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Psicologia do Desenvolvimento
© Celeste Duque (celeste.duque@gmail.com) & Pedro Zany Caldeira, 2004 1
1. INTRODUÇÃO
O presente texto2 tem como objectivo fornecer aos alunos do Curso de Terapêutica da Fala, da
Universidade do Algarve, da ESSaF, uma forma sintética de estudar as Teorias da Personalidade
consideradas mais adequadas no enquandramento do programa da disiciplina da Psicologia do
Desenvolvimento. Por mais longo que possa parecer o desenvolvimento das mesmas, muito mais
haveria a dizer sobre o assunto, pelo que se recomenda a leitura das obras originais que constam
da bibliografia ao aluno interessado em aprofundar um pouco mais os diversos conceitos.
Aconselha-se igualmente a presença nas aulas, quer teóricas quer teórico-práticas já que nestas, e
apesar de se fornecer o texto síntese da teoria apresentada, são referidos inúmeros exemplos e a
verbalização utilizada vai sempre de encontro às necessidades, dúvidas e interesses dos alunos
presentes, pelo que são únicas e irrepetíveis. Fornecendo toda uma informação que não está
escrita em nenhum livro, nem mesmo nos apontamentos da disciplina, já que aí se tem o cuidado
de relacionarem conceitos do âmbito da Psicologia do Desenvolvimento apresentando uma
contextualização histórica, e sócio-cultural, socorrendo-se igualmente de outras áreas de saber
sempre que isso se mostre relevante para a melhor explicação e integração do conceito, por parte
dos alunos.
Posto isto passamos a apresentar uma síntese teórica elaborada em 2001, e que foi totalmente
revista para melhor se adaptar ao Curso de Terapêutica da Fala do ESSaF.
Recomenda-se ainda a consulta dos apontamentos (Textos de Apoio) fornecidos na disciplina de
Introdução à Psicologia3, em 2003-2004.
2. TEORIAS DA PERSONALIDADE
Antes de se abordarem as Teorias da Personalidade, propriamente ditas é necessário definir-se o
que se entende por personalidade.
2.1. Personalidade
São padrões ou elementos relativamente constantes, duradouros e permanentes de percepcionar,
pensar, sentir e comportar-se que atribuem ou parecem atribuir aos sujeitos identidades
separadas. Personalidade é um ‘constructo sumário’ que inclui pensamentos, motivos, emoções,
interesses, atitudes, capacidades e outros fenómenos semelhantes.
2 Texto de Apoio da autoria de Prof. Doutor Pedro Zany Caldeira, Universidade Lusíada de Lisboa, em colaboração com Dra.
Celeste Duque, 2002. Arranjo gráfico e revisão e actualização da responsabilidade de Celeste Duque, em Setembro de 2004.
3 Sobre Metodologia em Psicologia e em Saúde, bem como os textos referentes à Personalidade (Teorias da Personalidade e a
Perspectiva Psicanalítica).
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De qualquer modo, o prazer e o desprazer não dependem provavelmente do grau absoluto das
tensões mas mais do ritmo das variações destas últimas. O Ego tende para o prazer e a evitar o
desprazer. A todo o aumento esperado (previsto) de desprazer corresponde um sinal de angústia,
e o que dispara este sinal, de dentro ou de fora, denomina-se perigo. De tempos a tempos o Ego,
quebrando os laços que o unem ao mundo exterior, retira-se para o sono, onde modifica
notavelmente a sua organização. O estado de sono permite constatar que este modo de
organização consiste numa certa repartição particular de energia psíquica.
Durante o longo período de infância que o indivíduo atravessa e durante o qual depende dos
seus pais o indivíduo em curso de evolução vê formar-se no seu Ego, como que por uma espécie
de precipitado, uma instância particular através da qual se prolonga a influência parental. Esta
instância é o Super-Ego. Na medida em que se destaca do Ego ou se opõe a ele, o Super-Ego
constitui um terceiro poder que o Ego é obrigado a ter em conta.
É considerado como correcto todo o comportamento do Ego que satisfaz em simultâneo as
exigências do Id, do Super-Ego e da realidade, que se produz quando o Ego consegue conciliar
estas diversas exigências. Sempre e seja qual for o contexto social, as particularidades das
relações entre o Ego e o Super-Ego tomam-se melhor compreensíveis se as relacionarmos com as
relações da criança com os pais. É evidente que não é só a personalidade dos pais que age sobre a
criança mas, transmitidas através deles, a influência das tradições familiares, raciais e nacionais,
assim como as exigências do meio social imediato que eles representam. Ao longo da sua
evolução, o Super-Ego dum sujeito modela-se também pelos sucessores ou substitutos dos pais
(certos educadores ou personalidades que representam no seio da sociedade ideais respeitados,
por exemplo). Vemos que, apesar da sua diferença funcional, o Id e o Super-Ego têm um ponto
em comum: ambos representam o papel do passado. O Id, o papel da hereditariedade. O Super-
Ego, o papel que pediu “emprestado” a outros. Pelo seu lado, o Ego é sobretudo determinado
pelo que o indivíduo viveu, isto é, o acidental, o actual.
Segundo Freud, há dois princípios que regem o funcionamento mental: o princípio do prazer e o
princípio da realidade. Segundo o princípio do prazer, a actividade psíquica no seu conjunto tem
por objectivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. Na medida em que o desprazer está
ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à sua redução, o princípio do prazer é
um princípio económico, O princípio da realidade forma par com o princípio do prazer e
modifica-o. Na medida em que o princípio da realidade se consegue impor como princípio
regulador, a procura da satisfação já não se efectua pelos caminhos mais curtos, mas toma por
desvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior.
