retóricos, para “provar” a
coerência de uma epístola cuja unidade tenha sido posta em questão por antigos meios
metodológicos tais como criticismo de fonte (e forma). O trabalho de Duane Watson é
um bom exemplo do que quero dizer, onde ele combina visões tanto das tradicionais
estruturas epistolográficas como também arranjos de retórica a fim de argüir para uma
unidade literária e coerência argumentativa de Filipenses. A dificuldade com esta
abordagem é a tão sabida inabilidade dos críticos em concordar sobre as características
dos arranjos quando confrontados com alguns tipos de documentos híbridos que temos
nas epístolas Paulinas, as quais não se conformam com nenhuma tradição explícita de
composição no mundo antigo.[27]

Em outras palavras, o estudo crítico-retórico de Watson não é usado para


determinar doutrina, mas simplesmente para demonstrar a unidade da carta cuja autoria
havia sido posta em questão por outros métodos.

Em adição, alguns respeitados comentários Protestantes discorrem sobre as


várias possibilidades de interpretações desta escritura, apenas para se afastar do seu
pleno significado – desconhecido, quando confiamos somente no registro Bíblico. Por
exemplo, nos famosos comentários de Matthew Henry, ele escreve:

III. Ele argumenta pela ressurreição, a partir do caso daqueles que eram batizados pelos
mortos (v. 29): O que se farão aqueles que são batizados pelos mortos, se os mortos
absolutamente não se levantarão? Por que são eles batizados pelos mortos? O que
deverão fazer se os mortos não se levantam? O que têm eles feito? Coisa vã seria
tivessem existido seus batismos! Mas eles sustentam ou renunciam a isto? Por que são
eles batizados pelos mortos se os mortos não se levantam? hyper ton nekron. Mas o que
é este batismo pelos mortos? Isto precisa ser conhecido para que o argumento do
apóstolo possa ser compreendido; quer seja isto apenas um argumentum ad hominen, ou
ad rem; isto é, quer isto conclua para uma coisa em disputa universalmente, ou apenas
contra pessoas particulares que eram batizadas pelos mortos. Mas quem interpretará esta
passagem extremamente obscura, a qual, embora consista de não mais do que três
palavras, além dos artigos, existem mais de três vezes os três sentidos colocados sobre
ela pelos intérpretes?

Não existe um consenso a que o autor queria dizer com batismo, se é para ser tomado
num sentido figurativo ou num sentido literal, se é para ser compreendido como o
batismo Cristão propriamente dito ou a alguma outra ablução. E também pouco
consenso existe em quem sejam os mortos, e em que sentido a preposição [hyper] deve
ser tomada. Alguns compreendem os mortos de nosso próprio Salvador; vide Whiby in
loc. Por que pessoas são batizadas em nome de um Salvador morto, um Salvador que
permanece entre os mortos se os mortos não ressuscitam? Mas isto é, acredito eu, um
exemplo extremamente singular para hoi nekroi, o qual significaria não mais do que
uma pessoa morta; este é um significado em que tais palavras não aparecem em mais
nenhum lugar. E o hoi baptizomenoi (os batizados) parecem plenamente significar
algumas pessoas em particular, não Cristãos em geral, o que ainda deve ser o
significado se [hoi nekroi] (os mortos) seja compreendido como nosso Salvador.
Alguns compreendem as passagens como se referindo aos mártires: Por que sofrem
martírio por suas religiões? Isto é indefinidamente o que os antigos (Mateus 20:22,
Lucas 12:50) algumas vezes chamavam o batismo de sangue, e pelo nosso próprio
Salvador de batismo... .Mas em que sentido pode aqueles que morreram mártires por
sua religião chamados de serem batizados (isto é, morrer mártires) pelos mortos?
Alguns entendem isto como um costume que era observado, conforme alguns dos
antigos nos contam, entre muitos que professavam o nome Cristão nas primeiras eras,
de batizar alguns em nome e lugar de catecúmenos que morreram sem batismo. Mas se
isto fosse parte de tal superstição, se o costume tivesse prevalecido na Igreja logo cedo,
os apóstolos não teriam mencionado isto sem denotar uma má vontade contra. Alguns
entendem de batismo pelos mortos, que era um costume, conforme nos dizem eles, que
se realizava antigamente; e isto para testificar sua esperança na ressurreição. Este
sentido é pertinente ao argumento do apóstolo, mas parece que nenhuma prática
semelhante estivesse em uso na época dos apóstolos. Outros compreendem isto como
aqueles que haviam sido batizados por causa, ou em ocasião dos mártires, isto é, a
constância com a qual morreram por sua religião. Alguns eram sem dúvida convertidos
ao Cristianismo ao observarem isto: e teriam sido uma coisa vã para as pessoas terem se
tornado Cristãs por este motivo, se o mártires, ao perder suas vidas pela religião,
tornaram-se posteriormente extintos e não mais viviam. Mas a Igreja em Corinto não
tinha, com toda probabilidade, sofrido muitas perseguições por esta época, nem parece
ter existido muitos exemplos de martírio entre eles, nem haviam muitos convertidos
sido feitos pela constância e firmeza com que os mártires morriam. Não deixando de
observar que [hoi nekroi] parece ser uma expressão genérica demais para significar
apenas os mortos martirizados. É tão fácil uma explicação da frase quanto a que tenho
encontrado, e tão pertinente ao argumento, supor que [hoi nekroi] signifique alguns
entre os Corintianos, que haviam sido tomados pela mão de deus. Lemos que muitos se
encontravam doentes entre eles, e muitos dormiam (cap. 11:30), por causa de seus maus
comportamentos na ceia do Senhor. Estas execuções podem ser terríveis para alguns na
Cristandade; como o miraculoso terremoto foi para o carcereiro. (Atos 16:29, 30, etc.)
As pessoas batizadas em tal ocasião podem ser propriamente chamadas para serem
batizadas pelos mortos ou em seu favor. E o [hoi baptizomenoi] (os batizados) e o [hoi
nekroi] (os mortos) respondem um ao outro; e sobre esta suposição os Corintianos não
podem confundir o que o apóstolo quis dizer. “Agora,” diz ele, “o que se farão, e por
que foram eles batizados, se os mortos não ressuscitam? Temos uma persuasão genérica
de que este homens haviam feito certo, e agido sabiamente, e como deviam proceder
nesta ocasião; mas então por que, se os mortos não ressuscitam, ao ver que talvez
pudessem estar apressando suas mortes, ao provocarem um Deus ciumento, e não
teriam nenhuma esperança além disto?” Mas quer seja este o significado, ou qualquer
outro que possa ser, sem dúvida o argumento do apóstolo era bom e inteligível ao
Corintianos.[28]

Teria sido isto tão inteligível aos Biblicistas dos dias modernos?

De qualquer forma, de acordo com Matthew Henry, existia um processo real


acontecendo, e Paulo usa isto para argüir por e em favor da ressurreição – isto não foi
torcido como argumento negativo conforme Holding o faz parecer. Holding usa I
Coríntios 8:10 para demonstrar que Paulo algumas vezes usava práticas pagãs no curso
de um argumento, sem necessariamente as condenar. Ele diz que I Cor 10:21 deixa claro
que o comer da carne dos templos pagãos, referida em I Cor 8:10, é errado. Entretanto, I
Cor 8:10 realmente indica que o processo é errado: “Pois se qualquer homem ver a ti,
que tem conhecimento, sentado para comer a carne dos ídolos no templo, não deveria a
consciência daquele que é fraco ser induzida a comer aquelas coisas que são oferecidas
aos ídolos;” I Cor 8:10 é mais do que capaz e sozinho de se justificar como uma
advertência contra esta prática. É bastante claro que ele esteja apelando para aqueles que
possuem o conhecimento do Evangelho não colocarem maus exemplos para aqueles que
são fracos, o que é bastante típico da reação de Paulo. Sua “não-reação” a I Cor 15:29
não é típica, então de qualquer forma, Biblicistas ainda têm um problema.

Entre o tempo em que a versão on-line do artigo estivesse disponível e o


tempo que Holding publicou seu livro contendo o artigo, ele sabidamente omitiu o
seguinte:

Desde o versículo 1 e ao longo de todo capítulo Paulo se endereça “aos


irmãos” no Senhor e fala em termos de vocês, nós e de nós, com uma única exceção [na
verdade existem mais: ver também os versículos 23-25; 52 e 5-57 para exemplos de
terceira pessoa – M.S.]. Apenas no versículo 29 estão ‘eles’ mencionados; “O que se
farão aqueles que se batizam pelos mortos se absolutamente os mortos não
ressuscitam?” A partir disto seria razoável concluir que Paulo fala no versículo 29 sobre
um grupo fora da comunidade Cristã.[29]

Talvez, conforme minhas inserções indicam, tivesse ele encontrado outras


referências a terceiras pessoas do plural que Paulo faz. Tudo bem: ele percebeu seu erro,
mas ele poderia ter procurado melhor na epístola por referências da terceira pessoa do
plural. No livro ele ainda retém o seguinte erro:

A resposta final é a mais comum da literatura Cristã que endereça tal assunto.
Nota-se que Paulo usa pronomes de tal forma (você, nós e de nós) como para indicar um
terceiro partido no versículo 29 (‘então o que se farão aqueles que são batizados pelos
mortos se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que são eles então batizados
pelos mortos?’) Disto se conclui que Paulo refere-se a um grupo herético ou pagão do
qual ele e a igreja está se distanciando.[30]

De minha experiência pessoal, sei que dificilmente tudo isto pode ser arranjado
consistentemente, desta forma estou assumindo que isto é uma coisa que Holding está
se esquecendo de mudar a fim de fazer seu argumento consistente. Mas estão, ele faz a
surpreendente declaração de que um apologista SUD havia indicado de que não há
nenhum pronome na frase em questão, de que isto é um particípio passivo, o qual não
indica pessoa (ou tempo verbal), e ele concorda que Tvedtness está certo, mas
prontamente diz que isto não importa, que o argumento apresentado pelos “Cristãos
apologistas está essencialmente correto pois veremos que o padrão de argumentação de
Paulo demonstra que ele associa batismo pelos mortos com o ensinamento falso da “não
ressurreição”!

Incidentalmente, nem todas as traduções trazem as ambigüidades que a Versão


do Rei Tiago faz: a NLT traduz este versículo como, “Se os mortos não ressuscitam,
então de que serventia tem estas pessoas que estão sendo batizadas pelos mortos? Por
que fazem isso a menos que os mortos um dia novamente ressuscitarão?” Isto preserva
corretamente o particípio. A RSV é um pouco ambígua, mas ainda administra para
evitar a armadilha do pronome da terceira pessoa. “Doutra forma, o que querem estas
pessoas dizer ao serem batizadas em favor dos mortos? Se os mortos absolutamente não
ressuscitam, por que há pessoas batizadas em seu favor?” Na versão Darby, de todas as
pessoas, divide o particípio, mas ainda o retém: “O que os batizados pelos mortos farão
se [aqueles que estão] mortos absolutamente não ressuscitam? Por que são eles também
batizados pelos mortos?” [31] E é claro a Bíblia Anchor é a mais clara de todas: “Doutra
maneira, o que estão fazendo aquelas pessoas as quais estão sendo batizadas em favor
dos mortos? Se os mortos absolutamente não irão ressuscitar, por que então existem
pessoas sendo batizadas em seu favor?[32]

Uma coisa que poucas pessoas percebem, incidentalmente, é que Paulo segue
no versículo 29 de tal maneira que associa a si mesmo com a prática – alguma coisa que
ele nunca faria se a prática estivesse errada ou fosse idiossincrática. Conforme dois
comentaristas protestantes explicam:

Na seqüência do ver. 29 com as palavras do ver. 30 (ti kai hêmeiz


kinduneuomen pasan human; ou “porque permanecemos nós em perigo a toda hora?”)
Paulo associa a si próprio com a ação “daqueles batizados pelos mortos,” indicando que
eles estão engajados na mesma causa.[33] (ênfase no original.)

A objeção de que o apóstolo não pudesse querer dizer qualquer coisa como
um batismo para o benefício de outros está exegeticamente fora de lugar... .Se Paulo isto
desaprovasse ele provavelmente escreveria mais sobre isso do que esta única referência
contém. Em qualquer caso o apóstolo poderia dificilmente derivar um argumento em
favor da ressurreição do corpo a partir de uma prática sobre a qual ele não aprovasse.
[34]

Por que faziam eles isso?

Confiantemente seguro de que agora ele esteja em chão firme, Holding procede
a especular, utilizando todo aquele aparato extra-bíblico que Biblicistas precisam usar a
fim de taparem os buracos lógicos de seu balão teológico. Aqui estão as suas
especulações do porquê e como aquela escritura pudesse ter feito sua solitária entrada
na Bíblia. Todavia ele cai novamente num argumento extremamente torcido, agora que
está alijado do seu “argumento pronome” (material omitido na sua versão on-line mas
não no livro onde é colocado em um formato direto).

O padrão da questão em I Coríntios 15:29 indica que Paulo espera que aqueles
que tomam a condição ‘se’ como certa, quer seja ela realmente verdadeira ou não
(neste exemplo, “se os mortos não ressuscitam,” uma asserção que é falsa, mas
considerada pelos oponentes de Paulo como verdadeira), a responder a indagação do
“porquê”, com a implicação de que eles não podem responder por causa de que seu
comportamento é inconsistente com sua premissa. O link de que o argumento popular
do “eles” encontra entre o batismo pelos mortos e os falsos ensinamentos está portanto
estabelecido, mesmo embora os Gregos não façam tal distinção nos pronomes, pois a
questão de Paulo é para um partido de quem ele mesmo já havia se desassociado: os
mestres falsos da “não ressurreição”. Note que isto corresponde com nossa premissa
de que se I Coríntios 15:29 estivesse se referindo a uma prática normal da Igreja, a
objeção de Paulo seria estabelecida em termos de uma continuação da prática, junto
com o batismo pelos vivos. Doutra maneira a resposta óbvia para Paulo “por que…”,
seria, “Porque a igreja assim o faz.” (Na verdade, se batismo fosse requerido para
salvação como os SUD dizem, a resposta seria, “Porque nós ainda queremos ser
salvos!”) Mas se batismo pelos mortos não fosse uma prática aprovada pela igreja,
então o “porquê” de Paulo faz sentido como uma maneira de perguntar a seu oponente
a defender sua nova prática, não usual ou desautorizada à luz de sua inconsistente
posição na ressurreição[35].

Ele já se esqueceu de que não há nenhum “eles” neste argumento, mas uma
referência universal a todos aqueles que fazem batismos vicários. Qualquer argumento
baseado na suposição de quem fosse aquelas pessoas é irrelevante. E quando lemos as
epístolas de Paulo, nós nunca encontramos uma situação onde Paulo apenas deixe uma
falsa doutrina ou prática passar desapercebida, muito menos usá-la como parte de um
argumento em favor de uma doutrina verdadeira. Então, simplesmente não há nenhum
precedente para este tipo de argumento a partir do silêncio que Holding tenta fazer, nem
qualquer argumento a partir de uma negativa “isto é ruim, o que prova então que a
doutrina é verdadeira.”

E ainda mais uma vez, (com as omissões simplesmente omitidas desta vez; na
versão on-line ele se refere a pessoas específicas, e respeitarei seu desejo de não as
identificar, por quaisquer que sejam as razões que Holding tenha para deletar seus
nomes; deleções são mostradas por elipses nos colchetes e acrescenta material também
em colchetes).

Tvedtnes está correto em dizer que a palavra "eles" não existe no Grego. Não
obstante, o argumento apresentado por […] [apologistas Cristãos] está essencialmente
correto, pois como nós […] [veremos], o padrão de argumentação de Paulo […]
demonstra que ele associa batismo pelos mortos com o falso ensinamento da "não
ressurreição"[…] [36]

Ainda lutando para encontrar alguma ligação, Holding nos lembra de que o
único convertido mencionado no Novo Testamento que foi convertido mas não batizado
foi o ladrão na cruz. O ladrão é mencionado precisamente para aquela razão: o batismo
vicário não era realizado por catecúmenos que morriam antes de ser batizados, o que faz
o caso do ladrão digno de nota. Ordenanças vicárias foram e são feitas em favor
daqueles que nos precederam, não catecúmenos (“investigadores” que subitamente
morreram antes que pudessem fazer seu caminho para a pia batismal). Isto já era pré-
assumido, e isto é porque Paulo não o mencionaria de uma maneira mais explícita, mas
a história do ladrão foi extraordinária, qual é o porquê dela aparecer no Novo
Testamento. O que nos leva …

Após ter admitido de que não há nenhum pronome associado com o particípio
passivo, Holding escorrega de volta a seus velhos hábitos: “A ligação que o argumento
popular do ‘eles’ encontrado entre o batismo pelos mortos e os falsos ensinamentos é
portanto estabelecida, mesmo embora os Gregos não façam nenhuma distinção nos
pronomes, pois a questão de Paulo é para um grupo de quem ele já havia se
desassociado: os falsos mestres da “não ressurreição”. O problema com isto é que há
um pronome da terceira pessoal plural associado com os falsos mestres da “não
ressurreição”, então ele está fazendo uma comparação.

A visão “majoritária” de que os Corintianos estavam se batizando em favor de


pessoas que haviam falecido sem a oportunidade de serem batizados em seu favor.

Ele simplesmente nega qualquer idéia nessa direção:

Isto não é o Primeiro Coríntios que estamos tratando aqui, na verdade seria o
Segundo Coríntios – se eu fosse um Biblicista, com certeza eu gostaria de saber onde
estava na epístola esta possibilidade, pois isto não é mencionado em nenhum outro lugar
da Bíblia.[Nota do tradutor: Holding pode estar se referindo a I Coríntios 5:9 "Já por
carta vos escrevi que não vos comunicásseis com os que se prostituem" referindo-se a
uma epístola anterior perdida; Fim da Nota] Novamente isto é a lógica de “pregar à
congregação” – só faz sentido para aqueles que aceitam a premissas de fé de Holding.
Logicamente ela é circular, ela assume que o Biblicismo, que é aqui o ponto central da
questão, como um aparente aspecto exógeno ou como uma exceção óbvia e visível. Ele
fala de casos de batismo de vivos, o que é adequadamente bem colocado e muito bem,
mas não vai ao ponto. Também ignora (de uma maneira um pouco aborrecedora, creio
eu, depois de tudo o que acredito que Holding conheça de nossas doutrinas) que
atrelada a esta doutrina está a doutrina do pós-mundo, dividida em Paraíso e Prisão
Espiritual, onde os espíritos daqueles que não tiveram uma oportunidade para aceitar o
Evangelho têm essa oportunidade; para nós o Dia de Julgamento ocorre no final do
Milênio, não na hora da morte. E também ignora um imenso abismo: o fato de que não
temos nenhuma referência de Paulo a uma epístola anterior, não temos absolutamente
nada antes [Nota: Apesar da nota acima lembrar que Paulo realmente cita uma epístola
anterior relativo a expulsão membros que praticaram impurezas sexuais, Marc Schindler
parece estar se referindo a nada de Paulo que anteriormente falasse sobre ressurreição
ou batismo pelos mortos. Fim da Nota], e se me dissessem apenas, não se preocupem,
todos os livros que conseguiram entrar no cânon o fizeram por uma boa razão, então eu
gostaria de saber por que as segundas e terceiras epístolas de Paulo foram boas o
suficiente, mas a primeira não?