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“É sabido que Freud, numa preocupação de análise do conceito de pulsão, distinguiu a fonte, o objecto e o
alvo pulsionais. A fonte é a zona ou aparelho somático sede da excitação sexual; a sua importância aos olhos
de Freud é demonstrada pelo facto das diversas fases da evolução libidinal serem designadas pelo nome da
zona erógena predominante” (Laplanche & Pontalis, 1990, pp. 577-578).
As fases pré-genitais da evolução libidinal apoiam-se inicialmente em actividades directamente
relacionadas com as pulsões de auto-conservação.
A primeira fase da evolução libidinal é a fase oral: o prazer sexual está então ligado de forma
predominante à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. A
actividade de nutrição fornece as significações electivas pelas quais se exprime e se organiza a
relação de objecto. Por exemplo, a relação de amor com a mãe será marcada pelas seguintes
significações: comer e ser comido.
A actividade de chupar assume a partir da época de amamentação um valor exemplar, que
permite a Freud mostrar como a pulsão sexual (que a princípio se satisfaz apoiada numa função
vital) adquire autonomia e se satisfaz de forma auto-erótica (auto-satisfação das necessidades
sexuais).
A segunda fase da evolução libidinal, segundo Freud, é a fase anal-sádica que podemos situar
aproximadamente entre os 2 e os 4 anos. Esta fase é caracterizada por uma organização da líbido
sob o primado da zona erógena anal; a relação de objecto está impregnada de significações
ligadas à função de defecção (expulsão-retenção) e ao valor simbólico das fezes.
A fase fálica é a fase da organização da líbido que vem depois das fases oral e anal, e e
caracterizada por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos orgãos genitais. Mas, o
que já não será o caso da organização genital pubertária, a criança (de sexo masculino ou de sexo
feminino) só conhece um único órgão genital, o órgão masculino, e a oposição dos sexos é
equivalente à oposição fálico-castrado. A fase fálica corresponde ao momento culminante e ao
declínio do complexo de Édipo. O complexo de castração é aqui dominante.
Por fim, a fase genital é a fase do desenvolvimento psicossexual caracterizada pela organização
das pulsões parciais sob o primado das zonas genitais. Esta fase compreende dois períodos,
separados pelo período de latência: o período fálico (ou organização genital infantil – fase fálica)
e a organização genital, propriamente dita, que se institui na puberdade.
Em termos do desenvolvimento psicossexual, e caso o sujeito se fixe numa das fases pré-genitais
acima descritas (fixação libidinal), ele fica marcado por experiências infantis, mantém-se ligado
de forma mais ou menos disfarçada a modos arcaicos de satisfação, a tipos arcaicos de objecto ou
de relação.
A fixação liga-se à teoria da líbido e define-se pela persistência, particularmente manifesta nas
perversões, de características anacrónicas de sexualidade: o indivíduo exerce certos tipos de
actividade ou então permanece ligado a algumas características do ‘objecto’ cuja origem se pode
encontrar em certo e determinado momento da vida sexual infantil.
Com o desenvolvimento da teoria das fases pré-genitais do desenvolvimento psicossexual (fases
oral, anal-sádica e fálica) a noção de fixação assume nova extensão: pode não incidir apenas
sobre um alvo ou um objecto libidinal parcial, mas também sobre toda a estrutura da actividade
característica de uma dada fase. Assim, a fixação na fase anal está na origem da neurose
obsessiva e de certo tipo de carácter.
A fixação libidinal desempenha um papel predominante na etiologia dos diversos distúrbios
psíquicos, o que levou a determinar a sua função nos mecanismos neuróticos. A fixação está na
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4. MARGARET MAHLER
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com que o bebé efectue gradualmente a passagem duma tendência inata á regressão vegetativa
para uma consciência sensorial acrescida do meio envolvente e um melhor contacto com ele. Em
termos de energia ou de investimento libidinal, isto pode traduzir-se pela necessidade de operar
um deslocamento da líbido desde o interior do corpo particularmente dos órgãos abdominais)
para a sua periferia.
Ao autismo normal segue-se uma etapa de consciência difusa para o bebé de que não pode
satisfazer as suas próprias necessidades, que esta satisfação vem de alguma parte exterior a si. E
isto designa-se por narcisismo primário da fase simbiótica nascente.
A vida acordada do recém-nascido concentra-se em tomo dos seus esforços incessantes para
realizar a homeostasia. O bebé não consegue nem isolar os efeitos dos cuidados matemos, que
lhe reduzem a fome, nem os diferenciar dos seus esforços para reduzir a tensão pelos seus
próprios meios, tal como urinar, defecar, tossir, arrotar, vomitar – meios pelos quais a criança
tenta desfazer-se de uma tensão desagradável. O efeito destes fenómenos de expulsão, tanto
como a gratificação obtida pelos cuidados matemos, ajudam o bebé, no momento oportuno, a
diferenciar uma qualidade de experiência ‘boa’/’agradável’ de uma outra ‘má’/’dolorosa’.
A partir do 2º mês, uma consciência difusa do objecto de satisfação das necessidades marca o
começo da fase de simbiose normal, na qual o bebé se comporta e funciona como se a sua mãe e ele
formassem um sistema omnipotente – uma unidade dual no interior dum só limite comum.
É neste momento que começam a haver falhas na barreira quase sólida (negativa porque não
investida) de protecção contra os estímulos – é a concha autística que parava os estímulos
exteriores, Graças ao deslocamento do investimento para a periferia sensório-perceptiva,
começa-se a formar um pára-excitações, protector mas também receptivo e selectivo, investido
positivamente, que começa a envolver a esfera simbiótica da unidade dual mãe-criança.
É evidente que se o bebé depende de maneira absoluta do parceiro simbiótico, a simbiose toma
um sentido diferente para o parceiro adulto da unidade dual. A necessidade que o bebé tem da
sua mãe é absoluta; a necessidade que a mãe tem do seu bebé é relativa.
Neste contexto, o termo simbiose é uma metáfora. Não descreve, como o conceito biológico de
simbiose, o que se passa realmente numa relação mútua benéfica entre dois indivíduos separados
de espécies diferentes. Descreve antes um estado de indiferenciação, de fusão com a mãe, no qual
o ‘eu’ não se diferencia ainda do ‘não-eu e onde o dentro e o fora só vêm gradualmente a serem
sentidos como diferentes. Toda a percepção desagradável, interna ou externa, é projectada para
lá do limite comum do meio interior simbiótico que inclui a gestalt do parceiro adulto durante os
cuidados maternos. E somente de maneira passageira que o bebé parece receber os estímulos
provenientes do exterior do meio simbiótico. O investimento libidinal fixado na esfera simbiótica
substitui a barreira inata de protecção contra os estímulos e protege o Ego rudimentar de toda a
tensão prematura e não adaptada, de todo o traumatismo de tensão.
O carácter essencial da simbiose é uma fusão somato-psíquica omnipotente, alucinatória ou
delirante, à representação da mãe e, em particular, à ideia delirante dum limite comum entre
dois indivíduos fisicamente separados. E a este mecanismo que regride o Ego nos casos mais
graves de individuação e de desorganização psicótica, descritos como ‘psicose simbiótica da
criança’.
A função e os meios de auto-conservação estão atrofiados na espécie humana. O Ego rudimentar
(ainda não funcional) do recém-nascido e do jovem bebé deve receber em complemento o apoio
emocional dos cuidados atentos da mãe, espécie de simbiose social. É no seio desta dependência
fisiológica e sócio-biológica da mãe que se opera a diferenciação estrutural que conduz à
organização adaptativa do indivíduo: o Ego no seu conjunto de funções.
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O autismo normal e a simbiose normal são os dois primeiros estádios de não indiferenciação, o
primeiro an-objectal, o segundo pré-objectal. Ambos aparecem antes da diferenciação da matriz
indiferenciada, isto é, antes que sejam produzidas a separação e a individuação e a emergência
do Ego rudimentar como estrutural funcional.
A fase simbiótica normal caracteriza-se no bebé por um acréscimo do investimento preceptivo e
afectivo de estímulos que definimos como provenientes do mundo exterior, mas que o bebé,
segundo a nossa concepção, não reconhece claramente a origem exterior. O bebé começa por
estabelecer ‘ilhotas mnésicas’ mas não ainda uma diferenciação entre o interior e o exterior, o Eu
e o outro.
O mundo torna-se cada vez mais investido, sobretudo a pessoa da mãe, mas como unidade dual,
com um Eu ainda não claramente demarcado, nem cercado de fronteiras, nem experimentado. O
investimento na mãe representa a principal realização psicológica desta fase. Mas há, ainda,
continuidade com o que se passará de seguida.
Sabemos que o bebé responde de modo diferenciado aos estímulos provenientes do interior e aos
do exterior (a luz, por exemplo, será objecto duma experiência diferente da fome). Mas, se não
queremos postular a existência de representações inatas, temos boas razões para presumir que a
criança não tem nem conceito nem esquema de si e do outro ao qual atribuir e assimilar essas
diferenças de estímulos. Pensamos que a experiência do interior e do exterior se encontra ainda
vaga: o objecto mais investido, a mãe, é ainda um objecto parcial.
Os cuidados matemos e “o jogo” com a criança (segurá-la, apoiá-la, pegá-la ao colo, sustentá-la,
limpá-la, mexer nela...) são essenciais para a demarcação do Eu corporal no interior da matriz
simbiótica. Estas representações constituem o ‘esquema corporal’. A partir deste momento, as
representações do corpo que fazem parte do Ego rudimentar formam uma ligação entre as
percepções internas e externas. Isto corresponde à ideia de Freud que o Ego se modela pelo
impacto da realidade, por um lado, e pelas pulsões, por outro, O Eu corporal compreende dois
tipos de representações de si: um núcleo interno do esquema corporal, em que o limite se volta
para o interior do corpo e o separar do Ego; e um envelope externo de engramas sensório-
perceptivos, que contribuem para os limites do corpo próprio’.
As sensações internas do bebé constituem o núcleo do Eu. Elas permanecem o ponto central,
cristalizadas, do ‘sentimento de si’ em tomo do qual se estabelecerá um ‘sentimento de
identidade, O órgão sensório-perceptivo (‘o envelope externo do Ego’ – Freud) contribui
essencialmente para delimitar o Eu do mundo objectal. As duas espécies de estruturas
intrapsíquicas formam em conjunto o quadro de auto-orientação.
No seio da esfera simbiótica comum, pode-se dizer que os dois parceiros ou pólos da diade
polarizam os processos de organização e de estruturação. As estruturas derivadas deste duplo
quadro de referência representam uma base à qual todas as experiências deverão ser associadas
antes de se tornarem no Ego representações claras e unificadas do Eu e do mundo objectal. Spitz
diz que a mãe é o Ego auxiliar do bebé. Do mesmo modo, o ‘comportamento de apoio’ do
parceiro materno, a sua preocupação materna primária’ é o organizador simbiótico, a parteira da
individuação, do nascimento psicológico.