Argumento a partir do silêncio.


Isto já foi tratado de uma maneira abrangente; os SUDs não acreditam que
somente porque alguma coisa não esteja na Bíblia ela não seja verdadeira. Nosso
universo do Evangelho é um superconjunto da Bíblia, para assim dizer. Entretanto, é
interessante ponderar a questão concernente a por que não está na Bíblia. Assumiu-se
que a próxima vez que ouvimos falar da doutrina é uns poucos séculos depois quando
certos grupos (Marcionitas, Montanistas e outros, de acordo com os primeiros relatos de
João Crisóstomo e Tertuliano) aparentemente praticaram pelo menos uma forma de
batismo vicário. O problema é que não temos nenhuma origem para os rituais a que
esses Patriarcas da Igreja se referem. Isto é, temos suas descrições e conhecemos
quando estes Patriarcas da Igreja viveram, mas não temos nenhuma idéia de quanto
tempo antes estes referidos rituais começaram. Há uma pista, entretanto, concernente ao
porquê algumas coisas pudessem ter sido deixadas de fora da Bíblia. Isto também é o
argumento do porquê muitas doutrinas SUD não são referidas (pelo menos diretamente)
no Livro de Mórmon. No século XX, mais documentos antigos vieram à luz do que em
todos os dois milênios anteriores juntos, os mais famosos são os Pergaminhos do Mar
Morto e a biblioteca de Nag Hammadi, além de também as tábuas de Ras Shamra, as
cartas de Tel Lakhish, as cartas de Tel el-Amarna, e muitas outras. É auto-evidente para
os Biblicistas que os livros que entraram dentro do Cânon do Novo Testamento
conseguiram fazer isso porque Deus assim o quis, mas isso é um argumento circular, um
argumento que acaba sendo uma cilada. Está bem documentado que os antigos
Patriarcas da Igreja consideravam obras não Neo-Testamentárias tais como o Pastor de
Hermas e outras como autorizadas, ainda que não conseguissem entrar no cânon. Mas
os conteúdos do cânon estavam ainda sendo discutidos até um bom tempo depois das
Reformas (cf. a famosa referência de Martinho Lutero a Tiago como uma “epístola de
palha”). Estes novos achados tornam os argumentos que apelam para o silêncio
particularmente perigosos.

“Rituais de passagem”

Utilizando as liberais metodologias das altas críticas do criticismo histórico, o


Biblicista abertamente tenta usar evidências antropológicas e arqueológicas (i.e. extra-
Bíblicas) da cultura Corintiana para demonstrar que os Corintianos pudessem ter estado
unicamente super preocupados com os mortos e sobre a importância dos rituais de
passagem, e passaram a observar o batismo daquela maneira. OK, mas onde está isto na
Bíblia? E não contradiz isso diretamente a especulação anterior de Holding que “…
Cristãos Helenísticos seriam improváveis de inventar um ritual de batismo vicário.”?
Ou estamos apenas nos agarrando a qualquer pedaço de palha que esteja à mão? Na
verdade, é ainda pior do que isto: ele cita DeMaris sobre a “proeminência da imagem da
serpente associada com a morte”[37] em Corinto. E somos levados a tomar isso como
tendo uma influência maior sobre os Cristãos Corintianos do que o simbolismo
messiânico explícito da história de Moisés levantando a serpente na vara, a qual está
realmente na Bíblia? Uma outra ironia é que critica ele vários apologistas SUD que ora
citaram de, ou criticaram DeMaris – em particular John Welch – ao apontar que os
cultos da “Rainha dos Mortos” era comum nas antigas culturas. A ironia é que ao alegar
sobre este tipo de culto, Holding demonstra que ele não conhece nem a sua própria
Bíblia. O “Lúcifer” da Versão do Rei Tiago é uma alusão literária por Isaías, e ocorre
apenas uma única vez no Velho Testamento: precisamente em Isaías 14:12 (e mesmo
nesta passagem, apenas nas traduções que tomam o termo emprestado a partir da
Vulgata.) Totalmente alheio de quem quer que possa ou não possa esta figura ter sido –
todavia devemos lembrar que Biblicistas estão restritos pelo que está na Bíblia,
diferentemente de Santos dos Últimos Dias – o nome como um dispositivo literário é
um empréstimo Acadiano a partir da cultura Assírio-Babilônica. Tais empréstimos eram
bastante comuns no antigo Judaísmo (por exemplo, a forma dos querubins na arca do
convênio e as paredes do tabernáculo), mas Lúcifer é um empréstimo Latinizado, seu
original foi um empréstimo da figura do Oriente Médio conhecida como “Rainha da
Alva” (ou “Estrela da Manhã”, conforme a Nova Bíblia Americana a coloca) conforme
está escrito no Texto Masorético, como “Helel ben Shahar”, ou “Estrela da Aurora do
Dia” na Bíblia Anchor. O hebreu correspondente às duas deidades que são referenciadas
nos cultos Cananitas das tábuas de Ras Shamra[38]

Concluindo então, simplesmente não é possível riscarmos do mapa empréstimos


literários e culturais do Oriente Médio pelo que era, antes de tudo, uma religião que teve
ali suas origens (certamente o principal registro que temos, o Velho Testamento, lá se
originou). Alguém pode aceitar empréstimos culturais ou não, disseminando
especulações ao léu não é uma abordagem sistemática do criticismo. Desta forma,
enquanto DeMaris possa não chegar à mesma conclusão SUD a respeito da
racionalidade dos batismos vicários, ele com certeza indica de que há evidência para a
sua provável existência nos tempos antigos, e indica também que isto não era
absolutamente fora da sintonia com o contexto histórico geográfico daquela época e
lugar. De qualquer forma, conforme demonstraremos abaixo na seção de paralelos, uma
preocupação com os mortos era bem reconhecida universalmente no Mundo
Mediterrâneo da época. Mas isto não necessariamente significa que batismo vicário
fosse universal naqueles dias em qualquer ocasião – simplesmente não sabemos, e para
Holding alegar que DeMaris “prova” que isto não era universal é irrelevante, uma vez
que nunca fizemos tal alegação.

“Os mortos apostólicos

Esta é meramente uma idéia moderna altamente especulativa a qual diz que
Paulo estivesse realmente fazendo uma referência metafórica aos apóstolos, alicerçado
no fato de que Paulo e outros apóstolos sabiam que estavam vivendo com tempo
emprestado, devido a perseguição aos Cristãos pelos Romanos. Felizmente Holding
efetivamente destrói este argumento de Joel White ao apontar que a conexão é de
“semântica, não de léxico”, pois a palavra utilizada para “mortos” em 15:29 é “nekron”,
um termo direto e claro que simplesmente significa “mortos” em todos os sentidos do
termo, mas White tenta ligar a exemplos da palavra Grega “apothneskó” que é um
verbo, não um substantivo. Esta significa “morrer”, “fenecer”, etc., e é utilizada em I
Cor. 15:31 quando Paulo diz “Morro diariamente”.

Para dar voltas em torno do fato de que estas não são simplesmente as mesmas
palavras, White aparentemente argúi que alguém tem de usar “apothneskó” por causa do
verbo cognato, o verbo em que está baseado o substantivo “nekron”, poderia apenas
significar “dispor-me para morrer,” “matar a si mesmo.” Estranhamente então que a
palavra seja usada em muitos lugares onde seu significado é claramente metafórico (e.g.
Romanos 6:11 “em verdade mortos para o pecado”, Efésios 2:1 “mortos em trapaças e
pecados”, e numerosos outros lugares). A objeção de White é que você não pode
construir uma forma reflexiva a partir do verbo “nekroó”, que realmente significa “por
para morrer”, “matar” de uma maneira que faça sentido no versículo 31. Ele está em
geral correto mas não parece compreender que o Grego possa facilmente usar um
particípio passivo: “nekromai” significaria “Sou morto” (como em “fui assassinado”). A
explicação de White está longe ser a mais parcimoniosa e é descartada pela Navalha de
Occan. Holding tenta resgatar White ao apontar exemplos onde “apotheneskó” é usada,
mas isto é um “Código Bíblico” ou “apenas um” tipo de explanação. Ninguém pode
usar este tipo de argumento a menos que não haja nenhuma outra alternativa, e há: o
particípio passivo. Finalmente, Holding tenta explicar um outro argumento para a
associação metafórica concernente a palavra Grega “oloxs” [sic, Eu acho que ele quis
dizer “holós”]. Esta palavra é usada três vezes em I Coríntios 5:1; 6:6 e 15:29. Nos
primeiros dois exemplos o significado é difícil de conceber em uma única palavra em
Inglês, mas denota alguma coisa semelhante a “de todas as coisas.” Em 5:1, é como se
Paulo estivesse escrevendo, “Tem sido relatado que, de todas as coisas há fornicação
entre vós, e tais fornicações como estas nem mesma é conhecida entre os Gentios…” (a
atual KJV começa “Relata-se comumente que,…”). Em 6:7 tem um sentido semelhante:
(KJV) “Agora, portanto, há ainda uma falta entre vós, pois vós ides a legislar uns aos
outros”. Podemos compreender que em dialeto moderno como “Há um problema entre
vós: de todas as coisas, vocês estão processando legalmente uns aos outros”.

Mas é em 15:29 onde as coisas ficam interessantes. Em grego a cláusula


dependente da primeira sentença onde se lê, “… ei holós nekroi ouk egeirontai”, que é
traduzido na KJV, “… se absolutamente os mortos não ressuscitam?” “Holós” é
traduzido como “absolutamente não” mas alguém poderia simplesmente dizer –
novamente em idioma moderno – “se, entre todas as coisas, os mortos nem mesmo
ressuscitam?” White aparentemente argúi que “se verdadeiramente mortos não são
ressuscitados…”. Mais uma vez, a Navalha de Occan vem à tona – a tradução da KJV é
a mais parcimoniosa, a única que faz mais sentido no contexto, e somos novamente
levados a concluir, como o comentário da Bíblia Anchor diz, não há como fugir do
pleno significado deste versículo ao tentar enrolar em voltinhas de palavras como num
“pretzel”. Se o argumento de White está corretamente refletido por Holding, ele está
simplesmente errado: Paulo não usa “holós” como um meio de contraste, mas como
uma expressão de descrença retórica (Devo dizer, aqui ele faz me lembrar de minha
mãe, com minhas desculpas a Dave Barry, “Como você pode pegar os amendoins com
todas esta comida bem na frente de seu nariz?”).

Dualismo.

Holding diz que “o modo de pensar dualisticamente da época desencorajava


práticas como batismo vicário pelos mortos... é provável que alguns conversos Gentios
ficaram confusos e supuseram que batismo fosse necessário para salvação”. [39]
[ênfase no original]. Eles não estavam confusos; haviam sido propriamente assim
ensinados. Conforme tratado alhures, batismo é necessário e as escrituras assim o dizem
sem quaisquer termos duvidosos.

Holding responde a um apologista SUD quem objeta a opção de White pelas


escrituras escritas pela mão de Deus. O apologista, Edward Watson, objetou em curso
de trocas de correspondências pessoais com Holding, sob o fundamento de que I
Coríntios tem de ser tomado pedaço a pedaço, e não como um produto literário inteiro
(no que concerne a mensagem, não a forma). “… ele tem que fornecer ‘alguns bocados’
para que o ‘leitor comum’ possa digerir sua mensagem”. Em outras palavras, você não
pode ter Paulo compondo I Coríntios com complexos paralelismos onde uma palavra
apenas faz sentido quando você fatia “n” pedaços do texto e o recompila mais ou menos
como faz o Código Bíblico. Holding chama tal criticismo “anacronístico”. Eu o chamo
de senso comum. É sabido a partir de referências explícitas que o próprio Paulo
produziu em suas cartas aquilo que ele para elas ditou.

Ele cita o Velho Testamento de memória – sabemos disso por causa dele cometer
pequenos errinhos de tempos em tempos; exatamente os mesmos tipos de erros que
alguém cometeria caso tivesse uma grande quantidade de material memorizado, mas
que não é como um computador em termos de puxar da memória. É como a maioria de
nós tende a se lembrar de algumas coisas memorizadas. “In Flanders Field”, o poema do
Dia da Lembrança dos Mortos em Guerras (Memorial Day) que eu, assim como a
maiorias das crianças em idade escolar da Comunidade Britânica memorizam quando
jovens, há uma tendência para recitá-lo como “In Flanders fields the poppies grow…”
mas na verdade ele lê “In Flanders fields the poppies blow…” As palavras rimam, então
este é um sinal típico de erro feito a partir da memorização. Meu ponto aqui é que Paulo
não se sentava e compunha qualquer de suas cartas de uma forma complexa. Ele não
poderia, pois ele as ditava para um secretário, “trecho a trecho” e esperava-se delas que
refletissem este tipo de formato, logo a proposta de White não se encaixa com estes
fatos conhecidos sobre quaisquer das epístolas Paulinas. Holding realmente reconhece
isto de uma maneira discreta quando ele admite que no mundo de Paulo talvez 10% dos
habitantes fossem letrados, de tal forma que habilidades de memorização eram
altamente desenvolvidas. Isto é verdade, mas memorização é uma habilidade de
recitação cíclica”, não uma criação literária complexa e bem-desenvolvida, e enquanto
Paulo cita das escrituras de memória, ele ditava suas epístolas, e os resultados refletem
isto, não a extremamente forçada especulação de White.

Simbolismo do batismo e da sepultura.

Um dos argumentos que Holding faz que realmente faz sentido é a sua conexão
da imagem do batismo e da sepultura. Na tão bem conhecida história de Nicodemos,
Jesus diz, “Jesus respondeu e lhe disse, Na verdade, na verdade e digo; Exceto que um
homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de Deus. Nicodemos lhe disse, Como
pode um homem nascer quando está velho? Porventura pode ele entrar uma segunda
vez no ventre de sua mãe e nascer? Jesus respondeu, na verdade, na verdade te digo,
Exceto que um homem nasça da água e do Espírito, ele não pode entrar no reino de
Deus.” (João 3:2-50) Conforme previamente mencionado, posso entender a relutância
de Holding em discorrer mais profundamente sobre esta passagem, declarando como ela
defende a necessidade de batismo (e ele não precisa ataques adicionais a partir de “fogo
amigo” uma vez que alega que batismo é uma “obra” e portanto não necessário). Mas
Holding diz:

Primeiramente, se a prática de batismo pelos mortos é inconsistente com a


negação da ressurreição, então também o seria a prática do batismo de vivos. Beasley-
Murray nota que “Este batismo, realizado tão objetivamente como um sacrifício aos
mortos, deve presumivelmente ter o mesmo significado de um batismo pelos vivos…”
[Beas BNT, 190] Paulo compreendia que o batismo servia como um símbolo externo da
ressurreição de Cristo (Romanos 6:3-4); conforme Mounce declara: “Sepultamento
certifica a realidade da morte. Batismo é o ritual que retrata este sepultamento…” É
um “símbolo do completo evento redentivo” cuja realidade é paralela à morte de
Cristo e que encontra sua plenitude na fé do crente. [Moun. R, 149] Se batismo pelos
mortos fosse uma prática normal da Igreja como o batismo pelos vivos, então Paulo
teria feito um ponto baseado em batismo de um modo geral ao invés de restringir seu
uso para os mortos.[40]

O único problema é que acreditamos que a prática de batismo pelos mortos seja
inconsistente com a negação da ressurreição, mas por acaso também é a prática de
batismo pelos vivos inconsistente com a negação da ressurreição? Também está escrito
pela mão de Paulo: “Não sabeis vós que todos que foram batizados em Jesus Cristo
foram batizados em sua morte? Portanto, somos batizados com ele por batismo para
morte: pois assim como Cristo se levantou dos mortos pela glória do Pai, assim
também andemos nós em novidade de vida. Pois como fomos plantados juntos na
semelhança de sua morte, também seremos na semelhança de sua ressurreição." (Rom
6:3-5). Então qualquer criticismo ao batismo pelos mortos baseado na alegoria da
descida para a tumba (água) é também aplicável ao se batizar alguém pelo mesmo
processo de ser ‘sepultado’ na água”.[Nota do tradutor: Não me parece aqui que
Schindler tratou adequadamente a questão levantada por Holding que é: Por que Paulo
não usou o batismo dos vivos para contrapor a não crença na ressurreição; afinal
batizar-se quer seja vivos ou mortos não era um símbolo da ressurreição? Para mim a
resposta é óbvia, Paulo poderia usar tanto o batismo de vivos ou de mortos para
simbolizar a crença na ressurreição (Rom 6:3-5), todavia deve ter preferido usar o ritual
do batismo pelos mortos nesta afirmação retórica pois este era um ritual que
continuamente estavam praticando, eles mesmos servindo de procuradores batismais,
enquanto aquele outro (o batismo de vivos) já devia fazer algum tempo que o realizaram
(Paulo se dirigia a membros da Igreja já batizados) e provavelmente já haviam
esquecido do seu completo simbolismo. Fim da Nota]

Finalmente iremos citar Conybeare e Howson sobre este versículo:

O único significado que o Grego parece aqui admitir é uma referência a prática
de submeter ao batismo em favor de alguma pessoa que tenha morrido sem batismo.
Ainda esta explanação está vinculada a muitas e enormes dificuldades, (1) Quão
estranho que São Paulo poderia se referir a tal superstição sem criticá-la! Talvez,
entretanto, ele poderia tê-la censurado em uma epístola anterior [alas, nós
provavelmente nunca saberemos!] e apenas agora se referencie a isto como um
argumentum ad hominess. Tem sido alegado, na verdade, que a presente menção disto
implica uma censura; mas isto está longe de ser evidente.(2) Se tal prática realmente
existiu na Igreja Apostólica, como podemos dar conta de ter sido descontinuada no
período que se seguiu, quando uma eficácia mágica era mais designada ao ato material
do batismo? Ainda, a prática foi adotada por algumas seitas obscuras dos Gnósticos,
quem parecem ter fundado seus costumes nesta mesma passagem.

As explicações que foram adotadas para evitar a dificuldade, tais como ‘sobre a
sepultura dos mortos’ ou ‘em nome do morto (significando Cristo), etc., são todas
inadmissíveis, como sendo contrárias à analogia da linguagem. Em resumo, portanto, a
passagem deve ser considerada admitir nenhuma explicação satisfatória. Ela alude a
algumas práticas dos Corintianos, que não foram registradas em nenhum outro lugar, e
da qual qualquer outro vestígio desapareceu.[41]

Antigos paralelos
Esta seção é interessante. Mas novamente incorre em uma premissa falsa; de que
somos Biblicistas, e desta forma qualquer referência contemporânea extra-bíblica que
encontrássemos teria um significado de prova para nós. Pode ter um significado
negativo (isto é, evidência contra alguma coisa), conforme Holding indica acima, mas
não nos é permitido de usá-la como evidência para um significado positivo. De qualquer
forma, nós não nos baseamos o batismo vicário em quaisquer destas evidências, seja ela
pró ou contra e quando Holding traz estes argumentos à tona ele está sendo ou ignorante
do racional que usamos ou nova e simplesmente pregando para sua própria
congregação.