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que o bebé começa a diferenciar o seu próprio corpo do da sua mãe. Entre os é e os 7 meses é o
ponto culminante da exploração manual, táctil e visual do rosto da mãe e das suas partes tanto
cobertas como descobertas. E ao longo destas semanas que o bebé vai descobrir, com fascínio, um
colar, um par de óculos ou outro adorno usado pela mãe. Podem existir jogos de esconde-
esconde (O bebé não está. Está! Está!) nos quais o bebé joga ainda um papel passivo. Estes padrões
de exploração transformam-se mais tarde numa função cognitiva de verificação do não familiar
oposto ao já conhecido. Tocar e absorver as diversas partes do corpo pelos olhos (visão) ajuda a
reunir o corpo numa imagem central para além do nível da simples consciência sensorial
imediata.
É ao longo da primeira subfase da separação-individuação que todos os bebés normais efectuam
as suas primeiras tentativas de ruptura, no sentido corporal, com o seu estado (até agora
completamente passivo) de bebé-ainda-ao-colo – o estado de unidade dual com a mãe. Todas as
crianças gostam de se aventurar e continuar a uma distância ligeira dos braços envolventes da
mãe. Desde que tenham a capacidade motora, gostam de se deixar deslizar pelos joelhos da mãe,
mas têm tendência a ficar o mais perto possível da mãe, ou a ela retomarem para brincar.
A partir dos 7 ou 8 meses é o padrão visual de ‘reverificação junto da mãe’ o sinal relativamente
estável mais importante do começo da diferenciação somato-psíquica. Parece ser, de facto, o
padrão normal do desenvolvimento cognitivo e afectivo mais importante.
O bebé inicia uma exploração comparativa. Começa a interessar-se pela ‘mãe’ e parece compará--
la com o ‘outro’, o não familiar com o familiar, característica por característica. Parece
familiarizar-se de modo mais aprofundado com o que é a mãe, lhe dá a mesma sensação, tem o
mesmo gosto e cheira como ela, se parece com ela e faz o mesmo ‘som’ que ela. A par da
aprendizagem da ‘mãe enquanto mãe’, faz também a descoberta do que pertence ou não
pertence ao corpo da mãe – um colar ou uns óculos, Começa a estabelecer uma discriminação
entre a sua mãe e aquela ou aquele que se lhe parece ou não, que lhe dá uma sensação parecida
ou não e se desloca da mesma maneira ou diferente da da mãe.
Os primeiros padrões de diferenciação parecem não ser só duma grande racionalidade em
termos da relação mãe-criança e do talento particular de cada criança, mas parecem igualmente
desencadear os padrões de organização da personalidade que aparentemente persistem no
desenvolvimento futuro do processo de separação-individuação, e provavelmente mais além. E a
necessidade específica inconsciente da mãe que, a partir das potencialidades infinitas do bebé,
vai acordar aquelas em particular que criam para cada mãe ‘a criança’ que reflecte as suas
próprias necessidades únicas e individuais. Este processo desenvolve-se nos limites dos talentos
inatos da criança.
Os bebés e as mães que tiveram prazer numa fase simbiótica sem demasiados conflitos, aqueles
bebés que ficaram saturados, mas não super-saturados, ao longo deste período de unicidade
importante com a sua mãe, começam no momento normal a mostrar os sinais de diferenciação
activa, afastando-se ligeiramente do corpo da mãe. Pelo contrário, nos casos em que havia
ambivalência e parasitismo, intrusão, ‘sufocamento’ por parte da mãe a diferenciação mostra
perturbações em diversos graus e sob diferentes formas. Noutros casos, em que a mãe agia
claramente segundo as suas próprias necessidades simbiótico-parasitárias mais do que em
função do bebé, a diferenciação instala-se de modo quase veemente.
É no fim do primeiro ano e nos primeiros meses do segundo que podemos ver que há no
processo intrapsíquico da separação-individuação duas linhas de desenvolvimento, interligadas
mas não tendo sempre a mesma amplitude ou uma progressão proporcional. Uma destas linhas
é a individuação, a evolução da autonomia, da percepção, da memória, da cognição, da prova da
realidade. A outra e a linha intrapsíquica do desenvolvimento da separação, que leva à
diferenciação, à distanciação, á formação dos limites e ao afastamento da mãe. Todos estes
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Há pelo menos três desenvolvimentos interligados mas identificáveis que contribuem para os
primeiros progressos da criança para a consciência de estar separada e para a identificação: a
diferenciação corporal face á mãe; o estabelecimento duma ligação específica com ela; o crescimento e o
funcionamento dos aparelhos autónomos do Ego em relação estreita com a mãe.
Este desenvolvimento parece abrir a possibilidade ao bebé de estender o seu interesse pela mãe
para objectos inanimados apresentados por ela – cobertor, almofada, brinquedo, o biberão antes
da separação para a noite. O bebé explora visualmente estes objectos e examina o seu gosto, a sua
textura e o seu odor através dos órgãos perceptivos de contacto, em particular a boca e as mãos,
Seja qual for a fase de diferenciação, é característico deste primeira etapa de ensaios que, apesar
do interesse e da absorção destas actividades, é o interesse pela mãe que parece tomar
decisivamente a prioridade.
A maturação da locomoção e das outras funções ao longo do primeiro período de ensaios tem
um efeito dos mais salutares nas crianças que conheceram uma relação simbiótica intensa mas
inconfortável. Parece plausível que isto esteja ligado, pelo menos em parte, a um processo
simultâneo de desprendimento satisfatório por parte das mães. Estas mães, que estavam
angustiadas por não poderem acalmar a aflição dos seus bebés ao longo das fases de simbiose e
de diferenciação, ficam agora mais aliviadas por verem os seus filhos tomarem-se menos frágeis,
menos vulneráveis e um pouco mais independentes. Estas mães e os seus filhos não conseguiram
ter prazer no contacto físico estreito, mas podem ambos ter agora prazer a uma distância
ligeiramente maior. Estas mesmas crianças tornam-se mais calmas e mais capazes de recorrerem
às suas mães para encontrarem conforto e segurança.
Pelo contrário, podemos observar um outro padrão de interacção mãe-criança ao longo do
primeiro período dos ensaios naquelas crianças que procuravam mais activamente a
proximidade física da mãe, crianças cujas mães tinham a maior dificuldade em entrar em relação
com elas ao longo do processo de diferenciação activo. Estas mães apreciavam a proximidade da
fase simbiótica, mas uma vez esta fase passada, elas gostariam de ver os seus filhos tomarem-se
‘grandes duma só vez. E interessante notar que estas crianças acham difícil crescer. São incapazes
de ter prazer na sua capacidade nascente de se distanciarem e reclamam muito activamente a
proximidade.
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A capacidade de locomoção crescente ao longo da primeira subfase dos ensaios alarga o universo
da criança. Não só tem um papel mais activo na determinação da proximidade e da distância à
mãe, mas as modalidades utilizadas até ai para explorar um ambiente relativamente familiar
expõem-no, de súbito, a um maior segmento da realidade: há mais para ver, mais para ouvir,
mais para tocar. O modo de experimentar este universo novo parece subtilmente ligado à mãe,
ainda o centro deste universo da criança, donde ela sai gradualmente por círculos cada vez mais
largos.
As primeiras explorações servem para:
1. Estabelecer uma familiaridade com um segmento maior do universo;
2. Percepcionar e reconhecer a mãe, a ter prazer com ela a uma distância maior. São as crianças que
têm um melhor ‘contacto à distância com a mãe que se aventuram mais longe dela.
Um bebé que esteja neste período dos ensaios ocupa-se alegremente a explorar por si mesmo o
seu ambiente físico. De tempos a tempos volta à sua mãe para efectuar uma recarga emocional.
Normalmente, a mãe aceita este desprendimento gradual do seu bebé e encoraja o seu interesse
pelos ensaios. Está emocionalmente disponível, atenta às necessidades da criança, e assegura este
apoio materno necessário a um desenvolvimento óptimo das funções autónomas do Ego.
Quando a criança, graças à maturação do seu aparelho de locomoção, se tenta aventurar a uma
maior distância em relação à sua mãe, Está muitas vezes tão absorvida nas suas próprias
actividades que, durante longos períodos de tempo, esquece aparentemente a presença da mãe.
Contudo, volta a ela regularmente, parecendo ter necessidade de vez em quando da sua
proximidade física.
A distância óptima, neste primeiro período dos ensaios, parece ser aquela que dá à criança a
liberdade de se deslocar, de explorar gatinhando e a oportunidade de explorar a uma certa
distância física da mãe. E necessário notar, contudo, que ao longo de toda a subfase dos ensaios a
mãe continua a ser necessária como ponto fixo, ‘porto de abrigo’, para preencher a necessidade
de recarga por contacto físico. Os bebés de 7 a 10 meses gatinham ou arrastam-se rapidamente
em direcção à sua mãe, apoiando-se ao longo da sua perna, tocando-a, ou simplesmente
apoiando-se nela. É o que se designa por ‘recarga emocional’. É fácil de constatar a rapidez com
que o bebé abatido e cansado se ‘revigora’ após o contacto com a mãe: volta rapidamente à sua
exploração e deixa-se mais uma vez absorver pelo prazer que tem com o seu funcionamento.
Com o desenvolvimento das funções autónomas, como a cognição, e mais particularmente a
locomoção em posição vertical começa ‘a história de amor com o mundo’, O bebé passa o maior
degrau da individuação humana. Caminha livremente em posição vertical. Por isso, o plano da
sua visão muda. Dum ponto de vista completamente novo, descobre perspectivas, prazeres e
frustrações inesperados e novos. A posição em pé trás um nível visual novo.
Durante estes preciosos 6 a 8 meses (dos 10 ou 12 meses aos 16-18 meses), o mundo é a ostra do
bebé. O investimento libidinal desloca-se de modo substancial para se meter ao serviço do Ego
autónomo, em vias de crescimento rápido, e das suas funções. E a criança parece intoxicada pelas
suas próprias faculdades e da imensidade do seu próprio universo, O narcisismo encontra-se no
ponto auge! Os primeiros passos independentes da criança em posição vertical marcam o início
dos ensaios por excelência, com um alargamento substancial do seu universo e da sua prova da
realidade. Há um investimento libidinal, crescendo de maneira estável, dos talentos motores
para os ensaios, da exploração do ambiente que se expande, tanto humano como inanimado. A
principal característica deste período dos ensaios é, na criança, o grande investimento narcísico
das suas próprias fincões, do seu próprio corpo enquanto objecto e objectivos da sua ‘realidade’
em crescimento. Paralelamente, constatasse uma impermeabilidade relativamente grande aos
golpes, quedas e frustrações (o facto de outra criança agarrar um brinquedo, por exemplo).
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A criança fica maravilhada com os seus próprios talentos, continuamente orgulhosa das
descobertas que faz no seu universo em vias de expansão e quase apaixonado pelo universo e
pela sua própria grandeza e omnipotência.
A importância de caminhar para o desenvolvimento emocional da criança é inestimável. Andar
dá ao bebé muito mais possibilidade de descobrir a realidade e de fazer a prova do universo, sob
o seu próprio controlo e poder mágico.
Ao longo do mês que se segue imediatamente à aquisição da locomoção livre e activa, a criança
faz sérios progressos na afirmação da sua individualidade. Parece ser o primeiro grande passo
para a formação da identidade, A locomoção livre em posição vertical parece tomar-se para
numerosas mães a prova suprema de que os seus bebés ‘conseguiram’.