Assumindo a premissa anterior, a razão pela qual paralelos contemporâneos


não-canônicos são interessantes para nós não é porque eles provam alguma coisa, mas
porque servem como defesa contra um ataque a uma doutrina como sendo supostamente
Cristã. Ou seja, para demonstrar que fulano de tal ensinou tal coisa não é a razão pela
qual nisto acreditamos, mas demonstra que é plausível; que fazia parte do antigo
Cristianismo. Faz parte de nossas premissas de fé de que nem todo o Evangelho está
escrito nas Escrituras (de fato qualquer escritura, não apenas a Bíblia), mas vem através
de profetas vivos; Escrituras são registros de revelações do passado, enquanto toda
escritura seja “… dada pela inspiração de Deus, e é proveitosa para doutrinar,
repreender, corrigir e para instrução em justiça”, (II Tim. 3:16), nós tanto nos primeiros
como nos últimos dias da Igreja Cristã “… temos uma mais perfeita palavra de
profecia… sabendo isto primeiramente, de que nenhuma profecia da escritura é de
qualquer interpretação particular. Pois a profecia não veio nos tempos antigos pelo
desejo do homem: mas santos homens de Deus falaram como se eles estivessem sido
movidos pelo Espírito Santo.” Biblicistas viram isto do avesso e põem as escrituras
como a fonte de revelação ao invés de por a revelação como a fonte da escritura.

Uma coisa que Holding ainda menciona, entretanto, é digno que se repita. Ao
responder a vários apologistas, ele indica que se vamos “provar um texto” a partir de
uma fonte dada, deveríamos considerar outras coisas que também vêm a partir da
mesma fonte. A medida que não estamos a formular doutrinas a partir de interpretações
particulares das escrituras, mas estamos apenas tentando demonstrar plausibilidade, este
criticismo não é realmente fatal para um argumento tão freqüente. Mas, deve servir
como um lembrete ao apologista como para isto atentar, e deixar claro do porquê está
ele citando a partir de uma fonte não-canônica, e para fazer isto dentro do próprio
contexto.

Meu exemplo favorito de textos incautos de provas vem da Biblioteca de Nag


Hammadi, especialmente o proto-Gnóstico Evangelho de Felipe, que aparentemente
parece fazer referências para um “crisma” (unção templária), ser casado no templo e a
uma referência a uma “câmara nupcial espelhada.” [42] Baseamos nossas doutrinas do
casamento celestial e outras ordenanças templárias no Evangelho de Felipe?
Improvável. É de interesse de que menos de uma metade de século atrás evidências
foram colhidas a partir de uma tradição que pode ser traçada a Alexandria, Egito, onde o
Apóstolo Marcos viveu, e pode ter escrito uma versão diferente da versão canonizada?
Se Marcos escreveu uma versão mais compreensiva de seu livro que mais tarde se
tornou o Evangelho de Marcos, ou de alguma outra maneira os antigos Gnósticos
obtiveram uma parte das antigas ordenanças templárias cristãs, então isto não seria de
interesse para nós? Por que não seria? O que seria então? Especialmente dada a
evidência de que o batismo vicário Copta é praticado até mesmo hoje em dia, e eles
alegam de que isto venha desde o tempos de Marcos.[44] Mas isto não é nossa prova. A
“maior palavra de profecia” é sobre o que está baseada a nossa doutrina. Holding
também, em alguns casos, mantém apologistas SUD dentro de rigorosos padrões,
contudo ele permite interpretações ainda mais imaginativas tais como a de Joel White.
Ele encontra prazer no complexo “fatiamento e composição” de I Coríntios por White,
mas rejeita sem maior consideração qualquer pista de paralelismo que John Welch possa
encontrar entre I Coríntios 15:29 e I Tessalonicenses 4:13-16, por exemplo. (Veja o
tratamento a I Tessalonicenses abaixo para maiores explicações).

Por exemplo, a maioria dos Biblicistas justifica um cânon fechado baseado


entre outras coisas em II Timóteo 3:16 (ver acima), mas ainda assim Holding rejeita o
Pastor de Hermas como uma referência ao batismo vicário baseado que quando Cristo
foi pregar aos mortos (conforme registrado em I Pedro 3:18-20; I Pedro 4:6), foi apenas
para aqueles que “viveram antes de Cristo.” [ênfase no original]. Mas seguindo esta
lógica, II Tim 3:16 apenas se refere ao Velho Testamento, e precisaríamos rejeitar então
todo o Novo Testamento! (ou pelo menos qualquer coisa escrita antes de II Timóteo,
todavia “desde os primeiros dias de sua existência os Cristãos da Igreja possuíam um
cânon dos escritos sagrados – as Escrituras Judaicas, escritas originalmente em Hebreu
e largamente usadas na tradução Grega conhecida como Septuaginta. As fronteiras
precisas do cânon judaico não podem ainda ter sido finalmente fixadas, mas há já
suficiente definição para estes livros serem referenciados como um coletivo de
‘Escritura’ (hé graphé) ou ‘as Escrituras” (hai graphai), e citações destas foram
introduzidas pela fórmula ‘está escrito’ (gegraptai).”[45]

Voltaremos agora ao Pastor de Hermas, mas há uma outra questão que temos
que tratar, e isto ainda como uma outra pressuposição ainda não comentada: morte
como uma barreira entre a vida e a salvação.

Uma das razões deste versículo em I Coríntios quebrar a cabeça de muitos é que
esses muitos assumem que o julgamento ocorra na época da morte: designando o
indivíduo tanto para o céu ou para o inferno. Este não é o lugar para discutir as visões
SUD sobre céu e inferno, exceto pelo fato que acreditamos que no mundo pós-morte
onde as almas esperarão em dois “sub-reinos”, Paraíso e Prisão Espiritual, até o
Julgamento e a Primeira Ressurreição. Esta não é uma visão comumente compartilhada
hoje. É isto uma novidade SUD ou há indicações de que isto existia no antigo
Cristianismo? Pois se existem, então faz muito mais sentido para que o batismo vicário
tome lugar. Isto não prova a prática, mas a “concede tempo e espaço” para que
ordenanças vicárias aconteçam aqui, e para a beneficência dessas ordenanças serem
aceitas ou rejeitadas segundo a vontade daqueles que faleceram.

Ironicamente é a tendência de Holding em ver uma ameaça do paganismo aos


santos de Tessalônica que nos leva a nossa primeira pista: de que havia mais de uma
divisão, a qual Holding mesmo ache, mas com resultados radicalmente diferentes
daqueles que tinham ele e seus colegas assumidamente de mesmo pensamento. Em um
novo livro que é um marco sobre o tópico de antigos ritos vicários Cristãos, Trumbower
cita Solomon Reinah como tendo escrito, “Pagãos rogavam pelos mortos, Cristãos
rogavam pelos mortos”, e aponta que isto é citado com aprovação por Jacques LeGoff
em seu igualmente revolucionário livro, O Nascimento do Purgatório. .[46] De fato,
LeGoff ver as orações pelos mortos como uma inovação Cristã (em outras palavras, isto
não é apenas um texto-prova de Macabeus).
Trumbower menciona ritos funerários em geral no mundo Egípcio, Judaico e
Greco-Romano (dando plausibilidade à cerimônia de investidura SUD; parece que não
se pode voltar ao Antigo Oriente Médio sem cair sobre um rito de cerimônia de
passagem para o mundo pós mortal [47]. Nibley já nos falara sobre isso há anos[48],
mas agora temos uma terceira testemunha imparcial, sem interesse algum
coomprometido nos ensinando sobre a mesma coisa.

A pesquisa de Trumbower é extremamente extensiva, baseando-se na


arqueologia de cemitérios, epigrafia, e análise literária extensiva de antigas fontes.
Desde uma sepultura egípcia, coincidentemente, é aproximadamente contemporânea aos
papiros de Joseph Smith (i.e., 2o. Século AD), onde se lê “alla katakhththonioi Léthés
hoi naiete chóron, daimoneshileioi Epikharei dekhete” (“Mas vós, divindades do mundo
inferior, que habitais na planície de Lethe, dai boas-vindas a Epícares e sede amáveis
para com ele) [49] “Trumbower dá exemplo após exemplo de encenações do infra-
mundo Gregas, Romanas, Judaicas (N.B. Sirácida 7:33; 30:18 e Tobias 4:17, referindo a
ofertas de comida colocadas nas sepulturas) e Egípcias em favor dos mortos – uma
visão bem distinta da clássica visão do mundo das sombras; tanto assim que teremos
que revisar nossa idéia concernente ao que era normativo para aquela época. Talvez
Platão fosse aquele quem foi “inovador”, e os teólogos Platonistas da Idade Média, os
tão chamados apologistas, quem primeiramente tentaram formular uma teologia
sistemática para o Cristianismo (para assim dizer, de Irineu até Agostinho, o maior dos
inovadores que a Igreja veria até Tomás de Aquino), fossem os heterodoxos. Os
vencedores escrevem a história, mas os vencedores nem sempre estão certos.

Trumbower refere-se à pesquisa de Rheinhold Merkelba sobre recentes registros


em papiros de “tribunais” onde um morto era julgado por uma corte de vivos, e é
decidido um enterro (ou não) segundo os seus feitos.[50]

Agora que estabelecemos que, contrário às alegações dos críticos de que


batismo vicário seja um “ponto fora da curva” (como os estatísticos chamariam) com
respeito ao seu meio histórico, mas antes, está inteiramente consistente com o que os
eruditos estão somente agora aprendendo sobre este contexto histórico e social,
tomaremos os textos-prova na seqüência que Holding o faz. Então vamos começar com
II Macabeus 12:43-45.

2 Macabeus 12:43-45.

Holding critica o uso de Tvedtness desta passagem como indicativa de uma


oração de benefício vicário para pessoas falecidas. Este é o famoso texto-prova
freqüentemente usado pelos Católicos em conjunção com sua crença do Purgatório, um
mundo pós-morten entre a morte e ressurreição (neste sentido muito parecido com a
crença SUD), onde as ações dos vivos podem ter beneficência para os mortos. De fato,
esta citação a partir dos Apócrifos é remarcavelmente similar a I Cor 15:29 no sentido
de que os vivos parecem estar sob a impressão de que alguma coisa que estão fazendo
(oração e uma oferta de pecado no caso de Macabeus, batismo no caso dos Cristãos
Corintianos) terá um efeito real no destino daqueles que já faleceram.

O criticismo de Holding sobre Tvedtness é que caso isto seja um exemplo de


uma “filosofia de ações vicárias pelos mortos… então também o seria a cerimônia do
bode expiatório (Lev. 16)… Dentro do paradigma Bíblico [esta palavra é uma pista:
Aqui sendo Biblicismo], pecado requer pagamento, e apenas a expiação apaga o pecado.
A questão é que se o batismo no tempo do Novo Testamento era uma prática expiatória,
e isto é uma questão que não pode ser respondida apenas citando este evento não
correlato com raízes no aparato sacrifical do Velho Testamento…” Holding, portanto
não acha o paralelo convincente. Talvez isto porque ele convenientemente negligencie
em informar ao leitor de que “dentro do paradigma Bíblico” o propósito do batismo seja
precisamente lavar os pecados, permitindo que toda a humanidade se beneficie da Graça
de Deus. Dentro de sua própria criação e tradição evangélicas, isto pode ser uma sábia
dispersão para os propósitos da congregação para quem está ele pregando, conforme
percebo há uma grande disputa sobre esta questão dentro do mundo Protestante
conservador. Mas penso que o sentido pleno das escrituras sobre batismo torna claro
que é para a remissão dos pecados, e isto é um mandamento: Mateus 3:15; 28:19;
Marcos 1:4; 16:16; João 3:5; Atos 2:38; 10:48; 22:16; Romanos 6:4; Gálatas 3:27, Tito
3:5; I Pedro 3:21. Queira me desculpar se isto é uma inconveniência para a multidão do
“sola escritura” ou do “sola gratia”, mas isto é o que a Bíblia realmente diz, conforme a
oposição entre os Calvinistas e os Aniquilacionistas [51] que se têm atados entre si,
“barnacle-sábio”, para formar o Biblicismo.

A Bíblia Anchor não deixa dúvidas quanto ao inerente elo da dupla natureza
desta ordenança como requisitando tanto uma ordenança de água e espírito; ambas
sendo requeridas: (re: João 3:5) “da água e do Espírito. Os dois substantivos são
“anarthrous”e são governados por uma preposição.”[52] Isto deixa nenhuma dúvida
quaisquer que sejam a necessidade de ambos. Então não importa o que possa ter sido
uma prática do Velho Testamento do período inter-Testamentário, a filosofia de alguém
se arrepender pelos pecados é perfeitamente consistente, e não há nenhuma exceção
anotada. Nem mesmo para os mortos.

Trumbower mais uma vez acha evidência positiva para “Resgate dos mortos
dentro de um contexto de salvação”. Ele se refere a mesma seção de II Macabeus que
está sob discussão, todavia nos faz lembrar que:

A partir destas [citações] aprende-se nada sobre a visão do histórico Judas em


164 AC. Antes, ganha-se acesso tanto para a visão de Jasão de Cirene (atual Líbia), um
judeu que escreve uma história de cinco volumes do conflito de Macabeus (2 Macabeus
2:23), ou para o autor que epitomizou seu trabalho. Os cinco volumes de Jasão, hoje
perdidos, foram condensados em um volume (hoje conhecidos como II Macabeus) por
um anônimo epitomizador em algum período de tempo perto do fim do segundo ou
início do primeiro século AC (II Macabeus 2:23-32). Jasão, o epitomizador anônimo, ou
ambos, achavam que a coleta de Judas para o sacrifício fosse para a salvação póstuma
de pecadores individuais.

Por que a mudança na perspectiva? Está aparente que o autor de II Macabeus 12:
43-45 adere à ideologia da diferenciação dos mortos bastante e claramente expressa
dentro do Judaísmo no Livro de Daniel, capítulo 12 (165 AC). Ele acredita que Deus
providenciará galardões para os justos e punição para os iníquos após a morte segundo o
modelo da ressurreição. Em Daniel, a forma da nova existência para os justos será
astral, ‘Aqueles que são sábios brilharão como o brilho do céu, e esses são os que
guiarão muitos para a justiça, como as estrelas para sempre e sempre’ (II Macabeus
7:11; cf. 14: 46). Tanto em Daniel como em II Macabeus, a esperança da ressurreição é
colocada em um contexto de intensa perseguição dos fiéis Judeus [incidentalmente,
exatamente como o pano de fundo aos Tessalonicenses – M.S.]; se Deus é justo, ele não
pode deixar os justos perecerem desta forma. Ele deve ter um plano para endireitar as
coisas corretamente através da restauração da vida ao justo e postumamente punir o
iníquo.

É este contexto que faz II Macabeus 12: 43-45 tão interessante. Afinal, os
soldados mortos haviam pecado por confiarem em ídolos, então alguém deveria
pressupor que eles devessem estar classificados entre os iníquos. O narrador até mesmo
diz que eles morreram em batalha precisamente por causa de seus pecados; deve-se
perguntar se quaisquer dos sobreviventes estavam usando os ídolos também. Nenhuma
menção é feita para uma busca entre os vivos para testar esta hipótese! É remarcável,
então, que Jasão e/ou o epitomizador desejassem estender simpatia àqueles mortos que
não mais poderiam se arrepender de seus erros… Se os soldados tivessem sobrevivido
eles poderiam ser capazes de arrepender-se dos pecados e oferecer um sacrifício
expiatório em seu favor. O autor de II Macabeus 12: 43-45 não aceitaria a morte como
uma fronteira artificial que impediria a gloriosa ressurreição destes soldados
pecadores.[53] [ênfase acrescentada]

Isto não é, afinal, uma extensão da prática Mosaica, mas um novo, um interlúdio
salvífico concedido aos mortos, e nos dá provavelmente um “terminus ante quem” para
o desenvolvimento dos esforços vicários salvíficos de toda espécie, mas
especificamente à expiação pós-morten. O “terminus post quem” será discorrido abaixo
na seção sobre apostasia. Mas falando sobre isso, onde quer que a prática tenha fenecido
no que os SUD chamam de “A Grande Apostasia,” isto permaneceu como parte da
filosofia do Judaísmo Talmúdico. Ainda no fim do nono século AD encontramos na
Midrash Tanhuma Ha’azinu I.f.339b, que se alguém ora em favor dos mortos no Yom
Kippur, “Deus as [as almas] traz para fora do Sheol e elas são disparadas como flechas a
partir de uma arco. Imediatamente um homem torna-se manso e inocente como uma
criança. Deus o purifica como na hora de seu nascimento, aspergindo água pura sobre
ele a partir de um balde [interessante referência batismal para um Cristão – M.S.]…ele
prova da árvore da vida continuamente e seu corpo reclina-se à mesa de todo santo e ele
vive para a eternidade.”[54]

Trumbower então desenvolve este tema dentro do mundo Cristão. Algumas


citações e referências:

Trumbower cita, como evidência que morte não determina a extensão da


atividade de salvação para alguém. Romanos 11:32, I Coríntios 15:29 [é claro!], I Pedro
4:6, Pastor de Hermas, Apocalipse de Pedro e os Oráculos Sibelinos.[55]

Tanto Tecla e Perpétua se engajam em um processo de criar uma nova família


entre os mortos…pode-se ver este processo em funcionamento na [vejam só isto…]
prática Mórmon do século dezenove.[56]

A primeira aponta para um ‘terminus post quem’ quando teólogos Platônicos da


Idade Média mudaram doutrinas e práticas críticas e introduziram outra inovação:

A questão de quem estivesse salvo à época da descida [de Cristo] não estava em
consenso nos primeiros quatro séculos do Cristianismo, embora Agostinho e Gregório o
Grande fossem altamente influentes na confecção da doutrina normativa no Ocidente, as
ações de uma pessoa nesta vida apenas eram determinantes. Para estes, arrependimento
ou o recebimento da graça de Deus no pós-vida era, é agora, e sempre será
impossível.[57]

Então a porta desta grande doutrina é bruscamente fechada com o dinamismo


Agostiniano até ter sido restaurada mais uma vez no século XIX.

Pohlsander, em sua revisão crítica de Trumbower para o BYU Studies cita as


últimas palavras do livro de Trumbower:

Para os Shakers, Mórmons e Universalistas do século XIX, reinterpretar [Faz-


nos lembrar da alegação de Blomm sobre Joseph Smith ter descascado a tinta seca
acumulada, como se estivessem por eras, para revelar a madeira original por debaixo
dos acumulados credos, teologias e confusão dos primeiros dois séculos AD. Veja a
discussão sobre apostasia abaixo para mais – M.S.] o Cristianismo tradicional também
significa jogar fora tradicionais restrições Cristãs para a salvação dos mortos. Aqueles
Cristãos, como Agostinho, que rejeitavam salvação póstuma encontravam-se na
paradoxal posição de afirmar a existência contínua da personalidade após a morte,
mas rejeitavam a idéia de que a personalidade dos não batizados e pecadores sérios
pudessem mudar ou crescer tal qual acontecia ao longo de sua vida mortal. Embora
tenho muita simpatia por aqueles que em todas as eras desejassem resgatar os mortos,
não é o objetivo deste volume tomar algum partido ou mapear uma direção para a
teologia Cristã. Aqueles que entrarem em tal empreitada, entretanto, deveriam ser
informados da antiga história sobre a questão em todas as suas facetas, e se este livro
derramou alguma luz naquela história, então ele atingiu seu objetivo.[58]

Após revisar o contexto geral Greco-Romano-Judaico-Egípcio da época,


Trumbower olha especificamente para precedentes Cristãos. Ele começa com, como
podíamos esperar, com uma referência aos requisitos salvíficos Cristãos – incluindo
nossos mortos – conforme registrado no Novo Testamento e antigas, mas confiáveis
fontes extra-Bíblicas.