Resumindo, andar parece ter, tanto para a mãe como para o bebé, uma grande significação
simbólica: é como se o bebé que anda tivesse a prova, pela sua locomoção independente em
posição vertical, de que ele já foi promovido ao mundo dos seres humanos independentes. A
antecipação e a confiança fornecidas pela mãe, que tem um sentimento de que o seu filho pode
‘conseguir’, parecem servir de despoletadores importantes para o próprio sentimento de
segurança da criança e constituir o encorajamento inicial para que ela troque uma parte da sua
magia omnipotente pelo prazer ligado à sua própria autonomia e à estima de si crescente.
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muito mais elevado: a linguagem simbólica, tanto vocal como sob outros modos de comunicação,
e o jogo tomam-se cada vez mais predominantes.
Ao longo da subfase de reaproximação observam-se reacções à separação em todas as crianças
Os dois padrões característicos do comportamento do bebé nestas idades – o seguimento da mãe
(o hábito incessante da criança de vigiar e seguir cada um dos movimentos da mãe) e a partida
precipitada para longe dela, com a expectativa de ser perseguida e pegada nos seus braços –
indicam o seu desejo de reunião com o objecto de amor e o seu medo de ser reincorporada.
Observa-se no bebé um padrão de ‘afastamento’ dirigido contra todo o impedimento sobre a sua
autonomia recentemente adquirida. Mais, o seu medo nascente de perder o amor representa um
elemento de conflito com a interiorização. Na idade da reaproximação, certas crianças parecem
ser já mais sensíveis á desaprovação. Apesar de tudo, a autonomia é defendida pelo ‘não’, assim
como pela agressividade acrescida e o negativismo da fase anal.
Durante o período dos ensaios, e paralelamente à aquisição dos talentos primitivos e das
faculdades perceptivas cognitivas, produziu-se uma diferenciação cada vez mais clara, uma
separação entre a representação intrapsíquica do objecto e a representação do Eu. No apogeu do
seu domínio sobre o mundo, no final do período dos ensaios, o bebé começou a entrever que o
universo não era uma ostra, que tinha de o enfrentar mais ou menos ‘por ele mesmo’, muitas
vezes como indivíduo relativamente sem defesas, pequeno e separado, incapaz de solicitar apoio
ou assistência pelo simples facto de sentir a necessidade ou mesmo de dar voz a essa
necessidade.
A qualidade e o grau do comportamento de solicitação do bebé face á sua mãe ao longo desta
subfase fornece indicadores importantes relacionados com a normalidade do processo de
individuação. O medo da perda do amor do objecto (mais do que o medo da perda do objecto)
toma-se cada vez mais evidente,
É normal a existência de incompatibilidades e incompreensões entre a mãe e o seu filho. Estas
incompatibilidades e incompreensões estão enraizadas nalgumas contradições desta subfase. A
exigência do bebé de ver a sua mãe constantemente implicada parece contraditória para a mãe:
agora que ele já não é tão dependente e não está tão desarmado em comparação com seis meses
atrás, e que o deseja ser cada vez menos, manifesta, contudo e com cada vez maior insistência, o
desejo de ver a sua mãe partilhar com ele todos os aspectos da sua vida.
Ao longo desta 3ª subfase, o da reaproximação, quando a individuação se efectua muito
rapidamente e que a criança a exerce até ao limite, a criança toma-se igualmente cada vez mais
consciente de estar e de ser separada, e recorre a todos os mecanismos a fim de resistir a, e a
desfazer, esta realidade de separação em relação à mãe. É um facto, entretanto, que, seja qual for
a influência exercida pela criança sobre a mãe, os dois não podem funcionar efectivamente mais
como uma unidade dual – isto é, a criança já não pode sustentar o delírio da força omnipotente
parental que, espera ele em determinados momentos, vai restaurar o status quo simbiótico.
A comunicação verbal toma-se cada vez mais necessária. A utilização dos gestos por parte da
criança e a empatia pré-verbal mútua entre a mãe e a criança não são mais suficientes para
atingirem o objectivo comunicacional. O bebé apercebe-se pouco a pouco que os seus objectos de
amor (os seus pais) são indivíduos separados, tendo os seus próprios interesses pessoais. Ele
deve, pouco a pouco e não sem sofrimento, abandonar o seu delírio sobre a sua própria
grandeza, muitas vezes através de lutas dramáticas com a mãe – e em grau menor com o pai. É
este cruzamento que se designa por ‘crise de reaproximação’.
Se a mãe está ‘discretamente disponível’, com uma provisão acessível de líbido objectal, se ela
partilha as explorações aventureiras do seu bebé, se ela interage com ele nos jogos e nas
brincadeiras, e facilita deste modo os seus esforços salutares para imitar e se identificar, então a
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interiorização da relação entre a mãe e o bebé pode progredir até ao ponto onde, no momento
previsto, a comunicação verbal se toma relevante, mesmo se há ainda predominância dum
comportamento gestual bem saliente, No final do 2º ano e início do 3º, a implicação emocional
previsível por parte da mãe parece facilitar o desenvolvimento florescente dos processos mentais
do bebé, a prova da realidade e os comportamentos para os realizar. Por outro lado, o
crescimento emocional da mãe na sua função materna, a sua vontade emocional de deixar ir o
bebé – de lhe dar, como a mãe-pássaro, um ligeiro empurrão, um encorajamento para a
independência – ajuda grandemente. Pode mesmo ser uma condição sine qua non da
individuação normal e sã.