Numerosas concepções de resgate póstumo encontram seu caminho dentro de


antigas especulações Cristãs: uma implícita salvação universal (Romanos 11.32),
batismo vicário “em favor dos mortos” (I Cor 15.29), fala de proclamar o evangelho
entre os mortos (I Pedro 4.6), os apóstolos falecidos batizando os mortos justos (Pastor
de Hermas, Similitudes 9.1.6.2-7), e até mesmo Deus concedendo aos justos o privilégio
de salvar alguns dos condenados no julgamento final (Apocalipse de Pedro 14.1-4;
Oráculos Sibelinos 2.330-38). Não deveríamos estar surpresos com a aparição destas
tradições, uma vez que o Cristianismo era um nova expressão de religião embebida em
uma cultura onde as fronteiras entre os vivos e os mortos eram freqüentemente bastante
permeáveis “(33-4….)”.

[Paulo] declara [que cada pessoa seria julgada pelos seus atos no corpo] muito
claramente em Romanos 3.23-25: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória
de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há
em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para
demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos
outrora cometidos;”. Alguns dos oponentes de Paulo [incluindo extremistas errantistas
do mundo moderno – M.S.] compreendem tudo isso como implicando que a ética
deveria ser irrelevante para Paulo e que em sua visão os Cristãos escapariam do
julgamento de Deus simplesmente pela virtude de seu status como Cristãos [isto é hoje
conhecido como ‘sola gratia – uma vez salvo, sempre salvo’ – M.S.]. Ele relata sobre
seus oponentes como caricaturando sua posição, "Vamos cometer o mal de tal modo que
o bem possa vir" (Romanos 3.8). Paulo está bem ciente de que seu discurso sobre a
graça gratuita de Deus poderia levar à conclusão, "devemos continuar em pecado, afim
de que a graça possa efetivar-se" (Romanos 6.1) Muito de Romanos 1-8 é uma tentativa
de Paulo para responder estes ataques. Ele põe ênfase na fé posterior, na transformação
pós-batismal do crente.[59]

Mais de Trumbower:

“No segundo texto, I Coríntios 15.29, Paulo está tentando convencer os


recipientes de sua epístola de que verdadeiramente existirá uma ‘ressurreição dos
mortos’ na forma de um corpo espiritual (sóma pneumatikon, I Cor 15:44) e que os
crentes receberão o mesmo tipo de corpo ressurreto que Cristo recebeu quando foi
levantado por Deus... Paulo não objeta aqui a esta prática [do batismo vicário], o que
quer seja ela, e ele a usa para convencer os Corintianos de que se eles são batizados em
favor dos mortos, eles devem também acreditar na ressurreição conforme Paulo a
compreende”.[60]

Visões de Trumbower sobre qual especificamente a visão SUD como norma


prática:

Eu concordo com Rissi e Hans Conzelmann (e para essa questão, com o profeta
Mórmon Joseph Smith), que a gramática e lógica da passagem aponta para uma prática
de batismos vicários de uma pessoa viva para o benefício de uma pessoa morta (Rissi:
89-92; Cozelmann, I Coríntios: 275-77; quanto a Joseph Smith, veja a introdução deste
volume [ele se refere a um vizinho SUD chamado Dawn Hill]). [61]

Suponha entretanto que alguns são realmente batizados, veremos se isto faz
sentido. Certamente, nessa suposição, tendo começado tal prática realmente indica quão
longe eles acham que o batismo trará benefícios à carne, mesmo quando é outra pessoa
quem é batizada e batiza vicariamente. Eles têm a esperança da ressurreição em vista, e
que uma ressurreição corporal, ou isto não seria atada com um batismo corporal –
conforme ele diz, que benefício traz isto para aqueles que são batizados mesmo, se os
corpos que são batizados não ressuscitarão novamente – pois a alma é santificada não
pelo lavamento corporal, mas pela resposta espiritual.[62]

Uma das mais intrigantes “provas extras” que Trumbower ilustra é a


condenação de pelo menos o rito Marcionita pelo Concílio de Cártago em 397 AD [63].
Obviamente se tal conselho tão mais tarde viu uma razão para condenar alguma coisa,
essa “coisa” deveria estar suficientemente espalhada para apresentar um problema à
hierarquia da igreja. Dado que isto se dá na virada do 4 o século AD, isto é relativamente
tarde, e, portanto, os SUD alegariam, bem dentro do período da Grande Apostasia. Nós
esperaríamos condenação a partir da hierarquia e ortodoxia oficial.

Com toda justiça, deveria indicar que Trumbower acredita que apenas
catecúmenos eram batizados desta forma, não não-membros como modernos SUD o
fazem, mas o ponto é que no passado se alegou que nenhuma evidência havia jamais
sido encontrada sobre o que quer que tenha sido esta prática dos Corintianos. Agora
temos essa evidência, e estamos bastante contentes em esperar para que o tempo possa
revelar ainda mais. (Para iniciantes, Trumbower encontra uma grande variedade de
diversidade em como a prática era realmente engajada; alguns acreditavam que era
Cristo quem realizava os “batismos espirituais” correspondentes às ordenanças vicárias
físicas, outros de que era um grupo de 40 apóstolos e élderes).

Santos dos Últimos Dias realmente tomariam “um conforto extra” a partir do
fato de que a pessoa que mais fez para mudar a Igreja, junto com talvez Constantino e o
Grande e Tomás de Aquino (até que os Protestantes vieram e fizeram um estrago ainda
maior) – nomeadamente Agostinho, Bispo de Hipo – também condenou a prática.
Agostinho, é claro, pregava que o destino de criancinhas não batizadas era a eterna
condenação [64], uma questão que retornaremos na Seção sobre Apostasia.

Em uma referência final especialmente à prática SUD, ele alude à nossa crença
no dispensacionalismo:

Santos dos Últimos Dias e Shakers do século dezenove reviveram certos tipos
de salvação póstuma, sem necessariamente estarem cientes da antiga história, a não ser
por uma única passagem Paulina a respeito de batismo pelos mortos, I Cor 15:29. Isto
demonstra que o impulso religioso para resgatar os mortos possa levantar-se sempre que
haja um entusiasmo por nova atividade de Deus no mundo. Se os vivos podem
compartilhar sobre as novas bênçãos concedidas por deus, por que deveriam ser os
mortos exclusos?[65]

Retornaremos, incidentalmente, a esta idéia do que Trumbower chama


“entusiasmo para a nova atividade de Deus no mundo”, e que nós formalmente nos
referimos como dispensacionalismo na seção sobre Apostasia conforme determinamos
os paralelos entre a crença SUD no mundo pós-mortal e a doutrina Católica do
Purgatório, uma vez que para o batismo vicário tome efeito, deve-se obter duas pré-
condições: 1) Batismo é uma ordenança salvífica necessária (a qual acreditamos termos
demonstrado); e 2) há um tempo após a morte e antes do julgamento/ressurreição para
que o falecido decida se aceita ou rejeita a beneficência de tal ordenança vicária feita
em seu favor.

I Tessalonicenses 4:13-16.

Esta é uma referência ao fato de que aqueles que “dormiram em Jesus” serão
trazidos na primeira ressurreição. Holding reduz o paralelo de Welch com I Cor 15:29
para uma dispensa “Mas essa passagem não menciona batismo.” Holding se permite
estabelecer uma sofisticada estrutura literária Greco-Romana, e espera que nós
aceitemos padrões baseados em tal estrutura como significantes mas não permite que
Welch aponte para uma simples suposição de que Paulo fosse consistente em seus
ensinamentos, e não estamos fora de linha em procurar por paralelos entre os escritos
Paulíneos. Aqui temos dois padrões! Simplesmente não é verdadeiro que Welch “saca
desta passagem para a prática de batismos vicários”, porque isso não é o que Welch está
tentando fazer.

Como Holding está, em efeito, argumentando a partir de um vácuo, tudo isto


que toma é uma referência singular para estabelecer a plausibilidade contra um
argumento a partir da falta de evidência. Ele deveria sair enquanto estivesse na frente;
seu criticismo do apologista SUD Richard Anderson para o efeito de que os
Tessalonicenses não deveriam ter tido razão alguma para duvidar da ressurreição,
baseado no fato que o cenário cultural Greco-Romano a partir dos quais os conversos
eram extraídos era a idéia Grega da metempsicose, ou uma terra Platônica das sombras,
é totalmente além do ponto em questão. A epístola era para Cristãos da Tessalônica, não
para os pagãos Tessalonicenses. Holding escreve “(v.14)” quando ele faz seu argumento,
todavia é difícil ver como isto é uma apologia contra o paganismo; afinal, a igreja
Tessalônica parece estar relativamente forte neste ponto, e o capítulo 4 é um sermão
escatológico, seguido pelo capítulo 5, o qual aborda apocalipticismo em suas ameaças
fortemente escatológicas, as quais continuam na segunda epístola. Este não é nenhum
ramo fraco atingido por práticas pagãs ou dúvidas, mas um que está bem estabelecido
(v. 5-7; eles são encorajados a ser um exemplo para metade de toda Grécia).

Holding escreve mais adiante, concernente a referência de Anderson para


Hebreus 6:2,

Anderson percebe que este versículo refere-se a uma “doutrina de batismos”,


no plural, e assume que se refere a “dois tipos distintos de batismo nos dias de Paulo”,
o batismo de conversos vivos e batismo por procuração de mortos. [And. UP, 228] Mas
o plural é facilmente visto como uma referência ao batismo de conversos vivos, e ao
batismo de João, ou a ritual e batismos de prosélitos realizados pelos Judeus. Antigos
Cristãos teriam que explicar como estes rituais similares encaixavam-se dentro de seus
paradigmas doutrinários.[66]

Felizmente, antigos Cristãos de fato fizeram exatamente isto. Anderson escreve,

Conforme começa a seguinte passagem, o mensageiro de Hermas está


explicando que os mortos pré-cristãos – “que haviam adormecido – também são
batizados; isto é seguido pela explanação de que os portadores do sacerdócio do Novo
Testamento haviam sido batizados mais uma vez para tornarem isto possível: “Desta
forma estes também que antes adormeceram receberam o selo do Filho de Deus e
‘entraram no reino de Deus’….Este selo, então, foi também a eles pregado, e eles
fizeram uso disto ‘para entrar no reino de Deus.’ Por que Senhor, “disse eu”, subiram
também as 40 pedras do abismo [veja seção abaixo sobre selos e para mais sobre este
simbolismo – M.S.], embora tivessem eles recebidos já o selo?” “Por causa, disse ele,
“estes apóstolos e mestres os quais pregaram o Filho de Deus, tendo adormecidos no
poder e fé do Filho de Deus, pregaram também àqueles que adormeceram antes deles,
desceram mortos mas saem vivos. Através deles, portanto, eles foram feitos vivos, e
receberam o conhecimento do Filho de Deus… Pois eles adormeceram na justiça e em
grande pureza, somente apenas não haviam recebido este selo. Tendes também então as
explicações destas coisas.”[67]

A sugestão de Holding de que “batismos” refere-se ao batismo de João é um


salto nas nuvens; em tempo algum é feita qualquer distinção entre o batismo pelos vivos
e o de João, exceto a menção de que o batismo de João não incluía a concomitante
ordenança da imposição das mãos para o Dom do Espírito Santo (cf. Atos 1:5; estes não
eram batismos separados, mas duas ordenanças companheiras). Então ao invés de
confiar em especulações, temos, graças a Hermas, um elo específico para dois batismos
sendo realizados, um para os vivos, e um vicariamente em favor dos mortos, unidos,
juntos, conforme veremos abaixo.

Pastor de Hermas.

J.A. MacCulloch, escreve que o antigo comentário em Hebreus 11:40 (“eles sem
nós não podem ser aperfeiçoados,” referindo-se a todos os Israelitas que antes haviam
existido) significa que estas eram pessoas do Velho Testamento que estavam no Hades
esperando por Cristãos para ajudá-los, e que Cristo “abriria as portas do mundo inferior
para as almas fiéis que lá estavam.”[68] Uma vez que a porta foi aberta, ela está aberta,
e não há necessidade de Cristo continuar reabrindo-a novamente. Assim como a
expiação é infinita tanto temporalmente para o passado como para o futuro, assim
também neste aspecto, ou subconjunto, como fosse do sacrifício expiatório: a habilidade
de garantir que todos tenham uma oportunidade de terem seus batismos realizados, de
uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde – é tudo a mesma coisa para o
Senhor.

O próximo passo é I Pedro 3:18-20; I Pedro 4:6, em que vemos refletida nossa
crença de que entre a crucificação de Cristo e a ressurreição, Ele pregou às almas que
não haviam tido uma chance de ouvir o Evangelho. Isto, combinado com os Santos
ainda viventes realizando ordenanças em seu favor permitiria que eles, se assim
escolhessem a obedecerem ao mandamento deixado por Cristo de que o batismo é
necessário (João 3:5 inter alia como acima).

Justino Mártir, um antigo Patriarca da antiga Igreja declarava que uma obra
apócrifa que era parte original de Jeremias havia sido removida, mas poderia ser
encontrada em algumas cópias do texto [69]. Parte disto dizia

O Senhor Deus se lembrou de Seu povo falecido de Israel que jaz nas
sepulturas; e Ele desceu para lhes pregar Sua própria salvação.[70]

Incidentalmente, esta (parte removida da escritura para uso geral) não é “outré”
uma alegação isolada como possa isso soar. De acordo com Akenson, o antigo período
Helenístico do Judaísmo, até a destruição do Segundo Templo, foi um período de
intenso esforço criativo, mas tudo aquilo parou em 70 AD (ou engrenou para um campo
neutro, todavia de qualquer maneira a revolta de Bar Kobha uma metade de século mais
tarde estacionou todas as coisas relacionadas com o culto do templo). No Concílio de
Jamia, que aconteceu quase no meio do caminho entre estes dois eventos catastróficos
(90-95 AD), os Judeus Fariseus começaram uma transformação que perdurou séculos,
saindo do “Judaísmo” para o “Judaísmo Rabínico”. Uma das coisas que esta
transformação fez desde muito cedo foi extrair qualquer material apocalíptico, uma vez
que eles, em um certo sentido tiveram que viver em um mundo “pós-apocalíptico”.
Então as “Adições a Daniel, Éster e Jeremias, que hoje fazem parte dos Apócrifos, na
verdade deveriam ser realmente chamadas de Subtrações de Daniel, Éster e Jeremias”; e
Enoque estava provavelmente perdido para sempre, não obstante as três versões que
temos hoje (que foram provavelmente escritas vários séculos depois da versão do
Segundo Templo). Nós finalmente recuperamos os Gênesis Apócrifo, o Livro dos
Jubileus, e outras pérolas desta era.[71] É claro, todos nós sabemos que se tivéssemos
dado chance a Martinho Lutero, teríamos um Novo Testamento com quatro livros a
menos: Tiago, Judas, Hebreus e Apocalipse.
Irineu, um outro antigo Patriarca da Igreja escreveu alguma coisa semelhante
para Justino Mártir:

“O Senhor desceu às partes sob a terra, anunciando também para eles as boas
novas de sua vinda, existindo remissão dos pecados para tais que nele
acreditarem”.[72]

As duas referências anteriores não podem permanecer sozinhas, entretanto,


conforme mencionado acima, precisa de uma ligação (tais como MacCulloch assumiu).
Em um livro em que alguns dos antigos Patriarcas Cristãos achavam ser autoritativo
(nós não podemos ainda falar de “canônico” pois o cânon então não existia),
nomeadamente o Pastor de Hermas, encontramos (para explicação da fonte itálica, veja
abaixo) estes apóstolos e mestres que pregaram o nome do Filho de Deus, tendo eles
adormecidos no poder e fé do Filho de Deus, pregaram também àqueles que haviam
adormecido antes deles, e eles próprios deram para esses o selo da pregação. Portanto
desceram com eles na água e emergiram mais uma vez, mas o último desceu vivo e
levantou-se vivo, enquanto o primeiro, que havia antes adormecido, desceu morto e
subiu vivo. Através deles, portanto, tornaram-se vivos, e receberam o conhecimento do
Filho de Deus.[73]

Aqui está uma clara conexão entre Cristo pregando no “Hades” e a prática do
batismo vicário em uma fonte muito antiga (estimativas colocam seus escritos por volta
de 140 AD) e de uma fonte autoritativa (Códex Sinaiticus (*), incluía isto como parte do
Novo Testamento). *, junto com o Códex Alexandrino e Vaticanus formam os “três
grandes” – os mais antigos textos completos do Novo Testamento.

Holding apenas cita parte disto – a parte que havíamos mostrado em itálicos
acima. Ele então diz que isto apenas demonstra no máximo que batismos podem apenas
ter sido realizados por aqueles que viveram antes de Cristo, uma objeção que já
tratamos. Enquanto a porção que ele não cita não afeta esta cronologia, é a parte mais
clara da referência para batismos vicários reais.

Falando da perigosa tática de apenas citar parte de uma fonte, Holding diz o que
eu posso apenas chamar uma inverdade quando ele alega a respeito do fato que a leitura
de Bickmore do Pastor de Hermas não é consistente com a própria má interpretação de
Holding, que a “única documentação de apoio de Bickmore consiste de uma visão por
um líder de estaca que confirma sua interpretação!” O que Holding deixa de fora é que a
explicação de Bickmore que esta visão não tem nada a haver com a autoridade
doutrinária do batismo vicário como tal, mas é simplesmente uma informação ilustrativa
de que freqüentemente confirmação espiritual é concedida àqueles que participam em
ordenanças vicárias de que realmente pelo menos algumas das pessoas, cujo trabalho foi
por elas realizado, o aceitaram no Mundo Espiritual (um conceito que aparentemente
Holding ignora ou então não acredita, se for este último caso, tudo bem também,
todavia isto pode ser traduzido como uma idéia pré-concebida). Bickmore estava
discorrendo de que a ordenança terrena é apenas parte do processo, um processo que
deve acompanhar eventos e decisões no Mundo Espiritual, o “pós-mundo” SUD (mas
antes da ressurreição). E de fato, Bickmore realmente documenta que esta “parceria” era
parte do antigo contexto histórico do qual o primitivo Cristianismo brotou, citando J.R.
Porter referindo-se a “bem-conhecida idéia [Judaica] da correspondência e da
simultaneidade dos rituais terrestres e celestes…”[75] Mesmo se alguém discorde de
Porter, ou para esta discussão com a leitura que Bickmore faz de Porter, simplesmente
não é verdadeiro que a alegação de Bickmore é apoiada meramente por uma visão dada
por um presidente de estaca. De qualquer forma, conforme Bickmore indica, o
conhecimento de alguém aqui no mundo mortal receba revelação de que sua obra
vicária foi aceita não é uma doutrina oficial SUD, sendo por sua própria natureza apenas
ilustrativa.

Testemunhas Miscelâneas

Em adição ao material escriturístico e patrístico que Holding considera em sua


crítica, existem outras antigas referências, assim como também comentários modernos
por não-SUDs sobre batismo vicários, e esta seção listará alguns deles.

Balthasar sobre a religião vicária como um ritual comum: A maioria dos


jovens SUD lembram-se de suas viagens ao templo com alegria – sempre e uma vez
mais o valor dos rituais em si, conforme eles o vêem, é a camaradagem que é construída
entre eles a medida que realizam tais rituais. É o mesmo com adultos que vão para o
“dia da ala no templo,” e atividades similares. Parece que isto não era tão diferente nos
tempos antigos:

A prática Corintiana de ser batizado em favor dos mortos demonstra quão forte a
consciência de que alguém pudesse agir em favor de um outro estava presente na vida
da comunidade Cristã (I Cor 15.29). Isto pressupõe a idéia de que nem mesmo o
batismo é um evento particular que afeta o assunto claramente delimitado, mas é uma
graça na qual pode-se extrair outras; esta é uma aplicação excepcional da antiga
comunidade em “ter todas as coisas em comum”, de tal forma que seus membros se
consideravam de ‘um só coração e alma’, sem que nenhum deles ‘considerasse o que
lhe pertencia como alguma coisa particular.’ (Atos 4:32).[87]

Fontes Armênias (5o século) corrige os Marcionitas e Mandeus.

E além do mais o que está ao ouvido de Marcião e Mani ele grita alto,
afirmando, ‘se os mortos não ressuscitam novamente, o que realizarão aqueles que são
batizados em favor dos mortos?’ (I Cor. 15.29). ‘Vós dizeis que os corpos não se
levantarão novamente porque eles são do Hylé.’ [88] Se os corpos, sendo mortais, não
se levantam, concernente às almas, entidades vivas, por que farão elas um convênio em
favor daqueles corpos mortos? Ou também, por que batizariam eles os corpos mortos
junto com aquelas almas imortais, se, conforme vós dizeis, aqueles corpos mortais não
se levantarão novamente? Neste sentido também deve ser esta palavra compreendida, e
não como aquilo que Marcião fantasia: de que seja necessário colocar um parente vivo
para que seja batizado por uma criança morta de tal forma que ela possa ser contada
para ele - o que de fato os Marcionitas também praticam.[89]

O que está sendo aqui criticado é a idéia de que um cadáver tenha de ser
batizado, ou ter o ritual realizado em sua presença; Eznik de Kolb está indicando que
uma vez que o corpo é hylé, ou material, mas a alma não é, o ritual não requer a
presença física do cadáver para ser realizado.

Um Meta-Sumário de Comentários Modernos:


‘Atenha-se ao significado pleno’ gosto desta fonte porque ela basicamente
ensina as pessoas a não se contorcerem em rodeios teológicos; 'apenas porque “nós”
(não-SUD) não compreendemos o que os Corintianos estavam fazendo não é razão
para não tomar a escritura pelo seu sentido pleno'.

‘Pois de outra forma o que farão eles…?’ é uma inesperada abertura, com o seu
tempo verbal futuro e o verbo ‘fazer’. Talvez isto signifique, ‘qual é o valor…?’ Este
problema, entretanto, é pálido e insignificante junto e ao lado do significado que
devemos designar para os que estavam sendo batizados pelos mortos. A maneira mais
natural de compreender estas palavras é ver uma referência ao batismo vicário. Alguns
dos crentes Corintianos podem ter sido batizados em favor de amigos que haviam
morrido antes do batismo (podemos dificilmente acreditar que eles teriam feito isso
para pessoas que não tivessem acreditado, ou que Paulo tivesse mencionado a prática
tão calmamente se este fosse o caso. Parry diz, ‘O sentido pleno e necessário das
palavras implica a existência da prática de batismos vicários em Corinto,
presumivelmente em favor de crentes que haviam morrido antes de serem batizados.’
[90] Ele olha então para todas as outras interpretações como ‘evasivas…totalmente
devidas ao não desejo em admitir uma prática de tal tipo, e ainda mais para uma
referência dela por São Paulo sem uma condenação.’

Que Paulo fosse bem capaz de arrazoar a partir de uma prática com a qual ele
desaprovasse é demonstrado pela maneira que ele se refere ao sentar-se à refeição em
um templo idólatra sem dizer qualquer coisa como isto sendo errado (8.10), embora em
uma passagem posterior ele conectasse os banquetes idólatras com demônios (10.21
ff.). Se for talvez significante que, enquanto Paulo não se detivesse para condenar a
prática da qual ele aqui fala, ele se desassocia dela (‘o que se farão aqueles que…?’
[Parece que Morris não está ciente de que não há nenhuma pessoa indicada, uma vez
que o termo é um particípio – M.S.] contraste com ‘por que pomos nós mesmos em
perigo…?, versículo 30). Ele simplesmente menciona a prática como acontecendo, e
pergunta que significado isto poderia ter se os mortos não ressuscitam. Atestam-se
batismos vicários no segundo século entre heréticos (Crisóstomo diz que os
Marcionitas o praticaram). Se alguma coisa como isto era conhecida em Corinto isto
poderia fortemente apoiar o argumento de Paulo pela ressurreição. Mas a prática não
é conhecida desde o primeiro século, nem pelos ortodoxos. Coisas estranhas
aconteceram em Corinto, mas isto é estranho até mesmo para Corinto. Então a
sugestão tem sido colocada de que alguns crentes haviam falecidos, e alguns dos vivos,
ainda que não fossem membros da igreja, estavam se batizando a fim de serem
integrados aos falecidos no devido tempo. Outros pensam no simbolismo do batismo
(Rom 6.1 ff), embora não seja fácil de ver a relevância disto com a ressurreição do
corpo. Outros mais uma vez vêem como uma referência aos mártires (‘batizados no
sangue’), ou para uma prática ‘com uma visão voltada para a (ressurreição) dos
mortos.’ Muitas outras sugestões têm sido feitas. Conforme Conzelmann diz, ‘a
engenhosidade dos exegetas arruinaram a base’.[91] Há pouca consistência ao
considerarmos mesmo as mais plausíveis sugestões. A linguagem aponta para o
batismo vicário. Se isto rejeitarmos somos deixados a conjecturas.[92] [ênfase
acrescentada]

Hans Conzelmann sobre o significado pleno:


Esta é uma das mais ardentemente disputadas passagens na epístola. O tom e o
estilo (com a série de questões retóricas) mudam abruptamente. As palavras utilizadas
estão em favor de uma exposição ‘normal’ em termos de ‘batismos vicários: ’ em
Corinto pessoas vivas estavam se batizando vicariamente em favor de pessoas
falecidas, Paulo não critica o costume, mas faz uso dele para o seu argumento… A
referência de Paulo para este costume nos providencia com um dos mais importantes
argumentos contra a premissa que ele compreendeu mal a posição Corintiana. Ele se
mostra aqui sendo obviamente bem informado… Alguns dos Patriarcas da Igreja
estavam familiarizados com o batismo vicário e o olhavam como uma prática herética;
desta forma Crisóstomo o conhecia como um costume dos Marcionitas. As palavras
utilizadas exigem uma interpretação em termos de batismos vicários.[93] [ênfase
acrescentada]

Santo Ambrósio (4o Século AD):

Temerosos de que uma pessoa falecida que nunca houvesse sido batizada
pudesse ser mal ressuscitada ou absolutamente não ressuscitada, uma pessoa viva seria
batizada no nome da falecida. Desta forma ele acrescenta ‘por que se batizam então
por eles:' De acordo com isto ele não aprova o que está sendo feito, mas mostra uma
firme fé na ressurreição [que está implícita]. [94]

Platão demonstra isso, ao contrário de Holding, de que a idéia da beneficência


em favor dos mortos em geral não era peculiar a Corinto (ou até mesmo a Cristãos):

E produziram um cesto de livros de Musaeus e Orfeu, a progênie da Lua e das


Musas, conforme afirmam, e estes livros eles usam em seus rituais, e não faziam
somente homens simples, mas declara que realmente havia remissões dos pecados e
purificações dos atos de injustiça, por intermédio dos sacrifícios e esporte agradável
para os vivos, e havia também rituais especiais para o defunto [estão igualmente a
serviço dos vivos e mortos], o que chamavam funções, que nos livravam dos males
naquele outro mundo, sem estas coisas terríveis aguardam aqueles que negligenciarem
os sacrifícios. [95]

DeMaris 1995.

Enquanto DeMaris não necessariamente chega às mesmas conclusões dos Santos


dos Últimos Dias, ele tem e usa suas próprias especulações de forma original, ele ainda
assim faz alegações que podem ser consideradas de valor para ambos os lados do
debate, particularmente concernente ao fato de que a prática Corintiana não era quase
certamente uma novidade no contexto do Mediterrâneo:

Até a presente data nenhuma explanação satisfatória da prática descrita em I


Cor 15.29 apareceu, embora não seja por falta de tentativa… Há, de fato, muito pouco
no texto para discorrer sobre. Comentaristas perceberam quão pouco o contexto do
versículo nos prepara para ele e nos conta sobre o mesmo, O tom e estilo de 15.29
muda abruptamente desde a seção precedente do capítulo 15 [desta forma muito da
teoria de Holding de uma bem trabalhada estrutura de retórica, quase jurídica – M.S.], e
embora os vv. 30-35 continuem as questões iniciadas no v.29, elas introduzem um
assunto inteiramente diferente.
O versículo por si só é extremamente direto, mas porque Paulo baseou seus
argumentos sobre um costume neste ponto, muito continua sem diálogo entre o escritor
e sua audiência... .Os destinatários da epístola de Paulo deveriam conhecer o cerne
destas questões, destarte presumivelmente a comunidade Cristã Corintiana conhecia
sobre batismo pelos mortos. Mais provavelmente, à luz da raridade da prática no
antigo Cristianismo, os Cristãos Corintianos batizavam-se pelos mortos... .A maioria
dos eruditos compreendeu o Grego como descrevendo um batismo vicário realizado
pelos vivos para o benefício dos fisicamente mortos... .Rissi ‘conclui que o significado
deva ser de batismo vicário. Por que batismo em favor dos mortos começou a surgir? O
que significa isto para os Cristãos Corintianos?’…

Argumenta que nova idéia vem se olhássemos para os beneficiários do ritual –


os mortos – e o tratamento dos mortos no mundo Greco-Romano. Ainda mais, dado
quão distintiva a prática era, a clarificação dela virá mais provavelmente a partir de
um contexto específico do qual ela se desenvolveu: o clima religioso da Corinto do
primeiro século AD… Tanto as antigas sociedades Greco-Romanas devotavam recursos
consideráveis aos mortos, em parte por temê-los, mas primariamente porque se
pensava que os vivos eram obrigados a ajudar os falecidos a tornarem-se integrados no
reino dos mortos... Muitas destas práticas parecem refletir uma crença de que os
mortos poderiam se beneficiar de ações realizadas em seu favor, particularmente na
sepultura... Existiam clubes a fim de assegurar que seus membros fossem
adequadamente pranteados e enterrados, e estes eram muito populares na sociedade
Imperial Romana….Este estudo sugere que os Corintianos do primeiro século estavam
preocupados com o mundo dos mortos… . Cristianismo Corintiano, a fim de sobreviver
e florescer tinha que abordar esta mesma orientação. À medida que o Cristianismo
crescia em solo Corintiano ele tornou-se cada vez mais uma comunidade Gentílica, e
muitos que adentravam à Igreja traziam consigo uma preocupação com o mundo dos
mortos. Enquanto pareça lógico que o batismo, um ritual de entrada ou fronteira de
cruzamento, possa ter sido usado vastamente para auxiliar os falecidos a medida que
faziam a transição da vida para morte, apenas os Cristãos Corintianos agiam segundo
esta lógica. O que fomentou esta prática em Corinto foi uma preocupação local com o
mundo dos espíritos, de tal forma que Cristãos do primeiro século de Corinto foram
impulsionados para inovar.

Colocado de forma simples, os Cristãos Corintianos não teriam instituído


batismo em favor dos mortos se a religião Corintiana da era dos Romanos não
estivesse preocupada como o reino dos mortos… Preocupação com os mortos
certamente veio ter expressão em outros círculos Cristãos. Por exemplo, Paulo sentiu-
se compelido a assegurar aos Cristãos de Tessalônica sobre o lugar da comunidade de
membros falecidos nos eventos da Parousia (I Tess. 4:13-18) . Preocupação pelos
ancestrais e a importância do batismo deve ter incentivado a interpretação da visão de
Hermas, em que mestres e apóstolos falecidos pregam e batizam entre aqueles que
haviam morrido antes do advento de Cristo [cf. D&C 138 dada em tempos modernos a
Joseph F. Smith – M.S.]... Ainda, outros Cristãos antigos não estenderam a prática do
batismo para seus mortos. Por que não? Por que, segundo o meu argumento, o
ambiente religioso local de outras paragens não elevaram uma preocupação geral
pelos mortos e pelo mundo dos espíritos... Parece improvável que a configuração e
detalhes da situação de Corinto pudesse ter ocorrido em algum lugar mais, mesmo
embora temos pouca evidência para dizer que isto não ocorreu...Mesmo em Corinto
temos apenas uma referência de Paulo a isto.
Quanto tempo esta prática Corintiana sobreviveu é incerto, mas a paucidade
das referências a isto por escritores Cristãos sugerem um fenômeno não muito
difundido nem de longa duração… confirmação do que a maioria dos eruditos do NT
compreende que o grego de I Cor 15.29 descreve: batismo pelos mortos significava o
batismo realizado por pessoas vivas para o benefício dos mortos… Outras
interpretações além destas, ainda que possam ser textualmente possíveis, merecem
criticismo porque são elas inconscientes da orientação religiosa da Corinto do
primeiro século… Alguns propuseram alterar a aceitada pontuação. Outros intérpretes
tomam [hyper] como um sentido final – ‘por causa de’, ou ‘pela causa de’.

Ambas as interpretações livram a prática de suas ações vicárias e concentram-


se no benefício dos mortos, ou seja o foco é para eles ao invés dos vivos. Ao fazer isto,
estas alternativas distanciam a prática de seu contexto, uma cultura em que o auxílio
dos mortos era tão importante e que assumia que o mundo dos vivos poderiam afetar o
mundo dos mortos…Obrigação primária com os mortos na sociedade Greco-Romana
tipicamente caía sobre os membros da família, desta forma é provável que aqueles que
haviam sido batizados fossem parentes dos mortos….Batismo era mais provavelmente
realizado pelos mais recentemente falecidos do que pelos que há muito tempo haviam
partido…Tais relatos [conforme Charon no Rio Styx, e referências pseudo epigráficas]
expressam bastante vividamente a crença de que os recém batizados enfrentavam uma
difícil transição deste mundo para o vindouro, tão difícil que os falecidos precisavam
de assistência para alcançarem o outro lado…Batismo vicário era um dentre vários
rituais funerários que os Cristãos de Corinto usavam para ajudar o membro falecido
da comunidade ao longo da difícil transição entre a vida e a morte….A linguagem
batismal de Paulo às comunidades Paulinas invariavelmente concebe partida ou
separação de um status prévio e incorporação e integração dentro de uma nova
condição: sepultados na morte/levantados em novidade de vida (Rom 6:4; Col 2:12),
despindo-se do corpo de carne ou rasgando-se do antigo eu/ revestindo-se com o novo
eu (Col. 2:11; 3:9-10; cf. II Cor 5:17), incircuncisos de sua carne/circuncisão de Cristo
(Col 2.11,13), antigo status – Judeu ou Grego, escravo ou livre, homem ou mulher/
novo status – unidade em Cristo (I Cor 12:12-13); e assim por diante… Os Corintianos
teriam considerado isto idealmente ajustado para assistir o membro falecido da
comunidade a deixar o mundo dos vivos e adentrar o mundo dos mortos.

A partir do ponto de vista da comunidade Cristã, batismo pelos mortos era uma
expressão de confiança de que a morte não representava nenhuma ameaça ao Cristão,
vivo ou falecido… . Esta compreensão e aplicação do batismo podem ter perturbado
Paulo, mas não pelas razões tipicamente oferecidas pelos intérpretes da prática. Por
causa de sua menção disto possa implicar tolerância ou aprovação, muitos tentaram
distanciar Paulo do batismo pelos mortos ou remover características concebidas como
ofensivas a isto. Alguns alegam que Paulo estava argüindo ad hominen ou ex concessu
em I Cor 15.29, de tal forma que nem aprovasse ou desaprovasse a prática a que estava
se referindo. Ainda que tivesse sido improvável a Paulo se abster de criticar uma
prática que ele pelo menos não tolerasse, especialmente quando ele prontamente
corrigia más aplicações ou maus entendimentos sobre batismo em outras partes (I Cor
1.10; 10.1-13)… Se batismo pelos mortos perturbava Paulo, teria de ser por outras
razões. Aqui está uma possibilidade: sua implícita tolerância ou aprovação disto pode
ser devido às mulheres das igrejas Corintianas… Rituais funerários na sociedade
Greco-Romana eram abundantemente concentrado nas mãos das mulheres então a
tolerância de Paulo do batismo pelos mortos teria acrescentado ao prestígio e
influência das mulheres Corintianas… Eruditos concordam que Paulo confiasse em e
respondesse a tradição batismal em Romanos 6.1-11, mas discordam sobre a
quantidade e caráter da tradição que incluísse ou modificasse… A maioria dos eruditos
acha que Paulo escreveu Romanos em Corinto… O que aumenta a probabilidade que a
fonte aí para a imagem de sepultamento em Romanos 6, ao invés de batismo vicário,
seja um ritual funerário dos Cristãos de Corinto. Inspirado por eles para conectar
batismo com sepultamento, Paulo parece explorar em Rom 6.1-11 o que ele implicou
em I Cor 15.19 [96] [ênfase acrescentada].

DeMaris 1999. DeMaris levanta um ponto de apoio que os Santos dos Últimos Dias
podem usar para explicar a evidente paucidade dos detalhes da liturgia e do ritual no
Livro de Mórmon (não somente no Novo Testamento).

Os trabalhos teológicos e literários do período do Segundo Testamento colocam


o ritual como algo periférico, não como o centro de suas obras… eruditos do Segundo
Testamento, como todos intérpretes da antiguidade, são obstruídos pela escassez de
fontes e quão pouco estas revelavam sobre a performance dos rituais…No caso de
batismo em favor dos mortos o que é mais distinto sobre isto é o objeto ou beneficiários
do batismo, os mortos, embora não saibamos como os falecidos eram envolvidos no
ritual. Atenção a rituais funerários ou de enterro é então de certa forma uma maneira
de nos providenciar um contexto ritualístico para esta versão de batismo… Podemos
focalizar nossa contextualização de batismo em favor dos mortos ao olhar por tipos de
funerais que exibam uma procuração de aspecto substitucionário, pois a maioria dos
eruditos toma o Grego de I Cor 15.29 como uma referência a batismos vicários
realizados por vivos para o benefício dos fisicamente mortos… O registro de Dio
Cassius sobre o funeral do imperador Severo encenado para um antigo imperador,
Pertinax (75.4.2-3) realizado sobre uma efígie de Pertinaz, com todos os rituais
devidos, porque a cerimônia havia sido realizada impropriamente por Juliano, que não
gostava de Pertinax.