Aquilo que se designa por ‘seguimento’ da mãe parece, até certo ponto, necessário ao bebé (ou o
seu contrário, a partida precipitada), muitas vezes verificada no início desta subfase). Nos casos
normais, o ‘seguimento’ faz parte, na segunda metade do 3º ano, dum certo grau de permanência
do objecto. Entretanto, quanto menos a mãe se mostra disponível no momento da reaproximação
mais o bebé tentará solicitá-la intensamente e desesperadamente. Em certos casos, este processo
canaliza de tal modo a energia disponível da criança para o desenvolvimento que não restará
suficiente energia, nem de líbido nem de agressividade construtiva (ambas neutralizadas), para a
evolução das numerosas funções ascendentes do Ego.
Pelos quinze meses, regista-se uma mudança importante na qualidade da relação da criança com
a sua mãe. Ao longo do período dos ensaios a mãe representava o ‘porto de abrigo’ para o qual a
criança retomava quando necessitava – necessidade de comida, de reconforto ou de ‘recarga’,
quando estava cansada. Mas, ao longo deste período, a mãe não parecia ser reconhecida como
pessoa separada de pleno direito. Para algumas, perto dos 15 meses, a mãe não é somente o porto
de abrigo’. Parecia transformar-se numa pessoa com quem o bebé deseja partilhar as suas
descobertas do mundo cada vez mais alargado. O sinal de comportamento mais importante neste
novo modo de relação é o facto, para o bebé, de trazer incessantemente coisas à mãe, cobrindo os
seus joelhos de objectos que ele encontra no seu universo em vias de expansão. Todos eles têm
interesse para ele, mas o investimento emocional principal repousa na necessidade da criança os
partilhar com a sua mãe. Ao mesmo tempo, o bebé indica à sua mãe, por palavras, sons ou
gestos, o seu desejo de a ver interessada nas suas ‘descobertas’ e partilhar o prazer que ele tem.
Ao mesmo tempo que começa a ter consciência de ser separada, a criança apercebe-se que os
desejos da sua mãe não parecem sempre idênticos aos seus – ou, pelo contrário, que os seus
desejos não coincidem sempre com os da sua mãe. Esta constatação representa um desafio
imenso ao seu sentimento de grandeza e de omnipotência do período dos ensaios, quando a
criança se sentia nos ‘píncaros do universo’. E dado um grande golpe na crença da sua
omnipotência e é perturbada a beatitude da unidade dual!
A fonte de maior prazer da criança desloca-se da locomoção independente e da exploração do
universo inanimado em vias de expansão para a interacção social. Os jogos de esconde-esconde,
assim como os jogos de imitação, tomam-se nos passatempos favoritos. O reconhecimento da
mãe como pessoa separada do grande universo faz-se paralelamente à tomada de consciência da
existência separada de outras crianças, do facto de que elas são parecidas e, em simultâneo,
diferentes do seu próprio Eu. A prova é dada pelo facto das crianças manifestarem um maior
desejo de ter e de fazer o que outra criança tem ou faz – isto é, um desejo de reflectir em espelho,
de imitar e de se identificar, até certo ponto, com outra criança. Ao mesmo tempo que se
desenvolvem estas novas características, aparece a ira especifica dirigida a um objectivo, a
agressividade se o objectivo não puder ser atingido. Não podemos esquecer que estes
desenvolvimentos se dão a meio da fase anal, com as suas características de aquisitividade, de
ciúme e de inveja.
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Nesta subfase, o bebé parece experimentar o seu corpo como sua possessão. Deixa de gostar de
ser manipulado: resiste a ser segurado numa posição passiva quando o vestem, E não gosta de
ser acarinhado e abraçado, a não ser que esteja preparado.
O desejo da criança por uma autonomia acrescida tem expressão não só no negativismo face aos
outros e à mãe, mas também se traduz numa extensão activa do universo mãe-criança:
principalmente a inclusão do pai. O pai, como objecto de amor, pertence muito cedo a uma categoria
de objectos de amor inteiramente diferente da da mãe. Se bem que ele não esteja completamente
fora da união simbiótica também não faz completamente parte. Mais, o bebé percebe
provavelmente cedo uma relação especial do pai com a mãe.
Mas na altura da reaproximação a criança desenvolve relações com outras pessoas que não o pai
e a mãe.
Durante a primeira fase de reaproximação, regista-se uma mudança interessante nas reacções das
crianças face à presença ou ausência da sua mãe. Estão agora cada vez mais conscientes da
ausência da mãe e perguntam onde ela está. Por outro lado, contudo, são capazes igualmente de
se manterem cada vez mais absorvidas pelas suas próprias actividades, e muitas vezes não
gostam de ser interrompidas. Querem ‘ir ver’ a mãe, mas sem a intenção de se demorarem perto
dela, só um momento, para de seguida continuarem com as suas ocupações.
À medida que progridem na subfase de reaproximação, as crianças encontram novas maneiras
activas de enfrentarem a ausência da mãe (considerando a hiperactividade e a agitação motora
como uma actividade defensiva precoce contra a tomada de consciência do afecto doloroso da
tristeza): entram em relação com substitutos adultos e absorvem-se nos jogos simbólicos.
Numerosas formas de jogo traduzem a sua identificação precoce à mãe ou ao pai – por exemplo,
a sua forma de segurar as bonecas ou os ursos. Parece instalar-se o início da interiorização da
representação do objecto.
Para a maioria das crianças, o primeiro período da reaproximação conhece o seu apogeu perto
dos 17-18 meses, pelo que parece uma consolidação e uma aceitação temporárias da consciência
de ser separada. Isto é acompanhado por um grande prazer em partilhar objectos e actividades
com a mãe e com o pai e, cada vez mais, com o universo social agora em vias de expansão,
compreendendo não só os adultos mas também outros bebés, crianças da sua idade e mais
velhas. Ao longo do período dos ensaios a palavra ‘adeus’ era a mais importante. A palavra mais
importante neste período de reaproximação é ‘olá’.