A cerimônia foi também discutida por um outro historiador, Julius Capitolinus,


quem a chama de um ‘segundo, funeral imaginário [funus imaginarium: 15.1]… as
regras de um clube de enterro de Lanauvium, uma pequena cidade na Itália, datando
de cerca de 136 AC… escravos falecidos não eram permitidos pelos seus senhores a
realizarem cerimônias de enterro, então os membros realizavam ‘uma cerimônia
funeral simbólica [funus imaginarium].’ Os membros do Clube achavam que um ritual
vicário poderia efetivamente desobrigar as tarefas do clube para com membros
falecidos sob certas circunstâncias… Sêneca relata sobre um oficial civil de 90 anos de
idade que tem um funeral para si mesmo enquanto ainda está vivo [Ensaio sobre a
Brevidade da Vida]…Tácito, History 2.85-7, relata sobre um ‘funeral fictício’…’ Pelo
menos, a adaptabilidade de funerais para situações não-funerárias abre a porta para
descobrirmos batismos diferentes daqueles que se podíamos esperar na entrada da
comunidade Cristã. Além do mais, dois extraordinários tipos de funeral são dignos de
atenção por quão possam corresponder ao batismo pelos mortos: 1. Um rito alternativo
ou substituto vicário pelos mortos; 2. Funerais pelos vivos...Aqui, então, temos uma
linguagem usada para descrever o batismo pelos mortos que é paralela aos funerais
pelos vivos... batismo pelos mortos não aparece misteriosamente, pois em termos de
quem a realiza, ambos os rituais invertem a prática ordinária....Batismo pelos mortos
cai dentro da amplitude de variação ritualística no mundo Greco-Romano... . Batismo
pelos mortos continua a servir como um rito de iniciação, mas fora do cenário típico.
Nesta nova circunstância, onde os mortos ao invés dos vivos beneficiam-se desse ritual,
o iniciado movia-se não de um grupo externo para o interior de um grupo de cristãos,
mas exatamente o oposto, do interior para fora. Como um ritual de iniciação, o
batismo em favor dos mortos teria provavelmente apontado para o movimento do
membro falecido da comunidade para o mundo dos mortos... No caso de Corinto, se a
prática do batismo pelos mortos indica quão importante a ação ritualística era para os
mortos, outros rituais do movimento de Cristãos em Jerusalém confirmam a influência
e atração pelo funerário...Não é surpresa encontrar elementos funerários no discurso
batismal (Rom 6:3-4)...Uma vez que Paulo mais provavelmente compôs sua epístola
aos romanos em Corinto, muito tempo após lá morar, é possível que a tradição
batismal funerária em Romanos 6 veio dos Corintianos.[97]

Gordon D. Fee: Biblicistas estão em Perplexidade:

Ninguém sabe de fato o que está acontecendo. O melhor que se pode fazer em
termos particulares é apontar o que parecem ser as mais viáveis opções, todavia no
final admitir sua própria ignorância.[98]

Dale B. Martin: Tentativas de explicações longe do significado pleno e direto


somam-se a apelos especiais:

A menção de Paulo de que os Corintianos praticavam o ‘batismo pelos mortos’


e embora não esteja precisamente claro o que era esta prática, como sua eficácia tinha
efeito, ou mesmo quem exatamente em Corinto acreditava nisto, a prática em si parece
sugerir que os Corintianos acreditavam em algum tipo de vida após a morte para os
seus entes queridos falecidos. Um pedaço da evidência, embora pequena, era que
mesmo os Corintianos que rejeitavam a ressurreição do corpo entretinham uma crença
de algum tipo de existência após a morte...Os Corintianos parecem ter sido um pouco
mais informados. Alguns deles, pelo menos, são batizados ‘pelos mortos,’ implicando
que eles acreditavam em alguma espécie de vida pós morten para seus entes queridos –
mesmo talvez, aqueles que não eram batizados durante suas vidas... Se não há
ressurreição do corpo, então não há nada a esperar adiante apenas os problemas desta
vida, e a própria prática dos Corintianos de batismo pelos mortos é fútil...Paulo tão
firmemente assume que a identidade está construída sobre participação que ele pode
referir sem objeção à pratica do batismo pelos mortos. Conforme concedi acima, não
sabemos quem precisamente estava batizando pelos mortos ou suas intenções em isto
fazer. Alguns eruditos, ao indicarem que o próprio Paulo não advoga a prática, tenta
distanciar Paulo de seus próprios leitores. Mas suas tentativas de explicar de outra
forma esta bizarra crença – que ações realizadas com os corpos dos vivos pudessem
afetar os corpos dos mortos – são apenas apelos especiais. Paulo menciona a prática
como prova de um vida pós morten para o falecido, e seu argumento depende de certas
premissas: que o batismo de um corpo humano incorpora-o ao corpo de Cristo, desta
forma demonstrando a conexão entre o corpo Cristão e o Corpo de Cristo, por
conseguinte demonstrando a conexão entre o corpo de um indivíduo e os corpos de
seus entes queridos. A sensibilidade da lógica que subscreve o batismo pelos mortos é
totalmente consistente com a premissa de Paulo de que a identidade é estabelecida pela
participação em uma entidade maior.[99]

J. B. McLaughlin sobre a conexão entre a pregação de Jesus aos mortos e os vivos


sendo batizados pelos mortos.
Os apóstolos escreveram algumas coisas que para nós são misteriosas, embora
parecesse eles esperarem que seus leitores os entenderiam. São Pedro disse que Cristo
pregou àqueles espíritos que estavam em prisão, que haviam esperado pela paciência
de Deus nos dias de Noé. E por isto foi o evangelho pregado aos mortos, para que
pudessem se julgados verdadeiramente de acordo com os homens na carne, mas que
pudessem viver segundo Deus em espírito. [100] …E São Paulo disse que alguns eram
batizados pelos mortos [I Cor 15:29]. Embora não percebamos o significado total,
muito disto é claro – existiam almas dos mortos esperando para serem trazidas ao céu,
e que os Cristãos na terra estavam tentando ajudá-las. Nosso Senhor fala do mesmo
mistério: ‘Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os
mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão...todos os que estão
nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão’ [João 5:25, 28] [101]

Reaume sobre o cenário histórico da prática do batismo vicário:

Primeiro Coríntios 15.29 tem quebrado a cabeça de muitos estudantes da Bíblia


ao longo da história da igreja... . Mais de duzentas soluções interpretativas foram
propostas, mas apenas umas poucas permanecem como possibilidades legítimas… Esta
prática é também conhecida como batismo vicário, isto é, batismo substitucionário
pelos mortos... . Batismo Vicário foi praticado pelos Marcionitas, os seguidores de
Cerinto e é presentemente praticado pela Igreja Mórmon [sic]… Parece duvidoso que
Paulo tivesse escrito sobre tal prática tão contrária a sua teologia sem a
condenar.[102]

F. F. Bruce sobre o significado lingüístico pleno destas palavras, apesar dos


esforços dos Biblicistas em divagarem sobre elas:

O significado prima facie destas palavras aponta para a prática de batismo por
procuração. [103]

Goodspeed sobre o significado literal do termo. Dr. Edgar J. Goodspeed, o famoso


autor da “Tradução Americana” do Novo Testamento foi entrevistado em 1945 por Paul
R. Cheesman, e as notas dessa entrevista são citadas no Apêndice C de Anderson:

Entrevista entre Dr. Edgar J. Goodspeed e Paul R. Cheesman, ocorrida no


escritório do Dr. Goodspeed no campus da Universidade da Califórnia em Los Angeles
durante o verão de 1945.

Cheesman: Está a escritura traduzida em I Coríntios 15:29 traduzida corretamente


conforme encontrada na Tradução do Rei Tiago?

Goodspeed: Basicamente sim.

Cheesman: Você acredita que batismo pelos mortos foi praticado na época de Paulo?

Goodspeed: Definitivamente sim.

Cheesman: A igreja que você pertence pratica isto hoje?

Goodspeed: Não.
Cheesman: Você acha que ela deveria ser praticada hoje?

Goodspeed: Esta é a razão porque não a praticamos hoje. Não o sabemos


suficientemente sobre isto. Se o soubéssemos, nós o praticaríamos.

Cheesman: Posso citá-lo como resultado desta entrevista?

Goodspeed: Sim.[104]

Conforme foi mostrado, Santos dos Últimos Dias não consideram I Cor 15:29
isoladamente, mas o conectam com a pregação aos mortos referenciada em I Pedro
3:19-21 e I Pedro 4:6. Na primeira escritura o tipo de batismo universal é estabelecido
(por referência ao dilúvio universal por água), e em I Pedro 4:6 o fato é também
estabelecido que isto é também conectado à salvação universal. Muitos eruditos
Bíblicos têm tantas dificuldades com estes versículos como têm com I Cor 15;29 pois
eles se encontram tão fora de lugar (em suas teologias), mas de fato eles se adequam
perfeitamente bem dentro dos escritos apocalípticos sobre a era do Segundo Templo (I
Enoque tem uma referência similar, por exemplo no capítulo 22 [105], onde o Sheol é
descrito como sendo dividido em 3 partes, onde os espíritos dos mortos esperam a
ressurreição final e julgamento). De fato, a própria existência de tais escritos no cânon
demonstra que não se pode ser considerar um cânon completo baseado em consistências
internas precisamente por causa de tais “hapaxes doutrinários”.[106]

Reicke sobre o tema da salvação universal pregada em I Pedro 4:6:

Além do mais, versículo 5, estes injuriadores estão prestes a entregarem um


relato àquele que está pronto para julgar tanto vivos como mortos. Se o juiz é Deus ou
Cristo não está declarado. Por “vivos e mortos” indubitavelmente significa todas as
pessoas que já viveram, ou que ainda estarão vivendo quando o julgamento chegar.
Que o julgamento é iminente, versículo 6, é também evidente pelo fato que o evangelho
já foi pregado aos mortos. Exatamente como isto se sucedeu não está declarado. É
possível imaginar a descida de Cristo às regiões inferiores após seu enterro como o
período para esta pregação do evangelho, mas informação explícita não é dada. Uma
certa relação com I Pedro 3:19 e para a pregação de Cristo aos espíritos em prisão
também pode ser assumida, embora os espíritos em prisão não sejam igualados com
todos os mortos. Por outro lado estas pessoas estão todas realmente mortas, conforme
é evidente a partir da expressão análoga no versículo 5. Sobre eles é acrescentado no
versículo 6 de que receberam a mensagem sobre Cristo a fim de serem julgados na
carne e vivificados no espírito. Ninguém escapará do julgamento, o qual acontece
“segundo os homens”, isto é, pertencem à própria natureza humana que é pecaminosa.
Mesmo para os mortos haverá um julgamento na carne através da ressurreição do
corpo. E o resultado para cada indivíduo dependerá de seu relacionamento com Cristo.
Através disto todos deverão ouvir a mensagem de salvação através de Cristo, os mortos
assim como os vivos. O julgamento, entretanto, não é a última coisa, mas um pré-
requisito necessário à vida eterna, que significa concordância com natureza de Deus e
abrange uma eterna companhia com sua vida. Assim como é recebida através do
espírito de Deus, isto significa vida em espírito. Através desta passagem as
preocupações do autor são a universalidade do julgamento final... .[107]
Brown sobre a natureza salvífica universal da pregação aos mortos. De Raymond E.
Brown, considerado o mais proeminente erudito do Novo Testamento da Segunda
metade do século 20: [notas de rodapé incorporadas ao corpo do texto em fontes itálicas
menores]

I Pedro 3:19; 4:6 e a Descida de Cristo ao Inferno.

Dois textos em I Pedro são importantes para esta questão:

3:18-20: (Cristo mortificado na carne e vivificado no Espírito) “no qual


também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes,
quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé”, [Isto freqüentemente é
pensado como sendo parte de um hino batismal ou confissão comparável ao hino em I
Tim 3:16: “Manifestado na carne, justificado em espírito, visto pelos anjos”. A última
cláusula aqui é interessante dada a segunda interpretação de I Pedro 3:18-20
explicada acima]

4:6: "Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na
verdade, fossem julgados segundo os homens na carne [literalmente, 'de acordo com os
homens'], mas vivessem segundo Deus em espírito. ['de acordo com Deus']”.

Um número de vagos textos do Novo Testamento indicam que Cristo,


presumidamente após sua morte, desceu às partes inferiores da terra (Romanos 10:7;
Efésios 4:9), para que tomasse de debaixo os santos falecidos (Mateus 27:52, Efésios
4:8), e que ele triunfou sobre os poderes angélicos malignos (Filipenses 2:10;
Colossenses 2;15). Entre os apócrifos do 2o século temos na Ascensão de Isaías (9:16;
10:14; 11:23) Cristo repreendendo o anjo da morte antes de se levantar dos mortos e
ascender aos céus, após o que, os anjos e Satanás o adoraram. Nas Odes de Salomão
17:9; 42:15 temos Cristo abrindo as portas que estavam fechadas e aqueles que
estavam mortos correndo em sua direção. Melito de Sardis (Na Oasch 102) tem uma
frase de Cristo dizendo: “Eu sou aquele que venceu o inferno, amarrei aquele que é
poderoso, e concedi liberdade para que as pessoas pudessem ascender aos céus”. Mais
tarde o Evangelho de Nicodemos tem toda uma narrativa da descida de Cristo ao
inferno a fim de livrar os santos do Velho Testamento – a fonte de origem das lendas da
"Angústia do Inferno". Do 4o ao 6o século um artigo aparecia nos Credos Apostólicos:
“Ele desceu ao Hades”. A cláusula é uma curiosidade no sentido que a antiga igreja
nunca decidiu o propósito exato daquela jornada. Na verdade, algumas igrejas
modernas apagaram a cláusula como sendo insignificante para a fé contemporânea.
Esta é uma reação exagerada, pois certamente é uma forma de expressar
figurativamente que a morte de Cristo afetou aqueles que haviam partido antes. Mas de
que forma? Referem-se os dois textos de I Pedro à mesma pregação? E qual é a relação
entre os textos de I Pedro e a cláusula do Credo? Estas são questões que agora
buscamos respostas. Que durante o tridum mortis (três dias [ou parte deles], do
crepúsculo de Sexta até a manhã de domingo, durante o período que seu corpo esteve
no túmulo [Apesar da parábola em Mateus 12:40, as narrativas do Evangelho não
falam que o corpo de Jesus esteve na sepultura três dias, mas apenas que foi colocado
na tumba na Sexta-Feira antes do pôr-do-sol e não estava mais lá domingo pela
manhã. A Partir do ponto de vista de Deus não haveria nenhuma imensão de tempo
desde a sua morte até a ressurreição. Conseqüentemente a este respeito sobre o que
estava acontecendo com Jesus entre a morte e ressurreição é um pseudoproblema: de
acordo com a fé Cristã ele estava com Deus (nota: contradizendo João 20:17), pois
como acreditam boa parte dos Cristãos aqueles que morrem no amor de Deus estão
com Deus entre sua morte e ressurreição.), a descida de Cristo ao lugar dos mortos
está aberta a duas interpretações principais interligadas com a interpretação dos textos
em I Pedro.

Brown aponta que a duas tradicionais interpretações sobre estas passagens –


salvífica e a condenatória – todavia aquela de um requerimento universal para a
salvação é a mais antiga das duas:

(1) Para propósitos salvíficos. Esta é a mais antiga interpretação, datando pelo menos
do começo do Segundo século. No Evangelho de Pedro 10:41, quando Cristo é trazido
de sua tumba por dois imensos anjos seguidos pela cruz, uma voz dos céus pergunta,
“Proclamastes àqueles que estão falecidos?” A cruz faz obediência em responder,
“Sim”. O contexto sugere que a pregação seria benéfica, tal como claramente afirmado
por Justino, Diálogo 72, escrito cerca 160. Clemente de Alexandria (cerca 200) oferece
a primeira e atestada interpretação de I Pedro 3:19 nessa linha, uma visão atrativa a
Orígenes que sustentava que o inferno não fosse eterno. Uma modificação de
abordagem a fim de evitar essa implicativa sobre o Hades sustenta que Cristo foi para
o limbo a fim de anunciar aos santos falecidos que os céus não estavam abertos para
eles e/ou oferecer aos pecadores uma segunda chance se aceitassem a proclamação.
[Uma posterior modificação, proposta hesitantemente por Agostinho, toma lugar da
interpretação de Orígines no Ocidente: A proclamação salvífica de Cristo aos
desobedientes contemporâneos de Noé não aconteceu após suas mortes mas durante
suas vidas no período do Velho Testamento. Isto reflete uma idéia, declarada em outros
lugares no Novo Testamento, que Cristo esteve ativo durante o período do Velho
Testamento, como um tipo de pré-existência mortal (BINTC 133-34)][108]

Apenas coincidentemente, a ultima nota de rodapé refere-se a bem comum e


sustentada crença SUD de que Cristo era o Jeová do Velho Testamento (todavia mais
uma vez, devo lembrar ao leitor biblicista, isto não tem a intenção de ser um texto-
prova; por isso minha condicional “apenas coincidentemente…”)

O Selo como um fio Literário

Nós passamos por muitas citações de referências pseudoepigráficas, apócrifas,


Bíblicas e Patrísticas a fim de demonstrar a ubiqüidade de tanto um reino bipartido entre
a morte e o julgamento/ressurreição de um lado, e o extraordinário cuidado que os vivos
demonstravam pelos seus mortos – precisamente o oposto que Holding alega fosse o
ambiente contemporâneo daquela época. Temos ainda um interessante argumento
literário adicional a acrescentar nesta série, o qual é o símbolo metonímico do
“SFRAGIS”, ou selo (como em um anel de selo), uma metonímia [109] para o selo
colocado na testa dos justos (cf. Apocalipse 7:2-4; em Apocalipse 9 uma praga de
locustas é ordenada para destruir apenas aqueles que não tivessem este selo).
Simbologia apocalíptica é sempre assediada por suposições, mas acontece que as
referências a selos todas têm alguma coisa em comum.[110]

Seguindo a própria sugestão de Holding de olhar nas fontes extra-Bíblicas (no


seu caso, na retórica Greco-Romana), há uma interessante “trajetória”de citações das
obras pseudoepigráficas que estão todas conectadas pela idéia do selo sagrado sendo
concedido ao iniciado. A bem antiga pseudoepígrafe Cristã, As Odes de Salomão (fim
do primeiro – começo do segundo século AD, um livro que circulava entre a
comunidade de João em Éfeso, segundo Charlesworth), diz, na 24a Ode:

“O Sheol ao me ver se estremeceu, e a Morte expeliu a mim e a muitos comigo”


(24:11; uma referência da pregação às almas no mundo vindouro); “E aqueles que
morreram correram em minha direção; e clamaram dizendo, ‘Filho de Deus, tem
piedade de nós e trata conosco de acordo com tua bondade e resgata-nos das cadeias
das trevas e abre para nós a porta pela qual podemos-nos ir ao teu encontro, pois
percebemos que nossa morte não nos aproxima de ti. Que possamos também ser salvos
contigo, porquanto tu és nosso Salvador.’ Então ouvi a voz deles, e coloquei a fé deles
em meu coração. E coloquei meu nome sobre suas cabeças, pois são eles agora livres e
são meus.” (24:15-20; ênfase acrescentada) [111]

Encontramos a mesma ligação entre a pregação aos mortos e o recebimento de


um selo no Apócrifo de João, uma obra Gnóstica do começo do 2o século:

“E adentrei o reino das trevas e lá permaneci até que entrei no meio da prisão. E os
alicerces do caos estremeceram. E escondi-me deles por causa de suas iniqüidades, e
eles não me reconheceram... Ainda por uma terceira vez eu... para que pudesse entrar
no meio das trevas e nos interiores do Hades. E enchi minha face com a luz das
complexões de seu aeon. E entrei no meio de sua prisão, que é a prisão do corpo. E
disse, ‘Aquele que me ouve, que possa se levantar do seu sono profundo.’ E ele ouviu e
derramou lágrimas. Lágrimas amargas ele enxugou dos seu olhos e disse, ‘Quem é que
chama pelo meu nome, e de onde vem esta esperança para mim enquanto estou nas
cadeias da prisão?’ E eu disse, ‘Eu sou a Pronóia da pura luz; sou o pensamento do
Espírito Virginal, quem o levantou até o lugar honrado. Levanta e lembra que és tu
quem ouviu, e segue tua raiz que sou eu, o misericordioso, e guarda-te contra os anjos
da pobreza e dos demônios do caos e de todos aqueles que te enganaram, e cuidado
com o sono profundo e a clausura dos interiores do Hades. “E o levantei e o selei na
luz da água com cinco selos, a fim de que a morte não tivesse poder sobre ele daquele
dia em diante”. (ênfase acrescentada) [112]

E do autoritativo Pastor de Hermas, uma obra do meio do 2o século aceita por


um grande números dos Patriarcas da Igreja:

“e ele pôs um selo sobre eles. E todos aqueles que entraram na torre tinham as
mesmas vestimentas, brancas como a neve. E aqueles que haviam desistido de suas
barras [rods] verdes quando (os)as receberam, ele os enviou além, dando-lhes uma
túnica [branca] e selos. Eu então lhe disse; ‘Senhor, informa a mim o que significa esta
árvore. Pois estou perplexo e nada parece ter sido dela cortado; por isto estou
perplexo.’ ‘Ouve,’ disse ele; esta grande árvore cuja sombra cobre planícies e
montanhas e toda a terra é a lei de Deus que foi dada a todo o mundo; e esta lei é o
Filho de Deus pregado até os confins da terra. Todavia o povo que está debaixo da
sombra são aqueles que ouviram a pregação,’ e acreditaram Nele; mas o grande e
glorioso anjo é Miguel, que tem o poder sobre este povo e é seu capitão. Por isto é ele
quem coloca a lei dentro do coração dos crentes; portanto ele próprio inspeciona
aqueles a quem ele concedeu, a fim de ver se eles a observaram. Mas tu vês as barras
de todas as pessoas, pois as barras são a lei”. [113]
Richard Anderson notou também esta conexão, particularmente com o
batismo, comentando:

Hermas…é uma fonte de doutrinas e práticas comuns da Igreja Cristã. E ele


solda a pregação aos mortos com o batismo pelos mortos. Estas doutrinas aparecem na
alegoria da construção da torre, a qual o anjo define como sendo a Igreja. As três
camadas mais baixas de pedras representam o alicerce das gerações dos homens justos
do Antigo Testamento, com o último e maior número de quarenta representando os
“profetas e mestres da pregação do Filho de Deus.” Estes possuíam o selo, claramente
definido como batismo pela (1) requisição “que se venha através da água para que
possa ser feito vivo”; (2) citação de João 3:5, referindo a água como o caminho para
se “entrar no reino de Deus”; e (3) o resumo, “o selo, então, é a água.” (ênfase
acrescentada). [114]

Para Santos dos Últimos-Dias modernos, as referências à barra da lei


(convênios), o selo, e a túnica branca e a torre, são todas muito familiares – e como
fonte unicamente humana, Joseph Smith simplesmente não teve acesso a nada disto.
Finalmente, do tão proeminente Clemente de Alexandria (início do 3o século AD):

"Vem tu também! Oh, homem avançado em idade, deixai Tebas, e lançai de ti tanto
a adivinhação e o frenesi Bacanal, permita-te ser guiado à verdade. Dou-te o cajado
[da cruz] sobre o qual inclinarás. Haste, Tirésias; crede, e verás. Cristo, por quem os
olhos dos cegos recuperam a visão, derramará sobre ti uma luz mais brilhante que o
sol; a noite de ti fugirá, o fogo temerá a ti e a morte irá embora; tu, velho homem, que
não viste Tebas, verás os céus. Oh verdadeiros e sagrados mistérios! Oh luz imaculada!
Meu caminho é alumiado por tochas, e pesquisei os céus e Deus; tornei-me santo
enquanto fui iniciado. O Senhor é o hierofante, e sela enquanto ilumina aquele que é
iniciado, e apresenta ao Pai aquele que crê, a fim de ser resguardado para todo o
sempre. Tais são os devaneios dos meus mistérios. Se for teu desejo, sê tu também
iniciado; e tu juntar-te-á ao coral de anjos ao redor do incriado e indestrutível e
verdadeiramente único Deus, oh Verbo de Deus, cantai o hino conosco Este Jesus,
quem é eterno, aquele que é o Sumo Sacerdote do Deus Único, e de Seu Pai, que ora
pelos homens e exorta a todos eles.(ênfase acrescentada)" [115]

Novamente, vemos a conexão entre a iniciação em ritos sagrados (e acreditamos


que o batismo vicário seja um deles) e Deus selando seus ungidos, referências feitas em
Apocalipse, mas expandidas sobre as obras pseudo epigráficas as quais eram usadas
pelos antigos Patriarcas Cristãos – ainda de novo um conceito que era totalmente
estranho ao contexto histórico-social de Joseph Smith. Entretanto, não são apenas os
Santos dos Últimos Dias que vêem esta conexão. O bem conhecido erudito Católico
Jean Danielou [116] tece uma interessante quadro a partir deste ponto. Em seguida
veremos uma seleção de citações de seu livro, A Bíblia e a Liturgia:

O Sphragis… ‘As cerimônias de Batismo incluíam um ritual que até agora não
discutimos, por causa de sua particular importância merece um estudo especial: este é
o ritual do sphragis, isto quer dizer, a imposição do sinal da cruz na testa do candidato
a batismo.’ [117] Este ritual é uma tradição muito antiga; São Basílio a cita com a
oração ad orietem, como estando entre as tradições não escritas que vieram desde a
época dos Apóstolos: ‘que nos ensinou a marcar com o sinal da Cruz aqueles que
puseram sua esperança no nome do Senhor.’ [118] A posição deste ritual tem variado:
Algumas vezes o encontramos unidos com o processo no começo do catecumenato,
como é o caso na obra de pseudo-Dionísio (i.e. Dionísio, o Areopagita (396 A – 400 D).
Teodoro de Mopsuéstia o coloca entre a renúncia de Satanás e o Batismo (XII. 17-8).
Mais comumente, parece que foi concedido após o Batismo, e isto é o que encontramos
em Cirilo de Jerusalém e Ambrósio. Para eles, isto está associado com a unção do
crisma, e está em conexão com este ritual que é mencionado. Além do mais, pode ter
sido repetido ao longo do curso de processo da iniciação, como é no presente Ritual
para o Batismo de Adultos. A importância do ritual aparece do fato que ela
freqüentemente serve para denotar Batismo como um todo, isto freqüentemente
chamado como o sphragis. [119] Encontramos isto em várias listas de nomes para
Batismos dadas pelos Patriarcas: por exemplo, Cirilo de Jerusalém diz, ‘quão grande é
o Batismo; ele é a redenção dos prisioneiros, a remissão dos pecados, a morte do
culpado, o renascimento da alma, o garment de luz, o selo santo e inerradicável
(sphragis), o veículo para nos carregar até os céus, os prazeres do Paraíso, a petição
pelo Reino, a graça da adoção’.[120]

Gregório de Nazianzus nos dá uma lista similar: ‘Batismo é a participação no


Logos, a destruição do pecado, o veículo para no levar até Deus, a chave do reino dos
céus, a túnica da incorruptibilidade, o banho do renascimento, o selo sphragis’. [121] A
palavra sphragis foi a palavra para o selo usado na impressão de uma marca de cera.
Estes selos freqüentemente tinham pedras preciosas colocadas na moldura (“BEZEL”?)
ou num lugar que as carregasse. Então, Clemente de Alexandria recomenda que os
Cristãos deveriam ter como selos (sphragides) uma pomba ou um peixe ou um navio
com as velas hasteadas, mas não figuras mitológicas ou espadas. [122] Estes selos eram
usados especialmente para selar documentos oficiais e testamentos. Desta forma, São
Paulo usa o símbolo quando diz aos Corintianos que eles ‘são o selo de seu apostolado
no Senhor’ (I Cor 9:2), isto quer dizer, que eles são o autêntico sinal de seu apostolado.
[123] Todavia, mais particularmente – e aqui chegamos ao simbolismo batismal – a
palavra sphragis foi usada para a marca com que um proprietário registrava suas
possessões. Utilizada neste sentido, a palavra sphragis tinha muitas aplicações as quais
são aqui de particular interesse para nós; a sphragis era a marca com que os pastores
marcavam os animais de seus rebanhos a fim de distinguí-los; ainda também, isto era o
costume no exército Romano, marcar recrutas como um sinal de seus alistamentos; esta
marca era chamada o sinaculum e consistia de uma tatuagem feita na mão ou no
antebraço a qual representava uma abreviação do nome do general.[124] Estes vários
significados vieram a ser usados pelos Pais da Igreja para conceder diferentes ênfases ao
sphragis do batismo. O sinal da Cruz com o quê o candidato para Batismo era marcado
em sua testa demonstra que dali em diante ele pertencia a Cristo. E isto poderia
significar que ele pertencia tanto ao rebanho ou exército de Cristo.

Cirilo de Jerusalém diz aos candidatos: ‘Achegai-vos e recebei o selo


sacramental (sphragis místico) de tal forma que você possa ser reconhecido pelo Mestre.
Sede vós enumerados entre o rebanho santo e reconhecido de Cristo, de tal forma que
possais vós ser colocados à Sua mão direita.’[125] Gregório de Nyssa escreve:
‘Apressai-vos, oh cordeiros, em direção ao sinal da Cruz e ao sphragis o qual salvar-
vos-á de vossas misérias.’ [126] Da mesma maneira, Teodoro de Mopsuéstia diz: ‘este
sinal com que sois agora marcados, é o sinal de que a partir de agora sois marcados
como uma ovelha de Cristo. Pois uma ovelha, tão logo é comprada, recebe a marca pela
qual seu proprietário possa ser conhecido; e também ela pasta nas mesmas paragens e
está no mesmo rebanho que as outras ovelhas que portam a mesma marca,
demonstrando que pertencem ao mesmo mestre. [127] Notemos que este é o aspecto
que o Pseudo-Dionísio em Antioquia também enfatiza: ‘pelo sinal... o catecúmeno é
recebido dentro da comunhão daqueles que têm por mérito a deificação e quem
constituem a assembléia dos santos.’[128]

Mas o sphragis não só apenas é um sinal de possessão, é também uma proteção.


Gregório de Nazianzus une as duas idéias. O sphragis é uma ‘garantia de preservação e
um sinal de possessão’ [129] Ele desenvolve esta idéia de forma mais extensiva: ‘Se vos
fortificardes com a sphragis, marcando vossas almas e vosso corpo com a unção de
óleo [crisma] e com o Espírito, o que pode acontecer a vós? Isto é, mesmo nesta vida, a
mais alta segurança que podeis ter. As ovelhas que foram marcadas (ephragismeron)
não são simplesmente apanhadas por um truque, mas a ovelha que não porta marca
alguma é presa fácil para os ladrões. E após esta vida, podeis morrer em paz, sem
temor de sedes privados por Deus do auxílio que Ele vos possa dar à vossa
salvação.’[130] A sphragis, a marca que permite o Mestre reconhecer os seus, é também
uma súplica de salvação.

Dídimos o Cego usa a mesma linguagem: ‘Em muitas coisas, mas acima de tudo
no que concerne o Santo Batismo, a escritura parece mencionar, por causa de Sua
identidade da essência da ação com o Pai e o Filho, apenas o Santo Espírito e Sua
marca salvífica com a qual fomos selados, sendo restaurados ao nosso primeiro
semblante. Pois a ovelha que não é marcada (asphragiston) é uma presa fácil para os
lobos, não tendo o auxílio do sphragis e não sendo reconhecida como as outras demais
pelo Bom Pastor, uma vez que não conhece o Pastor Universal.’[131] O sphragis
imprime na alma a imagem, a semelhança de Deus, conforme o que o homem foi criado
desde o começo.[132]

E Gregório de Nice em seu ‘De baptismo’, no qual ele urge os procrastinadores


a se batizarem, dizendo ‘A alma que não foi iluminada e adorada com a graça do
renascimento – Eu não sei se os anjos a recebem após a separação do corpo. E na
verdade, como poderiam isto assim o fazer uma vez que não possuem marca
(asphragiston) e não carregam com ela o sinal de quem é seu proprietário? Na verdade
é carregada pelo ar, vagando errante e sem descanso, sem que ninguém a procure, uma
vez que não tem dono. Ela procura repouso e não o encontra, chorando em vão, e
inultimente arrependida.’[133] {Nota do Tradutor: cf. com Alma 34:35} O sphragis não
é apenas uma marca daqueles que pertencem ao rebanho de Cristo, é também um sinal
de nosso alistamento em Seu exército. Aqui passamos para um diferente tema. Cristo
não é somente o Pastor. Ele é também o Rei que chama os homens a se unirem em Suas
forças. Ao dar-lhes nomes, no começo das cerimônias de Batismo, os candidatos
responderam este chamado e se alistaram. Cirilo de Jerusalém escreve, 'a inscrição de
seu nome tomou lugar, e o chamado para entrar em campanha.' [134] [Aqui
especificamente o ritual das ordenanças vicárias está amarrado juntamente com o
erguimento do Reino, um pré-requisito para a entrada no Reino Celestial – M.S.].

Teodoro de Mopsuéstia conecta este simbolismo com aquele do rebanho, ‘este


sinal, com o qual estais agora marcados, é o sinal de que agora estais marcados como
ovelhas de Cristo, como soldados do Reino dos céus... O soldado escolhido para o
serviço, achando-se digno, por causa de seu físico e saúde, primeiramente recebe em
sua mão uma marca mostrando a qual rei ele daquele momento em diante serve; da
mesma forma vós agora, fostes escolhidos para o reino dos céus, e podereis ser
reconhecidos, quando qualquer um vos examinar, como um soldado do reino dos céus.’
[135] [Isto, também tem um significado especial para os Santos dos Últimos Dias, os
quais têm um meio por onde podem ser reconhecidos por Cristo como alguém que já
passou pela crisma, ou o que agora chamamos os ‘lavamentos e unções’ no templo –
M.S.]

Cirilo de Jerusalém define o significado deste engajamento: ‘tal como aqueles


que estão prestes a saírem em campanha examinam a idade e saúde de seus recrutas,
assim faz o Senhor, a medida que Ele alista suas almas, examina os seus desejos. Se
qualquer um retém alguma hipocrisia oculta, Ele o rejeita como inadequado para o
combate espiritual; se Ele o encontra digno, imediatamente Ele o confia para Sua
graça. Ele não dá coisas sagradas aos cães, mas tão logo vê Ele uma consciência justa,
ele imprime seu maravilhoso e salvífico sphragis o qual é temido pelos demônios e
reconhecido pelos anjos, tanto que aqueles fogem e esses últimos o acompanham como
um amigo. Aqueles então que recebem este sphragis salvífico devem ter uma vontade
que se coadune com isto.’[136] O caráter militar do sphragis é ainda mais aparente em
uma outra catequese (de Cirilo de Jerusalém): ‘cada um de nós vem para se apresentar
diante de Deus na presença de inumeráveis exércitos de anjos. O Santo Espírito marca
vossas almas. Vós ides a fim de alistar-se (stratologeisthai) no exército do grande
rei.’[137] De igual maneira lemos em São João Crisóstomo: ‘como o sphragis é
impresso nos soldados, assim também é o Santo Espírito impresso sobre aqueles que
crêem.’[138] Encontramos este simbolismo novamente em outra passagem de Cirilo de
Jerusalém, mas aplicada desta vez não ao caráter sacramental, mas ao sinal da Cruz
colocado na testa: ‘após minha batalha sobre a cruz, dei a cada um de meus soldados o
direito de usar em suas testas a sphragis real.’[139]

Devemos notar de passagem que esta idéia do Batismo como um alistamento no


serviço de Cristo, sancionado pela sphragis que é o selo da aceitação de cristo, é um
tema familiar à Antigüidade Cristã. Foi tratado por Harnack em Militia Christi, por
Doelger em Sacramentum Militae (Ant und Ch, II.4). O alistamento inclui a imposição
do sphragis, posto o nome nos registros, e um juramento; então era fácil comentar sobre
as cerimônias de Batismo com a ajuda destas imagens. Sabemos particularmente que
nos autores Latinos, e especialmente Tertuliano, a palavra sacramentum é usada em
direta conexão com o juramento militar, trazendo ao Batismo o aspecto de um
alistamento militar no serviço de Cristo. Além do mais este vocabulário militar vem
desde São Paulo, quem fala da armadura do Cristão e de suas batalhas. A comparação
do novo Cristão a um jovem recruta é especialmente comum; desta forma São Gregório
de Nazianzus escreve: ‘aquele que apenas recentemente recebeu o banho da
regeneração é como um jovem soldado que acaba de ter lugar entre os atletas, todavia
ainda não provou seu valor como um soldado.’[140]

Batismo era para ser considerado a partir de um contexto externo…

Notamos no decurso das páginas precedentes que um dos pontos mais


freqüentemente trazidos pelos Patriarcas da Igreja concernente ao sphragis é que isto faz
com que o Cristão seja temido pelos demônios. Somos mais uma vez trazidos de volta a
este aspecto central do Batismo e da vida Cristã em geral entre os primeiros Cristãos. A
imposição da Cruz no Batismo é uma fase da luta contra os demônios que, conforme
temos visto, Batismo era considerado pertencer a partir de todo um contexto externo...
Através do batismo (o demônio) fora conquistado, marcado com o sinal da Cruz, o
recém batizado não mais pertencia a ele, de agora em diante o Cristão precisava apenas
fazer este sinal a fim de repelir os ataques do demônio e expulsá-lo.[141]

Isto noz traz a um novo aspecto do simbolismo do sphragia. Mencionamos que


para o discurso comum a palavra foi usada para a marca deixada tanto com os soldados
como com as ovelhas, mas ainda não mencionamos um terceiro uso, aquela marca dos
salvos... . Santo Ambrósio escreve: ‘salvos são marcados com o sinal de seu mestre
[142]; chamamos esta marca sphragis ou estigma, e sua impressão estigmatização... .
Prudêncio relata que, para a consagração de um devoto no culto de Dionísio, agulhas
vermelhas pelo fogo eram usadas para fazer o sphragis [143] Heródoto fala de um
sacerdote de Herácles quem, tendo se consagrado a seu deus, sustentava os estigmas, as
marcas sagradas, de tal forma que ninguém era permitido por nele as mãos [144]. Isto
traz um pouco de luz sobre a passagem de Gálatas 6:17 ‘Daqui em diante ninguém me
moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.’ O costume de tatuar o
corpo estava em uso entre os Cristãos: ‘muitos se tatuavam na mão e no braço com o
nome de Jesus ou com a cruz [145].