Aos 18 meses, as crianças parecem muito impacientes por exercerem em toda a sua extensão a
sua autonomia rapidamente crescente. Cada vez mais, preferem não ser lembradas que em
determinados momentos não se conseguem desembaraçar sozinhas, Seguem-se conflitos que se
parecem articular no desejo de ser separada, grande e omnipotente, por um lado, e, por outro, de
ver a sua mãe concretizar magicamente os seus desejos, sem ter de reconhecer que a ajuda vem
do exterior, do outro.
É característico desta idade que as crianças recorram à sua mãe como extensão do seu Eu –
processo pelo qual negam a consciência dolorosa de estarem separadas. Um comportamento
típico deste género consiste em pegar na mão da mãe e usá-la como instrumento para ir buscar o
objecto desejado.
Aos 21 meses podemos observar uma atenuação dos esforços de reaproximação. Verifica-se, a
reivindicação por um controlo omnipotente, os períodos extremos de angústia de separação, a
alternância das exigências de proximidade e de autonomia diminuem. Enquanto isso acontece,
parece que cada criança procura, mais uma vez, encontrar a distância óptima à sua mãe, A
distância a partir da qual a criança pode funcionar melhor.
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Quando as crianças atingem o 21º mês constata-se que já não é possível reagrupá-las segundo os
critérios gerais anteriores. As vicissitudes dos seus processos de individuação são tão diferentes e
produzem-se com tal rapidez que não são mais específicos duma fase mas, antes, muito distintas
individualmente e diferentes de criança para criança. O ponto principal não é tanto a consciência de
ser separada mas antes como essa consciência é afectada pela, e afecta a relação mãe-criança, a
relação pai-criança (esta última muito claramente diferente da primeira), e a integração da
personalidade individual e total da criança. Existem grandes diferenças entre rapazes e
raparigas. Enquanto que os rapazes manifestam uma maior tendência para se separarem da mãe
e terem prazer no seu funcionamento no universo em expansão, as raparigas exigem uma maior
proximidade e fixam-se nos aspectos ambivalentes da relação.
Ao 23º mês, parece que a capacidade dos crianças enfrentarem a consciência da separação, tanto
quanto ao facto físico da separação, depende, em cada caso, da história da relação mãe-criança e
do seu estado actual.
Sejam quais forem as diferenças sexuais que pré-existam no domínio dos aparelhos do Ego e dos
primeiros modos do Ego, elas são certamente complexas e marcadas geralmente pelos efeitos da
descoberta pela criança das diferenças dos sexos. Isto produz-se ao 20º-21º meses, por vezes antes (16º-
l7º meses).
A descoberta pelo rapaz do seu próprio pénis dá-se mais cedo. A componente sensório-táctil
desta descoberta pode dar-se no 1º ano de vida, mas subsistem dúvidas quanto ao seu impacto
emocional. Aos 12-14 meses a posição vertical facilita a exploração visual e sensório-motriz do
pénis.
Quando as raparigas descobrem o pénis são confrontadas com qualquer coisa que lhes falta. Esta
descoberta origina alguns comportamentos que indicam claramente a angústia, a cólera e a
desconfiança das raparigas. Elas desejam desfazer a diferença sexual.
Resumindo, parece que a tarefa de se tomar um indivíduo separado parece, neste momento, ser
geralmente mais difícil para as raparigas que para os rapazes, porque as raparigas descobrindo
as diferenças dos sexos têm tendência a revoltarem-se contra a mãe, a responsabilizá-la, a exigir
dela, estão desapontados e, apesar de tudo, permanecem ligadas a ela de maneira ambivalente,
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relações espacio-temporais e causais que os constituem” (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974), ou às
estruturas lógicas e às estruturas físicas (Piaget, 1974).
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(Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974; Piaget, 1976b; Piaget & Gréco, 1974) do processo que resulta
em acção ou comportamento: o esquema da acção.
“O esquema de uma acção é, por definição, o conjunto estruturado dos caracteres generalizáveis da acção,
isto é, dos que permitem repetir a mesma acção e aplicá-la a novos conteúdos. Mas o esquema de uma acção
não é nem perceptível (percebe-se uma acção particular mas não o seu esquema) nem directamente
introspectável e só se toma consciência das suas implicações repetindo a acção e comparando os seus
resultados” (Piaget; op. cit. Battro, 1978, p. 92).
Deste modo, o esquema é o modo particular de apreensão da realidade, o modo de
funcionamento da estrutura cognitiva, organizador da experiência (Piaget, 1976a). Através do
esquema da acção pode-se inferir o papel da operação (acção interior, como designou Piaget, em
1976a) ou sistema de operações.
Mas a realidade psicológica, tal como é percebida pelo sujeito “...consiste em sistemas operatórios de
conjunto e não em operações isoladas concebidas a título de elementos anteriores a esses sistemas: é
portanto unicamente quando as acções ou representações (...) se organizam em sistemas tais que elas
adquirem (...) a natureza de 'operações'” (Piaget, 1978, p. 48).
Mas as operações não são apenas acções interiorizadas: para que existam operações é necessário
que essas acções se tornem reversíveis e se coordenem em estruturas de conjunto (Piaget, 1973).
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6. BIBLIOGRAFIA
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Vygotsky, (1977)
Nota: Perderam-se partes de texto e as referências (utilizadas para a escrita da actual sebenta),
devido a problemas informáticos.
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