Mas a fim de interpretar este aspecto do sphragis, não precisamos procurar por
analogias no mundo Grego. Pois a imposição de uma marca por Deus tornando o
indivíduo inviolável é encontrada na Bíblia. O primeiro exemplo é aquele de Caim, a
quem Deus o marcou com um sinal de tal forma que ninguém pudesse matá-lo (Gen
4.15). Este sinal é um de proteção; é a declaração de proteção divina do homem
pecador. Em Ezequiel, lemos que os membros da futura Israel carregam o sinal de Deus
em suas testas (9.4). Aqui, então, temos a tipologia primária do sphragis. E é digno de
nota que este sinal é um “T” para o Novo Testamento também, no Apocalipse, mostra os
santos marcados com o sinal do Cordeiro (Apoc. 7.4) e este sinal é provavelmente
aquele da Cruz, isto é, um “T” [está se referindo especificamente à letra grega
maiúscula ‘Tau’, freqüentemente chamada de “Cruz Grega” – M.S.]. Seja isto como for,
vemos o significado que foi dado ao sphragis batismal ao longo destas linhas: isto
marcava o caráter da inviolabilidade do Cristão. E isto está diretamente conectado ao
próprio sinal da Cruz. Pois foi pela Sua Cruz que Cristo espoliou as principalidades e os
poderes. Daí por diante eles foram conquistados. E pelo Batismo o cristão compartilha
esta vitória de Cristo. Desta maneira as forças do mal não têm poder sobre ele.

Isto é porque ele precisa apenas marcar-se com o sinal da Cruz a fim de lembrar
estas forças de sua derrota e colocá-las para fugir. Isto é verdadeiro sobre tudo do rito
batismal em si, conforme Cirilo de Jerusalém explica: ‘a invocação da graça, marcando
sua alma com este selo (sphragis) permite que vós não sejais engolidos pelo demônio.’
[146] Cirilo de Jerusalém escreve: ‘o sacerdote te marcou na testa com o sphragis para
que tu possas receber a impressão dos selos, para que tu possas ser consagrado a Deus.
[147] E mais adiante [Cirilo ainda escreve]: ‘o Senhor não dá coisas santas aos cães,
todavia quando Ele vê uma consciência justa, Ele imprime nela Seu santo e maravilhoso
sphragis para que os demônios temam.’ [148] Mas falando do sphragis, Cirilo não quer
dizer somente a imposição do sinal da Cruz no Batismo, mas também do costume
Cristão de marcarem-se com a Cruz em suas testas em todas as circunstâncias da vida:
‘não nos envergonhemos da Cruz de Cristo, mas mesmo se alguém mais concilie isto,
carregai a marca publicamente em vossas testas [sphragizou] de tal forma que os
demônios, ao verem o sinal real, tremerão e por-se-ão a fugir para bem longe. Fazei este
sinal [semeion] quando comeres e quando beberes, quando vos sentares, quando fores
para o leito, quando levantares, quando falares – em uma palavra, em todas as
ocasiões.[149] Mais adiante, {Cirilo} retoma a idéia: ‘Não nos envergonhemos de
confessar o Crucificado. Façamos o sinal da Cruz [sphragis tou stauro] com segurança
em nossas testas com nossos dedos, e desta maneira em todas as circunstâncias: quando
comermos e quando bebermos...entrarmos...sairmos, antes de dormir.... Aqui está uma
grande proteção que é de graça para o pobre e fácil para o fraco; uma vez que a graça
vem de Deus. É um sinal para os fiéis e um terror para os demônios. Na cruz, Ele
triunfou sobre eles; e desta forma, quando eles o vêem, eles se lembram do Crucificado;
eles temem Aquele Quem esmagou as cabeças dos demônios’[150].

Antônio dá a eles mais atenção do que ele deu aos demônios, vem para porta e
faz-lhe a promessa para irem embora: ‘marcai-vos’ [sphragizate heautousi], disse ele, ‘e
ide em segurança.’ E então iam embora, fortificados com o sinal [semeion] da
Cruz.[151]

Os vários significados do sphragis que estamos estudando até agora têm sido
majoritariamente conectados com o uso da palavra no mundo Grego. Mas um último
teste de São Cirilo nos coloca em um uma outra linha de descoberta, apontando para um
novo simbolismo e inquestionavelmente nos colocando no caminho do verdadeiro
significado deste ritual. ‘Após a fé nós, como Abraão, recebemos os sphragis
espirituais, sendo circuncidados no Batismo pelo Espírito Santo.’ [152]

São Paulo freqüentemente alude aos sphragis. Por exemplo, na Epístola aos
Efésios 1.13, Romanos 4.11... O uso da palavra sphragis para descrever circuncisão é
freqüentemente encontrado em outras situações. Nós não a encontramos na Septuaginta;
São Paulo é o primeiro a empregá-la [Romanos 4.11]. Mas após seu exemplo, os
Patriarcas a usam freqüentemente. Para citar apenas um exemplo, Eusébio de Cesárea
escreve ‘Abraão, quando era um homem avançado em idade, foi o primeiro a submeter-
se a circuncisão de seu corpo, como um tipo de selo [sphragis], passando este sinal
àqueles que deveriam dele ter nascido como uma marca de sua filiação a sua raça’ [153]
Mas a circuncisão era apenas uma figura; o verdadeiro sphragis é aquele do Novo
Convênio. Isto é sugerido por São Paulo em [Gálatas 6.14-17]... .Talvez há nestes
estigmatas uma alusão às marcas dos sacerdotes pagãos. Mas o texto inteiro nos leva a
uma diferente conclusão: quando São Paulo considera ser o sinal de sua dignidade, o
que o torna uma pessoa consagrada, não mais é a circuncisão, é a Cruz de Cristo. E ele
carrega em seu corpo as marcas de sua Cruz. Ele recebeu estas marcas pela primeira vez
quando se tornou uma nova criatura, quer dizer, no Batismo.

"Este mesmo contexto batismal parece estar por trás de um texto do Pseudo-
Barnabé: ‘vós podereis dizer, talvez que (o povo Judeu) foi circuncidado a fim de
estabelecer um selo [sphragis] no Convênio. Mas os sacerdotes dos ídolos são também
circuncidados. Pertencem eles ao Convênio? Aprendei que Abraão, quem foi o primeiro
a ser circunciso, isto o fez em espírito, tendo seus olhos em Jesus"[154]

Ao longo de todos estes textos, vemos o paralelismo sacado entre a circuncisão e


o sphragis. Isto é explicitamente formulado por Asterius de Amasea: ‘porque
circuncisão acontece no oitavo dia? Porque durante os primeiros sete, a criança estava
envolta em panos, mas no oitavo, liberta dessas faixas, ela recebe circuncisão, o sinal do
selo [sphragis] da fé de Abraão. E isto também tipificava o fato que, quando carregamos
os sete dias de vida, isto quer dizer: as cadeias do pecado, devemos, no fim do tempo,
quebrar estas cadeias e, sermos circuncisos pela morte e ressurreição, como se no oitavo
dia abraçássemos a vida de anjos. E foi para ensinar os Cristãos que, mesmo antes deles
os enrolassem em roupas, eles deveriam marcar seus filhos com o selo [sphragis] pelo
Batismo nas circuncisões de Cristo, conforme diz Paulo [Col 2.11-13’. [155] Gregório
de Nazianzus escreve ‘circuncisão era concedida no oitavo dia, era um tipo de símbolo
do sphragis.’ [156] Justino escreve, ‘o preceito da circuncisão, ordenando que crianças
sejam circuncidadas no oitavo dia, é o tipo da verdadeira circuncisão a qual circuncida
vós do erro e do pecado por Aquele quem se levantou dos mortos no primeiro dia da
semana, nosso Senhor Jesus Cristo. Pois o primeiro dia da semana é também o
oitavo’[157]... .Mais luz é também lançada sobre outro aspecto do sphragis e do Espírito
Santo (Efésios 1.13) embora o caráter sacramental da sphragis não seja ainda deixado
claro. Esta relação é também encontrada nos Patriarcas, e desta vez dentro de um
contexto que é explicitamente um contexto de adoração. Desta forma Cirilo de
Jerusalém lembra ao batizado ‘como o espírito [sphragis] da comunhão com o Espírito
Santo foi a ele concedido. [158]

Que o sphragis tenha tantas implicações é certamente devido ao fato de que


muitas tradições se convergiram neste ritual. E se agora nós tomamos uma vez mais as
características pelas quais os Patriarcas definiram o sphragis batismal, vemos que há
uma muito importante que ainda não foi discutida: isto é, sua indelebilidade.
Encontramos nos escritos de Cirilo de Jerusalém a expressão, ‘o sphragis santo e
indelével.’ [159] E em outro lugar ele escreve: ‘Possa Deus dar a você o selo não facial
do Espírito Santo para a vida eterna... [161]. Isto é freqüentemente interpretado, de
acordo com o imaginário Grego, como um indelével selo impresso na alma. Mas a
imagem é uma muito material. Em realidade, a natureza não facial do caráter batismal
vem do fato de que está fundada na irrevocável promessa de Deus. O sphragis do
batismo, então, significa um contrato de Deus com a pessoa batizada por onde Deus lhe
concede irrevogavelmente um direito às bênçãos da graça. O batizado pode abandonar
de per si de tomar as vantagens deste direito, mas ele não pode proporcionar que o
direito em si seja revogado...

Podemos ver que toda a teologia do caráter sacramental está atada aqui em
embrião, como Santo Agostinho fê-la mais precisa contra os Donatistas ao condenar a
repetição do Batismo... . Este argumento foi proposto por São Paulo, mesmo antes de
Santo Agostinho: 'Embora o Espírito Santo não se misture com aqueles que são
indignos, não obstante, de uma certa forma, ele parece permanecer presente com
aqueles que uma vez foram marcados com o selo [sphragis], esperando suas salvações
pela conversão. É apenas à morte que Ele será totalmente tomado da alma que
profanou a graça' [162]. Agora podemos perceber a riqueza da doutrina do sphragis,
como de imediato um rito especial, e um aspecto do Batismo. Está bastante claro que é
o batismo em si que é o selo do convênio. Conforme São Cirilo diz em uma breve
fórmula: ‘Se o homem não recebe o sphragis pelo Batismo, ele não entrará no reino dos
céus’ (cf. D&C 132 para uma referência moderna do “novo e eterno convênio” –
MS).[163] Mas a diversidade de rituais significa trazer de uma maneira visível as
riquezas realmente efetuadas pelo próprio Batismo: os garments brancos, a restauração
da incorruptibilidade, a imersão, a destruição do homem de pecado; a sphragis, o novo
convênio [164] (ver também D&C 132 mais uma vez).

Para resumir tudo isto em um aforismo bem curto: “A contemplação da


inquebrantável continuidade da vida ‘de eternidade em eternidade’ é o próprio
propósito e função do templo”. [165]
Paralelos com o Purgatório

Esta é uma seção que Holding não leva em conta, mas o purgatório, embora um
desenvolvimento relativamente posterior como um reino de penitência pré-julgamento
no pós-morten dentro da igreja Católica, é um que tem alguns fortes paralelos com o
conceito SUD de um mundo espiritual dividido em duas seções: Paraíso e o Mundo
Espiritual. Ela sustenta a doutrina das ordenanças vicárias pois um mundo espiritual ao
estilo SUD dá aos vivos tempo para trabalharem em favor dos mortos porque os mortos
não são condenados (ou enviados ao céu) imediatamente após a morte, mas após o
Julgamento Final – contrário a maioria dos sistemas de crença dos Protestantes.
Portanto é uma doutrina companheira importante, como era, àquela das ordenanças
vicárias. A natureza bi-partida disto, e o fato que isto jaz entre a morte e a ressurreição e
o Julgamento Final é o que nos interessa, não necessariamente os detalhes penitenciais
[gaudy] que pode se ler num Purgatório, como na parte da Divina Comédia de Dante.

Podemos ver os primórdios desta doutrina (tanto a correta SUD como a herética
Católica – N.T. segundo a perspectiva SUD, é claro, católicos provavelmente
inverteriam os adjetivos), nos escritos dos Patriarcas da Igreja ante-Niceianos. Segundo
LeGoff, “Orígenes em última análise ver apokatastassis como um processo de
purificação gradual através da penitência.”[166]

Entretanto, nesta visão do outro mundo um número de ingredientes do


verdadeiro Purgatório estão faltando.

Em adição a citação acima por Trumbower de LeGoff (ver acima), Trumbower


sumariza a crença no pós-Nicéia, mas da antiga igreja medieval, numa crença em um
Purgatório bi-partido.

Enquanto Católicos ocasionalmente usarão 2 Macabeus 12:43-45 como um


texto-prova para o Purgatório, eles não se baseiam sua doutrina nesta escritura Apócrifa
(eles não são Biblicistas, desta forma não é surpresa que eles simplesmente vejam um
eco do Purgatório aqui, da mesma maneira que vemos um eco do batismo vicário em I
Cor 15;29). Mas a primeira menção na história que podemos encontrar (atualizado
segundo LeGoff em 1981), é num Patriarca da Igreja da metade do terceiro século,
Cipriano, quem escreveu em sua Carta a Antonino que eles distinguia entre dois tipos de
Cristãos: “é uma coisa esperar pelo perdão e uma outra chegar em glória; é uma coisa
ser enviado à prisão [ao cárcere] para ser solto apenas quando o último ceitil for pago e
uma outra receber imediatamente o galardão da fé e virtude; uma coisa é ser purificado
e aliviado de seus pecados através de uma longa penitência no fogo e outra coisa ter
todas as suas faltas lavadas pelo martírio; e é uma coisa ser contido pelo Senhor no Dia
do Julgamento e outra coisa é ser coroado por ele imediatamente.”[167]

Mas as raízes de um reino bi-partido que existem entre a morte e o Dia do


julgamento (e/ ou a ressurreição) vai ainda mais longe. Por causa de suas inclinações
milenaristas (de forma alguma incomum à época), Orígines é vago sobre quanto tempo
este reino duraria – isto é, ele pensa que o tempo será curto tal como a segunda vinda de
Cristo é iminente – mas ele ainda se refere a isto como um reino separado e bi-partido:
“Ele assegura seus leitores que os justos vão para o Paraíso no momento em que
morrem, mas este Paraíso, ele afirma, é diferente dos Céus, em que a alma chega apenas
após o Último Julgamento e uma prova de fogo, uma prova que pode ser curta ou durar
por um longo período de tempo”. [168]

LeGoff vê a mesma evidência de que os Patriarcas da Igreja viam o mesmo tipo


de ciclo apostasia-restauração que os Santos dos Últimos Dias vêem, embora ele não
necessariamente usasse nossa linguagem. Ele realmente escreve, entretanto, que a “...
interpretação de Cipriano é típica de uma idéia evolucionária do Purgatório, de acordo
com a qual a doutrina Cristã fez um progresso lento, mas constante em direção a uma
crença que acreditamos esteve presente no dogma Cristão, em embrião, desde o
princípio”.[169]

Mais uma vez, a imparciabilidade força-me a apontar que LeGoff não concorda
com isto, assumindo que os Patriarcas da Igreja retro-lançaram sua crença até os tempos
Bíblicos, desta forma tem cuidado ao usar um argumento deste tipo. Mas isto é quase
nada para nossos críticos também, pelo menos para aqueles que são Biblicistas, uma vez
que o criticismo histórico de LeGoff demoliria também a historicidade da Bíblia na
forma atual. De qualquer maneira, LeGoff também cita de Patriarcas da Igreja da época
do Concílio de Nicéia em diante e de outras fontes tais como Lactâncio (a mais antiga
testemunha, além de Orígenes), e então movendo para a época pós-Niceiana e ao
começo da Idade Média Hilary de Poitiers, Ambrósio, Jerônimo, Ambrosiaster (um
pseudônimo para uma pessoa cuja identidade é desconhecida mas que viveu na segunda
metade do 4o século).[170] Hilário acreditava que “os justos esperam o Último
Julgamento no seio de Abraão, enquanto pecadores são atormentados pelo fogo.”
Ambrósio cria, “que as almas dos mortos esperavam pelo julgamento em diferentes
‘habitações’, como está no Quarto Livro de Esdras,” embora ambas as crenças destes
homens fossem de alguma forma mal concebidas; Ambrósio achava que todos que
fossem salvos pelo Sacrifício Expiatório, as orações dos vivos poderiam ajudar a aliviar
o sofrimento dos mortos, que os sufrágios poderiam ser úteis em mitigar as penalidades
a serem cumpridas no outro mundo. [171] A crença de Jerônimo, aquele grande tradutor
Latino, cria em “Assim como acreditamos que os tormentos do Demônio, de todos
aqueles que negaram a Deus, dos profanos que disseram em seus corações, ‘não existe
Deus,’ serão eternos, assim também cremos realmente que o julgamento dos pecadores
Cristãos, cujas obras serão testadas e purgadas no fogo será moderado e misturado com
clemência”. Embora sua alocação temporal não seja clara, a bi-partição da natureza do
mundo pós-morten o é. [172].

LeGoff põe a culpa para a evolução destas antiga idéias de um reino bipartido
onde esperamos o Julgamento e Ressurreição aos pés de – sem surpresas para os Santos
dos Últimos Dias – Agostinho. Ironicamente, Agostinho não estava particularmente
interessado na doutrina do Purgatório, mas escreveu algumas coisas sobre isso, e
“solidificou” a crença em um reino bipartido no Purgatório mais ou menos como
presentemente compreendida. Na opinião deste autor, colocada em outro lugar desta
revisão, Agostinho é mais responsável pela apostasia do antigo Cristianismo pela adição
e subtração de doutrinas sob a influência do Médio Platonismo, do que qualquer pessoa
mais entre Constantino e Tomás de Aquino. Então é com Agostinho que Santos dos
Últimos Dias tomam nossa partida da doutrina primitiva à medida que ele a desenvolvia
(distorcendo-a). Pela época da Divina Comédia de Dante até mesmo a “geografia” do
Purgatório estava estabelecida (conforme colocada em excruciante detalhe no
Purgatório, o segundo volume destas séries.[173] Mas o fato de que o Purgatório tinha
uma “geografia”, embora não uma geografia física, nem terrena, é enfatizado em obras
como a do Venerável Beda “Visão de Drythelm,” a qual indicava um “Purgatório
penitencial no nordeste” e um “Purgatório de espera no sudeste.” [174] Segundo uma
antiga visão do 7o século pelo espanhol Abbot Valera que relata “A Visão de Bonellus,”
em que Bonellus percebe que o sistema do purgatório é dualístico: “um lugar, não
nomeado, é muito agradável, o outro é um abismo (abyssus) chamado inferno”. [175]

Batismo pelos Mortos e o Problema da Apostasia

A última flecha de Holding em sua crítica é a suposta dificuldade que os Santos


dos Últimos Dias enfrentam para provar que o batismo vicário foi perdido na “apostasia
geral”.

Não deve ser surpresa para qualquer historiador que o grande silêncio que se
estabeleceu sobre o mundo Mediterrâneo no segundo século, dado os grandes levantes
que ocorreram durante o que foi um período crítico da história Cristã, é uma das razões
que este tipo de argumento a partir do silêncio tomado por Holdings é tão perigoso.
Apenas para os iniciantes, Paulo refere-se em “Primeiro” Coríntios a uma epístola
anterior. Então o que hoje chamamos I Coríntios deveria ser II Coríntios e o que
chamamos II Coríntios deveria ser realmente III Coríntios. Não temos pista alguma do
que realmente o I Coríntios continha.

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